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terça-feira, 11 de julho de 2023

São Bento

São Bento (A12)

11 de Julho

São Bento

A principal fonte sobre a vida de São Bento é o livro II dos “Diálogos” de São Gregório Magno, totalmente dedicado a ele. Bento nasceu por vota do ano 480 em Núrcia (Norcia, em Italiano), província de Perúgia, região da Úmbria na Itália central. Tinha uma irmã gêmea, Escolástica, também canonizada. Os pais provavelmente tinham boa condição social e financeira, e por isso Bento teve a oportunidade de ir estudar em Roma.

A época era difícil, de decadência, desagregação e confusão, pois todo o território do antigo Império Romano ainda sofria com as sucessivas invasões de variados povos bárbaros. Roma apresentava desorganização e mediocridade moral. Também na Igreja a situação era difícil, incluindo um cisma de três anos após a morte do Papa Anastácio II em 498, que foi seguida pela disputa entre Símaco, Papa legítimo, e Lourenço, antipapa. Neste ambiente, corrompido por barbárie e antiga cultura decante, ficou evidente para Bento que seus desejos de busca elevada e sobrenatural não poderiam ser alcançados.

De fato, mesmo moço, já tinha a personalidade sedimentada numa profunda maturidade: assim São Gregório se refere a ele, “Houve um varão de vida venerável, bento por graça e por nome, dotado desde sua mais tenra infância de uma cordura de ancião. Com efeito, antecipando-se por seus costumes à idade, jamais entregou seu espírito a qualquer prazer (…), desprezou o mundo com suas flores, como se estivessem murchas”.

Portanto abandonou os bens, a casa e os estudos, escolhendo viver na erma aldeia de Efide (atual Affile), a aproximadamente 50 km de Roma, nas montanhas de Sabina, em recolhimento e oração. Sua antiga governanta não se quis separar dele e o acompanhou, servindo-o nos afazeres domésticos.

Veio a ocorrer que esta mulher, por descuido, deixou cair e quebrar uma jarra de argila emprestada de uma vizinha. Bento a encontrou chorando pelo acontecido, e, compadecido, juntou os pedaços e rezou sobre eles, que se reconstituíram de forma perfeita. Este foi o primeiro milagre por sua intercessão, que logo lhe trouxe muita fama e popularidade; ele, que “desejava mais os desprezos que os louvores deste mundo” (São Gregório Magno), retirou-se, agora sozinho, para as montanhas de Subíaco.

Ali, por volta de 505, refugiou-se numa gruta, tendo antes encontrado com um monge chamado Romão (ou Romano) de um mosteiro próximo. Romão o ajudou baixando diariamente, por uma corda, o pão que durante certo tempo foi o único alimento do jovem eremita; também forneceu a Bento um hábito monástico.

Durante três anos, entregue à direção do Espírito Santo, viveu Bento, sofrendo muito as tentações do diabo. Em relação à pureza, em ocasião particularmente intensa, encontrou como recurso o expediente de, para não fraquejar, retirar as vestes e atirar-se nu nas moitas de espinhos e urtigas, nas quais arrastou-se, de modo que todo o corpo ficou ferido, e a dor substituiu o desejo. Depois do episódio, não mais foi tentado pela luxúria.

Estando com cerca de 30 anos, a comunidade de um mosteiro próximo, em Vicaro, insistiu para que ele se tornasse o abade. Estes monges, tíbios e insinceros, logo se arrependeram, pois Bento os queria conduzir para a perfeição, através da observância estrita da regra monástica e do dever, o que não desejavam; decidiram então matá-lo, colocando veneno no seu vinho.

Ao abençoar Bento a bebida, com o sinal da Cruz, o recipiente se quebrou, e o santo abade descobriu as suas intenções. Abandonando o mosteiro, Bento voltou para a sua gruta (conhecida depois como Sacro Speco, “gruta sagrada”, e que foi protegida para preservação com a construção do Mosteiro de São Bento na montanha de Subíaco).

Mesmo na solidão a sua fama de santidade se espalhou, e surgiram discípulos em número crescente. De Roma chegavam nobres varões, e filhos de muitos patrícios desejosos de que Bento os ensinasse e formasse. Entre eles estavam por exemplo os futuros São Mauro e São Plácido, importantíssimos na História da Ordem e da Igreja. Houve a necessidade de Bento fundar 12 mosteiros nas proximidades, no vale do rio Aniene, cada qual com 12 monges dirigidos por um abade sob sua supervisão.

Na prática, estava fundada assim a Ordem Beneditina. Em paz e harmonia, dedicando-se à oração e ao trabalho, a comunidade prosperava, e os milagres, a doutrina e santidade de Bento despertavam numerosas vocações.

Muitos foram os milagres de São Bento ali. Curou doentes, salvou pessoas de perigos, expulsou demônios, fez um monge andar sobre as águas, ressuscitou um menino morto. Um dos mais famosos foi ter feito brotar água de um ponto alto na montanha, para abastecer três dos mosteiros, cujos monges tinham grande dificuldade em subir e descer para consegui-la.

A fonte permanece abundante até hoje. Bento recebeu também o dom de saber o que se passava com os seus filhos espirituais, sem vê-los, à distância; assim pôde corrigir, por exemplo, dois monges que indevidamente tinham bebido e comido fora do mosteiro, e outro que, também indevidamente, aceitara um presente das monjas de um mosteiro próximo, ao qual Bento lhe mandara dar assistência espiritual.

Como é comum, tais maravilhas despertam inveja, e o pároco de uma igreja nas vizinhanças de Subíaco, de nome Florêncio, iniciou uma campanha de difamação dos beneditinos e seu abade, procurando afastar deles as pessoas. Não tendo sucesso, presenteou São Bento com um pão envenenado. Ora, todo dia o santo oferecia pão a um corvo que vinha na hora da refeição.

Bento ordenou-lhe que levasse o pão envenenado para longe, onde não pudesse fazer mal a ninguém, e assim aconteceu. Florêncio então tentou corromper os outros monges, fazendo entrar no quintal do mosteiro sete moças nuas para despertar a sua luxúria. Bento, sabendo que era ele próprio o motivo desta perseguição, resolveu ir embora com alguns poucos irmãos, depois de organizar a direção da comunidade. Florêncio contemplava satisfeito a partida do abade, sobre um terraço, quando só esta parte da construção ruiu, e o matou… São Bento, avisado, chorou pelo inimigo. A data aproximada era 529.

Bento chegou com seus companheiros a Cassinum, uma antiga vila fortificada romana, entre Roma e Nápoles. Reformando a fortaleza e o antigo templo pagão do lugar, transformou-os na célebre Abadia de Monte Cassino, de onde a Ordem Beneditina se espalhou por toda a Europa. Realmente foi a sua influência de comunidade verdadeiramente católica, de governo sábio e organizado, baseado nas diretrizes do Evangelho, que se tornou o exemplo iluminado para os costumes espirituais e materiais, tanto no âmbito público como no privado, de toda uma época, sendo igualmente referência para todos os tempos.

Um dos aspectos essenciais deste sucesso é a famosíssima Regra que São Bento aí escreveu (ao menos na sua redação atual) para os seus monges, um farol de sensatez, equilíbrio e sabedoria espiritual e prática, que permite “aos fortes progredirem a aos fracos não desanimarem”. É uma leitura obrigatória para todo católico, religioso ou leigo, que queira aprofundar e desenvolver a sua vida espiritual, sob o benefício da equidade.

Como esclarece o erudito bispo e teólogo Bossuet, do século XVII, a Regra de São Bento é “uma suma de cristianismo, um douto compêndio de toda a doutrina do Evangelho, de todas as instituições dos Santos Padres, de todos os conselhos de perfeição. Nela sobressaem eminentemente a prudência e a simplicidade, a humildade e o valor, a severidade e a mansidão, a liberdade e a dependência; nela a correção desdobra todo o seu vigor, a condescendência todo o seu atrativo, a autoridade a sua robustez, a sujeição a sua tranqüilidade, o silêncio a sua gravidade, a palavra as suas graças, a força o seu exercício, e a debilidade o seu sustentáculo”.

O seu objetivo é afastar do coração humano as trivialidades, facilitando a alma a elevar-se sem obstáculos a Deus, serena e permanentemente focando na vida infinita do Paraíso, e o seu modus operandi é o conhecido aforismo Ora et Labora, “reza e trabalha”, que harmoniza – na ordem certa – as atividades vitais do ser humano, a oração e a ação.

A obra civilizadora de São Bento e sua Regra foram a resposta de Deus ao caos do período, trazendo obediência e beleza, cultura e espiritualidade – os fundamentos da vida humana comunitária – para as sociedades medievais e posteriores.

Monte Cassino e São Bento passaram a ser procurados e visitados por bispos, abades, reis, príncipes, nobres, pessoas comuns, em busca de conselho, conforto, orientação e aprendizado. Da mesma forma, posteriormente, outros mosteiros beneditinos passaram a ser o centro de núcleos de civilização e progresso, em torno dos quais os países europeus fixaram as bases do seu desenvolvimento, que só é possível com paz e estabilidade.

Santa Escolástica, irmã gêmea de São Bento, promoveu o desenvolvimento do ramo feminino da Ordem. Encontravam-se anualmente numa casa pertencente ao mosteiro de Monte Cassino, relativamente próxima do mosteiro feminino. No ano de 547, sabendo que sua morte estava próxima, e tendo passado como sempre aquela data especial em elevada conversação com o irmão, Escolástica pediu que ele ali ficasse e tivessem ainda a noite para falar das coisas de Deus. Bento recusou energicamente, pois disciplinadamente queria passar a noite no mosteiro.

Ela então abaixou a cabeça, rezando por alguns momentos, e quando a ergueu de novo o tempo, límpido, transformou-se numa tempestade tão absurdamente violenta que água e raios impediam completamente que o abade e seus poucos monges acompanhantes saíssem da casa.

“— Que Deus Todo-Poderoso te perdoe, irmã! O que fizeste?

— Supliquei a ti e não quiseste atender-me. Roguei ao meu Senhor e Ele me ouviu. Agora sai, se podes, e regressa ao mosteiro…”

São Bento entendeu, e passaram a noite em vigília. Três dias depois, ele viu a alma da irmã, sob a forma de pomba, subir ao Paraíso. Mandou recolher o seu corpo e o sepultou no local que havia aprontado para si. Bento faleceu provavelmente no mesmo ano, 547, em 21 de março.

Tendo conhecimento do que ia acontecer, mandou preparar a sepultura ao lado da irmã com seis dias de antecedência. Logo foi tomado de febre, com a condição piorando rapidamente. No dia previsto, fez questão de ser levado ao oratório, onde, apoiado nos braços dos irmãos, recebeu a Santíssima Comunhão e morreu, de pé, com a alma erguida diante do Senhor.

Após sua morte, a Ordem Beneditina continuou a crescer, especialmente a partir da Abadia de Cluny, na França do século X: chegaram estar subordinados a ela 17 mil mosteiros. Nações inteiras foram convertidas ao Catolicismo sob a influência beneditina; muitas e famosas universidades, como Paris, Cambridge, Bolonha, Oviedo, Salamanca e Salzburgo tiveram origem a partir de colégios beneditinos; mais de 30 Papas adotaram sua Regra; incontáveis mártires, cardeais, bispos, santos, discípulos, partilharam e partilham desta espiritualidade.

São Bento é o Fundador e Patriarca do monaquismo do Ocidente, e primeiro Patrono da Europa, atualmente junto com santos Metódio e Cirilo e santas Brígida, Catarina de Sena e Tereza Benedita da Cruz.

 Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Absolutamente notável é a vida e a figura de São Bento, bem como a sua obra. Claro, muitos são os santos que tiveram vidas e missões particularmente excepcionais, e também com obras imensas. O alcance do que fez e o legado que deixou é que o torna um destaque mesmo entre eles. O equilíbrio da Regra Beneditina, de profundíssima espiritualidade a par com um bom senso “divinamente humano”, e uma praticidade chã e elevada ao mesmo tempo a torna verdadeiramente acessível a potencialmente qualquer um, religioso ou leigo. É uma receita de santidade palpável e universal, uma solução direta às aspirações do “como viver”, e bem, do ser humano. Tem, neste sentido, a catolicidade da própria Igreja. Sua própria vida incluiu harmoniosamente milagres estrondosos e a mais normal rotina de oração, trabalho, estudo, lazer e descanso, dando exemplo da maior elevação espiritual em todos os aspectos que compõem a vida humana, de forma simples e realmente praticável, tanto individual quanto comunitariamente. Isto de fato é tão inusitado quanto grandioso: as vidas e obras de outros gigantes de santidade não apresentam todos estes aspectos juntos. São conhecidos muitos que passaram por exemplo por experiências, místicas ou humanas, de exigência extrema, grandes taumaturgos, grandes doutores, grandes missionários, grandes penitentes…uma lista incontável; mas o aspecto individualíssimo das suas vivências, situações e desdobramentos na vida dos povos e da Igreja, principalmente considerando todos os aspectos em conjunto, não abarca ou pode incluir na sua proposta de santidade um número tão grande de almas como é possível pela espiritualidade beneditina. Não quer dizer que todos tenham gosto, propensão, vocação específica para ela, mas sim que ela pode de alguma forma ser praticada por qualquer um, porque é maleável o suficiente para se adaptar a circunstâncias diferentes, sem perder o conteúdo. Traz sempre um equilíbrio acessível. E isto, em outras palavras, é possibilitar que se torne individual a salvação universal de Cristo, num mesmo âmbito de comunhão: a própria essência da unidade na diversidade desejada pela Igreja.

Oração:

“Escuta, filho, os preceitos do mestre, e inclina o ouvido do teu coração; recebe de boa vontade e executa eficazmente o conselho de um bom pai para que voltes, pelo labor da obediência, Àquele de Quem te afastaste pela desídia da desobediência. A ti, pois, se dirige agora a minha palavra, quem quer que sejas que, renunciando às próprias vontades, empunhas as gloriosas e poderosíssimas armas da obediência para militar sob o Cristo Senhor, verdadeiro Rei” (Início do Prólogo da Regra de São Bento). Ó Deus de amor e sabedoria, concedei-nos que, por intercessão de São Bento, como ele reformemos a dura fortaleza e antigo templo mundano da nossa própria alma, pela vivência humilde da regra de Salvação que nos destes na Palavra da Vossa Igreja, ouvindo e obedecendo ao Mestre a Quem queremos voltar. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Síntese de todas as heresias

Gnose (sympla)

Os gnósticos dizem que somente os iniciados na gnose conhecem o fundo de todas as coisas. Eles são panteístas, creem que tudo é deus e que os indivíduos são reduzidos a números.

Redação (03/09/2020 16:45 – Gaudium Press) No século I, os cristãos enfrentaram as perseguições dos imperadores romanos, sobretudo de Nero e Domiciano. E também as heresias, de modo especial a gnose que se expandiu pelo mundo e até hoje exerce ação nefasta nas almas e instituições.

A gnose se opõe radicalmente à Doutrina Católica

A palavra gnose provém do grego “gnosis”, que significa conhecimento. Os gnósticos, encharcados de orgulho, dizem que somente os iniciados conhecem o fundo de todas as coisas. A gnose é também denominada panteísmo, do grego pan, tudo, e teos, deus. Ou seja, tudo é deus.

Segundo a gnose, deus era composto de partículas chamadas éons, todas iguais entre si e sem consciência de que existiam. Esse deus impessoal vivia na completa paz, mas em dado momento houve um desastre: um éon quis ser diferente dos outros, individualizou-se e destacou-se do todo.
Esse éon revoltado, denominado demiurgo, criou a matéria a qual é essencialmente má. Portanto o Deus criador é o deus do mal. A gnose se opõe radicalmente à Doutrina Católica; ela é, no fundo, a síntese de todas as heresias.

Algumas seitas gnósticas chegaram aos mais execrandos horrores. Por exemplo, a dos “cainitas, que exaltavam em Caim o herói da antimoral, a dos ofitas, que adoravam a serpente da tentação de Adão e Eva, a dos fanáticos de Judas, que se propuseram elaborar um evangelho atribuído a este”.

Noção de pessoa

Desse vasto tema, focalizaremos alguns pontos importantes, transcrevendo alguns ensinamentos de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.
“Os adeptos dessa teoria não têm a ideia da Criação e sim a de que o homem é uma partícula que se desprendeu de uma divindade, mas não deveria ter-se desprendido. Isso foi um desastre nesse deus e, uma vez que eu nasci desse desastre, o que devo querer agora é manter-me em uma espécie de nirvana ou de nada, até o momento feliz em que eu possa me reincorporar na divindade.”

O deus dos gnósticos é impessoal. Isso se opõe à Doutrina Católica a qual ensina que Deus é pessoal.

“Chama-se ‘pessoa’ um ser que pensa a respeito de si mesmo e forma, portanto, um circuito fechado. Um bicho, uma planta, uma pedra não são pessoas, e sim indivíduos. […]

“Deus é Pessoa porque Ele tem consciência de Si próprio, daquilo que Ele criou. E de tal maneira é Pessoa que, na sua unidade — porque é um só Deus —, há três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O que constitui o mistério da Santíssima Trindade. […]

“Os animais, as plantas e os minerais são como as franjas do universo. Deus criou o universo para as pessoas, que são os anjos e os homens. E é em cada uma dessas pessoas que Deus encontra a sua imagem. Com essa noção, compreende-se fazer parte da Doutrina Católica que cada pessoa se personifique cada vez mais.”

Os indivíduos são reduzidos a números

“O panteísmo quer uma coisa que é o oposto. Como ele deseja despersonalizar os indivíduos, quer uma organização social onde os indivíduos fiquem reduzidos a números.
“Por quê? Porque o número, a quantidade, é próprio da matéria. A matéria é inerte, não pensa. […]

“Tomem um conjunto de pedras. O que é cada pedra do conjunto? É um número. Considerem um conjunto de homens. Cada um é apenas um número? Não. Entrou a alma humana, entrou a eternidade. É a pessoa, uma coisa completamente diferente.

“Então, começa a Revolução a promover a massificação, quer dizer, um estilo de vida no qual os homens cada vez mais vivam em multidões, em grandes cidades, em grandes aglomerados, onde eles não se conhecem ou quase não se conhecem uns aos outros. […]

“Uma organização que vai cada vez tomando menos em consideração as características de cada um, para igualar todos e fazer com que tenham tanto quanto possível as mesmas caras, as mesmas casas, os mesmos gostos, os mesmos hábitos, os mesmos modos de sentir e de pensar, e que cada um fique tanto quanto possível reduzido a um grão de areia; e em que as relações entre uma pessoa e outra não sejam mais pessoais, de uma pessoa que conhece outra, que estima, gosta, detesta, mas relações anônimas.”

Orgulho e impureza

A Revolução, que domina atualmente o mundo inteiro, tem como molas propulsoras o orgulho e a sensualidade.
“A partir do orgulho e da impureza, se vão formando os elementos constitutivos de uma concepção diametralmente oposta à obra de Deus. Essa concepção, em seu aspecto final, já não difere da católica só em um ou outro ponto.

“À medida que, ao longo das gerações, esses vícios se vão aprofundando e tornando-se mais acentuados, vai-se estruturando toda uma concepção gnóstica e revolucionária do Universo.

“A individuação, que para a gnose é o mal, é um princípio de desigualdade. A hierarquia — qualquer que seja — é filha da individuação. O Universo — segundo os gnósticos — resgata-se da individuação e da desigualdade num processo de destruição do ‘eu’, que reintegra os indivíduos no grande Todo homogêneo.

“A realização, entre os homens, da igualdade absoluta, e de seu corolário, a liberdade completa — numa ordem de coisas anárquica — pode ser vista como uma etapa preparatória dessa reabsorção total. Não é difícil perceber, nesta perspectiva, o nexo entre gnose e comunismo.

“Assim, a doutrina da Revolução é a gnose, e suas causas últimas têm suas raízes no orgulho e na sensualidade.”
Roguemos a Nossa Senhora a graça de sermos contrarrevolucionários ilibados, combatendo os erros que envenenam o mundo atual e assim nos prepararmos para o Reino de Maria que se aproxima.

Por Paulo Francisco Martos

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1 – DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante. 1988, p. 286.
2 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O maior prazer da vida. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano XX, n. 233 (agosto 2017), p. 31.
3 – Idem. Santidade e personalidade I. In Dr. Plinio. Ano XIX, n. 217 (abril 2016), p. 8.
4 – Idem. Santidade e personalidade II. In Dr. Plinio. Ano XIX, n. 218 (maio 2016), p. 9-10.
5 – Idem. Devoção a Nossa Senhora: condição essencial para a Contra-Revolução. In Dr. Plinio. Ano XIV, n. 158 (maio 2011), p. 14.16.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

“O confronto de idéias é sempre positivo”

Giovanni Maria Vian (30Giorni)

L'osservatore Romano / Arquivo 30Dias - 09/2007

Occhiell

“O confronto de idéias é sempre positivo”

Giovanni Maria Vian, o novo diretor de L’Osservatore Romano, fala de sua vida. A amizade de seu pai com Montini. Os estudos. A atividade de historiador e de professor ordinário de Filologia. A paixão pelo jornalismo.

Entrevista com Giovanni Maria Vian de Gianni Cardinale

No dia 29 de setembro foi anunciada a mudança na cúpula do jornal oficioso da Santa Sé. Mario Agnes, 76 anos em dezembro, que dirigia L’Osservatore Romano desde 1984, foi nomeado diretor emérito. O novo diretor responsável do jornal pontifício é Giovanni Maria Vian, 55 anos. Depois de treze anos de “sede vacante” foi nomeado também um vice-diretor, Carlo Di Cicco (cf. quadro).

Vian, historiador do cristianismo, é professor ordinário de Filologia Patrística na Universidade La Sapienza de Roma, e também professor junto à Universidade Vita-Salute San Raffaele de Milão, onde leciona História da tradição e da identidade cristã. Desde 1999 é membro do Pontifício Comitê de Ciências Históricas. Autor de cerca de noventa estudos especializados, publicou, entre outras coisas, os volumes Bibliotheca divina. Filologia e storia dei testi cristiani (ed. Carocci, 2001, três edições; tradução espanhola, Ediciones Cristiandad, 2005, duas edições) e La donazione di Costantino (ed. il Mulino, 2004, três edições). Desde 1976 é redator e consultor científico do Instituto da Enciclopédia Italiana. Editorialista do Avvenire e do Giornale di Brescia, escreveu em vários jornais e revistas, entre os quais L’Osservatore Romano (de 1977 a 1987) e o bimestral da Universidade Católica do Sagrado Coração Vita e Pensiero.

Ao ser procurado por 30Dias, Vian aceitou responder a algumas perguntas que se referiam à sua biografia humana e intelectual, enquanto que com garbosidade não respondeu aos convites para falar sobre as linhas editoriais do futuro L’Osservatore Romano. Mesmo porque a nomeação torna-se efetiva somente a partir do sábado 27 de outubro e a primeira edição de L’Osservatore Romano assinada por ele será a do domingo 28.

Professor, o senhor não é o primeiro da sua família, de origem veneziana, a estar ligado ao L’Osservatore Romano. O seu avô, Agostino, já tinha colaborado e também tinha boas relações com São Pio X...
GIOVANNI MARIA VIAN: Com efeito, havia uma grande relação entre o meu avô Agostino, que colaborou com o jornal da Santa Sé, e Pio X. O matrimônio dos meus avós paternos foi o último celebrado pelo patriarca Giuseppe Sarto antes de partir para o conclave de 1903. Meu avô era funcionário do Estado italiano, mas renunciou a uma provável brilhante carreira pelo empenho no movimento católico.

Seu avô, que foi uma personalidade da Opera dei Congressi, respirava a atmosfera do intransigentismo católico difuso no Vêneto entre os séculos XIX e XX. Ficou alguma coisa daquela atmosfera nos seus pulmões?
VIAN: Pio X certamente era um intransigente nas questões religiosas, mas muito transigente nas políticas. Papa Sarto, ao contrário de seus imediatos predecessores (Pio IX e Leão XIII), não tinha nascido no Estado Pontifício e não demonstrava nostalgias pelo poder temporal. Tanto que foi o primeiro pontífice a atenuar – também em função anti-socialista – o non expedit que impedia aos católicos participar ativamente na vida política italiana. Foi também um grande papa reformador, que sobre a questão modernista entendeu muito bem o que estava sendo colocado em jogo, e os perigos para a fé da Igreja. Infelizmente hoje a sua fama é ligada principalmente pelo modos com que o modernismo foi combatido, muitas vezes com métodos indignos da causa que pretendia defender.

Mas o senhor sente-se herdeiro do intransigentismo católico do seu avô, ou não?
VIAN: O que me liga ao meu avô é certamente a fidelidade intransigente à Santa Sé – naturalmente sem concessões a bajulações que podem chegar até mesmo a formas de papolatria adocicada – e uma consciência que deve permanecer sempre vigilante.

Seu pai, Nello, foi amigo pessoal de Paulo VI. O próprio monsenhor Montini foi quem o batizou. O que o senhor lembra dessa relação de amizade?
VIAN: Montini tinha o dom de saber cultivar a amizade. E com meu pai é um dos muitos exemplos desta capacidade. Era uma amizade que se respirava e que não era exibida, da qual tinha a cumplicidade talvez somente de minha mãe. Tanto que muitos aspectos deste relacionamento vieram à luz, mesmo para mim e para o meus irmãos Lorenzo e Paolo, somente depois da morte de nosso pai, graças às suas cartas.

O senhor foi batizado por Montini na Basílica de São Pedro. A agência de notícias Ansa definiu-o como um “montiniano”. O senhor se reconhece nesta definição?
VIAN: Sim, principalmente em um sentido: Montini foi principalmente um sacerdote que aproximou muitas almas a Cristo e um grande Papa que procurou testemunhá-lo para o mundo moderno. Com uma consciência sempre clara, às vezes dramática, do próprio papel de sucessor de Pedro. Neste sentido procuro ter sempre diante de mim o exemplo desta grande testemunha de Jesus no nosso tempo.

O senhor freqüentou o Liceu clássico Virgilio em Roma, em uma época de grandes fermentos eclesiais...
VIAN: Com efeito era assim. E no Colégio de Via Giulia era muito animada a experiência do “raggio”, [reunião semanal de estudantes] do qual mais tarde nasceriam Comunhão e Libertação e a Comunidade de Santo Egídio. Eu também, por algum tempo, simpatizei com aquela experiência.

O senhor é professor de Filologia Patrística. Como nasceu esta paixão por uma disciplina – e as aulas de Clara Kraus Reggiani, estudiosa de Fílon e do judaísmo helênico. Simonetti fez com que me apaixonasse pela filologia como método de pesquisa, educando-me ao rigor, à capacidade de indagar os documentos e à atenção aos textos.
Ao mesmo tempo o senhor trabalhava como jornalista desde o final dos anos Setenta...
VIAN: Sempre gostei de jornais. Na minha casa lia-se o Corriere della Sera e L’Osservatore Romano que tínhamos assinatura e chegava pontualmente às 17 horas. Eu, particularmente, desde a escola secundária, introduzi na “leitura” familiar o recém-nascido Avvenire e Il Giorno no qual escrevia Aldo Moro. Depois, em 1973, comecei a colaborar com o jornal católico. O meu primeiro artigo foi sobre os códigos de Horácio na Biblioteca Vaticana, muitas vezes transcritos pelos monges medievais: clássicos e cristãos, justamente como o título do último livro do meu mestre editado pela Medusa...

O senhor nunca teve a tentação de abandonar a carreira acadêmica para se dedicar somente ao jornalismo?
VIAN: Em 1975 recebi a proposta de trabalhar como redator do Avvenire. A tentação foi grande. Mas meu pai não era favorável e encorajou-me a prosseguir meus estudos, indicando-me o exemplo de patrologistas e filólogos amigos de família, como o cardeal Michele Pellegrino, Giuseppe Lazzati, e os beneditinos Jean Gribomont e Henri de Sainte-Marie, editores da Vulgata. Ouvi o seu conselho. Todavia a experiência jornalística ensinou-me a necessidade de falar com todos e a da síntese: devo muito a grandes profissionais e amigos como Silvano Stracca, Angelo Narducci, Angelo Paoluzi, Pier Giorgio Liverani, Dino Boffo – o diretor que fez grandes renovações no jornal católico – e Roberto Righetto, ao Avvenire, e Giacomo Scanzi, o aluno de Giorgio Rumi que agora dirige o Giornale de Brescia.

Logo depois da sua formatura o senhor foi bolsista no Instituto de Ciências Religiosas de Bolonha, guiado pelo professor Giuseppe Alberigo. É verdade que o senhor recusou a sua proposta de entrar no time dos seus colaboradores?
VIAN: Recordo com muito prazer, e também com um pouco de nostalgia, aquele mês de setembro de 1975 passado em Bolonha. Foi uma experiência rica e bela. Na ocasião conheci estudiosos como Pier Cesare Bori, Mauro Pesce, Paolo Pombeni, Daniele Menozzi, Lorenzo Perrone, Paolo Bettiolo. No final, Alberigo propôs a alguns de nós uma bolsa de estudos bienal renovável. A proposta era muito atraente, com a perspectiva de estudar também fora da Itália. Porém não me convencia a escolha militante de Alberigo por um João XXIII contraposto a Paulo VI. Por isso não aceitei. E em abril do ano seguinte ganhei uma bolsa do Conselho Nacional de Pesquisa com Simonetti e comecei a colaborar com o Instituto da Enciclopédia Italiana. Tudo se encaminhou deste modo e fiquei satisfeito.

Depois disso, várias vezes o senhor teve corteses polêmicas com alguns expoentes da chamada escola bolonhesa. Arrependeu-se dessas polêmicas?
VIAN: De jeito nenhum, nem pelo método nem pelo conteúdo. O confronto das idéias, mesmo vivaz, é sempre positivo, desde que seja correto e com tons respeitosos do interlocutor. Também nunca me convenceu e nem me convence a absolutização do Concílio promovida pela escola de Bolonha, ou seja, a tendência a separar o Vaticano II da tradição viva da Igreja, como se fosse um início radicalmente novo que corre o risco de obscurecer a continuidade e o desenvolvimento da história cristã. Neste sentido, são exemplares, também do ponto de vista histórico, o discurso de Bento XVI de 22 de dezembro de 2005 e o motu proprio Summorum pontificum. Dito isso, considero Alberigo um importante historiador da Igreja e a História do Vaticano II dirigida por ele é uma obra notável embora não definitiva.

Acima o senhor falava de sua colaboração como Instituto da Enciclopédia Italiana...
VIAN: Com a universidade e o jornalismo esta foi a terceira escola da minha formação. Entrei em 1976 e a partir de 1984 comecei a me dedicar às “matérias eclesiásticas”. Foi então que conheci o canonista de referência da Enciclopédia, o professor Tarcisio Bertone, então decano da faculdade de Direito Canônico da Pontifícia Universidade Salesiana. Também no Instituto aprendi muito com estudiosos amigos como Vincenzo Cappelletti, Paolo Zipel, Tullio Fregory, Paolo Mazzantini, Francesco Paolo Casavola.

Os redatores mais idosos do L’Osservatore Romano recordam das suas crônicas muito participativas dos encontros de Taizé. O que o fascinava ou fascina desta experiência?
VIAN: No verão de 1973, na volta de uma viagem à Espanha, cheguei de carona a Taizé. Era um sábado à tarde, e celebrava-se a chamada liturgia da luz. Fiquei deslumbrado, exatamente como aconteceu, em 2001, a uma amiga que não conhecia a comunidade e que ficou profundamente impressionada pelo silêncio cultivado nas suas liturgias. Em 1974, na abertura do “concílio dos jovens”, encontrei um vizinho de casa, o austero e bastante taciturno cardeal Johannes Willebrands, enviado por Paulo VI. Em 1977 voltei com Margarita com quem casei em 1984 e que faleceu em 2000. Taizé é uma experiência – iniciada por Roger Schutz com alguns companheiros, entre os quais Max Thurian – que nasceu em âmbito protestante mas logo abriu-se ao catolicismo. Na comunidade sempre me impressionou a concomitância entre a audição da Escritura, a beleza da liturgia e a centralidade eucarística, elementos próprios das grandes tradições cristãs: protestante, ortodoxa e católica. Em uma realidade de encontro com Deus que nunca quis se tornar um movimento.

O cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado, visita a redação de L’Osservatore Romano a 25 de setembro de 2007 (30Giorni)

O senhor teve algum contato com a outra realidade ecumênica, a de Bose?
VIAN: Estive lá em 1992, para visitar uma prima de meu pai, irmã na comunidade. É uma experiência que – por mérito de Enzo Bianchi – parece-me incisiva do ponto de vista cultural e espiritual, e pode contribuir à reconciliação na Igreja e à amizade com muitos leigos.

Alguns dos seus artigos no Il Foglio deram-lhe a fama de “teocon”, os teólogos conservadores. O que o senhor acha dessa definição?
VIAN: Faz-me sorrir. Colaborei de boa vontade com o jornal fundado pelo jornalista Giuliano Ferrara, que elevou muito o nível do jornalismo italiano e enriqueceu o debate cultural e é redutivo definir o Il Foglio um jornal “teocon” Por outro lado colaborei também na revista Europa, e nem por isso fui definido “teodem”, os teólogos democratas de esquerda...

O senhor é autor de mais de 90 publicações. A quais se sente mais ligado?
VIAN: O livro ao qual mais sou ligado é Bibliotheca divina, una storia dei testi cristiani dalle origini delle Scriture al secolo XX. Mas fascinou-me também a proposta de Ernesto Galli della Loggia de reconstruir, para a coletânea “L’identità italiana” publicada pelas edições il Mulino, a história da doação de Constantino e, graças a esta, os acontecimentos da relação entre religião e política do primeiro período do cristianismo até João Paulo II. E espero, mais cedo ou mais tarde, voltar a escrever no longo vocábulo que dediquei na Enciclopédia dos Papas a Paulo VI. Enquanto isso, organizei uma antologia de escritos de Montini com o título Carità intellettuale (Ed. Bibioteca de Via Senato, 2005), que sem qualquer publicidade chegou a duas edições.

Desde 1999 o senhor faz parte do Pontifício Comitê de Ciências Históricas.
VIAN: Fui chamado pelo presidente, monsenhor Walter Brandmüller e tenho muito orgulho de fazer parte deste pequeno organismo da Santa Sé pouco conhecido, mas de absoluto prestígio.

Uma última curiosidade. É verdade que o senhor revisou a lista dos pontífices romanos que se encontra no início de cada edição do Anuário Pontifício? E neste encargo qual foi a intervenção mais significativa?
VIAN: Efetuei uma primeira revisão para a edição de 2000, e a intervenção mais vistosa foi a de restituir a Roma Papa Dâmaso, até o ano de 1999 tradicionalmente considerado espanhol.

Fonte: http://www.30giorni.it/

A fascinante Missão da Boca do Tefé

Missão da Boca do Tefé (Vatican Media)

"O Capítulo rasgou novas perspectivas ao futuro da presença Espiritana aqui na Amazónia. E foi boa, profundamente simbólica, a escolha deste local. Viemos ao encontro de uma história rica, plural, corajosa, cheia de fé e de risco, ontem como hoje. Tudo isso, com a convicção profunda de que o Evangelho é um valor acrescentado à humanidade e abre portas a vidas e sociedades mais humanas, mais justas, mais fraternas, mais solidárias e mais salvas."

Pe. Tony Neves, na Missão da Boca do Tefé

1897, ano da chegada dos primeiros missionários espiritanos à Amazónia. Para um feliz e sábio encontro com a História, nada melhor que ouvir o Dr. Claudemir Queiroz, autor de várias obras sobre Tefé. Em conversas à mesa de almoço, explicou-me como foi formado pelos Espiritanos, no Seminário, e depois estudaria Direito, estando sempre ao serviço da Igreja. Falou-me da coragem enorme dos primeiros missionários que gastavam meses e meses rio acima e abaixo, sendo vítimas das febres (o ‘paludão’ era terrível!). Muitos deles morreram jovens, como me mostrou, no Cemitério, o P. Firmino Cachada, Superior da Missão da Boca do Tefé, lugar escolhido para a realização do Capítulo com a presença de todos os Espiritanos que trabalham na Amazónia.

Fiz, por isso, duas idas e voltas de barco da cidade até à Missão que está na Boca do Lago Tefé com o Rio Solimões. Numa delas, só com o P. Firmino. A outra congregou, no barco da Diocese, todos os Espiritanos, ali juntinhos, a rezar para que não houvesse naufrágio, caso contrário não sobraria ninguém para contar a história e continuar uma Missão mais que centenária!

Voltemos à História, ajudados agora pelo P. Firmino que continua a escrever e a publicar escritos e diários de missionários dos tempos mais antigos. O Bispo do Amazonas, D. José Costa Aguiar, esteve a 1 de Março de 1897 na Casa Mãe dos Espiritanos em Paris com o objetivo de pedir Missionários para a Amazónia, ‘para organizar a Missão dos índios’. O ‘sim’ foi imediato e os primeiros quatro saíram de Lisboa a 13 de Abril para chegar a Manaus a 23 de Maio. No dia de Pentecostes (6 de Junho) tomaram conta da Paróquia de S. Sebastião, onde eu fui rezar, situada na grande praça da Ópera. A 10 de Junho, subiram o Rio Solimões até Tefé, parando na Boca do Lago, local escolhido para construir a Missão. A partir de 1901, Tefé será a única Missão Espiritana na Amazónia.

É tempo de enchentes e o barco pára junto às escadarias da Missão. Feita a ginástica necessária com as cautelas para não cair á água, há 89 escadas a subir, quase a pique e encontramos o edifício da Missão e, mais à esquerda, o cemitério e a Igreja. Tive direito a visita guiada. Começamos pela Missão, continuamos na Igreja (dedicada ao Espírito Santo), fomos até 2 das comunidades indígenas e terminamos no Cemitério. O P. Firmino chamou-me a atenção para a parte ocupada pelos Missionários: são 23, muitos deles falecidos com 20, 30, 40 e tais anos de vida, na flor da idade, derrubados por febres malárias, pestes diversas, acidentes de barco ou vítimas de animais ferozes. Foram duros os primeiros tempos aqui, como o foram em toda a África, bastando ver os cemitérios da Huíla (Angola) ou Bagamoyo (Tanzânia), como exemplos de muitos outros. Na sua obra ‘À sombra da Missão’, o P. Firmino escreve uma pequena biografia de cada um destes 23 heróis da Missão, aqui sepultados. Já durante o Capítulo, alertei os Espiritanos aqui presentes para um dado comum e profundamente simbólico: eram 10 da França, 4 de Portugal e da Alemanha, 2 da Holanda e 1 da Itália, Suíça e Brasil. Ou seja, de sete países diferentes. Hoje, o Grupo da Amazónia tem Espiritanos de Portugal (2), Nigéria (2), Porto Rico, Brasil, Paraguai, Cabo Verde, Tanzânia e Madagáscar, estando a chegar um de Angola…ou seja, de 9 países diferentes! É a riqueza da diversidade, imagem de marca de uma congregação intercultural!

O Capítulo rasgou novas perspectivas ao futuro da presença Espiritana aqui na Amazónia. E foi boa, profundamente simbólica, a escolha deste local. Viemos ao encontro de uma história rica, plural, corajosa, cheia de fé e de risco, ontem como hoje. Tudo isso, com a convicção profunda de que o Evangelho é um valor acrescentado à humanidade e abre portas a vidas e sociedades mais humanas, mais justas, mais fraternas, mais solidárias e mais salvas.

Vou iniciar 18 longas horas de barco, rio acima, até Fonte Boa, sentado na minha rede. Ali, levado pelos confrades, visitarei diversas comunidades ribeirinhas que são animadas pelos Espiritanos. É uma Igreja de barco sempre à procura de novos remadores.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Por que viver com alegria e expectativa até as menores coisas

Di ESB Professional|Shutterstock

Por Michael Rennier

Tendemos a esquecer a importância de nossas próprias ações. Nós as deixamos passar, perdendo tempo com outras coisas.

Quando me reúdo com velhos amigos da faculdade, naturalmente começamos a contar histórias sobre nossa juventude. Adoramos relembrar e rir de como já fomos esquisitos e ingênuos. As aventuras, as novidades sem fim, o despertar dos gostos e interesses, e, acima de tudo, a alegria de ingressar no mundo adulto… Há algo em revisitar a juventude que é refrescante para as pessoas de meia-idade.

Adoro reviver essas memórias, mas há um problema. Às vezes, quando ouço uma história sobre o que eu disse e fiz quando era mais jovem, não me lembro de ter dito ou feito tal coisa. É certamente um fenômeno verdadeiro que as memórias assumem uma “vida própria”. Elas crescem e se desenvolvem com o tempo, à medida que são moldadas e reformuladas pela arte de contar histórias. Depois de um tempo, no entanto, a história se torna a versão verdadeira, e a versão da vida real desaparece nas brumas do passado. Por causa disso, as memórias são menos confiáveis do que pensamos.

Memórias que se apagam

Outra explicação para essa amnésia é que talvez eu estivesse muito cansado por ter passado a noite em claro – mais de uma vez –; o que impediria meu cérebro de formar uma impressão a longo prazo. Porém, o mais provável é que a memória não parecia importante na época, então eu não me preocupei em catalogá-la mentalmente. Com o passar do tempo, ela se apagou da minha consciência, até 20 anos depois, quando um amigo me lembra disso.

Suspeito que ainda estou vivendo grandes partes de cada dia dizendo e fazendo todos os tipos de coisas, para o bem ou para o mal, completamente ignorante se, 20 anos depois, alguém contará uma história sobre isso. Eu me pergunto o que é na minha vida eu acabarei esquecendo por completo. Em outras palavras, não faço ideia de como pesar a relevância duradoura das atividades diárias. Vou me lembrar de ver os meus filhos brincando? Vou me lembrar dos eventos mundiais? Da trajetória no trabalho? Do que comi em tal época?

Importância das próprias ações

É comum um paroquiano me dizer o quão influente foi uma homilia que preguei, como ela o encorajou tremendamente em sua fé. Anos depois, alguns até se recordam de frases que eu pronunciei do púlpito. Mas então percebo que eu mesmo não me lembro de tal homilia. Fico até impressionado, pois não consigo imaginar ter dito palavras tão sábias. Mas, é claro, se essas palavras realmente eram tão perspicazes – e claramente para algumas pessoas, eram – por que não consigo me lembrar de tê-las dito?

Estou em alerta sobre esse problema há algum tempo, mas ainda me vejo ansioso para perder tempo olhando para o meu telefone pela manhã e jogando fora minha meia hora de silêncio antes que as crianças acordem. Uma vez, eu tive um desejo irresistível de rolar as mídias sociais no meio de uma caminhada em família em uma linda trilha florestal em um parque estadual. Imagine isso. Eu ainda sonho acordado durante a missa. Em vez de ter uma conversa de verdade, fofocai muitas horas que reservei para tomar café com um amigo. É uma batalha constante.

A única conclusão a que posso chegar é que sou péssimo em reconhecer a importância de minhas próprias ações. Eu as deixo passar, perdendo tempo com outras coisas, e depois as esqueço.

A grandiosidade da vida

Esta semana celebramos a festa do Papa Leão Magno. Recordo-me de uma famosa homilia de Natal dele: “Cristão, lembre-se da sua dignidade“, disse ele, “e agora que você compartilha da própria natureza de Deus, não retorne pelo pecado à sua antiga condição”.

O que ele está dizendo é que, se realmente acreditamos que o próprio Deus assumiu a carne humana e entrou no mundo, então também é verdade que nossas atividades humanas foram transformadas em sagradas. Toda palavra, ação e pensamento é de extrema importância. Nossos dias estão plenos de dignidade.

A dignidade da minha vida está em tantas coisas cotidianas magníficas que eu deixo passar e esqueço. Não que eu não acredite na grandiosidade da dignidade humana – o problema é que eu não vivo isso. Tenho esquecido da importância que até o menor gesto ou atitude contém. Eu negligencio considerar que minha alma, mesmo vivendo dentro das limitações do tempo, é eterna.

Esta é a nossa dignidade, sermos criados à imagem de Deus. Quer consigamos lembrar de tudo do passado ou não, devemos lembrar da nossa dignidade. Tudo é importante. Você importa. Sua vida importa. Viva com alegria e grande expectativa até o menor momento.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A surpresa de Francisco e as púrpuras no mundo

O barrete cardinalício que será entregue aos novos purpurados (Vatican Media)

Ao celebrar o consistório em setembro, o Papa quer que toda a atenção no mês seguinte esteja voltada para o Sínodo. São significativos os barretes para os bispos de fronteira, mas também a inclusão do núncio nos Estados Unidos.

ANDREA TORNIELLI

Muitos tinham a convicção de que o ano de 2023 terminaria com um consistório para novos cardeais – ademais, com este Francisco terá celebrado nove deles em dez anos de pontificado -, mas ninguém esperava um anúncio em julho com a "criação" de 21 purpurados no final de setembro, às vésperas do início do primeiro dos dois Sínodos sobre a sinodalidade. Já havia ocorrido há um ano, para o oitavo consistório, celebrado em 27 de agosto de 2022.

Percorrendo a lista dos 21 nomes, dos quais 18 com menos de oitenta anos e, portanto, eleitores em um eventual conclave, se veem confirmações junto à Santa Sé (por exemplo, os três novos prefeitos de importantes dicastérios curiais, o dos Bispos, o das Igrejas Orientais e o da Doutrina da Fé) e no mundo (por exemplo, as púrpuras para o novo arcebispo de Madri e o de Bogotá). Além de "surpresas" que estão de acordo com as escolhas feitas até hoje pelo Sucessor de Pedro. Dois núncios eleitores constituem a novidade mais significativa, cujo precedente deve ser buscado no consistório de novembro de 2016, quando foi criado cardeal Mario Zenari, embaixador do Papa na Síria, onde permaneceu. Nesse caso, tanto Emil Paul Tscherrig, 76 anos, núncio apostólico na Itália; quanto Christophe Pierre, 77 anos, núncio nos Estados Unidos, são prelados que estão chegando ao fim de seus serviços diplomáticos. Particularmente digna de nota é a inclusão de Pierre, um homem de grande equilíbrio, que desempenhou e continua desempenhando um papel importante colaborando com Francisco na escolha de novos bispos para a Igreja estadunidense.

Também chama a atenção a púrpura de Pierbattista Pizzaballa, o primeiro patriarca latino de Jerusalém a receber o barrete. A Igreja "mãe" da Cidade Santa por excelência, a Igreja latina daquela Terra Santa que continua a ser um terreno de ódio, confrontos e violência, agora tem mais um certificado para se envolver no governo da Igreja universal por meio da colaboração com o Papa para a qual cada novo cardeal é chamado.

Significativas, como atenção às periferias e às Igrejas de fronteira, as púrpuras para Stephen Mulla, arcebispo de Juba, no Sudão do Sul, país visitado por Francisco em fevereiro passado, bem como para Stephen Brislin, arcebispo de Cidade do Cabo, na África do Sul, e Protase Rugambwa, arcebispo coadjutor de Tabora, na Tanzânia: as três sedes metropolitanas africanas terão um cardeal pela primeira vez.

Também é digna de nota a inclusão entre os eleitores do novo bispo de Hong Kong, Stephen Chow Sau-Yan, e do Reitor-Mor dos Salesianos, Ángel Fernández Artime. Entre os eleitores com mais de 80 anos estão o ex-núncio e ex-secretário do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, Agostino Marchetto, estudioso do Concílio Ecumênico Vaticano II, e o idoso frade capuchinho argentino Luis Dri, confessor: ambos já eram bem conhecidos de Francisco antes de sua eleição para o pontificado.

Com o consistório de 30 de setembro, o número de cardeais eleitores no caso de um conclave aumentará para 137. Bem acima do teto de 120 estabelecido por Paulo VI, mas que já foi ultrapassado em várias ocasiões tanto por João Paulo II e como por Bento XVI. Com as estatísticas do final de setembro, a Europa terá 53 cardeais eleitores (incluindo 15 italianos); 15 cardeais eleitores na América do Norte (11 nos EUA e 4 no Canadá); 24 cardeais eleitores na América Latina; 19 cardeais eleitores na África; 23 cardeais eleitores na Ásia e 3 cardeais eleitores na Oceania.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Antônio Percierskij

Santo Antônio Percierski (arquisp)

10 de julho

Santo Antônio Percierskij

Antônio, que antes se chamava Antipas, nasceu na Ucrânia no ano de 983. Percierskij, na realidade, não é o seu sobrenome, mas sim um apelido e tem um significado: "da gruta". Trata-se de uma referência à cela, escavada por ele mesmo, no vale de Dnjepr, próximo a Kiev, que deu origem à vida monástica russa.

Antônio "da gruta", desde a adolescência, sempre buscou a solidão das cavernas, típicas de sua região, para suas orações contemplativas. Depois viveu, até os quarenta e cinco anos de idade, peregrinando solitário pelos inúmeros mosteiros do monte Athos, na Grécia. Os registros indicam que ele permaneceu alguns anos no mosteiro de Esphigmenon, quando decidiu continuar a vida de penitência e oração na sua pátria. Foi assim que escavou a primeira gruta em Kiev.

Logo surgiram muitos seguidores, e curiosos, que se sentiam atraídos pelos ensinamentos e pela fama de santidade daquele homem de oração e penitência. Todos queriam aprender com o monge sábio e justo, que nunca se mostrava irritado. Era um homem manso e silencioso, pleno de misericórdia com todos. Essa sua personalidade foi muito bem retratada pelo fiel discípulo Nestor, ao escrever "Histórias dos tempos passados".

Contudo Antônio insistia em viver solitário, enquanto os seus seguidores formavam uma comunidade. Com sua permissão, foram construindo várias celas pela região e, depois, uma primeira igreja. Assim, em 1051, surgiu o "Mosteiro das Grutas", cuja arquitetura foi projetada integrando as grutas escavadas por esses monges primitivos.

Esse mosteiro se tornou um dos centros religiosos mais importantes de toda a Rússia. A sua comunidade se tornou famosa pela caridade, instrução, prestígio cultural e pelo esplendor da liturgia ortodoxa cristã. Além das belas igrejas que iam surgindo, consideradas verdadeiras obras de arte da arquitetura eslava. Antônio não desejava dirigir todo esse movimento, mas tinha noção exata do que ocorria. Por isso manteve-se como o exemplo da comunidade e a direção ele confiou ao seu discípulo Teodósio, que sedimentou e estabeleceu as regras da vida monástica.

Por perseguição política, Antônio foi obrigado a abandonar Kiev em 1055. Foi refugiar-se próximo a Cernigov, onde criou um outro mosteiro, conservando a regras de vida do anterior, imprimindo a sua marca pelo exemplo na oração, penitência e caridade. Mas no mosteiro de Kiev, haviam permanecido alguns religiosos, guiados pelo discípulo Teodósio, que é considerado co-fundador do mosteiro. Por isso Antônio conseguiu retornar clandestinamente e lá permaneceu recluso até a sua morte, no dia 10 de julho de 1073.

Do Mosteiro da Gruta de Kiev original restou uma parte não muito grande, pois nos anos de 1299 e 1316 foi quase destruído pelas invasões dos tártaros. Em1926, foi fechado pelo regime comunista. Só em 1988 ele foi reaberto definitivamente. Hoje, ele faz parte do patrimônio da humanidade, como um monumento tombado e conservado pela Unesco.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF