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quinta-feira, 24 de agosto de 2023

São Bartolomeu

São Bartolomeu (revistaavemaria)

24 DE AGOSTO
APÓSTOLO
(SÉCULO I)

“Os filósofos, os reis e, numa palavra, todo o mundo, que se perdem em milhares de atividades, não podem nem mesmo imaginar quanto bem puderam realizar com a graça de Deus aqueles publicanos e pescadores.”

Mesmo que a história dos homens não nos ofereça particularidades importantes a respeito da vida da maior parte dos apóstolos, a veneração da Igreja a cada um deles foi sempre imensa. Eles, de fato, com o seu livre e amoroso consentimento, primeiro permitiram a Jesus reviver e transplantar para o colégio apostólico a vida da Trindade e, depois, difundi-la no mundo.

Bartolomeu quer dizer “filho de Tholmaj”, enquanto que o seu verdadeiro nome seria Natanael. Era originário de Caná da Galileia.

Seu encontro com Jesus é narrado no Evangelho de João 1,45-51.

Ao convite de Filipe para seguir Jesus de Nazaré, no qual ele reconhece o tão esperado Messias, Natanael responde que de Nazaré não se poderia esperar nada de bom. O amigo, porém, não o deixou em paz, lançando lhe o desafio de ir e ver com os próprios olhos. Natanael decidiu-se a acompanha-lo mais para agradar a Filipe do que na esperança de encontrar alguma coisa de importante, mas, assim que se apresentou diante do Mestre, sentiu-se surpreso com as palavras que ouviu: “Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade” (Jo 1,47).

O relato evangélico continua: “Natanael pergunta-lhe: ‘De onde me conheces?’ Respondeu-lhe Jesus: ‘Antes que Filipe te chamasse eu te vi quando estavas debaixo da figueira’. Replicou-lhe Natanael: ‘Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel!’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira, crês! Verás coisas maiores do que esta!’. Depois disse: ‘Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem’” (Jo 1,48-51).

Daquele dia em diante Natanael foi fidelíssimo ao Mestre e foi escolhido para fazer parte do grupo dos doze.

Depois de Pentecostes, algumas tradições o fazem apóstolo do norte da Índia e até mesmo da Arábia Feliz, o atual Iêmen; outros colocam o seu apostolado na Mesopotâmia, na Licaônia, na Frígia e, por fim, na Armênia, onde teria convertido o rei Polímio e teria depois sido esfolado vivo, segundo a lei da Pérsia.

As relíquias viajaram muito: da Armênia para a ilha de Lipari, em Benevento, Itália, e por fim para Roma, enquanto que sua cabeça é venerada em Frankfurt sobre o Meno, na Alemanha.

A liturgia ambrosiana o celebra com estas palavras: “O apóstolo Bartolomeu, seguindo o exemplo glorioso de Cristo, não hesitou por seu amor a derramar o próprio sangue. Com o triunfo admirável de seu martírio nos comunica uma grande esperança na nossa vitória”.

Fonte: https://revistaavemaria.com.br/

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

A liturgia é escola de vida – I (1/3)

© Anna Nass I Shutterstock

Por Don Emanuele Bargellini

A liturgia é escola de vida

Entenda o modo de viver de um grupo de pessoas, existente desde tempos imemoriais e presente em todas as grandes religiões: o monaquismo. E como esse modo de viver pode nos ajudar a ter uma vida mais plena:

O mundo atual está enfrentando mudanças radicais, grandes alterações climáticas, migrações de milhões de pessoas que fogem das guerras, da fome, da violência. As pessoas estão cada vez mais sozinhas, a família muitas vezes é fonte de risco, ao invés de ser proteção para as crianças e jovens. Quem tem coragem de se casar? E de ter filhos? As pandemias são globais. A destruição de um habitat como a Amazônia, por exemplo, afeta o mundo inteiro. A terra, os oceanos, a atmosfera estão cobertos de dejetos industriais, plásticos, lixo, etc. A depressão, as doenças psiquiátricas, nunca foram tão frequentes, e a isso acompanha a venda de remédios para a saúde mental – de longe os mais vendidos. Muitos se perguntam: será que estamos caminhando para um fim?

É nesse contexto, e a partir dessa realidade que temos diante dos olhos, que acreditamos valer a pena debruçar-se sobre o modo de viver de um grupo de pessoas, existente desde tempos imemoriais e presente em todas as grandes religiões: o monaquismo. Talvez, pela própria particularidade dessa vida e pela sua originalidade, ela possa contribuir para oferecer alternativas e pistas à sociedade contemporânea. E que contribuição ao mundo atual a experiência monástica poderia trazer se não a laboriosa atenção de buscar continuamente a Deus pedindo várias vezes na liturgia diária: “Deus vinde em nosso auxílio, Senhor socorrei-nos sem demora”? 

Este artigo deseja oferecer nossa pequena contribuição, em especial, à descoberta que a vida é e precisa ser essencialmente litúrgica; pois a liturgia é uma escola de vida indispensável.

O ritmo do tempo monástico e seu horizonte espiritual

A vida monástica é profundamente marcada pelo ritmo da liturgia das horas e da celebração eucarística, ao longo do dia, da semana e do ano. O lema “ora et labora” – com toda a variedade das aplicações que se encontram nas diversas tradições – interpreta bem o horizonte da vida dos monges e das monjas, centrado sobre a primazia de Deus, fortemente sublinhada pela dúplice afirmação da Regra de São Bento (RB): “Nada antepor ao amor de Cristo” (4, 21 e 72,11); “Nada antepor ao Opus Dei/oficio divino” (43,3). Estas afirmações estão em relação uma à outra, como as duas faces da mesma medalha. O horizonte de vida do monge e da monja, que São Bento acompanha com carinho e sabedoria de pai, em todas suas potencialidades e fraquezas humanas, resulta totalmente direcionado para Cristo. 

A expressão Opus Dei, habitualmente usada para indicar o Oficio divino ou Liturgia das horas, na realidade tem um duplo sentido. O primeiro destaca o agir de Deus, fonte e guardião da vida, na criação e na história, assim como na vida pessoal de cada um, em vista da nossa salvação e da nossa participação à sua própria vida. Reconhecer na fé a iniciativa gratuita e fiel de Deus, manifestada em Jesus, e responder a ele com gratidão e amor, é “cumprir a obra de Deus” à qual é chamado todo verdadeiro discípulo (cf Jo 8,27-28).  

O segundo sentido indica o serviço cultual, realizado pela igreja e pela comunidade monástica para honrar o Senhor, ao lembrar com gratidão e alegria as maravilhas operadas pela sua misericórdia, na confiante espera do seu cumprimento definitivo. Ao se reunir em seu nome, para celebrar a memória da obra salvífica do Senhor, com ritmo constante, que segue o curso natural do dia e da noite, a comunidade monástica renova sua disponibilidade interior ao Espírito, que é o primeiro sujeito ativo da celebração, e se disponibiliza a operar em sinergia com ele.  

O reconhecimento humilde e confiante da iniciativa de Deus na história da salvação e no próprio caminho espiritual, constitui um eixo fundamental na espiritualidade da RB, contra toda tentação de autojustificação, à qual estão frequentemente expostos os “espirituais” de todo tempo e cunho. Pelo contrário, para “habitar na tenda do Senhor”, isso é, para viver a autêntica relação com ele, os que procuram caminhar “guiados pelo evangelho”, “não se tornam orgulhosos por causa da sua boa observância, mas, julgando que mesmo as coisas boas não podem ser obra sua, mas foram feitas pelo Senhor, glorificam aquele que neles opera” (cf RB, Prol 29- 34).   

A existência assim orientada para o Senhor, se torna uma vida oferecida a Deus, culto espiritual próprio dos que “habitam na tenda do Senhor”, como dizia o grande padre da igreja Orígenes: 

Também tu, que seguis o Cristo e és seu imitador, se permaneceres na Palavra de Deus, se meditares sua lei dia e noite, se te exercitares nos seus mandamentos, estarás sempre no santuário e não sairás jamais. Pois, deves buscar o santuário não em um lugar, mas nas ações, na vida e nos costumes. Se estes são segundo Deus e correspondem a seus preceitos, mesmo quando estiveres em casa, ou na rua, na cidade, mesmo se te encontrares no teatro, se estiveres servindo ao Verbo de Deus, não tenhas dúvida, tu estás morando no santuário  

Opus Dei, no sentido de serviço cultual, litúrgico, desenvolve uma tarefa fundamental no processo de orientar e unificar o caminho espiritual e a vida da comunidade e de cada monge e monja. É o coração que faz circular o sangue em todo o corpo, até os órgãos mais distantes e as veias mais finas. É evidente que não esgota suas exigências e possibilidades. Todas, porém, as animas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Espetáculo brasileiro sobre a Laudato si’ conquista o mundo e o coração do Papa

Grupo de jovens de um projeto social do interior da Paraíba apresenta o espetáculo “Laudato si’. O Espaço da Vida da Terra” a públicos do Brasil, da França e da Itália até chegar à Praça São Pedro e para um espectador de excelência: o Papa Francisco. Foi um presente de aniversário pelos 8 anos de publicação da encíclica sobre o cuidado da casa comum.

https://youtu.be/JeTAWrvSpMw

Andressa Collet – Vatican News

Não só um professor de dança. Rodrigo Baima é o idealizador e coreógrafo do espetáculo “Laudato si’. O Espaço da Vida da Terra”, apresentado no Brasil e que fez turnê pela Europa em maio deste ano até chegar à Praça São Pedro para um espectador de excelência: o Papa Francisco. E justamente no dia de aniversário de 8 anos da sua encíclica pelo cuidado da casa comum, em 24 de maio.

“Tudo está conectado!”, diz Rodrigo, ao acrescentar: “a Laudato si’ tem uma importância muito grande para o projeto CEFEC, o Centro de Formação Educativo Comunitário originariamente conduzido pelas Irmãs da Providência. E através exatamente da temática Laudato si’ nós prezamos através da dança, da capoeira, da arte e tantas outras manifestações artísticas - indígenas e africanas - realmente o cuidado à ecologia integral, ou melhor, o cuidado ao pulmão amazônico.”

A delegação brasileira na Praça São Pedro, antes de encontrar o Papa (Vatican Media)

A dignidade humana construída no CEFEC

É o que também reforça o Papa Francisco, quando afirma que “nunca é demais insistir que tudo está interligado” (LS 137). Por isso a congregação das Irmãs da Providência, presente em várias partes do mundo, há quase 15 anos atende famílias brasileiras em situação de vulnerabilidade social ao fundar o CEFEC e trabalhar em comunidades do Paraná, São Paulo, Maranhão, Pernambuco, Bahia e Paraíba - como é o caso do instituto presente no bairro de Marcos Moura, um dos mais carentes e violentos da cidade de Santa Rita, região metropolitana de João Pessoa.

Grupo de jovens de um projeto social do interior da Paraíba apresenta o espetáculo “Laudato si’ para o Papa Francisco (Vatican Media)

Cerca de 10 mil crianças, adolescentes e jovens já foram acolhidos e incentivados à formação educacional e social para dar uma resposta contra a violência, os abusos e a exploração sexual e do trabalho infantil. Cursos pedagógicos e de qualificação profissional, como também serviços de assistência social oferecidos gratuitamente, são diretamente proporcionais à transformação de vidas, como a do próprio Rodrigo Baima, fruto do CEFEC, que tem procurado difundir os diferentes elementos da ecologia integral promovida pelo Papa através da performance cultural que leva o nome da encíclica de Francisco, em busca de soluções integrais “para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza” (LS 139). “O espetáculo transmite força, entusiasmo, ele traz essa originalidade dos povos originários que cuida, que alimenta exatamente a casa comum. E é exatamente através dessa casa comum que nós estamos hoje transmitindo, compartilhando para o mundo o cuidado à ecologia integral”, explica o brasileiro.

Imagem do espetáculo sobre a Laudato si’ do grupo brasileiro (Vatican Media)

Resgatar e valorizar a diversidade cultural indígena, quilombola e dos ribeirinhos - que por natureza se dedicam à preservação da floresta amazônica, e “são quem melhor cuida dos seus territórios” (LS 146) - é o objetivo do espetáculo, “num cuidado às riquezas culturais da humanidade” (LS 143). Rodrigo Baima, jovem do Maranhão que adotou a Paraíba como casa, conta que para a construção do show viajou quatro vezes para a Amazônia, especificamente para a cidade de São Gabriel da Cachoeira, considerada a cidade mais indígena do Brasil, para ter contato com os povos originários e buscar referências etnográficas. Esse é o exemplo de uma interação que ajuda a manter a identidade e os valores das comunidades aborígenes, como recorda o Papa Francisco na Laudato si’, porque elas “não são apenas uma minoria entre outras, mas devem tornar-se os principais interlocutores” (LS 146).

Rodrigo, um “ator social local a partir da sua própria cultura” (LS 144), virou assim uma ponte entre os afro-brasileiros de Marcos Moura e os indígenas da Amazônia após um período de dois anos de formação ecológica, que ganhou a colaboração do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral da Santa Sé. A performance é um misto de dança afro-brasileira com capoeira, uma interpretação artística em defesa da Amazônia e da cultura dos povos originários que alimentam a casa comum. Em contrapartida, a iniciativa do CEFEC oferece aos jovens meios para que possam desenvolver a confiança em si e no futuro através da arte.

Jovem brasileiro vai estrear filme sobre a Laudato si’

A diretora Lia Beltrami junto a Rodrigo e ao grupo de jovens brasileiros em Cannes (maio 2023) / Vatican Media

“Eu estou deixando as coisas acontecerem passo a passo”, finaliza Rodrigo, “porque nós não sabemos, inclusive, como será a nossa vida quando nós retornarmos. Mas uma coisa eu garanto a você: nós vamos continuar a pregar e nós vamos continuar a transmitir exatamente aquilo que a Laudato si’ sempre nos convida que é transmitir o amor, a paz, o cuidado um com o outro, isso é o mais importante. O espetáculo transmite, faz com que as pessoas se aproximem da gente exatamente por conta dessa mensagem.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

As causas de uma “crise eucarística” (3/4)

Celebração Eucarística (Presbíteros)

As causas de uma “crise eucarística”

A interface litúrgico-sacramental dessa teologia

O melhor de todos os teólogos que sintetizou o problema foi Rudolf Bultmann. Partindo da noção de “mito” na antiguidade, dos preconceitos racionalistas que negavam a priori a realidade do sobrenatural, da crítica histórico-textual das Escrituras e do existencialismo heideggeriano, criou uma teologia bíblica em que toda a Escritura é apresentada como construção mítica a ser desmitologizada pelo teólogo, em busca do seu núcleo fundamental.

Como, por este caminho, a consequência seria a completa implosão da Igreja, Bultmann encontrou uma solução pitoresca. Valendo-se das cerimônias das religiões pagãs, que realizavam seus cultos cosmogônicos através da encenação, pensando que tais encenações reproduziam efetivamente a realidade, ele interpreta em chave dramatológica e simbólica a ação litúrgica; em outras palavras, se tudo é mito, na liturgia, a encenação do mito o torna presente, de algum modo real.

“Assim como o batismo, também a ceia do Senhor foi derivada, segundo o modo de pensar dos mistérios, do destino do kyrios como fundamento instituinte; e especialmente da última ceia de Jesus com seus discípulos. É isso que dizem as palavras introdutórias de lCor 11,23: ‘O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue…’ E assim Marcos transformou o relato da última ceia em relato etiológico de um culto, entrançando a liturgia eucarística num relato mais antigo da última ceia de Jesus como uma ceia pascal. 

No fundo, derivando a ceia cúltica da última ceia de Jesus, ele indica como sua verdadeira fundamentação a morte do Kyrios; pois corpo e sangue de Jesus, que são distribuídos por ele nessa ceia, naturalmente são (como o confirmam justamente os elementos interpretativos secundários), em misteriosa antecipação, corpo e sangue do crucificado, do sacrificado. Paulo deixa entrever isso claramente na frase por ele acrescentada em 1Cor 11,26: ‘pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes do cálice, anunciais a morte do Senhor’.

Portanto, ele compreende a refeição eucarística como uma dramatização, nos moldes dos cultos de mistérios: a celebração representa a morte do Kyrios” (Bultmann, R., Teologia do Novo Testamento, Academia Cristã, Santo André: 2015, p. 201). Bultmann ilustra bem o fundamento dessa sua concepção do culto através do conceito de “espírito”, tomado desde uma perspectiva humanística:

“Para ilustrar o que acabo de dizer, podemos tomar como exemplo a noção neotestamentária de ‘espírito’. Durante o Século XIX, as filosofias de Kant e Hegel exerceram uma profunda influência sobre os teólogos que modelaram suas concepções antropológicas e éticas a partir destas filosofias. Por conseguinte, a noção neotestamentária de ‘espírito’ foi concebida num sentido idealista, segundo a tradição do pensamento humanístico cuja origem se remonta à filosofia idealista grega.

Considerava-se, pois, o ‘espírito’ como o poder da razão, no sentido amplo de um poder que atua, não só na lógica e no pensamento racional, senão também na ética, nos juízos morais e na conduta, como também no campo da arte e da poesia. (…) Graças a seus conhecimentos dos fenômenos psicológicos, os eruditos desta escola subtraíram algumas importantes ideias do Novo Testamento que até então haviam sido subestimadas ou passadas por alto. Reconheceram, por exemplo, a importância da piedade’ cultual e entusiástica, e das assembleias do culto; entenderam de um modo novo a noção de conhecimento que em geral não significa um conhecimento racional e teórico, senão uma intuição ou visão mística, uma união mística com Cristo” (Idem, Jesus Cristo e Mitologia, Novo Século, São Paulo: 203, pp. 38-39).

Quando essa concepção do culto a partir da performance e da dramatização se encontraram com a mistagogia de Jean Danielou, a alquimia estava feita. Em sua obra, Bíblia e liturgia: a teologia bíblica dos sacramentos e das festas segundo os Padres da Igreja (Bibbia e liturgia: la teologia biblica dei sacramenti e delle feste secondo i Padri della Chiesa, Società Editrice Vita e Pensiero, Milano 1958), Danielou introduz uma nova perspectiva na teologia sacramentária: se antes esta se preocupava sobretudo com a forma sacramental incutida na matéria, agora ele deslocava essa preocupação para o significado da própria matéria sacramental, para, a partir deste, compor a sua análise dos sacramentos (aqui fundava-se a nova mistagogia que fez com que os ritos litúrgicos fossem muito mais abordados a partir da valorização dos símbolos para uma espécie de catequese de proveito subjetivo que propriamente da eficácia sacramental, como a Igreja fizera tradicionalmente).

Pe. Dr. José Eduardo de Oliveira e Silva

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Santa Rosa de Lima

Santa Rosa de Lima (A12)

23 de agosto

Santa Rosa de Lima

Isabel Flores y Oliva nasceu no ano de 1586 em Quives, província de Lima, Peru, décima de 13 irmãos de um rico casal espanhol. Contudo os negócios da família declinaram até a pobreza, e Isabel trabalhou na lavoura e como doméstica.

“Rosa” era um carinhoso apelido que recebeu por sua beleza. Mas como desde pequena desejava se consagrar a Deus, e querendo evitar os riscos da vaidade, cortou os cabelos, dedicando-se a jejuns e penitências. Quando a quiseram casar, renovou o voto de castidade feito anterior e secretamente, e entrou para a Ordem Terceira Dominicana, imitando Santa Catarina de Sena, a quem tinha devoção. Nesta ocasião, mudou oficialmente o nome para Rosa de Santa Maria, o sobrenome em honra e veneração à Mãe de Deus.

Construiu ela mesma uma pequena cela no quintal da casa dos pais, de formato quadrangular e baixa, onde se dedicava à oração e às penitências, muito árduas. Uma delas era o uso de uma coroa de espinhos de metal, que disfarçava com botões de rosas. Dormia sobre uma tábua com pregos e aumentou os dias de jejum. Esta cela era abafada e muitos mosquitos ali entravam; Rosa “pediu” a eles, em oração a Deus, que não a incomodassem, e foi atendida. Passou a ajudar no sustento da família fazendo rendas e bordados na mesma cela, com a permissão do seu confessor de só sair dali para receber a Eucaristia. Mas também auxiliava caridosamente os doentes, particularmente os negros e indígenas, na época tratados com desprezo e abandono.

Seu permanente e íntimo contato com Deus a elevou para um alto grau de vida contemplativa e com extraordinárias experiências místicas. Certa vez, confrontou o demônio, que lhe apareceu numa parede externa da casa próxima à sua cela. Obteve ainda em vida muitas conversões e milagres, como a prevenção da invasão de piratas holandeses a Lima, em 1615. E uma Comissão mista de religiosos e cientistas a examinaram, para concluir que suas manifestações místicas eram verdadeiramente “dons da graça”.

Rosa trabalhou como doméstica nos últimos três anos da sua vida, na casa de Don Gonzalo de Massa, um empregado do governo. Além das duras incompreensões e perseguições ao longo da vida, sofreu a cruz de uma grave e dolorosa doença. Neste período, dizia frequentemente: “Senhor, fazei-me sofrer mais, contanto que aumenteis meu amor para Convosco”. Com 31 anos apenas, na casa onde trabalhava, agora o Mosteiro de Santa Rosa, faleceu cumprindo uma profecia, pois todo ano passava o dia de São Bartolomeu em oração, dizendo: “Este é o dia das minhas núpcias eternas”. De fato, a data foi 24 de agosto, festa de são Bartolomeu, de 1617.

Suas exéquias mobilizaram toda a cidade de Lima, e antes mesmo da sua canonização em 1671, cujo processo foi iniciado por aclamação pública apenas oito dias depois do seu sepultamento, foi proclamada Padroeira do Peru (1669), e da América Latina e das Filipinas (1670). Na bula de canonização, consta: “Não podia faltar à cidade dos Reis, como costuma chamar-se Lima, a estrela própria, que conduzisse a Cristo, Senhor e Rei dos Reis”.

Santa Rosa de Lima é também padroeira dos jardineiros e dos floristas. Somente no Peru, há mais de 70 povoados com o seu nome. Quando do traslado do seu corpo para a Capela do Rosário, a imagem de Nossa Senhora, diante da qual rezara muitas vezes, sorriu-lhe, o que foi constatado pela multidão presente.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Santa Rosa de Lima procurou, prudentemente, esconder a beleza do corpo, mas não se pode esconder a beleza de alma. Devotando-se à Eucaristia e à Virgem Maria, a marca mais característica dos santos, Rosa trabalhou na lavoura das boas obras e assim exalou o perfume da santidade que se inicia e multiplica nos botões do Rosário. Plantou orações, caridade e penitências, cujos espinhos coroaram seus esforços de perfeição. Neste particular, dizia que “Fora da Cruz não existe outra escada por onde subir ao Céu” (afirmação mencionada no Catecismo da Igreja Católica). Lima remete ao cítrico; num meio ácido é adequado o ambiente de purificação... As penitências nos tornam domesticados na casa do Senhor, a Igreja, e a servindo imitamos o exemplo de Santa Rosa. Que, como ela, Deus só nos permita sair desta casa para receber a Eucaristia infinita, não para ir para o inferno.

Oração:

Senhor Deus, que substituístes o jardim perecível do Éden pelas flores perenes da Redenção, concedei-nos por intercessão de Santa Rosa de Lima a proteção da América Latina contra os Vossos inimigos; e a graça de edificarmos a alma como uma cela de onde, estando com Cristo, produzamos rendas e bordados de caridade para os irmãos, e assim prevenidos das abordagens do diabo, da carne e do mundo, não sejamos por eles invadidos, podendo ser recebidos na vida infinita pelo sorriso de Nossa Senhora, Porta do Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e por Vossa e Nossa Mãe. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Quem eram os gentios de que fala a Bíblia?

Basílica de São Paulo, o "Apóstolo dos Gentios" | Shutterstock

Por Philip Kosloski

Inicialmente houve muita discussão entre os apóstolos sobre pregar ou não aos gentios o Evangelho de Jesus Cristo.

Ao ler a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, você frequentemente encontrará a palavra “gentio”. O que ela significa?

Enciclopédia Católica explica esse termo da seguinte maneira: “palavra de origem latina e geralmente empregada no plural, designa coletivamente as nações distintas do povo judeu”.

A principal razão pela qual os gentios são mencionados na Bíblia é que, “como descendentes de Abraão, os judeus se consideravam – e eram de fato, antes da vinda de Cristo – o povo escolhido de Deus. Como as nações não-judaicas não adoravam o verdadeiro Deus e geralmente se entregavam a práticas imorais, o termo Gôyîm, ‘gentios’, muitas vezes tem nas Escrituras Sagradas, no Talmud, etc., um significado depreciativo”.

Inicialmente houve muita discussão entre os apóstolos sobre pregar ou não aos gentios o Evangelho de Jesus Cristo.

Felizmente, São Paulo tornou-se o “Apóstolo dos Gentios” e assumiu a responsabilidade de evangelizar todas as pessoas, tanto judeus quanto gentios, certificando-se de que todos soubessem da obra salvadora de Jesus Cristo.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

As causas de uma “crise eucarística” (2/4)

Celebração Eucarística (Presbíteros)

As causas de uma “crise eucarística”

Origens teológicas da “crise eucarística”

As heresias dos reformadores acerca deste Sacramento produziram a defesa dogmática que, depois do Concílio de Trento, se tornou ainda mais firme. Foram nos últimos séculos que, graças à influência do protestantismo liberal, novas ameaças começaram a pairar sobre este sacramento. Precisamos proceder por partes.

O abuso do método histórico-crítico na leitura da Sagrada Escritura Gerhard Hasel, em seu livro Teologia do Antigo Testamento, explica as fases que os estudos bíblicos tiveram no protestantismo. Segundo ele, “o princípio protestante Sola Scriptura, que se transformou no grito de guerra da Reforma contra a teologia escolástica e a tradição eclesiástica, preparou o terreno para o desenvolvimento subsequente da teologia bíblica através de sua conclamação à ‘livre interpretação’ das Escrituras” (p. 13).

Um segundo momento seria o originado pelo pietismo. “O retorno ao domínio da Bíblia, característica do pietismo alemão, deu novo curso à teologia bíblica. Nesse movimento, esta tornou-se um instrumento de reação à árida ortodoxia protestante’. Philipp Jacob Spener (1635-1705), um dos pais do pietismo, combateu o escolasticismo protestante munido da ‘teologia bíblica’” (p. 14).

A partir daí, ele narra com grandeza de detalhes como a teologia bíblica se foi independentizando da dogmática até que chega um momento decisivo, no final do século XVIII:

“O neólogo e racionalista Johann Philipp Gabler (1753-1826), que nunca escreveu ou mesmo pretendeu escrever uma teologia bíblica, contribuiu de forma decisiva e marcante para o desenvolvimento da nova disciplina, com sua palestra de abertura na Universidade de Altdorf, em 30 de março de 1787. Esse ano marcou para a teologia bíblica o início de seu papel de disciplina exclusivamente histórica, totalmente independente da dogmática. Gabler dá sua famosa definição: ‘A teologia bíblica possui um caráter histórico: ela transmite o que os escritores sacros pensavam de temas divinos; já a teologia dogmática possui um caráter didático: e transmite as ponderações filosóficas de determinado teólogo acerca de temas divinos, levando em conta sua capacidade, época e região em que viveu, e orientação ou escola, entre outras coisas’” (pp. 17-18).

A partir daí, Hasel traça todo o caminho pelo qual a crítica histórica se tornará cada vez mais hegemônica até que aconteça o processo inverso: uma vez tendo se independentizado da dogmática, as ciências bíblicas quererão construir uma própria teologia a partir de suas novas suposições. O método histórico-crítico, portanto, não é o problema em si, mas o abuso no seu uso passou a ser um problema na medida em que se pretendeu criar uma nova teologia.

Novas teologias

A tentação de se reconstruir a teologia depois do desmonte da Escritura é muito forte. Se Lutero havia semeado o veneno do Sola Scriptura, o processo subsequente fará com que a Escritura seja desmontada. Consequentemente, os teólogos não conseguirão resistir à tentação de refundar a teologia sobre as novas especulações bíblicas e até arqueológicas.

O cristianismo, obviamente, é muito maior do que tudo isso. Como de algum modo reconhece Gabler, o cristianismo consiste na fusão entre a tradição Escriturística e a elaboração da Sagrada Tradição, recepcionante da síntese filosófica que aglutinou os maiores pensadores de todo o tempos, desde a filosofia até o direito. Nesse sentido, o cristianismo é a síntese mais elevada da história; e o marco epistemológico no qual se situa está muito além da pura e simples textualidade bíblica, pois, sem negá-la ou suprimi-la, assimila-a numa percepção concreta da realidade, em todos os seus níveis, físicos e metafísicos, naturais e sobrenaturais.

Assim como a física moderna reduziu a realidade aos seus aspectos quantificáveis e a filosofia moderna, seguindo o seu encalço, reduziu a elaboração racional à percepção sensível ou às abstrações idealistas, os teólogos modernos reduziram a Teologia à crítica bíblico-histórica, ignorando todas as demais camadas da síntese teológica cristã. O resultado disso é que, desmanchada a teologia tradicional e reduzida a Escritura a um mero epifenômeno histórico, o dogma foi esvaziado num subjetivismo radical, condensado, num primeiro esforço, naquilo que o Papa São Pio X chamou de “modernismo”.

Após a repressão dos anos posteriores à Pascendi do Papa Sarto, os modernistas recobraram novo fôlego e deram um passo a mais, rendendo-se às filosofias que, então, estavam na moda, como a fenomenologia, o existencialismo e o marxismo. Surgia, então, aquela que foi depreciativamente chamada de “Nova Teologia”, que abandonava aquilo que os seus autores consideravam como discussões meramente escolásticas e começaram a engajar-se nas especulações das filosofias contemporâneas e nas demandas das ciências sociais.

Reféns da crítica histórica, esses autores deram pé àquilo que se convencionou chamar de “cristologia de baixo”, especialmente inspirada nos Evangelhos sinóticos, e que privilegiava uma abordagem humana de Jesus, a qual, sem negar explicitamente a sua divindade, tentava rastrear a práxis do “Jesus histórico”, aquém das “mitologizações” da Igreja primitiva, que, segundo eles, ornaram-no da áurea de divindade para tornar-se mais palatável aos poderes políticos da época.

Pe. Dr. José Eduardo de Oliveira e Silva

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Sobre "uma segunda parte da Laudato si’" que o Papa está escrevendo

Papa pretende atualizar a Laudato si' abordando, em particular, as crises climáticas (© WFP/Sandaeric Nirinarison)

Falando a uma delegação de advogados de países membros do Conselho da Europa, Francisco disse que está trabalhando em uma atualização da Encíclica publicada em 2015. O diretor da Sala de Imprensa vaticana especificou que se trata de uma Carta que aborda, em particular, as recentes crises climáticas.

Vatican News

"Estou escrevendo uma segunda parte da Laudato si’ para atualizar as questões".

Foi o que o Papa disse na manhã desta segunda-feira, 21 de agosto, dirigindo-se a uma delegação de advogados de países membros do Conselho da Europa que são signatários do Apelo de Viena, ao tempo em que eventos extremos continuam a afetar as populações em todos os continentes do mundo. O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, especificou que esta é uma Carta que visa abordar as recentes crises climáticas em particular.

Francisco, durante a audiência desta segunda-feira, estava expressando seu apreço pelo compromisso com a elaboração de um quadro normativo em favor da proteção ambiental:

"Nunca devemos esquecer que as gerações mais jovens têm o direito de receber de nós um mundo belo e habitável, e que isso nos investe de sérios deveres para com a criação que recebemos das mãos generosas de Deus. Obrigado por essa contribuição".

Laudato si' é a segunda Encíclica de Francisco: publicada em 18 de junho de 2015, tem a data de 24 de maio do mesmo ano, Solenidade de Pentecostes. O documento, dedicado ao "cuidado com a casa comum", toma seu título do incipit do Cântico das Criaturas de São Francisco e se inicia da seguinte forma:

"Laudato si', mi' Signore", cantava São Francisco de Assis. Nesse belo cântico, ele nos lembrou que nossa casa comum também é como uma irmã, com quem compartilhamos a existência, e como uma bela mãe que nos acolhe em seus braços: "Louvado sejas, meu Senhor, por nossa querida mãe Terra, que nos sustenta e governa, e produz diversos frutos com coloridas flores e relva".

O próprio Papa quis esclarecer o significado dessa Encíclica, pouco depois de sua publicação, na audiência de 21 de julho de 2015 aos participantes do Workshop intitulado "Escravidão moderna e mudança climática: o compromisso das cidades":

Esta cultura do cuidado do meio ambiente não é unicamente uma atitude — digo-o no bom sentido da palavra — «verde», não é uma atitude «verde», mas muito mais. Ou seja, cuidar do meio ambiente significa uma atitude de ecologia humana. Isto é, não podemos dizer: a pessoa está aqui e a Criação, o meio ambiente, está ali. A ecologia é total, é humana. Foi o que eu quis dizer na Encíclica Laudato si: que não se pode separar o homem do resto; há uma relação de incidência mútua, quer do ambiente sobre a pessoa, quer da pessoa sobre o modo como ele cuida do meio ambiente; e também o efeito de repercussão contra o homem quando o meio ambiente é maltratado. Por isso, a uma pergunta que me dirigiram, eu respondi: «Não é uma Encíclica “verde”, mas social», porque no contexto social, na vida social dos homens, não podemos separar o cuidado do meio ambiente. Ainda mais, o cuidado do meio ambiente é uma atitude social, que num certo sentido nos socializa — cada um pode atribuir-lhe o valor que quiser — e, além disso, nos leva a receber — gosto da expressão italiana, quando se fala do meio ambiente — da «Criação», daquilo que nos foi concedido como dom, ou seja, o meio ambiente.

Na Encíclica, ele recorda que escolheu o nome de Francisco como guia e inspiração para seu pontificado:

Acho que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. É o santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos. Manifestou uma atenção particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados. Amava e era amado pela sua alegria, a sua dedicação generosa, o seu coração universal. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior.

E ele apela para o desafio urgente de proteger nossa casa comum a fim de construir um futuro melhor para toda a humanidade, sem excluir ninguém:

Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na consciencialização. Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal. Como disseram os bispos da África do Sul, «são necessários os talentos e o envolvimento de todos para reparar o dano causado pelos humanos sobre a criação de Deus». Todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

O Papa: estou escrevendo uma 2ª parte da Laudato si’ para atualizar questões

O Papa com uma delegação de advogados de países membros do Conselho da Europa signatários do Apelo de Viena (Vatican Media)

O anúncio foi feito pelo Santo Padre durante audiência esta segunda-feira (21/08), no Vaticano, a uma delegação de advogados de países membros do Conselho da Europa signatários do Apelo de Viena.

Raimundo de Lima – Vatican News

Estou escrevendo uma segunda parte da Laudato si’ para atualizar as questões: foi o que disse o Papa Francisco ao receber em audiência na manhã deste segunda-feira, 21 de agosto, no Vaticano, uma delegação de advogados de países membros do Conselho da Europa signatários do Apelo de Viena, que pede aos Estados membros do Conselho que se comprometam com o Estado de direito e a independência da justiça.

Guerra insensata na Ucrânia

Esse Apelo se insere no atual contexto europeu, que é difícil em muitos aspectos devido, entre outras coisas, à guerra sem sentido no território da Ucrânia, acrescentou o Santo Padre, agradecendo aos presentes por sua importante contribuição para a promoção da democracia e do respeito à liberdade e à dignidade humana.

Francisco ressaltou que tempos de crises sociais, econômicas, de identidade e de segurança desafiam as democracias ocidentais a responder de forma eficaz a elas, mantendo-se fiéis a seus princípios; princípios que devem ser continuamente recuperados e cuja defesa exige grande vigilância, observou.

A esse propósito, o Pontífice lembrou que o Estado de direito está a serviço da pessoa humana e busca tutelar sua dignidade, e isso não admite nenhuma exceção. É um princípio.

O Papa com uma delegação de advogados de países membros do Conselho da Europa signatários do Apelo de Viena (Vatican Media)

Inviolabilidade da dignidade da pessoa humana

Deve-se lembrar que o fundamento da dignidade da pessoa humana reside em sua origem transcendente, que, consequentemente, proíbe qualquer violação da mesma; e essa transcendência exige que, em toda atividade humana, a pessoa seja colocada no centro e não fique à mercê das modas e dos poderes do momento.

De fato, "uma Europa que não é mais capaz de se abrir para a dimensão transcendente da vida é uma Europa que lentamente corre o risco de perder sua alma e também aquele 'espírito humanista' que ela ama e defende", continuou o Papa.

Francisco evidenciou que o respeito aos direitos humanos pode ser assegurado e um Estado de direito só pode encontrar solidez na medida em que os povos permanecem fiéis às suas raízes que são alimentadas pela verdade, que constitui a força vital de qualquer sociedade que aspira a ser verdadeiramente livre, humana e solidária. O Papa chamou a atenção para o fato de que sem essa busca pela verdade sobre o homem, de acordo com o plano de Deus, cada um se torna a medida de si mesmo e de suas próprias ações.

Responsabilidades para com a Criação de Deus

Dirigindo-se diretamente aos signatários do Apelo de Viena, o Santo Padre acrescentou:

Prezados advogados, apreciei em vosso Apelo, entre os aspectos a serem observados em relação à vossa profissão, a lembrança do princípio fundamental do segredo profissional, cuja violação deplorais em alguns Estados-Membros. Entendo e compartilho vossa preocupação e vos encorajo em vossa ação. É essencial que os espaços de confidencialidade sejam preservados em nossas sociedades, onde as pessoas podem se expressar e expor seus fardos. Isso é muito importante.

Por fim, o Santo Padre expressou sensibilidade ao cuidado com que eles têm pela casa comum e ao compromisso de participar do desenvolvimento de uma estrutura normativa em favor da proteção ambiental. Nunca devemos esquecer que as gerações mais jovens têm o direito de receber de nós um mundo belo e habitável, e que isso nos investe de sérios deveres para com a criação que recebemos das mãos generosas de Deus. Obrigado por essa contribuição.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF