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terça-feira, 18 de julho de 2023

São Francisco Solano

São Francisco Solano (A12)

18 de Julho

São Francisco Solano

Francisco nasceu no ano de 1549 em Montilla, na Andaluzia, Espanha. Seus pais eram de família nobre e rica, católicos fervorosos e virtuosos. Possuía rara sensibilidade musical, tendo por passatempo cantar com os pássaros no jardim de casa. Tinha espírito sereno mas não deixava de chamar a atenção de crianças ou adultos quando brigavam, buscando sempre uma reconciliação.

Assimilou com naturalidade o Catecismo, dedicava-se à oração, era devoto da Santa Missa e se confessa com frequência, o que lhe deu solidez para manter uma adolescência pura e retidão moral.

Cedo foi enviado pelos pais para formação no colégio dos jesuítas da cidade, onde foi modelo de integridade contando com a estima dos colegas, inclusive dos mais levianos, que por respeito à sua aproximação abandonavam as más conversas e com ele partilhavam um ambiente de sadia alegria.

Aos 20 anos entrou para o Convento de São Lourenço dos franciscanos de Montilla, onde fez profissão religiosa em 1570. Desejava ardentemente ser missionário. Aprofundou os estudos no Convento de Santa Maria de Loreto, e foi ordenado sacerdote em 1576, voltando a Montilla três anos depois por causa do falecimento do pai. Aí estando, curou milagrosamente alguns doentes, e começaram a aclamá-lo como santo: mas durante a vida inteira lutou para que não atribuíssem a ele os louvores devidos somente a Deus.

Durante um surto de peste que surgiu na Espanha, voluntariou-se como enfermeiro para cuidar dos doentes, em especial dos mais pobres. Contraiu também ele a doença, mas recuperando-se voltou a servir os enfermos.

Em 1589 realizou seu sonho missionário ao ser indicado para a evangelização na América Latina, embarcando para o Peru. Uma forte tempestade no caminho encalhou o navio num banco de areia em situação crítica, mas por sua atuação conseguiu acalmar os viajantes, inclusive batizando muitos passageiros e também os escravos negros que estavam a bordo. De acordo com suas previsões, logo surgiu um outro navio que os levou com segurança ao destino.

Durante seus 15 anos de incansável apostolado, realizou muitos prodígios. Tinha uma capacidade milagrosa para aprender as novas línguas e a cada tribo catequizava em seu próprio dialeto, conquistando os índios de maneira simples e tranquila. Nos povoados de Socotonio e Magdalena, aprendeu em menos de quinze dias o complicado dialeto tonocoté, passando a falar melhor que muitos nativos. Recebeu também o dom dos Apóstolos no dia de Pentecostes: em algumas de suas pregações, espanhóis e índios de diferentes dialetos o entendiam na sua própria língua. Seu método de evangelização incluía alternar as pregações com músicas que cantava ou tocava ao violino.

Mesmo com grande risco, buscava os indígenas dentro das matas, percorrendo um total de três mil quilômetros entre Lima e Tucumán, na Argentina. Realizava inúmeros milagres por onde passava, tanto para alimentar a Fé deles quanto para auxílio das suas necessidades materiais.

Entre outros, fez brotar nascentes em lugares desérticos, a água de uma delas, conhecida hoje como Fonte de São Francisco Solano, curando os doentes que a bebiam; amansou animais ferozes; proveu alimentos em tempos de escassez; livrou totalmente uma vasta região da praga de gafanhotos; curou muitos doentes com o toque de seu cordão de franciscano. Mas, certamente, seus maiores milagres foram as conversões das almas.

Numa pregação em Assunção, no Paraguai, foi ouvido por um jovem de 15 anos, o futuro São Roque González, que impressionado por ele veio a fundar as Reduções Guaranis e a ser martirizado, no Brasil.

Seus últimos cinco anos de vida, em Lima, foram dedicados à reforma dos conventos com a restauração da então abalada disciplina franciscana. Faleceu em 14 de julho de 1610, apelidado de “o Frade do Violino”.

 São Francisco Solano, chamado de Apóstolo do Peru e da Argentina, é padroeiro destes dois países e do Uruguai, e também dos missionários da América Latina.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Santas famílias geram santos filhos. Os pais devem escolher. E agir. A reta postura sempre impõe respeito, e é de se notar que, em plena adolescência, Francisco fosse respeitado mesmo pelos colegas mais levianos. Importante é incentivar os jovens a se manterem dignos de Deus, em qualquer ambiente, o que por si só é um testemunho coerente com a Fé, inibindo abusos e estimulando a firmeza das boas convicções. Em sentido oposto, é preciso lutar, com muita sinceridade, contra a instigante tentação de ser muito valorizado, mesmo por fazer o bem: mais uma vez Francisco dá o exemplo certo, mantendo que as coisas extraordinárias que fazia eram obra de Deus, não de seus próprios poderes. “Quem se gloria, glorie-se no Senhor. Não é homem de valor quem se recomenda a si mesmo, mas aquele a quem o Senhor recomenda” (2Cr 10,7-8). E muitas coisas espantosas ele fez, particularmente como missionário, mas não só pelos muitos milagres, mas também pela dedicação, persistência e disposição de enfrentar graves perigos e distâncias imensas. Isto numa época onde as possibilidades de conforto e a disponibilidade do necessário eram parcas e inversamente proporcionais aos desafios e as agruras do terreno. Independentemente de milagres, o trivial era de exigência heroica. O trabalhar um grande projeto é provado por grandes oposições. Querendo ser missionário, numa dimensão continental e árdua, Francisco tem como primeira experiência uma tempestade e um navio perigosamente encalhado. E a expectativa de impossibilidade de sequer iniciar o trabalho. No plano espiritual, situações semelhantes são ainda mais exigentes: fortes temporais na alma, onde todo tipo de barreiras parece encalhar os bons propósitos e os maiores esforços, impedir qualquer progresso. E pelas oscilações do espírito ameaça naufragar no mar das agitações, desânimos ou desesperos, todo o conteúdo do que fôra tão cuidadosa e penosamente preparado. São provas de Deus, por vezes com um adendo do diabo… mas, como Francisco, é possível transformar a situação numa vitória, com oração, trabalho, tranquilidade e confiança em Deus. Esta é a têmpera dos santos, santidade que é proposta a todos os batizados. Nem sempre o sucesso terá a aparência que o mundo espera – apenas Nossa Senhora entendeu o Cristo na Cruz e no sepulcro – mas não é a míope visão mundana que importa. Estas situações fazem parte da vida de quem quer que se lance a levar Deus ao mar do mundo, navegando na barca da Igreja, e exigem “milagres”: fazer brotar fontes de esperança em corações secos, amansar os ferozes animais das tentações, prover o alimento da Palavra em tempos de escassez moral, livrar totalmente da praga do desespero e do desânimo a imensa região dos corações, restaurar a disciplina espiritual das almas distorcidas. E talvez o mais difícil, fazer com que o único Verbo seja conjugado em línguas diferentes. Mais uma vez, Francisco nos mostra que tudo isso é viável: “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). Seja feita a Sua vontade!

Oração:

Senhor Deus, que Vos dignastes enviar como missionário salvífico do Céu para a Terra o Vosso próprio Filho, concedei-nos por intercessão de São Francisco Solano o dom de aprender a língua do amor e da caridade, e só por ela me dirigir aos irmãos, para que, depois das obras no desterro desta terra, possamos entoar na Pátria Definitiva a música dos anjos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Bíblia: O amor em Palavra

Andrew Angelov | Shutterstock / #image_title

Por Julia A. Borges

Antes mesmo que o mundo fosse criado, a Palavra já existia. Havia entre o Pai e o Filho, um diálogo de amor.

Do crente ao ateu e do gentio ao judeu, a leitura bíblica se dá por diversas veredas que atravessam o pensar e a lógica humana, e tais caminhos vão de encontro, predominantemente, ao entendimento da intencionalidade do autor. Muitos dos estudos das Sagradas Escrituras se voltam às questões hermenêuticas justamente porque o material suscita múltiplas interpretações e a isso também se devem os inúmeros nichos religiosos dispersos no mundo. Portanto, refletir acerca da Bíblia é ser possuidor de um material acadêmico heterogêneo com recepção direta no mundo contemporâneo/moderno, e sua riqueza é incontestável, seja pelo viés religioso ou exclusivamente literário.

Tamanho bem é, muitas vezes, negligenciado pelo próprio fiel que faz das Escrituras um fim puramente apologético e ignora o fato único e basilar da fé cristã no qual afirma que a Palavra se fez carne, ou seja, a Bíblia não é Palavra de Deus, portanto, a não ser em sentido analógico; porque, propriamente falando, a Palavra é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho eterno do Pai, Jesus Cristo. O próprio documento do Concílio do Vaticano II, intitulado Dei verbum – Dogmática sobre a Divina Revelação, revela que “o cristianismo é a religião da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo”.

Antes mesmo que o mundo fosse criado, a Palavra já existia. Havia entre o Pai e o Filho, um diálogo de amor. Foi por pura graça que Deus, servindo-se de seu Verbo, tudo criou, inclusive a raça humana, para que assim fosse feita uma comunhão. O ser humano, no entanto, através de seu livre-arbítrio, apartou-se de Deus, frustrando o plano original que Ele tinha para todos os seus filhos. Mas tamanha é a misericórdia divina que com o intuito de resgatar o homem dessa condição, tornou visível, audível e tátil o Verbo eterno. A verdade, agora, tornou-se palpável.

Instrumento

As páginas sagradas não constituem um fim em si mesmo, mas são um instrumento para suscitar a virtude da fé, princípio de todo o organismo espiritual que Deus enxerta em seus filhos adotivos; são um meio para tornar-nos “participantes da natureza divina” (2Pd 1, 4) e saciar o ser com a Palavra por que ansiava desde sempre o inquieto coração humano. É de fé católica que os livros que compõem as Escrituras são divinamente inspirados e, por isso, têm a Deus mesmo por autor principal. Isto não significa, porém, que nos tenham sido transmitidos por simples ditado, ao modo das assim chamadas “psicografias”, nem que, portanto, os autores humanos — também denominados hagiógrafos — tenham pouca ou nenhuma participação na composição dos textos santos. Conciliando extremos à primeira vista incompatíveis, a fé católica ensina que, apesar de ser antes e sobretudo Palavra de Deus, a Bíblia não deixa de ser também produto da ação de homens reais e concretos, que cooperaram ativa e efetivamente para que à Igreja estivessem sempre abertos os tesouros das divinas Letras.

As Escrituras, por conseguinte, não podem ser consideradas fonte de inspiração somente pelo fato de uma decisão da autoridade eclesiástica; pelo contrário, é justamente por serem inspiradas e motivo revelação divina que a Igreja, sob a assistência do Espírito Santo, as acolhe, venera, medita e proclama. Segundo o livro de Teologia Fundamental do Padre Paulo Ricardo,  “não é a inventos e especulações humanas que se deve recorrer para alcançar o sentido verdadeiro e genuíno das Escrituras e da Tradição, nem a critérios e preferências pessoais, mas à voz daquela que, instituída pelo próprio Senhor Jesus como mãe dos fiéis e mestra das nações, suporta, nutre e sustenta a fé de cada um de seus filhos, isto é, à Igreja Católica”.

Sentido

À primazia da Escritura acrescenta-se o poderio da fé individual, e, portanto, é função do leitor, iluminado pelo Espírito Santo, a exegese dos textos sagrados. Entretanto, a Igreja orienta sobre o verdadeiro sentido dos textos bíblicos, prevenindo de qualquer interpretação que discorde do que por ela é proposto como sendo a reta compreensão da Palavra de Deus. Fato é que a Bíblia não poderá ser entendida, na profundidade do seu significado, pelo leitor que se limitar aos aspectos formais literários ou até mesmo nas questões históricas, haja vista que mesmo sendo inegável o manancial investigativo e científico por detrás daquelas linhas, só será possível ter a verdadeira interpretação da mensagem aquele que se deixa ser conduzido pelo Espírito Santo de Deus. 

Ao cristão que muitas vezes, mesmo com todo empenho, sente-se aquém de realizar algumas análises, é necessário ter em mente que o fiel tem na Igreja, a intérprete legítima constituída pelo próprio Cristo como depositária incorruptível das verdades contidas na Palavra. É a ela que se deve recorrer quando a dúvida for maior do que o real entendimento da vontade de Deus.


Referências

Leão XIII, Encíclica “Providentissimus Deus“, de 18 nov. 1893, n. 31.

Bento XV, Encíclica “Spiritus Paraclitus“, de 15 set. 1920, n. 10.

Ricado, Padre Paulo. Teologia Fundalmental I. São Paulo: Ecclesiae, 2010.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Doutrina Social da Igreja

A Doutrina Social da Igreja (comshalom)

DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Os problemas sociais não são estranhos à legitima preocupação da Igreja, vista como instituição religiosa, justamente porque não se pode reduzir o fato religioso à esfera exclusiva do privado. Embora somente após o Papa Leão XIII se tenha desenvolvido um corpo doutrinalsocial, a Igreja sempre se interessou pela dimensão do agir humano na sociedade. O Evangelho alarga e dá significado pela reconciliação e libertação, pela justiça e paz, pela pessoa, pelas relações sociais e por toda a Criação.  

O ensinamento da Igreja sobre as realidades sociais se revela aberto ao tempo histórico e, simultaneamente, projetado para um sentido superior, além da visibilidade desse mundo que passa.  

Doutrina Social da Igreja não é, portanto, um código social que elenca as regras sobre o viver comum no Planeta. Tampouco é uma projeção social de um humanismo fechado sobre uma religião ou crença.  Trata-se, na verdade, de uma indicação sintética e germinal, de um humanismo que tem sua fonte no mistério insondável da criação do mundo e na redenção mediante a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Esse novo humanismo é definido no compêndio Doutrina Social da Igreja como integral e solidário. 

A Doutrina Social da Igreja é um conjunto de princípios de reflexão, de critérios de julgamento e diretrizes de ação cujo objeto principal é a dignidade da pessoa humana, imagem de Deus, e a defesa de seus direitos inalienáveis.  

A Igreja tem a missão de propor uma nova ordem à prática do consumo, de rever a manipulação dos seres e das coisas. De acordo com a lógica da encarnação, a Igreja acolhe, em Cristo, os riscos de assumir um compromisso social baseado no amor. Esse gesto comporta incompreensão, rejeição e banalização. Esses entraves, contudo, não conseguem paralisar a ação pública da Igreja.  

A presença da Igreja na sociedade se traduz pela lógica da gratuidade. Ela estimula cada cristão a encontrar o adequado comportamento no uso das riquezas, do poder, da sexualidade e do Planeta. Estimula, também, a criação de obras e instituições que expressem a caridade, preferindo aqueles que estão excluídos da lógica hegemônica. Nesse caso, a Igreja foge à tentação de ter uma presença apenas espiritual diante de uma marginalidade utópica que a modernidade lhe concede. 

 Constantemente, a Igreja precisa inventar modalidades que vão além do culto e da doutrina. Isso pode levar ao compromisso temporário com responsabilidades e iniciativas que visualizem sua missão numa determinada sociedade. Muitas são as expressões da ação social da Igreja para remediar situações de extrema miséria.  

A opção pelos pobres é fundamental para a Doutrina Social da Igreja. Os pobres e os fracos têm o primeiro direito de reivindicação perante a consciência e as práticas eclesiais. Essa expressão foi a específica contribuição da Igreja latino-americana para toda a comunidade católica. Ela foi absorvida pela Igreja na sua totalidade como explicitação atual do Capítulo 25 de Mateus que preconiza o juízo final a partir do envolvimento com os pequenos e pobres.  

A solidariedade é o princípio definidor da formação do mundo novo. É uma expressão moral de interdependência de que somos uma só família, sejam quais forem as diferenças de raça, nacionalidade, ou poder econômico. Os povos das terras mais distantes não são inimigos ou intrusos; os pobres não são fardos, mas irmãos e irmãs, com direitos à vida e à dignidade.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Por que a homilia deste padre já foi vista mais de 7 milhões de vezes?

Instagram/@paroquiasaojosegoiania

Por Ricardo Sanches

No vídeo viral, o padre Antônio Donizeth explica o que causa a desordem na vida de muitas pessoas.

Ovídeo que mostra um trecho de uma homilia do padre Antônio Donizeth do Nascimento, da Paróquia São José, em Goiânia, GO, viralizou na internet. Já são mais de sete milhões de visualizações da publicação em menos de vinte dias.

Na homilia, o sacerdote comentou o que ele costuma responder quando alguém lhe pergunta sobre as causas das desordens que muitos enfrentam. E a resposta surpreendeu muita gente.

“Quando uma pessoa começa a falar para mim das desordens em que ela está, eu pergunto: que horas você levanta? Que horas você toma café? Como é que é sua refeição? Que horas que você deita? Como é seu sono?”, disse o padre Antônio.

Mas, de acordo com o sacerdote, as pessoas estão em busca de outro tipo de resposta. “A pessoa quer que eu fale é de fenômenos, do capeta, do mal, que tem uma inveja atrás de mim, me pegando, me perseguindo, um ‘trem’ que me possui…”

Mas o que seria esse “trem” (no bom sotaque goiano)? “É uma vida desorganizada na forma de você cuidar de você”, responde o padre Antônio.

Depois, o padre, que tem 60 anos de idade e 27 de sacerdócio, dá alguns conselhos aos fiéis que estão na missa (e aos milhões de internautas que fizeram o vídeo viralizar):

“Cuide do seu corpo! Alimentação, exercício físico, relacionamentos sadios, leitura saudável. Pare de ver porcaria, que não presta e que ativa você numa violência na internet. Leia ‘trem’ sadio, reze!”

Cuidar do corpo: um dever cristão

Em artigo já publicado aqui na Aleteia, o professor Felipe Aquino explica que o corpo do homem também participa da dignidade da imagem de Deus: “é a pessoa humana inteira que está destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do Espírito Santo”.

Felipe Aquino alerta: “Não se pode desprezar a vida corporal; ao contrário, devemos estimar e honrar o corpo, porque ele foi criado por Deus e destinado à ressurreição no último dia.”

Além disso, o professor recordou o que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre os cuidados com o corpo e com a saúde física:

“A vida e a saúde física são bens preciosos confiados por Deus. Devemos cuidar delas racionalmente, levando em conta as necessidades alheias e o bem comum. O cuidado com a saúde dos cidadãos requer a ajuda da sociedade para obter as condições de vida que permitam crescer e atingir a maturidade: alimento, roupa, moradia, cuidado da saúde, ensino básico, emprego, assistência social.”

CIC, 2288

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa: semear a Palavra sempre, mesmo que o mundo reme contra

Papa Francisco no Angelus do dia 16-07-2023 (Vatican Media)

Eu semeio o bem? Preocupo-me apenas em colher para mim mesmo ou também semeio para os outros? Lanço algumas sementes do Evangelho em minha vida cotidiana: estudo, trabalho, tempo livre? Fico desanimado ou, como Jesus, continuo a semear, mesmo que não veja resultados imediatos? Perguntou o Papa no Angelus deste domingo, 16 de julho, ressaltando que é preciso semear o bem sempre.

Raimundo de Lima – Vatican News

Na alocução que precedeu a oração do Angelus, este XV Domingo do Tempo Comum, o Papa ateve-se ao Evangelho do dia, que nos apresenta a parábola do semeador.

A da "semeadura" é uma imagem muito bonita, que Jesus usa para descrever o dom da sua Palavra, disse Francisco.

Imaginemos uma semente: ela é pequena, quase invisível, mas produz plantas que dão frutos. A Palavra de Deus é assim; pensemos no Evangelho, um pequeno livro, simples e ao alcance de todos, que produz vida nova naqueles que o acolhem. Portanto, se a Palavra é a semente, nós somos o terreno: podemos recebê-la ou não. Mas Jesus, o "bom semeador", não se cansa de semeá-la com generosidade. Ele conhece o nosso terreno, sabe que as pedras da nossa inconstância e os espinhos dos nossos vícios podem sufocar a Palavra, mas sempre espera que possamos dar frutos abundantes.

Os pais: semear o bem e a fé nos filhos, sem desanimar-se

O Santo Padre destacou que assim faz o Senhor e assim somos chamados também nós a fazer: a semear sem nos cansar. O Papa deu alguns exemplos, partindo dos pais.

Eles semeiam o bem e a fé nos filhos, e são chamados a fazer isso sem desanimar se, às vezes, eles parecem não entender ou apreciar seus ensinamentos, ou se a mentalidade do mundo "rema contra eles". A boa semente permanece, isso é o que importa, e ela criará raízes no devido tempo. Mas se, cedendo à desconfiança, eles desistirem de semear e deixarem seus filhos à mercê das modas e do celular, sem dedicar tempo a eles, sem educá-los, então o terreno fértil se encherá de ervas daninhas.

Fiéis e peregrinos na Praça São Pedro durante o Angelus (Vatican Media)

Os jovens: dedicar tempo aos mais necessitados

Em seguida, o Pontífice trouxe o exemplo dos jovens: eles também podem semear o Evangelho nos sulcos da cotidianidade. Por exemplo, com a oração: é uma pequena semente que não se vê, mas com a qual se confia tudo o que se vive a Jesus, e assim Ele pode fazê-la amadurecer. Mas também penso no tempo para dedicar aos outros, aos mais necessitados: pode parecer perdido, ao invés, é um tempo sagrado, enquanto as aparentes satisfações do consumismo e do hedonismo deixam de mãos vazias. E penso no estudo, que é cansativo e não satisfaz imediatamente, como a semeadura, mas é essencial para construir um futuro melhor para todos.

Padres e leigos: pregar a Palavra, mesmo sem êxito imediato

Por fim, trouxe o exemplo dos semadores do Evangelho,  muitos bons sacerdotes, religiosos e leigos engajados na proclamação, que vivem e pregam a Palavra de Deus, muitas vezes sem sucesso imediato.

Nunca nos esqueçamos, quando proclamamos a Palavra, que mesmo onde nada parece estar acontecendo, na realidade o Espírito Santo está trabalhando e o reino de Deus já está crescendo, por meio e além de nossos esforços. Portanto, avante com alegria! Lembremo-nos das pessoas que plantaram a semente da Palavra de Deus em nossa vida: ela pode ter brotado anos depois de termos encontrado seus exemplos, mas isso aconteceu graças a elas!

Como Jesus, semear sempre

Francisco concluiu lançando mais uma interrogação, pedindo a cada um que respondesse a si mesmo. Eu semeio o bem? Preocupo-me apenas em colher para mim mesmo ou também semeio para os outros? Lanço algumas sementes do Evangelho em minha vida cotidiana: estudo, trabalho, tempo livre? Fico desanimado ou, como Jesus, continuo a semear, mesmo que não veja resultados imediatos?

O Papa lembrou que este 16 de julho veneramos Maria sob o título de Nossa Senhora do Carmo, pedindo a ela que nos ajude a sermos semeadores generosos e alegres da Boa Nova.

Fiéis e peregrinos na Praça São Pedro durante o Angelus (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

SÃO CARLOS BORROMEU: A casa construída sobre a rocha (3/4)

O milagre de Carlino Nava, Giulio Cesare Procaccini, Catedral de Milão (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 07/08 - 2011

SÃO CARLOS BORROMEU:
A casa construída sobre a rocha

“Tudo o que São Carlos fez e realizou, o edificou sobre a rocha indestrutível que é Cristo, na plena coerência e fidelidade ao Evangelho, no amor incondicionado pela Igreja do Senhor”. O discurso do arcebispo emérito de Milão no Meeting de Rímini

pelo Cardeal Dionigi Tettamanzi

A inatualidade profética e benéfica para o nosso tempo

Nessa linha, tomando-os da biografia de São Carlos, apresento três exemplos, procurando aplicar-lhes aos nossos tempos “atuais”.

O primeiro refere-se à fidelidade ao dever do próprio estado de vida como forma própria da identidade do cristão. Borromeu teve a consciência muito viva do que poderia significar ser bispo de uma importante diocese em tempos difíceis de transição, de reforma e de mudança: e justamente por isso procurou sempre adequar as suas escolhas e as suas ações a uma verdadeira “deontologia”, à qual permaneceu fiel de maneira heroica e diante da qual soube sacrificar todo o resto.

São Carlos solicitava este sentido de dever também aos seus padres, pelos ofícios que estes deveriam cumprir; e o solicitava aos fiéis leigos, homens e mulheres, segundo a sua condição. Era o primeiro que não aceitava os meios-termos e os acomodamentos, com um fácil rebaixamento em nome de uma pálida mediocridade.

Os historiadores nos recordam que quando era jovem cardeal em Roma, antes da sua chamada “conversão”, tinha vivido um “cristianismo sem infâmias e sem louvores”. Este é justamente o risco que todos nós cristãos corremos, os próprios padres e bispos: contentar-se de uma vida cristã insípida, na qual evita-se justamente o mal “macroscópico” (que poderia causar-nos infâmias), mas que se reduz ao mínimo indispensável para colocar em ordem a própria consciência, sem muitos abalos.

Hoje, quando todos nós sentimo-nos já prontos e não queremos saber de muitos desassossegos, falar de “conversão” poderia, justamente, parecer “inatual”, ou pelo menos inoportuno. Ao contrário o exemplo de São Carlos é atualíssimo e particularmente urgente, porque sempre na Igreja os cristãos, todos os cristãos, de todos os níveis, são chamados a “converterem-se” de um cristianismo “sem infâmia e sem louvores”, de um cristianismo incolor e insípido (ou seja, sem a luz e o sal do Evangelho), a uma vida cristã convicta, lúcida e vigilante, no exercício fiel do próprio dever sempre e em todos os lugares, à busca de um caminho de perfeição que nos conforma sempre mais ao modelo de toda a perfeição: Cristo Jesus, nosso Senhor. É exatamente o que São Carlos fez de modo programático e sistemático: o seu exemplo não nos permite desculpas ou diversivos. Ele é realmente sempre atual, porque chama os cristãos de todos os tempos, chama também a nós cristãos do terceiro milênio à perene e irrenunciável necessidade de nos colocarmos em discussão. Particularmente devo dizer que da leitura dos escritos de São Carlos e das suas indicações pastorais tive bem clara a impressão de que ele vivesse com uma grande inquietude a distância – que por outro lado sempre existe – entre a meta altíssima à qual o Senhor nos chama (a santidade) e a nossa concreta resposta. Se São Carlos sentia-se em falta – e disso nascia a sua inquietude, o seu não sentir-se com a consciência tranquila –, o que nós podemos dizer ou fazer? Então surge uma pergunta à qual não podemos nos subtrair: onde, em quais âmbitos da nossa vida, do nosso dever de estado, devemos ainda “converter-nos”, imitando São Carlos, para sair de uma vida cristã medíocre, “sem infâmia e sem louvores”?

Carlos Borromeu é atual também por um outro aspecto: a formidável capacidade de saber conjugar de modo equilibrado a ação e a contemplação. Todos conhecemos as muitas imagens de São Carlos absorvido na oração, principalmente diante do Crucifixo, imerso em verdadeiras e próprias experiências místicas. Mas a forte dimensão contemplativa que ele sempre soube incutir à própria vida jamais afastou-o do próprio dever de pastor de almas. Ao contrário, podemos afirmar que ele tornou-se um dos grandes modelos de bispo e de pastor justamente porque a sua atividade pastoral era profundamente permeada de oração e de contemplação. São Carlos “fez” muito na sua vida, foram inúmeras as obras que levou a termo; aliás perguntamo-nos maravilhados como fazia para encontrar tempo e forças para fazer tudo o que fez. Vem-nos espontâneo dizer que tudo o que fez tem algo milagroso: é isso mesmo! Realmente há algo milagroso porque tudo era pleno de oração, de conversa com Deus, permeado de contemplação amorosa dos mistérios da salvação de Cristo, começando pela Sua paixão, morte e ressurreição. Essa é a mensagem sempre atual que nos vem de São Carlos: a comunhão com Deus, a oração, a contemplação não nos arrancam da história, mas nela nos imergem em profundidade, dando-nos a força de fazer também milagres no mundo e para o mundo. No entanto o nosso é um tempo adoecido pelo ativismo, frenético em fazer, comprometido em produzir bens e serviços se não se quer desperdiçá-lo. Desse modo o nosso tempo acaba por avaliar a pessoa não pelo que é mas pelo que produz. Em semelhante contexto, não se deve talvez falar de contemplação, de meditação, de oração e de silêncio, como o que de mais “inatual” o nosso tempo poderia experimentar? Porém a verdade é exatamente o contrário. São Carlos apela para que não nos deixemos enganar por essa espécie de droga, mas para que reportemos ordem na nossa vida, recuperando o primado de Deus sobretudo, na certeza de que o resto virá como consequência. É a mesma advertência do Senhor: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 33).

São Carlos visita e cuida dos pestilentos, Giovanni Battista Crespi, chamado o Cerano, Catedral de Milão. No hino da liturgia em honra de São Carlos, Urbis parentem Carolum, fala-se da caridade materna do bispo ao se dedicar aos doentes de peste: «Dum saevit annus letifer, ut mater aegris assidet / Enquanto infúria o ano da peste, como uma mãe cuida dos doentes» (30Giorni)

E se há um aspecto de atividade pastoral de São Carlos que mais do que outro impressionou os seus contemporâneos a ponto de que justamente por isso começaram a considerá-lo excepcional, foi a sua atividade caritativa. Principalmente durante a terrível peste de 1576 ele privou-se literalmente de tudo, dos bens de família, dos bens pessoais, não apenas das coisas supérfluas, mas mesmo das coisas indispensáveis desde que pudesse ajudar o povo de Milão atingido pela epidemia. E não se prodigou apenas nos momentos de emergência, fez com que algumas instituições caritativas se mantivessem além do da emergência da peste, consciente de que a pobreza, a necessidade, a marginalização, a degradação social e moral são uma emergência de sempre, de todos os momentos. De fato, em todos os momentos São Carlos brilhou como paterno socorredor dos pobres, de cada pobre, de qualquer um que estendesse a mão para pedir-lhe ajuda. E foi também – para usar uma terminologia da nossa cultura atual – um “santo social”: soube ler à luz do Evangelho os problemas sociais do seu tempo, indicou algumas soluções concretas, não teve nenhum medo de denunciar as pragas da sociedade, como a corrupção pública, a prática da usura, os privilégios de algumas castas, a falta do que hoje chamaríamos “consciência cívica” ou “atenção ao bem comum”.

Mas há ainda um outro aspecto da santidade de Borromeu que merece ser evidenciado: é a dimensão ascética da sua vida. Neste ponto ele foi muito rigoroso, a ponto de causar fortes críticas e mal-entendidos entre os que viviam ao seu lado. Foi pobre, casto, humilde, penitente, praticava com grande seriedade o jejum, prolongava a oração nas horas noturnas para não diminuir o tempo diurno dos compromissos pastorais, reduzia seu repouso ao mínimo, aliás tinha a tendência de não repousar por nada. Sabemos que os médicos sempre o repreendiam por não cuidar-se suficientemente, e ele, como resposta, dizia que, se alguém obedece aos médicos, não pode ser um bom bispo! A morte chegou quando tinha apenas 46 anos, selou uma vida que se tinha consumido literalmente nas práticas ascéticas. Esse é um aspecto que nos deixa maravilhados, como ficaram seus contemporâneos que justamente perguntavam-se se São Carlos fosse imitável nestas virtudes devido a seu caráter de heroicidade. E hoje também nós nos perguntamos, porém sem cair na insídia de julgar excessivo o exercício das virtudes ascéticas assim como as viveu São Carlos, ou seja, julgá-lo “inatual” segundo os parâmetros da nossa sensibilidade atual. Semelhante juízo não poderia ser um modo tranquilizante de autoeximir-se da tarefa de imitá-lo? É-nos solicitando, antes de mais nada, a honestidade de descobrir nisso um aspecto de grande atualidade: com efeito, falar hoje de “ascese”, de “penitência”, de “renúncia”, expõe-nos ao risco de sermos zombados e julgados pessoas fora do tempo e do mundo, justamente pertencentes a um mundo de muitos séculos atrás. E no entanto, exatamente nós temos necessidade de uma chamada intensa para purificar o nosso estilo de vida e torná-lo mais sóbrio, a redescobrir o autocontrole e o domínio dos sentidos, dos instintos e das paixões incontroladas: como caminho de uma liberdade interior que nos torna donos de nós mesmos e do nosso autêntico caminho para o verdadeiro, o bem, o justo e o belo.

Fonte: http://www.30giorni.it/

A importância da comissão dos novos mártires pelo testemunho a Jesus, através da caridade

Imagem de Jesus na igreja em Negombo, Sri Lanla, após atentado na Páscoa de 2019 (Vatican Media)

"Os mártires foram testemunhas de Cristo nas horas difíceis, sobretudo na hora de suas mortes, porque eles doaram as suas vidas por Jesus e pelo Reino. Os mártires dos primeiros séculos estão em comunhão com os mártires da atualidade, porque estavam unidos ao Senhor e à Igreja. A Comissão dos mártires na atualidade instituída por Papa Francisco alude aos mártires que viveram na radicalidade o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo."

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

Em vista do Jubileu de 2025, o ano santo com o lema: “Peregrinos de Esperança”, o Papa Francisco instituiu a Comissão dos Novos Mártires, testemunhas da fé no Dicastério para as causas dos santos com o objetivo de elaborar um catálogo para todas as pessoas que derramaram o seu sangue para confessar Cristo Jesus e deram o seu testemunho pelo evangelho, nas quais aquelas pessoas não podem ser esquecidas, disse o Papa Francisco[1]

É importante fazer uma análise a respeito do martírio na Igreja antiga, e o martírio na Igreja atual. Na Igreja primitiva, os mártires foram as testemunhas prediletas do Senhor, pois eles e elas doaram as suas vidas pelo Reino de Deus, pela Igreja. Muitos homens e mulheres passaram pelos sofrimentos, pelas dores, pelas cruzes, mas não desanimaram diante da alegria interior da fidelidade para com o Senhor. Eles enfrentaram as autoridades, as prisões, os animais ferozes, as calúnias por serem cristãos, e a morte violenta porque amaram a Jesus e ao seu povo. Nos primeiros tempos do cristianismo, como era proibida a religião cristã, os mártires tiveram presentes à fidelidade, a alegria de dar a vida pelo Senhor, o amor a Ele. O martírio na realidade atual continua ainda pelo testemunho a Jesus, mas as circunstâncias são diferentes no sentido de pessoas que lutaram pela fidelidade ao cristianismo, a Jesus, como a luta pela terra, pela vida dos pobres, dos necessitados, por uma causa do evangelho, que se tornou a causa do Senhor.

O significado do martírio

Martírio vem do grego mártyr ou martyrion cujo significado é testemunho, isto é, a pessoa que vê o fato e diz a sua opinião. Na literatura cristã, tratou-se daquele ou daquela que deu testemunho de Jesus, ao derramar o seu sangue pela própria fé e deu a sua vida pelo Reino de Deus[2].

O martírio era o testemunho diante do público, no presente, para o Senhor, em vista da escatologia, o mundo futuro, pela ressurreição da carne. Nesse sentido, o próprio Cristo disse aos discípulos: “Devo ser batizado com um batismo, e como estou ansioso até que isso se cumpra”(Lc 12,50). O Messias passou pelo sofrimento por parte das autoridades, morreu e ressuscitou no terceiro dia ( Mt 16,21). Ou mesmo na cruz ele disse ao bom ladrão arrependido: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”(Lc 23,43). No relato do martírio de Estêvão, este viu o céu aberto e a presença de Jesus à direita de Deus ( At 7,56). Havia uma grande multidão, todos com a palma na mão, fazendo a adoração a Deus e ao Cordeiro ( Ap 7, 9-17). Nos Padres da Igreja apareceu o dado da união com o Senhor, sobretudo em Inácio de Antioquia: “Não desejeis nada para mim, senão ser oferecido em libação a Deus, enquanto ainda existe altar preparado, a fim de que, reunidos em coro no amor, canteis ao Pai, por meio de Jesus Cristo”[3]. O mártir era aquele que seguia o mundo presente, mas ele possuía os olhos voltados para o futuro, a vida de Deus, a união com o Senhor pela qual eles davam as suas próprias vidas[4].

A graça do martírio

O martírio não era fruto de uma decisão humana, mas o supremo testemunho de amor na qual o fiel confirmava a sua opção por Deus e por Cristo. O fiel imitava a paixão do Mestre divino que requeria uma perfeita comunhão de sentimentos e de vontade. Mas foi sobretudo obra da graça divina que em seu desígnio imperscrutável chamou alguns a render a testemunha suprema e adiar alguns outros, pois ainda não chegou a sua hora. O discípulo devia ser disponível, a hora que o Senhor o chamasse a dar a sua vida, não podendo nem menos provocar a prova. As palavras de Cipriano refletiram o pensamento da Igreja antiga que dizia para ninguém dos fiéis apresentarem-se espontaneamente aos gentios: “Se alguma pessoa fosse presa e dada aos magistrados deveria falar, porque Deus presente na pessoa, falaria naquela hora. O Senhor prefere mais segundo o bispo de Cartago, a confissão pública que a autodenúncia"[5].

A essência do martírio

A natureza do martírio referiu-se ao conjunto das coisas, que, no caso desse ideal, alcançasse o seguimento a Jesus Cristo na sua radicalidade. Os mártires enfrentavam as forças do mal, com a graça de Deus que agia neles, para se unir aos sofrimentos do Senhor. Por isso, o martírio foi em certo sentido, a bebida do cálice que Jesus bebeu, fazendo a vontade de Deus ( Mt 20,22). Este é o cálice da salvação e quem o toma invocará o nome do Senhor para se unir a ele ( Rm 10,13)[6]. O martírio manifestava uma atitude pública. Se a pessoa proferiria uma confissão de fé, a ação da graça divina agia nela. Se Deus chamava, ele dava a ajuda necessária para que a prova alcançasse o seu fim[7].

O martírio, um segundo batismo

O martírio era visto um batismo verdadeiro, porque a pessoa derramava o seu sangue pela causa do Reino de Deus e do seguimento a Jesus Cristo. Segundo Tertuliano, esse era um segundo batismo, pelo derramamento de sangue, inspirado nas palavras de Jesus: “Devo ser batizado com um batismo, e como estou ansioso até que isso se cumpra”(Lc 12,50), ainda que tivesse sido batizado. “Esse é único, batismo de sangue. Se o Senhor veio, segundo João, na água e no sangue, para, dessa forma, batizar-se na água, para ser glorificado no sangue[8].

O Sangue dos mártires

Tertuliano disse que o sangue dos mártires é semente de novos cristãos[9]. O fato era que o martírio impulsionava um engajamento de vida das pessoas em unidade com o Senhor Jesus até a sua morte. A pessoa que sofria o martírio era de comunidade, que participava da mesma, vivia a sua fé, esperança e caridade na família, na comunidade e no mundo. O sangue dos mártires era semente para o surgimento de novas pessoas para o seguimento a Jesus Cristo e à sua Igreja.

O mártir dos mártires aos de ontem e de hoje

O mártir dos mártires é Jesus Cristo. Ele doou tudo de si para a nossa salvação. Os mártires da Igreja antiga, como também os mártires do mundo atual, nestas últimas décadas, tiveram como modelo de vida, Jesus Cristo. Eles lutaram até o fim por este ideal para ser meditado, amado, vivido. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a própria vida por seus amigos” (Jo 15,13). Jesus fez isso, assumindo a sua palavra dita tornando-se para todos os mártires modelo de vida, de dar a sua vida pela causa de Jesus e de seu Reino.

O martírio nestas últimas décadas

São muitas as pessoas que nos tempos atuais deram as suas vidas pela causa do Reino de Deus e de Jesus. Eles assumiram a caridade de uma forma total. Eles confessaram a sua fé, a sua esperança e praticaram obras caritativas para o louvor de Jesus Cristo e de sua Igreja. Muitas pessoas, leigos, leigas, lideranças comunitárias e sociais, religiosos, religiosas, padres, bispos, derramaram o seu sangue por Jesus Cristo e à sua Igreja. Foram mortos de uma forma violenta, custando-lhes a vida. Muitas pessoas estão ligadas à luta pela terra, às causas dos povos indígenas, dos povos do campo e da cidade, das florestas, dando um grande testemunho de vida pela causa do Reino de Deus e de Jesus Cristo. O fascínio ao martírio é ainda grande no mundo atual, porque ele tem como ponto fundamental dar a vida por Cristo Jesus. É amá-lo nos irmãos e nas irmãs até o fim de suas vidas, até o derramamento do sangue.

Os mártires foram testemunhas de Cristo nas horas difíceis, sobretudo na hora de suas mortes, porque eles doaram as suas vidas por Jesus e pelo Reino. Os mártires dos primeiros séculos estão em comunhão com os mártires da atualidade, porque estavam unidos ao Senhor e à Igreja. A Comissão dos mártires na atualidade instituída por Papa Francisco alude aos mártires que viveram na radicalidade o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.

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[1] Cfr. https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2023-07O Papa institui a Comissão dos Novos Mártires, testemunhas da fé.

[2] Cfr. V. Saxer, S. Heid. Martírio. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane. Genova-Milano: Marietti, 2007, p. 3076.

[3] Cfr. Inácio aos Romanos, 2,2. In: Padres Apostólicos. São Paulo: Paulus, 1995, p. 104.

[4] Cfr. Dom Vital Corbellini, O Martírio na Igreja Antiga. Brasília: Edições CNBB, 2019, p. 09.

[5] Ep81,4. In: Opere di San Cipriano, a cura di G. Toso. Torino: Unione Tipografico-Editrice Torinense, 1980.

[6] Cf. Origene. Esortazione al martirio,. Roma: Pontificia Università Urbaniana, 1985, p, 29.

[7] Cf. C. Noce. Il martiriotestimonianza e spiritualità nei primi secoli. Roma: Studium, 1987, p. 37.

[8] Cf. Tertulliano. De Bapt. 16,1. In Battesimo e Battisteri a cura di R. Iorio.  Bologna: Dehoniane, 1993, p. 98-99. Ver também O sacramento do batismo nas fontes cristãsTeologia e pastoral do batismo segundo Tertuliano. Introdução, Tradução dos originais e Comentários de U. Zilles. Porto Alegre: Est/Vozes, 1975, p.49-50.

[9] Cfr. Tertuliano. Apologético, 50,13. São Paulo: Paulus, 2021, p. 189.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF