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segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Os jovens querem um catolicismo “vibrante, inteligente e bonito”, diz bispo dos EUA

Dom Robert Barron, bispo de Winona-Rochester | / Daniel Ibañez – ACI Prensa

Por Andrés Henríquez

Roma, 21 Ago. 23 / 11:03 am (ACI).- Numa entrevista recente com Colm Flynn, correspondente da EWTN no Vaticano, o bispo da diocese de Winona-Rochester nos EUA e fundador da Word on Fire, dom Robert Barron, disse que rebaixar a fé “foi um desastre pastoral”.

A entrevista foi sobre o que dom Barron achou da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que aconteceu em Lisboa no início deste mês.

"Esta não é só a minha opinião", acrescenta dom Barron, "você pode ver isso nas pesquisas. Quando você pergunta às pessoas no mundo ocidental por que elas saem (da Igreja Católica), muitas vezes dizem que nunca receberam respostas às suas perguntas, que a religião parece boba."

Para dom Barron, "rebaixamos a fé na tentativa de torná-la relevante e nos prejudicamos". E diz que "o que realmente atrai as pessoas é um catolicismo vibrante, inteligente e belo". Essas jornadas, diz ele, “nos tiram dessa visão ocidental às vezes míope da realidade”.

Em seguida, Flynn lhe pergunta se houve "complacência" e falta de ardor apostólico por parte da Igreja, referindo-se ao fato de que na Irlanda, seu país natal, não faz muito tempo, "cerca de 90% das pessoas frequentavam as igrejas" e por isso, muitos acreditavam que não era necessário evangelizar, visto que o rebanho já frequentava a igreja.

Dom Barron responde: “A evangelização é a tarefa da Igreja em todos os tempos e em todas as épocas. Quer você tenha 90% ou 20% de frequência, nosso trabalho é evangelizar”. E acrescenta que, segundo o papa Bento XVI, a Igreja tem três funções: “Adora a Deus, serve aos pobres e evangeliza”.

"Quer sejamos culturalmente bem-sucedidos ou odiados, dentro ou fora de época, proclamamos Jesus Cristo como Senhor."

Em seguida, o correspondente da EWTN no Vaticano comenta todas as ansiedades e angústias que os jovens experimentaram desde a última JMJ no Panamá 2019 – entre elas as guerras e pandemia -, e pergunta como os peregrinos devem ter mudado depois de passar esses dias em Portugal.

Dom Barron diz que “é mais difícil ser jovem hoje” e chama a atenção “para o aumento das redes sociais em seu aspecto negativo”. E é que além de seus muitos benefícios, as redes sociais também apresentam sérios riscos. "Por causa disso, o número de ansiedades, tendências depressivas e suicidas disparou entre os jovens". Ele diz ainda que quer que os jovens compreendam que o mundo das redes sociais "é bom, é uma ferramenta, mas não é o mundo real".

E acrescenta que o mundo real é o da “adoração a Deus, serviço aos pobres e da comunhão uns com os outros. É sobre isso que são as Jornadas”. Ele termina a entrevista dizendo que "precisamos de Cristo agora mais do que nunca, e gostaria que os jovens saíssem sentindo que Ele os ama, que caminha com eles e que quer ser o Senhor de suas vidas em um sentido libertador".

JMJ Lisboa 2023 em números

site oficial da JMJ diz que este ano estiveram em Lisboa pessoas de mais de 200 nacionalidades. Os países com maior número de peregrinos inscritos foram Espanha (77.224), Itália (59.469), Portugal (43.742), França (42.482) e EUA (19.196).

Quase um milhão de pessoas assistiram à vigília e à missa final nos dias 5 e 6 de agosto no Parque Tejo, na capital portuguesa. Nesta edição, participaram 688 bispos, incluindo 30 cardeais. Os países com mais bispos representados foram Itália (109), Espanha (70), França (65), EUA (61) e Portugal (36).

Juntas, as delegações inscreveram 1.753 peregrinos com algum tipo de deficiência intelectual ou de mobilidade. Entre eles, 135 eram surdos e 241 cegos. Em Lisboa havia intérpretes de língua dos sinais.

Em relação ao número de voluntários, o encontro contou com o apoio de mais de 25 mil inscritos, sendo que os países mais representados foram: Portugal, Espanha, França, Brasil e Colômbia.

Em linha com as propostas do papa Francisco para uma ecologia integral, foram plantadas 17.980 árvores. E o programa do Festival da Juventude teve mais de 600 eventos que aconteceram em 90 lugares diferentes, com a participação de mais de 2,5 mil artistas.

Fonte: https://www.acidigital.com/

As causas de uma “crise eucarística” (1/4)

Celebração Eucarística (Presbíteros)

As causas de uma “crise eucarística”

A doutrina católica sobre a Eucaristia remonta aos primeiros tempos do cristianismo, embora tenha sido dogmaticamente perfilada ao longo dos séculos, chegando à sua máxima expressão nos textos de São Tomás de Aquino. O Catecismo da Igreja Católica e os Catecismos anteriores recolheram exatamente essas mesmas definições.

As rubricas litúrgicas, que vão desde as genuflexões até todos os gestos de cuidado para com as espécies consagradas chegam a detalhes carinhosos que não são outra coisa senão a expressão da fé da Igreja na presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento.

Podemos dizer, portanto, que existe uma relação direta entre a fé e a piedade eucarística; e, paradoxalmente, que há também uma relação direta entre a crise de fé na Eucaristia e toda a falta de piedade que disso decorre.

Por que precisamos dizê-lo? Por duas razões principais: porque é necessário não inverter o sintoma com a causa e porque é preciso rastrear a origem da causa para suprimir a patologia que adoece a fé, ao distanciar a nossa consciência daquilo que ensina a Igreja. Ora, podemos falar de uma crise de fé na Eucaristia? Como esta começou? Quais as suas origens?

Diagnóstico de um problema

Com grande prudência e cuidado, o Papa Pio XII escrevia, na Encíclica Mediator Dei: “nem se diga que tal culto eucarístico provoca uma errônea confusão entre o Cristo histórico, como dizem, que viveu na terra, o Cristo presente no augusto sacramento do altar, e o Cristo triunfante no céu e dispensador de graças; deve-se, pelo contrário, afirmar que, desse modo, os fiéis testemunham e manifestam solenemente a fé da Igreja, com a qual se crê que um e idêntico é o Verbo de Deus e o Filho de Maria virgem, que sofreu na cruz, que está presente e oculto na Eucaristia, e que reina no céu” (n. 120).

O Papa São Paulo VI, com muita preocupação e, segundo suas próprias palavras, com “grande ansiedade”, escreveu, em sua Encíclica Mysterium fidei:

“Bem sabemos que, entre os que falam e escrevem sobre este Sacrossanto Mistério, alguns há que, a respeito das missas privadas, do dogma da transubstanciação e do culto eucarístico, divulgam opiniões que perturbam o espírito dos fiéis, provocando notável confusão quanto às verdades da fé, como se fosse lícito, a quem quer que seja, passar em silêncio a doutrina já definida da Igreja ou interpretá-la de tal maneira, que percam o seu valor o significado genuíno das palavras ou o alcance dos conceitos.

Não é lícito, só para aduzirmos um exemplo, exaltar a Missa chamada ‘comunitária’, a ponto de se tirar a sua importância à Missa privada; nem insistir tanto sobre o conceito de sinal sacramental, como se o simbolismo que todos, é claro, admitimos na Sagrada Eucaristia, exprimisse, única e simplesmente, o modo da presença de Cristo neste sacramento; ou ainda discutir sobre o mistério da Transubstanciação sem mencionar a admirável conversão de toda a substância do pão no corpo e de toda a substância do vinho no sangue de Cristo, conversão de que fala o Concílio Tridentino; limitam-se apenas à transignificação e transfinalização, conforme se exprimem.

Nem é lícito, por fim, propor e generalizar a opinião que afirma não estar presente Nosso Senhor Jesus Cristo nas hóstias consagradas que sobram, depois da celebração do Sacrifício da Missa” (nn. 10-11).

O mesmo Papa refere um testemunho importante, do século II: “os fiéis julgavam-se culpados, e com razão, conforme lembra Orígenes, se, recebendo o Corpo do Senhor e conservando-o com a maior cautela e veneração, apesar disso deixavam cair algum fragmento” (n. 60). São João Paulo II, na Encíclica Ecclesia de Eucharistia também indica os mesmos problemas:

“A par destas luzes, não faltam sombras, infelizmente. De fato, há lugares onde se verifica um abandono quase completo do culto de adoração eucarística. Num contexto eclesial ou outro, existem abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento. Às vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa. 

Além disso, a necessidade do sacerdócio ministerial, que assenta na sucessão apostólica, fica às vezes obscurecida, e a sacramentalidade da Eucaristia é reduzida à

simples eficácia do anúncio. Aparecem depois, aqui e além, iniciativas ecumênicas que, embora bem-intencionadas, levam a práticas na Eucaristia contrárias à disciplina que serve à Igreja para exprimir a sua fé. Como não manifestar profunda mágoa por tudo isto? A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções” (n. 10).

E a fé se manifesta no cuidado até os mínimos detalhes: “Dando à Eucaristia todo o realce que merece e procurando com todo o cuidado não atenuar nenhuma das suas dimensões ou exigências, damos provas de estar verdadeiramente conscientes da grandeza deste dom. A isto nos convida uma tradição ininterrupta desde os primeiros séculos, que mostra a comunidade cristã vigilante na defesa deste ‘tesouro’.

Movida pelo amor, a Igreja preocupa-se em transmitir às sucessivas gerações cristãs a fé e a doutrina sobre o mistério eucarístico, sem perder qualquer fragmento. E não há perigo de exagerar no cuidado que lhe dedicamos, porque, ‘neste sacramento, se condensa todo o mistério da nossa salvação” (n. 61).

Ora, os Papas diagnosticaram uma espécie de “crise eucarística” e procuraram dar o remédio para ela. Mas qual a raiz deste problema?

Pe. Dr. José Eduardo de Oliveira e Silva

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Nossa Senhora Peregrina - Parte IV

Imagem de Nossa Senhora no Paruqe Tejo, em Lisboa (Photo by AFP/Marco Bertorello)  (AFP or licensors)

"A narrativa evangélica sobre Maria começa na pequena localidade de Nazaré e termina na cidade de Jerusalém. Ambos os lugares são como que uma fresta onde a terra se abre para o céu, como trampolim de lançamento onde a casa abre de par em par a porta para um caminho. Em ambos irrompe o «poder do Altíssimo»”, se derrama o Espírito Santo, tanto em Nazaré na Anunciação, quanto em Jerusalém no Cenáculo, no dia de Pentecostes."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“O tempo de nos levantarmos é agora. Levantemo-nos apressadamente! E, como Maria, levemos Jesus dentro de nós, para O comunicar a todos. (Papa Francisco)”

Na mensagem para a Jornada Mundial da Juventude 2023 em Lisboa, inspirado no tema escolhido «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39), o Papa Francisco destacou aos jovens o aspecto do levantar-se, do peregrinar, do estar a caminho e caminhar juntos com a Virgem Maria, iluminando com a mensagem de seu Filho os ambientes que nos rodeiam. 

No programa de hoje deste nosso espaço, Pe. Gerson Schmidt* volta a falar de Nossa Senhora Peregrina, que "reabre para todos e em particular vós, jovens como Ela, o caminho da proximidade e do encontro":

"A Jornada Mundial da Juventude é um momento de forte peregrinação dos jovens, mostrando esse rosto dinâmico e alegre da nossa Igreja. Milhões de jovens reunidos dessa vez em Portugal, sede da JMJ. Nessa atmosfera de uma Igreja peregrina, de uma Igreja militante e caminhante, aprofundamos a temática de Nossa Senhora Peregrina, pois Maria também se colocou a caminho, por diversas vezes. Maria encontra-se com frequência a caminho: sai, caminha, desloca-se, caminha e não se acomoda.  Não é peregrina apenas porque visita Isabel. As suas viagens entre Nazaré, Ain Karim, Belém, Jerusalém, Egito são acompanhadas de um dinamismo interior muito grande, de discípula, de serva a caminho, para cumprir a vontade de Deus.

Dizia assim nosso Papa Francisco: “Como é importante para as nossas famílias peregrinar juntos, caminhar juntos e ter a mesma meta em vista! Sabemos que temos um percurso comum a realizar; uma estrada, onde encontramos dificuldades, mas também momentos de alegria e consolação”.  A peregrinação não termina quando se alcança a meta do santuário ou do lugar proposto, disse o Papa, mas quando se volta para casa e se retoma a vida de todos os dias, fazendo valer os frutos espirituais da experiência vivida. Na proclamação do Ano Santo da Misericórdia, em 2015, o Papa Francisco escrevia assim sobre peregrinação: “A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até à meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação”(Misericordiae Vultus, 14).

Na narrativa dos evangelhos uma das caraterísticas de Jesus nitidamente perceptíveis é o seu estar «a caminho». Ele nasce numa viagem, como recém-nascido tem de viajar para se refugiar num país estrangeiro, durante a sua vida pública desloca-se a um ritmo permanente, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, dos lugares desertos para as praças, de casa para a sinagoga, da estrada para o campo, da beira-mar para a montanha. Quando se aproxima «a hora de passar deste mundo para o Pai» (Jo 13,1), toma a firme decisão de se pôr a caminho de Jerusalém» (Lc 9,51). Por fim, morre fora de casa, a terminar uma “via-crucis”. Ele mesmo é «o caminho» (Jo 14,6). Com um «segue-Me» envolve muitos a pôr-se a caminho juntamente com Ele. Mesmo depois da sua morte, os seus discípulos são conhecidos como «os da via» (At 9,2). Pedro captou bem a identidade do Mestre quando o anuncia com esta frase sintética: «Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré, o qual andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos» (At 10,38). A imagem que fascinou os primeiros convertidos ao cristianismo é a de Jesus que caminha conduzido pelo Espírito e fazendo bem por onde passa.

Maria, a mãe de Jesus viandante, assemelha-se a Ele nisto. Ela é mãe peregrina. Queremos seguir essa «peregrinação» de Maria nas pegadas que os evangelhos nos oferecem, que nos descreve também a Lumen Gentium, número 58. A Bíblia é um livro cheio de caminhos e de viagens, a história entre Deus e a humanidade é um entrelaçado dinâmico entre sair e chegar, ir e vir, partir e voltar, entre êxodo e advento. O caminhar de Maria insere-se neste movimento, neste sistema de encontro divino-humano, sempre aberto ao imprevisto, à surpresa e à novidade, mas sempre guiado pelo vento do Espírito. Efetivamente, a narrativa evangélica sobre Maria começa na pequena localidade de Nazaré e termina na cidade de Jerusalém. Ambos os lugares são como que uma fresta onde a terra se abre para o céu, como trampolim de lançamento onde a casa abre de par em par a porta para um caminho. Em ambos irrompe o «poder do Altíssimo»”, se derrama o Espírito Santo, tanto em Nazaré na Anunciação, quanto em Jerusalém no Cenáculo, no dia de Pentecostes. Em ambos os lugares, depois da descida do Espírito Santo, há um movimento de saída, de peregrinação, de não ficar parado. Maria está presente em ambos os lugares."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Como as comunidades católicas podem ajudar os casais a terem filhos?

#image_title / Vad-Len | Shutterstock

Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Perguntado sobre o aborto, Bento XVI fez uma observação que pode ser uma luz para essa questão. Veja aqui:

Em dois artigos anteriores (Os dados do censo e as famílias brasileiras e O desafio de ter muitos filhos), vimos as mudanças demográficas pelas quais o Brasil está passando e as dificuldades objetivas que as famílias enfrentam para ter muitos filhos (poderíamos dizer, as dificuldades de ter filhos, pois mesmo famílias pequenas podem encontrar muitos problemas em nossos dias).

A Igreja lembra que as famílias numerosas são uma benção de Deus (Catecismo da Igreja Católica, CIC 2373), ainda que os esposos possam  “querer espaçar o nascimento dos seus filhos por razões justificadas” (CIC 2368). Essas duas afirmações devem ser pensadas como complementares, uma não é corretamente compreendida sem a outra, mas temos a tendência de fazer interpretações relativistas ou esquemáticas. Quando fazemos isso, o que conta não é o magistério, mas sim a forma como queremos interpretá-lo.

Além disso, nosso pecado faz com que queiramos fazer juízos fáceis dos que têm uma vida diferente da nossa. Quem tem família grande tende a condenar os que têm famílias pequenas, dizendo que são egoístas e fechados á graça de Deus. Quem tem família pequena tende a condenar os que têm famílias grandes, dizendo que são insensatos ou que não entendem as dificuldades dos outros. Mas, na verdade, cada um é chamado a viver a fecundidade no matrimônio do modo que Deus lhe indica…

Um justo discernimento

Alguns anos atrás, o Papa Francisco foi muito criticado por dizer que “alguns creem – desculpem a frase – que, para ser bons católicos, devem ser como coelhos”. Como frequentemente acontece com as palavras dos papas (qualquer um deles), a frase mais impactante é citada e o conjunto da ideia é perdido. Continuando, o Papa explica que o importante é ter uma “paternidade responsável” e, para os que se prendem às dificuldades financeiras, lembra que “para as pessoas mais pobres, um filho é um tesouro […] Deus sabe como ajudá-los […] Mas é preciso também ver a generosidade daquele pai e daquela mãe que veem em cada criança um tesouro”. Francisco deseja nos convidar a um justo discernimento, que não é nem relativista, nem esquemático, mas que olha com amor para a realidade da pessoa e da família.

O Catecismo explana o magistério relativo á fecundidade da família e à regulação da procriação, num capítulo relativamente extenso (CIC 2366-2379), já citado acima. Numa rapidíssima síntese, pode-se dizer que a Igreja, considerando que o ato sexual tem sempre um valor unitivo (celebra o amor do casal) e procriativo (pode gerar uma nova vida, fruto desse amor), indica que o casal esteja aberto a todos os filhos que Deus lhes enviar. Pode, contudo, usar métodos naturais quando tiver necessidade de evitar a gravidez por razões justas. Esses métodos naturais se baseiam no conhecimento e no acompanhamento dos ritmos naturais da fecundidade feminina. Em constante evolução, esses métodos hoje em dia podem ser tão eficientes quanto os chamados “métodos artificiais”, como a pílula anticoncepcional, tendo as vantagens de ser mais saudável e comprometer o casal (o homem precisa conhecer e respeitar os ritmos da esposa, enquanto a pílula, por exemplo, se torna uma responsabilidade apenas da mulher). Para quem estiver interessado e tiver dificuldade de conhecer os métodos naturais, existe a Confederação Nacional de Planejamento Natural da Família (Cenplafam) – alguns não concordam com o uso do termo “planejamento”, mas trata-se de um trabalho sério e que acompanha tanto os desenvolvimentos do método quanto a doutrina católica.

Enfrentar as dificuldades

Mostrar a existência dos métodos naturais e seus méritos já é uma contribuição que as comunidades católicas podem dar para que os casais possam lidar de uma forma mais adequada com a fecundidade no próprio casamento. Contudo, não resolve um outro problema: como os casais poderão se sentir livres para terem filhos? Em nossos tempos, as pessoas pensam que não terão liberdade se tiverem filhos, que irão perder o conforto necessário e as condições de educar os filhos que já têm, que terão de renunciar a seus projetos pessoais. O medo as faz perder a liberdade de ter filhos…

O magistério da Igreja não nega essas dificuldades. Por isso reconhece a validade de se usar os métodos naturais. O problema não está aí, mas sim em se fechar à possibilidade da graça, acreditar que a própria inteligência é o único critério para determinar o que é bom e o que é mal, que Deus não pode construir uma coisa ainda melhor mesmo nas dificuldades. Na verdade, não somos chamados a ter muitos ou poucos filhos, mas sim a termos e aceitarmos aqueles filhos que Deus nos dá. Um casal pode ter condições – tanto econômicas quanto biológicas – de ter muitos filhos, outro talvez só consiga ter alguns poucos. E haverá aqueles que só poderão ter filhos adotivos, “aqueles que vieram só do amor, mas tão nossos quanto os que vieram da carne”, como dizia um amigo que, depois de ter quatro filhos, adotou um quinto…

Por isso tudo, os casais devem se ajudar mutuamente a enfrentar as dificuldades inerentes à criação de seus filhos. Algumas ajudas podem ser muito concretas, como ficar com os filhos dos amigos quando esses têm que enfrentar uma jornada de trabalho mais longa, ou mais educativas, como uma conversa entre um casal mais experiente e outro mais jovem, com dúvidas sobre a educação dos próprios filhos. A comunidade pode se organizar para esse apoio, criando, por exemplo, atividades saudáveis nas quais as crianças vão se conhecendo e adquirindo o gosto pela vida cristã, ou pode ser uma situação individualizada, como uma ajuda financeira de um casal ajuda outro numa doença.

Deus permite as dificuldades e nos dá os instrumentos para enfrentá-las. Não é garantido que “tudo acabará como nossa vontade queria”. Mas em tudo descobriremos um amor e uma beleza maiores do que descobriríamos se nos deixássemos determinar apenas por nossas ideias.

A beleza e a esperança

Perguntado sobre o aborto, Bento XVI fez uma observação que pode ser uma luz para essa questão. Reconheceu que podia haver, entre aqueles que defendiam o aborto, “um certo egoísmo”, mas também “uma dúvida sobre o futuro”. Esse talvez seja o grande problema! “E a Igreja – completava o Pontífice – responde sobretudo a estas dúvidas: a vida é bela, não é algo duvidoso, mas é um dom e também em condições difíceis a vida permanece sempre um dom. Portanto voltar a criar esta consciência da beleza do dom da vida. E depois, outra coisa, a dúvida do futuro: naturalmente há tantas ameaças no mundo, mas a fé dá-nos a certeza de que Deus é sempre mais forte e permanece presente na história. Portanto podemos, com confiança, também dar a vida a novos seres humanos”.

Na teoria e na prática, na postura interior e no enfrentamento dos problemas objetivos, somos chamados a ser testemunhas dessa beleza e dessa esperança.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

domingo, 20 de agosto de 2023

Não se ajoelhar durante a Missa é pecado?

© Marcin Mazur/cbcew.org.uk | Catholic Church England and Wales/Flickr CC BY-NC-ND 2.0
Por Reportagem local 

Os católicos se ajoelham na Missa porque Jesus se ajoelhou durante sua oração. Mas, e se eu deixar de me ajoelhar por algum motivo?

Todos já estamos familiarizados com os gestos e as posições do corpo em diferentes partes da Missa. Isso inclui ficar de pé, ajoelhar-se ou curvar-se em reverência a Jesus.

cada gesto da liturgia tem um sentido muito especial. Por exemplo, você já parou para pensar por que ajoelhamos durante a consagração da Eucaristia? De fato, os católicos se ajoelham porque Jesus se ajoelhou durante sua oração. Além disso, ajoelhar-se é tipicamente visto nos Evangelhos como uma forma de expressar súplica e adoração. Muitas vezes, no Novo Testamento, o gesto de ajoelhar-se é precedido por um ato de fé: “Eu creio, Senhor” e completado por um ato de adoração a Deus (cf. João 9, 35-38).

E se, por um motivo ou outro, eu deixar de me ajoelhar durante a celebração? Estaria cometendo algum pecado?

O padre Padre Camilo Júnior, C.Ss.R, falou sobre isso em vídeo publicado pelo portal A12. Ele esclarece:

“Não é obrigatório ajoelhar-se durante a Missa. O momento do ajoelhar-se ficou reservado para o momento da consagração. As pessoas se colocam de joelho para acolher aquele momento em que o pão e o vinho se tornarão Corpo e Sangue de Jesus. Mas há pessoas que não podem se ajoelhar por questão de idade, de doenças ósseas como a artrose… O ajoelhar-se seria uma dor desnecessária”.

O sacerdote lembra que o mais importante é a atitude do coração:

“Há pessoas que se ajoelham, colocam a mão entre o rosto e ficam lá, com os olhos para baixo. O momento da consagração é o principal momento da Missa. Em pé, sentado ou ajoelhado, o teu olhar tem que estar voltado para o altar, onde o Cristo se fará presente como alimento de vida e ressurreição.”

Padre Camilo conclui:

“Não se preocupe se você não consegue se ajoelhar na Missa. Isso não tem nenhum problema. O importante é como você abre o seu coração para que Cristo possa vir morar em sua vida, ser sua força, seu sustento e sua paz”.

Enfim, vale conferir o que diz o Missal Romano:

“Ajoelhem-se, porém, durante a consagração, a não ser que por motivo de saúde ou falta de espaço ou o grande número de presentes ou outras causas razoáveis não o permitam. Contudo, aqueles que não se ajoelham na consagração façam uma inclinação profunda enquanto o sacerdote faz genuflexão após a consagração.”

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A Assunção de Maria

Assunção de Nossa Senhora (Vatican Media)

"Maria Assunta é figura e primícia da Igreja que um dia será glorificada; é consolo e esperança do povo ainda peregrino. É a Ponte da passagem de Israel para a Igreja. É um sinal humano de esperança. A contemplação de Maria na glória faz-nos ver a vitória da esperança sobre a angústia, da comunhão sobre a solidão, da vida sobre a morte." No Brasil neste domingo a Igreja celebra a Assunção de Maria ao céu.

Por Ir. Maria Freire da Silva, ICM *

Em 1950, o Papa Pio XII definiu como verdade de fé: “É dogma revelado por Deus que a Imaculada Mãe de Deus, a Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrena, foi elevada em corpo e alma à glória celestial”. Mas a FESTA é mais antiga. Era a “Dormição” de Maria e a transferência de seu corpo para o paraíso. Em Jerusalém, fazia-se uma procissão ao túmulo de Maria.

Maria, imagem da Igreja. (Ap 11,19a; 12,1-10ab). Como Maria, a Igreja gera na dor um mundo novo. Como Maria participa na vitória de Cristo sobre o mal? A visão do “Grande Sinal”, leva-nos a reconhecer que, no seguimento de Jesus, e na pessoa de Maria, a nova humanidade já é acolhida junto de Deus. Maria, nova Eva. (1Cor 15,20-27). Jesus faz da Virgem Maria uma nova Eva, sinal de esperança para todos os homens. O texto é uma longa demonstração da Ressurreição. A Assunção é uma forma privilegiada de participação na Ressurreição de Cristo. O apóstolo não evoca Maria, mas esta leitura, na Assunção, leva a reconhecer o lugar eminente da Mãe de Deus no movimento da Ressurreição.

Sinal escatológico da Igreja

Maria Assunta é figura e primícia da Igreja que um dia será glorificada; é consolo e esperança do povo ainda peregrino. É a Ponte da passagem de Israel para a Igreja. É um sinal humano de esperança. A contemplação de Maria na glória faz-nos ver a vitória da esperança sobre a angústia, da comunhão sobre a solidão, da vida sobre a morte.

A formulação da verdade mariana vem diretamente vinculada ao mistério trinitário, com o cristológico e eclesiológico, conforme definida no Concílio de Éfeso 431, ao tratar da maternidade divina (MANELLI,2014). Nos séculos seguintes, com o aprofundamento patrístico, a presença e a intensidade do Senus fidelium (senso dos fiéis) do povo de Deus, e a reflexão do Magistério da Igreja, finalmente veio a definição dogmática da Imaculada em 1854 e da Assunção em 1950.

O texto do Ap 12, 1ss, foi usado como fundamentação para o dogma da Assunção, consciente de que inicialmente esse dado bíblico está relacionado à comunidade. Porém, Maria está relacionada à vida das comunidades, e, portanto, é vista como defensora da vida do discipulado de Jesus. No entanto, por si só, o fundamento através desse texto não é sólido. Outros estudiosos recorreram ao proto-Evangelho (Gn 3, 15). Pio XII usa para fundamentar o dogma, a Tradição Patrística na Encíclica Munificentíssimus Deus. Porém, muito antes de ser definida como dogma, a Assunção de Maria já fazia parte do depósito da fé da Igreja.

É importante perceber a trajetória da revelação de Deus e como Maria se insere na História de Salvação. Sua participação no mistério de Cristo e da Igreja refletido e experimentado pelos fiéis ao longo dos séculos. Vale ainda perguntar sobre as consequências do mistério da Assunção em nossa vida. Em que a ressurreição de Maria afeta nossa existência enquanto pessoa humana, em nosso corpo? O que significa ser elevada à glória celeste em corpo e alma? O psicanalista Karl Jung havia dito que a Assunção de Maria no contexto de sua definição e proclamação vinha carregado de arquétipos humanos mas, sobretudo, colocou em relevância o dogma como expressão de renovada esperança de cumprimento das aspirações que se move no mais profundo da alma, garantindo a paz e o equilíbrio de saúde e de vida. A Assunção de Maria não é apenas a plenitude da realização de Maria, mas se torna a resposta à pergunta pelo sentido da vida, pois assunto é o Sim de Deus aos anseios mais profundos do ser humano: mulher e homem. A glorificação de Maria no corpo é a glorificação de toda Igreja que será cidadã da Pátria celeste. Maria goza da Páscoa total e é modelo para a Igreja e prelúdio da Páscoa da história e do Cosmo inteiro, destinado a recapitulação para tributar a glória ao Pai na unidade do Espírito Santo, no dinamismo do Ressuscitado. O corpo aparece como espaço de Salvação, habitação da Divina Trindade, onde Maria encontrou sua habitação e deixou-se habitar em um total descentramento de si para encontrar o tudo de sua vida. Afirmar a Assunção de Maria é afirmar que ela já participa da realidade em que todos participarão. O corpo não é expressão de morte, de destruição, mas, de uma transfiguração em Cristo pela força da Ressurreição. Somos um corpo físico e transcendente, espaço do falar, do ser, do querer, do agir, do pensar, do sair de si, para encontrar os outros e para se relacionar, interagir no somatório de forças e experiências de Deus e da vida em desenvolvimento e criatividade, na harmonia e adesão ao Projeto de Deus. Maria é a mulher da plenitude da beleza, da bondade e da graça harmoniosa de Deus que, como mulher, vence o dragão pisoteando-lhe a cabeça. Mulher que colocou seu corpo a serviço de Jesus de Nazaré, que andou, que meditou sobre a Palavra de Deus e a vida da Comunidade apostólica da qual fez parte, a serviço dos pobres.

Trazendo esses elementos para o mundo moderno e pós-moderno, vemos que o corpo, ao mesmo tempo em que deve ser cuidado embelezado e cultuado, é extremamente desrespeitado. Tornou-se objeto do mercado. É configurado de acordo com os resultados financeiros. O corpo se reveste da beleza do produto, tem valor à medida em que evidenciar tal produto e esse, dinamizar a alma do mercado: o dinheiro. A sexualidade vem articulada simplesmente ao prazer, às relações sexuais, minadas em sua abrangência relacional como um todo que articula a totalidade do ser numa beleza sinfônica e harmoniosa.

A Assunção de Maria traz, para a mulher e para o homem, um novo e promissor futuro. É a afirmação de que uma mulher participa integral e plenamente da glória do Deus vivo, o que significa resgatar o corpo da humilhação que sobre ele fez pesar a civilização Judaico-cristã. O corpo é o espaço da busca incessante da Vontade de Deus, da esperança e do esperançar em um permanente doar-se ao Projeto de vida. O corpo não é objeto de posse de alguém, mas a Shekináh divina, que o transforma em expressão sempre maior da criatividade missionária do encontro que salva o outro, que o resgata das estruturas, que o encarcera sob os arquétipos não trabalhados e nem compreendidos. Maria é portadora da alegria daqueles e daquelas que acreditam que o ser humano constitui um todo, criado para exprimir-se como imagem e semelhança da Trindade Santa.

Irmã Maria Freire da Silva, Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria; Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, Itália.

Fontes de pesquisa:
PAMI, L`Assunzione di Maria Madre di Dio. 2001.
MANELLI,S,. La Mariologia nella storia dela salvezza, 2014.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Bernardo de Claraval

São Bernardo de Claraval (A12)

20 de agosto

São Barnardo de Claraval

Bernardo nasceu em 1090 no Castelo de Fontaine, próximo a Dijon na região de Borgonha, França. Seu pai era um nobre e sua mãe, Aleth de Monthbard, é venerada como Bem-Aventurada. Terceiro de sete irmãos, destacou-se pela inteligência, frequentado a escola canônica desde os nove anos, onde sobressaiu particularmente na área de Literatura.

Em 1112 entrou para a abadia de Cister, fundada por São Roberto de Molesme na Borgonha, com 22 anos. Sua decisão levou mais de 30 homens, incluindo irmãos, tios e vários amigos a também se consagrarem no mesmo mosteiro, sob o abade Santo Estevão Harding. A esposa do irmão primogênito também se fez monja. Dedicava-se à oração e à catequese, possuindo o dom da oratória, e sua influência era tanta que as mães e esposas procuravam afastar dele os filhos e maridos.

Com o aumento das vocações, foi necessária a fundação de novos mosteiros. Bernardo seguiu em 1115 com 12 irmãos para erguer no vale de Langres a abadia de Claraval (“Vale Claro”) e se tornar o seu primeiro abade, com apenas 25 anos. A regra beneditina era adotada com todo o rigor, amor e integridade, oração e trabalho sob a obediência absoluta ao abade, e por seus méritos de santidade o mosteiro se tornou conhecido na França e posteriormente na Europa pela humildade, caridade e profunda cultura. O mosteiro chegou a ter 700 monges, entre os quais o irmão do Rei Luís Vll Henrique de França, mais tarde bispo e arcebispo de Reims. Outros 78 mosteiros foram fundados por Bernardo na França e na Europa, ao longo do tempo.

Participou do Concílio de Troyes (1129, quando obteve o reconhecimento da Ordem do Templo, os Templários, cujos estatutos ele mesmo escreveu), do Segundo Concílio de Latrão (1139) e do Concílio de Reims (1148), sempre a pedido do Papa, e também a seu pedido pregou em prol da realização da Segunda Cruzada (1147-1149).

A eleição do legítimo Papa Inocêncio II (1130-1143) necessitou do auxílio de São Bernardo, pelas orações e argumentações, contra as pretensões do antipapa Anacleto II, bispo da Gasconha, apoiado por um nobre influente. Apesar dos seus esforços, o cisma ainda durou oito anos. Por fim, admoestado por Bernardo, o nobre se arrependeu e se converteu, vindo a ser religioso, mas o bispo cismático morreu orgulhosamente no erro, sozinho, sem confissão e sem o Viático (Eucaristia para os que estão moribundos).

Famoso ficou o debate entre Bernardo e Abelardo. Este, um importante filósofo, teólogo e lógico francês, defendeu ideias por demais racionalistas, e seu tratado sobre a Santíssima Trindade foi considerado herético em 1121, pois reduzia a Fé a uma mera opinião, à parte da Verdade Revelada. Além disso, insistia no subjetivismo da intenção pessoal como critério único para determinar a bondade ou malícia de um ato moral, descartando o significado objetivo do valor moral das ações. Bernardo o encontrou em 1141, e por fim Abelardo morreu em comunhão com a Igreja, arrependendo-se dos seus erros.

Bernardo também teve que combater a heresia de Pedro de Bruys e de seu seguidor Henrique de Lausanne, que negava o batismo das crianças e a existência do Pecado Original, entre outros aspectos da doutrina Católica. Em 1145 foi ao sul da França, onde sua atuação praticamente acabou de vez com os hereges henriquianos e pedrobrusianos (ali também pregou contra os cátaros ou albigenses). Em 1146 Bernardo, por carta, exortava aos fiéis da região para que se extinguisse definitivamente a heresia.

Reconhecido pela santidade e sabedoria, Bernardo foi respeitado em todo o continente europeu e convidado a opinar sobre assuntos públicos, aconselhando Papas e reis, e defendendo os direitos da Igreja contra o abuso dos nobres. Ficou conhecido como Pai dos fiéis, Coluna da Igreja, Apoio da Santa Sé, Anjo Tutelar do Povo de Deus.

Era extremamente devoto de Nossa Senhora. Suas palavras na catedral de Spira, Alemanha, ajoelhado diante da Sua imagem, foram fixadas no final da oração da Salve Rainha: “Ó Clemente, ó Piedosa, ó Doce Virgem Maria!”. Seu pensamento mariológico tinham por temas centrais a explicação da Virgindade Perpétua de Maria, Sua função como Medianeira de todos os dons e graças da Salvação, e como os fiéis deviam invocá-La.

A sua grande e profunda obra escrita inclui estes temas marianos e muitos outros, sobre Teologia, Doutrina, biografia. Os títulos mais conhecidos são, talvez, “Tratado Sobre o Amor de Deus”, “Opúsculo Sobre o Livre-Arbítrio”, “Sermões Sobre o Cântico dos Cânticos”, “Tratado da Consciência ou do Conhecimento de Si” e “As Heresias de Pedro Abelardo”. Para Maria Santíssima, compôs a letra e a música do hino Ave Maris Stella.

São Bernardo faleceu no dia 20 de agosto de 1153, aos 63 anos de idade. Aos monges que rezavam por sua vida, disse, um pouco antes: “Por que desejais reter aqui um homem tão miserável? Usai da misericórdia para comigo e deixai-me ir para Deus”.

São Bernardo foi eminente pregador, prior, abade, polemista, diplomata, polemista, teólogo, pacificador, escritor, conselheiro de Papas, bispos e reis. É considerado o segundo fundador da Ordem Cisterciense (ordem beneditina reformada por São Roberto de Molesme em 1098), pelo zelo na sua vivência e fundação de muitos mosteiros; atualmente, os cistercienses estão nos cinco continentes, havendo no Brasil inclusive uma cidade chamada Claraval, surgida a partir de um mosteiro, no Estado de Minas Gerais. Também parece certa a sua influência na independência de Portugal, que traria a Fé para o Brasil: por sua mediação direta, ou da sua abadia, o Papa Alexandre III teria enviado um legado à Península Ibérica reconhecendo, ao menos, o título de duque a dom Afonso Henriques e a submissão do novo país à Santa Sé em 1179.

 É Doutor da Igreja por suas pregações e escritos: "Doctor Mellifluus" (Doutor com voz de Mel), e considerado pelo Papa Pio XII como “o último dos Padres da Igreja, e não o menor” (Os “Padres da Igreja”, ou Santos Padres, Pais Apostólicos, Pais da Igreja, são os grandes católicos dos oito primeiros séculos depois de Cristo, na maioria bispos, cujos trabalhos servem de base doutrinária pela lucidez e correção dos seus ensinamentos).

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Bernard, ad quid veniste? (“Bernardo, a que vieste?”), perguntava-se um jovem Bernardo na francesa Borgonha do século XI. Qual o sentido da nossa existência? Os católicos o sabem, porque Jesus no-lo ensinou. Não há espaço para o ressurgente subjetivismo proposto por Abelardo, naquele século, e que tanta tristeza causa às pessoas. A cultura do relativismo ético já foi substituído, há muito, pela Verdade serena da Salvação, na qual temos a paz, e na qual, felizmente, morreu reconciliado Abelardo. Mas, para alcançar esta paz, vale o antigo ditado romano: Si vis pacem, para bellum, “se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Na eficaz devoção a Nossa Senhora, encontraremos como São Bernardo os necessários elementos de Fé, Esperança e Caridade que ele tão brilhantemente desenvolveu por escrito e pregou convincentemente, para vencer cismas, heresias e perseguições abusivas de muitos que se acham “nobres” o suficiente para querer “mudar” a Igreja de Cristo, Quem, como Deus, é imutável no Seu ser e nas Suas obras, perfeitas… Fomos chamados a esta vida pelo Senhor, para sermos felizes, embora a felicidade plena nos esteja reservada somente no Céu; saboreemos então no caminho para lá o mel da Santa Doutrina que São Bernardo nos transmitiu, no aconchego da nossa clemente, piedosa e doce Sempre Virgem Maria, Porta do Céu, e de mãos dadas com Ela estaremos seguros e não erraremos a direção.

Oração:

Senhor, que nos fizestes para Vós e para a alegria infinita, concedei-nos por intercessão de São Bernardo de Claraval ouvir e viver os ensinamentos da Vossa Igreja, fazendo das nossas almas como que vales clareados pela graça e pela proximidade de Maria Santíssima, e assim podermos efetivamente contribuir com as atuais e necessárias cruzadas pela Fé, no desejo firme de ir para Deus. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 19 de agosto de 2023

O Papa: reduzir as despesas militares e convertê-las em ajudas humanitárias

O refeitório da escola administrada pelas Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade na Missão de Laare, no Quênia (Vatican Media)

No Dia Mundial da Ajuda Humanitária, a partir da conta @Pontifex, o tuíte de Francisco faz um apelo para que se deponham as armas para incentivar uma cultura de apoio aos mais necessitados, mais de 130 milhões atualmente, devido a guerras ou desastres naturais. O número de incidentes envolvendo trabalhadores humanitários em todo o mundo mais do que triplicou desde 2003, com uma média anual de cerca de 450 assassinados, feridos ou sequestrados.

Antonella Palermo – Vatican News

No tuíte da conta @Pontifex divulgado neste sábado, 19 de agosto, por ocasião do Dia Mundial da Ajuda Humanitária, ressoa o apelo que é um dos temas do magistério do Papa Francisco: a construção da paz, que requer esforço e envolvimento social, e a mudança do "core business" das instituições internacionais das armas às necessidades urgentes dos povos em dificuldade.

“É nossa responsabilidade ajudar a erradicar dos corações o ódio e a violência. Encorajemos a depor as armas, a reduzir as despesas militares para prover às carências humanitárias, a converter os instrumentos de morte em instrumentos de vida”.

#NoMatterWhat, "aconteça o que acontecer"

Alimento, água, abrigo, educação, saúde, nutrição e proteção. Isso é o que as organizações humanitárias oferecem na maioria das situações em que as pessoas passam por fragilidades, perigos e miséria. O Dia Mundial da Ajuda Humanitária, estabelecido pela Assembleia Geral da ONU em 2008, homenageia a coragem e a dedicação dos trabalhadores humanitários em todo o mundo. "Não importa quem, não importa onde, não importa o quê" é o slogan escolhido este ano, conforme consta no site dedicado. Mais de 130 milhões de pessoas estão atualmente em crise, devido a guerras ou desastres naturais, precisando de ajuda humanitária. Não há escassez de operadores, geralmente bem treinados, animados pelos princípios básicos de humanidade, imparcialidade, neutralidade e independência. São pessoas cujo trabalho aumenta a conscientização pública sobre a situação dos civis em nível planetário, cientes, no entanto, de que estão assumindo um compromisso cada vez mais arriscado: na verdade, o número de incidentes em que estão envolvidos mais do que triplicou desde 2003, com uma média de cerca de 450 trabalhadores humanitários assassinados, feridos ou sequestrados a cada ano.

“"450 trabalhadores humanitários assassinados, feridos ou sequestrados em média a cada ano"”

Vinte anos após o ataque ao Canal Hotel de Bagdá

"Quantas guerras começaram por causa da arrogância, da indiferença e da falta de interesse para com as razões dos outros?" foi a pergunta feita pelo brasileiro Sergio Vieira de Mello, Representante Especial das Nações Unidas no Iraque, entre as 22 vítimas do ataque mortal ao Canal Hotel em Bagdá em 2003, que reduziu a sede da ONU na capital iraquiana a escombros. Esse foi um dos ataques mais mortais da história da ONU, a primeira vez que uma organização humanitária internacional neutra foi alvo. O fato ocorreu em 19 de agosto, daí a decisão de coincidir o Dia Mundial com uma data simbólica muito significativa. Uma data que também marcou um ponto de descontinuidade na ação humanitária. Vinte anos depois, é impressionante notar o quanto aquela ação terrorista hedionda não extinguiu a motivação dos trabalhadores, mas, de alguma forma, a encheu de significado. Isso é claramente perceptível nos inúmeros testemunhos dos sobreviventes que contam como vivem sua missão de resiliência, enraizamento no território e pertencimento às comunidades.

Refugiados (Vatican Media)

ONU: inaceitável reduzir a ajuda a milhões de pessoas

Hoje, as operações humanitárias globais atingem dez vezes mais pessoas do que há duas décadas, diz a mensagem do secretário-geral da ONU, António Guterres. Isso envolve levar ajuda que salva vidas a 250 milhões de pessoas em 69 países. "À medida que as crises se multiplicam, é inaceitável que os trabalhadores humanitários sejam forçados a reduzir a ajuda a milhões de pessoas necessitadas", denuncia, ao mesmo tempo em que observa que as tensões geopolíticas aumentaram nas últimas duas décadas, há um "flagrante desrespeito ao direito internacional humanitário e aos direitos humanos, campanhas de desinformação e agressão deliberada". O próprio humanitarismo", argumenta ele, "está agora sob ataque". Contra esse pano de fundo, no entanto, há desafios que tornaram a comunidade humanitária global mais forte, destaca a mensagem para o Dia. "Os humanitários, que em sua maioria são funcionários nacionais que trabalham em seus próprios países, estão ainda mais próximos das pessoas que atendem. Eles estão encontrando novas maneiras de se aventurar mais profundamente em regiões atingidas por desastres e mais perto das linhas de frente dos conflitos, movidos por um único objetivo: salvar e proteger vidas humanas."

Caritas Internationalis: respostas a crises complexas e prolongadas

"Hoje, nosso mundo enfrenta três ameaças principais: a crescente desigualdade, a multiplicação de conflitos e a emergência climática. Os trabalhadores humanitários se veem obrigados a responder a emergências cada vez mais complexas e crises prolongadas", comenta Alistair Dutton, secretário geral da Caritas Internationalis. "Nossos trabalhadores humanitários sacrificam cada elemento de si mesmos, sua segurança, para atender aos mais vulneráveis e garantir que seus direitos humanitários sejam garantidos a eles. Eles estão presentes antes, durante e muito depois de cada desastre", diz a organização em um comunicado. E especifica: "As pessoas a quem servimos não são simplesmente destinatárias de assistência humanitária, mas estão no centro de nossa ação", continua, enfatizando que todas as suas necessidades são consideradas, materiais, sociais, psicológicas e espirituais, a partir de uma perspectiva integral.

"Em países devastados pela guerra, como a Ucrânia ou a Síria, os trabalhadores humanitários continuam a atuar mesmo quando seus entes queridos foram mortos ou sequestrados, ou quando suas casas foram destruídas e eles próprios foram deslocados. Após o terremoto na Síria e na Turquia", relata Dutton, "muitos dos membros da equipe da Caritas Anatólia foram forçados a dormir em seus carros, mas nunca pararam de distribuir ajuda". No entanto, observa o secretário com amargura, a dedicação infelizmente se choca com as muitas e muitas vezes esquecidas crises (como na Etiópia, onde mais de 20 milhões de pessoas correm o risco de passar fome), a pobreza extrema e a falta de atenção da comunidade internacional.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF