Translate

sábado, 26 de agosto de 2023

Se você morresse hoje, quem ficaria com tudo o que você acumulou?

ViaLivestream - Shutterstock

Por Mónica Muñoz

O consumismo de hoje nos oprime e nos impede de pensar no que é realmente importante.

O Evangelho de São Lucas apresenta um episódio muito atual. Um homem rico obteve grandes colheitas. Ele tinha tanto que seus celeiros não conseguiam mais conter o produto, a ponto de ele decidir destruí-los e construir outros maiores. Ele então dialoga consigo mesmo: “Minh’alma, tens bens guardados para muitos anos. Descansa, come, bebe e desfruta de uma vida boa”. Os planos pareciam bons, mas Jesus comenta, ao contar essa parábola, que Deus dá uma resposta inesperada àquele homem: “Insensato, nesta mesma noite morrerás. Para quem ficará o que acumulaste?” (cf. Lc 12, 19-20).

Aprender a viver em austeridade

Essa mesma história se repete diariamente. Homens e mulheres se esforçam num trabalho excessivo para se abastecerem de bens materiais, sem deixarem tempo para o que importa. E é aqui que nos deparamos com o monstro do consumismo, que nos impede de ver o que realmente vale a pena.

Dom José Ignacio Munilla, bispo de Orihuela-Alicante, na Espanha, falou aos jovens na última Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, sobre este assunto. Ele recordou que os seus pais educaram os filhos com muita austeridade. Não jogavam fora os alimentos e passavam as roupas para a próxima geração, por exemplo. Já hoje, comentou o bispo, o consumismo ensina que “tudo é para usar e jogar fora, nada vale o esforço de ser consertado, tudo tem que ser novo”; por isso mesmo, o consumismo “corrompe a alma”, já que estende a cultura do descarte também às relações humanas e às próprias pessoas. Pode-se viver melhor com menos; entretanto, as pessoas estão cheias de tantas coisas que não conseguem enxergar este fato.

Se refletíssemos sobre o que disse nosso Senhor Jesus Cristo, poderíamos realmente entender que tudo o que acumulamos nos liga ao meramente material – e às vezes leva a verdadeiras injustiças, pois o que sobra para alguns falta a muitos que não têm nada.

E se você morresse esta noite?

Para quem ficará tudo o que acumulamos ao longo do caminho da nossa existência? Vale a pena fazer um exercício de sinceridade e pedir a Deus que nos ajude a ver que, mais cedo ou mais tarde, deixaremos este mundo – e seria melhor se o fizéssemos de malas vazias. Que o Espírito Santo aumente em nós a virtude da generosidade.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa aos jovens russos: sejam artesãos da paz em meio aos conflitos

O Papa em conexão com o 10º Encontro Nacional de Jovens Católicos em São Petersburgo, Rússia (Vatican Media)

Francisco falou esta sexta-feira, 25 de agosto, por meio de conexão vídeo, na Jornada da juventude russa, que começou há três dias em São Petersburgo. Para os participantes reunidos na Basílica de Santa Catarina, na cidade russa, convidou-os a serem "semeadores de sementes de reconciliação, pequenas sementes que, neste inverno de guerra, não brotarão no solo congelado por enquanto, mas florescerão em uma futura primavera".

Antonella Palermo – Vatican News

Quase 2.500 quilômetros em linha reta, mas isso não foi obstáculo para estar "um pouco juntos". Por pouco mais de uma hora, o Papa Francisco interagiu à distância com cerca de 400 jovens rapazes e moças que estão participando do 10º encontro nacional de jovens católicos da Rússia, em São Petersburgo, até 27 de agosto. O Pontíficer ouviu dois testemunhos deles, fez-lhes um discurso e respondeu espontaneamente (isto é, sem texto) a algumas perguntas, desde o papel da diplomacia nos conflitos até como viver as uniões matrimoniais apesar de pertencerem a diferentes confissões.

Encontrar-se unidos sob o manto da Igreja universal

A preciosidade dessas jornadas, realizadas desde 2000 e organizadas este ano pela primeira vez em São Petersburgo, é grande, e o Papa se alegra por isso. Acima de tudo, ele expressa sua admiração ao saber que alguns participantes tiveram que viajar até mesmo 9.000 quilômetros para chegar lá: "Isso é lindo", disse ele, acrescentando que é um sinal da unidade da juventude da Rússia como um todo. De fato, encontram-se reunidos aí de 54 cidades da Federação, de Kaliningrado a Vladivostok, mas graças à tecnologia "podemos nos abraçar no Espírito que nos é dado, como o abraço de Maria a Isabel", disse dom Paolo Pezzi, arcebispo da Mãe de Deus em Moscou, em sua saudação introdutória. Esse encontro é uma das poucas oportunidades de nos conhecermos, de compartilharmos testemunhos de fé; a comunicação com o Papa traz uma alegria especial, ressaltou ele no início, porque se pode experimentar não apenas a unidade dentro da Igreja local, mas também a unidade com a Igreja universal.

Substituam os medos pelos sonhos

Dirigindo-se aos jovens russos, depois de ouvir os dois testemunhos de Alexander e Varvara, o Papa retomou três ideias em torno do lema da JMJ de Lisboa, "Maria levantou-se e partiu apressadamente" (Lc 1,39), para que possam, disse, trabalhar mais sobre ele.

Desejo a vocês, jovens russos, a vocação de serem artesãos da paz em meio a tantos conflitos e em meio a tantas polarizações que vêm de todos os lados e que assolam o nosso mundo. Convido-os a serem semeadores de sementes de reconciliação, pequenas sementes que, neste inverno de guerra, não brotarão no solo congelado por enquanto, mas florescerão em uma futura primavera. Como eu disse em Lisboa: 'Tenham a coragem de substituir os medos por sonhos; substituam os medos por sonhos, não sejam administradores de medos, mas empreendedores de sonhos! Deem-se ao luxo de sonhar grande!

Francisco retomou o episódio do encontro entre Maria e Isabel. Lembrou que o Senhor chama pelo nome, antes dos talentos que temos, antes de nossos méritos, "antes de nossas trevas e feridas". Lembrou dessas duas mulheres "tornando-se testemunhas do poder transformador de Deus", lembra da pressa de Maria em espalhar sua alegria.

Quando Deus nos chama, não podemos ficar parados, devemos nos levantar e com pressa, porque o mundo, o irmão, o sofredor, aquele que está ao lado e não conhece a esperança de Deus precisa recebê-la, precisa receber a alegria de Deus. Levanto-me apressadamente para levar a alegria de Deus.

O amor de Deus é para todos

O amor de Deus pode ser reconhecido por sua hospitalidade: Deus sempre acolhe, cria espaço para que todos possam encontrar um lugar, sacrifica-se pelo outro, está atento às necessidades do outro.

O Papa ressaltou que "o amor de Deus é para todos e a Igreja é de todos" e exortou a recordar o Evangelho onde se conta o convite do dono do banquete nas encruzilhadas para levar o Evangelho a todos: "Eis o que Jesus queria dizer: todos, todos, todos”.

A Igreja é uma mãe de coração aberto que sabe como acolher e receber, especialmente aqueles que precisam de mais cuidados. A Igreja é uma mãe amorosa, porque é o lar daqueles que são amados e daqueles que são chamados. Quantas feridas, quanto desespero podem ser curados onde alguém se sente acolhido. E a Igreja nos acolhe. É por isso que sonho com uma Igreja onde ninguém esteja em excesso, onde ninguém seja extra. Por favor, que a Igreja não seja uma alfândega para selecionar quem entra e quem não entra. Não: todos, todos. A entrada é gratuita e, então, cada um ouve o convite de Jesus para segui-lo, para ver como está diante de Deus; e para esse caminho há os ensinamentos e os sacramentos.

Jovens e idosos se abram uns aos outros

Também nesta circunstância, o Papa retomou a ideia que lhe é cara de diálogo entre jovens e idosos e a importância da transferência de experiência que deve ocorrer. Voltou ao encontro entre Maria e Isabel, que é o sonho. Convidou a sermos "construtores de pontes entre gerações, reconhecendo os sonhos" dos antecessores, dos avós. "A aliança entre gerações mantém viva a história e a cultura de um povo". Ele insistiu na importância de ser "um sinal de esperança, paz e alegria, como Maria". Imitando a humildade dela, "vocês também", disse ele, "podem mudar a história em que vivem".

Assim, os idosos sonham com a democracia e a unidade das nações, enquanto os jovens profetizam e são chamados a ser artesãos do meio ambiente e da paz. Isabel, com a sabedoria de seus anos, era idosa; ela fortaleceu Maria, que era jovem e cheia de graça, guiada pelo Espírito.

Alexander, de satanista a seminarista: somente Cristo liberta das trevas

O testemunho de Alexander Baranov, de 34 anos, é o de um ex-satanista, que participou de rituais ocultos até uma década atrás. Em seguida, entrou para o seminário e fez o caminho do discernimento rumo ao sacerdócio. A coisa mais importante, explica ele, é tirar as pessoas da escuridão, caso contrário, o resto do esforço para tornar a Igreja mais "atraente" é em vão. Entre as causas de uma deriva, Alexander observa que podem estar o medo, a dor da perda, a experiência da própria fraqueza, a violência vivida, um trauma. Condições a partir das quais pode surgir um sentimento de indignidade da felicidade que pode levar ao ódio. Ele mencionou o recurso à superstição por muitos, inclusive jovens. Deveríamos falar, ressaltou ele, sobre como Cristo mostra que, apesar de nossa fraqueza e negatividade, somos dignos de vida, salvação e amor. "Parece-me que essa experiência libertadora é mais importante do que todos os nossos planos sobre como levar as pessoas a Cristo. Isso é mais importante do que todas as nossas disputas sobre a forma da liturgia, igrejas, edifícios, o papel de certas pessoas na Igreja. Porque tudo isso - concluiu ele - não é capaz nem de atrair nem de salvar. É Cristo quem realmente cura, quem realmente conduz das trevas para a luz, da morte para a vida, de Satanás para Ele mesmo e para o Pai".

Varvara: a fé e a Igreja ajudam nos sacrifícios diários

Varvara Molotilova é a segunda de oito filhos. Ela contou ao Papa como a fé católica é vivida e transmitida em sua família. Seus pais se casaram na igreja graças à comunidade nascida nos Urais, onde o padre Yaroslav, que era o decano da paróquia de Ekaterinburg, servia. Varvara contou que sua fé, embora nascida no seio da família, foi depois uma escolha livre, e exaltou o amor de seus pais que, como um casal cristão crente, ensina humildade, paciência e dignidade ao enfrentar os sacrifícios diários, graças ao apoio da Igreja.

O estilo das jornadas dos católicos russos

O encontro nacional em andamento em São Petersburgo continua até 27 de agosto e inclui catequese todas as manhãs em grupos de 25 a 30 pessoas em diferentes locais da cidade, com base no modelo e nos temas de Lisboa: ecologia integral, amizade social, misericórdia de Deus. A dinâmica é colocar em prática o método sinodal com os jovens, para que eles possam experimentar o significado de comunhão, participação e missão. Os jovens russos são acompanhados por padres, religiosos e religiosas responsáveis pela pastoral da juventude e pelos cinco bispos: Paolo Pezzi, metropolita da Arquidiocese da Mãe de Deus em Moscou, e o auxiliar Nikolai Dubinin; Clemens Pickel, da Diocese de São Clemente em Saratov; Joseph Werth, da Diocese da Transfiguração em Novosibirsk; Kirill Klimovich, da Diocese de São José em Irkutsk. Há também estudantes estrangeiros que vivem na Rússia, da Armênia, Azerbaijão, Índia, Colômbia e outros países. À tarde, eles se reúnem em três diferentes paróquias da cidade, onde celebram a liturgia juntos. Na quinta-feira, 24 de agosto, foi realizado um dia vocacional em que representantes de diferentes comunidades monásticas e de jovens falaram sobre seu ministério.

Dom Pezzi: um evento único

Falando à Rádio Vaticano-Vatican News após a conexão vídeo com o Papa, o arcebispo da Mãe de Deus em Moscou, Paolo Pezzi, fez o seguinte comentário:

Participamos de um evento verdadeiramente único, ou seja, a oportunidade de nossos jovens terem um diálogo com o Santo Padre Francisco. Suas palavras, mas - ouso dizer - sua presença, o fato de nos ouvir e também de nos falar, foi algo que certamente ficará para sempre entre aqueles que estiveram aqui. Quero acrescentar que as palavras proferidas pelo Papa são, realmente, um convite para sermos os protagonistas de nossa própria vida, e estou convencido de que é disso que os jovens mais precisam hoje: entender que eles são o futuro, entender que são chamados a levar esperança a todos os homens, entender que devem se tornar os protagonistas da vida.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Pesquisas apontam 12 principais causas de separação de casais

Oksana Mizina | Shutterstock

Por Francisco Vêneto

Conhecer esses motivos é importante porque permite que os cônjuges reajam a tempo de impedir que eles implodam o seu casamento.

Ainda no começo da década de 2010, o Journal of Family Psychology sintetizou resultados de pesquisas realizadas na Grã-Bretanha e publicadas no jornal PLOS-ONE a respeito dos fatores mais frequentes que levavam à separação de casais.

Mesmo já tendo transcorrido mais de uma década desde a realização desses estudos, o acompanhamento feito por psicólogos sobre os contextos de separações e divórcios aponta que essas causas continuam muito presentes – e, infelizmente, devem continuar presentes sempre, em maior ou menor medida, entre os fatores de qualquer ruptura matrimonial.

Por isso mesmo é importante conhecer esses motivos “atemporais”: prestar atenção a eles permitirá que os cônjuges reajam antes que seja tarde para impedir que eles implodam o seu casamento.

Além disso, é sempre frutífero que o casal dialogue de modo transparente e propositivo sobre os próprios comportamentos, a fim de aprimorar constantemente a sua relação.

De modo resumido e direto, estas seriam, segundo as pesquisas em questão, as 12 principais causas de separação de casais:

  1. Cresceram individualmente, mas não como casal
  2. Discussões e brigas
  3. Infidelidade
  4. Falta de respeito
  5. Interesses diferentes
  6. Mudança de residência
  7. Problemas financeiros
  8. Não dividir as tarefas domésticas
  9. Dificuldades com a intimidade sexual
  10. Violência doméstica
  11. Não querer ter filhos
  12. Vícios, sobretudo em álcool, drogas e/ou apostas.
Fonte: https://pt.aleteia.org/

Escravatura – A tragédia que atravessa os tempos

Escravatura; A tragédia que atravessa os tempos (Vatican Media)

Celebra-se a 23 de agosto de cada ano, o Dia de Memória do Tráfico Negreiro Transatlântico e da sua abolição. Uma tragédia, cujas consequências se manifestam no mundo ainda hoje a braços com diversas formas de escravatura. O programa "África em Clave Cultural: personagens e eventos" recorda hoje, juntamente com Filinto Elísio (Rosa de Porcelana Editora) e Jorginho Ramos (Instituto de Geografia e História da Bahia) a escravatura através da história da humanidade e no Brasil.

Dulce Araújo - Vatican News

Na sua habitual crónica para o programa "África em Clave Cultural", Filinto Elísio, da Rosa de Porcelana Editora, traça uma panorâmica da tragédia da escravatura desde a antiguidade até hoje. Pelo meio fica o Tráfico Transatlântico Negreiro que afetou milhões de africanos, arrancados ao Continente africano e continua a afetar a vida dos afrodescendentes em várias partes do mundo, entre os quais o Brasil que é aqui evocado pelo jornalista, Jorginho Ramos, a propósito dos 200 anos da independência da Bahia para a qual muitos africanos, então em condição de escravatura, contribuíram. 

Siga aqui para saber mais:

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2023/08/24/13/137277854_F137277854.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A liturgia é escola de vida - I (3/3)

© Anna Nass I Shutterstock

A liturgia é escola de vida – I

Por Don Emanuele Bargellini

Entenda o modo de viver de um grupo de pessoas, existente desde tempos imemoriais e presente em todas as grandes religiões: o monaquismo. E como esse modo de viver pode nos ajudar a ter uma vida mais plena:

Mas nem tudo são flores…

O ritmo cotidiano e contínuo do Opus Dei pode, porém, levar ao risco da rotinavaziade sentido que acompanha de vez em quando a repetição dos gestos humanos, e o do formalismo ritual, até criar a ilusão da autojustificação, produzida pela observância sistemática das leis, ou “observância regular”, como se o fazer modelasse o ser. Este risco pode tocar a vida monástica no seu conjunto, assim como a vida litúrgica. Ritmos cadenciados que nos orientem e sustentem são necessários à vida, mas precisamos também ter atenção, humildade e um pouco de autoironia sobre nós mesmos. São Bento indica o remédio mais eficaz para o formalismo: “Não querer ser tido como santo antes que o seja, mas primeiramente sê-lo, para que como tal o tenham mais com fundamento” (RB 4,62). 

Em relação à liturgia, São Bento retoma a clássica afirmação patrística: “A nossa mente concorde com a nossa voz” (RB 19,7). Indicação aparentemente simples, mas que, na sua essencialidade, resume o grande ensinamento bíblico sobre as condições interiores necessárias para prestar a Deus um culto autêntico e a necessidade de assumir com seriedade a estrutura simbólica da pessoa humana e a conseguinte estrutura simbólico-sacramental da liturgia. 

A carne é o eixo da salvação

O próprio Jesus retoma o ensino dos profetas sobre o horizonte infinito do culto em espírito e verdade (cf Amos 5,21; Is, 1,1- 20; Oseas 6, 6), cujo fundamento é ele mesmo (Jo 4, 21-24). Paulo convida os batizados, que foram imergidos no mistério pascal de Cristo, a fazer da própria existência, animada pelo Espírito, um culto agradável a Deus (Rm 12, 1-2). 

O Concilio Vaticano II fez uma atualização muito significativa desta visão teológica e deste ensino espiritual, fundamentada na Escritura e na tradição patrística, e partindo do grande horizonte da participação ao sacerdócio de Cristo que todos os fiéis são chamados a viver por força do batismo (cf Lumen Gentium n. 10 e 34). Esta perspectiva constitui um grande avanço da eclesiologia do Concílio, pois toca nas raízes da identidade do discípulo de Jesus, molda sua espiritualidade a partir de Cristo orientando assim seu chamado a atuar na sociedade de hoje. 

O encontro salvífico com o Senhor se realiza e se manifesta através da linguagem corpórea e simbólica da ação litúrgica. É um encontro que envolve não só a esfera racional, mas também a psíquica e espiritual, por isso envolve a integralidade da pessoa. “Caro salutis est cardo” – “A carne, o corpo, é o eixo da salvação”, afirmava o padre da igreja Tertuliano, ao reivindicar a função fundamental do Verbo Encarnado no processo da salvação cristã e a insubstituível função do batismo e dos sacramentos para a vida cristã. Como dizia Agostinho, se há desejo, há culto e se há culto há salvação. 

Segundo a perspectiva cristã, a “carne” constitui um elemento central da experiência litúrgica e da liturgia como expressão da fé e escola de formação espiritual. Hoje em dia se apresentam no grande mercado das “espiritualidades” favorecido pela invasão da mídia, não poucas correntes que pretendem “desencarnar” o caminho espiritual.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

A liturgia é escola de vida – I (2/3)

© Anna Nass I Shutterstock

A liturgia é escola de vida – I

Por Don Emanuele Bargellini

Entenda o modo de viver de um grupo de pessoas, existente desde tempos imemoriais e presente em todas as grandes religiões: o monaquismo. E como esse modo de viver pode nos ajudar a ter uma vida mais plena:

Trabalhando e Rezando (Ora et labora)

A RB não apresenta uma teologia teoricamente elaborada do Opus Dei/oficio divino, e ainda menos da eucaristia. Esse objetivo não pertence ao gênero literário da RB. Ela visa orientar com sabedoria espiritual a vida cotidiana do monge e da monja no seu conjunto, fazendo dela uma autêntica experiência de Deus, unitária e variegada nas suas expressões. É possível, porém, encontrarmos alguns elementos essenciais, que são como pilares que sustentam a estrutura da comunidade como “tenda do Senhor” (RB, Prólogo), “casa do Senhor” (RB 31,19; 64,5), “templo do Senhor” (RB 53,14; cf 1Pd, 2, 4-9). 

Tais elementos se encontram tanto na própria estrutura do dia como em breves sugestões, cheias de experiência e de sabedoria espiritual, presentes às vezes em contextos aparentemente sem conexão direta com a atividade do culto litúrgico. É suficiente lembrar alguns exemplos:

  • Vida diária ritmada pelas orações e tarefas cotidianas (RB 8- 18).
  • Sacralidade do oratório, que pela sua função exclusiva de lugar de oração e pelo seu simbolismo evocativo, leva o monge e a monja à interioridade (RB 52; cf 44;45;47, etc.).
  • Percepção da presença de Deus que, enquanto acompanha a consciência do monge e da monja em cada momento e em todo lugar e atividade (RB 7, 14. 23), na celebração do Opus Dei alcança, todavia, o cume da sua intensidade (19,1). Daí se irradia para a existência inteira e a unifica, num diálogo com o Senhor, secreto e silencioso, sem interrupção (RB 19-20), até fazer do próprio corpo do monge e da monja, reverentemente inclinados, uma expressão sensível da presença divina que os habitam (RB 7,63). 

Cai toda separação entre o oratório e a vida cotidiana no seu conjunto, simbolicamente resumida no trabalho, gerando a consciência que todo e qualquer utensílio deve ser tratado com o mesmo carinho e sentido sagrado, com que se tratam os vasos sagrados do altar (RB 31,10). Para o olhar purificado e unificado do monge, não é muito diferente reconhecer com fé e amor Cristo presente no abade, pai do mosteiro em seu nome (RB 2,2; 63, 13), no irmão enfermo (RB 4,16; 36, 1-2), assim como no último dos hóspedes que sobrevém na hora mais imprevisível e inoportuna (RB 53, 1;7;15). 

Esta é a harmonia a perseguir e construir entre o sentido interior da fé e do amor, e os gestos do cotidiano que abrangem os espaços e os tempos da vida inteira, construindo um estilo de viver, atuar, celebrar, relacionar-se com as pessoas e com as coisas; na simplicidade, não de modo artificial e formal. Quanto mais autêntica e intensa se tornar esta harmonia da pessoa, menos artificialmente ritualizada se tornará seu estilo de vida. O cuidadoso convite de São Bento para escutar de boa vontade as santas leituras (RB 4,55), e a dedicar-se a elas com zelo, segundo as circunstâncias do dia (cf RB 42 e 48), alimenta aquela elaboração saborosa da palavra do Senhor que os padres do monaquismo antigo chamavam de “ruminatio” (ruminação). Esse processo acompanha silenciosamente o diálogo interior no quarto do coração e unifica o tecido do dia e do tempo. A leitura cotidiana das Escrituras (lectio divina), encontra nesse clima seu respiro e desenvolve sua tarefa de conjunção vital entre os dois eixos do Ora et labora.

A percepção constante e progressiva da presença de Deus

O sentido saboroso da presença amorosa do Senhor permite cantar os salmos de maneira que “a nossa voz concorde com a nossa mente” (RB 19,6-7). Esta atenção desperta a vontade e o gosto de “dar-se frequentemente à oração” (RB 4,63), deixando brotar espontaneamente, pela moção do Espírito, aquela oração irrigada pelas lágrimas, que manifesta e alimenta a purificação do coração com arrependimento e amor (RB 4,57; 20,4). 

Há outra oração interior e continua: é o desejo. Ainda que faças qualquer outra coisa, se desejas aquele repouso do sábado eterno, não cessas de orar. Se não queres cessar de orar, não cesse de desejar. Se teu desejo é continuo, a tua voz é continua. 

Através deste itinerário interior, sustentado pela estrutura do dia que orienta a Cristo e alimenta o sentido de viver constantemente à presença do Senhor, não com medo, mas na liberdade do amor (cume da vida do monge- cf RB 7, 67 -70), a prescrição “Nada antepor ao Opus Dei” passa do preceito/norma exterior a se cumprir, à expressão da feliz experiência de quem aprendeu a suprema lei do amor, da liberdade e da intimidade com o Senhor. 

Esta experiência gera uma nova escala de prioridades e escolhas que passam a modelar a existência do monge e da monja. A esta altura, se desenvolve no coração deles, aquela percepção e visão unitária da vida, permeada pela luz e energia do Espírito, que geram grande liberdade interior, e ao mesmo tempo são capazes de delicada atenção aos pormenores da vida cotidiana e às relações com os irmãos/ãs. Até nos pormenores vive-se com naturalidade a experiência da plenitude e da liberdade. Pequena antecipação do “retorno ao paraíso”, categoria tão querida à tradição monástica para interpretar o sentido e a direção do caminho monástico, à luz da vida espiritual compreendida como inserção e cumprimento da única história da salvação.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Aumenta registro de autoagressão e de tentativa de suicídio entre crianças e jovens

Catarina Pignato/Folhapress

Aumenta registro de autoagressão e de tentativa de suicídio entre crianças e jovens

Comportamento é sinal de sofrimento e requer atenção, afirmam especialistas; veja onde buscar ajuda.

COMPORTAMENTO ESPECIAL

22.ago.2023

Stefhanie Piovezan e Claudinei Queiroz

SÃO PAULO

A cada dia, a cidade de São Paulo contabiliza em média dez casos de autoagressão e de tentativa de suicídio entre crianças e jovens de até 19 anos. O dado corresponde aos registros dos seis primeiros meses deste ano e acende um alerta, uma vez que repete a alta desses tipos de caso nos últimos anos.

Ao todo, foram 1.863 ocorrências, conforme informações das redes de saúde pública e privada reunidas pela Secretaria Municipal da Saúde. Essa quantidade supera em 82% a verificada no primeiro semestre de 2019, antes da pandemia de Covid-19, quando foram constatados 1.025 casos.

O aumento também é confirmado pelos dados anuais. Em 2019 inteiro, os episódios somaram 2.609. E, em 2022, passaram para 3.823, 46,5% a mais.

problema não se restringe à capital paulista. Em Curitiba, o Hospital Pequeno Príncipe, maior hospital exclusivamente pediátrico do país, registrou 57 casos de tentativa de suicídio em 2022. Em 2021, foram 56; em 2020, 19; e em 2019, 16.

"As crianças estão vindo cada vez mais cedo. No ano passado, tivemos quatro crianças de 11 anos e, em 2021, atendemos um menino de apenas sete anos", diz Rosane Brasil, coordenadora do serviço social do hospital.

Mas o que está levando crianças e adolescentes a tentarem o suicídio? A resposta, afirmam especialistas ouvidas pela Folha, envolve questões psicológicas, familiares, sociais e econômicas e demanda cuidados em falta no país.

"O suicídio infantojuvenil é um problema de saúde pública multifatorial e de alta complexidade. Não é um problema só de um sujeito ou de determinada família", afirma Daniela Prestes, psicóloga no Pequeno Príncipe.

Segundo o Ministério da Saúde, o número de suicídios de jovens cresceu no Brasil nos últimos anos. De 2016 para 2021, a taxa de mortalidade por cem mil pessoas relacionada a essa causa aumentou 45% na faixa de 10 a 14 anos e 49,3% na de 15 a 19 anos, contra 17,8% na população em geral.

Também não se trata de um desafio exclusivamente brasileiro. De acor do com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o suicídio é a quarta causa de morte mais recorrente entre pessoas de 15 a 29 anos.

PANDEMIA AMPLIOU O PROBLEMA ENTRE ADOLESCENTES

depressão e a ansiedade são observadas em parte das crianças atendidas com sinais de autolesão ou por tentativa de suicídio, e a pandemia de Covid-19 provocou um aumento nesses quadros. Estudo publicado na revista Jama Pediatrics mostra que os sintomas de depressão cresceram 26% nos jovens de até 19 anos e que a ansiedade teve um aumento próximo de 10%.

"A pré-adolescência e a adolescência são fases de muitas mudanças e perdas", diz Prestes. "Esse sujeito perde o corpo da infância, perde o status de criança e perde os pais da infância, no sentido daquele imaginário de que os pais podem tudo, para se deparar com os pais da realidade."

E são etapas marcadas por novas exigências da família e do meio social. "A criança não dá conta de ter um desempenho à altura da expectativa da família e da sua própria e isso vai aumentando o grau de ansiedade. Pode alimentar ainda um quadro depressivo pela frustração", explica a professora Valéria Campinas Braunstein, psicóloga e conselheira do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.

A pandemia também dificultou o cotidiano daqueles que tinham na escola um escape para os problemas domésticos e prejudicou o desenvolvimento pela redução da interação social. Eles voltaram para a sala de aula crescidos fisicamente, mas não emocional e socialmente.

Além disso, o isolamento ampliou o tempo de tela, expondo os pequenos à felicidade tóxica e ao maior risco de violência. Quanto mais tempo a criança passa conectada, maior a chance de exposição ao cyberbullying e a conteúdos impróprios, lembra a psicóloga Karen Scavacini, fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio e criadora do Mapa da Saúde Mental, que lista serviços públicos de saúde mental.

AMOR, DIÁLOGO E LIMITES COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Outro aspecto indicado pelas especialistas é a dificuldade de crianças e adolescentes de enfrentar contrariedades. "É muito importante que na família haja amor, diálogo e autoridade para apontar que todos nós estamos submetidos a limites", afirma Prestes. "Os jovens estão sem condições internas de lidar com as dificuldades e não encontram suporte no meio familiar e social."

Do mesmo modo, conflitos familiares por questões religiosas, de identidade de gênero e visões políticas têm sido observados como causa de distanciamento e sofrimento nos pacientes mais novos.

"'Sou uma menina ou um menino? Gosto de meninas ou de meninos?’. Essas questões vêm muito fortes nos casos de tentativa de suicídio porque eles não têm com quem conversar. Tem muita gente para julgar, mas ninguém para ajudar", diz Rosane Brasil.

Adicionalmente, há a violência física, psicológica ou sexual. Levantamento do Ministério da Saúde aponta que, de 2015 a 2021, foram notificados 202.948 casos de violência sexual com vítimas de até 19 anos. Apenas em 2021, foram 14.269 casos envolvendo crianças e 20.927 relacionados a adolescentes, um triste recorde.

"Nem todas as crianças passam por tratamento psicológico assim que a violência acontece e vão carregando esse sofrimento com elas. Muitas vezes, elas nem entendem que aquilo foi uma violência e, quando chegam à adolescência, começam a entender", acrescenta Brasil.

racismo e aspectos como desemprego dos pais e falta de moradia também são fatores importantes. "Com crianças, especificamente, a questão social tem um peso enorme", afirma Scavacini.

OS 3 ‘IS’ DO SOFRIMENTO

A combinação dos fatores leva os jovens a uma sensação de desamparo e desespero. "Eles pensam: ‘Para quê eu vou viver se a dor que estou sentindo não vai passar?’", conta Scavacini. "Eles sentem o que chamamos de três ‘is’: uma dor interminável, inescapável e intolerável’."

As especialistas ressaltam que frequentemente os pacientes não querem acabar com a própria vida, mas sim com o sofrimento. "As autolesões e as tentativas de suicídio são sintomas de um sofrimento psíquico insuportável, são manifestações endereçadas ao outro procurando amor, procurando resolver essas questões", salienta Peres.

Na autolesão, a criança busca alívio momentâneo por meio de cortes na pele. Os machucados, porém, suscitam culpa e vergonha, aumentando a dor e levando a novas lesões. Nas tentativas de suicídio, por outro lado, o intuito é acabar com a dor.

Assim, há uma diferença na intencionalidade, mas ambos são considerados autodestrutivos e demandam atenção. Não são manha, rebeldia ou besteira, enfatizam as entrevistadas. "São comportamentos que representam sofrimento, precisam ser acolhidos e requerem atendimento profissional", afirma Prestes.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/

As causas de uma “crise eucarística” (4/4)

Celebração Eucarística (Presbíteros)

As causas de uma “crise eucarística”

Consequências dessa abordagem

Os novos mistagogos, encantados com os gestos celebrativos, com as novas possibilidades de criatividade simbólica em que abusaram da discreta abertura promovida pela reforma litúrgica, imbuídos de muita “cristologia de baixo” impostada na perspectiva do “Cristo libertador”, desmitologizado segundo os critérios bultmanianos e romantizado segundo os critérios revolucionários, hostilizaram radicalmente os gestos de adoração e piedade, segundo eles, ligados mais à liturgia tridentina. Genuflexões, decoro cultual, solenidade, delicadeza com as espécies eucarísticas, nobreza e simplicidade, dignidade hierática e esplendor foram violentamente substituídos por barbarismos grotescos: o discreto lavabo foi substituído por bacias de escalda-pés; os cálices dourados, por artefatos de barro, de madeira grosseira, quando não de vidro ou até plástico; os paramentos bem cortados, por andrajos imensos e desajeitados; o silêncio, por palmas e alaridos; a genuflexão, por movimentação burlesca e desabrida; a sacralidade, pela invasão do profano, desde as músicas até o linguajar etc.

Os novos mistagogos diziam que os gestos têm que comunicar: lavar as mãos se faz com esfregões e toalhões; comungar é comer e beber, mastigar, rasgar o pão, partilhar; ungir é besuntar a pessoa inteirinha de óleo; batizar é mergulhar até submergir por completo, lavar, molhar a pessoa todinha… Mais do que a eficácia objetiva do sacramento, a qual, inclusive, é questionada, olha-se para a eficácia subjetiva, aquela que é condicionada pela compreensão do “símbolo”, pois essa é a única maneira de presentificar o mito, dentro de toda a lógica precedente.

O quanto tudo isso seja suscetível à manipulação política da teologia da libertação, nem é necessário dizer. A coisa é autoexplicativa! Apenas é útil entendermos o background teológico por trás da intolerância para com práticas tradicionais. Com clareza meridiana, São Pio X já tinha dado o antídoto contra essas heresias:

“Do culto não haveria muito que dizer, se debaixo deste nome não se achassem também os Sacramentos, a respeito dos quais muito erram os modernistas. Pretendem que o culto resulta de um duplo impulso; pois que, como vimos, pelo seu sistema, tudo se deve atribuir a íntimos impulsos. O primeiro é dar à religião, alguma coisa de sensível; o segundo é a necessidade de propagá-la, coisa esta que se não poderia realizar sem uma certa forma sensível e sem atos santificantes, que se chamam Sacramentos.

Os modernistas, porém, consideram os Sacramentos como meros símbolos ou sinais, bem que não destituídos de eficácia. E para indicar essa eficácia, servem-lhes de exemplo certas palavras que facilmente vingam, por terem conseguido a força de divulgar certas ideias de grande eficácia, que muito impressionam os ânimos. E assim como aquelas palavras são destinadas a despertar as referidas ideias, assim também o são os Sacramentos com relação ao sentimento religioso; nada mais do que isto. Falariam mais claro afirmando logo que os Sacramentos foram só instituídos para nutrirem a fé. Mas esta proposição é condenada pelo Concílio de Trento” (Pascendi Dominici Gregis, n. 20).

Restabelecendo a verdade católica

No que diz respeito à Santíssima Eucaristia, mais do que o fato de que a matéria do sacramento faz com que ele seja repartível e comestível (palavra desagradável, mas que aqui eu uso apenas para descrever o significado imediato da manducação), a realidade do Sacramento é a Presença Real de Nosso Senhor Jesus Cristo, objetiva e independentemente da fé subjetiva de cada um. É a Ele, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo Encarnado, que tributamos o culto de latria, de adoração. Por isso nos ajoelhamos, genufletimos, reverenciamos com toda a dignidade e com todo preito.

O conceito tomista de “transubstanciação” – que aos modernos cheira a aristotelismo ultrapassado, já que eles estão infectados do imanentismo kantiano – é apenas a terminologia técnica utilizada pela dogmática para garantir que não estamos comendo pão, mas comungando o próprio Senhor realmente, de tal modo que toda a substância do pão e do vinho se convertem na substância da Humanidade Santíssima de Cristo. É exatamente por isso que a então Congregação para Doutrina da Fé emitiu uma Declaração em 5 de fevereiro de 1972 esclarecendo que os fragmentos da Eucaristia devem ser devidamente respeitados e as normas para a purificação da patena e do cálice devem ser cuidadosamente seguidas (cf. De fragmentis Eucharisticis).

Pelo mesmo motivo, a Santa Sé advertiu: “ponha-se especial cuidado em que o comungante consuma imediatamente a hóstia, na frente do ministro, e ninguém se desloque (retorne) tendo na mão as espécies eucarísticas. Se existe perigo de profanação, não se distribua aos fiéis a Comunhão na mão. A bandeja para a Comunhão dos fiéis se deve manter, para evitar o perigo de que caia a hóstia sagrada ou algum fragmento” (Redemptionis Sacramentum, nn. 92-93).

Quando concedeu a faculdade de dar a comunhão na mão, a Congregação para o Culto Divino esclareceu que “é mister tomar cuidado com os fragmentos, para que não se percam, e instruir o povo a seu respeito. É preciso, também, recomendar aos fiéis que tenham as mãos limpas” (Carta, 5 de março de 1975) e, no mesmo espírito, a Presidência da CNBB enviou uma nota explicativa a todos os bispos do Brasil dizendo que “cada comungante trate de verificar se não ficou na palma na mão ou entre os dedos alguma parcela de pão consagrado (em caso positivo, deve consumi-la)”.

Enfim, quando um fiel se sente incomodado de tomar a Comunhão nas mãos para que não se adira à palma dessas algum fragmento e prefere comungar na língua; ou quando se ajoelha, para manifestar a sua adoração de modo mais expressivo, a Igreja, em coerência com a sua doutrina, sempre lhe garantiu esse direito e, ademais, sempre assegurou ser esta a forma ordinária e habitual de se comungar. Contudo, quando tais princípios sacramentais são obscurecidos pelas ideologias teológicas acima mencionadas, que apregoam que a Eucaristia “não é para se adorar, mas para se comer”, chega a ser absurdo comungar de joelhos (quem é que come de joelhos?) e na boca (quem é que recebe comida na boca?). São sentimentos como estes, oriundos de uma longa história de desconstrução e reconstrução sobre outras bases, que norteiam o imaginário de muitos de nossos contemporâneos.

Pe. Dr. José Eduardo de Oliveira e Silva

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Os 6.921 sacerdotes, apóstolos de Cristo na história Igreja na Coreia

Ordenações durante a pandemia na Catedral Myeongdong, em Seus.  (ANSA)

Com dados enviados pelas dioceses e congregações religiosas, a Conferência Episcopal da Coreia elaborou uma lista de todos os sacerdotes que serviram a Igreja no país asiático ao longo de sua história. Uma das fontes inspiradoras ao ministério é o primeiro sacerdote e mártir coreano, Santo Andrea Kim Tae-gon, que nas próximas semanas terá uma estátua em sua homenagem colocada nos nichos existentes na parte externa da Basílica de São Pedro.

Estão envolvidos nas paróquias, celebrando os Sacramentos para o povo de Deus, acompanhando os jovens, ensinando a catequese ou promovendo obras de caridade: são os sacerdotes coreanos que, em 178 anos de história, dedicaram a vida no seguimento de Cristo e do anúncio do Evangelho. Inspiram-se em Santo André Kim Tae-gon, o primeiro sacerdote coreano e mártir, ordenado em 1845. Desde então, segundo uma recente publicação da Conferência Episcopal da Coreia, em toda a história da Igreja coreana, o número total o número de sacerdotes é de 6.921. A lista, elaborada a partir da coleta e organização de dados de dioceses e congregações religiosas, apresenta os números até 1 de março de 2023 e também é publicada em forma de e-book.

A lista inclui desde Andrea Kim Tae-gon - ordenado sacerdote em 17 de agosto de 1845 - até o padre Won-bin Lee, ordenado em 3 de fevereiro de 2023, na Arquidiocese de Seul.

De 1845 até hoje, 689 sacerdotes coreanos chegaram ao reino dos céus, mas “o Senhor sempre envia novos operários à sua messe”: os novos sacerdotes coreanos de 1º de março de 2022 até o final de fevereiro de 2023 são 99 (87 diocesanos e 12 religiosos). ) Nos últimos anos, entre 2011 e 2023, a média anual de novos sacerdotes na Coreia do Sul sempre ultrapassou os 100, com picos de 184 e 185 novas ordenações sacerdotais, respetivamente em 2014 e 2020.

Atualmente, relata o texto, existem 5.655 sacerdotes coreanos ativos (incluindo cardeais e bispos), incluindo pastores idosos. Entre eles, 4.765 (84,3%) são sacerdotes diocesanos pertencentes às 16 dioceses da Igreja Católica Coreana, enquanto 865 (15,3%) são sacerdotes de ordens religiosas e 25 são sacerdotes ativos em serviço ou missão no exterior, incluindo serviço na Santa Sé.

O anuário é elaborado a partir de 1º de março de cada ano e, portanto, apresenta números ligeiramente diferentes daqueles incluídos no texto oficial e abrangente das “Estatísticas da Igreja Católica Coreana”, compilado levando em consideração os dados de 31 de dezembro do ano anterior. Os sacerdotes listados são de nacionalidade coreana, pertencentes à Igreja coreana no momento em que receberam o sacerdócio, incluindo aqueles naturalizados. Os dados são reportados em ordem cronológica, de acordo com a data da ordenação sacerdotal, e o anuário também informa as competências pastorais ou teológicas de cada sacerdote, com o histórico dos principais serviços realizados.

Por outro lado, o texto também enumera os sacerdotes estrangeiros que realizam missões ou atividades pastorais na Coreia: hoje são 126 ao todo (entre os quais 15 vêm dos Estados Unidos, 12 do México, 11 do Vietnã e da Espanha, 10 da Índia e Filipinas, 9 da Itália, 8 da Irlanda e França), frequentemente presentes em solo coreano para poder ajudar os imigrantes a nível pastoral.

Entre as diversas congregações religiosas e missionárias, há membros da Sociedade Missionária do Verbo Divino, da Sociedade para as Missões Estrangeiras de São Columba, da Sociedade para as Missões Estrangeiras de Guadalupe, das Missões Estrangeiras de Paris.

Os sacerdotes coreanos contribuem grandemente para tornar a Igreja Católica na Coreia do Sul "o grupo religioso mais confiável na península", como afirma a recente "Pesquisa de Confiança Social na Igreja Coreana 2023" realizada pela G&Com Research em janeiro de 2023 entre 1.000 homens e mulheres com mais de 19 anos. Entre os entrevistados, 21,4% indicaram a Igreja Católica como a comunidade mais confiável, seguida pela Igreja Protestante (16,5%), pela comunidade Budista (15,7%).

Para todos os sacerdotes coreanos permanece constante a referência a Santo André Kim Tae-gon (1821-1846), primeiro sacerdote da Coreia em 1845 e, um ano depois, primeiro mártir, beatificado em 1984 pelo Papa João Paulo II durante a sua viagem ao país.

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconheceu o patrocínio das comemorações do bicentenário do nascimento de Andrea Kim Tae-gon, realizadas em 2021. Uma estátua do santo será colocada nas próximas semanas entre aquelas presentes na parede externa da Basílica de São Pedro, no Vaticano.

*Agência Fides

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF