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sábado, 8 de julho de 2023

"Farei do meu jeito", diz Tucho Fernández sobre chefiar o Dicastério da Doutrina da Fé

Dom Víctor Manuel "Tucho" Fernández. / ACI Prensa

Por Courtney Mares

Vaticano, 07 Jul. 23 / 10:09 am (ACI).- Falando sobre a polêmica em torno de sua recente nomeação como prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé da Santa Sé, o arcebispo argentino Víctor Manuel "Tucho" Fernández respondeu: "Farei 'do meu jeito'".

Em sua primeira entrevista desde que foi nomeado para o cargo pelo papa Francisco, dom Fernández falou, entre outros temas, sobre o tratamento de abusos sexuais no clero, o polêmico Caminho Sinodal Alemão, as bênçãos para casais homossexuais e como ele planeja abordar suas novas funções.

Fernández, que é o arcebispo de La Plata, Argentina, disse que escreveu uma carta aos membros do Dicastério para a Doutrina da Fé dizendo o quanto admira o atual prefeito, o cardeal jesuíta espanhol Luis Ladaria Ferrer, tanto como teólogo quanto pelo seu estilo de trabalho, “mas acrescentei que faria 'do meu jeito', como diz a canção italiana”.

“Levando em conta o apelo do papa à sinodalidade, primeiro terei que ouvir um pouco antes de tomar decisões, mas certamente há considerações na carta que o papa me enviou que teremos que aplicar de alguma forma”, disse o arcebispo popularmente conhecido como “Tucho”, em entrevista ao site espanhol InfoVaticana publicada na quarta-feira (5).

InfoVaticana perguntou ao arcebispo argentino o que diria aos que se opõem à sua nomeação por temer que “ele possa desempenhar uma tarefa muito distante do que deveria ser o Prefeito do Dicastério da Doutrina da Fé”.

Dom Fernández respondeu: “Essas tarefas também podem ser reconfiguradas, e o papa tem o direito de dar-lhes outra cara. Não lhe parece certo que em algum momento da história ocupe esse cargo um latino-americano que já foi pároco nas periferias, que cresceu em uma pequena cidade do interior, com uma sensibilidade próxima à dor daqueles descartados pela sociedade, com uma história de vida muito diferente da de um europeu ou estadunidense, mas que ao mesmo tempo é doutor em Teologia?”.

“Mais uma vez, digo-lhe que vou aprender da história, vou respeitar os processos, vou dialogar, mas vou fazer 'do meu jeito'”.

Sobre como lidar com os abusos

Dom Fernández contou que, quando o papa Francisco lhe pediu pela primeira vez para assumir o cargo de prefeito, ele recusou. “Em primeiro lugar, porque não me considerava adequado para liderar os trabalhos na área disciplinar. Não sou canonista e, de fato, quando cheguei a La Plata, tinha pouca ideia de como lidar com esses assuntos”

“É complexo, porque em princípio é preciso acreditar em quem apresenta acusações de abusos de menores, é preciso acreditar, e por outro lado não se pode condenar o padre sem o devido processo, o que leva tempo. E no meio vêm todas as reivindicações às quais é preciso responder falando o mínimo possível para não interferir. Naquela época me deixei guiar pelos canonistas e fui aprendendo, mas com um sofrimento enorme por medo de ser injusto com um ou outro”, disse.

Fernández disse que se sentiu “mais seguro” quando o papa lhe disse que “o que ele queria era que o Prefeito delegasse esta tarefa à Seção Disciplinar” e pediu que ele se concentrasse na teologia e na transmissão da fé, como o papa Francisco também disse numa carta publicada no momento de sua nomeação.

BishopAccountability.org, um grupo que registra e analisa casos de abuso sexual na Igreja Católica, se disse seriamente preocupado com a nomeação de dom Fernández por causa do "recente tratamento dado por Fernández a um caso de abuso sexual do clero em sua arquidiocese de La Plata".

Um porta-voz de dom Fernández respondeu às acusações de que teria sido negligente em casos de abuso sexual por parte do clero, negando firmemente tais acusações.

O Caminho Sinodal Alemão

Ao responder sobre como pretende lidar com o polêmico Caminho Sinodal Alemão quando assumir o cargo de Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, dom Fernández disse: "No meu estilo como Arcebispo, não esteve presente essa preocupação por ordenar mulheres ou coisas do tipo. Obviamente, agora cabe a mim me atualizar sobre o assunto, ouvir, conversar, consultar...".

"Por enquanto, devo dizer a vocês que não acho que não haja algo de bom neste 'movimento' alemão", disse ele.

"O cardeal Ladaria me disse uma vez que desejava que houvesse algum herege que nos obrigasse a aprofundar mais a fé", continuou. "Essa questão histórica nos deixará com algo bom, mesmo que seja necessário polir as coisas, torná-las mais precisas, amadurecê-las.

Bênção aos casais homossexuais

Respondendo a uma pergunta sobre se ele concordava com a declaração de 2021 do Dicastério para a Doutrina da Fé que determinou que a Igreja Católica não pode abençoar uniões homossexuais, dom Fernández disse: “Olha, assim como sou firmemente contra o aborto (...) Entendo também que 'matrimônio' em sentido estrito é uma só coisa: aquela união estável de dois seres tão diferentes como são o homem e a mulher, que nessa diferença são capazes de gerar uma nova vida”.

"Não há nada que possa ser comparado a isso e usar esse nome para expressar outra coisa não é bom nem correto", disse ele. “Ao mesmo tempo, acho que devem ser evitados gestos ou ações que possam expressar algo diferente. Por isso acho que o maior cuidado que se deve ter é evitar ritos ou bênçãos que possam alimentar essa confusão”.

"Agora, se uma bênção for dada de tal forma que não cause essa confusão, ela terá que ser analisada e confirmada".

"Como você pode ver, há um ponto em que se afasta de uma discussão propriamente teológica e passa para uma questão mais prudencial ou disciplinar", disse ele.

A arte de beijar

O arcebispo disse que não se arrepende de ter publicado o livro que escreveu quando era padre, em meados da década de 1990, intitulado “Cura-me com a tua boca. A arte de beijar”.

“Não era um manual de teologia, era uma tentativa pastoral da qual nunca me arrependerei”, disse, antes de dizer que pediu à editora que “não o reprimissem”.

O arcebispo argentino disse que escreveu o livro preocupado com os jovens que tinham dificuldades em explicar a seus pares por que devem evitar o sexo antes do casamento. Mais tarde, ele acrescentou que o beijo era um "exemplo de uma dessas expressões de afeto que podem ser feitas sem a necessidade de sexo".

“Você não acha que é errado pegar aquele livrinho, usar frases soltas daquele folheto pastoral juvenil para me julgar como teólogo?”, questionou.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Hoje recordamos o beato Eugênio III, papa que trabalhou pela unidade do mundo cristão

Eugênio III (ACI Digital)

REDAÇÃO CENTRAL, 08 Jul. 23 / 05:00 am (ACI).- A Igreja Católica recorda hoje (8) o beato papa Eugênio III, que era considerado por santo Antônio de Pádua como "um dos maiores Pontífices e que mais sofreram".

Seu nome de batismo era Bernardo Paganelli, e nasceu no reino de Pisa, Itália, por volta do ano de 1088.

O papa monge, o monge papa

Por volta de 1106 Paganelli começou a servir como cônego do capítulo da catedral de Pisa, e por volta de 1115 aparece registrado como subdiácono da catedral. Em algum momento entre os anos de 1134 e 1137, ele foi ordenado sacerdote pelo papa Inocêncio II, que morava em Pisa na época. Por influência de são Bernardo de Claraval, em 1138 ingressou na Ordem de Cister, já com 50 anos. Mais tarde mudou-se para a famosa abadia cisterciense de Claraval, na França.

Ao se tornar monge, assumiu o nome de seu abade ou superior, "Bernardo", mantendo seu primeiro nome. Quando o papa Inocêncio II pediu que alguns cistercienses fossem morar em Roma, são Bernardo enviou seu xará como chefe da comitiva. O grupo de cistercienses instalou-se no convento de santo Anastásio (Tre Fontane).

Anos depois, com a morte do papa Lúcio II em 1145, os cardeais escolheram Bernardo, abade de santo Anastásio, como seu sucessor. O novo papa tomou o nome de Eugênio e foi consagrado na abadia de Farfa.

O beato foi o 167º papa da Igreja Católica, o primeiro cisterciense a sentar-se na Sé de Pedro. A tradição lembra que ele sempre usou o hábito de sua ordem, mesmo enquanto estava no cargo, até o dia de sua morte.

Em defesa do cristianismo

Em janeiro de 1147, ele aceitou de bom grado o convite de Luís VII para convocar a cruzada na França. O monarca francês precisava de apoio pontifício para recuperar a cidade de Edessa, Turquia, erguida como bastião cristão na Mesopotâmia após a primeira cruzada. A segunda cruzada, convocada pelo papa Eugênio, terminou em grande fracasso.

O papa permaneceu no território francês até que o clamor popular pela derrota o impossibilitou de permanecer mais tempo naquele país. Durante sua estadia, o papa Eugênio III fez os sínodos de Paris, Trier e Reims, que se ocuparam principalmente de promover e renovar a vida cristã em seus dois aspectos principais. Por um lado, promoveu a renovação da cúria e do episcopado com o objetivo de responder às exigências dos seculares que viam em suas autoridades eclesiais um claro antitestemunho; por outro, promoveu a renovação da vida religiosa, que também passava por uma profunda crise. Ao mesmo tempo, Eugênio III fez o possível para reorganizar as escolas de filosofia e teologia.

Autoridade espiritual

Em maio de 1148 o papa voltou à Itália e excomungou Arnoldo de Bréscia, padre com pretensões reformistas, mas, contaminado pelas posições errôneas de seu mestre, o filósofo Pedro Abelardo, acabou liderando um movimento cismático. O papa Eugênio já havia combatido em várias ocasiões as tentativas de abolir a hierarquia eclesial e construir uma igreja de “puros”, “não contaminados” pelos erros óbvios de muitos membros do clero. O papa Eugênio, além disso, teve que aliviar inúmeras tensões políticas ao longo de seu pontificado, geradas pelas lutas de poder entre os reinos da Itália, que só foram aliviadas quando aqueles que detinham o poder coincidiram em sua animosidade contra o poder papal, tanto espiritual como temporal.

São Bernardo, consciente da dureza das batalhas que o papa enfrentava, dedicou seu tratado ascético De Consideratione ao papa, no qual afirmava que o principal dever do papa era cuidar dos assuntos espirituais e que ele não deveria se deixar distrair demais com assuntos que pertencem a outras jurisdições.

Eugênio III, que havia partido de Roma no verão de 1150, passou dois anos e meio na Campânia, tentando obter o apoio político do imperador Conrado III e seu sucessor, Frederico Barbarossa. O papa havia excomungado o cismático Brescia, mas este tinha a proteção dos germanos. Nisto, como no tema da autonomia dos Estados Pontifícios, a intenção do papa foi sempre manter a unidade da Europa em torno ao cristianismo.

O beato morreu em Roma em 8 de julho de 1153. Seu culto foi aprovado em 3 de outubro de 1872, após ser declarado beato pelo papa Pio IX.

Fonte: https://www.acidigital.com/

sexta-feira, 7 de julho de 2023

O que o assassino convertido de Santa Maria Goretti pode ensinar sobre os perigos da pornografia

Public Domain

Por Philip Kosloski

Em sua carta-testemunho, Alexandre Serenelli faz um alerta aos jovens que "não se incomodam" com o caminho do mal que o "levou à ruína".

Uma das maiores batalhas que muitas pessoas têm na cultura moderna é contra a luxúria. A crescente disponibilidade de pornografia por meio de dispositivos móveis e computadores só piorou os problemas.

Para muitos, libertar-se dos vícios sexuais é muito difícil. É por isso que precisamos da ajuda de Deus, bem como de programas sólidos que conduzam ao caminho da liberdade. Uma forma de invocar a graça de Deus é fazê-lo pela intercessão dos santos.

E um pensamento do assassino convertido de Santa Maria Goretti pode ajudar a largar esse vício.

Seu nome era Alexandre Serenelli (1882-1970), mais conhecido como o vizinho de 20 anos que tentou estuprar Santa Maria Goretti, de 11 anos. Quando ela lutou contra seu ataque, implorando para que ele se lembrasse de sua própria alma, ele a esfaqueou 14 vezes.

No entanto, em seu leito de morte, Santa Maria Goretti disse: “Eu perdôo Alexandre Serenelli… e o quero comigo no céu para sempre”.

Alexandre foi enviado para a prisão. No entanto, Santa Maria Goretti apareceu a ele em sua cela e o perdoou novamente. Isso teve um impacto profundo na vida do jovem, que logo em seguida iniciou o caminho da conversão.

Ele permaneceu na prisão por 27 anos. Assim que foi libertado, Alexandre visitou a mãe de Maria Goretti e também pediu perdão a ela. Ambos assistiram à Missa juntos e se reconciliaram.

Alexandre, então, se mudou para um convento franciscano e lá trabalhou como jardineiro pelo resto de sua vida.

Antes de sua morte, em 1970, escreveu um “testamento espiritual”, onde expressou sua contrição, explicando até que havia sido consumido por materiais pornográficos, muitos dos quais fornecidos por seu próprio pai. Disse ele:

“Tenho quase 80 anos e estou perto do fim dos meus dias.

Olhando para o passado, reconheço que, na minha juventude, percorri um caminho falso: o caminho do mal, que me levou à ruína.

Vejo através da imprensa que a maioria dos jovens, sem se incomodarem, seguem o mesmo caminho; eu também não me incomodava.”

Alexandre desejou muito seguir o exemplo de Santa Maria Goretti, e escreveu: “E agora, com serenidade, aguardo o momento de ser admitido na visão de Deus, de abraçar novamente meus entes queridos, de estar perto de meu anjo protetor [Maria] e sua querida mãe, Assunta.”

Sua vida arrependida tornou-se uma inspiração para muitos, e uma Oração para a Glorificação de Alexandre Serenelli foi impressa e disponibilizada aos peregrinos que veneram as relíquias de Santa Maria Goretti. Embora sua causa de canonização ainda não tenha sido aberta, espera-se que um dia seu exemplo seja oficialmente reconhecido pela Igreja.

Os indivíduos são encorajados a usar a oração e invocar sua intercessão, pedindo um milagre. Especialmente para os viciados em pornografia, Alexandre pode ser um poderá se tornar um poderoso intercessor, pois conheceu em primeira mão as consequências mortais do pecado.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Eternidade à espreita dentro de cada aparência

A Maestà de Duccio di Buoninsegna, Museo dell'Opera del Duomo, Siena: o encontro entre Jesus ressuscitado e os apóstolos no lago Tiberíades (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 06/1999

Eternidade à espreita dentro de cada aparência

Discurso de Dom Luigi Giussani no encontro promovido pelo Pontifício Conselho para os Leigos sobre o tema "Movimentos eclesiais e novas comunidades na pastoral dos Bispos" Roma, 18 de junho de 1999.

por Monsenhor Luigi Giussani

) Para quem é cristão e ama a Igreja com tudo de si, assim como ela é e como sua mãe o ensinou a amá-la, o escândalo é inevitável quando se nota a queda repentina e contínua do número de pessoas que vão à igreja, assim como impõe hoje a informação dos meios de comunicação de massa.

) Como você pode não ser tentado a entender que algo está errado? E isso não pode se referir moralisticamente apenas à liberdade do indivíduo; pode surgir no coração a impressão de que a infidelidade ao Espírito atinge até algumas expressões de quem ensina o catecismo e na confiança de certos valores e opiniões do clima descristianizado isso pode vir a ser valorizado como sinal da tempos, ao invés de ser lido no mistério de Cristo. Em suma, este "algo" que falta não pode dizer respeito à natureza do dom de Cristo. Não é um defeito original!

Ao contrário, trata-se de uma redução daquilo que Cristo quis fazer entre os homens, todos enfraquecidos pelo pecado original: para isso Cristo veio.

Portanto, a decisão de seguir a Cristo pode ser tomada por homens que considerem sua dedicação à Igreja à luz do poder terreno, que mantém a origem e a dinâmica de todos, mesmo os não cristãos; e assim a falta de sentido do Mistério distorce o próprio acontecimento de Cristo.
De fato, tem sido possível ser fiel à letra da Tradição sem ser educado de maneira cristã que saiba quais são os fundamentos de tudo na Igreja. 

) Pensando no início da minha história, gostaria de observar que o estímulo à novidade, por outro lado, veio em mim de dentro da minha fidelidade aos termos da Tradição, ao ensinamento e à prática da Igreja. Entrei no seminário muito jovem, convencido da necessidade da comunhão e da confissão como conseqüência do batismo. Eu era um jovem seminarista, um menino obediente e exemplar, até que um dia aconteceu algo que mudou radicalmente a minha vida. Foi quando um professor meu me explicou, no seminário, a primeira página do Evangelho de João: «A Palavra de Deus, ou o fim das necessidades do coração humano, isto é, o objeto último dos desejos de todo homem - felicidade -, tornou-se carne." Minha vida foi literalmente investida por isso: tanto como uma memória que persistentemente atingiu meus pensamentos, quanto como um estímulo para uma reavaliação da banalidade cotidiana. Desde então, o instante deixou de ser banal para mim. Tudo o que era, portanto tudo o que era belo, verdadeiro, atrativo, fascinante, até como possibilidade, encontrava naquela mensagem a sua razão de ser, como certeza de presença em que havia a esperança de tudo abraçar.

O que me diferenciava dos que me rodeavam era o desejo e a vontade de compreender. Este é o terreno em que nasce nossa devoção à razão. 

) Passei a me interessar pelos alunos, porque as relações que tive, desde os primeiros dias de minha função como professora no seminário, eram todas com os alunos. Não foi a escolha de um ambiente particular para o qual dizer certas coisas; eu me encontrei lá.

Assim como um dia encontrei aqueles três meninos no trem indo para Rimini. Não os conhecia e descobri-os terrivelmente ignorantes e carregados de preconceitos sobre o fato cristão. Este foi o motivo que me levou a pedir aos superiores que abandonassem o ensino de teologia no seminário para me dedicar a um trabalho de presença entre os alunos das escolas milanesas.

As coisas que lhes contei nasceram não de uma análise do mundo estudantil, mas do que minha mãe e do seminário me contaram. Em suma, tratava-se de falar aos outros com palavras ditadas pela Tradição, mas com consciência visível, até às implicações metodológicas.

O que eu estava fazendo, em qualquer lugar da Igreja eu teria feito! O que senti e vi foi como um caminho novo, não percebido antes, exceto nos textos dos Padres e nos papais. Essa percepção surgiu de uma experiência. Leio as próprias palavras do Evangelho e da Tradição de uma maneira nova.

A diferença entre os integralistas e os tradicionalistas e nós é que, enquanto para salvar a forma antiga eles queriam reconvocar os outros à sua condição anterior (e imitar mecanicamente seus pais), era necessário para nós, justamente salvar a Tradição , para entender em que consistia o conteúdo do mesmo, explicá-lo e dar o exemplo. Eu "compreendi", e outros comigo, que Cristo estava ali, presente.

O encontro de Jesus ressuscitado com os apóstolos no monte da Galiléia (30Giorni)

) Procurei esclarecer-me, explicar esta graça de conhecimento e reflexão que recebi. Muitas vezes não me senti acolhida pelas paróquias e pelas associações oficiais, mas para mim a imagem que me vinha dava uma alegria e uma certeza do fato cristão sem comparação e o tornava um fato que enchia todo o coração na abertura ao totalidade da realidade da Igreja no mundo. E essa certeza, essa esperança e essa abertura se traduziram nas crianças que começaram a me seguir. Foi o surgimento de um modo de sentir a presença de Jesus na Igreja como resposta total e abrangente às questões do mundo.

Compreendi depois de muitos anos, precisamente na comparação sempre procurada e amada com a autoridade da Igreja, que o meu desejo, a paixão do coração que sentia por esta novidade de vida eram uma graça particular do Espírito, que se chama carisma . Carisma A modalidade concreta com a qual o Espírito suscita no coração humano uma adequada compreensão e afeição por Cristo em um dado contexto histórico apareceu-me claramente. E quem o recebe "deve" participar do mandato de Cristo: "Ide por todo o mundo!". Do dom dado a um indivíduo começa uma experiência de fé que pode ser útil de alguma forma para a Igreja.

Entendo que se sinta que uma modalidade expressiva é mais interessante que outra, mas pode haver um modo pelo qual o carisma traduz, comunica com a consciência tranquila o que São Paulo afirma da nova criatura; não apenas da nova inteligência ou de um novo coração de caridade, mas da nova criatura em sua totalidade! E isso sublinhando o que é o método cristão. Assim como Deus se fez presente ao homem em Jesus de Nazaré, nossa fórmula para sentir vibrar o protagonista desta história é constatar sua presença integralmente humana e, portanto, a origem de algo que em sua totalidade, tornando-se fonte de uma outra homem, torna-se fonte de uma empresa diferente.

) A dinâmica de reconhecer e verificar a presença de Cristo torna qualquer um criativo e protagonista e faz descobrir como a atividade do cristão é missionária por natureza, isto é, participante do método do próprio Cristo que criou a Igreja para se dar a conhecer em todo o mundo. O propósito da existência cristã é, portanto, viver para a glória humana de Cristo na história.

Portanto, amamos todas as formas que a Igreja reconhece e estamos prontos dentro de nossos limites para colaborar com qualquer iniciativa. O que quer que façamos, não podemos deixar de concebê-lo como uma missão, o destino último de toda ação.

A nossa certeza, fonte de alegria, é a de pertencer à Igreja, de cuja autoridade, como se traduz a todos os níveis, dependemos, pedindo para sermos reconhecidos, prontos a sacrificar-nos até ao da vida, mas sobretudo prontos a converter-nos sempre mente e coração de uma mentalidade mundana.

) Por isso nossa concepção moral, reconhecendo a sujeição do homem ao pecado original, deseja atravessar a aparência de tudo em profunda simpatia por Cristo presente, a fim de afirmar seu sentido último, de modo que a relação com qualquer coisa seja experimentada como um sinal e convite ao destino. O cristão é, portanto, um homem que percebe a eternidade escondida em cada aparência.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Festa de todos os Pontífices Romanos

Igreja Católica Apostólica Romana (osaopaulo)

07 de julho

Festa de todos os Pontífices Romanos

História

Esta festa celebra, em uma única data, a memória de todos aqueles, entre os 266 Pontífices Romanos, venerados como Santos e Beatos: 82 Santos e 9 Beatos (até hoje, 2021). Com esta festa, que se realiza na Basílica de São Pedro, queremos recordar a missão de Pedro, que todos os seus sucessores continuam. Alguns deram testemunho, de modo heroico, do mandato de confirmar os irmãos, merecendo ser inscritos no álbum dos Santos e propostos para a veneração do povo cristão.

Evangelho: Lucas 22, 28-32
«Naquele tempo, Jesus disse aos seus apóstolos: “Vós tendes permanecido comigo nas minhas provações; eu, pois, disponho do Reino a vosso favor, assim como meu Pai o dispôs a meu favor, para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos senteis em tronos, para julgar as doze tribos de Israel. Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu rezei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos"».

“Simão, eu rezei por ti”

Pode parecer estranho, mas, geralmente, quando queremos apresentar os “grandes” personagens da história, procuramos colocar em evidência os seus grandes feitos, procurando, no máximo possível, deixar seus pontos fracos na penumbra.
O Evangelho escolhido para esta festa mostra-nos, porém, um Jesus que quer advertir Pedro e lhe prometer a sua ajuda: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu rezei por ti, para que a tua confiança não desfaleça”.
Estas palavras demonstram a garantia que deu a Simão: uma oração especial de Jesus para que a sua fé não desfaleça, sinal de que, sem Jesus, até a fé de Pedro pode enfraquecer. O ministério de Pedro não se realiza pelas suas qualidades e tampouco pela pretensão humana de fidelidade, que, pontualmente, esmoreceu, mas pela graça, que também triunfa nas suas fragilidades. A experiência do seu descrédito fez com que Pedro aprendesse que não podia depositar sua confiança apenas em suas forças pessoais e em qualquer fator humano, mas, sobretudo, em Cristo. Há ainda um segundo aspecto que emerge das palavras de Jesus, o anúncio da missão que lhe foi confiada: “E tu, por tua vez, confirma os teus irmãos".

Caminho de conversão de Pedro

Ao relermos os Evangelhos, descobrimos o perfil de Pedro e como seu caminho de conversão foi longo e penoso. Depois de aderir, prontamente, ao chamado de Jesus (Mt 4,18-22), Pedro se defrontou com tantas resistências. Em Cesareia de Filipe, Pedro não quis aceitar que Jesus tomasse o caminho para Jerusalém, onde seria morto, pois esperava um Messias poderoso e vitorioso (Mc 8,31ss); no Cenáculo, não quis aceitar que Jesus lhe lavasse os pés (Jo 13,8ss); no Jardim das Oliveiras, desembainhou a espada (Jo 18,10); no pátio, renegou o Mestre por três vezes (Mc 14,66ss). Enfim, Pedro alimentava grandes desejos e esperança em Jesus; no entanto, continuava a manter, em si, a imagem que tinha sobre o Messias: o fato de renunciar às próprias expectativas, para acolher, plenamente, o verdadeiro Messias esperado pelo povo, não foi fácil para ele. Requeria tempo, confiança, humildade, conversão. Esta experiência levou Pedro a aprender a "confirmar seus irmãos", sem julgar, mas com misericórdia, como Jesus a cultivou nele.

O ministério do Papa

Eis porque o Pedro de então e o Pedro de hoje - o Papa – precisam da oração de Jesus e pedem para ser sustentados pela oração do povo, pois, graças à oração, que os Papas Romanos puderam e continuam a cumprir o ministério que lhes foi confiado pelo Senhor Jesus, o maravilhoso Pastor do rebanho. E a promessa de oração, por parte de Jesus, demonstra a missão particular que Pedro recebeu na Igreja e para a Igreja.

A nossa oração, hoje

Neste dia, na Basílica de São Pedro, o povo de Deus entoa cânticos de louvor ao Senhor pelos Papas, que ele suscitou na Igreja e pela Igreja; e, ainda mais, por aqueles que deram testemunho do seu ministério, de modo exemplar e heroico, a ponto de serem venerados como Santos e Beatos. Por isso, eles devem ser os primeiros amigos, modelos e intercessores, sobretudo, aos que, hoje, são chamados a cumprir o ministério de Pedro.
Felizes e sustentados por esta multidão de santos Papas romanos, também nós somos estimulados a rezar pelo nosso Papa, para que, com a oração de Jesus e a nossa oração, ele possa cumprir o ministério que lhe foi confiado por Cristo e continuar a "confirmar seus irmãos".
Assim, as palavras com as quais o Papa Francisco costuma concluir seus pronunciamentos adquirem mais valor: "Por favor, não se esqueçam de rezar por mim".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A grandeza do Sangue de Cristo

O Corpo e o Sangue de Cristo (Cléofas)

A grandeza do Sangue de Cristo

 POR PROF. FELIPE AQUINO

A Igreja dedica o mês de julho à devoção do preciosíssimo Sangue de Cristo, derramado pelo perdão dos nossos pecados. Depois de meditar longamente sobre o Coração misericordioso de Jesus, no mês de junho, a mãe Igreja deseja que veneremos profundamente o preciosíssimo Sangue do Senhor.

Os judeus celebravam diariamente o “holocausto perpétuo”, dois cordeirinhos sem defeito eram imolados às seis horas da manhã e às seis da tarde, a fim de que o sangue do cordeiro oferecido a Deus obtivesse o perdão dos pecados do povo naquele dia. Esse cordeiro era apenas um sinal, uma prefiguração do verdadeiro Cordeiro que seria imolado na Cruz.

São João Batista o apresentou ao mundo dizendo: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). Sem o Sangue desse Cordeiro não há salvação. O Sangue precioso de Cristo foi prefigurado também naquele sangue do cordeiro pascal que os judeus colocaram nos umbrais das portas de suas casas, no dia da Páscoa, na saída do Egito, para que o anjo exterminador nenhum mal fizesse ao primogênito daquela casa. É sinal do Sangue do Cristo que nos protege de todos os males do corpo e da alma.

A devoção ao preciosíssimo Sangue de Jesus sempre esteve presente na Igreja desde o início e sempre aumentou através de solenidades, orações, escritos dos papas, e uma Ladainha para pedir a Deus perdão dos pecados e afastar de nós os males do corpo e da alma.

São Gaspar de Búfalo propagou fortemente esta devoção, tendo a aprovação da Santa Sé; por isso, é chamado de o “Apóstolo do Preciosíssimo Sangue”. O Papa Bento XIV (1740-1748) ordenou a missa e o ofício em honra ao Sangue de Jesus, que foi estendida à Igreja Universal por decreto do Papa Pio IX (1846-1878). O santo foi o fundador da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue – CPPS, em 1815. Nasceu em Roma aos 06 de Janeiro de 1786.

O Papa João XXIII (1958-1963) escreveu a Carta Apostólica “Inde a Primis”, sobre o preciosíssimo Sangue de Cristo, a fim de promover o seu culto, o que foi lembrado pelo Papa João Paulo II em sua Carta Apostólica “Angelus Domini”, onde repetiu o que João XXIII disse sobre o valor infinito do Sangue de Cristo, do qual “uma só gota pode salvar o mundo inteiro de qualquer culpa”.

O Sangue de Cristo representa a Sua Vida humana e divina, de valor infinito, oferecida à Justiça divina para o perdão dos pecados de todos os homens de todos os tempos e lugares. Quem for batizado e crer, como disse Jesus, será salvo (Mc 16,16) pelo Sangue de Cristo.

“Isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mt 26, 28).

Em cada Santa Missa a Igreja renova, presentifica, atualiza e eterniza este Sacrifício expiatório pela Redenção da humanidade. Em média, a cada quatro segundos essa oferta divina sobe ao Céu em todo o mundo.

O Catecismo da Igreja ensina que: “Nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de oferecer-se em sacrifício por todos” (§616); para isso era preciso um sacrifício humano, mas de valor infinito. Só Deus poderia oferecer este sacrifício; então, o Verbo divino, dignou-se assumir a nossa natureza humana, para oferecer a Deus um sacrifício de valor infinito. A majestade de Deus é infinita; e foi ofendida pelos pecados dos homens. Logo, só um sacrifício de valor infinito poderia restabelecer a paz entre a humanidade e Deus.

São Pedro ensina que fomos resgatados pelo Sangue do Cordeiro de Deus mediante “a aspersão do seu sangue” (1Pe 1, 2). “Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo” (1Pe 1,19).

Assim, o Sangue do Senhor nos libertou do pecado, da morte eterna e da escravidão do demônio. São Paulo diz: “Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5,9). Por seu Sangue Cristo nos reconciliou com Deus: “por seu intermédio reconciliou consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).

Com o seu Sangue Cristo nos resgatou, nos comprou, nos fez um povo Seu: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue” (At 20,29). “Por esse motivo, irmãos, temos ampla confiança de poder entrar no santuário eterno, em virtude do sangue de Jesus” (Hb 10,19).

“Cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça” (Ap 5,9).

Hoje esse Sangue redentor de Cristo está à nossa disposição de muitas maneiras. Em primeiro lugar pela fé; somos justificados por esse Sangue ensina S. Paulo: “Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu Sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5, 8-9). “Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1,7).

Este Sangue redentor está à nossa disposição também no Sacramento da Confissão; pelo ministério da Igreja e dos sacerdotes o Cristo nos perdoa dos pecados e lava a nossa alma com o seu precioso Sangue. Infelizmente muitos católicos ainda não entenderam a profundidade deste Sacramento e fogem dele por falta de fé ou de humildade. O Sangue de Cristo perdoa os nossos pecados na Confissão e cura as nossas enfermidades espirituais e psicológicas.

Este Sangue está presente na Eucaristia: Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. “O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo?.. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor” (1 Cor 10,16-27).

Na Comunhão podemos ser lavados e inebriados pelo Sangue redentor do Cordeiro sem mancha que veio tirar o pecado de nossa alma. Mas é preciso parar para adorá-lo no Seu Corpo dado a nós. Infelizmente muitos ainda comungam mal, com pressa, sem Ação de Graças, sem permitir que o Sangue Real e divino lave a alma pecadora e doente.

“Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,53-56).

É pela força do sangue de Cristo que os santos e os mártires deram testemunho de sua fé e chegaram ao céu: “Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). “Estes venceram-no por causa do sangue do Cordeiro e de seu eloquente testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte” (Ap 12, 11).

É pelo Sangue derramado que Ele venceu e se tornou Rei e Senhor: “Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é Verbo de Deus… Um nome está escrito sobre o seu manto: Rei dos reis e Senhor dos Senhores” (Ap 19,13-16).

Prof. Felipe Aquino

DISCURSO ÀS ASSOCIAÇÕES DEDICADAS AO CULTO DO SANGUE DE CRISTO, AOS SÓCIOS DA AVIS E A VÁRIOS GRUPOS DE FIÉIS

Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. Neste primeiro dia do mês de Julho, consagrado pela piedade cristã à meditação do “Sangue de Cristo, preço do nosso resgate, penhor de salvação e de vida eterna” (João XXIII, Carta Apost. Inde a primis, em AAS, 52 [1960] 545-550), tenho a alegria de me encontrar com todos vós, membros das Famílias religiosas masculinas e femininas e das associações católicas dedicadas ao culto do preciosíssimo Sangue de Jesus.

Às Famílias religiosas e às Associações católicas dedicadas ao culto do preciosíssimo Sangue de Cristo
Ao saudar-vos com afeto, agradeço-vos a presença e dirijo um reconhecido pensamento ao Diretor Provincial dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, pelas amáveis palavras que quis dirigir-me também em vosso nome.
Até à reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II, neste dia celebrava-se também liturgicamente em toda a Igreja católica o mistério do Sangue de Cristo. Depois, o meu Predecessor de venerada memória, Paulo VI, uniu a recordação do Sangue de Cristo à do seu Corpo, na solenidade que agora tem precisamente o nome do “Sacratíssimo Corpo e Sangue de Cristo”. Em toda a celebração eucarística, de facto, torna-se presente, juntamente com o Corpo de Cristo, o seu precioso Sangue da nova e eterna Aliança, derramado por todos em remissão dos pecados (cf. Mt 26, 27).

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs, o mistério do Sangue de Cristo é grandioso! Desde os primórdios do cristianismo, ele atraiu a mente e o coração de inúmeros cristãos e, de modo particular, dos vossos Santos Fundadores e Fundadoras, que dele fizeram o estandarte das vossas Congregações e Associações. O Ano jubilar traz novo impulso a uma devoção tão significativa. Com efeito, ao celebrarmos Cristo a dois mil anos do seu nascimento, somos também convidados a contemplá-Lo e a adorá-Lo na humanidade santíssima assumida no seio de Maria e unida, de maneira hipostática, à Pessoa divina do Verbo. Se o Sangue de Cristo é preciosa fonte de salvação para o mundo, isto deriva precisamente da sua pertença ao Verbo que se fez carne para a nossa salvação.

O sinal do “sangue derramado”, como expressão da vida doada de modo cruento em testemunho do amor supremo, é um ato da condescendência divina à nossa condição humana. Deus escolheu o sinal do sangue, porque nenhum outro sinal é tão eloquente para indicar o envolvimento total da pessoa.

O mistério de semelhante doação encontra a sua nascente na vontade salvífica do Pai celeste e a sua realização na obediência filial de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, através da obra do Espírito Santo. A história da nossa salvação traz, portanto, a marca e o selo indelével do amor trinitário.

3. Diante desta maravilhosa obra divina, todos os fiéis se unem a vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, entoando hinos de louvor a Deus Uno e Trino no sinal do precioso Sangue de Cristo. Mas à confissão dos lábios deve unir-se o testemunho da vida, segundo a exortação que nos vem da Carta aos Hebreus: “Portanto, irmãos, já que pelo sangue de Cristo temos uma fundada esperança no acesso ao santuário… atendamos uns aos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras…” (10, 19.24).

Aos membros da AVIS

E muitas são as “boas obras” que a meditação do sacrifício de Cristo nos inspira. Com efeito, ele impele-nos a dar a nossa vida por Deus e pelos irmãos sem nos pouparmos, “usque ad effusionem sanguinis”, como fizeram muitos mártires. Como não reconhecer sempre de novo o valor de todo o ser humano, quando para cada um, sem distinções, Cristo derramou o seu sangue?

A meditação deste mistério impele-nos, em particular, para quantos poderiam ser curados dos seus sofrimentos morais e físicos e, ao contrário, são deixados definhar às margens duma sociedade da opulência e da indiferença. É nesta perspectiva que se evidencia em toda a sua nobreza o serviço prestado por vós, membros da AVIS. Saúdo-vos com muito afeto, juntamente com o vosso Presidente, a quem agradeço as palavras que me dirigiu. Não vos limiteis a dar alguma coisa que vos pertence; dai algo de vós mesmos. O que há de mais pessoal do que o próprio sangue? Na luz de Cristo, o facto de doar ao irmão este elemento vital, adquire um valor que transcende o horizonte simplesmente humano. A vós, sócios da AVIS, dirige-se portanto a expressão da minha estima e do meu encorajamento.

Aos fiéis da Diocese de Bérgamo

4. Desejo agora dirigir a minha saudação cordial aos peregrinos da Diocese de Bérgamo, guiados pelo seu Bispo, D. Roberto Amadei, a quem agradeço os sentimentos expressos no caloroso discurso. Caríssimos, com a visita hodierna quereis manifestar o vosso afeto e a vossa proximidade ao Sucessor de Pedro. Obrigado de coração! Ao longo dos séculos a vossa Igreja manteve estreitíssimos vínculos de comunhão com a Sé Apostólica. Como não recordar, neste contexto, o vosso conterrâneo e meu Predecessor, o Papa João XXIII, próximo de ser inscrito no Álbum dos Beatos? O caminho de oração e de meditação que vos conduz aos lugares jubilares seja para vós, caríssimos, ocasião para reafirmar a vossa convicta adesão a Cristo, “Porta santa” para entrar no reino do Pai. Ao retornardes às vossas casas, levai a saudação e o encorajamento do Papa aos sacerdotes, aos consagrados, às consagradas e a todos os irmãos e irmãs na fé. O Ano Santo seja para cada um estímulo a reavivar a fé e a prosseguir no empenho da nova evangelização, que encontra confirmação e corroboração na caridade.

A outros peregrinos italianos

5. Por fim, o meu pensamento dirige-se aos fiéis de Santa Maria da Vitória, de Montebelluna; de São Bernardino, em Tordandrea de Assis; de São João Baptista, em Acconia de Curinga; assim como ao Instituto “Beata Maria De Mattias”, de Frosinone, e à Comunidade da “Pequena Casa”, de Aversa.

Caríssimos, a celebração dos dois mil anos da encarnação do Filho de Deus vos encontre vigilantes na fé, firmes na esperança e fervorosos na caridade. Cristo passa ainda hoje ao lado de cada um para lhe oferecer o dom da infinita misericórdia de Deus. Sede também vós ricos dessa misericórdia, como o é o nosso Pai que está nos céus.

Com estes sentimentos e no amor d’Aquele que nos “aspergiu com o seu sangue” (cf. 1 Pd 1, 2), abençoo-vos de todo o coração.

Papa João Paulo II
(01/07/2000)

Fonte: https://cleofas.com.br/

Santa Macrina: audácia cristã feminina na propagação do cristianismo

Cardeal Leonardo Sandri na abertura das celebrações do centenário de fundação das monjas basilianas, filhas de Santa Macrina, em 01.05.2022 (Vatican Media)

"Macrina é modelo para as mulheres Consagradas no que se refere ao amor pela Palavra de Deus, sua escuta orante, sua prática de solidariedade com os pobres, sua articulação a respeito das regras da Vida Consagrada e da liderança na Comunidade, vivendo a alegria do Evangelho. Seu caráter, sua autenticidade, sua liderança ímpar, articulando as Comunidades eclesiais formam o retrato da mulher no Cristianismo dos quatro primeiros séculos da Igreja."

Por Irmã Maria Freire da Silva
O cristianismo nos primeiros séculos revela uma grandiosidade na radicalidade e no seguimento a Jesus Cristo. Santos e mártires formaram a Sinodalidade do Caminho do Mestre. Mulheres e homens entregaram sua vida na construção da Comunhão e da Participação na Igreja. Ensinaram e aprenderam no itinerário, deixando-se conduzir pelo Espirito Santo, na leitura assídua da Palavra de Deus, no serviço aos pobres e doentes de seu tempo. Embora o retrato que se tem das mulheres é de dedicação à família, ao marido, não é possível esconder tantas mulheres que lideraram a vida das Comunidades, que foram testemunhas do evento Pascal de Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado na Vida Eclesial e na criação. Mulheres que ultrapassaram o domínio do masculino e aderiram ao Cristianismo como espaço de liberdade e de pertença a um Projeto maior que incluía a formação do povo.

O mês de julho chega até nós apresentando o nome de vários santos e santas. Entre tantos, está Santa Macrina, virgem (†379), e irmã dos santos: Basílio Magno, Gregório de Nissa e Pedro de Sebaste. Macrina era a filha mais velha de dez irmãos. Nasceu na Cesaréia, na Capadócia, outrora um reino independente e Província do Império Romano a partir de 14 d.C. Situados em torno do rio Halys — fronteira natural entre a Ásia Menor romana e as regiões interioranas — o arcebispado de Cesaréia formava, ao lado de Nissa (bispado), uma área fortemente cristianizada a partir de 325. Sua família pertencia a um segmento da aristocracia helenizada da Ásia Menor que prontamente aceitou o cristianismo (TEJA, 1989: 92).

Versada nas Sagradas Escrituras, retirou-se para levar uma vida solitária no mosteiro de Annesi, no norte da Turquia, antes propriedade de sua família.  Macrina era originária de uma família muito rica da Capadócia,  era dotada de dotes naturais, afirmava seu irmão Gregório de Nissa, o que sua mãe aproveitou para ensinar-lhe as Sagradas Escrituras, onde encontrou terra fértil. Com o decorrer do tempo, Macrina amassava o trigo para a Eucaristia. Era absorta em Deus e zelosa com os pobres, aos quais distribua roupas e alimentos.

Assim, Macrina, de quem Gregório concorda em escrever, "para que uma vida tão luminosa não fosse ignorada e não ficasse no esquecimento, sem proveito, obra de uma mulher que, em virtude de sua vida filosófica, alcançou o mais alto grau de virtude". Macrina e outras virgens foram consideradas verdadeiros pilares do cristianismo.  Garantiam a pureza original do  pensamento cristão. Macrina possuía uma excelente bagagem intelectual:  conhecia autores cristãos, como Orígenes, ademais, lia as obras dos irmãos (CORRIGAN, s/d: Internet).

É importante destacar o papel de Macrina e outras virgens na elaboração de retiros para os quais afluíam, jovens, pobres e também viúvas ricas que decidiram ingressar na Vida Religiosa. Contribuiu na educação de seus irmãos, influenciando-os muito, três dos quais também se dedicaram à Vida Contemplativa. Gregório diz que a irmã o levou a desprezar o orgulho de seu conhecimento e o levou ao caminho da humildade.

Basílio, que havia estudado retórica em Atenas, após longo período de estudos, retorna um hábil retórico. Ele estava mais do que inchado com o orgulho da oratória e desprezava os dignatários locais, superando em sua própria opinião todos os homens de liderança e alta posição.
No entanto, Macrina tomou-o pela mão, e com tanta rapidez o conduziu também na direção da marca da filosofia, que renunciou às glórias deste mundo e desprezou a fama conquistada pela fala (...) Sua renúncia à propriedade foi completa, de modo que nada deveria impedir uma vida de virtude. VM [966C]

A influência de Macrina,  juntamente, com seu irmão Basílio, foi notável. Desde o mais idoso, ela retransmitiu as tradições da Igreja da Neocesareia  de forma relevante, incluindo as mudanças do origenismo de seu apóstolo, Gregório Taumaturgo com todos aqueles que impelia à vida contemplativa a partir do texto das Sagradas Escrituras.  Graças a ela, Basílio tornou-se eremita, fundou mosteiros e elaborou as regras que regiam a vida monástica da Igreja Ortodoxa — Basílio representa o novo homem das elites dominantes do Baixo Império: aristocrático e proprietário de terras ligado à vida urbana, amante da cultura grega, perseguido e criticado por seu cristianismo (TEJA,  1989: 94). De Macrina a São Bento, a história do monaquismo no mundo cristão foi assim modelada, baseada no ascetismo rigoroso, na leitura das Escrituras e no papel das virgens como metáforas vivas do Paraíso Perdido.

Através da história sobre sua vida, também podemos observar a atuação de uma mulher como líder intelectual de sua família. Como guia espiritual e protetora ela era a "mestra", a senhora. O modelo de Macrina ajudou a fortalecer uma ideia corrente da época, de que as mulheres Consagradas eram um repositório de valores para as comunidades cristãs. Em uma carta de Basílio aos habitantes de Neocesareia, mostra a força da imagem de Macrina, a audácia  cristã feminina, na propagação do cristianismo do século IV.

Por ocasião de sua morte, Gregório de Nissa, seu irmão ao vesti-la com um linho fino como honra, junto com a diaconisa Lampadion, mestra do coro, encontrou em seu coração preso por uma corrente, um anel onde estava gravado a Cruz, e dentro a relíquia do lenho da Cruz e junto uma Cruz de ferro. Sem dúvida é um dos primeiros testemunhos da devoção à Cruz do Senhor. Nissa afirma que sua irmã recebeu o dom da profecia, o dom dos milagres, o dom de curar e o dom de expulsar demônios.

Macrina é modelo para as mulheres Consagradas no que se refere ao amor pela Palavra de Deus, sua escuta orante, sua prática de solidariedade com os pobres, sua articulação a respeito das regras da Vida Consagrada e da liderança na Comunidade, vivendo a alegria do Evangelho. Seu caráter, sua autenticidade, sua liderança ímpar, articulando as Comunidades eclesiais formam o retrato da mulher no Cristianismo dos quatro primeiros séculos da Igreja.
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*Irmã Maria Freire da Silva.
Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo, e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF