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domingo, 9 de abril de 2023

A Ressurreição de Jesus

A Ressurreição de Jesus | Presbíteros

A Ressurreição de Jesus 

A ressurreição corporal de Jesus era professada tranqüilamente pela Igreja nascente, sem que os judeus ou outros adversários a pudessem apontar como termo de fraude ou de alucinação. De resto, o sepulcro vazio de Jesus era um testemunho que corroborava a notícia. Nunca esta teria passado adiante se o sepulcro de Jesus não estivesse vazio. De resto, os Apóstolos só podiam apregoar a ressurreição de Mus vencidos pela evidência dos fatos, pois não estavam predispostos a supô-la ou admiti-la; antes, haviam perdido todo ânimo quando viram o Mestre preso e condenado; a noção mesma de um Messias crucificado só podia parecer escandalosa e blasfema.

Quem nega a ressurreição corporal de Jesus, deve logicamente admitir que vinte séculos de Cristianismo (sempre apregoado com a mensagem da ressurreição) estão baseados sobre mentira ou doença mental. Ora esta hipótese é mais exigente ou supõe um maior milagre do que a tese mesma da ressurreição de Jesus devida à Onipotência Divina. É mais razoável crer na ressurreição de Jesus do que explicar a pujança do Cristianismo por um sonho de gente. desonesta ou alucinada.

As implicações teológicas da ressurreição de Jesus são principalmente as três seguintes:

1) corroborar e autenticar a pregação de Jesus, pois se Deus pode ressuscitar um morto; se ressuscitou Jesus, quis assim pôr sua chancela sobre a missão de Cristo;

2) é penhor da nossa própria ressurreição, pois há continuidade entre a sorte de Cristo e a nossa própria sorte;

3) foi condição para que o Espírito Santo fosse enviado aos homens como rematador da obra de Cristo; é o Espírito Santo quem congrega todos os povos no Corpo de Cristo que é a Igreja, a fim de que recebam de Cristo Sacerdote as graças necessárias para chegarem à vida eterna.

A ressurreição de Jesus constitui artigo fundamental da fé cristã, a ponto que São Paulo pode dizer: “Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação; vazia também é a vossa fé… Se Cristo não ressuscitou, vazia é a vossa fé; ainda estais nos vossos pecados” (1Cor 15, 14.17). Na verdade, talvez queira alguém pensar que a mensagem do Cristianismo é tão rica e bela que ela pode dispensar a proposição da ressurreição de Jesus; esta não faria falta… Verifica-se, porém, que nos escritos do Novo Testamento e nos da imediata Tradição cristã é tal a ênfase na ressurreição de Jesus que ela deve ocupar lugar primordial e indispensável no conjunto das verdades da fé. Em conseqüência, procuraremos, nas páginas seguintes, examinar as credenciais ou a credibilidade dessa proposição; após o que examinaremos o seu sentido teológico.

1. A ressurreição de Jesus: credibilidade

A credibilidade da ressurreição de Jesus baseia-se sobre duas principais pilastras:

1) o testemunho dos Apóstolos e da Igreja nascente;

2) o sepulcro vazio.

1.1. O testemunho dos Apóstolos

1.1.1. Observações preliminares

1) Antes de percorrer os depoimentos dos Apóstolos, deve se notar que eles não tinham disposições psicológicas para “inventar” a notícia da ressurreição de Jesus ou para “sonhar alucinadamente” com tal evento. Ainda impregnados das concepções de um messianismo nacionalista e político, capitularam quando viram o Mestre preso e aparentemente fracassado; fugiram para não ser p presos eles mesmos (cf. Mt 26, 31s); Pedro renegou o Senhor (cf. Mt 26, 33-35). 0 caso de Tomé é o mais significativo: resistiu ao testemunho dos demais Apóstolos e pediu provas palpáveis da ressurreição (cf. Jo 20, 24-29). Somente após a evidência do fato, rendeu-se à verdade.

2) O conceito de um Deus morto e ressuscitado na carne humana era totalmente alheio à mentalidade dos judeus. Estes tendiam a distanciar cada vez mais dos homens o Senhor Deus; nem sequer pronunciavam o nome Javé por receio de o profanarem (circunscreviam no mediante as locuções o Eterno, o Céu, a Glória, o Nome, Ele. . .; cf. 1 Mc 3, 18.50.60; 4, 10.24…). Por conseguinte, não emergiria espontaneamente do espírito dos Apóstolos a noção de um Deus feito homem, morto na Cruz e ressuscitado: tal idéia era escandalosa para Israel (como era loucura para os gregos), conforme nota São Paulo em 1Cor 1,23. Só após séria relutância os Apóstolos reconheceram o fato da ressurreição de Jesus; cf. Mt 28, 17; Mc 16, 11.13s; Lc 24, 11.25.37­41.45.

3)É de notar outrossim que a pregação dos Apóstolos era severamente controlada pelos judeus, de tal modo que qualquer mentira seria imediatamente denunciada; os membros do Sinédrio eram ciosos de encontrar algum título de acusação contra os Apóstolos, mas não o encontraram, a ponto que Gamaliel recomendou aos correligionários: “Deixai de ocupar vos com estes homens. Soltai-os, pois, se o seu intento ou a sua obra provém dos homens, destruir-se-á por si mesma; se vem de Deus, porém, não podereis destrui los. E não aconteça que vos encontreis movendo guerra a Deus” (At 5, 380. Por conseguinte, se a ressurreição de Jesus, apregoada pelos Apóstolos não correspondesse a um fato real ou se pudesse ser apontada como mentira fraudulenta, os judeus não teriam perdido a ocasião de o fazer. Se não o fizeram, isto se deve à impossibilidade de demonstrar a falsidade de tal notícia.

1.1.2. Os textos do Novo Testamento

1) Um dos textos mais expressivos é o de 1Cor 15,1-8: “‘ Faço iras conhecer, irmãos, o Evangelho que vos preguei, o mesmo que vós recebestes e no qual permaneceis firmes.

2) Por ele também sereis salvos, se o conservardes tal como vô-lo preguei. . . a menos que não tenha fundamento a vossa fé.

3) Transmiti-vos, antes de tudo, aquilo que eu mesmo recebi, a saber, que Cristo morreu por nossos pecados, conforme ais Escrituras, e que foi sepultado e que ressuscitou ao terceiro dia conforme as Escrituras s e que apareceu a Cefas, depois aos doze. Posteriormente apareceu de uma vez a mais de quinhentos irmãos, dos quais a maior parte vive até hoje, alguns, porém, já morreram.  Depois apareceu a Tiago e, em seguida, a todos os Apóstolos. Por fim, depois de todos, apareceu também a mim, como a um abortivo”

Estes dizeres são de época muito antiga ou do sexto decênio do século I (56/57); pouco mais de vinte anos apenas os separam da Ascensão de Jesus. Referem se à pregação que São Paulo realizou em Corinto entre os anos de 50 e 52; nessa época, o Apóstolo entregou aos fiéis os ensinamentos que lhe haviam sido anteriormente entregues. Aliás, também em 1Cor 11, 23 afirma o Apóstolo ter transmitido aos coríntios o que lhe fora transmitido, a saber: a mensagem referente à Ceia do Senhor.

E quando recebeu Paulo tais ensinamentos? Ou por ocasião da sua conversão, que se deu aproximadamente no ano de 35, ou no ensejo de sua visita a Jerusalém, que teve lugar em 38, ou, ao mais tardar, por volta do ano de 40. Observe-se agora o estilo do texto de 1 Cor 15, 3-8: as frases são curtas, incisivas, dispostas segundo um paralelismo que lhes comunica um ritmo notável. Abstração feita dos vv. 6 e 8, dir-se-ia que se trata de fórmulas estereotípicas, forjadas pelo ensinamento oral e destinadas a ser freqüentemente repetidas. Nesses versículos encontram-se várias expressões que não ocorrem em outras cartas de São Paulo: assim “conforme as Escrituras”, “no terceiro dia”, “aos doze”, “apareceu, óphthe” (expressão que só ocorre sob a pena de São Paulo num hino citado pelo Apóstolo em 1 Tm 3,16).

Em particular, o verbo óphthe ocorre quatro vezes nos vv. 5-8. Significa “apareceu, deu se a ver, mostrou-se”. É o vocábulo técnico para designar as aparições de Jesus ressuscitado; cf. Lc 24, 34; At 9, 17; 13,31; 26,1. Tal verbo afasta a hipótese de que os Apóstolos tenham tido alucinações meramente subjetivas ou imaginosas; “deu­se a ver” supõe a realidade corpórea  de Jesus, que os Apóstolos puderam apalpar; cf. Lc 24, 37-41. Tem seu sinônimo em At 10, 40s: “Deus O ressuscitou ao terceiro dia e concedeu-Ihã ,que se tornasse manifesto… a nós, que comemos e bebemos com Ele após “”a sua ressurreição”. Estas indicações evidenciam que São Paulo em 1Cor 15, 3-8 reproduz uma fórmula de fé que ele mesmo recebeu já definitivamente redigida poucos anos (dois, cinco, oito anos?) após a Ascensão do Senhor Jesus. O v.6, quebrando o ritmo do conjunto, talvez tenha sido introduzido posteriormente; quanto ao v.8, é por certo’ uma notícia pessoal que São Paulo acrescenta ao bloco. Vê-se, pois, que desde os primeiros anos da pregação do Evangelho já existia entre os fiéis uma profissão de fé na ressurreição de Cristo formulada em frases breves e impregnantes; tais frases eram transmitidas como expressões exatas da mensagem dos Apóstolos. Ora essa fórmula de fé antiqüíssima professa a ressurreição corpórea de Cristo como realidade histórica. Para a comprovar, havia testemunhas oculares das quais, diz São Paulo, muitas ainda viviam vinte e poucos anos após a ressurreição do Senhor.

Tal depoimento de primeira hora, concebido e transmitido pelos dis imediatos do Senhor, já seria argumento suficiente para remover qualquer teoria tendente a desvirtuar a fé na ressurreição corporal de Cristo. Esta fé não surgiu tardiamentena história das primeiras comunidades cristãs, mas é o eco direto da missão de Cristo acompanhada dia a dia pelos Apóstolos. A 1ª carta de São Paulo aos Cor í ntios quer incutir aos fiéis a noção de ressurreição de todos os mortos. Esta perspectiva horrorizava os gregos, pois lhes parecia equivaler à volta ao cárcere ou ao sepulcro do corpo. Na sua argumentação o Apóstolo parte do fato da ressurreição de Cristo, verdade tranqüilamente aceita por todos; o que eles punham em dúvida, era sua própria ressurreição. t Se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, vazio é’0 nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (1 Cor 15, 12-14)

Vê se, pois, que a Igreja antiga estava convicta da ressurreição de Crista::Nem todos, porém, queriam aceitar semelhante sorte para si, por motivos filosóficos.

Vem ao caso ainda o texto de Lc 24, 36-43: “Jesus se apresentou no meio dos Apóstolos e disse: A paz esteja convosco’.’ Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um. espírito. Mas ele disse: Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu’. Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho’. Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, como, por causa da alegria, não podiam acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: ‘Tendes o que comer?’ Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o então e comeu-o diante deles”.

Aos Apóstolos amedrontados, que julgavam ver um fantasma, Jesus pede que o apalpem e verifiquem que tem carne e ossos: “Vede minhas mãos e meus pés, vede que sou eu mesmo” (Lc 24, 39). Além disto, comeu na presença deles para lhes incutir o realismo de sua corporeidade ressuscitada (vv. 42s). Também é importante o texto de Jo 20, 19s: na noite de Páscoa, Jesus aparece aos discípulos e dá-lhes a tocar suas mãos e seu lado, certamente porque aí estavam as chagas que o identificavam como o Senhor morto e ressuscitado. A São Tomé, incrédulo, disse Jesus com mais ênfase ainda: “Põe teu dedo aqui, e vê minhas mãos. Estende tua mão e põe-na no meu lado, e não sejas incrédulo, mas crê”. Respondeu=lhe Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 27s). A pouca fé do Apóstolo foi assim vencida pela evidência dos fatos.

Examinemos agora os testemunhos relativos a:

1.2. O sepulcro vazio

O primeiro acontecimento da manhã do domingo de Páscoa foi a descoberta do sepulcro vazio; cf. Mc 16, 1-8. Os chefes dos judeus tomaram consciência do significado deste fato, e resolveram dissipá-la: “Deram aos soldados uma vultosa quantia de dinheiro, recomendando: ‘Dizei que os seus discípulos vieram de noite, enquanto dormíeis, e roubaram o cadáver de Jesus. Se isto chegar aos ouvidos do Governador, nós o convenceremos, e vos deixaremos sem complicação’. Eles tomaram o dinheiro e agiram de acordo com as instruções recebidas. E espalhou-se esta história entre os judeus até o dia de hoje” (Mt 28, 12-15).

Ao comentar este episódio, S. Agostinho salienta a sua índole ridícula; os guardas não podiam ser testemunhas de algo ocorrido durante o sono dos mesmos. Quem dormiu, não foram os guardas, mas foram os chefes dos teus, que deram tais ordens aos guardas.

O sepulcro vazio, na verdade, era condição indispensável para que os tolos pudessem anunciar a ressurreição de Jesus pouco tempo depois sua morte (cf. At 2, 24-32). A pregação da ressurreição de Jesus, por dos Apóstolos, teria sido totalmente desacreditada se em Jerusalém desse mostrar um sepulcro a conter o cadáver de Jesus em decomposição arautos da ressurreição teriam sido escarnecidos se o sepulcro ode Jesus não falasse em favor deles. ” O sepulcro vazio significa que o cadáver de Jesus foi assumido pela humana de Jesus, de modo a reconstituir a sua natureza íntegra, à estava unida a Divindade da segunda Pessoa da SS. Trindade.

A esta altura quatro dúvidas merecem consideração.

1.3.1. O Docetismo

Já no século primeiro do Cristianismo alguns pensadores, repudiando  a matéria como algo de mau em si, afirmavam que Jesus não ressuscitara cor­poralmente. Tais eram os Docetas e os Gnósticos; o dualismo “matéria x espírito não lhes permitia admitir que a Divindade tivesse glorificado a matéria ressuscitando-a após a morte; por conseguinte, diziam que Jesus ressuscitado apenas uma aparência, mas não a realidade, de um corpo material; o cadáver de Jesus, no caso, teria sofrido a decomposição do sepulcro.

A esta objeção respondemos:

1) Seja recordada a ênfase com que os evangelistas incutem a presença das chagas e das notas típicas do corpo de Jesus após a ressurreição;

2) O corpo não é um acidente estranho ao ser humano; muito menos é cárcere ou sepulcro da alma; esta não é um anjo punido na carne, mas foi  para se aperfeiçoar na carne humana. Isto quer dizer que o corpo é responsável pela sorte (mísera ou gloriosa) da pessoa; com seus afetos e  ele integra a personalidade. Por isto também é conveniente que ele  participe do estado póstumo, reunido à alma humana pela ressurreição.  por isto que o Filho de Deus quis assumir a natureza corpórea do homem viveu as sucessivas etapas da vida humana  o nascer, o crescer, o trabalhar o lutar, o sofrer e o morrer  e ressuscitou, restaurando a carne humana, que servira de instrumento ao pecado. Em conseqüência, todo homem sabe que é chamado à consumação da vida em sua condição psicossomática. Para afirmar estas verdades frente aos Gnósticos do século III, o escritor cristão Tertuliano (t220 aproximadamente) escrevia “Caro cardo salutis.  A carne é o gonzo da salvação”, isto é, mediante a carne de Cristo morta e ressuscitada veio a salvação ao mundo.

1.3.2. A desmitização contemporânea

A escola de Rudolf Bultmann julga que todo episódio transcendental só pode ser ficção ou mito. Por isto nega a ressurreição corpórea de Jesus. Afirma, sim, que o que ressuscitou foi a Palavra de Deus; esta foi ameaçada de sufocação pelos judeus perseguidores, mas superou as adversidades e propagou-se vitoriosamente pelas regiões do Império Romano. A mensagem de Jesus assim ressuscitou, e não o mensageiro.

Respondemos: a teoria da desmitização ressente-se de um preconceito racionalista, tão dogmático quanto o Credo que ela combate: de antemão nega qualquer possibilidade de milagre; por conseguinte, tem que procurar uma explicação natural para o anúncio da ressurreição de Jesus, sem levar em conta os textos do Novo Testamento, que são assim violentados. Ora as proposições gratuitamente preconcebidas não fazem parte do âmbito da ciência. Esta é objetiva; examina os dados de cada questão, sem predefinir a respectiva solução.

Ademais seja aqui recordado tudo quanto anteriormente foi dito em resposta à objeção docetagnóstica.

Ainda é de se ponderar o seguinte: se a ressurreição de Cristo não fosse real, o Cristianismo estaria baseado sobre enorme mentira ou alucinação, pois os pregadores do Evangelho nunca anunciaram a Boa-Nova sem incluir necessariamente a notícia da ressurreição corporal do Senhor. Algo de falso ou de mórbido seria o pedestal de vinte séculos de Cristianismo. Ora tal hipótese supõe um portento ou um milagre de primeira grandeza; as mentiras ou falsidades não resistem ao tempo e, cedo ou tarde, são desvendadas (tal foi o caso da lenda dos LXX, da “Doação de Constantino”, das “Decretais do Pseudo-Isidoro”, das obras do Pseudo-Dionísio Areopagita. . .). Ora até hoje não se pôde derrubar a crença na ressurreição de Cristo como se fosse lendária ou mítica. As teorias que tencionam fazê-lo (alegando fraude dos Apóstolos ou sepultamento de Cristo ainda vivo) se comprovam como ridículas e destituídas de peso científico.

É, por conseguinte, mais razoável crer no milagre da ressurreição de Cristo por obra da Onipotência Divina do que crer que, segundo o “milagre” do racionalismo moderno, a mentira e a doença mental tenham dado o fruto de vinte séculos de Cristianismo,… séculos que foram certamente beneméritos não só para a religião, mas também para a cultura e o progresso da humanidade. O edifíci, do Cristianismo logicamente requer um pedestal mais sólido do que a desonestidade e a debilidade mental.

1.3.3. A ressurreição: fato histórico?

Há quem negue em nossos dias a historicidade não, porém, a realidade da ressurreição de Jesus. Como efeito; dizem que não pode ser tido como histórico o acontecimento que não caia sob o controle do método da pesquisa histórica, ou seja, o acontecimento que tenha aspectos transcendentais. Ora Cristo ressuscitado já não morre; não retornou à vida mortal (como Lázaro, a filha de Jairo e o filho da viúva de Naím voltaram; cf. Jo 11, 1-44; Mc 5, 21-43; Lc 7, 11-17); não mais esteve sujeito à doença e à morte; adquiriu um corpo glorioso, pertencente a outra ordem de coisas. Além disto, dizem, a ressurreição de Jesus não foi observada por nenhuma testemunha; quando as mulheres chegaram ao sepulcro, já o encontraram vazio.

Em resposta, notamos que a questão se reduz ao uso do vocábulo “histórico”, sem que os objetantes tencionem negar a realidade da ressurreição de Jesus. É, portanto, relativamente secundária. Todavia gera equívocos, pois pode parecer negar a própria ressurreição do Senhor. Por isto não é recomendável dizer que esta não foi um fato histórico. O teólogo protestante W. Pannenberg muito sabiamente propõe outra noção de “histórico”: é histórico todo evento que possa caber em coordenadas de espaço e tempo, ou seja, todo evento que tenha acontecido em determinado momento e em determinado lugar; ora a ressurreição de Jesus pode ser datada (9 de abril do ano 30, com muita probabilidade), como também pode ser situada na Palestina, em Jerusalém, ficando o sepulcro vazio como indicação topográfica. Daí poder-se dizer que a ressurreição de Jesus não foi somente um fato real, mas também foi um fato histórico, segundo Pannerberg e teólogos de autoridade.

1.3.4. “Jesus não chegou a morrer na Cruz, mas apenas perdeu os sentidos”

Este assunto já foi abordado em PR 321/1989, pp. 85-89. A hipótese aventada não só é totalmente gratuita, mas ainda é francamente contraditada pelo golpe de lança que foi infligido a Jesus e que bastaria para matá-lo, pois atingiu o coração. Tal hipótese, portanto, gratuita como é, carece de valor científico.

2. O sentido teológico da ressurreição

Distinguiremos três aspectos teológicos da ressurreição de Cristo.

2.1. Sinete de autenticação

Jesus, como homem, morreu após haver pregado o Evangelho, que desagradou aos judeus. O Pai o quis ressuscitar testemunhando, por este sinal de sua onipotência, a autenticidade da pregação de Jesus. Não sem razão as fórmulas de fé mais antigas apresentam o Pai como autor da ressurreição de Jesus: “Deus ressuscitou esse Jesus, e disto nós todos somos testemunhas” (At 2, 32), disse São Pedro no dia de Pentecostes (Não há dúvida de que Jesus, como Deus, também ressuscitou a sua humanidade, comungando com o Pai e o Espírito Santo numa só atividade). A propósito escreve João Paulo II na encíclica Dives in Misericordia: “A cruz não é a última palavra do Deus da aliança: essa palavra será pronunciada na alvorada quando as mulheres, em primeiro lugar, e os discípulos, depois, indo ao sepulcro do Crucificado, verão o túmulo vazio e proclamarão pela primeira vez: ‘Ressuscitou!’ ” (n° 7).

Com efeito; nenhum homem pode ressuscitar um morto. Por conseguinte, se Jesus, como homem, ressuscitou, isto é obra de Deus, que assim quis dar um sinal comprovante da messianidade do Ressuscitado.

Ressuscitando Jesus, o Pai houve por bem fazê-lo Kyrios ou Senhor de todos os homens e da sua história, como atestam alguns textos bíblicos:

At 2, 36: Diz São Pedro no dia de Pentecostes: ‘Saiba com certeza toda a Casa de Israel: Deus o constituiu Senhor (Kyrios) e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes”.

Rm 14, 9: “Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos’:

FI 2, 9-11: ‘Deus sobre exaltou Jesus grandemente e O agraciou com o Nome que está acima de rodo nome, para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho. . . e, para a glória de Deus Pai, toda língua confesse: Jesus é o Senhor’.

Rm 10, 9: ‘ Se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.

Note-se que Kyrios era, na linguagem oficial dos romanos, o designativo do Imperador. Cf. At 25, 26: diz Festo, procurador romano: “Nada tenho de concreto sobre Paulo, para escrever ao Kyrios (= Imperador)”. À luz destas observações, entende-se que o Apocalipse apresente Jesus como o Senhor dos tempos: é o Cordeiro que em suas mãos traz o livro da história; este vai-se abrindo aos poucos e os acontecimentos vão-se desenrolando na terra; nada, porém, do que acontece neste mundo, está fora do âmbito desse livro ou escapa ao senhorio de Jesus Cristo; cf. Ap 5, 1-14. Aliás, o próprio Jesus declara em Ap 1, 17s: “Eu sou o Primeiro e o último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da Morte e da região dos mortos”.

2.2. Processo que se prolonga em todos os homens

Segundo os escritos do Novo Testamento, a ressurreição de Jesus não é um fato fechado em si, mas é o início de um processo que se estende a todos os homens. Com efeito; São Paulo chama Cristo ressuscitado “o Primogênito dentre os mortos” (Cf 1,18). A Ele, ressuscitado em primeiro lugar, seguir-se-á a ressurreição dos irmãos: `Cada qual na sua ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, por ocasião da sua segunda vinda; a seguir, haverá o fim” (1Cor 15, 23s).

Desde toda a eternidade, o Pai houve por bem fazer-nos conformes à imagem do seu Filho ressuscitado, como escreve São Paulo em Rm 8,29s: “Os que Ele conheceu de antemão, também os predestinou a ser conformes à imagem de seu Filho, a fim de ser Ele o primogênito entre muitos irmãos. E os que predestinou, também os chamou, e os que chamou, também os justificou, e, os que justificou, também os glorificou.

O significado deste texto se percebe bem se se dá atenção às fórmulas paralelas: “Primogénito entre muitos irmãos” (Rm 8, 29) e “Primogênito dentre os mortos” (Cf 1, 18). O ser primogênito, modelo dos irmãos, implica “ser o primeiro a ressuscitar dentre os mortos”. Os mortos ressuscitarão à semelhança da ressurreição de Cristo.

O mesmo São Paulo se compraz em desenvolver esta doutrina, afirmando que na ressurreição de Cristo teve início a nossa própria ressurreição. Eis a ousada sentença do Apóstolo, que mais adiante merecerá explicação mais detida: “Quando estávamos mortus em nossos delitos, (Deus Pai) vivificou-nos juntamente com Cristo pela graça fostes salvos! e com Ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, em Cristo Jesus” (Ef 2, 5s).

O mesmo ocorre em Cf 3, 1-4: “Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, se manifestar, então vós também com Ele sereis manifestados em glória”.

Pergunta-se: em que sentido já fomos ressuscitados e glorificados com Cristo, se ainda somos pecadores e mortais? A resposta é dupla:

1) Cristo, como homem, tendo sido ressuscitado e glorificado, mereceu para todo o gênero humano o direito a semelhante sorte. Uma porção da natureza humana acha-se glorificada em penhor de que a natureza humana inteira venha a ser também glorificada. Uma parte de nós ou a Cabeça do gênero humano está nos céus, na expectativa de que o resto do corpo chegue ao mesmo termo.

2) Todavia não apenas um penhor ou um direito nos foi concedido mediante a Páscoa de Cristo. Um autêntico principio de vida nova ou definitiva foi depositado dentro de nós por ocasião de um evento muito concreto de nossa existência: o Batismo. São Paulo o diz sinteticamente em Cf 2,12: “Fostes sepultados com Cristo no Batismo; também com Ele ressuscitastes, porque acreditastes no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos”.

Esta idéia é explicitada em Rm 6, 3-11. São Paulo tem em vista o modo como o Batismo era ministrado na Igreja antiga: o catecúmeno era mergulhado em uma piscina (o que significava o morrer e ser sepultado com Cristo) e retirado dágua (o que significava o ressuscitar com Cristo). Em última análise, isto quer dizer que o Batismo confere uma participação sacramental na morte e ressurreição de Jesus; este ato sacramental tem que ser reafirmado e desdobrado na vida ética do cristão dia por dia: é preciso morrer com Cristo para o pecado e ressuscitar com Cristo para uma vida cada vez mais condizente com o modelo do Cristo Jesus; evitando o pecado e desenvolvendo a vida nova, o cristão chegará à gloriosa ressurreição final: “Se nos tornamos uma só coisa com Ele por uma morte semelhante à sua, seremos também uma só coisa com Ele por uma ressurreição semelhante á sua” (Rm 6,5). “Se morremos com Cristo, cremos que também viveremos com Ele” (Rm 6,8). Ou ainda: “Pelo batismo fomos sepultados com Cristo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova” (Rm 6,4).

Numa palavra: o Batismo é o início ou o gérmen da nossa ressurreição e nos levará à plenitude da vida, se soubermos fomentar esse gérmen pela renúncia ao pecado e pelo exercício das virtudes cristãs.

2.3. O dom do Espírito

Jesus quis associar sua glorificação ao dom do Espírito Santo, que Ele havia de outorgar aos homens como penhor de sua plena santificação. Assim, por exemplo, lê-se em Jo 7, 37-39: “ No último dia da festa, o mais solene, Jesus, de pé, disse em alta voz: “Se alguém tem sede, venha a Mim, E beba aquele que crê em Mim! Conforme a palavra da Escritura, Do seu seio jorrarão rios de água viva”. Ele falava do Espírito, que deviam receber aqueles que tinham acreditado nele, pois não havia ainda Espírito, porque Jesus ainda não fora glorificado”.

Como se depreende, os rios de água viva provenientes do Messias significam o Espírito Santo, que devia ser dado aos homens em conseqüência da glorificação de Jesus (‘ O texto bíblico subjacente a esta afirmação de Jesus é o de Ez 47, 1-12: o profeta descreve uma grande torrente que sai do Templo de Jerusalém e que se dirige para o deserto, convertendo-o em jardim e pomar, imagem dos frutos do Espírito Santo enviado por Jesus após a sua Ascensão)

.Na última ceia, Jesus voltou a prometer: “Eu vos digo a verdade: A de vosso interesse que eu parta, pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas, se eu for, enviá-lo-ei a vós” (Jo 16, 7). “Tenho ainda muito que vos dizer, mais não podeis agora suportar. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos comunicará as coisas futuras” (Jo 16, 12s). “O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26).

É, pois, o Espírito Santo que completa a obra salvífica de Jesus, reunindo os homens num só Corpo, do qual Cristo é a Cabeça e o Espírito é o princípio vivificante. É o Espírito que nos faz “filhos no FILHO” (cf. Rm 8, 15; GI 4,6) e nos impele a voltar ao Pai (cf. Ef 2, 18). Glorificado nos céus e enviando-nos o seu Espírito, Jesus adquire um modo de presença novo aqui na terra: perde a presença física, sempre limitada a um só lugar, para se fazer sacramentalmente presente; a Igreja é o Grande Sacramento de Jesus, no qual são ministrados aos homens os sete sacramentos ou sete canais da graça, que atingem cada criatura desde o nascer até o morrer. S. Agostinho exprime muito vivamente este modo de agir de Cristo, ao comentar as palavras de João Batista em Mt 3, 11: “Ele vos batizará no Espírito Santo”: “Batize Pedro, é Cristo quem batiza. Batize Paulo, é Cristo quem batiza. Batize Judas, é Cristo quem batiza” (In loannis Evangelium 5,7).

Por trás da ação litúrgica do ministro humano, efetuada em nome de Cristo, e através das suas palavras pobres, é Cristo quem age, exercendo o seu sacerdócio, quando consagra o catecúmeno pelo Batismo, quando consagra o pão e o vinho na Eucaristia, quando perdoa os pecados no sacramento da Reconciliação, quando une os cônjuges em matrimônio… Não é simplesmente Deus Filho quem purifica e santifica os homens, mas é Jesus Cristo o Filho feito homem e glorificado para ser nosso Sacerdote Perpétuo quem exerce o seu pontificado na Igreja vivificada pelo Espírito Santo.

Tal é o alcance teológico da glorificação (ressurreição e ascensão) de Jesus. O Senhor rompe os limites dos tempos e se faz presente a todos os tempos, sempre vivente para interceder por nós (Hb 7,25) junto ao Pai no “santuário celeste” (H b 9,12.24) e junto a nós em nossos santuários terrestres; onde Ele nos prepara para uma ressurreição semelhante à sua.

Dom Estevão Tavares Bettencourt, osb - A  RESSURREIÇÃO  DE  JESUS

Fonte: Alangomes2004’s Blog Pergunte e Responderemos

https://presbiteros.org.br/

Jesus Cristo é o Senhor

Jesus Cristo é o Senhor! (Canção Nova)

JESUS CRISTO É O SENHOR

Dom Carlos José
Bispo de Apucarana (PR)

“Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito”. (Mt 28, 5-6) 

Cristo ressuscitou. Eis a razão da fé que sustenta a Igreja desde os primórdios de sua criação e dá constância na caminhada de cada cristão que crê e vive essa Verdade, pois Jesus “É o Caminho, a Verdade e a Vida”, o “Cordeiro Imolado”! Eis que o sepulcro está vazio, o amor de Deus se manifestou mais uma vez na Ressurreição de seu Filho amado. O Cristo vence as trevas da morte eterna e reaviva a esperança da humanidade fazendo brilhar para todos a Luz da libertação. “Eu sou a Luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8-12). 

A Cruz de Jesus, adorada na sexta-feira da Paixão, dá lugar à alegria da Ressurreição, indicando para todos o cumprimento da promessa, que a Vitória já foi alcançada por Cristo Jesus. A salvação da humanidade passou pelo flagelo do Calvário, pelo Divino Corpo de Cristo, totalmente humano e Divino, pendente no alto da Cruz, chagado pelos açoites raivosos e dilacerado pelos nossos tantos pecados, para depois de ter-se esvaído em sangue, morrer por cada um de nós. Quem morreria por nós? Quem teria esse desprendimento de si mesmo para salvar um pecador, uma humanidade inteira, no ontem, no hoje e no amanhã? Somente alguém muito superior no amor, na doação e na obediência a Deus poderia se dignar a nos tornar menos indignos da salvação, e esse Alguém é Cristo, o Senhor dos Senhores, a Pedra rejeitada e desprezada que se torna a Pedra Angular. 

A Ressurreição de Cristo nos ensina que o mal não tem a última palavra pois, somos por Cristo, participantes da edificação do bem e da paz, da justiça e do amor que deve imperar nesse mundo. Nascemos e vivemos pelo dom excepcional do Amor de Deus e somos convocados a todo instante a sermos defensores da vida em Cristo, testemunhando com nossa existência, os valores e ensinamentos do Ressuscitado. Negar a ressurreição de Jesus é negar o poder de Deus. “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e também é vã a nossa fé. Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima” (I Cor 15, 14 e 19). 

A ressurreição de Cristo não se iguala a outros eventos bíblicos, não foi um cadáver reanimado, como Lázaro, que Jesus trouxe de volta à vida, mas que depois veio a morrer fisicamente. A ressurreição de Jesus “foi a evasão para um gênero de vida totalmente novo, para uma vida já não sujeita à lei do morrer e do transformar-se, mas situada para além disso: uma vida que inaugurou uma nova dimensão de ser homem”, explica o Papa Bento XVI no segundo volume do seu livro “Jesus de Nazaré”. Enquanto Lázaro e outros a quem Jesus havia ressuscitado voltaram a sua vida normal, Jesus Ressuscitado partiu para a vastidão de Deus, e é a partir da vida no Pai, que Ele se manifesta aos seus (Bento XVI). O túmulo vazio é ponto de partido para nossa fé, é a expressão viva de um novo começo para a humanidade toda, um acontecimento que rompe e ultrapassa o âmbito da história e, se assim não fosse, já teria se apagado no tempo. 

A ressurreição de Cristo cria uma nova perspectiva ao homem: o de estar verdadeiramente unido à Deus. Na ressureição cumpre-se a promessa de Salvação e Redenção do povo de Deus e Cristo torna-se o único critério a quem podemos nos confiar por completo, pois Ele, Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem, é a manifestação visível do Deus Criador. Jesus Cristo, Filho Unigênito do Pai, condenado pela ‘justiça’ humana a morrer numa Cruz, Ressuscitado, foi constituído por Deus como o Juiz do Universo, pois a Ele pertencem o poder, a honra e a glória para todo o sempre. 

A celebração da Páscoa nos exorta a abrirmos os olhos da fé e a mudarmos nosso comportamento mundano e indiferente que nos distancia do amor de Cristo e nos faz perder de vista a salvação alcançada por Ele. “Lançai fora o fermento velho, para que sejais uma massa nova. Assim, celebremos a festa, não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade ou perversidade, mas com pães ázimos de pureza e de verdade” I Cor 5, 6-8). Com a Virgem Maria, a Senhora da Ressurreição, deixemo-nos iluminar pela Luz do Cristo Ressuscitado e vivamos a Páscoa com verdadeiro ardor e gratidão pela Redenção que nos alcançada por Cristo Jesus. 

Feliz e abençoada Páscoa!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa: Com Cristo renasce a esperança! Apressemo-nos a superar divisões e conflitos

Papa Francisco: Com Cristo renasce a esperança (Vatican Media)

As palavras de Francisco aos fiéis: "Sim, temos a certeza: verdadeiramente Cristo ressuscitou. Acreditamos em Vós, Senhor Jesus, acreditamos que convosco renasce a esperança, o caminho continua. Vós, Senhor da vida, encorajai os nossos caminhos e repeti, também a nós, como aos discípulos na noite de Páscoa: ‘A paz esteja convosco’.”

https://youtu.be/vmZKefncafc

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

O dia mais importante e belo da história: o dia em que Cristo ressuscitou!

O Papa formulou seus votos de Feliz Páscoa a todos os fiéis em sua mensagem Urbi et Orbi (a Roma e a todo o mundo) ao final da missa celebrada numa Praça São Pedro tapeçada de flores. A cerimônia teve início com a abertura do ícone do Santíssimo Salvador, sob o canto do Aleluia e prosseguiu com a Liturgia da Palavra, sem a homilia, e a Liturgia Eucarística.

Diante de cerca de 100 mil romanos e peregrinos, Francisco recordou o significado da Páscoa, isto é, passagem; passagem da morte à vida, do pecado à graça.

“Nele, Senhor do tempo e da história, quero, com o coração repleto de alegria, dizer a todos: feliz Páscoa!”

Que seja para cada um, sobretudo para os sofredores, uma passagem da tribulação à consolação. Afinal, não estamos sós: Jesus, o Vivente, está conosco para sempre. Alegrem-se a Igreja e o mundo, porque podemos “celebrar, por pura graça, o dia mais importante e belo da história”.

Cristo ressuscitou, ressuscitou verdadeiramente, e a humanidade acelera o passo porque vê a meta do seu percurso, o sentido do seu destino: Jesus Cristo. E é chamada a apressar-se ao encontro Dele, esperança do mundo.

Por isso, convidou o Papa, apressemo-nos também nós a superar os conflitos e as divisões, e a abrir os nossos corações aos mais necessitados. Apressemo-nos a percorrer sendas de paz e fraternidade. O caminho é longo e devemos suplicar ao Ressuscitado: “Ajudai-nos a correr ao vosso encontro!”.

A Praça São Pedro embelezada pelas flores (Vatican Media)

Haiti e Nicarágua

Francisco então nomeou os povos e países que mais precisam, neste momento, desta ajuda: são o “amado povo ucraniano”, os russos, sírios e turcos vítimas do terremoto. São ainda israelenses e palestinos e libaneses. No continente africano, anseiam pela paz de Cristo os tunisinos, etíopes, sul-sudaneses, congoleses, eritreus, nigerianos, malauianos, moçambicanos e burquineses. Na Ásia, o Papa reza pelos birmaneses e pelo martirizado povo rohingya. No continente americano, as preces de Francisco vão para o Haiti, “que há vários anos está sofrendo uma grave crise sociopolítica e humanitária”, e para a Nicarágua, que hoje celebra a Páscoa “em circunstâncias particulares”.

O Pontífice suplicou conforto para os refugiados, os deportados, os prisioneiros políticos e os migrantes, especialmente os mais vulneráveis, bem como todos aqueles que sofrem com a fome, a pobreza e os efeitos nocivos do narcotráfico, do tráfico de pessoas e de toda a forma de escravidão.

Francisco pede ao Senhor que inspire os responsáveis das nações, para que nenhum homem ou mulher seja discriminado e espezinhado na sua dignidade; para que, no pleno respeito dos direitos humanos e da democracia, se curem estas chagas sociais.

“Irmãos, irmãs, voltemos também nós a encontrar o gosto do caminho, aceleremos o pulsar da esperança, saboreemos a beleza do Céu! (...) Sim, temos a certeza: verdadeiramente Cristo ressuscitou. Acreditamos em Vós, Senhor Jesus, acreditamos que convosco renasce a esperança, o caminho continua. Vós, Senhor da vida, encorajai os nossos caminhos e repeti, também a nós, como aos discípulos na noite de Páscoa: ‘A paz esteja convosco’.”

O ícone do Santíssimo Salvador (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A mística e a ascese no tempo pascal

Josh Applegate | Unsplash / #image_title
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Podemos nos perguntar: ascetismo e mística não estão intimamente ligados? Uma experiência mística não pressupõe uma prática ascética?

Nesta Semana Santa de 2023, circulou entre meus amigos, em nossas redes sociais, essa passagem de Dom Luigi Giussani, sacerdote italiano fundador do movimento Comunhão e Libertação: “Se alguém entrar na Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa, Sábado Santo, Páscoa, nestes quatro dias, sem olhar para o rosto de Cristo e nada mais, mas com a preocupação de seus pecados, da sua perfeição, de como deve meditar; acabará cansado, retomando seus dias como antes. Pelo contrário, olhar para o rosto de Cristo muda. Mas, para que Ele nos mude, é preciso encará-lo verdadeiramente, desejando o bem, desejando a Verdade: ‘Tudo sou capaz, Senhor, se estou contigo, tu és a minha força’. É um Tu que domina e não leis que devem ser respeitadas” (É possível viver assim? São Paulo: Cia Ilimitada, 2008).

Minha esposa e eu ficamos particularmente impactados pela comparação dessa passagem com algumas exortações que costumamos ouvir para que nos esforcemos para participar das celebrações da Semana Santa ou para sermos, a partir dessa Páscoa, mais comprometidos com as boas obras e com a luta por uma sociedade mais justa. As duas exortações, para a participação litúrgica e para o compromisso com o bem dos irmãos, são justíssimas, não estamos fazendo aqui nenhuma objeção a elas. Porém, a passagem de Dom Giussani abre uma outra janela, descortina um outro modo de olhar o mundo e viver a fé.

As práticas ascéticas e a experiência mística

Nesse período, em função do décimo aniversário do pontificado de Francisco, li uma declaração do Papa que talvez ajude a entender melhor o que gostaria de mostrar. Numa entrevista ao padre jesuíta Antonio Spadaro, ele comenta que existe, na Companhia de Jesus, uma corrente que sublinha o ascetismo, o silêncio e a penitência, mas que ele, Bergoglio, se identifica mais com uma outra, mais mística. Ora, podemos nos perguntar, ascetismo e mística não estão intimamente ligados? Uma experiência mística não pressupõe uma prática ascética?

De fato, as duas coisas estão intimamente ligadas, como a carroça e os bois. Mas fica muito mais difícil avançar se os bois, colocados atrás, “empurrarem” a carroça, ao invés de irem na frente, “puxando-a”. Existe uma deformação do ascetismo cristão que imagina que é a fidelidade às suas práticas que produz a experiência mística. Isso pode ser verdade num ascetismo estoico, de caráter disfarçadamente ateu, ou em algumas outras religiões. Mas, no cristianismo, é a própria experiência mística do encontro com Cristo que gera o desejo das práticas ascéticas, que se tornam respostas cheias de gratidão e de alegria Àquele que tanto nos amou primeiro.

O teólogo alemão Karl Rahner, no final do século passado, numa passagem famosa, declarou que os cristãos seriam “místicos” ou seriam “nada”. Rahner não tinha dúvidas sobre o significado de suas palavras: o cristianismo só pode sobreviver enquanto encontro e relação de amor pessoal entre Cristo e o fiel. A afirmação, contudo, se empobrece quando é interpretada simplesmente como condenação ao moralismo e ao formalismo que invadiram muitas vezes a mentalidade cristã moderna. Sem dúvida, a mística supera essa mentalidade redutiva – mas essa superação é uma decorrência da primazia do amor. Quem quer interpretar a mística apenas como negação do formalismo e do moralismo não avança, pois sua riqueza está no amor. E isso não é fácil de entender numa sociedade como a nossa, onde se fala muito no amor, mas se tem muita dificuldade em vivê-lo realmente.

A contemplação do Cristo sofredor

Fomos acostumados a uma cultura imagética que valoriza as representações do Cristo sofredor e dos santos em êxtases supostamente místicos, mas que a nossos olhos contemporâneos parecem mais maneirismos que estados contemplativos. Essas imagens são acompanhadas por práticas devocionais onde predomina a subjetividade dos fiéis e não a objetividade do amor de Deus. Frequentemente, não são nem consideradas práticas ascéticas, pois estão mais centradas na exploração das emoções da pessoa do que num real cultivo da contemplação e da oração.

A experiência mística cristã é o encontro entre duas subjetividades – a do fiel e a de Cristo, que se torna presente de forma misteriosa, mas real. Como toda experiência afetiva, é moldada pela sensibilidade e pela emotividade de cada um. Existem os mais devocionais, aos quais agradam as imagens e o ambiente barroco do catolicismo da Contrarreforma, existem os mais contemplativos, que preferem o estilo dos ícones orientais e a austeridade das primeiras basílicas cristãs. Cristo não deixa de ir ao encontro das pessoas, sejam quais forem seus temperamentos e suas preferências.

Contudo, nesse tempo pascal, pode ser perigosa uma contemplação do Cristo sofredor e de suas dores como catarse para nossos próprios sofrimentos ou motivação para o empenho moral – e não como ocasião para perceber o Seu amor por nós. Uma “estética do sofrimento” afasta frequentemente as pessoas da Igreja. Corresponde, muitas vezes, a um certo moralismo pelagiano, um desejo até arrogante de “estar à altura” do sacrifício de Cristo por nós (sobre esse tema, vale a pena ler Gaudete et Exsultate, do Papa Francisco, GE 47ss).

A justa contemplação mística do amor de Cristo por nós, ao invés disso, cria uma alegre gratidão, um desejo humilde de corresponder ao amor recebido. Não omite os sofrimentos de Cristo ou mesmo os nossos, mas permite que a misericórdia a tudo cubra e até mesmo as dores se tornem sinais de amor e beleza. Então, a participação na liturgia se torna verdadeiramente a bela celebração do Amor e o compromisso com os irmãos, particularmente com os que mais sofrem, se torna aquela conformação natural do coração do amante ao coração do Amado… E compreendemos melhor porque “seu fardo é leve e seu jugo, suave” (Mt 11, 28-30).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Reflexão para o Domingo da Ressurreição (A)

Evangelho do domingo (Vatican Media)

João vai relatar a autêntica ressurreição, a vitória de Jesus sobre as limitações humanas, sobre suas fragilidades, sobre a morte. Jesus jamais voltará a morrer. A morte nunca mais terá poder sobre ele, porque ele, a Vida, a destruiu.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

O Evangelho de São João nos diz que no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de Jesus e o encontrou vazio. João faz questão de ressaltar que era de madrugada e ainda estava escuro. Podemos perceber que o evangelista ao registrar que o fato aconteceu no primeiro dia da semana, quer fazer alusão à nova criação. O que ele vai relatar é uma novidade radical, é a vida nova de um homem, não um fato como a denominada ressurreição de Lázaro, que volta à vida, mas continua submetido à necessidade de cuidar de sua saúde, de se alimentar e que voltará a morrer.

João vai relatar a autêntica ressurreição, a vitória de Jesus sobre as limitações humanas, sobre suas fragilidades, sobre a morte. Jesus jamais voltará a morrer. A morte nunca mais terá poder sobre ele, porque ele, a Vida, a destruiu.

Contudo, Maria Madalena, apesar de ter escutado várias vezes Jesus dizer que ressuscitaria, a dor da morte é tal que ela se esquece das palavras do Mestre.

Apesar do corpo de Jesus já ter sido ungido na sexta-feira por José de Arimatéia e por Nicodemos, ela não consegue ficar longe do corpo morto do Senhor. A escuridão enfatizada no texto é um símbolo do estado interior de Maria. Ela está com uma vida sem sentido, sem alegria. Seus grande libertador, seu grande amigo está morto. Ela vai ao sepulcro quando ainda está escuro, na natureza e no seu interior. Mas seu coração está iluminado pelo amor, por isso ela vai até ao sepulcro.

Ela o encontra vazio. Sente-se desapontada e mais desolada, perdida e impotente.

Maria Madalena busca o cadáver de Jesus. Ela esqueceu totalmente a promessa dele de que iria ressuscitar.

Ela olha para o sepulcro vazio e vê dois anjos, um na cabeceira e outro nos pés. O evangelista quer nos recordar os dois anjos que foram colocados, um à cabeceira e outro aos pés da arca da aliança. Jesus é a nova aliança. Por isso a aliança de Jesus Cristo é eterna, pois ele ressuscitou.

Mas Madalena, abalada pela dor não reconhece os sinais e só vê o sepulcro vazio. Somente após a segunda pergunta de Jesus, ao ouvi-lo pronunciar seu nome e deixar de olhar para o sepulcro e voltar-se para o lado contrário é que ela vê o ressuscitado.

Como Maria Madalena, também nós só veremos os sinais da ressurreição, quando levantarmos nossos olhos dos sinais de morte, e dirigirmos nosso coração para a VIDA. Enquanto estivermos afeiçoados àquilo que é egoísmo, ambição, ira, não perceberemos que a Vida está à nossa frente, e sofreremos as consequências da opção pelos atrativos mortais. Ao contrário, quando acreditarmos no poder de Deus e formos mais irmãos, adeptos da partilha e do serviço, perceberemos os sinais da Vida a todo momento, pois estaremos desde agora vivendo à luz de Deus.

Feliz Páscoa!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 8 de abril de 2023

Cardeal Orani: "O Sábado Santo é um dia voltado para o silêncio e para a oração

Sábado Santo, dia de grande silêncio (cnbb)

CARDEAL ORANI: “NO SÁBADO SANTO É A ÚLTIMA OPORTUNIDADE PARA FAZERMOS AQUELA MUDANÇA DE VIDA QUE A QUARESMA NOS PROPORCIONA”

Por Cardeal Dom Orani João Tempesta

Arcebispo de Rio de Janeiro (RJ)

A Igreja, nesse Sábado Santo, 8 de abril, se recolhe. É um dia voltado para o silêncio e para a oração, se preparando para a grande Vigília Pascal que acontece à noite. “Não é um silêncio de luto, pois acreditamos que o Senhor não está morto, Ele vive. Temos a certeza de que à noite celebraremos a ressurreição, mas é um silêncio orante e de respeito, pois sabemos que nesse dia o Senhor desceu ao seio da terra”, afirma o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta.

Normalmente, no Sábado Santo, acontece a preparação da Igreja para a celebração da Vigília Pascal. Os grupos pastorais se organizam para ornamentar e limpar a Igreja.  Durante o Sábado Santo, sobretudo na parte da manhã, pode haver um momento de espiritualidade na Igreja.

Nesse Sábado Santo, pode-se fazer um jejum limitado, ou seja, evitando a carne vermelha, que pode ser substituída por carne de peixe. “Ainda estamos no espírito da dor pela morte incruenta de Jesus, por isso ainda podemos praticar o jejum. E, em algumas Igrejas, ainda acontece a confissão sacramental, por isso ainda poderemos praticar a penitência. No Sábado Santo, é a última oportunidade para fazermos aquela mudança de vida que a quaresma nos proporciona, para logo mais à noite celebrarmos de coração renovado a Páscoa”, afirma o cardeal.

Esse dia também é conhecido como Sábado de Aleluia, que vem da tradição na Igreja Católica de não dizer “Aleluia” nas missas durante a Quaresma. No fim do Sábado de Aleluia, finalmente se diz Aleluia, para anunciar o início da Páscoa.

“No Sábado Santo, os discípulos tinham ficado muito tristes, pois Jesus estava “morto”, eles não tinham compreendido aquilo que Jesus tinha dito, de que era necessário que o Filho do Homem sofresse tudo aquilo para nos salvar”, diz dom Orani

Segundo dom Orani, o Sábado Santo nos lembra que Jesus morreu de verdade, não foi uma farsa. “Jesus morreu, assim como todos nós um dia também teremos de morrer. Sua identificação com a humanidade foi completa, até na morte”, salientou.

O cardeal reitera que a morte de Jesus foi necessária para nos salvar e, depois ainda com a sua ressurreição, nos abrir um novo caminho, e nos indicar que a vida não termina aqui, mas continua ao lado de Deus. “Assim como Jesus morreu, mas depois ressuscitou, quem crê nele também morrerá, porém tem a promessa da ressurreição para a vida eterna. A morte não é o fim da história, mas o começo de uma nova”, explicou.

Oração e silêncio 

A oração e o silêncio nesse dia, segundo o cardeal Orani, ajudará a compreender esse mistério da paixão, morte e ressureição de Jesus. “O Espírito Santo que depois foi revelado aos discípulos e até hoje acompanha a vida da Igreja, nos impulsiona a todos os anos celebrar o mistério pascal de Cristo. A quaresma é um grande retiro espiritual de 40 dias, que a Igreja nos indica para nos preparar para a Páscoa, e o Sábado Santo como que coroa esse período”, diz.

Irmãos e irmãs, o Sábado Santo, com o jejum e com a oração silenciosa, expressa também nossa inquebrantável esperança na ressurreição final e na segunda vinda do Senhor. A terra, grávida de Cristo, está para dar à luz o Senhor ressuscitado, como primícias da nova criação.

Vigília Pascal

Em termos litúrgicos, o Sábado Santo vai até às 18h, onde a partir desse momento em algumas comunidades já se começa a celebrar a Solene Vigília Pascal. Pois, segundo as rúbricas e a liturgia, a solene Vigília Pascal deve-se celebrar ao anoitecer, pois o Senhor ressuscitou no sábado de madrugada.

“Portanto, irmãos e irmãs, nos preparemos nesse Sábado Santo por meio do jejum e da oração silenciosa para a grande Vigília Pascal que celebraremos logo mais à noite. Que tenhamos a certeza de que durante o dia, o Senhor está no sepulcro, mas à noite, Ele o deixa vazio. Lembrando que esse dia ainda não é momento de fazer festa, algum tipo de comemoração ou trabalho. O Sábado Santo ainda é dia de recolhimento e oração, aproveitemos para rezar pelo nosso país e pelo mundo, que tanto precisam de oração”, exorta dom Orani.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

No Sábado Santo, assim como Maria, saibamos silenciar

Papa Francisco em Vigília (Vatican Media)

Neste "grande silêncio" do dia, a Igreja reflete Cristo morto para celebrar a sua vitória sobre a morte. "O nosso silêncio tem pleno sentido em Jesus ressuscitado e ajuda a compor um itinerário de vida para produzir frutos à nossa história", diz Pe. Maicon Malacarne. E Ir. Grazielle Rigotti desafia: há quanto tempo "você não saboreia o silêncio diante de um mundo tão ensurdecedor e barulhento? Nossa Senhora sabia silenciar para escutar do coração o que não entendia".

Andressa Collet - Vatican News

A Vigília Pascal na Noite Santa, que conclui o tríduo e no Vaticano será presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro com transmissão ao vivo - em português - pelos canais do Vatican News a partir das 19h30 na Itália (14h30 no horário de Brasília), é vivida por um dia de silêncio. No Sábado Santo, a Igreja medita e reflete Cristo morto para se chegar à noite e celebrar a vitória de Jesus sobre a morte. O padre Maicon André Malacarne, da diocese de Erexim/RS, desde 2021 cursando mestrado em Teologia Moral na Academia Alfonsiana, em Roma, acrescenta:

"O sábado, dentro da grande celebração do Tríduo Pascal, do centro do mistério da nossa fé, é o dia que nós estamos diante do sepulcro de Jesus. Estamos diante de um amor capaz de amar até o fim. Estamos diante de um amor capaz de amar até a cruz. Estar diante do sepulcro de Jesus crucificado é estar diante das grandes contradições que marcaram e que marcam a história da humanidade e que exige um empenho de transformação."

Saber silenciar como Maria

No dia em que a Igreja contempla o "repouso" de Cristo no túmulo, após o vitorioso combate da cruz, o papel da Virgem Maria é evocado por toda a sua fé e coração cheio de amor, num símbolo da dor pela morte de Jesus e a expectativa na ressureição. A Irmã Grazielle Rigotti da Silva também procura identificar o Sábado Santo com o silêncio e a esperança que vem de Maria, que também nos questiona o quanto temos nos colocado à prova, silenciando a nossa alma diante do mundo:

“Sábado é um dia que por vezes fica no meio do caminho. Entre a sexta e o domingo existe um vácuo, um espaço... Mas somos chamados neste dia a viver a espera, com aquela que é a mãe da Esperança: Nossa Senhora. De fato, o sábado não é um dia para ser esquecido, mas para ser saboreado. Quanto tempo faz que você não saboreia o silêncio diante de um mundo tão ensurdecedor e barulhento? Silêncio não necessariamente é vazio. Pode ser gestação, espera e encontro. Nossa Senhora sabia silenciar para escutar do coração o que não entendia. Ela nos ensina a silenciar.”

Neste Sábado Santo, de dor pela morte de Jesus e alegria da sua Ressureição, somos convidados a parar, no recolhimento e na meditação, e a nos unir à Virgem Mãe e à Igreja, que fica em silêncio: os sinos não tocam, as igrejas são despojadas e vazias. Um dia que nos ajuda a compreender como viver, em confiante expectativa, os “muitos dias” de silêncio que a vida apresenta ao longo da nossa existência. Um dia que chegou a ser definido como "o mais longo dos dias", um tempo de reflexão, que pode ser ampliado na vida de cada um. 

A Vigília Pascal, momento central do calendário litúrgico e considerada a mãe de todas as vigílias por anteceder a festa da Páscoa, inicia na noite de sábado, mas faz parte da liturgia da Páscoa da Ressurreição. É também o dia da "crise" da Palavra: os próprios Evangelhos não falam nada, pode-se somente imaginar que esse seja o tempo em que o corpo de Jesus permanece no sepulcro, enquanto os apóstolos, sendo um dia de repouso para os judeus, permanecem sem saber o que aconteceria a seguir.

Cultivar espaços de silêncio

Um Sábado Santo que, como já nos recordou o Papa Francisco (2021), foi vivido "no pranto e na perplexidade pelos primeiros discípulos, perturbados com a morte ignominiosa de Jesus. Enquanto o Verbo está em silêncio, enquanto a Vida está no túmulo, aqueles que tinham esperança dele são postos duramente à prova, sentem-se órfãos, talvez até órfãos de Deus”. E o Pe. Maicon Malacarne conclui:

"Por isso, o sábado é o convite ao 'grande silêncio'. Não um silêncio de desespero, mas um silêncio de fecundidade. A imagem da semente ajuda a compor essa fecundidade, esse silêncio fecundo. Se o grão de trigo não morre, não pode dar frutos, disse Jesus. A semente que é lançada à terra e que, no silêncio, na espera, de uma vida nova, cria essa expectativa. É esse silêncio, esse silêncio fecundo, que vai nos conduzindo para a grande Vigília Pascal. De fato, o Papa Francisco insiste que cada pessoa possa cultivar espaços de silêncio."

“O sábado é esse dia privilegiado de um silêncio fecundo, verdadeiramente cheio de esperança na vida nova. Silêncio que nos conduz à Vigília Pascal: a luz que vence a escuridão. A vida nova. Jesus ressuscitou. Jesus é vencedor. A semente deu frutos. O nosso silêncio, a nossa espera tem pleno sentido em Jesus ressuscitado e ajuda a compor um itinerário de vida, um projeto de vida que nos conduz a produzir muitos frutos para a nossa história, para a história da comunidade, para a história em que estamos inseridos.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 7 de abril de 2023

O cristianismo é um acontecimento

O cristianismo (Toda Matéria)
Arquivo 30Dias - 03/2005

O cristianismo é um acontecimento

Quando faleceu o cardeal Hamer em dezembro de 1996, padre Giussani escreveu no L’Osservatore Romano que era “mêmore do grande ensinamento recebido sobre a natureza comunial da Igreja e profundamente grato pelo sucessivo encontro pessoal cheio de verdadeira afeição eclesial”. Esta é mais uma razão para publicarmos novamente o texto escrito para o Il Sabato em 1993.

do cardeal Jean-Jérôme Hamer

A coisa que mais me impressiona é a tese central do livro Un avvenimento di vita cioè una storia (Um Acontecimento de Vida, isto é, uma História)de monsenhor Giussani: o cristianismo é um acontecimen­to. Um acontecimento que se traduz em um encontro, postula uma presença, realiza-se na “contemporaneida­de”. Essa idéia tem implicações importantes tanto no plano pedagógico como no plano teológico, como es­crevi em uma carta ao autor do livro.
A noção de acontecimento aplicada ao cristianismo não é comum no pensamento católico moderno. Ela foi empregada no pe­­­r­­í­o­­do entre-guerras pelo grande teó­logo alemão Karl Barth, na sua polêmica com a teologia liberal. Mas o acontecimento é uma coisa muito dife­rente para o protestante Barth. É como um relâmpago, uma iluminação que toca a vida e no instante seguinte se retira. Entra na existência humana como a agulha de uma máquina de costura perfura um tecido. Esse re­lâmpago pode se repetir muitas vezes, mas o resultado essencial não muda. Depois da luz, a escuridão sempre volta. É um transcendente que não se encarna, sobre o qual é difícil construir algo estável.
O acontecimento do qual monsenhor Giussani fala não é um re­lâmpago: funda uma história que permanece. É a Igreja. “O acontecimento - como todo acontecimento - ­é o início de algo que não existia antes: é a irrupção do novo que dá início a um processo novo” (cf. Un avvenimento di vita cioè una storia, p. 489). Fiquei im­pressionado ao ver que na capa do livro, o título destaca esse efeito: a palavra “História” é evidenciada em vermelho, com caracteres maiores.
Afirmar o acontecimento significa reconhecer o caráter radicalmente novo e soberano do cristianismo. Segundo os dicionários, acontecimento é um fato impor­tante, que marca um momento da história. Giussani não se limita a essa definição, mas desenvolve a idéia segundo a qual o acontecimento é um fato fundamentalmente novo. Assim, segue a linha de Charles Péguy: “não-previsível, não-previsto, não-conseqüência de fa­tores antecedentes” (p. 478). Portanto, é algo que sur­preende, que “irrompe” na história, inclusive na histó­ria pessoal de cada um.
A abordagem de monsenhor Giussani permite mostrar o sentido exato do pensamento da Igreja sobre a re­lação entre “espera” e “realização”, entre “profecia” e “cumprimento”, entre “lei antiga” e “lei nova”. Existe em cada um desses binômios uma continuidade real e uma descontinuidade radical.
Cristo é a resposta adequada aos mais profundos desejos do homem, mas a realização não é o desenvolvi­mento natural e progressivo da espera humana. A rea­lização não está para o desejo assim como a planta está para a semente. Não é uma evolução, um processo na­tural e linear. A espera recebe uma resposta que supera muito o pedido. A realização pode parecer paradoxal. Pensemos no messianismo comum das pessoas que vi­viam em torno de Jesus, inclusive dos discípulos do Senhor. A espera recebe uma resposta completamente imprevista. Ninguém previa um Messias que ressusci­taria dos mortos e entraria assim na glória. Jesus os preparou, dizendo que devia sofrer muito, mas essa idéia parece não ter entrado na consciência dos discípulos até o último momento. Os discípulos de Emaús dizem: “Nós esperávamos que fosse ele quem iria redi­mir Israel; mas faz três dias que todas essas coisas aconteceram” (Lucas 24,21).
A religiosidade natural também é uma situação de espera, em função de uma realização. Giussani, descre­vendo a amizade com alguns monges budistas, diz que o ponto mais alto do senso religioso natural é “uma es­pera dolorosa” (p. 40). Por isso, certas normas da reli­giosidade natural devem ser radicalmente superadas para serem realizadas no mistério de Cristo. É, mais uma vez, continuidade e descontinuidade.

O acontecimento do qual monsenhor Giussani fala não é um relâmpago: funda uma história que permanece. É a Igreja. “O acontecimento - como todo acontecimento - é o início de algo que não existia antes: é a irrupção do novo que dá início a um processo novo” (cf. Un avvenimento di vita cioè una storia, p. 489). Fiquei impressionado ao ver que na capa do livro, o título destaca esse efeito: a palavra “História” é evidenciada em vermelho, com caracteres maiores.

A meu ver, o primado do acontecimento em relação ao senso religioso é uma das novidades mais impor­tantes do pensamento de monsenhor Giussani neste livro. Nós vemos isso com clareza na entrevista concedi­da em 1987 ao teólogo Angelo Scola (por ocasião do Sí­nodo Mundial sobre os leigos), publicada no início do volume. Giussani responde sem hesitação à pergunta se a proposta pedagógica do movimento se baseia no senso religioso: “O centro da nossa proposta é o anúncio de um acontecimento que surpreende os homens da mesma forma como o anúncio dos anjos surpreendeu os pobres pastores de Belém, há dois mil anos. É um acontecimento real, que antecede qualquer considera­ção sobre o homem religioso ou não-religioso” (p. 38). É um tema decisivo.
A intuição de Giussani aprofunda também o binô­mio lei antiga-lei nova. A lei nova se realiza na graça. É a realização da lei antiga mas, de certa forma, a sua re­vogação. A realização completa e, ao mesmo tempo, transforma a espera. É uma idéia que monse­nhor Gius­ani desenvolve quando, na sua última conferência, publicada no livro, cita uma frase (considerada “admirável”) de João Paulo I: “O verdadeiro drama da Igreja que gosta de se considerar moderna é a tentativa de corrigir a maravilha do evento de Cristo com re­gras” (p. 481).
Aqui entra a polêmica antipelagiana de Giussani. Essa polêmica pertence à tradição da Igreja, de Agostinho a Tomás. Seria interessante, a esse respeito, reler e co­mentar os artigos de Santo Tomás sobre “por que o ho­mem precisa da graça”. A salvação não está em um esforço moral mas em um perdão. Se não fosse assim, não entenderíamos a insistência da teologia católica na gratuidade da graça, na necessidade dos sacramentos, na consciência do pecado (no início da missa, a Igreja nos convida a reconhecer os pecados, não só abstrata­mente, como era em algumas traduções discutíveis, mas que somos pecadores).
Por fim, alguém poderia dizer que o termo “diálogo”, que é central na idéia de atualização da Igreja pós-­conciliar, aparece raramente no livro, ao passo que a noção de “presença é abundante. Desvaloriza o mo­mento do dialogo? Não creio. O diálogo é importante em todos os níveis, a começar pelo nível político, porque acaba com a hostilidade e cria um clima de confiança. O cardeal Richelieu dizia: “Devemos sempre negociar”. No plano político, essa posição é justa e legítima. Mas o dialogo pressupõe a presença, ou seja, um “sujeito novo”. Caso contrário, arrefece e se torna um fim em si mesmo. O diálogo, na sua forma mais verda­deira, também é comunicação do acontecimento e instrumento de um encontro.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF