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quarta-feira, 12 de abril de 2023

Exemplos de fé: o profeta Elias

O profeta Elias é levado aos céus em um carro de fogo (Opus Dei)

Exemplos de fé: o profeta Elias

Quarto texto sobre a virtude da fé, o ponto de partida é a vida do profeta Elias, que teve uma grande intimidade com Deus.

24/10/2014

Depois de Abraão, Moisés e David, surge um dos homens mais célebres do Antigo Testamento: o profeta Elias, que o Catecismo da Igreja Católica designa como «o pai dos profetas, “da geração dos que procuram Deus, dos que buscam a Sua Face” (Sal 24, 6)»[1], e que, como Moisés, foi um grande amigo de Deus. O seu exemplo pode servir-nos para considerar uma exigência da fé: a necessidade de uma grande intimidade com o Senhor. A vida de Elias – que «era um homem semelhante a nós»[2] – mostra como Deus ajuda aqueles que recorrem a Ele por meio da oração, especialmente nas dificuldades.

O profeta Elias no deserto (Opus Dei)

Que todo este povo saiba que Tu, Javé, és Deus

Elias, o tisbita, viveu no reino de Israel durante o século VIII a.C. O seu nome, que significa «o meu Deus é Javé», sintetiza o aspeto central da sua missão: lembrar que Javé é o único e verdadeiro Deus e que só a Ele se deve dar culto. E fazê-lo precisamente quando o rei Acab, por influência da sua mulher Jezabel, adorava um deus estrangeiro e o culto ao verdadeiro Deus convivia com a idolatria[3]. «O povo adorava Baal, o ídolo tranquilizador do qual se acreditava que derivava o dom da chuva e ao qual, por isso, se atribuía o poder de dar fertilidade aos campos e vida aos homens e ao gado. Embora pretendesse seguir o Senhor, Deus invisível e misterioso, o povo procurava a segurança também num deus compreensível e previsível, do qual julgava que podia obter a fecundidade e a prosperidade»[4].

Nesta situação, Deus escolherá Elias para ser seu porta-voz diante dos homens. O profeta anuncia a Acab as consequências da sua apostasia: «pela vida do Senhor, Deus de Israel, a quem sirvo: nestes anos não haverá nem orvalho nem chuva, senão quando eu disser!»[5].

Anos mais tarde, quando os efeitos da seca se tornaram dramáticos[6], o Senhor envia de novo Elias ao rei. O profeta pede a Acab que reúna todo Israel e os profetas de Baal no monte Carmelo. O rei concorda, e então Elias lança o seu desafio: «Eu sou o único profeta do Senhor que resta, ao passo que os profetas de Baal são quatrocentos e cinquenta. Que nos deem dois novilhos. Eles que escolham um novilho e, depois de cortá-lo em pedaços, o coloquem sobre a lenha, sem pôr fogo por baixo. Eu prepararei depois o outro novilho e o colocarei sobre a lenha, e também não lhe porei fogo. Em seguida, invocareis o nome de vosso deus e eu invocarei o nome do Senhor. O deus que ouvir, enviando fogo, este é o Deus verdadeiro»[7]. A proposta foi colocada para que todos possam reconhecer quem é o verdadeiro Deus, já que o pecado do povo não consistia em ter esquecido completamente o Senhor, mas em colocá-lo junto a outro deus.

As invocações dos numerosos profetas de Baal prolongam-se por várias horas, porém não conseguem nada. Ao contrário, a oração de Elias encontra uma resposta imediata: cai fogo do céu que consome o novilho, a lenha e inclusive a água que o profeta havia mandado derramar em abundância sobre a vítima do sacrifício. Diante da evidência, o povo exclama unânime, com o rosto por terra: «O Senhor é o verdadeiro Deus!»[8] O culto a Baal, deus da chuva, tinha-se revelado falso e a existência de outros deuses além de Javé fica descartada.

Durante o confronto, Elias move-se com a serenidade da fé, com a certeza de quem sabe que se encontra nas mãos de quem é mais forte do que a natureza e do que os homens. As zombarias que dirige aos profetas de Baal enquanto invocam o seu deus são o resultado bem eloquente da sua confiança em que o Senhor intervirá em seu favor: «Gritem mais alto, já que ele é um deus. Quem sabe se está meditando, ou ocupado, ou viajando. Talvez esteja a dormir e precise de ser despertado.» [9].

Com razão se pode chamar a Elias o profeta do primeiro mandamento, que manda crer em Deus e adorá-Lo, amando-O sobre todas as coisas, sem ir atrás de outros deuses[10]. Elias defende a primeira consequência do preceito: dar culto só ao Senhor.

Explicava Bento XVI: «somente assim Deus é reconhecido por aquilo que é, Absoluto e Transcendente, sem a possibilidade de lhe pôr ao lado outros deuses, que O negariam como Absoluto, tornando-o relativo. Esta é a fé que faz de Israel o povo de Deus; trata-se da fé proclamada no conhecido texto do Shemá Israel: “Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, toda a tua alma e todas as tuas forças” (Dt 6, 4-5)»[11].

O homem não pode pôr o único Deus junto a outros deuses. Mesmo que tenham passado muitos séculos e as circunstâncias atuais sejam diferentes das do antigo Israel, a tentação de tirar Deus do lugar que lhe corresponde continua tão presente como outrora.

Ao descobrir na nossa própria vida interesses, gostos, ou preocupações que tendem a ocupar o primeiro lugar na cabeça ou no coração, podemos pedir ao Senhor que avive a nossa fé e a torne realmente operativa, de modo que nada – nem uma criatura, nem um pensamento ou desejo do nosso próprio eu – diminua a dedicação total que Lhe devemos.

Como nos recorda o Papa Francisco, «cada um de nós, na própria vida, de maneira consciente e talvez às vezes sem dar-nos conta, tem uma ordem muito precisa das coisas consideradas mais ou menos importantes. Adorar o Senhor quer dizer dar-Lhe o lugar que Lhe corresponde; adorar o Senhor quer dizer afirmar, crer – mas não simplesmente de palavra – que unicamente Ele guia verdadeiramente a nossa vida; adorar o Senhor quer dizer que estamos convencidos que Ele é o único Deus, o Deus da nossa vida, o Deus da nossa história»[12].

A atuação de Elias anima-nos também a ser valentes à hora de dar testemunho público da nossa fé, diante das intenções – velhas, mas que se renovam continuamente – de reduzir a religião a uma questão particular. Pretende-se excluir da vida social toda a referência a Deus, como se falar Dele ofendesse algumas sensibilidades.

Para Elias, a sua própria fidelidade ao Senhor não é suficiente. No Monte Carmelo reza para que todo o Israel saiba que Javé é o verdadeiro Deus, que converte os corações[13]. A fé não pode ficar fechada: «nasce da escuta, e fortalece-se no anúncio»[14], «implica um testemunho e um compromisso públicos. O cristão não pode jamais pensar que crer é um facto privado»[15].

Elías e Moisés acompanham o Senhor na Transfiguração (Opus Dei)

Toma a minha vida, pois eu não sou melhor do que os meus pais!

Após o holocausto do Carmelo, o povo reconhece que Javé é Deus. Pouco depois o rei será testemunha de como o profeta consegue do Senhor o fim da seca[16]. Porém no momento em que se poderia considerar o maior triunfo de Elias, a sua história sofre uma reviravolta inesperada: a esposa do rei, indignada pelo que ele fez, propõe-se executá-lo. Diante da ameaça, Elias tem medo e foge, fugindo deserto adentro. Extenuado pela caminhada e pela amargura que devia experimentar ao ver-se abandonado diante do ódio da rainha, desejou a morte dizendo: «agora basta, Senhor, toma a minha vida, pois não sou melhor do que os meus pais»[17].

Durante anos, Elias foi a única testemunha de Deus em Israel; além disso acabara de enfrentar quatrocentos e cinquenta profetas de Baal diante de todo o povo e com a hostilidade do rei. Agora, em troca, aterroriza-se diante das ameaças de Jezabel e foge para o mais longe possível. Onde ficou a sua segurança? Já não confia no Senhor, que o acompanhou até agora com tantos prodígios?

Também há episódios na vida de S. Josemaria em que, como Elias, experimentou o medo. Por exemplo, na véspera do dia 2 de outubro de 1936. Eram os primeiros meses da guerra civil espanhola, e o nosso Fundador estava escondido em Madrid com outras pessoas, quando lhe anunciaram uma rusga militar iminente que lhes poderia acarretar o fuzilamento. Ante a proximidade da morte, sentiu «por um lado, a alegria imensa de ir unir-me definitivamente com a Trindade; por outro, a clareza com que Ele me fazia ver que eu não valho nada, não posso nada, e, por isso, tremia com autêntico medo»[18].

Elías com a viúva de Sarepta e o seu filho (Opus Dei)

Talvez não tenhamos passado por uma situação tão extrema, mas podemos ter sentido o desalento ao receber uma má notícia, ou diante de um aparente fracasso apostólico, ou ao comprovar o tamanho da própria miséria. No entanto, Deus conhece melhor que nós o pouco que somos: só nos pede «a humildade de o reconheceres e a luta para retificares, para O servires cada vez melhor, com mais vida interior, com uma oração contínua, com a piedade e com o emprego dos meios adequados para santificares o teu trabalho.»[19]

Como a Elias, as circunstâncias adversas devem levar-nos a invocar confiada e sinceramente o Senhor. É o momento de exercitar a virtude da fé, que, unida à esperança, se torna mais necessária na hora da solidão e do aparente fracasso do que na hora do triunfo e da aclamação popular. A oração de Elias nesse momento de desânimo foi uma oração agradável a Deus, porque vinha de um coração sincero e humilde, que ardia de zelo pelas coisas do Senhor e aceitava tudo o que dele pudesse vir. E diante dessa oração, a resposta não demora a chegar: por duas vezes, Deus envia um anjo, que o acorda e manda que coma e beba. Elias «levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus»[20].

Nosso Senhor não abandona os que trabalham por Ele. Elias, o homem de Deus, viveu Dele em todo o momento; Deus sustentou-o nas adversidades, ajudando-o a perseverar, deu-lhe os meios de que necessitava para cumprir a sua missão. Apesar das dificuldades e dos altos e baixos, vemos que a sua vida foi fecunda, serena, feliz. Os profetas de Baal, pelo contrário, recebiam o seu alimento na corte. Talvez pensassem que adulando a rainha, dobrando os joelhos diante de Baal, asseguravam para si uma vida tranquila. Não foi assim: é preferível sentar-se à mesa do Senhor que à dos ídolos; é melhor ser escravo do Senhor que escravo do pecado[21].

Não há maior liberdade para o homem do que a de reconhecer a sua condição de criatura e adorar a Deus: esse é o remédio mais eficaz contra todas as idolatrias: «quem se inclina perante Jesus não pode e não deve prostrar-se diante de nenhum poder terreno, mesmo que seja forte. Nós, cristãos, só nos ajoelhamos diante do Santíssimo Sacramento»[22].

Juan Carlos Ossandón

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[1] Catecismo da Igreja Católica, 2582.

[2] Tg 5, 17.

[3] Cf. 1 Re 16, 31.

[4] Bento XVI, Audiência geral, 15/06/2011.

[5] 1 Re 17, 1.

[6] Cf. 1 Re 18, 5.

[7] 1 Re 18, 22-24.

[8] 1 Re 18, 39.

[9] 1 Re 18, 27.

[10] Cf. Dt 6, 14.

[11] Bento XVI, Audiência geral 15/06/2011.

[12] Francisco, homilia, 14/04/2013.

[13] Cf. 1 Re 18,37

[14] Francisco, homilia, 14/04/2013

[15] Bento XVI, Motu próprio Porta fidei, 11/10/2011, n. 10

[16] Cf. 1 Re 18, 41-46

[17] 1 Re 19,4

[18] Palavras de S. Josemaria publicadas em J. Echevarría, Lembrando o Beato Josemaría Escrivá. Diel, Lisboa, 2000

[19] S. Josemaria, Forja, n. 379

[20] 1 Re 19,8

[21] Cf. Amigos de Deus, nn. 34-35

[22] Bento XVI, homilia na solenidade do Corpus Christi, 22/05/2008

Fonte: https://opusdei.org/pt-pt

Manuscrito mostra como a Páscoa era calculada na Idade Média

Wikimedia Commons | domena publiczna
Por Daniel R. Esparza

O raro manuscrito que ajuda o leitor a determinar a data da Páscoa está agora à venda por cerca de 16.500 dólares.

A Coleção Raab é um nome reconhecido internacionalmente em importantes documentos históricos. De acordo com seu site, eles “pesquisam o mundo, encontrando documentos históricos importantes e levando-os à nossa clientela historicamente apaixonada”.

Agora, eles podem ter encontrado um raro tesouro tardio-medieval: um dispositivo mnemônico escrito em latim (um Cipher) que só pode ser lido (ou seja, literalmente decifrado) por alguns poucos instruídos, de um breviário do século XV. O manuscrito está avaliado em 16.500 dólares e está atualmente à venda.

Antes de 1420, os livros de devoção (na maioria breviários) eram feitos sob encomenda, refletindo assim os interesses e devoções de determinada pessoa. Os breviários continham trechos de salmos, leituras do evangelho, hinos e orações para orientar o leitor em sua oração diária no horário canônico fixo.

Segundo o Medievalists.com, o manuscrito encontrado, de origem flamenga ou luxemburguesa, “usa uma série complexa de letras e frases para ajudar o leitor a determinar o que permanece uma festividade móvel: a Páscoa”.

Na época medieval, sua data tinha que ser calculada usando uma combinação de matemática e astronomia – isto é, computus.

Computus, a ciência medieval de calcular horas e datas, usava a poesia como um dispositivo mnemotécnico. Isto facilitava a memorização de algumas informações por parte dos estudantes.

Computus foi muitas vezes aplicada “ao complicado e às vezes controverso cálculo da data da Páscoa, uma data altamente variável e ocasionalmente controversa que se baseia em calendários lunares, na data da celebração judaica da Páscoa, e se o observador está ou não no calendário juliano ou gregoriano”, explica o site da Raab. Na verdade, a Páscoa permanece celebrada em dias diferentes no Ocidente do que no Oriente até hoje, devido a essas diferenças de cálculo.

O manuscrito oferecido pela Coleção Raab é uma coleção de páginas de um livro outrora maior, incluindo uma cifra rara desenvolvida em 1402 por um inglês chamado John de Foxton.

Foxton é o autor de uma obra enciclopédica chamada Liber Cosmographiae, que incluía uma linha de poesia acompanhada de várias cartas não relacionadas, escritas em vermelho, que atuam como um desses dispositivos mnemônicos para descobrir a data da Páscoa.

O manuscrito foi provavelmente encomendado por um clérigo que usou seu livro de orações tanto para as devoções diárias quanto para os assuntos mais complexos do calendário cristão.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Dom Murilo Krieger: A vitória do amor

Dom Murilo S. R. Krieger, scj (Vatican Media)

Dom Murilo: "nossa vida, mesmo em seus momentos mais simples, tem um valor imenso, porque estão revestidos da marca da eternidade. Afinal, somos conduzidos por uma certeza: Jesus Cristo está vivo".

Dom Murilo S. R. Krieger, scj - Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia

É comum, em algumas regiões do Oriente, os cristãos saudarem-se mutuamente de maneira otimista: "Cristo ressuscitou!”, proclama um. “Sim, ele ressuscitou verdadeiramente!", responde o outro. Por trás dessa saudação há uma convicção: esse é o fato central da vida cristã.

Tal afirmação é tão importante que, no início da pregação do Evangelho, quando chegavam em um lugar que nada sabia a respeito de Jesus Cristo, os apóstolos começavam anunciando sua ressurreição: “Jesus Cristo ressuscitou. Ele está vivo!”  A convicção e a esperança que os pregadores transmitiam por falarem de alguém que morreu e agora estava vivo despertava o interesse dos ouvintes. A partir daí, pouco a pouco, os evangelizadores passavam a falar também de outros aspectos da vida e da mensagem de Jesus de Nazaré. 

Dirigindo-se aos que estavam em Jerusalém, no dia de Pentecostes, o apóstolo Pedro foi claro: "Deus ressuscitou este mesmo Jesus, e disso todos nós somos testemunhas" (At 2,32). O apóstolo Paulo, por sua vez, de tal maneira estava marcado por esse acontecimento que considerava vazia e sem sentido a vida cristã, se não estivesse baseada na ressurreição de Cristo: "Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento também é a vossa fé... Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados” (1Cor 15,14-17).

"Cristo ressuscitou! Sim, ressuscitou verdadeiramente!" Não é fácil acreditar e ser otimista, quando tudo nos convida ao contrário: a guerra na Ucrânia que parece não ter fim; uma série de conflitos se multiplicam pelo nosso planeta; os meios de comunicação divulgam notícias a respeito de desemprego e do aumento do número de pobres e famintos; o egoísmo domina o relacionamento humano; cresce o império da pornografia, das armas e das drogas; os direitos humanos são pisoteados um pouco por toda a parte e muitos passam a ter a impressão de que o filósofo Hobbes tinha razão, quando afirmava: "O homem é o lobo do homem".

Talvez seja difícil para muitos acreditar, hoje, em Jesus Cristo, em sua mensagem de amor e de perdão, em seu anúncio marcado pela esperança e pela paz. Quanto mais não terá sido difícil acreditar quando aquele que é a razão de nossa fé e de nossa esperança estava pendurado na cruz? Ficavam sem resposta os apelos dos que contemplavam: "Se és o filho de Deus, desce da cruz... Salva-te a ti mesmo!... Desce da cruz e acreditaremos em ti.". Provavelmente eles não ouviram uma pregação de Cristo em que outros já haviam pedido sinais extraordinários: "Esta geração pede um sinal e não terá outro sinal que o do profeta Jonas... Como Jonas esteve no ventre da baleia três dias e três noites, assim também o filho do homem estará no seio da terra três dias e três noites" (Mt 12,38-40).

No centro de nossa fé há uma grande certeza, que é garantia de nossa vitória: "Cristo ressuscitou!" Foi essa a certeza dada pelo Anjo às mulheres que, na manhã do terceiro dia, foram ao sepulcro de Jesus (cf. Mt 28,1-8). “Ele ressuscitou dos mortos!”, completou o Anjo. Essa afirmação queria deixar claro que ele morreu verdadeiramente, e não apenas aparentemente. Morreu como qualquer homem. Mas a morte não teve a última palavra. A última palavra é da vida: ele está vivo! O Anjo foi além: “Ressuscitou como havia dito!” Portanto, aquele que ressuscitou é o mesmo Jesus que havia pregado na Palestina e que havia antecipado a sua morte. Esta, pois, é a “boa nova” que, a partir daí, os apóstolos passaram a proclamar: “Jesus de Nazaré ressuscitou!” Aqui está o núcleo central da mensagem cristã!

 Nossa vida, mesmo em seus momentos mais simples, tem um valor imenso, porque estão revestidos da marca da eternidade. Afinal, somos conduzidos por uma certeza: Jesus Cristo está vivo; ele está no meio de nós, acompanha nossos passos e espera que lhe sejamos fiéis para nos dar, um dia, o prêmio eterno!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Oitava de Páscoa

Oitava de Páscoa e Círio Pascal (comunidadeoasis)

OITAVA DA PÁSCOA

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

A mão direita do Senhor fez maravilhas, a mão direita do Senhor me levantou. Não morrerei, mas ao contrário, viverei para cantar as grandes obras do Senhor! (Sl 117) 

Durante os primeiros oito dias do Tempo Pascal, também conhecido como Oitava de Páscoa, celebramos solenemente a Ressurreição de Jesus. É um período em que vivenciamos e festejamos este acontecimento tão importante para a nossa fé. A Oitava da Páscoa é um momento de relembrar a importância do sacrifício de Jesus e de renovar a nossa fé em Deus. 

A Oitava da Páscoa faz parte do Tempo Pascal, um período de 50 dias que se estende até a celebração de Pentecostes. Durante esse período, o Círio Pascal é aceso em todas as celebrações, simbolizando o Cristo Ressuscitado ou a Luz de Cristo. O Círio é consagrado e preparado na Vigília Pascal e permanece aceso até o domingo de Pentecostes. Essa imponente coluna de luz nos conduz para a libertação total da vida. 

A Páscoa de Jesus deve ser uma realidade diária em nossas vidas e na ação pastoral da Igreja, mas é durante esses oito dias que a celebração é ainda mais vigorosa. Durante a Oitava da Páscoa, o hino de louvor é entoado em todas as missas. 

Devido à grande relevância deste acontecimento em nossa história e em nossas vidas, na Oitava Pascal celebramos a cada dia como se fosse domingo, solenizando a Ressurreição de Jesus como se fosse um único dia. Isso nos convida a experimentar a Vida Nova em Cristo e a renovar constantemente a nossa fé nesta grande promessa divina. Convém, também, cantar nestes dias a Sequência Pascal. 

Com fé e confiança no Novo Tempo que se inicia, devemos ser corajosos e permanecer na luz daquele que foi crucificado e ressuscitou: Jesus Cristo. 

Nesse período, somos chamados a meditar sobre a mensagem de esperança e salvação que é transmitida pela ressurreição de Jesus. É um momento de reflexão sobre o amor de Deus por nós e sobre a necessidade de seguirmos os seus mandamentos e vivermos de acordo com a sua vontade. 

A Oitava da Páscoa é também um momento de união e confraternização entre os fiéis. É uma oportunidade para estreitar os laços de amizade e fraternidade, compartilhando a alegria da ressurreição de Jesus com os outros. 

Além disso, a Oitava da Páscoa nos lembra da importância da nossa própria ressurreição. Assim como Jesus ressuscitou dos mortos, nós também teremos a oportunidade de ressuscitar e viver eternamente junto a Deus, desde que vivamos de acordo com a sua vontade. 

Vivamos plenamente este tempo de graça que a Igreja nos oferece e possamos desfrutar de suas bênçãos. A Igreja nos presenteia com oito dias de Oitava Pascal, porque compreende que um mistério tão grandioso não pode ser celebrado em apenas um dia, necessitando-se de mais tempo para fazê-lo.  

Que seja um tempo de agradecimento e louvor a Deus por tudo o que Ele fez por nós. Um momento de reconhecimento da sua bondade e misericórdia, que nos permitiram ter acesso à vida eterna por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo. 

Que possamos renovar a nossa fé em Deus, compartilhar a nossa alegria com os outros e refletir sobre a mensagem de esperança e salvação que é transmitida pela ressurreição de Jesus. Que possamos viver de acordo com a vontade de Deus e estar prontos para a nossa própria ressurreição, para viver eternamente junto a ele. 

Saudações em Cristo Ressuscitado! Aleluia, Aleluia, Aleluia!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Da árvore da cruz germina a verdadeira esperança

Papa Francuisco (osservatoreromano)

Catequese — Reflexão do Papa Francisco na vigília do Tríduo pascal

«Olhemos para a árvore da cruz, para que em nós brote a esperança: aquela virtude diária... silenciosa, humilde, mas que nos mantém em pé nos ajuda a ir em frente», pois «sem esperança não se pode viver», sugeriu o Papa Francisco na audiência geral de quarta-feira 5 de abril, na véspera do Tríduo pascal, oferecendo aos fiéis presentes na praça de São Pedro e aos que o seguem através dos meios de comunicação social uma catequese sobre o tema: “O Crucifixo, fonte de esperança”.

Estimados irmãos e irmãs
bom dia!

No domingo passado a Liturgia fez-nos ouvir a Paixão do Senhor. Ela termina com as seguintes palavras: «Selaram a pedra» (Mt 27, 66). Tudo parece ter acabado. Para os discípulos de Jesus, aquela pedra marca o fim da esperança. O Mestre foi crucificado, morto da maneira mais cruel e humilhante, pendurado num patíbulo infame fora da cidade: um fracasso público, o pior final possível — naquela época era o pior. Pois bem, aquele desânimo que oprimia os discípulos não nos é totalmente estranho hoje. Também em nós se adensam pensamentos obscuros e sentimentos de frustração: por que tanta indiferença em relação a Deus? Isto é curioso: por que tanta indiferença em relação a Deus? Por que tanto mal no mundo? Mas, reparai, há o mal no mundo! Por que as desigualdades continuam a aumentar e não chega a paz tão almejada? Por que somos apegados assim à guerra, a fazer mal uns aos outros? E, no coração de cada um, quantas expetativas esvaecidas, quantas desilusões! E ainda aquela sensação de que os tempos passados eram melhores e de que no mundo, talvez até na Igreja, as coisas não são como outrora... Em síntese, até hoje a esperança parece às vezes selada sob a pedra da desconfiança. Convido cada um de vós a pensar nisto: onde está a tua esperança? Tu tens uma esperança viva ou selaste-a ali, ou puseste-a na gaveta como uma lembrança? Mas a tua esperança impele-te a caminhar ou é uma recordação romântica como se fosse algo que não existe? Onde está a tua esperança hoje?

Na mente dos discípulos permanecia fixa uma imagem: a cruz. E ali acabou tudo. Ali estava concentrado o fim de tudo. Mas pouco tempo depois descobririam na própria cruz um novo início. Prezados irmãos e irmãs, é assim que a esperança de Deus germina, nasce e renasce nos buracos negros das nossas expetativas desiludidas; e ela, a esperança verdadeira, ao contrário, nunca desilude! Pensemos precisamente na cruz: do mais terrível instrumento de tortura, Deus obteve o maior sinal do amor. Aquele madeiro de morte, transformado em árvore de vida, lembra-nos que os inícios de Deus começam muitas vezes a partir dos nossos fins: é assim que Ele gosta de fazer maravilhas. Então, hoje olhemos para a árvore da cruz, para que em nós brote a esperança: aquela virtude diária, aquela virtude silenciosa, humilde, mas aquela virtude que nos mantém em pé, que nos ajuda a ir em frente. Sem esperança não se pode viver. Pensemos: onde está a minha esperança? Hoje, olhemos para a árvore da cruz para que germine em nós a esperança: para sermos curados da tristeza — mas, quanta gente triste... A mim, quando podia ir pelas ruas, agora não posso porque não me deixam, mas quando eu podia ir pelas ruas na outra Diocese, gostava de ver o olhar das pessoas. Quantos olhares tristes! Gente triste, gente que falava consigo mesma, que caminhava só com o telemóvel, mas sem paz, sem esperança. E onde está a tua esperança hoje? É necessária um pouco de esperança para sarar da tristeza de que adoecemos, para sarar da amargura com que poluímos a Igreja e o mundo. Irmãos e irmãs, olhemos para o Crucifixo. E o que vemos? Vemos Jesus nu, Jesus despojado, Jesus ferido, Jesus atormentado. É o fim de tudo? Ali está a nossa esperança.

Então vejamos como nestes dois aspetos a esperança, que parece morrer, renasce. Em primeiro lugar, vejamos Jesus despojado: com efeito, «depois de o terem crucificado, dividiram as suas vestes entre si, lançando a sorte» (v. 35). Deus despojado: Aquele que tem tudo deixa-se privar de tudo. Mas aquela humilhação é o caminho para a redenção. É assim que Deus vence as nossas aparências. Com efeito, nós temos dificuldade em despojar-nos, em fazer a verdade: procuramos cobrir sempre as verdades porque não nos agradam; revestimo-nos de exterioridade, que procuramos e cuidamos, de máscaras para nos disfarçarmos e nos mostrarmos melhores do que somos. É um pouco o hábito da maquiagem: maquiagem interior, parecer melhor do que os outros... Pensamos que o importante é ostentar, parecer, de tal modo que os outros falem bem de nós. E adornamo-nos de aparências, adornamo-nos de aparências, de coisas supérfluas; mas assim não encontramos a paz. Depois a maquiagem vai embora e tu olhas para o espelho com o rosto feio que tens, mas verdadeiro, aquele que Deus ama, não aquele “maquiado”. Jesus despojado de tudo lembra-nos que a esperança renasce fazendo a verdade sobre nós — dizer a verdade a si mesmo — abandonando as ambiguidades, libertando-nos da convivência pacífica com as nossas falsidades. Às vezes, habituamo-nos de tal modo a dizer-nos falsidades que convivemos com as falsidades como se fossem verdades e acabamos envenenados pelas nossas falsidades. Isto é necessário: regressar ao coração, ao essencial, a uma vida simples, despojada de tantas coisas inúteis, que são sucedâneos de esperança. Hoje, quando tudo é complexo e corremos o risco de perder o fio da meada, temos necessidade de simplicidade, de redescobrir o valor da sobriedade, o valor da renúncia, de limpar o que polui o coração e deixa triste. Cada um de nós pode pensar em algo inútil de que se pode livrar para se reencontrar. Imagina, quantas coisas inúteis. Aqui, há quinze dias, em Santa Marta, onde moro — que é um hotel para muitas pessoas — surgiram vozes de que nesta Semana Santa seria bom olhar para o armário e despojar-se, mandar embora as coisas que temos, que não usamos... não imaginais a quantidade de coisas! É bom despojar-se das coisas inúteis. E tudo foi levado aos pobres, às pessoas que necessitam. Também nós, temos muitas coisas inúteis dentro do coração — e também fora. Olhai para o vosso armário: olhai para ele. Isto é útil, isto é inútil... e fazei limpeza. Olhai para o armário da alma: quantas coisas inúteis tens, quantas ilusões estúpidas. Voltemos à simplicidade, às coisas verdadeiras, que não precisam de maquiagem. Eis um bom exercício!

Demos uma segunda vista de olhos ao Crucifixo e vejamos Jesus ferido. A cruz mostra os pregos que lhe furam as mãos e os pés, o lado aberto. Mas às feridas do corpo acrescentam-se as da alma: mas quanta angústia! Jesus está sozinho: traído, entregue e renegado pelos seus, pelos seus amigos, inclusive pelos seus discípulos, condenado pelo poder religioso e civil, excomungado, Jesus experimenta até o abandono de Deus (cf. v. 46). Na cruz aparece também o motivo da condenação: «Este é Jesus, o rei dos judeus» (v. 37). É um escárnio: Ele, que fugira quando procuraram fazê-lo rei (cf. Jo 6, 15), é condenado por se ter feito rei; embora não tenha cometido crime algum, é colocado entre dois malfeitores e a Ele preferem o violento Barrabás (cf. Mt 27, 15-21). Em síntese, Jesus está ferido no corpo e na alma. Pergunto-me: de que modo isto ajuda a nossa esperança? Assim, Jesus nu, privado de tudo, de tudo: o que diz isto à minha esperança, como me ajuda?

Também nós estamos feridos: quem não o está na vida? E muitas vezes com feridas escondidas que ocultamos pela vergonha. Quem não carrega as cicatrizes de escolhas passadas, de incompreensões, de dores que permanecem dentro e são difíceis de superar? Mas também de injustiças sofridas, de palavras cortantes, de juízos inclementes? Deus não esconde aos nossos olhos as feridas que lhe trespassaram o corpo e a alma. Mostra-as para nos indicar que na Páscoa se pode abrir uma nova passagem: fazer das próprias feridas furos de luz. “Mas, Santidade, não exagere”, alguém pode dizer-me. Não. É verdade: tenta; tenta. Tenta fazê-lo. Pensa nas tuas feridas, aquelas que só tu sabes, que cada um tem escondidas no coração. E olha para o Senhor. E verás, verás como daquelas feridas saem furos de luz. Jesus na cruz não recrimina, ama. Ama e perdoa quantos o ferem (cf. Lc 23, 34). Assim converte o mal em bem, assim converte e transforma a dor em amor.

Irmãos e irmãs, a questão não é ser ferido pouco ou muito pela vida, o ponto é o que fazer das minhas feridas. As pequeninas, as grandes, aquelas que deixarão um sinal no meu corpo, na minha alma sempre. O que faço com as minhas feridas? O que fazes tu e tu com as tuas feridas? “Não, Padre, não tenho feridas” — “Está atento, pensa duas vezes antes de dizer isto”. E pergunto-te: o que fazes com as tuas feridas, aquelas que só tu sabes? Podes deixá-las infetar no rancor, na tristeza, ou posso uni-las às de Jesus, a fim de que também as minhas chagas se tornem luminosas. Pensai em quantos jovens não toleram as próprias feridas e procuram no suicídio uma via de salvação: hoje, nas nossas cidades, muitos, muitos jovens que não veem uma maneira de sair, que não têm esperança e preferem ir além com a droga, com o esquecimento... pobrezinhos. Pensai neles. E tu, qual é a tua droga, para cobrir as feridas? As nossas feridas podem tornar-se fontes de esperança quando, em vez de nos comiserarmos ou de as esconder, enxugamos as lágrimas dos outros; quando, em vez de ter ressentimento pelo que nos é tirado, cuidamos do que falta aos outros; quando, em vez de nos inquietarmos, nos debruçamos sobre quantos sofrem; quando, em vez de ter sede de amor por nós próprios, saciamos a sede de quem precisa de nós. Pois só nos reencontraremos, se deixarmos de pensar em nós mesmos. Mas se continuarmos a pensar em nós mesmos já não nos encontraremos. E é agindo assim — diz a Escritura — que a nossa ferida em breve cicatrizará (cf. Is 58, 8), e a esperança voltará a florescer. Pensai: o que posso fazer pelos outros? Estou ferido, estou ferido de pecado, estou ferido de história, cada um tem a própria ferida. O que faço: lambo as minhas feridas assim, a vida inteira? Ou olho para as feridas dos outros e vou com a experiência ferida da minha vida, curar, ajudar os outros? Este é o desafio de hoje, para todos vós, para cada um de vós, para cada um de nós. Que o Senhor nos ajude a ir em frente.

Fonte: https://www.osservatoreromano.va/pt

terça-feira, 11 de abril de 2023

“Jesus, o Ressuscitado, vive também hoje”

Bento XVI durante a santa missa na Praça Ducal de Vigevano,
sábado, 21 de abril de 2007
Arquivo 30Dias - 04/2007

“Jesus, o Ressuscitado, vive também hoje”

A visita pastoral de Bento XVI a Vigevano e Pavia em 21 e 22 de abril de 2007

padre Giacomo Tantardini

Relendo as palavras que o Papa Bento XVI pronunciou na sua visita pastoral a Vigevano e Pavia, visita que teve como “momento conclusivo”* a oração diante do “túmulo de Santo Agostinho”, logo impressiona este fato: como Agostinho – primeiro como sacerdote e depois como bispo “na linguagem do povo simples da sua cidade” – assim também o Papa, seguindo a liturgia do dia, falou simplesmente de Jesus, do que Jesus realizou e do que Jesus realiza hoje: “Pois Jesus, o Ressuscitado, vive também hoje”. Se não fosse assim, se não fosse verdadeiro e real o fato que Jesus é ressuscitado, ‘vazia é a fé’ de Agostinho e a nossa, ‘vazia é a pregação’ do Papa hoje como a de Agostinho então. Mais ainda, ‘seríamos falsas testemunhas de Deus’ (1Cor 15, 14-15).
Por isso Bento XVI, também durante o que tinha concebido “como peregrinação” de oração “junto ao sepulcro do Doctor gratiae”, repetiu simples e fielmente “o anúncio antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou”.
Agradecido ao Papa pelo testemunho de Jesus Cristo dado também nesta ocasião, neste artigo não pretendo nada mais que evidenciar as palavras de Bento XVI que de modo mais imediato tornaram alegre o meu coração e confortaram a fé.

* (Todas as palavras entre aspas [“…”] são do Santo Padre. Conferir no L’Osservatore Romano, ed. em português, nº 17, de 28 de abril de 2007, os discursos de onde foram extraídas as frases).

“Cristo ressuscitou, Cristo está vivo”

Se todas as palavras de Bento XVI recordam o anúncio dos apóstolos (“Cristo ressuscitou, está vivo entre nós. Também hoje”), foi principalmente na homilia da santa missa em Vigevano – na qual o Papa comentou a narração da pesca milagrosa, quando Jesus ressuscitado aparece pela terceira vez aos discípulos à margem do mar de Tiberíades – que há os chamamentos descritivos mais comovedores do manifestar-se do Ressuscitado. “Depois do ‘escândalo’ da Cruz, eles tinham voltado para a sua terra e para o seu trabalho de pescadores, isto é, para aquelas atividades que desempenhavam antes de encontrarem Jesus. Tinham voltado para a vida anterior, e isto deixa entender o clima de dispersão e de confusão que reinava na sua comunidade (cf. Mc 14, 27; Mt 26, 31). Era difícil para os discípulos compreender aquilo que tinha acontecido. Mas, enquanto tudo parecia terminado, de novo, como no caminho de Emaús, é ainda Jesus que vem ao encontro dos seus amigos. Desta vez encontra-os à margem do mar, lugar que traz à mente as dificuldades e as tribulações da vida; encontra-os ao amanhecer, depois de uma fadiga inútil que tinha durado a noite inteira. A sua rede está vazia. De certo modo, isto aparece como o balanço da sua experiência com Jesus: tinham-no conhecido, estavam ao lado dele e Ele tinha-lhes prometido muitas coisas. No entanto, agora encontravam-se com a rede vazia, sem peixes. Mas eis que ao amanhecer Jesus vai ao seu encontro...”.
Como é belo aquele “é ainda Jesus que vem ao encontro dos seus amigos... encontra-os...encontra-os... vai ao seu encontro”! Como três anos antes, à margem do mesmo mar, quando olhando-os, chamou-os, assim agora é ainda Ele que toma a iniciativa. Aquele “é ainda Jesus” recorda o ‘resurrexi et adhuc tecum sum / ressuscitei e estou sempre contigo’ com o qual inicia a missa de Páscoa. A iniciativa é ainda e sempre de Jesus. Por isso pode-se estar – como rezamos no salmo – ‘como a criança saciada no colo de sua mãe’ (Sal 130, 2). Se a iniciativa fosse nossa estaríamos perdidos. Vale sempre a afirmação do discípulo predileto: ‘ele nos amou primeiro’ (1Jo 4, 19). Como comenta o Papa na exortação apostólica Sacramentum caritatis, aquele ‘primeiro’ não se refere apenas ao momento do tempo – toda vez que nós O queremos bem, é sempre Ele o ‘primeiro’ que nos ama – mas refere-se à própria possibilidade de querê-lo bem: a própria possibilidade de reconhecê-lo e querê-lo bem nasce de uma atração amorosa do Seu fazer-se presente, do Seu vir-nos ao encontro. Nesta altura “João, iluminado pelo amor, dirige-se a Pedro e diz: ‘É o Senhor’”. Também nós, “abraçados pelo amor”, O podemos “reconhecer” e “fielmente seguir”.
Se a iniciativa é Sua, pode acontecer também hoje aquilo que, com palavras de esperança, o Papa descreve: “Quando o trabalho na vinha do Senhor parece ser vão, como o cansaço noturno dos Apóstolos, não se pode esquecer que Jesus é capaz de inverter tudo num momento. [...] Nos misteriosos desígnios da sua sabedoria, Deus sabe quando é o tempo de intervir”.
Se a iniciativa é Sua, tornam-se possibilidade de abandono e de conforto em todo momento as palavras conclusivas da homilia do Papa: “A cansativa mas infrutuosa pesca noturna dos discípulos é admoestação perene para a Igreja de todos os tempos: sozinhos, sem Jesus, nada podemos fazer! No compromisso apostólico as nossas forças não são suficientes: sem a Graça divina o nosso trabalho, mesmo que seja bem organizado, resulta ineficaz. Oremos em conjunto...”.

“Jesus age agora”

Assim como se percebe que uma pessoa está viva porque age, assim também Jesus ressuscitado é reconhecido vivo pelo Seu agir hoje. Muitas vezes, com simplicidade, o Papa fala do agir presente de Jesus: “Cristo ressuscitado renova a cada um de vós o convite a segui-lo”. É Ele mesmo que espera o nosso amor”; “Rezemos para que o Senhor faça que...”.
E na homilia da santa missa em Pavia, Bento XVI, comentando o trecho dos Atos dos Apóstolos, fala de quem “não podia tolerar que este Jesus, mediante a pregação dos Apóstolos, agora começasse a agir de novo; não podia tolerar que a sua força restabelecedora se fizesse novamente presente e em volta deste nome se reunissem pessoas que acreditavam n’Ele como no Redentor prometido”.
Justamente porque é “Jesus que conduz à conversão”, justamente porque é “Ele que cria o espaço e a possibilidade de se corrigir, de recomeçar”, o Papa, falando da conversão de Agostinho, fala, também neste caso, simplesmente daquilo que Jesus fez.
“No seu livro As Confissões, Agostinho ilustrou de modo comovedor o caminho da sua conversão, que com o Batismo que lhe foi administrado pelo Bispo Ambrósio na catedral de Milão tinha alcançado a sua meta. [...] Seguindo atentamente o curso da vida de Santo Agostinho, podemos ver que a conversão não foi um acontecimento de um único momento, mas precisamente um caminho. E podemos ver que, na fonte batismal este caminho ainda não tinha terminado. Como antes do Batismo, assim também depois dele a vida de Agostinho permaneceu, mesmo se de forma diversa, um caminho de conversão até a sua última doença, quando fez colocar nas paredes os Salmos penitenciais para os ter sempre diante dos olhos; quando se auto-excluiu de receber a Eucaristia para repercorrer o caminho da penitência e receber a salvação das mãos de Cristo como dom das misericórdias de Deus. Assim podemos falar das ‘conversões’ de Agostinho que, de fato, foram uma única grande conversão na busca do Rosto de Cristo e depois no caminhar juntamente com Ele”.
Se “a primeira conversão” que levou-o à fonte batismal na noite de Páscoa de 387, foi descrita pelo Papa como a passagem da descoberta de Deus “distante e abstrato”, possível à razão do homem, à “humildade da fé, que se inclina para pertencer à comunidade do corpo de Cristo”, “a segunda conversão” é descrita pelo Papa como aceitação “nas lágrimas” do cansaço do trabalho antes de sacerdote e depois de bispo. Ao falar do trabalho pastoral de Agostinho, confortam principalmente estas palavras: “Tinha que viver com Cristo por todos”; “Sempre de novo juntamente com Cristo oferecer a própria vida, para que os outros pudessem encontrar Ele, a Vida verdadeira”. Com efeito, “só quem vive na experiência pessoal do amor do Senhor está em condições de exercer a tarefa de guiar e acompanhar outros no caminho do seguimento de Cristo”.
Mas é a “terceira conversão” descrita pelo Papa que mais surpreende, comove e conforta. Quando, “vinte anos depois da sua ordenação sacerdotal”, Agostinho é levado pela experiência da graça do Senhor a corrigir o seu ideal “de vida perfeita”. Citando as Retratações o Papa diz: “‘Entretanto compreendi que só um é verdadeiramente perfeito e que as palavras do Sermão da Montanha estão totalmente realizadas num só: em Jesus Cristo. Mas toda a Igreja – todos nós, incluídos os Apóstolos – devemos rezar todos os dias: perdoai-nos os nossos pecados assim como nós os perdoamos a quem nos tem ofendido’ (cf. Retract. I, 19, 1-3). Agostinho tinha aprendido um último grau de humildade não só a humildade de inserir o seu grande pensamento na fé humilde da Igreja, não só a humildade de traduzir os seus grandes conhecimentos na simplicidade do anúncio, mas também a humildade de reconhecer que a ele mesmo e a toda a Igreja peregrina era e é continuamente necessária a bondade misericordiosa de um Deus que perdoa sempre. E nós, acrescentava, tornamo-nos semelhantes a Cristo, o único Perfeito, na maior medida possível, quando nos tornamos como Ele pessoas de misericórdia”.

“O amor do Senhor”

Durante a oração diante do sepulcro de Agostinho “apaixonado do amor de Deus”, o Papa assim resume o que disse na sua visita pastoral: “Jesus Cristo é a revelação do rosto do Deus-Amor”. “Deus caritas est, Deus é amor’ (1Jo 4, 8-16)”. E com estas palavras do apóstolo predileto descreve no que consiste o amor: “‘Nisto consiste o Seu amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados’ (1Jo 4, 10)”.
Bento XVI conclui a sua primeira encíclica Deus caritas est, que diante do sepulcro de Santo Agostinho “gostaria de entregar idealmente à Igreja e ao mundo”, falando de Maria, a mãe do Senhor. E diz que “a devoção dos fiéis” à Nossa Senhora “mostra a infalível intuição” de como um tal amor é possível graças à mais íntima união com Deus ‘pois o amor é Deus’ (1Jo 4, 7). É muito bonito que o Papa no final da sua primeira encíclica, falando do que é verdade infalível acerca do amor de Deus e do próximo, não aluda à infalibilidade própria do Magistério, mas à infalibilidade própria de toda a Igreja.
Também por isso as palavras que o Papa, na saída da Basílica de “San Pietro in Ciel d’Oro”, depois de ter pregado Santo Agostinho, dirige às numerosas crianças que o festejam, permanecem no nosso coração como oração, melhor, como esperança. “Queridas crianças, [...] Vós estais de maneira especial próximos do Senhor. O seu amor é particularmente para vós. Prossigamos no amor ao Senhor! Rezai por mim, eu rezo por vós. Até à próxima!

Fonte: http://www.30giorni.it/

Papa encoraja cristãos a serem “alegres anunciadores do Evangelho”

Antoine Mekary | ALETEIA / #image_title
I. Media

"Quando proclamamos o Senhor, o Senhor vem a nós", disse o Bispo de Roma à multidão fora do Palácio Apostólico do Vaticano.

Encontramos Jesus quando damos testemunho Dele – disse o Papa Francisco durante o Regina Caeli em 10 de abril de 2023, o dia seguinte à Páscoa, que é celebrado como ‘Segunda-feira dos Anjos’. “Quando encontramos Jesus, nenhum obstáculo pode nos impedir de proclamá-lo”, insistiu, encorajando o anúncio do Evangelho, “o segredo da alegria”, que é o “mais belo presente a compartilhar”.

O pontífice comentou sobre o Evangelho do dia, que conta como as mulheres que foram ao túmulo de Cristo o encontraram vazio e, querendo anunciar a notícia aos discípulos, encontraram Jesus ressuscitado em seu caminho. “Quando proclamamos o Senhor, o Senhor vem a nós”, disse o Bispo de Roma à multidão fora do Palácio Apostólico do Vaticano.

O Papa Francisco advertiu contra a tendência de “guardar” Deus perto de si mesmo por medo de “julgamentos e críticas”. Porque temos medo de não saber “responder a certas perguntas ou provocações”, acabamos não falando sobre elas.

O pontífice exortou as pessoas a encontrarem oportunidades para falar de Deus “sem propaganda ou proselitismo” – como fazem aqueles que têm “outros objetivos” em mente – mas com “respeito e amor”. Ele enfatizou que se guardamos a alegria de Deus para nós mesmos, “talvez seja porque ainda não O conhecemos”.

O Papa Francisco então encorajou os cristãos a se tornarem “anunciadores alegres do Evangelho”, perguntando-se como testemunham Jesus e “a alegria de sua proclamação”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa: o diabo procura o fracasso do homem, mas não pode fazer nada se houver oração

Livro de Fabio Marchese Ragona "Exorcistas contra Satanás", com uma
entrevista exclusiva com Papa Francisco  (©robyelo357 - stock.adobe.com)

Em uma entrevista inédita, contida no livro "Exorcistas contra Satanás" (Piemme) do jornalista Fabio Marchese Ragona, nas livrarias de 11 de abril de 2023, Francisco reitera que o diabo sempre tenta atacar a todos e semeia discórdia, mesmo na Igreja, tentando colocar um contra o outro. O texto começa com um relato de um exorcismo a uma religiosa.

Fabio Marchese Ragona

Santo Padre, no testemunho da religiosa possuída, lê-se que o diabo falando do senhor teria dito: "Eu o odeio, ele sempre fala mal de mim. Já viu os problemas que eu crio para ele?". Como se devem tomar estas declarações?

Eu não conheço o caso pessoalmente e, portanto, não posso fazer uma avaliação. Mas é realmente possível que eu aborreça o diabo porque tento seguir o Senhor e fazer o que o Evangelho diz. E isso o incomoda. Ao mesmo tempo, ele certamente fica satisfeito quando eu cometo algum pecado. Ele procura o fracasso do homem, mas não há nenhuma esperança se houver oração.

O senhor já teve encontros diretos com pessoas possuídas?

Quando eu era arcebispo de Buenos Aires, eu tinha vários casos de pessoas que me procuravam dizendo que estavam possuídas. Enviei-os para consulta a dois bons padres "especialistas": eles não são curandeiros, mas exorcistas. Um se chama Carlos Alberto Mancuso e era exorcista na diocese de La Plata. O outro era meu confessor, o padre Nicolas Mihaljevic, um jesuíta nascido na Croácia. Ambos me disseram mais tarde que, dessas pessoas, apenas duas ou três eram realmente vítimas de possessão diabólica. Os outros sofriam de obsessão diabólica, o que é uma coisa bem diferente porque não tinham o diabo em seus corpos. Isto deve ser especificado.

Capa do livro "Exorcistas contra Satanás" (Vatican Media)

E como pontífice, já realizou exorcismos?

Não, isso nunca aconteceu. Se isso acontecesse eu pediria o apoio de um bom exorcista, como fiz como arcebispo.       

Tem sido dito por várias pessoas sobre Bento XVI que durante seu pontificado ele sofreu o ataque do diabo - que sempre nos tenta - mas que embora tenha sofrido, ele resistiu bem. Paulo VI disse em 1972 que a fumaça de Satanás havia entrado no templo de Deus através de algumas fendas. Pode o diabo, portanto, agir também no Vaticano e atacar o Papa?

Certamente o diabo tenta atacar a todos, sem distinção, e ele tenta atacar especialmente aqueles que têm maior responsabilidade na Igreja ou na sociedade. Até mesmo Jesus sofreu tentações do diabo e se pensa também naquelas de Simão Pedro a quem Jesus disse: "Afasta-te de mim, Satanás". Assim, o Papa também é atacado pelo maligno. Nós somos homens e ele sempre tenta nos atacar. É doloroso, mas diante da oração ele não tem esperança! E então é verdade, como disse São Paulo VI, que o diabo também pode entrar no templo de Deus, para semear a discórdia e colocar uns contra outros: as divisões e os ataques são sempre obra do diabo. Ele sempre tenta se insinuar para corromper o coração e a mente do homem. A única salvação é seguir o caminho indicado por Cristo.

Deve-se ter medo do demônio?

Penso que existem demônios muito perigosos, e falo dos demônios "educados". Jesus também fala deles, lemos isso no Evangelho de Lucas: ele diz que quando o espírito mau é expulso, ele vagueia pelo deserto em busca de alívio. Mas a certa altura ele se aborrece e volta para "casa", de onde tinha sido expulso, e vê que a casa está consertada, é linda, assim como era quando ele estava dentro.

O que acontece nesse momento?

Ele vai chamar alguns outros demônios que são mais maus do que ele, os traz, eles entram na casa, educadamente, tocam a campainha, tomam posse educadamente. A alma, não tendo o cuidado de examinar a consciência, não os percebe. Ou por tibieza espiritual, deixa-os entrar. Estes são terríveis. Porque eles matam você. É a possessão mais feia. A mundanização espiritual cobre todas estas coisas. Não há como escapar: ou o diabo destrói de forma direta com guerras e injustiças ou o faz educadamente, de forma muito diplomática, como diz Jesus. É preciso discernimento.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

S. GEMA GALGÁNI, VIRGEM DE LUCCA, TERCIÁRIA PASSIONISTA

S. Gema Galgáni, Jules Ernest Livernois 
11 de abril
Santa Gema Galgani

Gema Galgani passou por sofrimentos desde a sua tenra idade. Tinha apenas sete anos quando sua mãe faleceu; mas, a sua família foi atingida ainda por outros lutos: a morte do irmão Gino, seminarista, e depois a do pai.
Tendo os irmãos Galgani ficado à beira da miséria, Gema foi acolhida por uma tia. Sofrendo por algumas enfermidades, como osteíte nas vértebras lombares e mastoidite, ficou acamada por vários meses. No interim, leu a biografia de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, pela qual ficou muito impressionada.
Transcorria o ano de 1899, quando Gema recuperou a saúde, após invocar a intercessão de Santa Margarida Maria Alacoque e fazer uma novena.

Amor a Jesus e dom dos estigmas

A jovem Gema sentia profundamente o desejo de consagrar-se ao Senhor, mas, por diversos motivos, não conseguiu ser religiosa claustral. Isto, porém, não lhe impediu mergulhar na contemplação de Jesus Crucificado.
No dia 8 de junho de 1899, Oitava de Corpus Christi e véspera da festa do Sagrado Coração de Jesus, a jovem recebeu os estigmas, que reapareciam, periodicamente, na noite de quinta-feira até às 15 horas de sexta-feira. Por certo período, os estigmas se manifestaram quase todos os dias.
Alguns, porém, expressaram perplexidade sobre a autenticidade destes sinais. Contudo, o Padre Germano Ruoppolo, postulador geral dos Passionistas e grande estudioso de mística, a defendeu.
Durante a sua vida mística, Gema manteve muitos colóquios com Jesus, Maria, o Anjo da Guarda e São Gabriel de Nossa Senhora das Dores. Tais colóquios encontram-se no seu epistolário, Diário e Autobiografia.

Últimos dias de vida

Gema ficou hospedada na casa dos Giannini, em Lucca, que, para ela, foram uma verdadeira família, até à sua morte.
Em maio de 1902, foram diagnosticados, em Gema, sintomas de tuberculose. Por isso, teve que se transferir para outro apartamento, vizinho ao da família Giannini.

Sua morte ocorreu no dia 11 de abril de 1903, Sábado Santo, enquanto os sinos anunciavam a Ressurreição de Cristo.
Trinta anos depois, o Papa Pio XI a beatificou e, em 1940, Pio XII a canonizou, definindo-a “estrela do seu Pontificado”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF