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segunda-feira, 10 de julho de 2023

A defesa da vida humana desde a concepção e os santos Padres da Igreja

Patrística (Diocese de Marabá)

 A DEFESA DA VIDA HUMANA DESDE A CONCEPÇÃO E OS SANTOS PADRES DA IGREJA

Dom Vital Corbellini

Bispo de Marabá (PA)  

O argumento da defesa da vida humana desde a concepção é bastante atual, debatido nos contextos familiar, eclesial e social, de modo que uma das maneiras para encontrar respostas, é voltar às fontes do cristianismo, os santos padres, os primeiros escritores cristãos, pois estes deram fundamentos aos pontos litúrgicos, morais, em relação à doutrina social da Igreja e seguiram a palavra do Senhor Jesus. Eles também se defrontaram com a realidade do início da vida humana, colocando como elemento fundamental a sua defesa desde a concepção materna. Outro dado era essencial da vida da qual devia ser defendida provinha de famílias que abandonavam os seus bebês, apenas nascidos, sendo esses colocados ao longo das vias, dos caminhos públicos, muitas vezes nas praças, de modo que as pessoas assumissem a sua adoção como seus filhos ou suas filhas. Esta realidade social era difícil de ser concebida para um cristão diante de uma vida que era eliminada, muitas vezes, e, estava atirada no seu menosprezo.  

Os santos padres foram pastores de seu povo, de modo que eram contra o aborto, seguindo a palavra divina que vem do próprio Senhor Jesus, sendo Ele a vida (Jo 14,6), superando a morte. Eles também tinham presente a Palavra de Deus do AT pela escolha da vida e da morte, de modo que a pessoa a viveria e a sua descendência ao escolher a vida, amando ao Senhor, seu Deus, dando ouvido à sua voz e apegando-se a ele, porque ele é a vida para habitar na terra que o Senhor jurou a seus pais, Abraão, Isaac e Jacó (Dt 30, 19-20)1. Por isso os padres da Igreja elaboraram uma doutrina em relação à vida desde a concepção de modo que é fundamental fazer uma análise.  

Didaqué, a Doutrina dos doze apóstolos: a vida no seio materno. 

A Didaqué, uma obra presente nos tempos apostólicos, do século I falou um ponto importante da vida desde o seio materno. A obra recomendava às comunidades cristãs pela prática da vida, diante da morte de crianças. Ela afirmou o dado que não era para matar a criança desde o seio materno, porque a vida existe desde a concepção, e também não podia matá-la após o seu nascimento. O fato era que algumas pessoas abandonavam os recém-nascidos de modo que era expô-los à morte tanto quanto a prática de eliminá-los desde o seio materno2. O mesmo autor reforçou a ideia que a pessoa estaria no caminho da morte, se ela colaborasse ou eliminasse as crianças, no caso desde o ventre materno3. 

Não matar a criança. 

A Carta de Barnabé, século II, também afirmava como a Didaqué que não era para eliminar a vida desde a concepção, porque nesta, existe a vida. A Carta exortava para não matar a criança no seio da mãe, nem logo que ela tiver nascido. A obra exortava os cristãos para que não realizassem ações para matar a criança no seio da mãe, e também não eliminá-la quando tiver nascido4.  

A vida desde o seio materno. 

Atenágoras de Atenas foi um Padre apologista, isto é defensor da vida cristã contra as calúnias levantadas pelos pagãos. Ele viveu em Atenas no final do século II de modo que defendeu a vida desde o seio materno. Os cristãos eram acusados de matar as pessoas e saciar-se da carne humana. O Apologista dizia que os cristãos nunca fizeram tais coisas, do contrário eles eram defensores da vida humana que iniciava no seio materno, desde a concepção. Ele dizia que as pessoas que tentam o aborto cometem homicídio tendo que dar contas a Deus por ele. Desta forma não se poderia pensar que aquele que a mulher leva, carrega não seja um ser vivente5. Sem dúvida o filósofo apologista cristão, afirmou que não se podia matar seja a pessoa que tinha alguns anos de vida, como também aquele que era formado no seio materno. Atenágoras tinha uma concepção muito importante da natureza do feto como ser vivo, objeto dos cuidados de Deus, da Providência divina, quando o direito romano dos primeiros tempos, não o considerava como ser vivo e muitas vezes não reconhecia o direito da sua existência6. Atenágoras colocava também a fé na ressurreição dos corpos de modo que os cristãos eram a favor da vida desde a concepção até a morte natural7. 

Proibido o homicídio e o que é formado no útero. 

Tertuliano, Padre Africano nos séculos II e III disse que os cristãos eram contra o homicídio, e também não permitia destruir até o que é concebido no útero, quando é plasmado o sangue para formar uma pessoa. Percebe-se claramente a idéia que o homicídio não estava presente na vida dos seguidores de Cristo, porque existia o mandamento da Lei de Deus, não matar, e também não destruir a pessoa na concepção dentro do útero da mulher porque já está sendo plasmada uma vida, uma pessoa. Tertuliano afirmou que o homicídio não estava apenas na pessoa que tirava a outra a sua vida, mas também quando se redundava em proibir de nascer, porque se arrancava uma alma, tanto no nascimento ou no momento do nascimento. É um ser humano também àquele que há de ser; todo fruto já existe também na semente8. Tertuliano era a favor da vida desde a concepção porque existe a vida, uma alma que não pode ser destruída.  

O aborto é morte de uma pessoa. 

São Basílio Magno, bispo de Cesaréia, século IV disse que a pessoa que procurava de uma forma livre um aborto cometia um homicídio, matando uma pessoa, não se tratando apenas se o feto foi formado ou não, porque a vida existe desde a concepção. São Basílio era contra as pessoas que procuravam o ato de abortar, bem como àquelas pessoas que realizavam a ação do aborto9.

Os padres da Igreja defenderam a vida desde a concepção até a sua morte natural. É importante lutar pelo dom da vida que o Senhor dá para as pessoas de modo que ninguém poderá eliminá-la porque é uma vida que vai se definhando para a realidade familiar, comunitária e social.

__________________

[1] Cfr. B. Honings. Aborto. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, A-E, diretto da Angelo Di Berardino. Genova-M ilano, Casa Editrice Marietti S.p.A. 2006, pg. 19.

[2] Cfr. Didaqué, 2,1. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pg, 345.

[3] Cfr. Idem, 5,2, pg. 350.

[4] Cfr. Carta de Barnabé, 19,5. In: Idem, pg.

[5] Cfr. Petição em favor dos cristãos, III, 35. In: Padres Apologistas. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 163.

[6] Cfr. IdemIII, 35, pg. 163.

[7] Cfr. IdemIII, 36, pg. 164.

[8] Cfr. Tertuliano. Apologético, 9,8. São Paulo, Paulus, 2021, pg. 60.

[9] Cfr. Basilio il Grande. Lettere, 188, 2 (Ad Anfilochio). In: La Teologia dei Padri, Volume III. Roma, Città Nuova Editrice, 1982, pg. 367.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

domingo, 9 de julho de 2023

Quem são os brasileiros que irão ao Sínodo da Sinodalidade

Dom Leonardo Steiner celebra missa amazônica pela Casa Comum em Manaus / Arquidiocese de Manaus

Por Marcelo Musa Cavallari/ ACI Digital

SÃO PAULO, 08 Jul. 23 / 10:10 pm (ACI).-  

Pouco depois de saber que seria criado cardeal em agosto de 2022, o arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo Ulrich Steiner, disse em entrevista ao site do CELAM que queria servir de “lembrete do ministério do bispo de Roma na região, e, portanto, da fidelidade dele ao cuidado de nossa Casa Comum, à escuta em proximidade com os povos originários, à justiça na superação da violência em todas as suas formas, à presença samaritana entre os pobres”.

Dom Steiner, que busca uma “Igreja incarnada e libertadora”, mostrava-se como um arauto da visão do papa Francisco para a igreja no Brasil: “Farei todo o possível para que sua voz ressoe entre nós”, disse. Assim, não foi surpresa que dom Steiner tenha sido um dos cinco eleitos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para participar do Sínodo da Sinodalidade, que fará sua primeira assembleia geral entre 2 e 28 de outubro próximo no Vaticano.

A lista dos participantes foi publicada hoje (7) pela Santa Sé e inclui 13 brasileiros. Além do arcebispo de Manaus, foram eleitos pela CNBB o arcebispo emérito de Mariana (MG) dom Geraldo Lyrio Rocha, o bispo-auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ) dom Joel Portella Amado, o bispo de Santo André (SP), dom Pedro Carlos Cipollini, e o bispo de Camaçari (BA), dom Dirceu de Oliveira Medeiros.

cardeal João Braz de Aviz, prefeito do dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica é membro natural do sínodo por ter um cargo na Cúria Romana. O arcebispo de Salvador (BA), cardeal Sérgio da Rocha, é membro do Conselho de Cardeais nomeado pelo papa. Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS), presidente da CNBB e presidente do CELAM, também está na lista da Santa Sé.

Além deles, há duas leigas. Sonia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional de Leigos do Brasil da CNBB, disse a Vatican News que “é uma emoção muito grande enquanto mulher, preta, do sertão, estar nessa lista”.

Maria Cristina dos Anjos da Conceição é assessora nacional para Migração e Refúgio da Cáritas Brasileira. “A missão é contribuir para que na grande tenda do povo de Deus, cada vez mais alargada e numa perspectiva sinodal, possam caber todas as pessoas", disse Maria Cristina ao comentar sobre sua nomeação para o sínodo.

Três padres brasileiros, dois dos quais jesuítas como o papa, participarão como “facilitadores” e não terão, por isso, direito a voto. O padre Adelson Araújo dos Santos, S.J., o padre Miguel de Oliveira Martins Filho, também jesuíta, e o padre Agenor Brighenti.

Para dom Steiner, com a criação dele como primeiro cardeal da Amazônia na história da Igreja, o papa estaria “pedindo a nossas igrejas que assumam o sínodo, especialmente o texto Querida Amazônia e o documento final do sínodo dos bispos para a Amazônia”.

O documento final do sínodo da Amazônia abordou temas controversos, como a ordenação de homens casados, o diaconato feminino e a criação de um rito amazônico.

O papa, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia, de 2 de fevereiro de 2020, não acatou nenhuma das sugestões mais polêmicas do sínodo. Dias antes de sua criação como cardeal, no entanto, dom Steiner disse em uma entrevista ao portal católico suíço Kath.ch que “haverá uma maneira” de ordenar homens casados, os chamados «viri probati» (homens provados). “No rito latino há séculos de considerações e explicações que visam justificar o celibato obrigatório. As necessidades de nossas comunidades mostram que devemos continuar o diálogo”, disse.

É também a opinião do padre Adelson Araújo dos Santos, S.J.. Ele participou do Sínodo da Amazônia como perito nomeado pelo papa Francisco e disse ao jornal português Diário de Notícias que “o silêncio do Papa não significa que tenha vetado definitivamente" a possibilidade de padres casados na Amazônia.

Dom Jaime Spengler também já comentou temas polêmicos, como a ordenação de mulheres. Em entrevista à Folha de S. Paulo, em maio, respondendo se “as mulheres devem ganhar espaço no clero”, disse que “é uma questão em debate”. “Há sinais de que no passado, sobretudo na origem da Igreja, existia, sim, um diaconato feminino. Precisamos aprofundar os estudos”, disse. “Essa participação do feminino da vida ordinária da Igreja precisa ser promovida. Oxalá possamos juntos ampliar esses espaços”, completou.

Dom Jaime foi eleito presidente da CNBB durante a Assembleia Geral em abril de 2023. Um mês depois, foi eleito presidente do CELAM. Segundo ele, o processo de escuta e consulta que caracteriza o Sínodo da Sinodalidade veio “primeiro por iniciativa do CELAM”, na Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe de 2021. “E, na sequência, tivemos a inciativa do Santo Padre”.

“Todo esse processo de escuta que se desenvolveu e está sendo levado adiante ainda precisa avançar”, disse dom Spengler após a eleição para a presidência da CNBB à Rádio Gaúcha. “Que esse espírito da sinodalidade, que podemos usar um sinônimo que vem do Vaticano II, espírito de comunhão e participação, possa crescer e se consolidar entre nós”.

Sobre as pessoas com tendências homossexuais, Spengler disse que parte de “um princípio muito simples: são pessoas humanas, e merecem nosso respeito”. “Temos que ir ao encontro dessas pessoas ajudando, se possível, a pautar a própria vida de acordo com aquilo que são os critérios do Evangelho”, disse.

Com essa mesma preocupação, em 2021, o arcebispo de Salvador (BA), cardeal Sérgio da Rocha, celebrou uma missa pelas vítimas da “LGBTfobia”, com a presença de ativistas LGBT. Entre eles, estava um transformista caracterizado, que cantou a música “Ave Maria” após a comunhão.

Na época, o cardeal Rocha disse à ACI Digital que a equipe responsável pela organização da missa “não favoreceu a divulgação ou o uso ideológico da celebração”. Ele disse que a missa “não foi uma celebração em homenagem às pessoas falecidas, mas em sufrágio das almas”. Também afirmou que, “infelizmente, a instrumentalização ideológica ocorre quando se distorce a realidade dos fatos ou se atribui significado indevido, podendo ser de esquerda ou de direita”.

O cardeal Rocha presidiu a CNBB entre 2015 e 2019. Nesse papel, participou do Sínodo da Família, em 2015, e foi relator do Sínodo da Juventude, em 2018.

Antes de ir para o sínodo de 2015, dom Sérgio da Rocha disse em uma entrevista ao jornal ‘Estado de Minas’ que a Igreja queria dar mais atenção aos casais em situação difícil. “Esperamos que, no sínodo, possamos encontrar luz, para não só iluminar genericamente, mas oferecer orientação de ordem pastoral. É um tema que nos está preocupando e que preocupa a todos, como o papa Francisco admitiu claramente”, disse na época.

 “A Igreja quer acolher a todos”, acrescentou, “sem que ninguém fique excluído, mas ao mesmo tempo procura oferecer, à luz do Evangelho, os valores que vêm da palavra de Deus, que devem orientar a conduta de todo mundo”.

O cardeal João Braz de Aviz é prefeito do dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica da Santa Sé. Ele partilha com o papa Francisco a preocupação “com algumas posições tradicionalistas também no seio da vida religiosa. Partir do Concílio, é este o nosso desafio”, disse o cardeal segundo reportagem de Religión Digital, traduzida pelo Instituto Humanitas, da Unisinos.

Em um congresso para formadores religiosos de todo o mundo, em Roma, o cardeal Aviz pediu aos formadores de religiosos que “não se distanciem das grandes linhas do Concílio Vaticano II”. “Na verdade, aqueles que estão se distanciando do Concílio para traçar um outro caminho estão se suicidando - mais cedo ou mais tarde, eles vão morrer”, disse.

“Os contextos mudaram”, disse Braz de Aviz. “O Concílio recorda-nos que a vida consagrada deve ser um discipulado cristão ... deve ser o discipulado dos seus fundadores, mas também deve estar aberto à cultura do momento presente”.

Dom Geraldo Lyrio da Rocha, arcebispo emérito de Mariana (MG), participou, como presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, em Aparecida (SP), em maio de 2007.

Em junho do ano passado, nas celebrações dos 15 anos da Conferência Geral em Aparecida, dom Geraldo recordou que o então arcebispo de Buenos Aires, cardeal Jorge Mário Bergoglio, foi o relator do documento final da conferência. E ressaltou três pontos de aproximação entre o resultado da Conferência e o pontificado do agora papa Francisco: Forte cunho missionário, evangélica opção preferencial pelos pobres e ecologia.

Para dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e ex-secretário-geral da CNBB, "nós precisamos perceber o processo sinodal, ele não se pode dar por satisfeito. É sempre um processo que avança, cada vez mais, na medida em que é expressão de uma comunhão que nasce, o Deus trindade vai se concretizando entre nós, cada momento, cada etapa é um alargar, do círculo da sinodalidade. “

Dom Pedro Carlos Cipollini, bispo de Santo André (SP) também se preocupa com o conceito abstrato de sinodalidade em si. Em 2021, lançou o livro “Sinodalidade: Tarefa de Todos”, publicado pela Paulus Editora.

Ali, dom Cipollini diz que a ideia da sinodalidade passou a ser discutida, sobretudo, após o Concílio Vaticano II, a partir da criação do Sínodo dos Bispos, em 1965, por São Paulo VI e graças ao magistério do papa Francisco. Para ele, é no pontificado de Francisco que a ideia de sinodalidade se tornou um tema recorrente que vem ganhando espaço na discussão teológica e pastoral da Igreja.

Dom Dirceu de Oliveira Medeiros, bispo de Camaçari (BA) foi entre junho de 2019 a outubro de 2021, subsecretário adjunto geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e participou da equipe nacional de animação do Sínodo da Sinodalidade, organizada pela CNBB.

Em 27 de outubro de 2021, foi nomeado bispo de Camaçari (BA), pelo papa Francisco. Em sua primeira mensagem à diocese de Camaçari, disse: “Sigamos as intuições do papa Francisco de sermos Igreja Misericordiosa, Samaritana e em Saída. Estamos em sintonia com o Sínodo de 2023, convocado pelo Santo Padre, com o tema: ‘Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão’”.

Colaboraram nessa matéria Natalia Zimbrão, Monasa Narjara e Gustavo Amorim Gomes, da ACI Digital.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Como a enorme extração de água subterrânea está deslocando o eixo da Terra

Deslocamento de grandes quantidades de água afeta a distribuição de massa na Terra / SCIENCE PHOTO LIBRARY

Como a enorme extração de água subterrânea está deslocando o eixo da Terra.

  • Author,Redação
  • Role,BBC News Mundo
  • 4 julho 2023

A extração e transporte de águas subterrâneas fizeram com que o eixo de rotação da Terra se inclinasse quase 80 centímetros para o leste entre 1993 e 2010.

A conclusão é de um estudo publicado na última edição do periódico Geophysical Research Letters, da União Americana de Geofísica (AGU, na sigla em inglês).

Segundo os pesquisadores, o deslocamento de grandes massas de água devido à interferência humana nos aquíferos não só está provocando essa mudança no eixo de rotação da Terra, como também afeta o nível do mar.

"As águas subterrâneas bombeadas evaporam para a atmosfera ou correm para os rios. E elas acabam nos oceanos por meio da precipitação ou do deságue", explicou à BBC Mundo Ki-Weon Seo, professor de Ciências da Terra na Universidade Nacional de Seul, Coreia do Sul, e principal autor do estudo.

Desta forma, "a água se move da terra para os oceanos. É uma grande redistribuição de água.

A capacidade da água de alterar a rotação da Terra já havia sido descoberta em 2016.

Outro estudo de 2021 focou no impacto da perda de água nas regiões polares no eixo de inclinação da Terra, ou seja, no gelo que derreteu e escoou para os oceanos.

Até agora, no entanto, o efeito específico do deslocamento das águas subterrâneas nas mudanças rotacionais não era conhecido.ÉDIT,GETTY IMAGES

Efeitos da ação humana

O eixo de rotação da Terra é o ponto em torno do qual o planeta gira. Esse eixo imaginário liga o Polo Norte ao Polo Sul e, ao fim de 24 horas, a Terra dá uma volta completa sobre si mesma.

A ideia de que os polos geográficos da Terra — ou seja, os pontos por onde o eixo de rotação passa — são ligeiramente móveis já é bastante conhecida. E esse é um processo natural, já que o campo gravitacional terrestre não é perfeitamente igual em todos os pontos da superfície e mudanças na distribuição da massa do planeta fazem com que o eixo se mova.

Mas o tipo de deslocamento que se observa desde os anos 1990 tem marcas profundas da ação humana.

A distribuição da água no planeta afeta ainda mais como a massa é distribuída em nosso planeta. Segundo os cientistas, esse processo é quase como adicionar mais peso a um pião que não para de girar.

Da mesma forma que acontece com o brinquedo, a Terra gira de forma um pouco diferente conforme a água se move.

"O polo de rotação da Terra realmente muda muito", observa Seo. “Nosso estudo mostra que, entre as causas relacionadas ao clima, a redistribuição das águas subterrâneas tem o maior impacto na deriva rotacional dos polos”.

Os cientistas determinaram ainda que a redistribuição da água localizada originalmente nas latitudes médias tem um impacto maior no eixo de rotação.

Durante o período de estudo, a maior parte da água que foi redistribuída estava localizada no oeste da América do Norte e no noroeste da Índia, ambos em latitudes médias.

Os esforços dos países para reduzir a captação de águas subterrâneas, especialmente em regiões tão sensíveis, teoricamente poderiam alterar as mudanças na movimentação dos polos geográficos da Terra.

Mas isso só acontecerá se esses esforços forem mantidos por décadas, diz Seo.

O impacto da extração de água

No novo estudo, os cientistas estudaram o modelo de mudanças observadas no eixo de rotação da Terra e no movimento da água.

Primeiro, eles consideraram apenas os deslocamentos de água causados ​​pelo derretimento de calotas de gelo e geleiras. Depois adicionaram diferentes cenários de redistribuição de águas subterrâneas.

O modelo apenas correspondeu à mudança de inclinação registrada atualmente quando uma redistribuição de águas subterrâneas de 2.150 gigatoneladas foi incluída.

Estudos anteriores estimavam que o homem havia extraído 2.150 gigatoneladas de água subterrânea entre 1993 e 2010, uma quantidade que equivale a mais de 6 milímetros de aumento do nível do mar.

O novo estudo é uma contribuição importante para a humanidade, diz Surendra Adhikari, cientista pesquisador do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, que não esteve envolvido na pesquisa.

“Eles quantificaram o papel da extração de águas subterrâneas no movimento da Terra, e isso é muito significativo”.

Adhikari foi um dos autores do estudo de 2016 sobre o impacto da redistribuição da água.

Seo esclarece que a redistribuição da água não afeta as estações do ano.

"O eixo de rotação da Terra normalmente muda vários metros em um ano. Portanto, uma variação de cerca de um metro por cerca de duas décadas não afetaria o clima."

O importante para o cientista é ter verificado “que a extração de água subterrânea afeta o eixo de rotação da Terra”.

"Usamos o eixo de rotação como evidência observacional para a extração de águas subterrâneas."

'Como pai, estou preocupado'

"Estou muito satisfeito por ter encontrado uma causa até então inexplicável das mudanças no eixo de rotação", diz Seo.

"Por outro lado, como morador da Terra e pai, estou preocupado e surpreso ao ver a extração das águas subterrâneas como outra fonte de aumento do nível do mar."

A intensificação das secas devido às mudanças climáticas pode levar ao aumento da extração e transporte de águas subterrâneas.

O cientista está preocupado com a ligação entre esses movimentos das massas de água e a elevação do nível do mar.

"Essa é uma preocupação geral porque muitos de nós moramos em cidades costeiras", observa Seo. "Minha geração estaria bem, mas meus filhos poderiam ter problemas devido ao aumento do nível do mar."

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

Por que minha família não vai a parques de diversões nas férias

Jose Aitor Pons Buigues \ Pixabay CC0

Por Michael Rennier

Aprendemos algumas lições valiosas sobre os momentos de lazer e férias em família.

Há um parque temático bem conhecido perto da nossa cidade, com montanhas russas, passeios aquáticos e personagens de desenhos animados que enlouquecem as crianças. Não vou lá desde o liceu, por isso não sei como é hoje; tudo o que tenho são vagas recordações de comer sorvete a pingar nos meus sapatos no calor abrasador do Verão, e finalmente ter a coragem de andar na minha primeira montanha russa verdadeiramente assustadora.

Também me lembro de queimaduras solares, em filas tão longas que as minhas costas doíam, sendo desesperadamente quentes e pegajosas, e querendo sair após apenas algumas horas. Estas lembranças são maiores na minha mente do que qualquer outra coisa, e é provavelmente por isso que ainda não voltei.

Levamos os nossos filhos a um parque de diversões diferente, desses realmente grandes e famosos, há cerca de 10 anos atrás, nas nossas férias de Verão. Pensamos que seria divertido e, de certa forma, foi. Obviamente, estes parques de diversões são bem sucedidos por uma razão. A experiência criou definitivamente muitas memórias. Mas para nós a verdadeira diversão estava em recordar o quão miseráveis foram certas partes da experiência.

Lições aprendidas

Os nossos filhos tinham medo de quase todos os passeios. Choravam em vários e eu tinha de ficar ali preso com uma criança aos gritos enquanto um robô Capitão Gancho ria de forma maníaca. As crianças precisavam constantemente de usar o banheiro e nós passávamos grande parte do dia a puxá-las para dentro e para fora de lá. Elas queixavam-se constantemente de estarem com calor, cansadas e esfomeadas. Também eu. Elas eram difíceis de entreter enquanto esperavam em longas filas e, ainda por cima, toda a viagem custava uma enorme quantidade de dinheiro.

Cerca de três dias após a viagem, descobri exatamente como nos divertirmos. Na verdade, foi simples: deixar o parque de diversões.

Regressamos ao hotel no início da tarde, e passamos o dia em família, junto à piscina. Isso era literalmente tudo o que as crianças queriam. Elas queriam salpicar à volta da piscina com a mãe e o pai, comer pizza, e sentar-se à sombra quando estivessem cansadas.

Eu também adorei. Entre as descidas no escorregador de água, pude sentar-me numa cadeira à sombra, vê-los brincar, ler e beber um refresco.

Com base nessa experiência, cortamos a maior parte das coisas excessivamente turísticas por completo da nossa vida familiar. Assim, agora, simplesmente ir à praia é sempre uma atividade vencedora. Passar tempo em parques nacionais onde podemos caminhar e passear em cafés em pequenas cidades turísticas é também uma explosão de alegria.

Estamos também bastante satisfeitos por conduzir algumas horas a oeste de St. Louis para alguns acres de terra que a nossa família possui, onde temos uma pequena casa e um lago. Não há sinal de smartphone, por isso é sossegado. Fazemos fogueiras, assamos marshmallows, passeamos no lago, vamos pescar, jogamos frisbee, damos pequenos passeios pelo campo, e fazemos pequenas viagens à cidade onde há uma loja de doces (e algumas adegas).

Manter a simplicidade é por vezes melhor

Viajar sempre foi uma daquelas partes da vida em que eu tenho pensado muito, de forma quase obsessiva. Durante muito tempo, enquanto jovem, eu ia de férias a certos lugares porque me parecia ser a coisa certa a fazer. Todos os outros iam a um lugar assim e faziam certas coisas, tinham experiências específicas, por isso pensava que também eu devia. Passado algum tempo, perguntei-me se estava de férias apenas por causa das fotografias, para poder dizer que tinha estado lá, feito aquele passeio, ou para me encaixar na forma como todos os outros viajavam.

Parece-me que há muitas pessoas por aí que adoram férias hiperativas. Elas adoram a experiência turística completa. Adoram cruzeiros e parques temáticos e visitas guiadas. Eu, no entanto? Não quero mesmo fazer nada. Com a nossa família, em vez de nos queimarmos em atividades, todos parecem mais felizes se nos afastarmos um pouco das nossas circunstâncias típicas e comuns (por isso não fazemos apenas o que fazemos em casa) e passarmos juntos muito tempo de qualidade, lento e de lazer.

Acho que o que quero dizer é que, independentemente das férias, assegurem-se de passar tempo com a família e amigos exactamente da maneira que quiserem. As férias não têm de ter um determinado aspecto ou marcar uma pontuação específica. As férias não são experiências a serem adquiridas, mas sim momentos especiais a serem vividos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa anuncia Consistório para 30 de setembro. Dom Américo Aguiar será cardeal

O Papa Francisco conduz sua oração do Angelus dominical da janela de seu escritório com vista para a Praça de São Pedro, Cidade do Vaticano, 9 de julho de 2023. ANSA/RICCARDO ANTIMIANI

Ao final do Angelus o Papa Francisco anunciou o Consistório para a criação de novos cardeais, entre os quais Dom Américo Manuel ALVES AGUIAR, bispo auxiliar de Lisboa.

Vatican News

Após rezar o Angelus, o Papa Francisco anunciou para setembro a realização de um Consistório para a criação de novos cardeais, o nono de seu Pontificado. O primeiro foi em 22 de fevereiro de 2014, seguiu-se o de 14 de fevereiro de 2015; 19 de novembro de 2016; 28 de junho de 2017; 28 de junho de 2018; 05 de outubro 2019; 28 de novembro de 2020; 27 de agosto de 2022. Eis o anúncio:

"Queridos irmãos e irmãs, tenho o prazer de anunciar que no próximo dia 30 de setembro realizarei um Consistório para a criação de novos cardeais. A sua proveniência exprime a universalidade da Igreja que continua a anunciar o amor misericordioso de Deus a todos os homens da terra. Além disso, a inclusão de novos cardeais na Diocese de Roma demonstra o vínculo inseparável entre a Sé de Pedro e as Igrejas particulares espalhadas pelo mundo. Eis os nomes dos novos Cardeais:

1 - Dom Robert Francis PREVOST, O.S.A., Prefeito do Dicastério para os Bispos
2 - Dom Claudio GUGEROTTI, Prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais
3 - Dom Víctor Manuel FERNÁNDEZ, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé
4 - Dom Emil Paul TSCHERRIG, Núncio Apostólico
5 - Dom Christophe Louis Yves Georges PIERRE, Núncio Apostólico
6 - Dom Pierbattista PIZZABALLA, Patriarca Latino de Jerusalém
7 - Dom Stephen BRISLIN, Arcebispo da Cidade do Cabo (Kaapstad)
8 - Dom Ángel Sixto ROSSI, S.J., Arcebispo de Córdoba
9 - Dom Luis José RUEDA APARICIO, Arcebispo de Bogotá 
10 - Dom Grzegorz RYŚ, Arcebispo di Łódź,
11 - Dom Stephen Ameyu Martin MULLA, Arcebispo de Juba
12 - Dom José COBO CANO, Arcebispo dieMadrid
13 - Dom Protase RUGAMBWA, Arcebispo coadjutor de Tabora
14 - Dom Sebastian FRANCIS, Bispo de Penang
15 - Dom Stephen CHOW SAU-YAN, S.J., Bispo de Hong Kong
16 - Dom François-Xavier BUSTILLO, O.F.M. Conv., Bispo de Ajaccio
17 - Dom Américo Manuel ALVES AGUIAR, Bispo auxiliar de Lisboa
18 - Rvdo. Ángel FERNÁNDEZ ARTIME, s.d.b., Reitor-Mor dos Salesianos.

Juntamente com eles unirei aos membros do Colégio Cardinalício dois arcebispos e um religioso que se distinguiram pelo serviço à Igreja:

19 - Dom Agostino MARCHETTO, Núncio Apostólico
20 - Dom Diego Rafael PADRÓN SÁNCHEZ, Arcebispo emérito de Cumaná
21 -  Pe. Luis Pascual DRI, OFM Cap., confessor no Santuário de Nossa Senhora de Pompeia, Buenos Aires

Rezemos pelos novos cardeais, para que, confirmando a sua adesão a Cristo, Sumo Sacerdote misericordioso e fiel (cf. Heb 2, 17), me ajudem no meu ministério de Bispo de Roma para o bem de todo o Santo Povo fiel de Deus."

Dom Américo Manuel ALVES AGUIAR, bispo auxiliar de Lisboa

Dom Américo Alvez Aguiar Nasceu em 12 de dezembro de 1973 em Leça do Balio, Matosinhos. Em 1995 ingressou no Seminário Maior do Porto; Concluiu os seus estudos acadêmicos na Universidade Católica: primeiro Teologia (Porto) e depois um Mestrado em Ciências da Comunicação (Lisboa);

Em 2001 foi ordenado sacerdote por Dom Armindo Lopes Coelho;
2001/2002 - pároco de S. Pedro de Azevedo, Campanhã;
2001/2004 - Tabelião na Cúria Diocesana;
2002/2015 - Responsável pelo Escritório de Informação/Comunicação;
2002/2008 - Assistente Regional do Corpo Nacional de Escoteiros;
2004/2015 - Vigário Geral, Chefe de Gabinete dos Bispos do Porto e Capelão da Cúria Diocesana. e Capelão-Mor da Misericórdia do Porto;
2007/2015 - Vice-Reitor do Santuário Diocesano de Santa Rita (Ermesinde);
2014/2015 - Pároco in solidum da Catedral;

Foi membro do Cabido Portucalense de 2017 a fevereiro de 2019;
Foi Diretor da Secretaria Nacional de Comunicação Social de 7 de abril de 2016 a 1º de maio de 2019;
Nomeado pelo Papa Francisco bispo auxiliar de Lisboa a 1 de março de 2019. Ordenado bispo titular de Dagno a 31 de março de 2019, na Igreja da Trindade, Porto; É Presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023. É Diretor do Departamento de Comunicação do Patriarcado de Lisboa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A Via-Sacra

Via-Sacra (Comunidade Oásis)

A VIA-SACRA

Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

(...). Na mensagem de hoje pretendemos continuar a reflexão sobre a piedade popular, como forma de expressão de fé, semelhante ao que já vimos anteriormente em relação ao ângelus e ao rosário ou terço. Assim, nosso tema da presente reflexão será sobre a origem histórica da tradição da Via-Sacra.

Já é do nosso conhecimento que, nos primeiros séculos do cristianismo, o mistério da Paixão-Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, narrado pelos evangelistas, centralizou a vida de oração e meditação da Igreja. É justamente a partir do mistério pascal do Senhor que foi surgindo o Ano Litúrgico da Igreja, com suas celebrações, enriquecidas ao longo da história. Mas a profundidade do mistério pascal nem sempre se tornou tão acessível a todo povo cristão, por motivos diversos. Na Idade Média, por exemplo, o clero e os monges tinham acesso à liturgia oficial e com ela nutriam sua espiritualidade, mas o povo simples, que não entendia mais a língua usada na liturgia (latim) e suas complexas cerimônias, nutria sua piedade com diversas devoções, normalmente paralelas às cerimônias oficiais. Esta realidade se acentuaria até o Concílio Vaticano II (1962-1965). Privado, de certa forma, do alimento da Palavra de Deus e da participação consciente e ativa nas celebrações litúrgicas, o povo recorreu a formas alternativas ou substitutivas. Tentou concentrar sua fé e piedade em torno dos mistérios essenciais da redenção: encarnação, paixão/morte e ressurreição. É neste contexto que se abriram as portas para o surgimento do rosário (terço), do ângelus, da via-sacra e de outras devoções. Estas se difundiram rapidamente, sobretudo através dos pregadores itinerantes (dominicanos e franciscanos), respondendo a uma necessidade pastoral da época, como vimos acima. Outro elemento que favoreceu a difusão das devoções foi a forte tendência à teatralização e repetição na liturgia da época. Dentro deste contexto, os mistérios da encarnação (presépio), da paixão e morte (via-sacra) receberam atenção especial pelo realismo cênico e pelo toque da sensibilidade dos fiéis.

Desta forma, o mundo medieval acolheu o surgimento da Via-Sacra, conhecida e praticada até hoje. Já no séc. XIII existiam muitas dramatizações da paixão, com fins de catequese e contemplação. No século seguinte as dramatizações continuaram e se acentuou sempre mais a meditação. As estações se multiplicaram, chegando até mais de quarenta. Além da inspiração das cenas dos evangelhos foram surgindo também aspectos lendários do caminho da cruz, como as quedas de Jesus e os encontros com Verônica e com Maria Santíssima, a Mãe de Jesus. Somente no século XVII encontraremos, na Espanha, as 14 estações que conhecemos até hoje. Se no início tudo era encenado ao vivo, aos poucos as representações passariam para estátuas e a quadros representativos ou simples cruzes nas paredes das igrejas ou oratórios, como ainda hoje vemos em nossos templos.

Com esta síntese histórico-evolutiva da Via-Sacra, percebemos que o mistério da paixão e morte do Senhor sempre impressionou o Povo de Deus de forma profunda. Na Idade Média, a Semana Santa recebeu inclusive o título de “Semana Dolorosa”, devido ao acento predominantemente emocional em relação à paixão e morte de Jesus Cristo, perdendo-se até a unidade do mistério pascal, como passagem da morte para a ressurreição. Também em nosso tempo, a paixão do Senhor atinge profundamente nossos sentimentos. As encenações da Paixão de Cristo e as Via-Sacras se multiplicam e são bem acolhidas pela piedade popular.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Reflexão para o XIV Domingo do Tempo Comum (A)

Evangelho do domingo (Vatican Media)

A mensagem evangélica da liturgia deste domingo nos fala do benefício fundamental que é para nós a presença do Espírito ao nos provocar a opção pela vida e nos impedir a acomodação.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

A primeira leitura nos fala de um legítimo rei da dinastia de Davi. Montado em um jumento e com atitudes pacifistas, o rei de Sião terá um reino imenso que de tão grande se estenderá até os confins da terra. Esse rei é humilde e pacificador e manifesta seu poder comunicando justiça e paz a todas as nações.

Ele não só tem essa atitude positiva, mas também destrói tudo aquilo que é sinal de morte para os povos. Assim, ele possibilita a existência da paz.

Ora, a leitura desse texto nos recorda a liturgia do Domingo de Ramos e já podemos deduzir que esse rei da paz é Jesus, o Príncipe da Paz, legítimo descendente de Davi como nos relata a liturgia do Advento. 

No Evangelho vemos Jesus sentindo que sua missão pacifista desagrada os doutores da Lei, os letrados e as pessoas importantes, mas causa interesse aos pobres e marginalizados, diz “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e doutores e as revelaste aos pequeninos.” (Mt 11, 25b)

Fazemos a constatação do que vemos sempre: os instalados não precisam, não querem mudanças e até a proíbem, enquanto os marginalizados, que sentem desconforto e suas necessidades insaciadas, almejam a mudança da situação, querem justiça, querem o necessário para viver dignamente.

Nisso tudo é denunciado o perigo extremo de não sentir-se necessitado de Deus e de aos poucos tornar-se materialista.

O trecho do Evangelho termina com o convite de Jesus aos que se sentem marcados, injustiçados pela sociedade materialista, repleta de pessoas egocêntricas e muito bem instaladas na cultura da morte. Ao mesmo tempo, o Senhor fala que fazer parte da Civilização do Amor, de seus seguidores, traz um peso, uma responsabilidade, mas que eles são suaves porque são provocados pelo amor, pela descentralização de si, pelo sair de seu comodismo, de desinstalar-se par ir ao outro, para servir.

Finalmente, São Paulo em sua Carta aos Romanos, nos diz que vivemos segundo o espírito e não segundo a carne, pois pertencemos a Cristo e o Espírito de Deus mora em nós. Esse Espírito foi o que ressuscitou Jesus, eliminando tudo o que conduz a criação à injustiça e à morte.

Portanto, a mensagem evangélica da liturgia deste domingo nos fala do benefício fundamental que é para nós a presença do Espírito ao nos provocar a opção pela vida e nos impedir a acomodação.

Será um momento muito importante para nossa vida de cristão, fazermos uma reflexão em que nos perguntemos: de que lado me encontro? Dos acomodados e que não sentem necessidade de mudanças profundas? Ou do lado dos marginalizados, dos inconformados, dos que anseiam pelo Senhor como “terra sedenta e sem água”, como nos fala o Sl 62, 2?

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF