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quinta-feira, 6 de julho de 2023

Penúltimo parágrafo!

Enchei-vos do Espírito Santo de Deus (arqbrasilia)

Penúltimo parágrafo!

Considerações sobre a Carta dos Bispos aos Presbíteros de maio de 2010

13 a 16 de maio de 2010 foram dias de graça para Brasília e para o Brasil. O XVI Congresso Eucarístico Nacional realizado no coração do Brasil bombardeará o sangue bom para todo o nosso querido Brasil. A antessala do Congresso foi a 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que aconteceu também em Brasília. Um dos frutos daquela magna Assembléia foi a belíssima Carta dos Bispos aos Presbíteros. Eu, como sacerdote, gostaria de agradecer aos nossos bispos pela proximidade a todos nós, presbíteros, seus mais imediatos colaboradores, e também a orientação muito oportuna nesses tempos de desconcerto: muito obrigado, senhores bispos!

Efetivamente, os casos vergonhosos, já publicados, envolvendo os ministros do Senhor, têm causado sofrimento ao Povo de Deus. Nós, presbíteros, perdemos um pouco a credibilidade. Esses dias um irmão sacerdote comentava com tristeza que ao sair à rua, uma pessoa de uns 40 anos lhe insultou aos gritos: “–pederasta!”. Quanta indignação! Isso não é justo!

Ao mesmo tempo, paradoxalmente, aumentou a credibilidade dos sacerdotes. Quando as pessoas vêem nas suas paróquias os seus párocos tão entregues à missão evangelizadora; quando vêem que são homens que rezam, que visitam os doentes, que atendem as confissões e lhes celebram a Eucaristia piedosamente; quando o nosso povo vê que o sacerdote ama a sua vocação e promove novas vocações, percebe que essas notícias são exageradas e vendedoras de gato por lebre.

O mais importante é a glória de Deus e o bem das almas!

Nesse panorama, a Carta dos Bispos aos Presbíteros nos oferece um verdadeiro e maravilhoso horizonte de vida e espiritualidade sacerdotais. Trata-se de uma carta em continuidade com os documentos eclesiais sobre o sacerdócio mais conhecidos, como o Decreto Presbyterorum Ordinis do Concilio Vaticano II, a Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis do Papa João Paulo II e o Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros da Congregação para o Clero. Depois de ler essa carta, acolhendo-a de coração agradecido aos nossos bispos, chamou-me a atenção especialmente o penúltimo parágrafo por ser tão concreto e tocar, por assim dizer, as questões mais importantes e mais urgentes.

O texto reza assim: “Pedimos que zelem pela comunhão eclesial, alimentando-a com a celebração cotidiana da Eucaristia, com a oração fiel e generosa, de modo especial a Liturgia das Horas, com a busca freqüente do Sacramento da Penitência e a orientação espiritual, com um estilo de vida sóbrio, que tome distância dos apelos do consumismo, da cultura da banalidade, da invasão do secularismo. Recomendamos, também, que tenham um zelo especial na administração dos bens que lhes são confiados, destinados, sobretudo, para o serviço dos mais pobres”.

Gostaria de partilhar com os irmãos sacerdotes algumas das impressões que essas palavras causaram na minha alma sacerdotal. Os temas que saem nesse parágrafo são de tal densidade que valeria a pena estudar cada um deles, meditá-los, e fazer propósitos para pô-los em prática com maior amor:

–          comunhão eclesial;

–          celebração cotidiana da Eucaristia;

–          oração fiel e generosa, de modo especial da Liturgia das Horas;

–          confissão freqüente e direção espiritual;

–          virtude da pobreza e sobriedade;

–          virtude da obediência e responsabilidade pessoal;

–          serviço aos pobres.

Comunhão eclesial

Há, efetivamente, muitas palestras sobre fraternidade e sobre comunhão; há muitas reuniões. E isso é bom, mas… O que é, concretamente, essa realidade que chamamos “comunhão eclesial” que é alimentada pela celebração da Eucaristia, da Liturgia das Horas, pelo serviço aos pobres, etc.? Em primeiro lugar, a comunhão é um dom que vem de Deus-comunhão – a Trindade Santíssima. Essa comunhão se deixa participar na terra na communio que é a Igreja. A maneira de cada presbítero viver a comunhão é variada e gradativa: comunhão com Deus, com o Papa, com os bispos em comunhão com o Papa, com os irmãos no presbitério, com todos os demais fiéis, especialmente aqueles que lhe foram confiados.

O sacerdote é um homem que ama Igreja: o presbítero, configurado a Cristo Cabeça, é, em Cristo, esposo da Igreja. O normal é que o esposo ame a sua esposa! Desse amor pela Igreja deve brotar uma união efetiva e afetiva para com o Santo Padre e com os Bispos em comunhão com ele. Outro fruto desse amor por Cristo e pela Igreja é a fraternidade no próprio presbitério e a caridade pastoral que nos leva a cuidar do povo que nos foi confiado. Essa união tem que traduzir-se numa disposição para aceitar com uma obediência amorosa tudo o que a Igreja ensina. Significa formar uma muralha de unidade doutrinal forte, de tal maneira que não fique nenhuma só brecha para o assalto do inimigo nessa cidade de Deus, que é a Igreja. Precisamos estudar, ler, conhecer a fundo o Magistério eclesiástico. Livre-nos Deus de “ser do contra”. Não permitamos nenhuma fissura em questões de fé e de moral. Caso isso acontecesse, teríamos fundadas razões para duvidar das nossas muitas reuniões “cheias de fraternidade”.

Comunhão eclesial significa também obediência ao próprio bispo. Obedecer de verdade! Logicamente, o plano de pastoral pode ser melhorado. Nós somos colaboradores e podemos, e devemos em algumas ocasiões, manifestar as nossas opiniões para melhorar as coisas na Diocese. Façamo-lo com discrição, sem fazer guerra, conversando franca e amigavelmente com o nosso bispo. Caso o bispo ache melhor fazer de outra maneira, contanto que não seja ofensa de Deus, bendita seja o Senhor. Obedeçamos!

Comunhão eclesial é procurar que as nossas comunidades paroquiais sejam presença viva da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, com as características próprias da Igreja particular da qual faz parte. Tudo isso sem nenhuma reserva e em todas as suas expressões: Missas bem celebradas, horários de confissões adaptados às necessidades reais das pessoas (horário de confissão só durante o dia não é adaptado às necessidades daquelas pessoas que trabalham pela manhã e pela tarde!), estudo da Bíblia e do Magistério, reza duma parte do rosário, direção espiritual das pessoas. É preciso acreditar, de verdade, que Deus chama a todas as mulheres e a todos os homens a serem santas e santos e que nós, sacerdotes, chamados também à santidade, somos instrumentos nas mãos de Deus para que ele faça verdadeiras obras de arte das pessoas que estão encomendadas à nossa caridade pastoral. Entre outras coisas, comunhão eclesial é pensar com um coração grande, universal, com um interesse por toda a Igreja. Interessemos-nos também pela Igreja gloriosa, para contarmos com a sua intercessão, e pela Igreja padecente, para ajudá-la em sua purificação. Também nós, Igreja militante, precisamos purificar-nos!

Celebração cotidiana da Eucaristia

Desde o Concilio Vaticano II, pelo menos, já é comum afirmar que a Eucaristia é a fonte, o centro e a cima da vida espiritual de cada cristão e de cada assembléia que se reúne para louvar ao Pai por Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo. Procuremos celebrar a Santa Missa sempre com a alegria da primeira: dignamente, atenciosamente, devotamente! Celebrar a Santa Missa todos os dias não é um dever para nós, é simplesmente o nosso tesouro, o nosso bem, o nosso centro, o nosso tudo. Se não a celebrarmos, acabaremos descentrados.

Com amor generoso e total, não tenhamos reparos em oferecer o melhor que temos ao culto divino, também no que se refere ao exterior, reflexo do interior: igreja e sacristia limpas; paramentos sacerdotais belos e dignos na estética e na limpeza, com a nobre simplicidade que o Concilio pede na liturgia (cfr. SC 34); não nos esqueçamos que “a não ser que se disponha de outro modo, a veste própria do sacerdote celebrante, tanto na Missa como em outras ações sagradas em conexão direta com ela, é a casula ou planeta sobre a alva e a estola” (IGMR, 337). Mais ainda: que os cálices, as patenas, as galhetas, os corporais, os sanguíneos, os manustérgios e tudo o que se refere ao culto eucarístico esteja bem cuidado! Não tenhamos medo: esses detalhes de amor para com o nosso Deus não escandalizam as pessoas mais pobres, que são – geralmente – as mais generosas para com Deus.

A melhor catequese sobre a Missa é própria Missa bem celebrada: as rubricas, os cantos, a concentração, tudo isso transmite uma esfera sagrada que expressa que estamos diante de um mistério transcendente e próximo ao mesmo tempo. Que bom seria se um dos livros da nossa biblioteca sacerdotal fosse a Instrução Geral do Missal Romano lida e relida várias vezes; de fato, o texto oficial da CNBB saiu em 2008.

Um dos frutos do Congresso Eucarístico poderia ser exatamente esse: que as nossas celebrações eucarísticas sejam expressivas, verdadeiramente expressivas, do Mistério de Deus. Como a Eucaristia é o coração da vida espiritual dos fiéis, não nos esqueçamos que nós, sacerdotes, temos certa semelhança com aqueles bons médicos que em cada intervenção nesse órgão tão central vão com cuidado. É melhor seguir a experiência da Igreja e não inventar nem experimentar por nossa conta. Poderia ser fatal!

Não se trata de defender princípios “tradicionalistas”. Tampouco se trata de ser rubricistas e pouco pastorais. A Tradição da Igreja admite progresso no entendimento e na vivência. A tradição litúrgica, salvo o substancial, admite mudança. No século passado, Pio X, Pio XII, João XXIII e Paulo VI foram bem conhecidos por introduzir oportunas reformas na liturgia e, sem dúvida, podem ser introduzidas outras no futuro (nenhum problema!). Graças a Deus, queridos irmãos sacerdotes, na Igreja há quem faz mudanças, os Papas e os bispos juntos com o Papa. Nós, simplesmente, não recebemos esse encargo.

Oração fiel e generosa

Todos nós recordamos daquelas imagens tão edificantes do queridíssimo João Paulo II na sua capela privada em oração. Uma oração fiel e generosa, principalmente da Liturgia das Horas, mas não só da Liturgia das Horas, é imprescindível. Já sabemos que temos que celebrar todos os dias, integralmente, a Liturgia das Horas: Oficio de Leituras, Laudes, uma Hora Média, Vésperas e Completas. No entanto, precisamos alimentar diariamente a nossa vida espiritual: oração de meditação, uma parte do Rosário, leitura espiritual, exames de consciência, visitas ao Santíssimo, etc. Por quê? Por que Deus nos ama, ele nos chamou e nós o amamos apaixonadamente.

Rezar é fácil! Rezar não é fácil! É fácil porque se trata de falar, dialogar, conversar com o Pai e com o Filho e com o Espírito Santo. Não é fácil por vários motivos. Depois de um dia cheio de tarefas pastorais, estamos cansados; daí a importância de não deixarmos a oração para as últimas horas, mas encher o nosso dia com a oração. Numa sociedade barulhenta, o silêncio resulta incômodo, também para nós; não tenhamos medo ao silêncio da oração no dia-a-dia, nos dias de recolhimento e nos retiros espirituais. Nós não rezamos porque gostamos ou deixamos de gostar, mas porque Deus gosta, porque queremos ser fiéis e sabemos que sozinhos é-nos simplesmente impossível.

Que edificante para o povo ver o seu pároco de joelhos diante do Santíssimo em oração pessoal, não por dois minutinhos, mais por um tempo razoável. O sacerdote é, em Cristo, mediador, não somente durante a celebração eucarística, mas em todos os momentos. Como é importante rezar, ser piedosos e orar muito pelo povo que nos foi confiado. Lembremo-nos do Cura d’Ars rezando durante horas e horas diante de Jesus Sacramentado pela conversão do seu povoado. A graça operou maravilhas em Ars! E pode fazer maravilhas nas nossas paróquias!

Confissão freqüente e direção espiritual

É comum escutarmos que um bom confessor é sempre um bom penitente. E isso é verdade! O fato de um sacerdote confessar-se semanalmente ou quinzenalmente não é nenhum exagero. De fato, o sacerdote, ministro de Cristo, deseja parecer-se cada vez mais com aquele que representa: Jesus Cristo. Com esses vivos desejos, o presbítero percebe a necessidade de contínuas purificações para que todas as suas ações sejam cada vez mais atuações de Jesus Cristo através dele.

O pecado sempre é feio, Deus sempre é belo. Há uma oposição radical entre Deus e o pecado, entre a beleza e a feiúra. Sem dúvida, Deus é Uno, bom, verdadeiro e belo. Todo o nosso ser, templo do Espírito Santo, deve ser cada vez mais à semelhança do Senhor. Deus sempre atua através dos seus sacerdotes, e infalivelmente nos Sacramentos. Mas, é verdade, Deus atua mais através dos sacerdotes mais santos. Quem é “santo santifique-se ainda mais” (Ap 22,11), nos diz o Espírito Santo.

Direção espiritual! Não é coisa só do tempo do Seminário. Não! Como é bom poder contar com outro irmão sacerdote com quem partilhar – com toda sinceridade – o próprio caminho espiritual, os nossos êxitos e fracassos! O diretor espiritual nos dará conselhos, idéias, sugestões, que nos ajudarão a ver aquelas coisas que nós mesmos não conseguimos ver em nós, que nos farão estar sempre na presença de Deus, que nos mostrarão metas a alcançar na vida espiritual. A direção espiritual é uma ajuda eficaz na pastoral e é, simplesmente, uma garantia de fidelidade.

A virtude da pobreza e a sobriedade

Os sacerdotes seculares não fazem votos de pobreza, castidade e obediência, como os religiosos-sacerdotes. Isso não quer dizer que não tenhamos que viver as virtudes da pobreza, da obediência e da castidade, não como votos, mas como virtudes, como qualquer cristão. Ao mesmo tempo, a causa de um novo título, o da ordenação sacerdotal, o presbítero tem que ir adiante nessas virtudes mostrando o caminho ao Povo de Deus. Recordemo-nos que essas virtudes foram vividas perfeitamente por Cristo e que os Apóstolos o imitaram. Portanto, a nossa pobreza sempre é cristológica e apostólica!

O desprendimento, também dos bens materiais, é essencial para que tenhamos um coração realmente entregue a Deus e aos irmãos. Que pena se depois de renunciarmos tantas coisas, ficássemos apegados a uns míseros reais… Que bobagem!

Tenhamos sempre consciência de que nós entregamos tudo a Deus e de que o nosso tesouro é seguir o Cristo pobre, desapegado dos bens dessa terra. Nós somos Cristo que passa pelas ruas das nossas cidade e que vai curando, pregando, expulsando demônios, chamando as pessoas para viver bem perto de Deus. Os bens dessa terra têm que estar ao serviço de Deus. Daí a importância de levar em sério a administração da paróquia de uma maneira bastante profissional, de evitar os gastos desnecessários, de sermos também nós generosos com os mais pobres (nós que tanto falamos do dízimo aos nossos fiéis!). Uma coisinha: a roupa clerical também ajuda a viver a virtude da pobreza, pois dessa maneira evitaremos, por exemplo, a preocupação da moda: um sacerdote que se veste segundo o seu estado sempre está na moda!

A virtude da obediência e a responsabilidade pessoal

“Prometes respeito e obediência a mim e aos meus sucessores?” Essa foi uma das perguntas que o bispo nos fez no dia da nossa ordenação. E nós respondemos cheios de convicção: “Prometo”. Realmente, seria muito interessante repassar de vez em quanto esses momentos que tanto marcaram a nossa vida. De fato, é exatamente isso que fazemos na quinta-feira santa ao renovar as promessas sacerdotais.

Nós amamos a liberdade, que é “irmã” da responsabilidade. A liberdade é aquela capacidade que Deus nos deu para que façamos o bem de maneira inteligente e sem nenhuma coação. Infelizmente, é possível que também nós, sacerdotes, funcionemos com um conceito de liberdade mundano. A liberdade de eleição é somente um sinal de que há liberdade, mas não é a essência da liberdade, muito menos da liberdade cristã, que leva consigo, necessariamente, a identificação da nossa vontade com a Vontade de Deus. Cristo, totalmente livre, submeteu-se em tudo ao Pai. Esse é o nosso modelo de liberdade, e de obediência!

Uma liberdade concebida dessa maneira nos faz mais verdadeiros, nos faz mais nós mesmos. Anteriormente, falávamos de liberdade como capacidade de fazer o bem de maneira inteligente. Logicamente, liberdade e obediência, na vida do cristão, e em conseqüência do presbítero, precisam estar sempre unidas. Como é importante aprender a obedecer livremente e ser livre obedecendo. Não é um mero jogo de palavras: quando se recebe uma ordem, é mais obediente e mais livre aquela pessoa que é capaz de obedecer da maneira mais perfeita possível. Nesse desejo de obedecer bem, entra em jogo a nossa inteligência e vontade, e a graça de Deus.

Obediência cadavérica? Nem pensar! Obediência de seres vivos, dotados de uma capacidade intelectual e volitiva e elevados pela graça de Deus. Concretamente, obedecer ao Papa e ao bispo diocesano é, para cada um de nós, identificação com Cristo que obedeceu em tudo. Além do mais, é garantia de eficácia apostólica. Se cada um quisesse fazer a sua própria “diocese paroquial”, a pastoral iria a menos e se mostraria – mais cedo ou mais tarde – a deterioração que isso implica para a unidade católica.

Serviço aos pobres

Pode-se afirmar com toda segurança que nós – Igreja no Brasil – fizemos a opção preferencial pelos pobres. Graças a Deus, pode-se observar nas paróquias diversas atividades em favor dos mais necessitados. É muito edificante ver o sacrifício de muitos sacerdotes para levar adiante tantas iniciativas nesse campo. Em todo o Brasil há uma sensibilidade geral para esse tema. Sem dúvida, tudo isso está profundamente enraizado no Evangelho.

O Papa Bento XVI, no seu Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, afirmou: “A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos leva à comunhão: o encontro com Deus é, em si mesmo e como tal, encontro com os irmãos, um ato de convocação, de unificação, de responsabilidade para o outro e para com os demais. Neste sentido, a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza (Cf. 2 Cor 8,9)” (DE, nº. 3).

Nós, presbíteros, não podem esquecer-nos, no entanto, que o nosso trabalho a favor dos mais pobres nas suas mais diversas manifestações (há também uma pobreza espiritual que não é boa: pecado, ignorância, falta de educação, etc.) tem que estar banhada dessa característica: pastoral. Explico-me: nós não somos agentes sociais, nós somos pastores do rebanho do Senhor e como tais devemos cuidar das ovelhas. Como bons pastores procuraremos, em primeiro lugar, rezar por todas essas pessoas confiadas ao nosso cuidado, pois, por mais que façamos, sempre há um campo imenso aonde nós não chegamos, mas que a oração abarca. Em segundo lugar, a nossa atividade em favor dos irmãos, não pode se converter em ativismo. Seja a nossa ação fruto da contemplação dos mistérios de Deus. A oração deve ocupar o primeiro lugar!

É importante saber organizar as coisas, para que não estejamos sempre à frente. Como é bonito passar despercebidos! Por outro lado, há tantos leigos que sabem fazer coisas tão bem feitas e que nós não temos nem idéia. É importante que sejamos conscientes dos nossos próprios limites e deixemos que os outros trabalhem na vinha do Senhor, impulsionando-os e apoiando-os, coisa que sempre se agradece ao padre.

Muito obrigado, senhores bispos, porque essa Carta que nos fez pensar, refletir e fazer propósitos para melhorar a nossa vida e ministério sacerdotais santificando-nos nesse trabalho tão santo e divino ao santificar os outros com ele.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
(Diocese de Anápolis-GO)

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Igreja e sociedade

Igreja e sociedade (fabad)

IGREJA E SOCIEDADE

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Apesar das tentativas de prescindir da religião e do sagrado, do secularismo e do indiferentismo religioso que emergem com força na atualidade, o cristão sabe que sua identidade depende da sua relação com tudo o que o circunda. Para não perder sua essência, a fé cristã precisa ocupar-se da história, porque nela se realiza a abertura do ser humano para a transcendência. 

Nessa convergência entre o visível e o invisível, o humano encontra o sentido, a cura e a salvação de toda sua existência. Ainda que a sociedade moderna esteja prisioneira do consumismo e do utilitarismo, a Igreja há de orientar-se por valores baseados numa sociedade em que a civilização do amor encontre seu espaço e novas oportunidades.  

A fé cristã não prega a separação do mundo e nem a plena identificação com as realidades terrestres.  Permanece uma tensão entre o anúncio das alegrias de tudo o que existe por obra de Deus e conforme seu plano e as miopias do tempo que destroem a possibilidade de viver conforme o desejo do Criador. Essa fé não pode ser entendida de modo unilateral, intimista e espiritualista. Tal compreensão reduz o enfoque integral da salvação que Cristo revelou.   

O Cristianismo não há de se preocupar somente com as pessoas individualmente, dando-lhes sentido para a existência, mas também e, necessariamente, há de se ocupar com as relações sociais que determinam e legitimam a vida do indivíduo como ser criado para a comunhão e não para a solidão.  

Na busca de uma nova racionalidade e novas razões para sonhar com um futuro melhor, a Doutrina Social da Igreja oferece um novo humanismo, cuja inspiração comunional vem da própria Santíssima Trindade. Cada pessoa humana, na sua estrutura de ser e de agir, é um ícone da Trindade, quando o Pai, o Filho e o Espírito Santo são distintos, mas unidos, porque é comunhão infinita de amor. Em sendo a imagem de Deus, cada ser humano é chamado a viver na comunhão, na reciprocidade do dom, na partilha e na comunicação do próprio ser. Tudo em vista do serviço desinteressado ao outro.  

A comunidade dos seguidores de Jesus encontra, na fé trinitária, uma casa e escola de comunhão, cuja meta é o Reino de Deus, e a Trindade será tudo em todos. Tal percepção faz de cada pessoa um protagonista de novas relações, vencendo o egoísmo e os interesses privados. A profecia, assim, se expande nos relacionamentos qualificados pelo desejo de comunhão solidária e na preocupação preferencial para com aqueles que têm seus direitos fundamentais negados.  

No confronto entre a mensagem evangélica e as vicissitudes históricas, não pode haver neutralidade ou indiferença. Todas as formas de exclusão, injustiça, violência e mentira afetamprofundamenteo ser cristão e, por isso, geram posições e atitudes que desmascaram as forças que desumanizam e se afastam do amor revelado por Jesus. 

Não é possível conceber, então, a fé cristã sem o serviço na construção de um mundo justo e fraterno. É evidente que a plena salvação não se esgota na edificação de uma sociedade justa e solidária, pois o destino final de todo ser humano é o Reino de Deus que é transcendente ao mundo visível. Entretanto, esperar o reino vindouro divorciando fé e justiça, Evangelho e vida, seria uma redução perigosa ao próprio conteúdo da fé cristã que não separa o amor a Deus do amor ao próximo.  A comunhão com Deus, portanto, exige uma reorientação total da presença do ser humano no mundo e de sua ação sobre o mundo.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

3 irmãos compartilham o mesmo dia de ordenação sacerdotal na Croácia

Ordenação sacerdotal - imagem ilustrativa | Zvonimir Atletic | Shutterstock

Por Cerith Gardiner

Os irmãos Pudar são uma espécie de versão do século 21 dos Três Mosqueteiros - mas a sua luta é pelas almas.

Todos os pais esperam que seus filhos cresçam próximos uns dos outros. Os três irmãos croatas Renato, Marko e Robert Pudar, no entanto, compartilham não apenas o vínculo fraternal, mas também um laço espiritual que os liga a Jesus Cristo pelo caráter do sacramento do sacerdócio.

Numa ocorrência muito rara, os três foram todos ordenados neste último dia 24 de junho na Igreja da Sagrada Família em Solin. Renato e Marko foram ordenados sacerdotes, enquanto o irmão Robert foi ordenado diácono.

Mons. Želimir Puljić, administrador apostólico da arquidiocese, presidiu a ordenação – na qual outros quatro homens também receberam o sacramento do sacerdócio.

Em sua homilia, mons. Puljić aconselhou a eles:

“Não tenham medo da sua fraqueza quando Deus os chama. Entreguem-se à Providência de Deus completamente e sem reservas, e Ele os fortalecerá e encorajará. Tudo poderão n’Aquele que os fortalece. Ele conta com vocês e quer realizar grandes planos neste mundo através de vocês”.

Os familiares e amigos dos três irmãos estavam presentes para testemunhar a ocasião especialíssima. Não sabemos o que sentiram os pais dos novos clérigos, mas podemos constatar que eles fizeram um trabalho excepcional ao criar os filhos na fé e prepará-los para responder ao chamado de Deus.

Mons. Puljić pediu a intercessão da Santíssima Virgem Maria pelos novos sacerdotes, o que é especialmente comovente para esses três irmãos na fé e no sangue.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Secretário da Repam em encontro intercontinental no Vaticano: estamos destruindo o próprio ninho

Foto de arquivo de 2022 (Vatican Media)

Redes eclesiais para a ecologia integral estiveram reunidas pela segunda vez. O Irmão João Gutemberg Sampaio, secretário-executivo da Repam, concedeu entrevista ao Vatican News e abordou a preocupação da Igreja, também expressa pelo Papa na Laudato si': "nós estamos destruindo o próprio ninho, com uma economia de consumismos e de muita produtividade que mata. Não é uma economia de comunhão, e aí a gente toca nas explorações: a Amazônia está sofrendo demais! Isso mexe muito com as consciências".

Andressa Collet - Vatican News

O Irmão João Gutemberg Sampaio, secretário-executivo da Repam, esteve em Roma para participar da "Aliança de Redes Eclesiais para a Ecologia Integral" no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que reuniu representantes do mundo todo para um grande "movimento dos temas sobre o cuidado da vida", inspirados no Papa Francisco. Esse é o segundo encontro presencial, após o primeiro realizado antes do Sínodo da Amazônia de outubro de 2019, fora as reuniões promovidas no ambiente virtual.

Uma iniciativa que "dá uma clareza do caminho que é plural", afirma o secretário, "não vivemos na clandestinidade, nós estamos na estrutura da Igreja":

“Esse caminho não unifica as redes, porque elas estão em ecossistemas variados, mas tem pontos muito comuns que é dentro desse tema do grito do ambiente, do grito das pessoas. A mudança climática, por exemplo, e a questão indígena, são pontos comuns a todos.”

O Ir. João concedeu entrevista a Silvonei José da Rádio Vaticano - Vatican News

O desafio de recuperar a integração ambiental e social

Entre os representantes da África, Ásia, Oceania, Europa e América do Norte estavam aqueles da América Latina, através da Repam, presente nos 9 países do território pan-amazônico: além do Brasil, a Bolívia, o Equador, o Peru, a Colômbia, a Venezuela, a Guiana, Suriname e Guiana Francesa. "A Rede Eclesial Pan-amazônica é esse esforço da Igreja católica", disse o Irmão João em entrevista a Silvonei José, da Rádio Vaticano - Vatican News, uma estrutura de articulação sobre temas de maior preocupação das comunidades e do próprio ecossistema.

Segundo o secretário executivo da Repam, é na Amazônia onde se encontra "a maior sóciobiodiversidade do planeta, então por isso que temos ainda muito a nos inspirar", onde, porém, "o ambiente também já foi muito modificado". O desafio é recuperar esse tema da integração ambiental e social. Além do Sínodo dos Bispos, que envolveu os cinco continentes na busca por novos caminhos para esse fim; a exortação apostólica pós-sinodal "Querida Amazonia", do Papa Francisco, com "cerca de 200 propostas para Igreja"; e a própria encíclica Laudato si' ajudam nesse processo:

"Historicamente nós fizemos uma dicotomia da palavra 'ecologia' quando a reduzimos ao ambiente somente. Mas o Papa Francisco, com a Laudato si', coloca alí um hipérbato colocando um subtítulo para a 'ecologia' chamando-a de 'ecologia integral'. Por que esse hipérbato, por que esse exagero, porque toda a ecologia é integral. Mas é para dizer: 'olha, a ecologia não é apenas o ambiente, o ambiente é uma parte da ecologia. A ecologia é o ser humano no seu ecos, na sua casa, no seu habitat. Então, recuperar a dimensão social e a ambiental, juntas."

A Laudato si', do Papa Francisco, foi lembrada em várias ocasiões do encontro das redes eclesiais, por ser fonte de inspiração para o trabalho e de conscientização para o planeta:

"Nós estamos destruindo o próprio ninho. Então, como diz o Papa Francisco, vivemos uma economia de consumismos e de muita produtividade que mata. Não é uma economia solidária, de comunhão, como ele propõe que é a Economia de Francisco. E aí a gente toca nas explorações: a Amazônia está sofrendo demais! Nesse encontro intercontinental, vemos em todos os territórios a exploração do meio ambiente. Nós temos uma geração que é a mais consumidora e a mais suja dos últimos 10 anos."

“Isso mexe muito com as consciências. Então, eu acredito que o Papa Francisco quer convidar todos os habitantes do planeta, como diz a Laudato si', a repensar o nosso modo de vida porque a ecologia integral toca a questão econômica, a questão política e a questão dos costumes, dos usos diários.”

Representantes da Repam em entrevista à Rádio Vaticano - Vatican News

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Maria Goretti

Santa Maria Goretti (comunidadeoasis)

06 de julho

Santa Maria Goretti

Santa Maria Goretti nasceu na cidade de Corinaldo, Itália, no ano de 1890. Era filha de Luigi Goretti e de Assunta Carlini. Sua família era muito pobre, porém, temente a Deus. Os pais ensinavam a fé cristã para os filhos. Maria Goretti teve 5 irmãos: Tereza, Ersília, Angelo, Sandrino e Marciano.

Vida de Santa Maria Goretti

Por causa de situações da época, a família de Maria Goretti ficou mais pobres ainda e perdeu a fazenda onde moravam. Por isso tiveram que mudar para uma casa compartilhada com uma outra família chamada Serenelli. O pai de Santa Maria Goretti foi trabalhar para outros fazendeiros e acaba  morrendo de malária quando Maria Goretti tinha 9 anos de idade.

Morando na casa compartilhada, a beleza de Maria Goretti, com apenas onze anos, despertou paixões desequilibradas em Alessandro Serenelli, um jovem de 20 anos. Alessandro assediava Maria Goretti, mas a menina não cedia aos desejos do jovem.

Foi então, que, no dia 5 de julho de 1902, quando Maria Goretti estava costurando e vigiando sua irmã menor, Alessando entrou e a ameaçou de estupro. Ela se defendeu e começou a rezar, dizendo que era pecado e que ele iria para o inferno. Não conseguindo o que queria, ele lutou com Goretti.

Ela continuava rezando e lutando para se proteger. Vendo que nada conseguiria Alessandro lhe deu 11 facadas. Goretti gritou e tentou fugir. Então, ele acertou mais três facadas na pobre menina e fugiu. O pai de Alessandro chegou e levou Maria Goretti para o hospital. Ela foi operada sem anestesia,  mas os médicos nada puderam fazer porque os ferimentos eram muito grandes.

Antes de morrer, para admiração de todos, Santa Maria Goretti perdoou seu agressor, dizendo que queria encontrar com ele no céu. Disse que ele tentou estuprá-la várias vezes, mas que ela se defendeu sempre. Para a comoção de todos, Maria Goretti faleceu no outro dia, olhando para uma pintura da Virgem Maria.

Milagre de Santa Maria Goretti

Seu assassino foi preso logo depois, julgado e condenado a 30 anos de prisão. Três anos mais tarde ele recebeu a visita do Bispo local e se arrependeu, dizendo que teve um sonho com Santa Maria Goretti, no qual ela lhe entregava flores e estas pegaram fogo assim que ele as segurou. Depois escreveu para o bispo agradecendo a visita e pedindo que ele o incluísse em suas orações.

Quando terminou de cumprir sua pena, Alessandro Serenelli foi à casa da mãe de Santa Maria Goretti, implorar seu perdão. A mãe da Santa disse: Se minha filha, em seu leito de morte te perdoou, eu também te dou meu perdão. Depois disso, os dois foram participar juntos da Santa Missa.

Profundamente arrependido, tocado por Deus e pelo perdão de Maria Goretti e de sua mãe, Alessandro entrou para o Mosteiro da ordem menor dos frades Capuchinos. Lá, ele trabalhou como porteiro e jardineiro. Dizia que Santa Maria Goretti, era sua pequena Santa. Alessando viveu ali até o fim de sua vida, em 1970 e teve a graça de participar da Canonização de Santa Maria Goretti. Certamente, Alessandro se encontrou com a Santa Maria Goretti no céu!

Devoção a Santa Maria Goretti

Papa Pio Xll celebrou a Beatificação de Maria Goretti, no dia 27 de abril de 1947. E em 24 de junho de 1950, celebrou a Canonização da Santa. Foi uma das mais jovens santas da Igreja católica. Sua mãe e 4 irmãos estavam presentes na cerimônia, inclusive seu assassino arrependido, Alessandro Serenelli.

Mais de 500 mil pessoas assistiram a celebração na praça se São Pedro, em Roma. Foi um momento inesquecível para a história da Igreja, onde todos puderam ver como a misericórdia de Deus pode transformar tudo, inclusive situações quase sem esperança como o assassinato de uma menina de onze anos.

Festa a Santa Maria Goretti

A festa de Santa Maria Goretti é celebrada no dia 6 de julho. Ela é tida como a Santa da Castidade, da juventude, da pobreza, das vítimas de estupro, da pureza de coração e do perdão. Ela é representada carregando lírios, sinal de pureza, e com vestes brancas, sinal de sua virgindade.

Oração  a Santa Maria Goretti

Óh Santa Maria Goretti, que, reforçada pela graça de Deus, não hesitou, mesmo com a idade de 11 anos, em derramar teu sangue em sacrifício da própria vida para defender tua pureza virginal, olhai graciosamente para a infeliz raça humana, que se desvia muito longe do caminho da eterna salvação.

Ensinai-nos a todos, e especialmente à juventude, com coragem e presteza, que devíamos fugir, por amor a Jesus, de tudo o que possa ofender ou manchar as nossas almas com o pecado.

Obtenha para nós a partir de Nosso Senhor, vitória na tentação, conforto nas tristezas da vida, e a graça que fervorosamente imploro-te, (fazer seu pedido), e possamos desfrutar um dia da imperecível glória do Céu. Amém.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Dimensão contemplativa da vida

Jesus contemplativo (O caminho do coração)

DIMENSÃO CONTEMPLATIVA DA VIDA

Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

Existe um salmo na Bíblia, que chama a atenção, é o Salmo 8. Fala da grandeza do ser humano na criação: “Quando vejo os teus céus, obra de teus dedos, a lua e as estrelas, as coisas que criastes, que é o ser humano para que dele te lembres, o filho do homem para que o visites?” 

Na agitação da vida cotidiana, característica de nossa época, pouco tempo temos para pensar, meditar ou refletir no mistério que envolve nossa vida. Os filósofos antigos diziam, “quanto mais sei, mais sei que nada sei”. E aconselhavam o autoconhecimento, como fonte de sabedoria e equilíbrio mental. É preciso resgatar a dimensão contemplativa de nossa vida. 

A grandeza e miséria do homem é o paradoxo que está no centro da reflexão e mensagem do filósofo cristão Blaise Pascal, nascido há quatro século, na França. Foi grande matemático e inventor da máquina de calcular. Nunca silenciava nele a questão, antiga e sempre nova, que ressoa no ânimo humano: «Que é o homem para Te lembrares dele, o filho do homem para com ele Te preocupares?». Esta pergunta está gravada no coração de cada ser humano, em todo o tempo e lugar, de qualquer civilização e língua, independentemente da sua religião.  

Pascal desde criança e por toda a vida, procurou a verdade. Conhecer a verdade é essencial para o ser humano que deseja saber. Era um homem de fé, mas uma fé que se ilumina com a razão e deixa que a razão ilumine a fé. Pesquisou, especialmente nos campos da matemática, geometria, física e filosofia.  

Num século de grandes progressos em muitos campos da ciência, acompanhados, porém dum crescente espírito de ceticismo filosófico e religioso, Blaise Pascal mostrou-se incansável investigador do verdadeiro. Como tal, permanece sempre «inquieto», atraído por novos e mais amplos horizontes. Começou a falar do homem e de Deus, chegou à certeza de que não só conhecemos a Deus unicamente por Jesus Cristo, mas também nos conhecemos a nós mesmos apenas por Jesus Cristo.  

A filosofia de Pascal, toda ela em paradoxos, deriva dum olhar simultaneamente humilde e lúcido, que procura alcançar a realidade iluminada pelo raciocínio. Parte da constatação de que o homem é como um estranho para si mesmo, grande e miserável; grande pela sua razão, a sua capacidade de dominar as paixões, grande até na medida em que se reconhece miserável. De modo particular aspira a algo mais do que satisfazer os próprios instintos ou resistir-lhes. 

Nem a inteligência geométrica nem o raciocínio filosófico permitem ao homem chegar, sozinho, a uma visão perfeitamente nítida do mundo e de si mesmo. A pessoa que se debruça sobre os detalhes dos seus cálculos, não beneficia da visão de conjunto que permite entrever todos os princípios. 

A verdadeira luz que ilumina o mistério da nossa vida e  morte provém da ressurreição de Cristo que é revelação de Deus. Só a graça de Deus permite ao coração do homem ter acesso à ordem do conhecimento divino, à caridade. Isto levou um importante comentarista, contemporâneo de Pascal, a escrever que o pensamento só consegue pensar cristãmente, se tiver acesso àquilo que Jesus Cristo implementa: a caridade. 

O Papa Francisco dedicou sua Carta Apostólica ‘Sublimitas et miseria hominis’ à obra do filósofo e teólogo francês, no quarto centenário de seu nascimento. O papa o define “um companheiro de estrada que acompanha nossa busca pela verdadeira felicidade”.  

De Pascal fica-nos o conselho de não cedermos ao materialismo mas resgatarmos a dimensão contemplativa da vida. Pois, o ser humano tem uma alma e faz perguntas não só sobre a vida, mas também sobre o sentido da vida.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Sabia que Nossa Senhora de Fátima não é a padroeira de Portugal?

Nossa Senhora de Fátima / Shutterstock

REDAÇÃO CENTRAL, 04 Jul. 23 / 03:21 pm (ACI).- Ao contrário do que muita gente acredita, Nossa Senhora de Fátima não é a padroeira de Portugal. A padroeira do país é Nossa Senhora da Conceição, há 377 anos.

Nossa Senhora da Conceição foi proclamada padroeira e rainha de Portugal em 25 de março de 1646, por dom João IV. Devoto da Virgem, o rei consagrou “seus reinos e senhorios” a Nossa Senhora da Conceição, diante de uma imagem existente em uma igreja de Vila Viçosa, que pertence à arquidiocese de Évora.

Na ocasião, dom João IV ofereceu à Virgem a sua própria coroa real. Desde então, simbolicamente, nenhum outro soberano português voltou a usar a coroa na cabeça. Em algumas circunstâncias, a coroa era colocada em uma almofada ao lado do monarca.

Em Vila Viçosa fica o santuário de Nossa Senhora da Conceição, também chamado Solar da Padroeira. No templo está a imagem coroada por dom João IV.

O papa são João Paulo II visitou o santuário em sua primeira visita a Portugal, em 1982.

Imagem de Nossa Senhora da Conceição no santuário de Vila Viçosa / Facebook Santuário Nacional da Padroeira de Portugal - Vila Viçosa

Além de Nossa Senhora da Conceição, santo Antônio de Lisboa, também conhecido como santo Antônio de Pádua, foi proclamado padroeiro secundário de Portugal, em 1934, pelo papa Pio XI.

Santo Antônio nasceu em Lisboa em 1195. Chamado Fernando de Bulhões e Taveira de Azevedo, entrou ainda jovem para o mosteiro agostiniano de São Vicente, na capital portuguesa. Após dois anos, integrou a comunidade de Coimbra. Em 1220, transferiu-se para a ordem dos frades menores, onde assumiu o nome de Antônio.

Foi para Marrocos, mas após uma doença, foi obrigado a partir para a Itália. Morreu em Pádua, em 13 de junho de 1231. Foi canonizado  pelo papa Gregório IX apenas um ano após sua morte.

Nossa Senhora de Fátima é um dos títulos marianos mais conhecidos do mundo. Diz respeito às aparições de Maria na cidade portuguesa de Fátima, entre maio e outubro de 1917. A Virgem apareceu aos três pastorinhos, os santos Francisco e Jacinta Marto e a venerável Lúcia de Jesus, deixando uma mensagem de conversão, oração e penitência.

Atualmente, o santuário de Fátima recebe peregrinos de todos os continentes e é conhecido como “altar do mundo”.  Em 2022, o santuário recebeu 4,9 milhões de peregrinos. Estes números ainda representam o processo de retomada pós-pandemia. Em 2019, antes das medidas restritivas impostas contra a covid-19, o santuário recebeu 6,3 milhões de peregrinos.

Dos nove papas que a Igreja teve desde a aparição de Nossa Senhora de Fátima em 1917, quatro foram ao santuário mariano em Portugal: são Paulo VI, em 1967; são João Paulo II, em 1982, 1991 e 2000; Bento XVI, em 2010; papa Francisco, em 2017. Francisco retornará ao santuário no próximo dia 5 de agosto, no contexto da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Confissão: sacramento da reconciliação com Deus pelo ministério da Igreja

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Confissão: sacramento da reconciliação com Deus pelo ministério da Igreja.

25 de junho de 2023Por Fernando Geronazzo

Os aspectos teológicos e pastorais da confissão sacramental foram os temas da segunda aula do curso de extensão sobre o sacramento da Penitência (Confissão), na noite da segunda-feira, 19.

A formação on-line é promovida pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pela Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, ambas da Arquidiocese de São Paulo.

A aula foi ministrada pelo Padre Tiago Gurgel do Vale, Doutor em Bioética pelo Ateneo Pontifício Regina Apostolorum, em Roma, e professor das duas faculdades organizadoras do curso.

NECESSIDADE HUMANA

O Sacerdote iniciou a reflexão ressaltando que a reconciliação é uma necessidade de todo ser humano. Ele lembrou que o sacramento da Penitência diz respeito “à necessidade de reconhecer-se pecador, de obter o perdão de Deus, de corrigir-se e aperfeiçoar-se, de aproximar-se mais de Deus e de amar mais os irmãos, de prender-se mais na virtude e de vencer os maus hábitos”.

Para ilustrar tal experiência, o professor tomou a parábola bíblica do “filho pródigo”, na qual Jesus revela o amor misericordioso de Deus, representado pelo pai, a necessidade de conversão suscitada no pecador, representado pelo filho, e seu encontro com a misericórdia do pai.

A partir dessa reflexão, Padre Tiago destacou os três elementos essenciais que, unidos à absolvição, constituem o sacramento da Penitência: a contrição, a confissão e a satisfação.

CONTRIÇÃO

“A contrição é o princípio e o fundamento da conversão cristã e dela depende sua sinceridade e eficácia. É o ato mais profundamente humano, que reconstrói no interior humano aquilo que o pecado destrói. É o que ilumina e nutre a nova criatura que se dispõe a viver com um espírito renovado”, explicou o professor.

O Sacerdote salientou, ainda, que, no ato de contrição, a Teologia católica não vê apenas a consciência de pecado, mas um movimento interior de dor e de detestação do pecado cometido, que traz consigo a avaliação do pecado como mal moral e ação culpável que é preciso apagar e evitar posteriormente. Por isso, recordou que a contrição não pode ser entendida como mera dor, remorso ou sentimento de arrependimento pelo mal cometido, mas “o reconhecimento interior da falta cometida, com vontade de correção”.

CONFISSÃO

O passo seguinte é a confissão ou a acusação dos pecados, quando o penitente manifesta diante do ministro da Igreja aquilo que considera culpável. Nesse aspecto, Padre Tiago sublinha que a confissão é um ato eclesial, isto é, a pessoa expressa diante da Igreja, representada pelo sacerdote que age na pessoa de Cristo, sua consciência humilde do pecado e seu arrependimento sincero. Em outras palavras, “a confissão liberta a contrição de sua privacidade ou ocultação interior”.

É por essa razão – explicou o professor – que a confissão dos pecados não pode ser feita “diretamente para Deus”, pois não é essa expressão humilde do reconhecimento do pecado diante de Cristo, por meio da Igreja, que sacramentalmente perdoa e concede a graça que dá forças para não tornar a pecar.

SATISFAÇÃO

Já a satisfação é a penitência indicada pelo sacerdote, como forma de reparar o dano causado pelo pecado, dar graças pelo perdão recebido e renovar o propósito de não pecar novamente. Padre Tiago, contudo, reforça que essa obra penitencial não é causa condicionante da reconciliação, mas sinal do verdadeiro arrependimento.

“A satisfação está relacionada com a necessidade de que o penitente realize uma ação séria, comprometida e generosa que tende a desfazer a obra do pecado e a refazer a obra da graça, isto é, a levar adiante a obra da conversão”.

ABSOLVIÇÃO

As fontes bíblicas enfatizam que somente Deus perdoa os pecados e, em virtude de sua autoridade divina, Cristo Ressuscitado transmite esse poder aos homens para que o exerçam em seu nome.

Participantes do sacerdócio de Cristo, os bispos e padres recebem este ministério de perdoar os pecados in persona Christi (na pessoa de Cristo). Uma vez que os sacramentos são sinais visíveis e eficazes da graça divina e invisível, capazes de produzir por si aquilo que significam, na Confissão sacramental, o perdão dos pecados se dá de forma objetiva e confirmada pelo ministério da Igreja.

O mistério deste sacramento pode ser compreendido pelas palavras da fórmula sacramental de absolvição proferida pelo sacerdote conforme o rito católico:

“Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de Seu Filho, reconciliou o mundo Consigo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.

Fonte: https://osaopaulo.org.br/

O Papa institui a Comissão dos Novos Mártires, testemunhas da fé

Instituída pelo Papa a "Comissão dos Novos Mártires, testemunhas da fé" (Vatican Media)

Em vista do Jubileu de 2025, Francisco decidiu criar um grupo de trabalho no Dicastério das Causas dos Santos para elaborar um catálogo de todos aqueles que derramaram seu sangue para confessar Cristo no último quarto de século: "Não podemos esquecê-los". Uma busca estendida a todas as denominações cristãs e não apenas aos católicos.

Vatican News

Em uma Carta divulgada na quarta-feira, 5 de julho, o Papa Francisco instituiu a "Comissão dos Novos Mártires - Testemunhas da Fé" no Dicastério das Causas dos Santos, em vista do Jubileu de 2025. O objetivo do grupo de trabalho será elaborar um Catálogo de todos aqueles que derramaram seu sangue para confessar Cristo e dar testemunho do Evangelho.

"Os mártires da Igreja - escreve Francisco - são testemunhas da esperança que vem da fé em Cristo e incita à verdadeira caridade. A esperança mantém viva a profunda convicção de que o bem é mais forte que o mal, porque Deus em Cristo venceu o pecado e a morte". A Comissão continuará a busca, já iniciada por ocasião do Grande Jubileu de 2000, para identificar as Testemunhas da Fé neste primeiro quarto do século e para continuar no futuro.

"Os mártires - explica Francisco - acompanharam a vida da Igreja em todas as épocas e florescem como 'frutos maduros e excelentes da vinha do Senhor' ainda hoje... Os mártires são mais numerosos em nosso tempo do que nos primeiros séculos: são bispos, sacerdotes, consagrados e consagradas, leigos e famílias que, nos diversos países do mundo, com o dom de suas vidas, ofereceram a prova suprema da caridade". São João Paulo II já havia declarado em sua Carta Tertio millennio adveniente que tudo deve ser feito para assegurar que o legado dos "soldados desconhecidos da grande causa de Deus" não se perca. E em 7 de maio de 2000, esses mesmos mártires foram recordados durante uma celebração ecumênica, que reuniu no Coliseu, junto com o Bispo de Roma, representantes de Igrejas e comunidades eclesiais do mundo inteiro.

É o que Francisco tem repetidamente chamado de "ecumenismo de sangue". "Também no próximo Jubileu - acrescenta o Papa - estaremos unidos para uma celebração semelhante. Com esta iniciativa, não pretendemos estabelecer novos critérios para a constatação canônica do martírio, mas continuar o levantamento iniciado daqueles que, até hoje, continuam a ser mortos simplesmente por serem cristãos". "Trata-se, portanto, de continuar - explica o Pontífice - o reconhecimento histórico para recolher os testemunhos de vida, até o derramamento de sangue, dessas nossas irmãs e esses nossos irmãos, para que sua memória se destaque como um tesouro que a comunidade cristã salvaguarda. A pesquisa não se referirá apenas à Igreja católica, mas se estenderá a todas as denominações cristãs".

"Mesmo nestes nossos tempos – lê-se mais adiante na Carta de Francisco - em que estamos testemunhando uma mudança de época, os cristãos continuam mostrando, em contextos de grande risco, a vitalidade do Batismo que nos une. Não são poucos, de fato, aqueles que, mesmo sabendo dos perigos que enfrentam, manifestam sua fé ou participam da Eucaristia dominical. Outros são mortos em seus esforços para ajudar na caridade a vida dos pobres, para cuidar daqueles que são descartados pela sociedade, para valorizar e promover o dom da paz e o poder do perdão. Outros, ainda, são vítimas silenciosas, individualmente ou em grupos, das agitações da história. Com todos eles temos uma grande dívida e não podemos esquecê-los".

O trabalho da Comissão possibilitará, portanto, colocar lado a lado com os mártires, oficialmente reconhecidos pela Igreja, os testemunhos documentados - e são muitos, observa o Pontífice - desses "nossos irmãos e irmãs, dentro de um vasto panorama no qual ressoa a voz única da martyria dos cristãos".  A Comissão terá que se valer da "contribuição ativa" das Igrejas particulares, dos institutos religiosos e de todas as outras realidades cristãs.

"Em um mundo onde, às vezes, parece que o mal prevalece - conclui Francisco - estou certo de que a elaboração deste Catálogo, também no contexto do iminente Jubileu, ajudará os fiéis a ler também o nosso tempo à luz da Páscoa, haurindo do tesouro de uma fidelidade tão generosa a Cristo as razões da vida e do bem".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF