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sexta-feira, 7 de julho de 2023

Festa de todos os Pontífices Romanos

Igreja Católica Apostólica Romana (osaopaulo)

07 de julho

Festa de todos os Pontífices Romanos

História

Esta festa celebra, em uma única data, a memória de todos aqueles, entre os 266 Pontífices Romanos, venerados como Santos e Beatos: 82 Santos e 9 Beatos (até hoje, 2021). Com esta festa, que se realiza na Basílica de São Pedro, queremos recordar a missão de Pedro, que todos os seus sucessores continuam. Alguns deram testemunho, de modo heroico, do mandato de confirmar os irmãos, merecendo ser inscritos no álbum dos Santos e propostos para a veneração do povo cristão.

Evangelho: Lucas 22, 28-32
«Naquele tempo, Jesus disse aos seus apóstolos: “Vós tendes permanecido comigo nas minhas provações; eu, pois, disponho do Reino a vosso favor, assim como meu Pai o dispôs a meu favor, para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos senteis em tronos, para julgar as doze tribos de Israel. Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu rezei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos"».

“Simão, eu rezei por ti”

Pode parecer estranho, mas, geralmente, quando queremos apresentar os “grandes” personagens da história, procuramos colocar em evidência os seus grandes feitos, procurando, no máximo possível, deixar seus pontos fracos na penumbra.
O Evangelho escolhido para esta festa mostra-nos, porém, um Jesus que quer advertir Pedro e lhe prometer a sua ajuda: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu rezei por ti, para que a tua confiança não desfaleça”.
Estas palavras demonstram a garantia que deu a Simão: uma oração especial de Jesus para que a sua fé não desfaleça, sinal de que, sem Jesus, até a fé de Pedro pode enfraquecer. O ministério de Pedro não se realiza pelas suas qualidades e tampouco pela pretensão humana de fidelidade, que, pontualmente, esmoreceu, mas pela graça, que também triunfa nas suas fragilidades. A experiência do seu descrédito fez com que Pedro aprendesse que não podia depositar sua confiança apenas em suas forças pessoais e em qualquer fator humano, mas, sobretudo, em Cristo. Há ainda um segundo aspecto que emerge das palavras de Jesus, o anúncio da missão que lhe foi confiada: “E tu, por tua vez, confirma os teus irmãos".

Caminho de conversão de Pedro

Ao relermos os Evangelhos, descobrimos o perfil de Pedro e como seu caminho de conversão foi longo e penoso. Depois de aderir, prontamente, ao chamado de Jesus (Mt 4,18-22), Pedro se defrontou com tantas resistências. Em Cesareia de Filipe, Pedro não quis aceitar que Jesus tomasse o caminho para Jerusalém, onde seria morto, pois esperava um Messias poderoso e vitorioso (Mc 8,31ss); no Cenáculo, não quis aceitar que Jesus lhe lavasse os pés (Jo 13,8ss); no Jardim das Oliveiras, desembainhou a espada (Jo 18,10); no pátio, renegou o Mestre por três vezes (Mc 14,66ss). Enfim, Pedro alimentava grandes desejos e esperança em Jesus; no entanto, continuava a manter, em si, a imagem que tinha sobre o Messias: o fato de renunciar às próprias expectativas, para acolher, plenamente, o verdadeiro Messias esperado pelo povo, não foi fácil para ele. Requeria tempo, confiança, humildade, conversão. Esta experiência levou Pedro a aprender a "confirmar seus irmãos", sem julgar, mas com misericórdia, como Jesus a cultivou nele.

O ministério do Papa

Eis porque o Pedro de então e o Pedro de hoje - o Papa – precisam da oração de Jesus e pedem para ser sustentados pela oração do povo, pois, graças à oração, que os Papas Romanos puderam e continuam a cumprir o ministério que lhes foi confiado pelo Senhor Jesus, o maravilhoso Pastor do rebanho. E a promessa de oração, por parte de Jesus, demonstra a missão particular que Pedro recebeu na Igreja e para a Igreja.

A nossa oração, hoje

Neste dia, na Basílica de São Pedro, o povo de Deus entoa cânticos de louvor ao Senhor pelos Papas, que ele suscitou na Igreja e pela Igreja; e, ainda mais, por aqueles que deram testemunho do seu ministério, de modo exemplar e heroico, a ponto de serem venerados como Santos e Beatos. Por isso, eles devem ser os primeiros amigos, modelos e intercessores, sobretudo, aos que, hoje, são chamados a cumprir o ministério de Pedro.
Felizes e sustentados por esta multidão de santos Papas romanos, também nós somos estimulados a rezar pelo nosso Papa, para que, com a oração de Jesus e a nossa oração, ele possa cumprir o ministério que lhe foi confiado por Cristo e continuar a "confirmar seus irmãos".
Assim, as palavras com as quais o Papa Francisco costuma concluir seus pronunciamentos adquirem mais valor: "Por favor, não se esqueçam de rezar por mim".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A grandeza do Sangue de Cristo

O Corpo e o Sangue de Cristo (Cléofas)

A grandeza do Sangue de Cristo

 POR PROF. FELIPE AQUINO

A Igreja dedica o mês de julho à devoção do preciosíssimo Sangue de Cristo, derramado pelo perdão dos nossos pecados. Depois de meditar longamente sobre o Coração misericordioso de Jesus, no mês de junho, a mãe Igreja deseja que veneremos profundamente o preciosíssimo Sangue do Senhor.

Os judeus celebravam diariamente o “holocausto perpétuo”, dois cordeirinhos sem defeito eram imolados às seis horas da manhã e às seis da tarde, a fim de que o sangue do cordeiro oferecido a Deus obtivesse o perdão dos pecados do povo naquele dia. Esse cordeiro era apenas um sinal, uma prefiguração do verdadeiro Cordeiro que seria imolado na Cruz.

São João Batista o apresentou ao mundo dizendo: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). Sem o Sangue desse Cordeiro não há salvação. O Sangue precioso de Cristo foi prefigurado também naquele sangue do cordeiro pascal que os judeus colocaram nos umbrais das portas de suas casas, no dia da Páscoa, na saída do Egito, para que o anjo exterminador nenhum mal fizesse ao primogênito daquela casa. É sinal do Sangue do Cristo que nos protege de todos os males do corpo e da alma.

A devoção ao preciosíssimo Sangue de Jesus sempre esteve presente na Igreja desde o início e sempre aumentou através de solenidades, orações, escritos dos papas, e uma Ladainha para pedir a Deus perdão dos pecados e afastar de nós os males do corpo e da alma.

São Gaspar de Búfalo propagou fortemente esta devoção, tendo a aprovação da Santa Sé; por isso, é chamado de o “Apóstolo do Preciosíssimo Sangue”. O Papa Bento XIV (1740-1748) ordenou a missa e o ofício em honra ao Sangue de Jesus, que foi estendida à Igreja Universal por decreto do Papa Pio IX (1846-1878). O santo foi o fundador da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue – CPPS, em 1815. Nasceu em Roma aos 06 de Janeiro de 1786.

O Papa João XXIII (1958-1963) escreveu a Carta Apostólica “Inde a Primis”, sobre o preciosíssimo Sangue de Cristo, a fim de promover o seu culto, o que foi lembrado pelo Papa João Paulo II em sua Carta Apostólica “Angelus Domini”, onde repetiu o que João XXIII disse sobre o valor infinito do Sangue de Cristo, do qual “uma só gota pode salvar o mundo inteiro de qualquer culpa”.

O Sangue de Cristo representa a Sua Vida humana e divina, de valor infinito, oferecida à Justiça divina para o perdão dos pecados de todos os homens de todos os tempos e lugares. Quem for batizado e crer, como disse Jesus, será salvo (Mc 16,16) pelo Sangue de Cristo.

“Isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mt 26, 28).

Em cada Santa Missa a Igreja renova, presentifica, atualiza e eterniza este Sacrifício expiatório pela Redenção da humanidade. Em média, a cada quatro segundos essa oferta divina sobe ao Céu em todo o mundo.

O Catecismo da Igreja ensina que: “Nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de oferecer-se em sacrifício por todos” (§616); para isso era preciso um sacrifício humano, mas de valor infinito. Só Deus poderia oferecer este sacrifício; então, o Verbo divino, dignou-se assumir a nossa natureza humana, para oferecer a Deus um sacrifício de valor infinito. A majestade de Deus é infinita; e foi ofendida pelos pecados dos homens. Logo, só um sacrifício de valor infinito poderia restabelecer a paz entre a humanidade e Deus.

São Pedro ensina que fomos resgatados pelo Sangue do Cordeiro de Deus mediante “a aspersão do seu sangue” (1Pe 1, 2). “Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo” (1Pe 1,19).

Assim, o Sangue do Senhor nos libertou do pecado, da morte eterna e da escravidão do demônio. São Paulo diz: “Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5,9). Por seu Sangue Cristo nos reconciliou com Deus: “por seu intermédio reconciliou consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).

Com o seu Sangue Cristo nos resgatou, nos comprou, nos fez um povo Seu: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue” (At 20,29). “Por esse motivo, irmãos, temos ampla confiança de poder entrar no santuário eterno, em virtude do sangue de Jesus” (Hb 10,19).

“Cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça” (Ap 5,9).

Hoje esse Sangue redentor de Cristo está à nossa disposição de muitas maneiras. Em primeiro lugar pela fé; somos justificados por esse Sangue ensina S. Paulo: “Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu Sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5, 8-9). “Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1,7).

Este Sangue redentor está à nossa disposição também no Sacramento da Confissão; pelo ministério da Igreja e dos sacerdotes o Cristo nos perdoa dos pecados e lava a nossa alma com o seu precioso Sangue. Infelizmente muitos católicos ainda não entenderam a profundidade deste Sacramento e fogem dele por falta de fé ou de humildade. O Sangue de Cristo perdoa os nossos pecados na Confissão e cura as nossas enfermidades espirituais e psicológicas.

Este Sangue está presente na Eucaristia: Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. “O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo?.. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor” (1 Cor 10,16-27).

Na Comunhão podemos ser lavados e inebriados pelo Sangue redentor do Cordeiro sem mancha que veio tirar o pecado de nossa alma. Mas é preciso parar para adorá-lo no Seu Corpo dado a nós. Infelizmente muitos ainda comungam mal, com pressa, sem Ação de Graças, sem permitir que o Sangue Real e divino lave a alma pecadora e doente.

“Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,53-56).

É pela força do sangue de Cristo que os santos e os mártires deram testemunho de sua fé e chegaram ao céu: “Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). “Estes venceram-no por causa do sangue do Cordeiro e de seu eloquente testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte” (Ap 12, 11).

É pelo Sangue derramado que Ele venceu e se tornou Rei e Senhor: “Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é Verbo de Deus… Um nome está escrito sobre o seu manto: Rei dos reis e Senhor dos Senhores” (Ap 19,13-16).

Prof. Felipe Aquino

DISCURSO ÀS ASSOCIAÇÕES DEDICADAS AO CULTO DO SANGUE DE CRISTO, AOS SÓCIOS DA AVIS E A VÁRIOS GRUPOS DE FIÉIS

Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Neste primeiro dia do mês de Julho, consagrado pela piedade cristã à meditação do “Sangue de Cristo, preço do nosso resgate, penhor de salvação e de vida eterna” (João XXIII, Carta Apost. Inde a primis, em AAS, 52 [1960] 545-550), tenho a alegria de me encontrar com todos vós, membros das Famílias religiosas masculinas e femininas e das associações católicas dedicadas ao culto do preciosíssimo Sangue de Jesus.

Às Famílias religiosas e às Associações católicas dedicadas ao culto do preciosíssimo Sangue de Cristo
Ao saudar-vos com afeto, agradeço-vos a presença e dirijo um reconhecido pensamento ao Diretor Provincial dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, pelas amáveis palavras que quis dirigir-me também em vosso nome.
Até à reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II, neste dia celebrava-se também liturgicamente em toda a Igreja católica o mistério do Sangue de Cristo. Depois, o meu Predecessor de venerada memória, Paulo VI, uniu a recordação do Sangue de Cristo à do seu Corpo, na solenidade que agora tem precisamente o nome do “Sacratíssimo Corpo e Sangue de Cristo”. Em toda a celebração eucarística, de facto, torna-se presente, juntamente com o Corpo de Cristo, o seu precioso Sangue da nova e eterna Aliança, derramado por todos em remissão dos pecados (cf. Mt 26, 27).

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs, o mistério do Sangue de Cristo é grandioso! Desde os primórdios do cristianismo, ele atraiu a mente e o coração de inúmeros cristãos e, de modo particular, dos vossos Santos Fundadores e Fundadoras, que dele fizeram o estandarte das vossas Congregações e Associações. O Ano jubilar traz novo impulso a uma devoção tão significativa. Com efeito, ao celebrarmos Cristo a dois mil anos do seu nascimento, somos também convidados a contemplá-Lo e a adorá-Lo na humanidade santíssima assumida no seio de Maria e unida, de maneira hipostática, à Pessoa divina do Verbo. Se o Sangue de Cristo é preciosa fonte de salvação para o mundo, isto deriva precisamente da sua pertença ao Verbo que se fez carne para a nossa salvação.

O sinal do “sangue derramado”, como expressão da vida doada de modo cruento em testemunho do amor supremo, é um ato da condescendência divina à nossa condição humana. Deus escolheu o sinal do sangue, porque nenhum outro sinal é tão eloquente para indicar o envolvimento total da pessoa.

O mistério de semelhante doação encontra a sua nascente na vontade salvífica do Pai celeste e a sua realização na obediência filial de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, através da obra do Espírito Santo. A história da nossa salvação traz, portanto, a marca e o selo indelével do amor trinitário.

3. Diante desta maravilhosa obra divina, todos os fiéis se unem a vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, entoando hinos de louvor a Deus Uno e Trino no sinal do precioso Sangue de Cristo. Mas à confissão dos lábios deve unir-se o testemunho da vida, segundo a exortação que nos vem da Carta aos Hebreus: “Portanto, irmãos, já que pelo sangue de Cristo temos uma fundada esperança no acesso ao santuário… atendamos uns aos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras…” (10, 19.24).

Aos membros da AVIS

E muitas são as “boas obras” que a meditação do sacrifício de Cristo nos inspira. Com efeito, ele impele-nos a dar a nossa vida por Deus e pelos irmãos sem nos pouparmos, “usque ad effusionem sanguinis”, como fizeram muitos mártires. Como não reconhecer sempre de novo o valor de todo o ser humano, quando para cada um, sem distinções, Cristo derramou o seu sangue?

A meditação deste mistério impele-nos, em particular, para quantos poderiam ser curados dos seus sofrimentos morais e físicos e, ao contrário, são deixados definhar às margens duma sociedade da opulência e da indiferença. É nesta perspectiva que se evidencia em toda a sua nobreza o serviço prestado por vós, membros da AVIS. Saúdo-vos com muito afeto, juntamente com o vosso Presidente, a quem agradeço as palavras que me dirigiu. Não vos limiteis a dar alguma coisa que vos pertence; dai algo de vós mesmos. O que há de mais pessoal do que o próprio sangue? Na luz de Cristo, o facto de doar ao irmão este elemento vital, adquire um valor que transcende o horizonte simplesmente humano. A vós, sócios da AVIS, dirige-se portanto a expressão da minha estima e do meu encorajamento.

Aos fiéis da Diocese de Bérgamo

4. Desejo agora dirigir a minha saudação cordial aos peregrinos da Diocese de Bérgamo, guiados pelo seu Bispo, D. Roberto Amadei, a quem agradeço os sentimentos expressos no caloroso discurso. Caríssimos, com a visita hodierna quereis manifestar o vosso afeto e a vossa proximidade ao Sucessor de Pedro. Obrigado de coração! Ao longo dos séculos a vossa Igreja manteve estreitíssimos vínculos de comunhão com a Sé Apostólica. Como não recordar, neste contexto, o vosso conterrâneo e meu Predecessor, o Papa João XXIII, próximo de ser inscrito no Álbum dos Beatos? O caminho de oração e de meditação que vos conduz aos lugares jubilares seja para vós, caríssimos, ocasião para reafirmar a vossa convicta adesão a Cristo, “Porta santa” para entrar no reino do Pai. Ao retornardes às vossas casas, levai a saudação e o encorajamento do Papa aos sacerdotes, aos consagrados, às consagradas e a todos os irmãos e irmãs na fé. O Ano Santo seja para cada um estímulo a reavivar a fé e a prosseguir no empenho da nova evangelização, que encontra confirmação e corroboração na caridade.

A outros peregrinos italianos

5. Por fim, o meu pensamento dirige-se aos fiéis de Santa Maria da Vitória, de Montebelluna; de São Bernardino, em Tordandrea de Assis; de São João Baptista, em Acconia de Curinga; assim como ao Instituto “Beata Maria De Mattias”, de Frosinone, e à Comunidade da “Pequena Casa”, de Aversa.

Caríssimos, a celebração dos dois mil anos da encarnação do Filho de Deus vos encontre vigilantes na fé, firmes na esperança e fervorosos na caridade. Cristo passa ainda hoje ao lado de cada um para lhe oferecer o dom da infinita misericórdia de Deus. Sede também vós ricos dessa misericórdia, como o é o nosso Pai que está nos céus.

Com estes sentimentos e no amor d’Aquele que nos “aspergiu com o seu sangue” (cf. 1 Pd 1, 2), abençoo-vos de todo o coração.

Papa João Paulo II
(01/07/2000)

Fonte: https://cleofas.com.br/

Santa Macrina: audácia cristã feminina na propagação do cristianismo

Cardeal Leonardo Sandri na abertura das celebrações do centenário de fundação das monjas basilianas, filhas de Santa Macrina, em 01.05.2022 (Vatican Media)

"Macrina é modelo para as mulheres Consagradas no que se refere ao amor pela Palavra de Deus, sua escuta orante, sua prática de solidariedade com os pobres, sua articulação a respeito das regras da Vida Consagrada e da liderança na Comunidade, vivendo a alegria do Evangelho. Seu caráter, sua autenticidade, sua liderança ímpar, articulando as Comunidades eclesiais formam o retrato da mulher no Cristianismo dos quatro primeiros séculos da Igreja."

Por Irmã Maria Freire da Silva
O cristianismo nos primeiros séculos revela uma grandiosidade na radicalidade e no seguimento a Jesus Cristo. Santos e mártires formaram a Sinodalidade do Caminho do Mestre. Mulheres e homens entregaram sua vida na construção da Comunhão e da Participação na Igreja. Ensinaram e aprenderam no itinerário, deixando-se conduzir pelo Espirito Santo, na leitura assídua da Palavra de Deus, no serviço aos pobres e doentes de seu tempo. Embora o retrato que se tem das mulheres é de dedicação à família, ao marido, não é possível esconder tantas mulheres que lideraram a vida das Comunidades, que foram testemunhas do evento Pascal de Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado na Vida Eclesial e na criação. Mulheres que ultrapassaram o domínio do masculino e aderiram ao Cristianismo como espaço de liberdade e de pertença a um Projeto maior que incluía a formação do povo.

O mês de julho chega até nós apresentando o nome de vários santos e santas. Entre tantos, está Santa Macrina, virgem (†379), e irmã dos santos: Basílio Magno, Gregório de Nissa e Pedro de Sebaste. Macrina era a filha mais velha de dez irmãos. Nasceu na Cesaréia, na Capadócia, outrora um reino independente e Província do Império Romano a partir de 14 d.C. Situados em torno do rio Halys — fronteira natural entre a Ásia Menor romana e as regiões interioranas — o arcebispado de Cesaréia formava, ao lado de Nissa (bispado), uma área fortemente cristianizada a partir de 325. Sua família pertencia a um segmento da aristocracia helenizada da Ásia Menor que prontamente aceitou o cristianismo (TEJA, 1989: 92).

Versada nas Sagradas Escrituras, retirou-se para levar uma vida solitária no mosteiro de Annesi, no norte da Turquia, antes propriedade de sua família.  Macrina era originária de uma família muito rica da Capadócia,  era dotada de dotes naturais, afirmava seu irmão Gregório de Nissa, o que sua mãe aproveitou para ensinar-lhe as Sagradas Escrituras, onde encontrou terra fértil. Com o decorrer do tempo, Macrina amassava o trigo para a Eucaristia. Era absorta em Deus e zelosa com os pobres, aos quais distribua roupas e alimentos.

Assim, Macrina, de quem Gregório concorda em escrever, "para que uma vida tão luminosa não fosse ignorada e não ficasse no esquecimento, sem proveito, obra de uma mulher que, em virtude de sua vida filosófica, alcançou o mais alto grau de virtude". Macrina e outras virgens foram consideradas verdadeiros pilares do cristianismo.  Garantiam a pureza original do  pensamento cristão. Macrina possuía uma excelente bagagem intelectual:  conhecia autores cristãos, como Orígenes, ademais, lia as obras dos irmãos (CORRIGAN, s/d: Internet).

É importante destacar o papel de Macrina e outras virgens na elaboração de retiros para os quais afluíam, jovens, pobres e também viúvas ricas que decidiram ingressar na Vida Religiosa. Contribuiu na educação de seus irmãos, influenciando-os muito, três dos quais também se dedicaram à Vida Contemplativa. Gregório diz que a irmã o levou a desprezar o orgulho de seu conhecimento e o levou ao caminho da humildade.

Basílio, que havia estudado retórica em Atenas, após longo período de estudos, retorna um hábil retórico. Ele estava mais do que inchado com o orgulho da oratória e desprezava os dignatários locais, superando em sua própria opinião todos os homens de liderança e alta posição.
No entanto, Macrina tomou-o pela mão, e com tanta rapidez o conduziu também na direção da marca da filosofia, que renunciou às glórias deste mundo e desprezou a fama conquistada pela fala (...) Sua renúncia à propriedade foi completa, de modo que nada deveria impedir uma vida de virtude. VM [966C]

A influência de Macrina,  juntamente, com seu irmão Basílio, foi notável. Desde o mais idoso, ela retransmitiu as tradições da Igreja da Neocesareia  de forma relevante, incluindo as mudanças do origenismo de seu apóstolo, Gregório Taumaturgo com todos aqueles que impelia à vida contemplativa a partir do texto das Sagradas Escrituras.  Graças a ela, Basílio tornou-se eremita, fundou mosteiros e elaborou as regras que regiam a vida monástica da Igreja Ortodoxa — Basílio representa o novo homem das elites dominantes do Baixo Império: aristocrático e proprietário de terras ligado à vida urbana, amante da cultura grega, perseguido e criticado por seu cristianismo (TEJA,  1989: 94). De Macrina a São Bento, a história do monaquismo no mundo cristão foi assim modelada, baseada no ascetismo rigoroso, na leitura das Escrituras e no papel das virgens como metáforas vivas do Paraíso Perdido.

Através da história sobre sua vida, também podemos observar a atuação de uma mulher como líder intelectual de sua família. Como guia espiritual e protetora ela era a "mestra", a senhora. O modelo de Macrina ajudou a fortalecer uma ideia corrente da época, de que as mulheres Consagradas eram um repositório de valores para as comunidades cristãs. Em uma carta de Basílio aos habitantes de Neocesareia, mostra a força da imagem de Macrina, a audácia  cristã feminina, na propagação do cristianismo do século IV.

Por ocasião de sua morte, Gregório de Nissa, seu irmão ao vesti-la com um linho fino como honra, junto com a diaconisa Lampadion, mestra do coro, encontrou em seu coração preso por uma corrente, um anel onde estava gravado a Cruz, e dentro a relíquia do lenho da Cruz e junto uma Cruz de ferro. Sem dúvida é um dos primeiros testemunhos da devoção à Cruz do Senhor. Nissa afirma que sua irmã recebeu o dom da profecia, o dom dos milagres, o dom de curar e o dom de expulsar demônios.

Macrina é modelo para as mulheres Consagradas no que se refere ao amor pela Palavra de Deus, sua escuta orante, sua prática de solidariedade com os pobres, sua articulação a respeito das regras da Vida Consagrada e da liderança na Comunidade, vivendo a alegria do Evangelho. Seu caráter, sua autenticidade, sua liderança ímpar, articulando as Comunidades eclesiais formam o retrato da mulher no Cristianismo dos quatro primeiros séculos da Igreja.
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*Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo, e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Penúltimo parágrafo!

Enchei-vos do Espírito Santo de Deus (arqbrasilia)

Penúltimo parágrafo!

Considerações sobre a Carta dos Bispos aos Presbíteros de maio de 2010

13 a 16 de maio de 2010 foram dias de graça para Brasília e para o Brasil. O XVI Congresso Eucarístico Nacional realizado no coração do Brasil bombardeará o sangue bom para todo o nosso querido Brasil. A antessala do Congresso foi a 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que aconteceu também em Brasília. Um dos frutos daquela magna Assembléia foi a belíssima Carta dos Bispos aos Presbíteros. Eu, como sacerdote, gostaria de agradecer aos nossos bispos pela proximidade a todos nós, presbíteros, seus mais imediatos colaboradores, e também a orientação muito oportuna nesses tempos de desconcerto: muito obrigado, senhores bispos!

Efetivamente, os casos vergonhosos, já publicados, envolvendo os ministros do Senhor, têm causado sofrimento ao Povo de Deus. Nós, presbíteros, perdemos um pouco a credibilidade. Esses dias um irmão sacerdote comentava com tristeza que ao sair à rua, uma pessoa de uns 40 anos lhe insultou aos gritos: “–pederasta!”. Quanta indignação! Isso não é justo!

Ao mesmo tempo, paradoxalmente, aumentou a credibilidade dos sacerdotes. Quando as pessoas vêem nas suas paróquias os seus párocos tão entregues à missão evangelizadora; quando vêem que são homens que rezam, que visitam os doentes, que atendem as confissões e lhes celebram a Eucaristia piedosamente; quando o nosso povo vê que o sacerdote ama a sua vocação e promove novas vocações, percebe que essas notícias são exageradas e vendedoras de gato por lebre.

O mais importante é a glória de Deus e o bem das almas!

Nesse panorama, a Carta dos Bispos aos Presbíteros nos oferece um verdadeiro e maravilhoso horizonte de vida e espiritualidade sacerdotais. Trata-se de uma carta em continuidade com os documentos eclesiais sobre o sacerdócio mais conhecidos, como o Decreto Presbyterorum Ordinis do Concilio Vaticano II, a Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis do Papa João Paulo II e o Diretório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros da Congregação para o Clero. Depois de ler essa carta, acolhendo-a de coração agradecido aos nossos bispos, chamou-me a atenção especialmente o penúltimo parágrafo por ser tão concreto e tocar, por assim dizer, as questões mais importantes e mais urgentes.

O texto reza assim: “Pedimos que zelem pela comunhão eclesial, alimentando-a com a celebração cotidiana da Eucaristia, com a oração fiel e generosa, de modo especial a Liturgia das Horas, com a busca freqüente do Sacramento da Penitência e a orientação espiritual, com um estilo de vida sóbrio, que tome distância dos apelos do consumismo, da cultura da banalidade, da invasão do secularismo. Recomendamos, também, que tenham um zelo especial na administração dos bens que lhes são confiados, destinados, sobretudo, para o serviço dos mais pobres”.

Gostaria de partilhar com os irmãos sacerdotes algumas das impressões que essas palavras causaram na minha alma sacerdotal. Os temas que saem nesse parágrafo são de tal densidade que valeria a pena estudar cada um deles, meditá-los, e fazer propósitos para pô-los em prática com maior amor:

–          comunhão eclesial;

–          celebração cotidiana da Eucaristia;

–          oração fiel e generosa, de modo especial da Liturgia das Horas;

–          confissão freqüente e direção espiritual;

–          virtude da pobreza e sobriedade;

–          virtude da obediência e responsabilidade pessoal;

–          serviço aos pobres.

Comunhão eclesial

Há, efetivamente, muitas palestras sobre fraternidade e sobre comunhão; há muitas reuniões. E isso é bom, mas… O que é, concretamente, essa realidade que chamamos “comunhão eclesial” que é alimentada pela celebração da Eucaristia, da Liturgia das Horas, pelo serviço aos pobres, etc.? Em primeiro lugar, a comunhão é um dom que vem de Deus-comunhão – a Trindade Santíssima. Essa comunhão se deixa participar na terra na communio que é a Igreja. A maneira de cada presbítero viver a comunhão é variada e gradativa: comunhão com Deus, com o Papa, com os bispos em comunhão com o Papa, com os irmãos no presbitério, com todos os demais fiéis, especialmente aqueles que lhe foram confiados.

O sacerdote é um homem que ama Igreja: o presbítero, configurado a Cristo Cabeça, é, em Cristo, esposo da Igreja. O normal é que o esposo ame a sua esposa! Desse amor pela Igreja deve brotar uma união efetiva e afetiva para com o Santo Padre e com os Bispos em comunhão com ele. Outro fruto desse amor por Cristo e pela Igreja é a fraternidade no próprio presbitério e a caridade pastoral que nos leva a cuidar do povo que nos foi confiado. Essa união tem que traduzir-se numa disposição para aceitar com uma obediência amorosa tudo o que a Igreja ensina. Significa formar uma muralha de unidade doutrinal forte, de tal maneira que não fique nenhuma só brecha para o assalto do inimigo nessa cidade de Deus, que é a Igreja. Precisamos estudar, ler, conhecer a fundo o Magistério eclesiástico. Livre-nos Deus de “ser do contra”. Não permitamos nenhuma fissura em questões de fé e de moral. Caso isso acontecesse, teríamos fundadas razões para duvidar das nossas muitas reuniões “cheias de fraternidade”.

Comunhão eclesial significa também obediência ao próprio bispo. Obedecer de verdade! Logicamente, o plano de pastoral pode ser melhorado. Nós somos colaboradores e podemos, e devemos em algumas ocasiões, manifestar as nossas opiniões para melhorar as coisas na Diocese. Façamo-lo com discrição, sem fazer guerra, conversando franca e amigavelmente com o nosso bispo. Caso o bispo ache melhor fazer de outra maneira, contanto que não seja ofensa de Deus, bendita seja o Senhor. Obedeçamos!

Comunhão eclesial é procurar que as nossas comunidades paroquiais sejam presença viva da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, com as características próprias da Igreja particular da qual faz parte. Tudo isso sem nenhuma reserva e em todas as suas expressões: Missas bem celebradas, horários de confissões adaptados às necessidades reais das pessoas (horário de confissão só durante o dia não é adaptado às necessidades daquelas pessoas que trabalham pela manhã e pela tarde!), estudo da Bíblia e do Magistério, reza duma parte do rosário, direção espiritual das pessoas. É preciso acreditar, de verdade, que Deus chama a todas as mulheres e a todos os homens a serem santas e santos e que nós, sacerdotes, chamados também à santidade, somos instrumentos nas mãos de Deus para que ele faça verdadeiras obras de arte das pessoas que estão encomendadas à nossa caridade pastoral. Entre outras coisas, comunhão eclesial é pensar com um coração grande, universal, com um interesse por toda a Igreja. Interessemos-nos também pela Igreja gloriosa, para contarmos com a sua intercessão, e pela Igreja padecente, para ajudá-la em sua purificação. Também nós, Igreja militante, precisamos purificar-nos!

Celebração cotidiana da Eucaristia

Desde o Concilio Vaticano II, pelo menos, já é comum afirmar que a Eucaristia é a fonte, o centro e a cima da vida espiritual de cada cristão e de cada assembléia que se reúne para louvar ao Pai por Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo. Procuremos celebrar a Santa Missa sempre com a alegria da primeira: dignamente, atenciosamente, devotamente! Celebrar a Santa Missa todos os dias não é um dever para nós, é simplesmente o nosso tesouro, o nosso bem, o nosso centro, o nosso tudo. Se não a celebrarmos, acabaremos descentrados.

Com amor generoso e total, não tenhamos reparos em oferecer o melhor que temos ao culto divino, também no que se refere ao exterior, reflexo do interior: igreja e sacristia limpas; paramentos sacerdotais belos e dignos na estética e na limpeza, com a nobre simplicidade que o Concilio pede na liturgia (cfr. SC 34); não nos esqueçamos que “a não ser que se disponha de outro modo, a veste própria do sacerdote celebrante, tanto na Missa como em outras ações sagradas em conexão direta com ela, é a casula ou planeta sobre a alva e a estola” (IGMR, 337). Mais ainda: que os cálices, as patenas, as galhetas, os corporais, os sanguíneos, os manustérgios e tudo o que se refere ao culto eucarístico esteja bem cuidado! Não tenhamos medo: esses detalhes de amor para com o nosso Deus não escandalizam as pessoas mais pobres, que são – geralmente – as mais generosas para com Deus.

A melhor catequese sobre a Missa é própria Missa bem celebrada: as rubricas, os cantos, a concentração, tudo isso transmite uma esfera sagrada que expressa que estamos diante de um mistério transcendente e próximo ao mesmo tempo. Que bom seria se um dos livros da nossa biblioteca sacerdotal fosse a Instrução Geral do Missal Romano lida e relida várias vezes; de fato, o texto oficial da CNBB saiu em 2008.

Um dos frutos do Congresso Eucarístico poderia ser exatamente esse: que as nossas celebrações eucarísticas sejam expressivas, verdadeiramente expressivas, do Mistério de Deus. Como a Eucaristia é o coração da vida espiritual dos fiéis, não nos esqueçamos que nós, sacerdotes, temos certa semelhança com aqueles bons médicos que em cada intervenção nesse órgão tão central vão com cuidado. É melhor seguir a experiência da Igreja e não inventar nem experimentar por nossa conta. Poderia ser fatal!

Não se trata de defender princípios “tradicionalistas”. Tampouco se trata de ser rubricistas e pouco pastorais. A Tradição da Igreja admite progresso no entendimento e na vivência. A tradição litúrgica, salvo o substancial, admite mudança. No século passado, Pio X, Pio XII, João XXIII e Paulo VI foram bem conhecidos por introduzir oportunas reformas na liturgia e, sem dúvida, podem ser introduzidas outras no futuro (nenhum problema!). Graças a Deus, queridos irmãos sacerdotes, na Igreja há quem faz mudanças, os Papas e os bispos juntos com o Papa. Nós, simplesmente, não recebemos esse encargo.

Oração fiel e generosa

Todos nós recordamos daquelas imagens tão edificantes do queridíssimo João Paulo II na sua capela privada em oração. Uma oração fiel e generosa, principalmente da Liturgia das Horas, mas não só da Liturgia das Horas, é imprescindível. Já sabemos que temos que celebrar todos os dias, integralmente, a Liturgia das Horas: Oficio de Leituras, Laudes, uma Hora Média, Vésperas e Completas. No entanto, precisamos alimentar diariamente a nossa vida espiritual: oração de meditação, uma parte do Rosário, leitura espiritual, exames de consciência, visitas ao Santíssimo, etc. Por quê? Por que Deus nos ama, ele nos chamou e nós o amamos apaixonadamente.

Rezar é fácil! Rezar não é fácil! É fácil porque se trata de falar, dialogar, conversar com o Pai e com o Filho e com o Espírito Santo. Não é fácil por vários motivos. Depois de um dia cheio de tarefas pastorais, estamos cansados; daí a importância de não deixarmos a oração para as últimas horas, mas encher o nosso dia com a oração. Numa sociedade barulhenta, o silêncio resulta incômodo, também para nós; não tenhamos medo ao silêncio da oração no dia-a-dia, nos dias de recolhimento e nos retiros espirituais. Nós não rezamos porque gostamos ou deixamos de gostar, mas porque Deus gosta, porque queremos ser fiéis e sabemos que sozinhos é-nos simplesmente impossível.

Que edificante para o povo ver o seu pároco de joelhos diante do Santíssimo em oração pessoal, não por dois minutinhos, mais por um tempo razoável. O sacerdote é, em Cristo, mediador, não somente durante a celebração eucarística, mas em todos os momentos. Como é importante rezar, ser piedosos e orar muito pelo povo que nos foi confiado. Lembremo-nos do Cura d’Ars rezando durante horas e horas diante de Jesus Sacramentado pela conversão do seu povoado. A graça operou maravilhas em Ars! E pode fazer maravilhas nas nossas paróquias!

Confissão freqüente e direção espiritual

É comum escutarmos que um bom confessor é sempre um bom penitente. E isso é verdade! O fato de um sacerdote confessar-se semanalmente ou quinzenalmente não é nenhum exagero. De fato, o sacerdote, ministro de Cristo, deseja parecer-se cada vez mais com aquele que representa: Jesus Cristo. Com esses vivos desejos, o presbítero percebe a necessidade de contínuas purificações para que todas as suas ações sejam cada vez mais atuações de Jesus Cristo através dele.

O pecado sempre é feio, Deus sempre é belo. Há uma oposição radical entre Deus e o pecado, entre a beleza e a feiúra. Sem dúvida, Deus é Uno, bom, verdadeiro e belo. Todo o nosso ser, templo do Espírito Santo, deve ser cada vez mais à semelhança do Senhor. Deus sempre atua através dos seus sacerdotes, e infalivelmente nos Sacramentos. Mas, é verdade, Deus atua mais através dos sacerdotes mais santos. Quem é “santo santifique-se ainda mais” (Ap 22,11), nos diz o Espírito Santo.

Direção espiritual! Não é coisa só do tempo do Seminário. Não! Como é bom poder contar com outro irmão sacerdote com quem partilhar – com toda sinceridade – o próprio caminho espiritual, os nossos êxitos e fracassos! O diretor espiritual nos dará conselhos, idéias, sugestões, que nos ajudarão a ver aquelas coisas que nós mesmos não conseguimos ver em nós, que nos farão estar sempre na presença de Deus, que nos mostrarão metas a alcançar na vida espiritual. A direção espiritual é uma ajuda eficaz na pastoral e é, simplesmente, uma garantia de fidelidade.

A virtude da pobreza e a sobriedade

Os sacerdotes seculares não fazem votos de pobreza, castidade e obediência, como os religiosos-sacerdotes. Isso não quer dizer que não tenhamos que viver as virtudes da pobreza, da obediência e da castidade, não como votos, mas como virtudes, como qualquer cristão. Ao mesmo tempo, a causa de um novo título, o da ordenação sacerdotal, o presbítero tem que ir adiante nessas virtudes mostrando o caminho ao Povo de Deus. Recordemo-nos que essas virtudes foram vividas perfeitamente por Cristo e que os Apóstolos o imitaram. Portanto, a nossa pobreza sempre é cristológica e apostólica!

O desprendimento, também dos bens materiais, é essencial para que tenhamos um coração realmente entregue a Deus e aos irmãos. Que pena se depois de renunciarmos tantas coisas, ficássemos apegados a uns míseros reais… Que bobagem!

Tenhamos sempre consciência de que nós entregamos tudo a Deus e de que o nosso tesouro é seguir o Cristo pobre, desapegado dos bens dessa terra. Nós somos Cristo que passa pelas ruas das nossas cidade e que vai curando, pregando, expulsando demônios, chamando as pessoas para viver bem perto de Deus. Os bens dessa terra têm que estar ao serviço de Deus. Daí a importância de levar em sério a administração da paróquia de uma maneira bastante profissional, de evitar os gastos desnecessários, de sermos também nós generosos com os mais pobres (nós que tanto falamos do dízimo aos nossos fiéis!). Uma coisinha: a roupa clerical também ajuda a viver a virtude da pobreza, pois dessa maneira evitaremos, por exemplo, a preocupação da moda: um sacerdote que se veste segundo o seu estado sempre está na moda!

A virtude da obediência e a responsabilidade pessoal

“Prometes respeito e obediência a mim e aos meus sucessores?” Essa foi uma das perguntas que o bispo nos fez no dia da nossa ordenação. E nós respondemos cheios de convicção: “Prometo”. Realmente, seria muito interessante repassar de vez em quanto esses momentos que tanto marcaram a nossa vida. De fato, é exatamente isso que fazemos na quinta-feira santa ao renovar as promessas sacerdotais.

Nós amamos a liberdade, que é “irmã” da responsabilidade. A liberdade é aquela capacidade que Deus nos deu para que façamos o bem de maneira inteligente e sem nenhuma coação. Infelizmente, é possível que também nós, sacerdotes, funcionemos com um conceito de liberdade mundano. A liberdade de eleição é somente um sinal de que há liberdade, mas não é a essência da liberdade, muito menos da liberdade cristã, que leva consigo, necessariamente, a identificação da nossa vontade com a Vontade de Deus. Cristo, totalmente livre, submeteu-se em tudo ao Pai. Esse é o nosso modelo de liberdade, e de obediência!

Uma liberdade concebida dessa maneira nos faz mais verdadeiros, nos faz mais nós mesmos. Anteriormente, falávamos de liberdade como capacidade de fazer o bem de maneira inteligente. Logicamente, liberdade e obediência, na vida do cristão, e em conseqüência do presbítero, precisam estar sempre unidas. Como é importante aprender a obedecer livremente e ser livre obedecendo. Não é um mero jogo de palavras: quando se recebe uma ordem, é mais obediente e mais livre aquela pessoa que é capaz de obedecer da maneira mais perfeita possível. Nesse desejo de obedecer bem, entra em jogo a nossa inteligência e vontade, e a graça de Deus.

Obediência cadavérica? Nem pensar! Obediência de seres vivos, dotados de uma capacidade intelectual e volitiva e elevados pela graça de Deus. Concretamente, obedecer ao Papa e ao bispo diocesano é, para cada um de nós, identificação com Cristo que obedeceu em tudo. Além do mais, é garantia de eficácia apostólica. Se cada um quisesse fazer a sua própria “diocese paroquial”, a pastoral iria a menos e se mostraria – mais cedo ou mais tarde – a deterioração que isso implica para a unidade católica.

Serviço aos pobres

Pode-se afirmar com toda segurança que nós – Igreja no Brasil – fizemos a opção preferencial pelos pobres. Graças a Deus, pode-se observar nas paróquias diversas atividades em favor dos mais necessitados. É muito edificante ver o sacrifício de muitos sacerdotes para levar adiante tantas iniciativas nesse campo. Em todo o Brasil há uma sensibilidade geral para esse tema. Sem dúvida, tudo isso está profundamente enraizado no Evangelho.

O Papa Bento XVI, no seu Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, afirmou: “A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos leva à comunhão: o encontro com Deus é, em si mesmo e como tal, encontro com os irmãos, um ato de convocação, de unificação, de responsabilidade para o outro e para com os demais. Neste sentido, a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza (Cf. 2 Cor 8,9)” (DE, nº. 3).

Nós, presbíteros, não podem esquecer-nos, no entanto, que o nosso trabalho a favor dos mais pobres nas suas mais diversas manifestações (há também uma pobreza espiritual que não é boa: pecado, ignorância, falta de educação, etc.) tem que estar banhada dessa característica: pastoral. Explico-me: nós não somos agentes sociais, nós somos pastores do rebanho do Senhor e como tais devemos cuidar das ovelhas. Como bons pastores procuraremos, em primeiro lugar, rezar por todas essas pessoas confiadas ao nosso cuidado, pois, por mais que façamos, sempre há um campo imenso aonde nós não chegamos, mas que a oração abarca. Em segundo lugar, a nossa atividade em favor dos irmãos, não pode se converter em ativismo. Seja a nossa ação fruto da contemplação dos mistérios de Deus. A oração deve ocupar o primeiro lugar!

É importante saber organizar as coisas, para que não estejamos sempre à frente. Como é bonito passar despercebidos! Por outro lado, há tantos leigos que sabem fazer coisas tão bem feitas e que nós não temos nem idéia. É importante que sejamos conscientes dos nossos próprios limites e deixemos que os outros trabalhem na vinha do Senhor, impulsionando-os e apoiando-os, coisa que sempre se agradece ao padre.

Muito obrigado, senhores bispos, porque essa Carta que nos fez pensar, refletir e fazer propósitos para melhorar a nossa vida e ministério sacerdotais santificando-nos nesse trabalho tão santo e divino ao santificar os outros com ele.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
(Diocese de Anápolis-GO)

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Igreja e sociedade

Igreja e sociedade (fabad)

IGREJA E SOCIEDADE

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Apesar das tentativas de prescindir da religião e do sagrado, do secularismo e do indiferentismo religioso que emergem com força na atualidade, o cristão sabe que sua identidade depende da sua relação com tudo o que o circunda. Para não perder sua essência, a fé cristã precisa ocupar-se da história, porque nela se realiza a abertura do ser humano para a transcendência. 

Nessa convergência entre o visível e o invisível, o humano encontra o sentido, a cura e a salvação de toda sua existência. Ainda que a sociedade moderna esteja prisioneira do consumismo e do utilitarismo, a Igreja há de orientar-se por valores baseados numa sociedade em que a civilização do amor encontre seu espaço e novas oportunidades.  

A fé cristã não prega a separação do mundo e nem a plena identificação com as realidades terrestres.  Permanece uma tensão entre o anúncio das alegrias de tudo o que existe por obra de Deus e conforme seu plano e as miopias do tempo que destroem a possibilidade de viver conforme o desejo do Criador. Essa fé não pode ser entendida de modo unilateral, intimista e espiritualista. Tal compreensão reduz o enfoque integral da salvação que Cristo revelou.   

O Cristianismo não há de se preocupar somente com as pessoas individualmente, dando-lhes sentido para a existência, mas também e, necessariamente, há de se ocupar com as relações sociais que determinam e legitimam a vida do indivíduo como ser criado para a comunhão e não para a solidão.  

Na busca de uma nova racionalidade e novas razões para sonhar com um futuro melhor, a Doutrina Social da Igreja oferece um novo humanismo, cuja inspiração comunional vem da própria Santíssima Trindade. Cada pessoa humana, na sua estrutura de ser e de agir, é um ícone da Trindade, quando o Pai, o Filho e o Espírito Santo são distintos, mas unidos, porque é comunhão infinita de amor. Em sendo a imagem de Deus, cada ser humano é chamado a viver na comunhão, na reciprocidade do dom, na partilha e na comunicação do próprio ser. Tudo em vista do serviço desinteressado ao outro.  

A comunidade dos seguidores de Jesus encontra, na fé trinitária, uma casa e escola de comunhão, cuja meta é o Reino de Deus, e a Trindade será tudo em todos. Tal percepção faz de cada pessoa um protagonista de novas relações, vencendo o egoísmo e os interesses privados. A profecia, assim, se expande nos relacionamentos qualificados pelo desejo de comunhão solidária e na preocupação preferencial para com aqueles que têm seus direitos fundamentais negados.  

No confronto entre a mensagem evangélica e as vicissitudes históricas, não pode haver neutralidade ou indiferença. Todas as formas de exclusão, injustiça, violência e mentira afetamprofundamenteo ser cristão e, por isso, geram posições e atitudes que desmascaram as forças que desumanizam e se afastam do amor revelado por Jesus. 

Não é possível conceber, então, a fé cristã sem o serviço na construção de um mundo justo e fraterno. É evidente que a plena salvação não se esgota na edificação de uma sociedade justa e solidária, pois o destino final de todo ser humano é o Reino de Deus que é transcendente ao mundo visível. Entretanto, esperar o reino vindouro divorciando fé e justiça, Evangelho e vida, seria uma redução perigosa ao próprio conteúdo da fé cristã que não separa o amor a Deus do amor ao próximo.  A comunhão com Deus, portanto, exige uma reorientação total da presença do ser humano no mundo e de sua ação sobre o mundo.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF