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segunda-feira, 10 de julho de 2023

“O confronto de idéias é sempre positivo”

Giovanni Maria Vian (30Giorni)

L'osservatore Romano / Arquivo 30Dias - 09/2007

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“O confronto de idéias é sempre positivo”

Giovanni Maria Vian, o novo diretor de L’Osservatore Romano, fala de sua vida. A amizade de seu pai com Montini. Os estudos. A atividade de historiador e de professor ordinário de Filologia. A paixão pelo jornalismo.

Entrevista com Giovanni Maria Vian de Gianni Cardinale

No dia 29 de setembro foi anunciada a mudança na cúpula do jornal oficioso da Santa Sé. Mario Agnes, 76 anos em dezembro, que dirigia L’Osservatore Romano desde 1984, foi nomeado diretor emérito. O novo diretor responsável do jornal pontifício é Giovanni Maria Vian, 55 anos. Depois de treze anos de “sede vacante” foi nomeado também um vice-diretor, Carlo Di Cicco (cf. quadro).

Vian, historiador do cristianismo, é professor ordinário de Filologia Patrística na Universidade La Sapienza de Roma, e também professor junto à Universidade Vita-Salute San Raffaele de Milão, onde leciona História da tradição e da identidade cristã. Desde 1999 é membro do Pontifício Comitê de Ciências Históricas. Autor de cerca de noventa estudos especializados, publicou, entre outras coisas, os volumes Bibliotheca divina. Filologia e storia dei testi cristiani (ed. Carocci, 2001, três edições; tradução espanhola, Ediciones Cristiandad, 2005, duas edições) e La donazione di Costantino (ed. il Mulino, 2004, três edições). Desde 1976 é redator e consultor científico do Instituto da Enciclopédia Italiana. Editorialista do Avvenire e do Giornale di Brescia, escreveu em vários jornais e revistas, entre os quais L’Osservatore Romano (de 1977 a 1987) e o bimestral da Universidade Católica do Sagrado Coração Vita e Pensiero.

Ao ser procurado por 30Dias, Vian aceitou responder a algumas perguntas que se referiam à sua biografia humana e intelectual, enquanto que com garbosidade não respondeu aos convites para falar sobre as linhas editoriais do futuro L’Osservatore Romano. Mesmo porque a nomeação torna-se efetiva somente a partir do sábado 27 de outubro e a primeira edição de L’Osservatore Romano assinada por ele será a do domingo 28.

Professor, o senhor não é o primeiro da sua família, de origem veneziana, a estar ligado ao L’Osservatore Romano. O seu avô, Agostino, já tinha colaborado e também tinha boas relações com São Pio X...
GIOVANNI MARIA VIAN: Com efeito, havia uma grande relação entre o meu avô Agostino, que colaborou com o jornal da Santa Sé, e Pio X. O matrimônio dos meus avós paternos foi o último celebrado pelo patriarca Giuseppe Sarto antes de partir para o conclave de 1903. Meu avô era funcionário do Estado italiano, mas renunciou a uma provável brilhante carreira pelo empenho no movimento católico.

Seu avô, que foi uma personalidade da Opera dei Congressi, respirava a atmosfera do intransigentismo católico difuso no Vêneto entre os séculos XIX e XX. Ficou alguma coisa daquela atmosfera nos seus pulmões?
VIAN: Pio X certamente era um intransigente nas questões religiosas, mas muito transigente nas políticas. Papa Sarto, ao contrário de seus imediatos predecessores (Pio IX e Leão XIII), não tinha nascido no Estado Pontifício e não demonstrava nostalgias pelo poder temporal. Tanto que foi o primeiro pontífice a atenuar – também em função anti-socialista – o non expedit que impedia aos católicos participar ativamente na vida política italiana. Foi também um grande papa reformador, que sobre a questão modernista entendeu muito bem o que estava sendo colocado em jogo, e os perigos para a fé da Igreja. Infelizmente hoje a sua fama é ligada principalmente pelo modos com que o modernismo foi combatido, muitas vezes com métodos indignos da causa que pretendia defender.

Mas o senhor sente-se herdeiro do intransigentismo católico do seu avô, ou não?
VIAN: O que me liga ao meu avô é certamente a fidelidade intransigente à Santa Sé – naturalmente sem concessões a bajulações que podem chegar até mesmo a formas de papolatria adocicada – e uma consciência que deve permanecer sempre vigilante.

Seu pai, Nello, foi amigo pessoal de Paulo VI. O próprio monsenhor Montini foi quem o batizou. O que o senhor lembra dessa relação de amizade?
VIAN: Montini tinha o dom de saber cultivar a amizade. E com meu pai é um dos muitos exemplos desta capacidade. Era uma amizade que se respirava e que não era exibida, da qual tinha a cumplicidade talvez somente de minha mãe. Tanto que muitos aspectos deste relacionamento vieram à luz, mesmo para mim e para o meus irmãos Lorenzo e Paolo, somente depois da morte de nosso pai, graças às suas cartas.

O senhor foi batizado por Montini na Basílica de São Pedro. A agência de notícias Ansa definiu-o como um “montiniano”. O senhor se reconhece nesta definição?
VIAN: Sim, principalmente em um sentido: Montini foi principalmente um sacerdote que aproximou muitas almas a Cristo e um grande Papa que procurou testemunhá-lo para o mundo moderno. Com uma consciência sempre clara, às vezes dramática, do próprio papel de sucessor de Pedro. Neste sentido procuro ter sempre diante de mim o exemplo desta grande testemunha de Jesus no nosso tempo.

O senhor freqüentou o Liceu clássico Virgilio em Roma, em uma época de grandes fermentos eclesiais...
VIAN: Com efeito era assim. E no Colégio de Via Giulia era muito animada a experiência do “raggio”, [reunião semanal de estudantes] do qual mais tarde nasceriam Comunhão e Libertação e a Comunidade de Santo Egídio. Eu também, por algum tempo, simpatizei com aquela experiência.

O senhor é professor de Filologia Patrística. Como nasceu esta paixão por uma disciplina – e as aulas de Clara Kraus Reggiani, estudiosa de Fílon e do judaísmo helênico. Simonetti fez com que me apaixonasse pela filologia como método de pesquisa, educando-me ao rigor, à capacidade de indagar os documentos e à atenção aos textos.
Ao mesmo tempo o senhor trabalhava como jornalista desde o final dos anos Setenta...
VIAN: Sempre gostei de jornais. Na minha casa lia-se o Corriere della Sera e L’Osservatore Romano que tínhamos assinatura e chegava pontualmente às 17 horas. Eu, particularmente, desde a escola secundária, introduzi na “leitura” familiar o recém-nascido Avvenire e Il Giorno no qual escrevia Aldo Moro. Depois, em 1973, comecei a colaborar com o jornal católico. O meu primeiro artigo foi sobre os códigos de Horácio na Biblioteca Vaticana, muitas vezes transcritos pelos monges medievais: clássicos e cristãos, justamente como o título do último livro do meu mestre editado pela Medusa...

O senhor nunca teve a tentação de abandonar a carreira acadêmica para se dedicar somente ao jornalismo?
VIAN: Em 1975 recebi a proposta de trabalhar como redator do Avvenire. A tentação foi grande. Mas meu pai não era favorável e encorajou-me a prosseguir meus estudos, indicando-me o exemplo de patrologistas e filólogos amigos de família, como o cardeal Michele Pellegrino, Giuseppe Lazzati, e os beneditinos Jean Gribomont e Henri de Sainte-Marie, editores da Vulgata. Ouvi o seu conselho. Todavia a experiência jornalística ensinou-me a necessidade de falar com todos e a da síntese: devo muito a grandes profissionais e amigos como Silvano Stracca, Angelo Narducci, Angelo Paoluzi, Pier Giorgio Liverani, Dino Boffo – o diretor que fez grandes renovações no jornal católico – e Roberto Righetto, ao Avvenire, e Giacomo Scanzi, o aluno de Giorgio Rumi que agora dirige o Giornale de Brescia.

Logo depois da sua formatura o senhor foi bolsista no Instituto de Ciências Religiosas de Bolonha, guiado pelo professor Giuseppe Alberigo. É verdade que o senhor recusou a sua proposta de entrar no time dos seus colaboradores?
VIAN: Recordo com muito prazer, e também com um pouco de nostalgia, aquele mês de setembro de 1975 passado em Bolonha. Foi uma experiência rica e bela. Na ocasião conheci estudiosos como Pier Cesare Bori, Mauro Pesce, Paolo Pombeni, Daniele Menozzi, Lorenzo Perrone, Paolo Bettiolo. No final, Alberigo propôs a alguns de nós uma bolsa de estudos bienal renovável. A proposta era muito atraente, com a perspectiva de estudar também fora da Itália. Porém não me convencia a escolha militante de Alberigo por um João XXIII contraposto a Paulo VI. Por isso não aceitei. E em abril do ano seguinte ganhei uma bolsa do Conselho Nacional de Pesquisa com Simonetti e comecei a colaborar com o Instituto da Enciclopédia Italiana. Tudo se encaminhou deste modo e fiquei satisfeito.

Depois disso, várias vezes o senhor teve corteses polêmicas com alguns expoentes da chamada escola bolonhesa. Arrependeu-se dessas polêmicas?
VIAN: De jeito nenhum, nem pelo método nem pelo conteúdo. O confronto das idéias, mesmo vivaz, é sempre positivo, desde que seja correto e com tons respeitosos do interlocutor. Também nunca me convenceu e nem me convence a absolutização do Concílio promovida pela escola de Bolonha, ou seja, a tendência a separar o Vaticano II da tradição viva da Igreja, como se fosse um início radicalmente novo que corre o risco de obscurecer a continuidade e o desenvolvimento da história cristã. Neste sentido, são exemplares, também do ponto de vista histórico, o discurso de Bento XVI de 22 de dezembro de 2005 e o motu proprio Summorum pontificum. Dito isso, considero Alberigo um importante historiador da Igreja e a História do Vaticano II dirigida por ele é uma obra notável embora não definitiva.

Acima o senhor falava de sua colaboração como Instituto da Enciclopédia Italiana...
VIAN: Com a universidade e o jornalismo esta foi a terceira escola da minha formação. Entrei em 1976 e a partir de 1984 comecei a me dedicar às “matérias eclesiásticas”. Foi então que conheci o canonista de referência da Enciclopédia, o professor Tarcisio Bertone, então decano da faculdade de Direito Canônico da Pontifícia Universidade Salesiana. Também no Instituto aprendi muito com estudiosos amigos como Vincenzo Cappelletti, Paolo Zipel, Tullio Fregory, Paolo Mazzantini, Francesco Paolo Casavola.

Os redatores mais idosos do L’Osservatore Romano recordam das suas crônicas muito participativas dos encontros de Taizé. O que o fascinava ou fascina desta experiência?
VIAN: No verão de 1973, na volta de uma viagem à Espanha, cheguei de carona a Taizé. Era um sábado à tarde, e celebrava-se a chamada liturgia da luz. Fiquei deslumbrado, exatamente como aconteceu, em 2001, a uma amiga que não conhecia a comunidade e que ficou profundamente impressionada pelo silêncio cultivado nas suas liturgias. Em 1974, na abertura do “concílio dos jovens”, encontrei um vizinho de casa, o austero e bastante taciturno cardeal Johannes Willebrands, enviado por Paulo VI. Em 1977 voltei com Margarita com quem casei em 1984 e que faleceu em 2000. Taizé é uma experiência – iniciada por Roger Schutz com alguns companheiros, entre os quais Max Thurian – que nasceu em âmbito protestante mas logo abriu-se ao catolicismo. Na comunidade sempre me impressionou a concomitância entre a audição da Escritura, a beleza da liturgia e a centralidade eucarística, elementos próprios das grandes tradições cristãs: protestante, ortodoxa e católica. Em uma realidade de encontro com Deus que nunca quis se tornar um movimento.

O cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado, visita a redação de L’Osservatore Romano a 25 de setembro de 2007 (30Giorni)

O senhor teve algum contato com a outra realidade ecumênica, a de Bose?
VIAN: Estive lá em 1992, para visitar uma prima de meu pai, irmã na comunidade. É uma experiência que – por mérito de Enzo Bianchi – parece-me incisiva do ponto de vista cultural e espiritual, e pode contribuir à reconciliação na Igreja e à amizade com muitos leigos.

Alguns dos seus artigos no Il Foglio deram-lhe a fama de “teocon”, os teólogos conservadores. O que o senhor acha dessa definição?
VIAN: Faz-me sorrir. Colaborei de boa vontade com o jornal fundado pelo jornalista Giuliano Ferrara, que elevou muito o nível do jornalismo italiano e enriqueceu o debate cultural e é redutivo definir o Il Foglio um jornal “teocon” Por outro lado colaborei também na revista Europa, e nem por isso fui definido “teodem”, os teólogos democratas de esquerda...

O senhor é autor de mais de 90 publicações. A quais se sente mais ligado?
VIAN: O livro ao qual mais sou ligado é Bibliotheca divina, una storia dei testi cristiani dalle origini delle Scriture al secolo XX. Mas fascinou-me também a proposta de Ernesto Galli della Loggia de reconstruir, para a coletânea “L’identità italiana” publicada pelas edições il Mulino, a história da doação de Constantino e, graças a esta, os acontecimentos da relação entre religião e política do primeiro período do cristianismo até João Paulo II. E espero, mais cedo ou mais tarde, voltar a escrever no longo vocábulo que dediquei na Enciclopédia dos Papas a Paulo VI. Enquanto isso, organizei uma antologia de escritos de Montini com o título Carità intellettuale (Ed. Bibioteca de Via Senato, 2005), que sem qualquer publicidade chegou a duas edições.

Desde 1999 o senhor faz parte do Pontifício Comitê de Ciências Históricas.
VIAN: Fui chamado pelo presidente, monsenhor Walter Brandmüller e tenho muito orgulho de fazer parte deste pequeno organismo da Santa Sé pouco conhecido, mas de absoluto prestígio.

Uma última curiosidade. É verdade que o senhor revisou a lista dos pontífices romanos que se encontra no início de cada edição do Anuário Pontifício? E neste encargo qual foi a intervenção mais significativa?
VIAN: Efetuei uma primeira revisão para a edição de 2000, e a intervenção mais vistosa foi a de restituir a Roma Papa Dâmaso, até o ano de 1999 tradicionalmente considerado espanhol.

Fonte: http://www.30giorni.it/

A fascinante Missão da Boca do Tefé

Missão da Boca do Tefé (Vatican Media)

"O Capítulo rasgou novas perspectivas ao futuro da presença Espiritana aqui na Amazónia. E foi boa, profundamente simbólica, a escolha deste local. Viemos ao encontro de uma história rica, plural, corajosa, cheia de fé e de risco, ontem como hoje. Tudo isso, com a convicção profunda de que o Evangelho é um valor acrescentado à humanidade e abre portas a vidas e sociedades mais humanas, mais justas, mais fraternas, mais solidárias e mais salvas."

Pe. Tony Neves, na Missão da Boca do Tefé

1897, ano da chegada dos primeiros missionários espiritanos à Amazónia. Para um feliz e sábio encontro com a História, nada melhor que ouvir o Dr. Claudemir Queiroz, autor de várias obras sobre Tefé. Em conversas à mesa de almoço, explicou-me como foi formado pelos Espiritanos, no Seminário, e depois estudaria Direito, estando sempre ao serviço da Igreja. Falou-me da coragem enorme dos primeiros missionários que gastavam meses e meses rio acima e abaixo, sendo vítimas das febres (o ‘paludão’ era terrível!). Muitos deles morreram jovens, como me mostrou, no Cemitério, o P. Firmino Cachada, Superior da Missão da Boca do Tefé, lugar escolhido para a realização do Capítulo com a presença de todos os Espiritanos que trabalham na Amazónia.

Fiz, por isso, duas idas e voltas de barco da cidade até à Missão que está na Boca do Lago Tefé com o Rio Solimões. Numa delas, só com o P. Firmino. A outra congregou, no barco da Diocese, todos os Espiritanos, ali juntinhos, a rezar para que não houvesse naufrágio, caso contrário não sobraria ninguém para contar a história e continuar uma Missão mais que centenária!

Voltemos à História, ajudados agora pelo P. Firmino que continua a escrever e a publicar escritos e diários de missionários dos tempos mais antigos. O Bispo do Amazonas, D. José Costa Aguiar, esteve a 1 de Março de 1897 na Casa Mãe dos Espiritanos em Paris com o objetivo de pedir Missionários para a Amazónia, ‘para organizar a Missão dos índios’. O ‘sim’ foi imediato e os primeiros quatro saíram de Lisboa a 13 de Abril para chegar a Manaus a 23 de Maio. No dia de Pentecostes (6 de Junho) tomaram conta da Paróquia de S. Sebastião, onde eu fui rezar, situada na grande praça da Ópera. A 10 de Junho, subiram o Rio Solimões até Tefé, parando na Boca do Lago, local escolhido para construir a Missão. A partir de 1901, Tefé será a única Missão Espiritana na Amazónia.

É tempo de enchentes e o barco pára junto às escadarias da Missão. Feita a ginástica necessária com as cautelas para não cair á água, há 89 escadas a subir, quase a pique e encontramos o edifício da Missão e, mais à esquerda, o cemitério e a Igreja. Tive direito a visita guiada. Começamos pela Missão, continuamos na Igreja (dedicada ao Espírito Santo), fomos até 2 das comunidades indígenas e terminamos no Cemitério. O P. Firmino chamou-me a atenção para a parte ocupada pelos Missionários: são 23, muitos deles falecidos com 20, 30, 40 e tais anos de vida, na flor da idade, derrubados por febres malárias, pestes diversas, acidentes de barco ou vítimas de animais ferozes. Foram duros os primeiros tempos aqui, como o foram em toda a África, bastando ver os cemitérios da Huíla (Angola) ou Bagamoyo (Tanzânia), como exemplos de muitos outros. Na sua obra ‘À sombra da Missão’, o P. Firmino escreve uma pequena biografia de cada um destes 23 heróis da Missão, aqui sepultados. Já durante o Capítulo, alertei os Espiritanos aqui presentes para um dado comum e profundamente simbólico: eram 10 da França, 4 de Portugal e da Alemanha, 2 da Holanda e 1 da Itália, Suíça e Brasil. Ou seja, de sete países diferentes. Hoje, o Grupo da Amazónia tem Espiritanos de Portugal (2), Nigéria (2), Porto Rico, Brasil, Paraguai, Cabo Verde, Tanzânia e Madagáscar, estando a chegar um de Angola…ou seja, de 9 países diferentes! É a riqueza da diversidade, imagem de marca de uma congregação intercultural!

O Capítulo rasgou novas perspectivas ao futuro da presença Espiritana aqui na Amazónia. E foi boa, profundamente simbólica, a escolha deste local. Viemos ao encontro de uma história rica, plural, corajosa, cheia de fé e de risco, ontem como hoje. Tudo isso, com a convicção profunda de que o Evangelho é um valor acrescentado à humanidade e abre portas a vidas e sociedades mais humanas, mais justas, mais fraternas, mais solidárias e mais salvas.

Vou iniciar 18 longas horas de barco, rio acima, até Fonte Boa, sentado na minha rede. Ali, levado pelos confrades, visitarei diversas comunidades ribeirinhas que são animadas pelos Espiritanos. É uma Igreja de barco sempre à procura de novos remadores.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Por que viver com alegria e expectativa até as menores coisas

Di ESB Professional|Shutterstock

Por Michael Rennier

Tendemos a esquecer a importância de nossas próprias ações. Nós as deixamos passar, perdendo tempo com outras coisas.

Quando me reúdo com velhos amigos da faculdade, naturalmente começamos a contar histórias sobre nossa juventude. Adoramos relembrar e rir de como já fomos esquisitos e ingênuos. As aventuras, as novidades sem fim, o despertar dos gostos e interesses, e, acima de tudo, a alegria de ingressar no mundo adulto… Há algo em revisitar a juventude que é refrescante para as pessoas de meia-idade.

Adoro reviver essas memórias, mas há um problema. Às vezes, quando ouço uma história sobre o que eu disse e fiz quando era mais jovem, não me lembro de ter dito ou feito tal coisa. É certamente um fenômeno verdadeiro que as memórias assumem uma “vida própria”. Elas crescem e se desenvolvem com o tempo, à medida que são moldadas e reformuladas pela arte de contar histórias. Depois de um tempo, no entanto, a história se torna a versão verdadeira, e a versão da vida real desaparece nas brumas do passado. Por causa disso, as memórias são menos confiáveis do que pensamos.

Memórias que se apagam

Outra explicação para essa amnésia é que talvez eu estivesse muito cansado por ter passado a noite em claro – mais de uma vez –; o que impediria meu cérebro de formar uma impressão a longo prazo. Porém, o mais provável é que a memória não parecia importante na época, então eu não me preocupei em catalogá-la mentalmente. Com o passar do tempo, ela se apagou da minha consciência, até 20 anos depois, quando um amigo me lembra disso.

Suspeito que ainda estou vivendo grandes partes de cada dia dizendo e fazendo todos os tipos de coisas, para o bem ou para o mal, completamente ignorante se, 20 anos depois, alguém contará uma história sobre isso. Eu me pergunto o que é na minha vida eu acabarei esquecendo por completo. Em outras palavras, não faço ideia de como pesar a relevância duradoura das atividades diárias. Vou me lembrar de ver os meus filhos brincando? Vou me lembrar dos eventos mundiais? Da trajetória no trabalho? Do que comi em tal época?

Importância das próprias ações

É comum um paroquiano me dizer o quão influente foi uma homilia que preguei, como ela o encorajou tremendamente em sua fé. Anos depois, alguns até se recordam de frases que eu pronunciei do púlpito. Mas então percebo que eu mesmo não me lembro de tal homilia. Fico até impressionado, pois não consigo imaginar ter dito palavras tão sábias. Mas, é claro, se essas palavras realmente eram tão perspicazes – e claramente para algumas pessoas, eram – por que não consigo me lembrar de tê-las dito?

Estou em alerta sobre esse problema há algum tempo, mas ainda me vejo ansioso para perder tempo olhando para o meu telefone pela manhã e jogando fora minha meia hora de silêncio antes que as crianças acordem. Uma vez, eu tive um desejo irresistível de rolar as mídias sociais no meio de uma caminhada em família em uma linda trilha florestal em um parque estadual. Imagine isso. Eu ainda sonho acordado durante a missa. Em vez de ter uma conversa de verdade, fofocai muitas horas que reservei para tomar café com um amigo. É uma batalha constante.

A única conclusão a que posso chegar é que sou péssimo em reconhecer a importância de minhas próprias ações. Eu as deixo passar, perdendo tempo com outras coisas, e depois as esqueço.

A grandiosidade da vida

Esta semana celebramos a festa do Papa Leão Magno. Recordo-me de uma famosa homilia de Natal dele: “Cristão, lembre-se da sua dignidade“, disse ele, “e agora que você compartilha da própria natureza de Deus, não retorne pelo pecado à sua antiga condição”.

O que ele está dizendo é que, se realmente acreditamos que o próprio Deus assumiu a carne humana e entrou no mundo, então também é verdade que nossas atividades humanas foram transformadas em sagradas. Toda palavra, ação e pensamento é de extrema importância. Nossos dias estão plenos de dignidade.

A dignidade da minha vida está em tantas coisas cotidianas magníficas que eu deixo passar e esqueço. Não que eu não acredite na grandiosidade da dignidade humana – o problema é que eu não vivo isso. Tenho esquecido da importância que até o menor gesto ou atitude contém. Eu negligencio considerar que minha alma, mesmo vivendo dentro das limitações do tempo, é eterna.

Esta é a nossa dignidade, sermos criados à imagem de Deus. Quer consigamos lembrar de tudo do passado ou não, devemos lembrar da nossa dignidade. Tudo é importante. Você importa. Sua vida importa. Viva com alegria e grande expectativa até o menor momento.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A surpresa de Francisco e as púrpuras no mundo

O barrete cardinalício que será entregue aos novos purpurados (Vatican Media)

Ao celebrar o consistório em setembro, o Papa quer que toda a atenção no mês seguinte esteja voltada para o Sínodo. São significativos os barretes para os bispos de fronteira, mas também a inclusão do núncio nos Estados Unidos.

ANDREA TORNIELLI

Muitos tinham a convicção de que o ano de 2023 terminaria com um consistório para novos cardeais – ademais, com este Francisco terá celebrado nove deles em dez anos de pontificado -, mas ninguém esperava um anúncio em julho com a "criação" de 21 purpurados no final de setembro, às vésperas do início do primeiro dos dois Sínodos sobre a sinodalidade. Já havia ocorrido há um ano, para o oitavo consistório, celebrado em 27 de agosto de 2022.

Percorrendo a lista dos 21 nomes, dos quais 18 com menos de oitenta anos e, portanto, eleitores em um eventual conclave, se veem confirmações junto à Santa Sé (por exemplo, os três novos prefeitos de importantes dicastérios curiais, o dos Bispos, o das Igrejas Orientais e o da Doutrina da Fé) e no mundo (por exemplo, as púrpuras para o novo arcebispo de Madri e o de Bogotá). Além de "surpresas" que estão de acordo com as escolhas feitas até hoje pelo Sucessor de Pedro. Dois núncios eleitores constituem a novidade mais significativa, cujo precedente deve ser buscado no consistório de novembro de 2016, quando foi criado cardeal Mario Zenari, embaixador do Papa na Síria, onde permaneceu. Nesse caso, tanto Emil Paul Tscherrig, 76 anos, núncio apostólico na Itália; quanto Christophe Pierre, 77 anos, núncio nos Estados Unidos, são prelados que estão chegando ao fim de seus serviços diplomáticos. Particularmente digna de nota é a inclusão de Pierre, um homem de grande equilíbrio, que desempenhou e continua desempenhando um papel importante colaborando com Francisco na escolha de novos bispos para a Igreja estadunidense.

Também chama a atenção a púrpura de Pierbattista Pizzaballa, o primeiro patriarca latino de Jerusalém a receber o barrete. A Igreja "mãe" da Cidade Santa por excelência, a Igreja latina daquela Terra Santa que continua a ser um terreno de ódio, confrontos e violência, agora tem mais um certificado para se envolver no governo da Igreja universal por meio da colaboração com o Papa para a qual cada novo cardeal é chamado.

Significativas, como atenção às periferias e às Igrejas de fronteira, as púrpuras para Stephen Mulla, arcebispo de Juba, no Sudão do Sul, país visitado por Francisco em fevereiro passado, bem como para Stephen Brislin, arcebispo de Cidade do Cabo, na África do Sul, e Protase Rugambwa, arcebispo coadjutor de Tabora, na Tanzânia: as três sedes metropolitanas africanas terão um cardeal pela primeira vez.

Também é digna de nota a inclusão entre os eleitores do novo bispo de Hong Kong, Stephen Chow Sau-Yan, e do Reitor-Mor dos Salesianos, Ángel Fernández Artime. Entre os eleitores com mais de 80 anos estão o ex-núncio e ex-secretário do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, Agostino Marchetto, estudioso do Concílio Ecumênico Vaticano II, e o idoso frade capuchinho argentino Luis Dri, confessor: ambos já eram bem conhecidos de Francisco antes de sua eleição para o pontificado.

Com o consistório de 30 de setembro, o número de cardeais eleitores no caso de um conclave aumentará para 137. Bem acima do teto de 120 estabelecido por Paulo VI, mas que já foi ultrapassado em várias ocasiões tanto por João Paulo II e como por Bento XVI. Com as estatísticas do final de setembro, a Europa terá 53 cardeais eleitores (incluindo 15 italianos); 15 cardeais eleitores na América do Norte (11 nos EUA e 4 no Canadá); 24 cardeais eleitores na América Latina; 19 cardeais eleitores na África; 23 cardeais eleitores na Ásia e 3 cardeais eleitores na Oceania.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Antônio Percierskij

Santo Antônio Percierski (arquisp)

10 de julho

Santo Antônio Percierskij

Antônio, que antes se chamava Antipas, nasceu na Ucrânia no ano de 983. Percierskij, na realidade, não é o seu sobrenome, mas sim um apelido e tem um significado: "da gruta". Trata-se de uma referência à cela, escavada por ele mesmo, no vale de Dnjepr, próximo a Kiev, que deu origem à vida monástica russa.

Antônio "da gruta", desde a adolescência, sempre buscou a solidão das cavernas, típicas de sua região, para suas orações contemplativas. Depois viveu, até os quarenta e cinco anos de idade, peregrinando solitário pelos inúmeros mosteiros do monte Athos, na Grécia. Os registros indicam que ele permaneceu alguns anos no mosteiro de Esphigmenon, quando decidiu continuar a vida de penitência e oração na sua pátria. Foi assim que escavou a primeira gruta em Kiev.

Logo surgiram muitos seguidores, e curiosos, que se sentiam atraídos pelos ensinamentos e pela fama de santidade daquele homem de oração e penitência. Todos queriam aprender com o monge sábio e justo, que nunca se mostrava irritado. Era um homem manso e silencioso, pleno de misericórdia com todos. Essa sua personalidade foi muito bem retratada pelo fiel discípulo Nestor, ao escrever "Histórias dos tempos passados".

Contudo Antônio insistia em viver solitário, enquanto os seus seguidores formavam uma comunidade. Com sua permissão, foram construindo várias celas pela região e, depois, uma primeira igreja. Assim, em 1051, surgiu o "Mosteiro das Grutas", cuja arquitetura foi projetada integrando as grutas escavadas por esses monges primitivos.

Esse mosteiro se tornou um dos centros religiosos mais importantes de toda a Rússia. A sua comunidade se tornou famosa pela caridade, instrução, prestígio cultural e pelo esplendor da liturgia ortodoxa cristã. Além das belas igrejas que iam surgindo, consideradas verdadeiras obras de arte da arquitetura eslava. Antônio não desejava dirigir todo esse movimento, mas tinha noção exata do que ocorria. Por isso manteve-se como o exemplo da comunidade e a direção ele confiou ao seu discípulo Teodósio, que sedimentou e estabeleceu as regras da vida monástica.

Por perseguição política, Antônio foi obrigado a abandonar Kiev em 1055. Foi refugiar-se próximo a Cernigov, onde criou um outro mosteiro, conservando a regras de vida do anterior, imprimindo a sua marca pelo exemplo na oração, penitência e caridade. Mas no mosteiro de Kiev, haviam permanecido alguns religiosos, guiados pelo discípulo Teodósio, que é considerado co-fundador do mosteiro. Por isso Antônio conseguiu retornar clandestinamente e lá permaneceu recluso até a sua morte, no dia 10 de julho de 1073.

Do Mosteiro da Gruta de Kiev original restou uma parte não muito grande, pois nos anos de 1299 e 1316 foi quase destruído pelas invasões dos tártaros. Em1926, foi fechado pelo regime comunista. Só em 1988 ele foi reaberto definitivamente. Hoje, ele faz parte do patrimônio da humanidade, como um monumento tombado e conservado pela Unesco.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

A defesa da vida humana desde a concepção e os santos Padres da Igreja

Patrística (Diocese de Marabá)

 A DEFESA DA VIDA HUMANA DESDE A CONCEPÇÃO E OS SANTOS PADRES DA IGREJA

Dom Vital Corbellini

Bispo de Marabá (PA)  

O argumento da defesa da vida humana desde a concepção é bastante atual, debatido nos contextos familiar, eclesial e social, de modo que uma das maneiras para encontrar respostas, é voltar às fontes do cristianismo, os santos padres, os primeiros escritores cristãos, pois estes deram fundamentos aos pontos litúrgicos, morais, em relação à doutrina social da Igreja e seguiram a palavra do Senhor Jesus. Eles também se defrontaram com a realidade do início da vida humana, colocando como elemento fundamental a sua defesa desde a concepção materna. Outro dado era essencial da vida da qual devia ser defendida provinha de famílias que abandonavam os seus bebês, apenas nascidos, sendo esses colocados ao longo das vias, dos caminhos públicos, muitas vezes nas praças, de modo que as pessoas assumissem a sua adoção como seus filhos ou suas filhas. Esta realidade social era difícil de ser concebida para um cristão diante de uma vida que era eliminada, muitas vezes, e, estava atirada no seu menosprezo.  

Os santos padres foram pastores de seu povo, de modo que eram contra o aborto, seguindo a palavra divina que vem do próprio Senhor Jesus, sendo Ele a vida (Jo 14,6), superando a morte. Eles também tinham presente a Palavra de Deus do AT pela escolha da vida e da morte, de modo que a pessoa a viveria e a sua descendência ao escolher a vida, amando ao Senhor, seu Deus, dando ouvido à sua voz e apegando-se a ele, porque ele é a vida para habitar na terra que o Senhor jurou a seus pais, Abraão, Isaac e Jacó (Dt 30, 19-20)1. Por isso os padres da Igreja elaboraram uma doutrina em relação à vida desde a concepção de modo que é fundamental fazer uma análise.  

Didaqué, a Doutrina dos doze apóstolos: a vida no seio materno. 

A Didaqué, uma obra presente nos tempos apostólicos, do século I falou um ponto importante da vida desde o seio materno. A obra recomendava às comunidades cristãs pela prática da vida, diante da morte de crianças. Ela afirmou o dado que não era para matar a criança desde o seio materno, porque a vida existe desde a concepção, e também não podia matá-la após o seu nascimento. O fato era que algumas pessoas abandonavam os recém-nascidos de modo que era expô-los à morte tanto quanto a prática de eliminá-los desde o seio materno2. O mesmo autor reforçou a ideia que a pessoa estaria no caminho da morte, se ela colaborasse ou eliminasse as crianças, no caso desde o ventre materno3. 

Não matar a criança. 

A Carta de Barnabé, século II, também afirmava como a Didaqué que não era para eliminar a vida desde a concepção, porque nesta, existe a vida. A Carta exortava para não matar a criança no seio da mãe, nem logo que ela tiver nascido. A obra exortava os cristãos para que não realizassem ações para matar a criança no seio da mãe, e também não eliminá-la quando tiver nascido4.  

A vida desde o seio materno. 

Atenágoras de Atenas foi um Padre apologista, isto é defensor da vida cristã contra as calúnias levantadas pelos pagãos. Ele viveu em Atenas no final do século II de modo que defendeu a vida desde o seio materno. Os cristãos eram acusados de matar as pessoas e saciar-se da carne humana. O Apologista dizia que os cristãos nunca fizeram tais coisas, do contrário eles eram defensores da vida humana que iniciava no seio materno, desde a concepção. Ele dizia que as pessoas que tentam o aborto cometem homicídio tendo que dar contas a Deus por ele. Desta forma não se poderia pensar que aquele que a mulher leva, carrega não seja um ser vivente5. Sem dúvida o filósofo apologista cristão, afirmou que não se podia matar seja a pessoa que tinha alguns anos de vida, como também aquele que era formado no seio materno. Atenágoras tinha uma concepção muito importante da natureza do feto como ser vivo, objeto dos cuidados de Deus, da Providência divina, quando o direito romano dos primeiros tempos, não o considerava como ser vivo e muitas vezes não reconhecia o direito da sua existência6. Atenágoras colocava também a fé na ressurreição dos corpos de modo que os cristãos eram a favor da vida desde a concepção até a morte natural7. 

Proibido o homicídio e o que é formado no útero. 

Tertuliano, Padre Africano nos séculos II e III disse que os cristãos eram contra o homicídio, e também não permitia destruir até o que é concebido no útero, quando é plasmado o sangue para formar uma pessoa. Percebe-se claramente a idéia que o homicídio não estava presente na vida dos seguidores de Cristo, porque existia o mandamento da Lei de Deus, não matar, e também não destruir a pessoa na concepção dentro do útero da mulher porque já está sendo plasmada uma vida, uma pessoa. Tertuliano afirmou que o homicídio não estava apenas na pessoa que tirava a outra a sua vida, mas também quando se redundava em proibir de nascer, porque se arrancava uma alma, tanto no nascimento ou no momento do nascimento. É um ser humano também àquele que há de ser; todo fruto já existe também na semente8. Tertuliano era a favor da vida desde a concepção porque existe a vida, uma alma que não pode ser destruída.  

O aborto é morte de uma pessoa. 

São Basílio Magno, bispo de Cesaréia, século IV disse que a pessoa que procurava de uma forma livre um aborto cometia um homicídio, matando uma pessoa, não se tratando apenas se o feto foi formado ou não, porque a vida existe desde a concepção. São Basílio era contra as pessoas que procuravam o ato de abortar, bem como àquelas pessoas que realizavam a ação do aborto9.

Os padres da Igreja defenderam a vida desde a concepção até a sua morte natural. É importante lutar pelo dom da vida que o Senhor dá para as pessoas de modo que ninguém poderá eliminá-la porque é uma vida que vai se definhando para a realidade familiar, comunitária e social.

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[1] Cfr. B. Honings. Aborto. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, A-E, diretto da Angelo Di Berardino. Genova-M ilano, Casa Editrice Marietti S.p.A. 2006, pg. 19.

[2] Cfr. Didaqué, 2,1. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pg, 345.

[3] Cfr. Idem, 5,2, pg. 350.

[4] Cfr. Carta de Barnabé, 19,5. In: Idem, pg.

[5] Cfr. Petição em favor dos cristãos, III, 35. In: Padres Apologistas. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 163.

[6] Cfr. IdemIII, 35, pg. 163.

[7] Cfr. IdemIII, 36, pg. 164.

[8] Cfr. Tertuliano. Apologético, 9,8. São Paulo, Paulus, 2021, pg. 60.

[9] Cfr. Basilio il Grande. Lettere, 188, 2 (Ad Anfilochio). In: La Teologia dei Padri, Volume III. Roma, Città Nuova Editrice, 1982, pg. 367.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

domingo, 9 de julho de 2023

Quem são os brasileiros que irão ao Sínodo da Sinodalidade

Dom Leonardo Steiner celebra missa amazônica pela Casa Comum em Manaus / Arquidiocese de Manaus

Por Marcelo Musa Cavallari/ ACI Digital

SÃO PAULO, 08 Jul. 23 / 10:10 pm (ACI).-  

Pouco depois de saber que seria criado cardeal em agosto de 2022, o arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo Ulrich Steiner, disse em entrevista ao site do CELAM que queria servir de “lembrete do ministério do bispo de Roma na região, e, portanto, da fidelidade dele ao cuidado de nossa Casa Comum, à escuta em proximidade com os povos originários, à justiça na superação da violência em todas as suas formas, à presença samaritana entre os pobres”.

Dom Steiner, que busca uma “Igreja incarnada e libertadora”, mostrava-se como um arauto da visão do papa Francisco para a igreja no Brasil: “Farei todo o possível para que sua voz ressoe entre nós”, disse. Assim, não foi surpresa que dom Steiner tenha sido um dos cinco eleitos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para participar do Sínodo da Sinodalidade, que fará sua primeira assembleia geral entre 2 e 28 de outubro próximo no Vaticano.

A lista dos participantes foi publicada hoje (7) pela Santa Sé e inclui 13 brasileiros. Além do arcebispo de Manaus, foram eleitos pela CNBB o arcebispo emérito de Mariana (MG) dom Geraldo Lyrio Rocha, o bispo-auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ) dom Joel Portella Amado, o bispo de Santo André (SP), dom Pedro Carlos Cipollini, e o bispo de Camaçari (BA), dom Dirceu de Oliveira Medeiros.

cardeal João Braz de Aviz, prefeito do dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica é membro natural do sínodo por ter um cargo na Cúria Romana. O arcebispo de Salvador (BA), cardeal Sérgio da Rocha, é membro do Conselho de Cardeais nomeado pelo papa. Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS), presidente da CNBB e presidente do CELAM, também está na lista da Santa Sé.

Além deles, há duas leigas. Sonia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional de Leigos do Brasil da CNBB, disse a Vatican News que “é uma emoção muito grande enquanto mulher, preta, do sertão, estar nessa lista”.

Maria Cristina dos Anjos da Conceição é assessora nacional para Migração e Refúgio da Cáritas Brasileira. “A missão é contribuir para que na grande tenda do povo de Deus, cada vez mais alargada e numa perspectiva sinodal, possam caber todas as pessoas", disse Maria Cristina ao comentar sobre sua nomeação para o sínodo.

Três padres brasileiros, dois dos quais jesuítas como o papa, participarão como “facilitadores” e não terão, por isso, direito a voto. O padre Adelson Araújo dos Santos, S.J., o padre Miguel de Oliveira Martins Filho, também jesuíta, e o padre Agenor Brighenti.

Para dom Steiner, com a criação dele como primeiro cardeal da Amazônia na história da Igreja, o papa estaria “pedindo a nossas igrejas que assumam o sínodo, especialmente o texto Querida Amazônia e o documento final do sínodo dos bispos para a Amazônia”.

O documento final do sínodo da Amazônia abordou temas controversos, como a ordenação de homens casados, o diaconato feminino e a criação de um rito amazônico.

O papa, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia, de 2 de fevereiro de 2020, não acatou nenhuma das sugestões mais polêmicas do sínodo. Dias antes de sua criação como cardeal, no entanto, dom Steiner disse em uma entrevista ao portal católico suíço Kath.ch que “haverá uma maneira” de ordenar homens casados, os chamados «viri probati» (homens provados). “No rito latino há séculos de considerações e explicações que visam justificar o celibato obrigatório. As necessidades de nossas comunidades mostram que devemos continuar o diálogo”, disse.

É também a opinião do padre Adelson Araújo dos Santos, S.J.. Ele participou do Sínodo da Amazônia como perito nomeado pelo papa Francisco e disse ao jornal português Diário de Notícias que “o silêncio do Papa não significa que tenha vetado definitivamente" a possibilidade de padres casados na Amazônia.

Dom Jaime Spengler também já comentou temas polêmicos, como a ordenação de mulheres. Em entrevista à Folha de S. Paulo, em maio, respondendo se “as mulheres devem ganhar espaço no clero”, disse que “é uma questão em debate”. “Há sinais de que no passado, sobretudo na origem da Igreja, existia, sim, um diaconato feminino. Precisamos aprofundar os estudos”, disse. “Essa participação do feminino da vida ordinária da Igreja precisa ser promovida. Oxalá possamos juntos ampliar esses espaços”, completou.

Dom Jaime foi eleito presidente da CNBB durante a Assembleia Geral em abril de 2023. Um mês depois, foi eleito presidente do CELAM. Segundo ele, o processo de escuta e consulta que caracteriza o Sínodo da Sinodalidade veio “primeiro por iniciativa do CELAM”, na Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe de 2021. “E, na sequência, tivemos a inciativa do Santo Padre”.

“Todo esse processo de escuta que se desenvolveu e está sendo levado adiante ainda precisa avançar”, disse dom Spengler após a eleição para a presidência da CNBB à Rádio Gaúcha. “Que esse espírito da sinodalidade, que podemos usar um sinônimo que vem do Vaticano II, espírito de comunhão e participação, possa crescer e se consolidar entre nós”.

Sobre as pessoas com tendências homossexuais, Spengler disse que parte de “um princípio muito simples: são pessoas humanas, e merecem nosso respeito”. “Temos que ir ao encontro dessas pessoas ajudando, se possível, a pautar a própria vida de acordo com aquilo que são os critérios do Evangelho”, disse.

Com essa mesma preocupação, em 2021, o arcebispo de Salvador (BA), cardeal Sérgio da Rocha, celebrou uma missa pelas vítimas da “LGBTfobia”, com a presença de ativistas LGBT. Entre eles, estava um transformista caracterizado, que cantou a música “Ave Maria” após a comunhão.

Na época, o cardeal Rocha disse à ACI Digital que a equipe responsável pela organização da missa “não favoreceu a divulgação ou o uso ideológico da celebração”. Ele disse que a missa “não foi uma celebração em homenagem às pessoas falecidas, mas em sufrágio das almas”. Também afirmou que, “infelizmente, a instrumentalização ideológica ocorre quando se distorce a realidade dos fatos ou se atribui significado indevido, podendo ser de esquerda ou de direita”.

O cardeal Rocha presidiu a CNBB entre 2015 e 2019. Nesse papel, participou do Sínodo da Família, em 2015, e foi relator do Sínodo da Juventude, em 2018.

Antes de ir para o sínodo de 2015, dom Sérgio da Rocha disse em uma entrevista ao jornal ‘Estado de Minas’ que a Igreja queria dar mais atenção aos casais em situação difícil. “Esperamos que, no sínodo, possamos encontrar luz, para não só iluminar genericamente, mas oferecer orientação de ordem pastoral. É um tema que nos está preocupando e que preocupa a todos, como o papa Francisco admitiu claramente”, disse na época.

 “A Igreja quer acolher a todos”, acrescentou, “sem que ninguém fique excluído, mas ao mesmo tempo procura oferecer, à luz do Evangelho, os valores que vêm da palavra de Deus, que devem orientar a conduta de todo mundo”.

O cardeal João Braz de Aviz é prefeito do dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica da Santa Sé. Ele partilha com o papa Francisco a preocupação “com algumas posições tradicionalistas também no seio da vida religiosa. Partir do Concílio, é este o nosso desafio”, disse o cardeal segundo reportagem de Religión Digital, traduzida pelo Instituto Humanitas, da Unisinos.

Em um congresso para formadores religiosos de todo o mundo, em Roma, o cardeal Aviz pediu aos formadores de religiosos que “não se distanciem das grandes linhas do Concílio Vaticano II”. “Na verdade, aqueles que estão se distanciando do Concílio para traçar um outro caminho estão se suicidando - mais cedo ou mais tarde, eles vão morrer”, disse.

“Os contextos mudaram”, disse Braz de Aviz. “O Concílio recorda-nos que a vida consagrada deve ser um discipulado cristão ... deve ser o discipulado dos seus fundadores, mas também deve estar aberto à cultura do momento presente”.

Dom Geraldo Lyrio da Rocha, arcebispo emérito de Mariana (MG), participou, como presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, em Aparecida (SP), em maio de 2007.

Em junho do ano passado, nas celebrações dos 15 anos da Conferência Geral em Aparecida, dom Geraldo recordou que o então arcebispo de Buenos Aires, cardeal Jorge Mário Bergoglio, foi o relator do documento final da conferência. E ressaltou três pontos de aproximação entre o resultado da Conferência e o pontificado do agora papa Francisco: Forte cunho missionário, evangélica opção preferencial pelos pobres e ecologia.

Para dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e ex-secretário-geral da CNBB, "nós precisamos perceber o processo sinodal, ele não se pode dar por satisfeito. É sempre um processo que avança, cada vez mais, na medida em que é expressão de uma comunhão que nasce, o Deus trindade vai se concretizando entre nós, cada momento, cada etapa é um alargar, do círculo da sinodalidade. “

Dom Pedro Carlos Cipollini, bispo de Santo André (SP) também se preocupa com o conceito abstrato de sinodalidade em si. Em 2021, lançou o livro “Sinodalidade: Tarefa de Todos”, publicado pela Paulus Editora.

Ali, dom Cipollini diz que a ideia da sinodalidade passou a ser discutida, sobretudo, após o Concílio Vaticano II, a partir da criação do Sínodo dos Bispos, em 1965, por São Paulo VI e graças ao magistério do papa Francisco. Para ele, é no pontificado de Francisco que a ideia de sinodalidade se tornou um tema recorrente que vem ganhando espaço na discussão teológica e pastoral da Igreja.

Dom Dirceu de Oliveira Medeiros, bispo de Camaçari (BA) foi entre junho de 2019 a outubro de 2021, subsecretário adjunto geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e participou da equipe nacional de animação do Sínodo da Sinodalidade, organizada pela CNBB.

Em 27 de outubro de 2021, foi nomeado bispo de Camaçari (BA), pelo papa Francisco. Em sua primeira mensagem à diocese de Camaçari, disse: “Sigamos as intuições do papa Francisco de sermos Igreja Misericordiosa, Samaritana e em Saída. Estamos em sintonia com o Sínodo de 2023, convocado pelo Santo Padre, com o tema: ‘Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão’”.

Colaboraram nessa matéria Natalia Zimbrão, Monasa Narjara e Gustavo Amorim Gomes, da ACI Digital.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF