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sábado, 19 de agosto de 2023

"Homem morno"

Crédito: diariodamanhapelotas

“HOMEM MORNO”

Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo de Pelotas (RS)

O autor do livro bíblico do Apocalipse descreve a Comunidade de Laodiceia como “morna”. O “morno” nos tempos atuais não descreve também o estilo de homem gerado pela pós-modernidade convencional? O “homem morno” é o “homem relativo” ou “homem light” da pós-modernidade. O que recolhemos do estilo do “homem-morno”? 

Primeiramente temos o “eu fraco”. Num português popular, um homem “frouxo”. Ele sente como um fardo imenso a vida e as crises que ela comporta. Incapaz de manter a fidelidade às relações humanas, tanto afetivas como profissionais, rompe com eles ao primeiro embate. Suas forças falecem quando tem que enfrentar a “realidade”, quer esta tome a figura de angústia existencial, quer da presença do outro como outro, quer simplesmente das obrigações sociais e mesmo do trabalho. Perante a “dureza da vida” responde frequentemente com o drible, ou com a remoção, ou ainda com a fuga, para a qual não hesitará em recorrer às drogas, às orgias e, em situações mais extremas, ao suicídio. 

Segue como fruto do homem morno a “dissolução dos laços afetivos”. É a relação humana toda que se esgarça hoje por efeito do relativismo pós-moderno. Mas é na família, de modo todo particular, que se cristalizam os efeitos niilistas do mesmo relativismo. Em primeiro lugar, as relações conjugais se tornam, em todos os sentidos, cada vez mais “informais”, para não dizer inconsistentes. Depois, os pais não se assumem mais como tais, ou seja, como educadores, guias, em suma, como mediadores de sentido. Deixaram de ser figuras de sabedoria, de lei e de ordem. Daí falar se, como muitos analistas já falam, da sociedade atual como “sociedade sem pai e mãe”. 

Em terceiro lugar a pós-modernidade gera uma “vida tediosa”. Em vez da desejada plenitude, temos agora a platitude. E é lógico: sem mais contracenar com o céu, a terra tornou-se plana, chata, em suma, um deserto. Sem o sal da religião, a existência torna-se insípida. Sem a graça divina, o mundo perdeu a graça, quando não é desgraçado. Sem a poesia da fé, tudo é prosa: banal, trivial, insignificante, justamente prosaico. Sem objetivo maior, a rotina cotidiana desgasta o ânimo e o esgota. Enfim, sem Deus, a vida vira uma imensa bocejeira. De fato, o atual taedium vitae é resultado final da vontade de expulsar o Mistério que envolve e penetra o mundo. 

Por fim temos um verdadeiro “amesquinhamento geral”. Tendo renunciado a medida do Absoluto, o pós-moderno torna tudo pequeno, mofino. O que pode ainda merecer o nosso amor e nossa esperança? No pós-moderno, a existência é sem cimos, mas também sem abismos. A vida é vidinha à toa. O estilo de vida pequeno-burguês, outrora desprezado, tornou-se um ideal cultural. Mas é sobretudo na esfera da mídia que isso aparece mais claramente. Os espaços de comunicação praticamente tornaram-se os novos santuários da deusa “Frivolidade”, que os antigos davam por irmã da “leviandade” e por mãe da “Inconsistência”. A virtualização da vida pode tornar a palavra meramente líquida e mesmo vaporosa, sobrando pouco espaço para a palavra grave, como são a “palavra de honra” e a “palavra de sabedoria”. A tendência da mídia vai no caminho do banalizar tudo. As realidades graves, como a ética, a moral e a religião, são tratadas com igual leviandade. “O tom do mundo consiste em falar de bagatelas como se fossem coisas sérias e de coisas sérias como se fossem bagatelas”, já sentenciou Montesquieu. Há frivolização mais fatal que a dos valores sagrados? 

Há uma tarefa urgente a ser cumprida: o “eu fraco”, a “dissolução dos laços afetivos”, a vida tediosa” e o “amesquinhamento de tudo” precisam ser confrontados. Não podemos deixar o “homem morno” substituir o “homem ardoroso” criado à imagem e semelhança de Deus!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A Teologia do abraço

AP

Por A12

Você sabe qual é o significado do abraço no contexto bíblico?

Já parou para pensar que dificilmente uma pessoa te abraça? Há quem se contente com um “tudo bem?”, outros com um “oi” e não passa disso. Já pensou se com todas as pessoas que encontrássemos tivéssemos a bondade de cumprimentá-la com um abraço ou, se preferir, um amasso?

No contexto bíblico, o abraço significa misericórdia. Vale recordar aqui o abraço do Pai no filho pródigo. As mazelas, as decepções, os pecados, a arrogância, a precariedade, a soberba, se dissolveran no abraço do Pai misericordioso.

Não tenho dúvida de que aquele sujeito sem nome (pode ser eu ou você) que pegou a parte da herança e partiu para o mundo contemplou a verdade interpretada por Martha Medeiros: “Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve”. O abraço esmagante do Pai devolveu ao filho desgraçado o dom da vida, da eternidade.

abraço, segundo alguns especialistas, faz bem para a saúde psíquica e física. Ele tem o poder de aumentar os níveis de uma substância chamada oxitocina, que tem a particularidade de reduzir os estados de stress e ansiedade, aumentando a felicidade e o bem estar das pessoas. Pessoas com um nível elevado de oxitocina têm a probabilidade de desenvolverem um comportamento maior de ligação entre as pessoas. Você sabia disto?

Mário Quintana faz questão de aludir o abraço a um laço. Diz ele: “Meu Deus! Como é engraçado! Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço… uma fita dando voltas. Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço”.

Penso que, nos tempos hodiernos, nossos casais precisam se abraçar. Precisam encostar um coração no outro (Rita Apoena). Já imaginou acalmar os corações atribulados por uma discussão, encostando um coração no outro? Corações atribulados se entendem e se acalmam no compasso da vida, que se renova dentro de um abraço.

Certa vez, havia um casal de idade mediana nas dependências de uma Praça. Eles viram quando ali estava uma menina, baixinha, com cabelos de fios dourados, muito pacífica. Passavam-se minutos e minutos, e ela ali persistia. Quando menos esperavam, salta de um ônibus um menino com trajes de viajante, mochilas nas costas, e apressadamente se direciona até a menina. Em fração de segundos, um atracou o outro num abraço, e os dois ficaram por um bom tempo sem trocar palavras. Certamente fazia muito tempo que o casal de namorados não se encontrava.

O normal seria que eles trocassem belas saudações, nobres palavras, ricas frases. Mas eles optaram pelo abraço. Pois o abraço permitia que eles se sentissem. Quando vemos uma sociedade (famílias, grupos, religiões) machucada, triste, sem rumo, sem esperança, nós podemos dizer que estamos vendo (e vivenciando) uma sociedade que perdeu a capacidade de se sentir. O poeta português Fernando Pessoa já dizia: “quem sente muito, cala; quem quer dizer quanto sente, fica sem alma nem fala, fica só, inteiramente”!

Já Drummond se atreve dizer que “se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis”.

Traduzindo: amar não é teoria, é sentir.  Abraçar é amar. Abraçar é discursar sem palavras. Abraçar é poder entrar no outro sem pisar no seu terreno. Abraçar é ser mais gente. Abraçar é uma forma de teologar… pois até Deus quis morar no abraço!

Por Vinícius Figueira e Fernanda Venturim Vantil, via A12

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Dimas, o 'bom ladrão' que virou o primeiro santo do cristianismo

A fuga para o Egito, em pintura de Fra Angélico, século 15 – Foto: Wikicommons/Via BBC

Saber quem de fato foi Dimas e se ele existiu mesmo envolve cruzar informações de duas fontes: de um lado, os textos apócrifos que falam um pouco sobre ele — considerando, é claro, que neles é difícil saber onde acabam os fatos e começam os mitos; de outro, o que se sabe sobre a prática da crucificação na Roma antiga.

Por BBC

17/08/2023

Nominalmente, ele não é citado em nenhum dos quatro evangelhos canônicos — Mateus, Marcos, Lucas e João, os que constam da Bíblia.

Mas na passagem que descreve a morte de Jesus, os quatro evangelistas mencionam que, naquele dia, três pessoas foram crucificadas lado a lado.

João é o mais lacônico sobre isso. Ao nominar o local da execução, o lugar chamado Gólgota, ele afirma que "foi lá que eles o crucificaram juntamente com dois outros, um de cada lado e Jesus no meio". E nada é dito sobre os outros dois.

Mateus e Marcos são praticamente idênticos nessa passagem. Afirmam que Jesus foi crucificado com "dois bandidos, um à direita, outro à esquerda".

Em ambos, o trecho prossegue citando que o povo e as autoridades passaram a insultar Jesus. E termina ressaltando que “até os bandidos crucificados com ele o injuriavam da mesma forma”.

O evangelho de Lucas é o que traz a descrição mais curiosa sobre a interação que Jesus teria tido com os outros dois condenados.

Após enfatizar que o protagonista da história havia sido crucificado no centro, entre "dois malfeitores", o evangelista também cita as zombarias da população e até de soldados.

Mas prossegue a narração incluindo os outros dois crucificados.

"Um dos malfeitores crucificados o insultava: 'Não és tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também!' Mas o outro o repreendeu, dizendo: 'Tu nem sequer tens o temor de Deus, tu que sofres a mesma pena! Para nós, é justo: nós recebemos o que os nossos atos mereceram; mas ele não fez nada de mal'", diz o trecho.

"E dizia: 'Jesus, lembra-te de mim quando vieres como rei'. Jesus lhe respondeu: 'Em verdade eu te digo, hoje estarás comigo no paraíso'", complementa a passagem do evangelho de João.

Para a tradição cristã, este criminoso acabou sendo classificado como "o bom ladrão".

E tanto a tradição como pesquisas em alguns evangelhos apócrifos chegaram ao nome de Dimas como sendo a identidade deste cidadão.

O Martirológio Romano, o catálogo dos santos considerados oficiais pelo Vaticano, registra-o como o "santo ladrão, chamado Dimas, segundo a tradição". E o define como aquele "que na cruz professou a fé em Cristo e mereceu ouvir dele estas palavras: 'Hoje estarás comigo no paraíso'".

Canonizado pelo próprio Jesus

"A tradição o faz padroeiro dos prisioneiros, condenados e ladrões arrependidos", conta à BBC News Brasil o pesquisador José Luís Lira, fundador da Academia Brasileira de Hagiologia e professor na Universidade Estadual Vale do Acaraú, no Ceará.

Para religiosos e estudiosos de hagiologias, ele foi o primeiro santo da história.

"É interessante comparar um processo de canonização com a sagração de São Dimas", comenta o pesquisador Thiago Maerki, associado da Hagiography Society, dos Estados Unidos.

"Porque ele foi declarado santo pelo próprio Cristo, foi Cristo quem o canonizou. Seguindo essa linha eclesiológica, embora não tenha sido uma canonização nos moldes convencionais, sua sagração seria de causar inveja a qualquer santo, a qualquer cristão", acrescenta ele.

"Mesmo sendo a inveja um sentimento não aceitável para um cristão, estou falando só de brincadeira. Mas ser declarado pelo próprio Jesus é uma coisa única. E São Dimas recebeu isso."

Lira concorda que "a pessoa representada no nome de Dimas" deve ser considerada o primeiro santo da história.

"É o bom ladrão. Uma das testemunhas do sacrifício maior de Jesus, a crucificação", diz.

"Ele pediu a Jesus que se lembrasse dele quando estivesse no paraíso e Jesus confirmou que ainda naquele dia ele estaria 'comigo no paraíso'. Podemos dizer que o próprio Cristo o canonizou, o elegeu, levando-o consigo ao seu reino."

Saber quem de fato foi Dimas e se ele existiu mesmo envolve cruzar informações de duas fontes: de um lado, os textos apócrifos que falam um pouco sobre ele — considerando, é claro, que neles é difícil saber onde acabam os fatos e começam os mitos; de outro, o que se sabe sobre a prática da crucificação na Roma antiga.

Nos apócrifo

"Os evangelhos canônicos não registram seu nome. Somente a tradição e os apócrifos e, a partir dos apócrifos tem muitas histórias sobre ele, mas carecem de comprovação", ressalva Lira.

"Ele não foi discípulo nem apóstolo de Jesus, contudo, na hora áurea em que Jesus disse 'tudo está consumado', ele estava ali bem próximo e, ao contrário do outro crucificado que pedia a Jesus para livrar-lhe da morte, ele pediu a salvação, diríamos, a melhor parte, no que foi atendido pelo próprio Deus filho, de imediato."

Considerando os quatro evangelhos canônicos, é curioso o fato de que a menção aos dois ladrões não é equivalente.

"Em Marcos e em Mateus, dois criminosos foram crucificados com Jesus e ambos o ultrajaram e o insultaram. Diferentemente daquilo narrado em Lucas, em que um deles [o que seria Dimas] o defendeu", compara Maerki.

"Já João fala sobre duas pessoas que foram crucificadas com Jesus, mas não faz qualquer menção aos insultos."

O mais antigo registro de que se tem conhecimento do nome do bom ladrão remonta ao século IV. Está no Evangelho de Nicodemos. Ali são apresentados Dimas e também o mau ladrão, Gestas.

"Na verdade, nesse texto ele é chamado de Disma", atenta Maerki, ressaltando que outras tradições cristãs conferem a ele outros nomes, como Demas, para os coptas, e Rakh, para os ortodoxos russos.

Nesse evangelho, há inclusive menções aos crimes cometidos por ele.

"Diz-se que ele era originário da Galileia e que lá era dono de uma pousada", complementa o pesquisador.

"Ele atacava os ricos, mas se preocupava com os pobres, favorecia os pobres, seria uma espécie de Robin Hood cristão."

"No chamado Evangelho Árabe da Infância de Jesus ele é Tito e o outro ladrão, Dímaco", conta Maerki, citando o texto apócrifo do século 6.

Neste documento, aliás, está a mais curiosa narrativa incluindo os dois companheiros de execução de Jesus.

"Ele [o evangelho] diz que Tito e Dímaco, juntamente a outros ladrões do seu bando, teriam tentado roubar Maria e José [os pais de Jesus], durante a fuga para o Egito [episódio ocorrido logo após que Jesus nasceu, segundo o evangelho de Mateus], mas Tito impediu que isso acontecesse, o que configuraria um prenúncio de que ele era um homem que se tornaria santo", conta o pesquisador.

Segundo a narrativa, o então bebê Jesus teria visto os bandidos e profetizado que, 30 anos mais tarde, os três morreriam juntos, condenados à execução na cruz.

Maerki enfatiza que, conforme esse texto, Jesus teria dito que Tito o "precederia no paraíso".

"Isso é muito interessante", comenta ele.

Crucificação

É preciso lembrar, contudo, que a crucificação de Jesus, seja ao lado de outros dois considerados criminosos, seja em outra configuração, não foi uma exceção. Era o modus operandi condenatório da Roma antiga.

"Crucificar alguém era uma decisão do Estado", frisa à BBC News Brasil o historiador André Leonardo Chevitarese, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor de, entre outros livros, Jesus de Nazaré: o que a história tem a dizer sobre ele.

Este ponto é importante porque, segundo o pesquisador, promove uma leitura que aceita a ideia de que Jesus tenha sido executado na companhia de outros dois.

"A prática das crucificações culminou com a execução de 6 mil escravos ao longo da Via Ápia. A média de crucificações na guerra judaico-romana era de 500 pessoas por dia. Então, a ideia de três indivíduos crucificados simultaneamente não é estranha, fazia parte da rotina", pondera.

O pesquisador diz que, partindo dos relatos tanto dos evangelhos canônicos quanto dos apócrifos, é possível entender que aqueles três condenados, inclusive Jesus, eram na verdade "bons ladrões".

"Todos foram crucificados sob o argumento de que eram 'bandidos sociais', ou seja, ao estilo de Lampião e de tantos outros."

Para Chevitarese, se há um problema histórico na menção aos outros dois condenados, isto não reside no fato de haver ou não crucificações coletivas.

Mas sim no ponto de que a menção ao número de três condenados só aparece em narrativas da segunda metade do século I, ou seja, muito após a morte de Jesus.

"Paulo [cujas cartas são os textos mais antigos, cronologicamente, do Novo Testamento], que escreveu nos anos 50 [do primeiro século], não faz menção a dois outros indivíduos crucificados com Jesus. Ele apenas diz que Jesus havia sido crucificado", salienta o historiador.

Um trio na cruz

"Não estou dizendo que historicamente aquele fato se deu ou não, mas estou dizendo que historicamente o Estado romano podia, sim, crucificar, um indivíduo, três indivíduos, cinco ou dez ou 6 mil", comenta.

Mas quando o olhar se detém minuciosamente nos textos sagrados há discrepâncias e incongruências que botam em xeque a própria existência de São Dimas. "É quando [a autoridade] Pilatos argumenta que faz parte da tradição romana libertar um prisioneiro durante o dia de festa, à época de festa", atenta Chevitarese, ressaltando que tal "costume" não encontra endosso em outros documentos antigos.

Na sequência dessa narrativa, são apresentados à multidão Jesus e outro condenado, Barrabás, para que o escrutínio popular escolhesse qual dos dois deveria ser executado e qual ganharia a absolvição. "Este é ponto de partida", diz Chevitarese.

"Atente para o fato de que só dois foram chamados para essa escolha, os outros dois [supostamente mortos ao lado de Jesus] não foram chamados. Há, portanto, uma incongruência."

A figura de Barrabás, o bandido libertado depois da a popular, é ainda mais difícil de ser confirmada.

"Nunca encontramos qualquer vestígio ou indício de que era da tradição romana libertar um prisioneiro em época de festa, em qualquer província romana", salienta.

"Se existiam quatro prisioneiros, Jesus, Barrabás, Dimas e o outro bandido social, por que eles todos não foram perfilados um ao lado do outro, de modo que o povo pudesse escolher?", questiona o pesquisador.

"Talvez porque nunca tenha existido de fato essa cena. Um crucificado indo parar diante de alguém como Pilatos, uma autoridade como Pilatos perdendo tempo com esses caras… Isso é pura ficção."

Para Chevitarese, essa passagem "não tem nada de história", mas sim é "um discurso antissemita, o momento em que se constrói a narrativa de que de um lado está Jesus, de outro Barrabás, o povo judaico". "Nessa passagem está a ideia de que os judeus mataram o próprio Deus. E daí para a frente é só ladeira abaixo", argumenta.

Considerando tudo isso, o historiador explica que, no âmbito das narrativas neotestamentárias, “quando ocorre de se deparar com um personagem cuja menção não traz sua história pregressa, tampouco sua história após do fato que justifica sua inserção no texto, a probabilidade de ele ser um personagem meramente literário é gigantesca".

"Dimas é exatamente isso. Seu nome já é tradição pura. Essa figura, a ideia do bom e do mau ladrão, é literatura, não tem fundo histórico, não tem nada. A ideia é mostrar que até o último segundo Deus tem o poder de salvar o pecador", contextualiza Chevitarese.

A crucificação, em pintura de Hans Von Tübingen, século 15 – Foto: Domínio Público/Via BBC

Última conversa

Tudo isso precisa ser levado em conta. Mas considerando que os crucificados sofriam dor e humilhação descomunais, faz sentido imaginar que Jesus tenha conseguido interagir minimamente com dois colegas?

"Eles [os crucificados] estavam cheios de dores, cãibras, sensações horrorosas, dificuldades de respiração, enfrentando a voracidade de aves de rapina. Era uma tortura absolutamente violenta, os caras estavam quebrados", diz o historiador.

Mas, neste caso, há um certo lastro histórico para tal comportamento. Chevitarese lembra dos relatos do historiador Flávio Josefo (37-100). Há uma passagem em que, quando Josefo andava por uma área em que havia um enorme grupo de crucificados, acabou intercedendo para que três de seus amigos fossem libertados. Corria o ano de 69. As autoridades atenderam ao seu pedido.

"Então, por mais macabra que possa ter sido essa conversa, houve uma conversa entre Tito e seus amigos que estavam sofrendo sob a cruz", afirma o historiador.

Chevitarese também lembra que esse tipo de comportamento poderia ser observado "ao menos no início das torturas", quando os condenados estariam "lastimando ali suas horas finais de vida". "E isso não seria de todo estranho, de todo absurdo", concorda.

Fonte: https://g1.globo.com/

Inteligência artificial

Inteligência Artificial (Vatican Media)

Prevê-se que a IA terá uso generalizado nos próximos anos, e por isso vários livros já circulam sobre ela e sua aplicação em quase tudo.

Evaldo D´Assumpção – Médico e Escritor

Não há dúvida que a IA (Inteligência Artificial) está entrando, inexoravelmente, em nossas vidas. Começou com a inocente participação nos eletrodomésticos, onde a Alexa, nome dado a um software assistente virtual desenvolvido e lançado pela Amazon, em 2014. Esse programa, que interpreta comandos de voz para executar algumas tarefas, aciona alarmes, faz pesquisas na internet, e permite o controle virtual de uma residência ou escritório a ela conectados, facilitando o uso de outros aplicativos.

Prevê-se que a IA terá uso generalizado nos próximos anos, e por isso vários livros já circulam sobre ela e sua aplicação em quase tudo. Recentemente recebi, do meu editor Arnaldo Oliveira (Ed. DelRey), o livro “Inteligência Artificial” (Ed. Globo Livros), escrito por um dos criadores da IA, Kai-Fu Lee, que acabei de ler, motivando-me esses comentários. Nele, com bastante clareza e objetividade o autor mostra a evolução da IA e a disputa entre os EUA e a China pela liderança nessa área. Não vou dissertar sobre seu conteúdo, mesmo porque sou apenas um observador dessa tecnologia, que tem uma característica extremamente preocupante: em seu estágio mais avançado, ela se torna autocorretiva. Ou seja, ela aprende com seus erros e desenvolve novos padrões para superá-los. Com isso seu aperfeiçoamento avançará geometricamente, alcançando condições muito além das melhores habilidade físicas e intelectuais dos humanos. As consequências, são previsíveis.

Em seu livro, cuja leitura considero indispensável para se compreender tudo o que nos espera, Lee descreve as quatro ondas em que a IA está evoluindo, ocupando cada vez mais espaços. Segundo ele, essas ondas são: a IA de internet, a IA de negócios, a IA de percepção e finalmente, a IA autônoma. Cada uma delas utilizando o poder da IA de maneira diferente. As duas primeiras, diz Lee, já estão em nossa volta, remodelando os mundos digital e financeiro, de maneira sutil e progressiva. A de percepção, ele diz textualmente: “... está agora digitalizando nosso mundo físico, aprendendo a reconhecer nossos rostos, entender nossos pedidos e ‘ver’ o mundo ao nosso redor.”

A primeira onda é a IA da Internet, a qual ele afirma sermos dela beneficiários ou vítimas, dependendo da maneira como a deixamos ocupar nosso tempo. Ela entra em nossa privacidade, e controla nosso dinheiro. É ela quem cuida dos denominados “motores de recomendação”, sistemas que aprendem nossas preferências pessoais, passando a veicular nos meios de comunicação que utilizamos, conteúdos cuidadosamente escolhidos. Quanto mais compramos, curtimos, consultamos, visualizamos coisas na internet, mais algoritmos (procedimentos precisos, não ambíguos, padronizados, eficientes e corretos) são treinados para nos proporcionar recomendações de novos conteúdos e produtos, que provavelmente iremos consumir, numa verdadeira sugestão subliminar. Com ela, passamos a acreditar que os conteúdos da internet estão ficando cada vez melhores, apresentando-nos coisas “exatamente como gostaríamos”. E isso leva as pessoas a passarem uma média de 74 minutos por dia nos aplicativos sugeridos, segundo pesquisas feitas pelos seus próprios produtores.

A segunda onda, é a IA de Negócios. Ela aproveita os dados que fornecemos e são coletados pelas empresas como seguradoras, financeiras, hospitais, hotéis, etc. para alimentar novos algoritmos que selecionarão dados importantes dos seus usuários, alguns que o olho humano sequer detecta. A partir deles, estabelecem correlações indicativas para futuros negócios com essas pessoas, baseados em dados positivos e negativos de avaliação dos futuros clientes. E nessa onda, entra a medicina virtual, funcionando com ações profiláticas e terapêuticas que substituirão boa parte do trabalho médico. O mesmo acontecerá no trabalho judiciário, dispensando trabalhos hoje prestados pessoalmente.

A terceira onda é a IA de Percepção, que já está em franca penetração em todos os meios. Antes, diz Lee, as máquinas eram surdas e cegas. Com essa nova onda, a IA consegue reconhecer e gravar imagens e sons, formando arquivos em que logo toda a humanidade estará catalogada e arquivada. Com isso, a IA poderá fazer o que algumas vezes já vemos hoje: imagens de pessoas falando com o seu exato timbre de voz, e apresentando mímica facial coerente. E isso é feito de tal forma, que não sabemos se aquilo é real, ou uma perfeita reprodução, com coisas que ela nunca disse. Também nos supermercados, sensores poderão gravar o rosto das pessoas e as compras que levam nos carrinhos, permitindo à loja estabelecer o padrão de compras daquelas pessoas, para no futuro apresentar ofertas, inclusive feitas com a voz de artistas ou de alguém influente, de artigos que já sabem ser da predileção do cliente.

A quarta onda será a da IA Autônoma. Quando as máquinas já tiverem aprendido a ver e ouvir as pessoas, serão capazes de estabelecer parâmetros que as identificam, podendo definir, autonomamente, comportamentos que correspondem às expectativas de cada pessoa. Hoje já existem máquinas que fazem trabalhos humanos, com grandes vantagens econômicas, produtivas e de qualidade. Contudo, ainda precisam ser programadas para tal. Com a IA Autônoma elas serão, inclusive, capazes de decidir ações, corrigir erros e, consequentemente criarem outras máquinas mais eficientes. Esses novos robôs autônomos irão substituir, progressivamente, com vantagens e economia, operários e funcionários, proporcionando lucros bem maiores para os empresários que os possuírem.

Entendendo todo esse processo, chegamos à conclusão que o desemprego maciço será a consequência dessa evolução (ou será involução?...). E isso já está nas predições que indicam uma queda de mais de 50% dos empregos, em menos de 10 anos. Inclusive já existem instituições trabalhando em busca de alternativas e soluções para o que poderá configurar um desastre para toda a humanidade.

Kai-Fu Lee, em seus últimos capítulos analisa tudo isso, e conta, de uma maneira surpreendente, o que lhe aconteceu para tomar consciência disso tudo. Acometido por um câncer, passou por experiências e assistências que transformaram sua vida.

Numa percepção pessoal, acredito que contribuiu para isso, a assistência que recebeu numa linha da biotanatologia que descrevo em meu livro “Sobre o viver e o morrer” (Ed. Vozes). Processo esse bem representado por dois dos sobreviventes da fragata francesa “Méduse”, naufragada na costa mauritana, em julho de 1816. São os que numa balsa improvisada, agitam pedaços de pano, mesmo sem ter nenhum navio à vista. Eles estão retratados no belíssimo quadro de 1818, do pintor Théodore Géricault, exposto no museu do Louvre, e que ilustra essa crônica. Essa colocação final é um desafio para que se reflita e entenda o que aqueles personagens representam, dentro da realidade descrita.

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(*) Médico e Escritor. Da Academia Mineira de Medicina e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores. Autor dos livros “Sobre o viver e o morrer”, “Luto”, “Suicídio” e “A morte em três tempos”, da Ed. Vozes; “Crônicas à beira-mar”, da Ed. Del Rey.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A promessa do Espírito Santo

Créditos: borzywoj by Getty Images
A promessa do Espírito Santo

A promessa do Espírito Santo não é de hoje, mas não demorará em se cumprir! Ela se atualiza hoje na vida dos que creem em Jesus!

“João batizou com água; vós, porém, dentro de poucos dias sereis batizados com o Espírito Santo.”

Por isso, “não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual me ouvistes falar…”

Assim, na obediência a esta palavra, os apóstolos e a comunidade dos discípulos que os acompanhava aguardaram em Jerusalém até o dia de Pentecostes.

Não entendemos os tempos e os momentos que Deus reservou em sua autoridade para cada coisa acontecer em nossas vidas, sobretudo aquilo que está em Seus planos. Mas uma coisa é certa: se obedecermos e confiarmos, seremos felizes e encontraremos a vontade de Deus se realizando em nós conforme nos foi revelada. Assim aconteceu com os apóstolos e, da mesma forma acontece com todo aquele que espera em Deus.

Esta promessa do derramamento do Espírito Santo sobretudo é universal. Ela se estende a toda carne!

Eu também tenho acesso ao Espírito Santo? Sim, Deus não parou em Pentecostes. Ele continua derramando o seu Espírito ainda hoje, sobre todos aqueles que pedem.

Peça você também: Vem Espírito Santo! Feche agora seus olhos e clame a força do alto! Clame pelo Espírito Santo pois ele mudará toda a sua vida e sua história, curará seu coração, abrirá seus olhos para as coisas de Deus, passarás a compreender as escrituras, a entender os ensinamentos e orientações da igreja, será envolvido no Grande amor de Deus.

Leia o trecho em At 1, 1-5

Na Bíblia da CNBB página: 1342
Título: A promessa do Espírito Santo

Promessas

At 1, 5

“João batizou com água; vós, porém, dentro de poucos dias sereis batizados com o Espírito Santo.”

Ordens

At 1, 4-5

Ao tomar a refeição com eles, deu-lhes esta ordem: Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual me ouvistes falar quando eu disse: João batizou com água; vós, porém, dentro de poucos dias sereis batizados com o Espírito Santo.”

Qual a mensagem de Deus para mim hoje?

A promessa é para mim hoje. Preciso pedir o Espírito Santo sobre mim todos os dias! Sem ele não posso evangelizar, sem ele seu um Cristão sem vida, sem entusiasmo, só de nome.

Como posso por isso em prática?

Pedir todos os dias: Vem Espírito Santo! Agora mesmo pedir: Vem Espírito Santo!

Fonte: https://blog.cancaonova.com/

Todo dilúvio precisa dos seus 40 dias

Leemage via AFP

Por Talita Rodrigues

Não guarde em você a ideia de que as coisas não voltarão ao normal: o furacão não tem força para durar para sempre.

Diante das dificuldades de nossa vida, dos nossos dilúvios, todas as sensações de que esse momento desafiador não vai passar parecem tomar conta. A dor, a confusão mental, a chuva de pensamentos…Mas, calma! É natural sentir essas coisas olhando para o furacão. Portanto, não fuja desses sentimentos, aceite.

Diante do furacão, viva um dia de cada vez. Seja uma fase difícil, o desemprego, o namoro que acabou, a dor de perder alguém, a amizade que decepcionou ou o futuro que é sempre incerto. Calma. A cada dia, a cada hora, a cada segundo basta o seu cuidado. Não olhe apenas para o passado ou para o futuro, enxergue o que você pode fazer hoje. Diante do furacão, não trave pela desordem.

Quando surge o turbilhão, o caos parece estar instalado, você parece devastado, mais uma chuva de pensamentos e sensações de que nada vai funcionar. Calma. Enxergar a bagunça pede apenas disposição para arrumação. Não olhe para o caos, enxergue a possibilidade de ordem.

Vai passar. Todo dilúvio precisa dos seus 40 dias. Todo furacão bagunça. Toda tempestade pode fazer o telhado arrear. Calma, vai passar.

Não guarde em você a ideia de que as coisas não voltarão ao normal. As coisas podem estar diferentes, mas o furacão não tem força para durar para sempre. Uma hora as coisas voltarão ao normal.

Respire. Um dia de cada vez. Respire. Coloque as coisas que te cabem no lugar. Respire. Enxergue o novo a partir do que precisa ser reconstruído. Respire.

Viktor Frankl, após a temível experiência dos campos de concentração, nos deixou este ensinamento: “Se não está em suas mãos mudar uma situação que te causa dor, sempre poderá escolher a atitude com que vai encarar esse sofrimento”.

Não olhe para o furacão. Mas encare a vida com amor, fé e paciência. Vai passar.

Quer ter acesso a mais textos como este? Clique aqui e comece a seguir a psicóloga católica Talita Rodrigues no Instagram.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Elias, nós e as nossas fases de vida e de missão

Profeta Elias (carmelitas)

ELIAS, NÓS E AS NOSSAS FASES DE VIDA E DE MISSÃO

Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas (TO)

“Elias está aqui!” (1Rs 18,8.11.14)!” “O que está fazendo aqui, Elias” (1Rs 19,9.13)? Gosto muito destas duas afirmações, feitas a Elias, na sua pequena história de vida e de sua grande missão. (1Rs 17-19). É como se elas tivessem sido ditas para mim. 

Elias, o tesbita, homem de Deus (1Rs 17,17), parecido com Jesus (Mc 3, 8,28; Mt 16,14; 14,2), pai dos e das carmelitas, é famoso por seu ardente zelo por Deus, por seus anúncios de calamidades e de mudanças climáticas (seca e chuva), por seus levantes (levanta-te e vai) para defender a vida. Elias é famoso também pelas suas refeições (levanta-te e come) para recobrar forças e continuar vivo na caminhada (1Rs 17,17ss; 19,5-8). Viver é igualmente caminhar, comer e passar de um lugar a outro, para onde Deus indicar. Afinal, a vida é missão…! 

No seu breve ciclo de vida, há uma verdadeira “história de uma alma”, como dirá, mais tarde, Santa Teresinha. Na sequela Christi, o ideal almejado é a configuração a Jesus Cristo. Na verdade, na história da salvação, muitos se parecem com Jesus. Jesus é o modelo do homem novo: verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, “trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano” (GS 22). 

Elias é considerado um santo homem, mas possui alguns defeitos. Quem não os tem atire a primeira pedra: pedir para morrer (1Rs 4b); sentir-se sozinho (1Rs 19,10c) e se considerar o único fiel (1Rs 19,14). Elias, de fato, vivia inflamado de zelo por Deus. Era monoteísta de carteirinha. Sua defesa do Deus verdadeiro é impressionante. Ninguém pode duvidar da sua verdadeira intenção: ser fiel a Deus, reverenciá-lo, amá-lo e servi-lo. Mas por que fugiu? Medo? Fraqueza? Falta de fé e de confiança? Ou tudo junto e misturado? 

Elias pode ser ou estar em cada de um de nós. Embora sejamos únicos, em muitos aspectos, somos iguais, como diz o ditado popular: “somos farinha do mesmo saco”. Todos nós temos, como Elias, as nossas fases de vida e de Deus: às vezes, uma; às vezes, mais de uma, concomitante, simultânea ou espaçadamente. Elias também, enquanto ser humano, teve as suas fases. Podemos perceber isto claramente quando ele fugiu para o deserto, chegou ao Horeb e se abrigou em uma gruta, fugindo da perseguição de Acab e de sua esposa, Jezabel. Sempre o Hereb como palco das grandes maravilhas de Deus. Como gruta é uma casa sem porta e sem janela, foi ali que Deus se encontrou e chamou Elias, nestas fases: 

A primeira, é a fase do vendaval, do furacão, do vento impetuoso e forte, que sopra (1R 19,11b), feito redemoinho, onde quer e como quer, espalhando pedaços de nós, para todos os lados. Pela vida de cada um de nós corre e passa este tipo de vento existencial. Nesta fase, o nosso carvalho se torce e se contorce. Esta é a fase da infância e da adolescência espiritual, tal qual a menina doida ou o menino maluquinho? Pode ser. É quando o Senhor não está nesta fase da nossa vida. 

A segunda, é a fase do terremoto (1Rs 19,11c). Cai tudo, rui tudo, desmonta tudo, desmorona tudo. Quem de nós já não passou por abalo sísmico, físico e espiritual, que derruba as estruturas que sustentam o nosso ser, o nosso viver e o nosso crer? Neste momento, perdemos o contato com a realidade. É quando o Senhor não está nesta fase da nossa vida. 

A terceira, é a fase do fogaréu que queima e, diferentemente da sarça ardente, consome. Um fogo que assa, torra e queima. Todos nós, na vida e na missão passamos por fase assemelhada a esta. Chamo isto de ponto focal ou nodal. Elias teve este seu ponto focal. Moisés também teve o seu, na sarça ardente. Pedro também, na transfiguração. Jesus igualmente. Nós também. Esta fase é a fase da purificação. Mas também da queimação. É como a fase da água pura, ou seja, passada pelo fogo, ou como a do ouro no cadinho. São João da Cruz chama esta fase de “noite escura da purificação”. É quando o Senhor não está nesta fase da nossa vida. 

E a quarta, é a fase da brisa suave e ligeira, do silêncio, da calmaria, da tranquilidade, da maturidade, da integração e da harmonia (1Rs 19,12c). Esta é a fase da experiência que Deus faz em nossa vida. Elias se encontra com Deus no fio desse silêncio obsequioso. Parecida com uma aposentadoria? Elias poderia estar arrasado, feito um cristal quebrado. Mas, não. Tudo na vida tem sentido e saída. A presença de Deus muda tudo. São fatais o vendaval, o terremoto e o fogaréu sem Deus. Nesta fase da vida de Elias o Senhor está. O verdadeiro Deus caminhando sinodalmente com este homem de Deus, dá no que dá. Deus está na beleza, na normalidade, na suavidade e na natureza das coisas. 

Estes são os quatro sinais de Deus, de suas passagens pela vida de Elias e por nossa vida. Elias as experimentou, decodificou, verbalizou e profetizou. Cabe a nós decodificá-las em nós. 

A pergunta que não pode calar e que pede uma resposta é: será que Deus onipotente, onisciente e onipresente não está no vendaval, no terremoto e no fogaréu? Sim, está. Está em tudo e em todos. Em Deus não é questão de estar, mas de ser. Deus não é vendaval, não é terremoto e nem fogaréu. Deus é brisa suave. 

Um pouco de vendaval, de abalo sísmico e de fogaréu, certamente, não fará mal a ninguém. Ao contrário, poderá até fazer bem, como aconteceu com Elias. A configuração da terra, como a temos hoje, não é a mesma do dia da criação. Catástrofes físicas, mudanças climáticas e abalos sísmicos modificaram a sua face e a tornaram mais bonita, mais fértil e mais habitável. Fará bem também a nós verificarmos por quais dessas fases já passamos, estamos passando ou passaremos.  

Elias, como nós, terá ainda um longo caminho a percorrer (1Rs 19,7c). Jesus, como ele, permitiu aos apóstolos experimentarem as ondas do mar agitado que soprava o contrário (Mt 14,22-23). Ele fez o mar se acalmar. E levou os medrosos apóstolos a experimentarem a suavidade da brisa marítima, com a presença de Jesus.   

E, para finalizar, antes, que passem por nós as tormentas, a pergunta que Deus fez a Elias – “que fazes aqui, Elias”? (1Rs 19,9.13) – é a mesma pergunta que todos nós deveríamos ouvir de Deus e respondê-lo. O melhor e o mais belo desta pequena história de vida de Elias fica reservado para o seu final. Depois de passar por quatro estas fases de vida, Deus envia Elias, pelo deserto, a Damasco, para ungir reis e profetas, entre eles, Eliseu (1Rs 19,15-16). 

Esta é a fonte de inspiração das fases da nossa vida, da nossa missão e do nosso ministério: ser ungidos para ungir!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF