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quinta-feira, 20 de abril de 2023

10 marcos para recordar os 10 anos do pontificado do Papa Francisco

Francisco comemorou 10 anos de pontificado em 13 de março de 2023  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

O ano de 2023 é marcado pelo aniversário de 10 anos de pontificado de Francisco. Angelo Ricordi, doutor em Teologia pela PUCPR e especialista em Identidade, Missão e Vocação da Província Marista Brasil Centro-Sul (PMBCS), assina artigo destacando 10 marcos do caminho percorrido pelo Papa.

Angelo Ricordi*

No dia 13 de março de 2013, os cardeais reunidos em Roma elegeram como papa, o argentino Jorge Mario Bergóglio. Para a surpresa dos fiéis reunidos na Praça da Basílica de São Pedro, além da escolha de um latino-americano, o nome Francisco causou grande comoção. Dias depois o Papa explicou a escolha do nome: “Na eleição, eu tinha ao meu lado o arcebispo emérito de São Paulo, um grande amigo. Quando a coisa começou a ficar um pouco perigosa, ele começou a me tranquilizar. E quando os votos chegaram a 2/3, aconteceu o aplauso esperado, pois, afinal, havia sido eleito o Papa. [...] Ele me abraçou, me beijou e disse: 'Não se esqueça dos pobres'. Aquilo entrou na minha cabeça. Imediatamente lembrei de São Francisco de Assis."

O cardeal cubano Jaime Ortega revelou que na Conferência Geral do dia 09 de março de 2013, que antecedeu a eleição de Francisco, falando aos demais cardeais, Bergóglio descreveu qual deveria ser o perfil do próximo Papa: “Um homem que, através da contemplação de Jesus e da adoração de Jesus, ajude a Igreja a “sair de si mesma rumo às periferias existenciais, que a ajude a ser a mãe fecunda que vive da doce e reconfortante alegria de evangelizar[1]”. Ao ser eleito, esse modelo programático de papado pode ser encontrado na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: “Quero , com essa exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de convidá-los para uma nova etapa evangelizadora marcada por essa alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos” (EG, n.1).

Inspirados nessas palavras, queremos nesse artigo sublinhar 10 marcos do caminho percorrido pelo Papa Francisco nesses 10 anos do seu pontificado.

1. Conversão e reforma eclesial:

O primeiro marco nos é revelado pelo teólogo Marcio de França Miranda, na obra a Reforma de Francisco ao destacar que um dos núcleos centrais do seu pontificado está em recuperar o anúncio da mensagem cristã por meio de uma Igreja que anuncie e proclame o coração da mensagem de Jesus Cristo : “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação (EG, n.27) “Uma pastoral em chave missionária não está obcecada pela transmissão desarticulada de uma imensidade de doutrinas que se tentam impor à força de insistir. Quando se assume um objetivo pastoral e um estilo missionário, que chegue realmente a todos sem exceções nem exclusões, o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário (EG, n.34).

2. Igreja “em saída

O segundo aspecto que queremos destacar do seu pontificado é o modelo de uma Igreja missionária e descentrada. “O principal sentido da Igreja é estar a serviço da implantação do Reino de Deus; ela não é o fim, ela é meio, instrumento de Deus”[2]. Para isso, nos recorda Francisco: “Cada cristão e comunidade há de discernir qual o caminho que o Senhor lhe pede [...] sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho (EG, n.20).

3. Redescobrir a dimensão pessoal do encontro com Cristo

O aspecto central do encontro com Cristo marca fortemente o pensamento do Papa Francisco. Tanto do Documento de Aparecida, como na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, Francisco recupera uma afirmação magistral do Papa Bento XVI: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (EG, n.7; Documento de Aparecida, n. 243).

4. A santidade ao alcance de todos

Como decorrência primeira do encontro com Cristo e da vivência trinitária de uma espiritualidade encarnada, Papa Francisco nos ensina na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate: “Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra sem a conceber como um caminho de santidade, porque “a vontade de Deus é que sejais santo (1ª Ts 4,3). Cada santo é uma missão, um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, em um momento determinado da história, um aspecto do Evangelho (n. 19). Essa santidade não se restringe aos santos canonizados ou beatificados, mas às pessoas que vivem no cotidiano de suas vidas a santidade ao pé da porta, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus” (n. 7).

5. O discernimento

Como bom filho de Santo Inácio, Francisco nos ensina que o discernimento é a característica mais importante da espiritualidade inaciana: “O discernimento é a leitura narrativa dos momentos bons e dos momentos escuros, das consolações e desolações que experimentamos ao longo da nossa vida. No discernimento é o coração que nos fala de Deus, e nós devemos aprender a compreender a sua linguagem. Perguntemo-nos, no final do dia, por exemplo: o que aconteceu hoje no meu coração? Alguns pensam que fazer este exame de consciência é fazer a contabilidade dos pecados que cometemos – e cometemos muitos – mas é também perguntar-se “o que aconteceu dentro de mim, tive alegrias? O que me causou alegria? Fiquei triste? Qual o motivo da tristeza? E assim aprender a discernir o que acontece dentro de nós” (Catequese do Discernimento, 19/11/2022).

6. O nome de Deus é misericórdia

Em 13 de março de 2015 o Papa Francisco ao anunciar a proclamação de um Ano Santo Extraordinário escreveu: “Decidi convocar um Jubileu Extraordinário que tenha seu centro na Misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia”. O paradigma de uma Igreja Misericordiosa estava no centro de sua reflexão: “A Igreja não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus. Para que isso aconteça, tenho repetido muitas vezes, é preciso sair [...] Espero que o jubileu extraordinário faça emergir cada vez mais o rosto de uma Igreja que redescobre as entranhas da misericórdia e que vai ao encontro de tantos feridos necessitados da escuta, compreensão e amor (Deus é misericórdia, p.86). 

7. A fraternidade e a amizade social

O discernimento no pensamento de Francisco nos conduz à misericórdia, vivida como um projeto onde todos somos irmãos, onde a fraternidade e amizade social são o caminho para a recuperação da dignidade de cada pessoa humana: “Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente [...] precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar para frente. Como é importante sonhar juntos. Sozinho corre-se o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é junto que se constroem sonhos” (FT, n.8).

8. A casa comum

Sobre a ecologia nos adverte o Papa Francisco: “A ecologia humana é inseparável da noção de bem comum, princípio este que desempenha um papel central e unificador na ética social. É o conjunto das condições da vida social que permite, tanto aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” (LS, n.156). Em outras palavras, a ecologia e o cuidado com a Casa Comum passam pelo enfrentamento das desigualdades a que estão submetidos os homens e mulheres mais vulneráveis.

9. Pacto educativo global

Tudo começa e termina na educação integral: “Se queremos um mundo mais fraterno, devemos educar as novas gerações para reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada um nasceu ou habita (FT, 1). Este princípio fundamental – «conhece-te a ti mesmo» – orientou sempre a educação, mas é necessário não descurar outros princípios essenciais: «conhece o teu irmão», a fim de educar para o acolhimento do outro [cf. Carta enc. Fratelli tutti; Documento sobre A fraternidade humana (Abu Dhabi, 04/II/2019)]; «conhece a criação», a fim de educar para o cuidado da casa comum (LS); e «conhece o Transcendente», a fim de educar para o grande mistério da vida. Temos a peito uma formação integral que se resume no conhecer-se a si mesmo, ao próprio irmão, à criação e ao Transcendente. Não podemos esconder às novas gerações as verdades que dão sentido à vida. (Papa Francisco, Audiência 05/11/2021).

10. Economia solidária

A economia e a política estão interconectas fortemente no Pacto Global de Francisco: “Necessitamos de políticos apaixonados pela missão de garantir para todo o povo os três Ts – terra, teto, trabalho.- além da educação e serviços de saúde. Isto é, políticos com horizontes amplos, que abram novos caminhos para que o povo se organize e se expresse” (Vamos sonhar juntos, p.123).

A escolha destes 10 marcos não exclui outras perspectivas ou diferentes visões sobre o papado de Francisco. Ela tem uma função pedagógica que nos convida a perceber que nestes 10 anos de pontificado, Francisco foi fiel ao projeto de uma Igreja descentrada, que redescobre a pessoa e a mística de Jesus de Nazaré, vivida na perspectiva da misericórdia, encarnada no discernimento, na vivência da fraternidade, na educação integral e ecológica que nos convidam a uma práxis revolucionária. O Pacto Educativo Global e a Economia de Francisco e Clara, mais do que simples movimentos, são apostas concretas da utopia e do desenvolvimento integral presentes no sonho de Jesus para toda a humanidade: vida em plenitude para todos (Jo 10,10). 

Ao percorrermos o caminho realizado até aqui por Francisco nos deparamos com um modelo de liderança profética e servidora que ultrapassa as fronteiras da Igreja Católica e dialoga com o mundo todo. Ao fazer esse diálogo de maneira propositiva e consciente, reconhecemos os limites e o alcance de sua proposta, seja dentro da própria Igreja, seja na oposição sistemática do mercado à proposta de um desenvolvimento integral. O modelo da liderança humilde de Francisco é mais complexo do que seus detratores pensam. Exige ampliação da consciência, reposicionamento da própria Igreja diante do mundo e dos seus problemas. Termino com a imagem do peregrino, metáfora presente no pensamento de Francisco: “alguém que descentra e, assim, consegue transcender. Sair de si mesmo, se abre para um novo horizonte e, quando volta para casa, já não é mais o mesmo, e sua casa também não será. É tempo de peregrinação” (FRANCISCO, 2020).

REFERÊNCIAS

DOCUMENTO DE APARECIDA. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. São Paulo: Edições CNBB, Paulus, Paulinas, 2008.

FRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium. A alegria do Evangelho sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulus-Loyola, 2013.

FRANCISCO, Papa. Carta Encíclica Laudato Si – sobre o cuidado da Casa Comum. São Paulo: Paulinas, 2015.

FRANCISCO, Papa. O nome de Deus é misericórdia. São Paulo: Planeta, 2016.

FRANCISCO, Papa. Gaudete et Exsultate – Sobre o chamado à santidade no mundo atual. São Paulo: Paulus, 2018.

FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti – Sobre a Fraternidade e a Amizade Social. São Paulo: Paulus, 2020.

FRANCISCO, Papa. Vamos sonhar juntos: o caminho para um futuro melhor. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.

FRANCISCO, Papa. Discursos. Encontro “Religiões e Educação: Pacto Educativo Global”. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2021/october/documents/20211005-pattoeducativo-globale.html. Acesso em: 01 de fevereiro de 2022.

FRANCISCO, Papa. Audiência Geral. Catequese sobre o discernimento 6. Os elementos do discernimento. O livro da própria vida (19/10/2022). Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2022/documents/20221019-udienza-generale.html. Acesso em: 01 de fevereiro de 2022.

MIRANDA, Mario de França. A reforma de Francisco. Fundamentos teológicos. São Paulo: Paulinas, 2017.

Rodari, Paolo. O discurso de Bergoglio que convenceu os cardeais a elegê-lo: “A Igreja deve sair de si mesma”. Tradução de Moisés Sbardelotto. In: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/186-noticias-2017/565907-o-discurso-de-bergoglio-que-convenceu-os-cardeais-a-elege-lo-a-igreja-deve-sair-de-si-mesma  Acesso em 01 de jan. 2023.

[1] https://www.ihu.unisinos.br/categorias/186-noticias-2017/565907-o-discurso-de-bergoglio-que-convenceu-os-cardeais-a-elege-lo-a-igreja-deve-sair-de-si-mesma

[2] MIRANDA, Mario de França. A reforma de Francisco, fundamentos teológicos. São Paulo: Paulinas, 2017, p.60.

* doutor em Teologia pela PUCPR, especialista em Identidade, Missão e Vocação da Província Marista Brasil Centro-Sul (PMBCS)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O bom pastoreio na visão dos Padres da Igreja

Cristo Bom Pastor (diocesedetaubate)

O BOM PASTOREIO NA VISÃO DOS PADRES DA IGREJA

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

            Jesus é o pastor dos pastores. Ele deu a sua vida pelas ovelhas (Jo 10,11). Sendo o bom pastor, ele conhece as suas ovelhas e as ovelhas o conhecem (Jo 10,14). O Pai ama a Jesus porque dá a vida pelas suas ovelhas e pela humanidade. Jesus indica a si mesmo do verdadeiro Pastor. A utilização da imagem do bom Pastor foi bem presente nos Padres da Igreja e bem comentada por muitos deles[1]. Eles foram pastores de seu povo nos quais viviam as suas lutas e as suas alegrias, em vista da doação em Jesus Cristo. Pastor vem do latim pastor-oris, cujo significado é pastorear, quem guia ao pasto, as ovelhas e os cabritos, tendo todo o cuidado de governar bem sobre animais e as pessoas[2].

            O pastoreio a exemplo de Jesus

            São Gregório Magno, Papa nos séculos V e VI, afirmou a importância de pastorear o povo de Deus a ser dado como foi em Jesus Cristo. Ele foi ao encontro das pessoas, sobretudo dos pobres para lhes dar uma palavra de salvação. Não se chama pastor, mas mercenário aquela pessoa que pastoreia as ovelhas do Senhor não por intimo amor, mas pelo ganho pessoal. É mercenária a pessoa que está no lugar do pastor, não ganhando as ovelhas, gozando pela honra do seu estado, os ganhos temporais. Esta é a recompensa do mercenário tanto que o seu esforço de governo encontra a recompensa ainda aqui na terra, sendo excluído da herança do pastoreio. O mercenário foge dos perigos, porque viu a injustiça, e vai logo esconder-se no silêncio[3]. É preciso ser bom pastor a exemplo de Jesus de Nazaré que deu a sua vida pela causa do Reino de Deus.

           Amor por ser guia das pessoas

            São Gregório Magno ainda afirmava que o pastor tenha muito amor pelas pessoas nas quais está governando na terra. O pastor reconheça que é pecador como todos os outros, mas ele está sempre em busca da conversão de vida. A santidade das obras merece a união na igualdade, vivendo no zelo para exercitar o seu justo poder. São Paulo colocou a importância de se fazer servo por Cristo (2 Cor 4,5:), porque o poder recebido dos apóstolos pelo Senhor Jesus é sempre em vista do serviço, não pela dominação[4].

            O cultivo da virtude da humildade

            São Gregório Magno ainda dizia a importância de cultivar a virtude da humildade nos pastores. A severidade e o rigor não devem ser pelo zelo excessivo, que tudo seja perdido de modo que a mansidão não seja eliminada na vida. O fato é que os vícios não devam sobrepor-se às virtudes; a crueldade pela justiça; a debilidade venha à indulgência. A firmeza e a misericórdia andam juntas. O pastor é chamado ao amor nas relações com as pessoas[5].

            A importância da atividade ministerial

            Gregório Magno também reforçou a idéia de que é preciso assumir bem, a atividade ministerial que foi confiada aos pastores, pessoas do rebanho do Senhor. O exemplo maior vem do próprio Senhor que veio a este mundo para revelar o amor de Deus para conosco (Jo 3,16). Os pastores seguem o exemplo de Jesus que são chamados a propor a vida em favor das pessoas. O Senhor deseja que os pastores sejam fiéis à palavra do Senhor no mundo de hoje. O amor a Deus e ao próximo como a si mesmo prevaleça no pastoreio que é dado para o Senhor e para com o povo de Deus[6].

            O pastor vizinho pela compaixão e compreensão

            O Papa Gregório disse que um pastor de almas seja vizinho a toda a pessoa com a linguagem da compaixão e compreensão. Elevar-se-á sobre todos os outros pela oração e a contemplação. Os sentimentos de piedade e de compaixão permitem-lhe de fazer sua a debilidade dos outros. O desejo da conquista das alturas espirituais não o faça esquecer as exigências dos fiéis. De outro lado a atenção das exigências do próximo, não o faça deixar de lado o dever de elevar-se às coisas celestes[7].

            O silêncio e a palavra útil do pastor

            O Papa Gregório teve presente o silêncio oportuno do pastor e a sua palavra útil para as pessoas, para assim não revelar o que deve calar e não cale o que deve revelar. O fato é que uma palavra imprudente conduzirá ao erro e um silêncio excessivo mantém no erro aqueles que seriam instruídos. Os pastores imprudentes, não perdendo o favor popular não ousam dizer onde reside o bem, e não cuidando do rebanho a eles confiado, agem como mercenários que fogem ao ver o perigo, o lobo chegar, escondendo-se no seu silêncio[8]. O pastor viverá o dom do discernimento para pensar e agir conforme o plano do Senhor Jesus.

            Jesus deu a sua vida pelas ovelhas

            São João Damasceno, presbítero nos séculos VII e VIII teve presente Jesus que deu a sua vida pelas ovelhas, O madeiro da cruz do Salvador aboliu a maldição do madeiro, o poder da morte matou com o seu sepulcro; iluminou a herança humana com a sua ressurreição. Por isso o Senhor Jesus é doador de vida para toda a humanidade. Quando ele morreu foi evangelizar o mundo dos mortos, todas as pessoas que esperavam a sua vinda, fazendo-os habitar no paraíso, antes que o mundo dos mortos[9]. Jesus pela sua morte deu a vida pelas ovelhas, pela humanidade inteira.

            A misericórdia do Senhor

            São Leão Magno, Papa do século V afirmou a importância da misericórdia do Senhor como exemplo para os pastores seguirem em suas vidas. As palavras passam, mas os exemplos permanecem quando enaltecem a pessoa e outros no seguimento a Jesus Cristo. A misericórdia do Senhor enche a terra e a vitória de Cristo é sempre ao lado humano, para o cumprimento da palavra do Senhor, para que os pastores tenham coragem, porque Cristo venceu o mundo (Jo 16,33). Toda vez que as pessoas superam as ambições do mundo, e sendo seguidoras de Jesus, deixam-se admoestar pela cruz do Senhor, pela festividade da Páscoa, que deu novo fermento e vida no pastoreio do povo de Deus no mundo de hoje. É preciso amar o que Jesus amou para assim encontrar nele a graça de Deus[10] presente em Jesus Cristo e em todas as pessoas que o seguem na realidade atual.

            A importância de ser pastor no mundo de hoje é fundamental para corresponder à missão de dar a vida a exemplo de Jesus que deu a sua vida pela salvação da humanidade. O Espírito Santo ilumine a muitos dos jovens para serem pastores do Reino de Deus e à glória de Deus Uno e Trino.

[1] Cfr. Pastore (Il buon). In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane. Genova – Milano Editrice Marietti, 2008, pgs. 3947-3948.

[2] Cfr. Pastóre. In: Il Vocabolario Treccani. Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 1140.

[3] Cfr. Gregorio Magno. Omelia per la seconda domenica dopo Pasqua, Vol. IV, Citttà Nuova Editrice. 1982, pgs 127-128.

[4] Cfr. Gregorio Magno. Lettera a Giovanni di Costantinopoli. In: Idem, pg. 125.

[5] Cfr. Idem, pg. 125.

[6] Cfr. IdemLettera al Vescovo Ciriaco di Costantinopoli, pg. 130.

[7] Cfr. IdemLa Regiola pastorale, 2,3. In: Ogni giorno com i Padri della Chiesa. A cura di Giovanna della Croce, presentazione di Enzo Bianchi. Milano, Paoline, 1996, pg. 219.

[8] Cfr. Gregório Magno. Regra Pastoral 4,15. São Paulo, Paulus, 2010, pg. 67.

[9] Cfr. Giovanni Damaceno. Ochtoêchos, II. In:  Idem, pg. 123.

[10] Cfr. Leone Magno. Sermone, 72,4. In: Idem, pg. 134.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Hoje é dia de Santa Inês de Montepulciano, dominicana que multiplicou o pão

Santa Inês de Montepulciano (ACI Digital)

REDAÇÃO CENTRAL, 20 Abr. 23 / 05:00 am (ACI).- Hoje (20) é celebrada Santa Inês de Montepulciano, uma das figuras mais importantes da Ordem de Santo Domingo ou Ordem dos Pregadores, os dominicanos. Inês foi uma abadessa que se destacou por sua sabedoria e espiritualidade. Santa Catarina de Sena tinha uma grande devoção por ela.

Uma abadessa educada com simplicidade

Inês Segni, seu nome de batismo, nasceu por volta de 1268 em Gracciano, Itália, em uma família nobre. Desde muito jovem teve contato com a espiritualidade dominicana graças ao fato de seus pais terem confiado sua educação às freiras do mosteiro de Montepulciano, que fica muito perto de Gracciano. Inês começou sua formação aos nove anos cercada pelas freiras do "mosteiro do saco", as freiras de Montepulciano eram conhecidas por seus hábitos feitos com um pano muito rústico, como de saco.

No mosteiro, Inês ficou conhecida por sua generosidade, sua capacidade de sacrifício e sua intensa vida de oração. Lá permaneceu por cerca de cinco anos até os quinze anos, quando foi enviada junto com a irmã Margarita, sua mestra do noviciado, para fundar um mosteiro dominicano em Proceno, aldeia da diocese de Acquapendente. Três anos depois, seria nomeada abadessa ali. Como tal, ela se entregou ao serviço de suas irmãs com profunda dedicação e humildade. Desta fase de sua vida datam os primeiros testemunhos sobre eventos milagrosos ocorridos por sua intercessão, como a multiplicação de pães e azeite, a cura de alguns doentes e até um exorcismo.

"O que Tu queiras, Senhor"

Quando sua fama se espalhou, as freiras de Montepulciano pediram a Inês que voltasse à sua cidade natal para fundar um novo mosteiro. No entanto, a santa rogou a Deus que lhe permitisse ficar mais algum tempo em Proceno. Deus permitiu e ela chegou a morar lá por mais 22 anos, até o dia em que, por meio de um sonho, recebeu um sinal de Deus para fundar o novo mosteiro em sua terra.

Em 1298, com o apoio das autoridades da Ordem dos Pregadores e o patrocínio do papa, voltou para a região onde nasceu e ali estabeleceu o novo mosteiro de freiras dominicanas nos arredores de Montepulciano. Ali ordenou a construção de uma capela consagrada à Virgem Maria, que seria ampliada pouco depois com a colaboração dos fiéis. A santa governou a comunidade religiosa até o dia de sua morte.

Fome de Deus e fome de pão

Esta etapa da nova fundação foi caracterizada por abundantes graças e bênçãos. Foram anos de intensa oração, de experiências místicas e revelações particulares concedidas pelo Senhor. Em mais de uma ocasião, em dias de fome e escassez, Inês alimentou dezenas de pessoas com um ou dois pães, evocando o milagre da multiplicação dos pães feito por Jesus Cristo.

Santa Inês morreu em 20 de abril de 1317 aos 49 anos. Graças ao beato Raimundo de Cápua (1303-1399) e à biografia que escreveu sobre a santa, a devoção a santa Inês tornou-se muito popular entre os séculos XIV e XV. Foi canonizada pelo papa Bento XIII, junto com santo Turíbio de Mogrovejo, em 10 de dezembro de 1726.

Fonte: https://www.acidigital.com/

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Ética e o direito à água

foto: freepik.com

Ética e o direito à água

Cuidar da água e defender o direito à água nos levam a defender a nós mesmos e a nossa existência; e nos dão a oportunidade da boa convivência humana, aprendendo a tratar a todos como irmãos.

“O uso irracional da água, as ações que não olham ao redor e se perguntam se há ou não água suficiente para serem implementadas e quais consequências podem ter (...) são uns dos sinais mais evidentes da falta de cautela e de cuidado pela vida humana e de todos os demais seres vivos.” Esta grave expressão da antropóloga, professora e ativista ecofeminista espanhola Yayo Herrero levou-me a um e-mail que recebi há poucos dias de um amigo missionário na Itália. No texto que meu amigo teve a gentileza de me enviar encontrei vários dados e elementos interessantes que, além de um diagnóstico da situação em que estamos vivendo em relação à água e ao direito à água potável para todos, poderiam, do ponto de vista ético, gerar e reforçar propostas atuais e mais que urgentes em âmbito pessoal, político, educacional e cultural.

Vamos ao referido diagnóstico:

No nosso planeta, 71% da superfície estão cobertas por água e apenas 2% são de água doce, sendo que, destas, aproximadamente metade é acessível. A outra metade está retida nas geleiras polares e no alto das cordilheiras. A quantidade de água hoje disponível é a mesma que havia no ano 1800, só que, obviamente, a população humana passou de um bilhão de pessoas para mais de 7,7 bilhões. O que assombra no diagnóstico é que mais de 2,1 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso seguro à água potável e 4,5 bilhões não dispõem de rede de saneamento adequada.

Ninguém fabrica água: nenhum sistema econômico e nem a avançada tecnologia dos povos ‘produzem’ água: é a própria dinâmica da natureza que é responsável por regenerá-la. Aquilo que às vezes se define, de forma bastante equivocada, como ‘produção de água’, é simplesmente o fato de determinada nação tratar a água com elementos químicos para torná-la potável ou engarrafá-la, transportá-la e vendê-la para o consumo humano.

Foto: Jonathan Chng/Unsplash

As iniciativas de privatização e monopolização da água são constantes, inclusive porque dominar as fontes, a distribuição, a purificação e o saneamento da água tornam-se, cada vez mais, um negócio muito lucrativo e seguro. É evidente que os povos, através de leis e de regras claras, precisam garantir soluções e escolhas de fraternidade, de democracia e de justiça em relação à água como um bem comum para todos. Afinal, esse precioso líquido é a única condição necessária para os seres humanos continuem a viver, a enxergar, a pensar, a respirar e a pulsar: “somos água, são água os 83% de nosso cérebro, os 75% do coração, os 85% dos pulmões e os 95% dos olhos; e, sendo assim, o nosso olhar, o pensamento, a respiração e os batimentos cardíacos dependem essencialmente da água”, insiste Yayo Herrero.

Em nível de conscientização pessoal, todos os seres humanos são convidados a tratar o direito à água com maior consciência e responsabilidade, tanto do ponto de vista das oportunidades, como do ponto de vista dos limites; e a humanidade é convocada a planejar o seu consumo, levando a sério os próprios deveres em vista da construção de um futuro mais digno e mais humano para todos.

Em âmbito político, todos os governantes, todos os partidos e todas as instâncias de poder são convidados a colocar a vida e o respeito pela vida no centro dos próprios projetos e das próprias estratégias. As instituições que regulam a vida nacional dos países devem buscar o diálogo nas sociedades e a agregar consensos para pensarem, não somente nas necessidades como também nos caminhos viáveis para satisfazê-las de maneira justa, ética e participativa.

Na esfera educacional, tanto os professores como os seus alunos são convidados a aprofundar o conhecimento, por exemplo, das rotas atmosféricas superficiais e subterrâneas das águas; assim como precisam conhecer as mudanças climáticas que estão alterando o ciclo da água: se os oceanos se aquecem e as geleiras se derretem, o nível dos mares sobe e, consequentemente invade extensas áreas urbanas e rurais. Aquíferos subterrâneos e rios tendem a se contaminar com as toneladas de resíduos químicos despejadas em seu leito e nos solos, agravando a ‘saúde’ já precária do planeta, o único capaz de ainda nos manter vivos.

foto: Freepik.com

No campo cultural percebe-se a exigência e a urgência da elaboração e da divulgação de propostas, sérias e concretas, para os seres humanos aprendam a diminuir os gravíssimos processos de poluição, a garantir o acesso à água potável para todos e a planejar as cidades, lembrando o princípio da destinação universal dos bens da Terra e, consequentemente, o direito de todos os seres vivos ao seu uso.

Cuidar da água e defender o direito à água nos levam a defender a nós mesmos e a nossa existência; e nos dão a oportunidade da boa convivência humana, aprendendo a tratar a todos como irmãos.

A matéria "Ética e o direito à água" saiu na seção Ética da revista em dezembro 2022 na edição 268 ano 29 pelo pe. Gabriel Guarnieri, missionário xaveriano.

Fonte: https://www.editoramundoemissao.com.br/

Laico que é cristão (1/4)

A página de rosto da Acta Apostolicae Sedis de 3 de setembro de 1914 com a notícia da eleição do cardeal Giacomo Della Chiesa ao trono papal e uma imagem de Bento XV trabalhando

Arquivo 30Dias – Abril/2006

Laico que é cristão

Bento XV promoveu a caridade, a paz e a liberdade dos filhos de Deus através do respeito pelas pessoas e instituições. Quarta e última parcela da revisão dos papas que adotaram o nome de Bento.

por Lorenzo Cappelletti

Depois de a última página do pontificado de Pio X (1903-1914) «ter sido virada por uma mão omnipotente e invisível», escreviam os jesuítas dos Etudes em setembro de 1914, «estamos agora perante mais uma outra completamente branca, cujo título simplesmente menciona o nome de um novo papa: Bento XV. Que palavras, que atos a história do papado registrará amanhã? O que a página em branco dirá?'
Essa página já está escrita há quase um século, mas não deve ter sido fácil decifrá-la, se as biografias dedicadas a Giacomo Della Chiesa, que se tornou o Papa Bento XV (1914-1922), ainda falam de um papa desconhecido ou mesmo não reconhecido .
«As aparências não me são favoráveis», escreveu ele próprio com fina auto-ironia, numa carta datada de 21 de Dezembro de 1898 ao seu antigo colega da Academia dos nobres eclesiásticos Teodoro Valfrè di Bonzo (parte de uma preciosa correspondência publicada em 1991 na Civitas por o falecido Giorgio Rumi). E basta olhar para seus retratos, por mais benevolentes que sejam, para entender que ele não tinha le physique du rôle . "Ele estava abaixo da altura média e um pouco curvado", escreveu Francis MacNutt, outro colega seu na Academia, na verdade "tudo nele era curvado: nariz, boca, olhos e ombros - tudo era desprovido de design".
Mesmo de seu currículo nada além de um mediocris homo parecia emergir, como diria o cardeal Agliardi na véspera da eleição de Giacomo Della Chiesa como papa. Diligente, certamente, meticuloso, mas como um "mero burocrata", ainda segundo Agliardi. Quem imaginaria que havia um desígnio preciso naquele “pequeno rapaz”, como era chamado na Cúria, e que vibrava dentro dele uma chama de caridade que no seu tempo lhe teria sugerido coisas marcantes? No entanto, a história da Igreja deveria e deveria ter ensinado que manter a forma herdada – a especialidade de Giacomo Della Chiesa – foi decisivo, muitas vezes mais decisivo do que as virtudes vistosas, para proteger a essência da caridade e da fé cristã.
Ao contrário de seus predecessores e sucessores imediatos na Sé de Pedro (com exceção de Pio XII), Giacomo Della Chiesa era um "cidadão". Nasceu em 1854 numa família de ascendência nobre e estilo de vida burguês em Génova que, como sabe quem a conhece, é uma cidade por excelência desde o início da Idade Média: algumas das suas antigas torres ainda competem com os modernos arranha-céus que sempre fizeram sua primeira aparição na Itália.
A sua educação não foi apenas cidadã, mas laica, tanto que, segundo alguns que afirmaram referir-se a palavras ditas pelo próprio Bento XV, não ostentava sabe-se lá que competência teológica. De fato, graduou-se pela primeira vez em direito pela Universidade de Gênova, enquanto frequentava os cursos de filosofia e teologia do seminário local como aluno externo. Cursos que mais tarde concluiria em Roma, na Gregoriana.
De fato, Giacomo chegou a Roma em 1875 como aluno do Collegio Capranica, numa época em que a Cidade Eterna se adaptava para se tornar a capital da Itália unificada. Foi ordenado sacerdote em 21 de dezembro de 1878, no mesmo ano em que, após um pontificado de duração inigualável, Pio IX (1846-1878) foi sucedido por Leão XIII (1878-1903). Nos dois anos seguintes frequentará a Academia dos nobres eclesiásticos, a escola da diplomacia pontifícia.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Igreja nos EUA já sofreu 69 ataques só no primeiro trimestre de 2023

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Por Francisco Vêneto

É o maior número dos últimos 6 anos, quando os casos começaram a ser registrados.

Uma pesquisa do Family Research Council apontou que os ataques a igrejas católicas nos Estados Unidos aumentaram em níveis alarmantes no primeiro trimestre de 2023, somando 69 casos que incluem vandalismo, incêndios criminosos e ameaças armadas, inclusive com bombas.

Mais especificamente, o relatório “Hostility Against Churches” (Hostilidades contra igrejas) registra 53 episódios de vandalismo, 10 ataques incendiários, 3 incidentes com armas de fogo e 3 ameaças de bomba.

A maior parte dos episódios aconteceu em janeiro, com 43 casos. Fevereiro registrou 14 e março mais 12.

Em 2018, ano em que começaram os registros desse tipo de ocorrência, o primeiro trimestre somou 15 ataques. Em 2019 foram 12 no mesmo período, enquanto em 2020 não se registrou nenhum. Em 2021 foram 14 e em 2022 o número subiu para 22.

Os Estados do país que já foram afetados em 2023 são 29, com destaque negativo para a Carolina do Norte (7 casos), Tennessee e Ohio (5 cada) e Flórida, Missouri e Pensilvânia (4 cada).

No tocante ao total anual, a tendência do primeiro trimestre aponta que 2023 deverá somar o maior número de ataques à Igreja nos EUA desde que esses registros começaram a ser feitos no país, há 6 anos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF