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quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Papa: não esqueçam que são os pobres que nos abrirão a porta do céu

Papa Francisco durante a audiência geral desta quarta-feira, 20 de setembro   (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Francisco deu continuidade ao percurso de catequeses sobre a paixão pela evangelização, concentrando-se, nesta quarta-feira (20), no testemunho de São Daniel Comboni, um apóstolo repleto de zelo pela África e com um grande desejo de tornar os cristãos protagonistas da ação evangelizadora.

Thulio Fonseca - Vatican News

Na audiência geral desta quarta-feira, 20 de setembro, o Papa Francisco recebeu os fiéis na Praça São Pedro, e durante a catequese, deu continuidade ao ciclo de reflexões sobre a paixão pela evangelização. O Santo Padre apresentou o testemunho de São Daniel Comboni, que desenvolveu seu apostolado na África. 

Francisco iniciou destacando que São Daniel continuamente lutava contra o horror da escravidão, da qual era testemunha. “A escravidão “coisifica” o homem, cujo valor se reduz a ser útil a alguém ou a alguma coisa. Mas Jesus, Deus feito homem, elevou a dignidade de cada ser humano e desmascarou a falsidade da escravidão. Comboni, à luz de Cristo, tomou consciência do mal da escravatura” sublinhou o Papa, “e compreendeu, além disso, que a escravidão social está enraizada em uma escravidão mais profunda, a do coração, a do pecado, da qual o Senhor nos liberta”. 

O apelo continuo contra a exploração 

O Pontífice afirmou que os cristãos são chamados a combater contra todas as formas de escravidão, e ressaltou: “a escravidão, tal como o colonialismo, não é uma recordação do passado.” O Papa também sublinhou a atualidade deste tema, e disse que a África tão amada por Comboni, ainda hoje é dilacerada por muitos conflitos políticos e econômicos, que não deixam de ser tipos de escravidão.

Francisco renovou o seu apelo, como havia feito em Kinshasa, no inicio deste ano: “Basta de sufocar a África: não é uma mina a ser explorada ou um solo a ser saqueado”.

Os protagonistas da evangelização

Ao aprofundar na história de São Daniel, o Papa recordou que o missionário, depois de passar um período inicial na África, teve que deixar aquela terra por motivos de saúde: “Muitos missionários morriam após contraírem doenças, aliado à falta de conhecimento da situação local. Contudo, se outros abandonavam a África, Comboni não o fez”. Depois de um tempo de discernimento, sentiu que o Senhor o inspirava com um novo caminho de evangelização, que ele sintetizou nestas palavras: “Salvar a África com a África”. 

Para Francisco esta é uma intuição poderosa, que contribuiu para renovar o compromisso missionário: as pessoas evangelizadas não eram apenas “objetos”, mas “sujeitos” da missão, e São Daniel desejava tornar todos os cristãos protagonistas da ação evangelizadora, e assim com este espírito, destacou o Papa, “pensou e agiu de forma integral, envolvendo o clero local e promovendo o serviço leigo dos catequistas, que são um tesouro da Igreja: os catequistas são aqueles que vão adiante na evangelização”, sublinhou Francisco. 

“Quão importante é, ainda hoje, fazer progredir a fé e o desenvolvimento humano a partir de contextos de missão, em vez de transplantar modelos externos ou limitar-se a um estéril assistencialismo! Nem modelos externos nem assistencialismo. Extrair da cultura dos povos o caminho para a evangelização. Evangelizar a cultura e inculturar o Evangelho andam juntos.”

A paixão missionária

O Papa afirmou que a missão de Comboni, todavia, não foi fruto de seu esforço humano, mas foi movido pela sua coragem e motivado somente por valores importantes, como a liberdade, a justiça e a paz; o seu zelo nasceu da alegria do Evangelho, inspirava-se no amor de Cristo e levava ao amor por Cristo. 

“A fonte da capacidade missionária, para Comboni, é, portanto, a caridade, em particular o zelo em fazer próprios os sofrimentos dos outros, em senti-los na própria pele e em saber aliviá-los, como bons cireneus da humanidade.”

Sobre a missão de São Daniel, o Santo Padre disse que sua paixão pela evangelização nunca o levou a agir como solista, mas sempre em comunhão, e alertou para o drama do Clericalismo, onde se formam sujeitos de “pescoço torto”, cheios de egoísmo e de si mesmos, que não cuida como se deve da salvação e conversão das almas.

Os crucificados dos dias atuais 

Francisco afirmou que Comboni é testemunha do amor do Bom Pastor, que vai procurar quem está perdido e dá a vida pelo rebanho. “Seu zelo foi enérgico e profético em opor-se à indiferença e à exclusão. Nas suas cartas recordava com tristeza a sua amada Igreja, que durante demasiado tempo se esqueceu de África”, lembrou o Santo Padre.

O Papa também destacou que o sonho de São Daniel era ver uma Igreja que faça causa comum com os crucificados da história, para experimentar com eles a ressurreição. 

“Neste momento, eu lhe dou uma sugestão. Pensem nos crucificados da história de hoje: homens, mulheres, crianças, idosos que são crucificados por histórias de injustiça e dominação. Vamos pensar neles e rezar por eles.”

Um testemunho vindo do Brasil 

“Antes de vir para cá, tive uma reunião com legisladores brasileiros que trabalham para os pobres, que tentam promover os pobres com assistência e justiça social. E eles não se esquecem dos pobres: eles trabalham para os pobres”, contou Francisco, ao concluir a catequese ao dizer da importância do testemunho que escutou do trabalho que este grupo faz pelos mais necessitados, e fez um convite: “não se esqueçam dos pobres, porque serão eles que abrirão a porta do céu".

Os brasileiros que encontraram com o Papa Francisco vieram ao Vaticano para entregarem ao Papa o prêmio Zilda Arns. A audiência privada durou cerca de trinta minutos e aconteceu na antessala da Sala Paulo VI. O grupo é composto por sete Deputados Federais que fazem parte da Comissão em Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (Cidoso): Aliel Machado Bark, José Dias de Castro Neto, Reimont Luiz Otoni Santa Barbara, Flávia Carreiro Albuquerque Morais, Simone Aparecida Curraladas dos Santos, Leandre dal Ponte e José Haroldo Figueiredo Campo. 

O prêmio Zilda Arns é uma forma de reconhecimento às pessoas e instituições que contribuíram ou têm contribuído ativamente na defesa dos direitos das pessoas idosas. O prêmio consiste em um diploma de menção honrosa, concedido anualmente a até cinco homenageados.

Audiência Geral 20 setembro 2023 Papa Francisco: https://youtu.be/I4a7zjnanXY

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Um santo coreano ganha lugar na Basílica de São Pedro

Antoine Mekary | ALETEIA

Por Camille Dalmas

Uma estátua de Santo André Kim, o primeiro padre e mártir da Coreia, foi inaugurada com grande alarde no sábado, 16 de setembro de 2023, em um nicho na parede externa da Basílica de São Pedro. Um sinal da importância que o pequeno país asiático está assumindo agora na Igreja Católica.

ACoreia do Sul tem sido o centro das atenções desde que o Papa Francisco anunciou, neste verão, que a próxima Jornada Mundial da Juventude seria realizada em Seul em 2027, e foi mais uma vez o centro das atenções no Vaticano no sábado. Uma delegação de trezentos católicos coreanos, bispos, padres e leigos, foi liderada pelo Cardeal Lazarus You Heung-sik, Prefeito do Dicastério para o Clero, e pelo Cardeal Andrew Yeom Soo-jung, Arcebispo Emérito de Seul, para a inauguração de uma estátua de Santo André Kim Taegon.

Nascido na Coreia em 1821, André Kim foi um dos primeiros coreanos a se converter ao catolicismo: ele e toda a sua família foram batizados por um padre das Missões estrangeiras de Paris. Mas a dinastia Joseon, no poder na Coreia na época, recusou-se a permitir a entrada dos cristãos e começou a persegui-los. O pai de André, Santo Inácio Kim, foi martirizado em 1839.

Isso não desanimou André: ele foi para Macau para entrar no seminário e foi ordenado padre em 1845 pelo primeiro bispo de Seul, o francês Dom Jean-Joseph Ferréol. Ciente dos riscos, ele retornou à Coreia em 1846, onde foi preso. Recusando-se a apostatar, foi torturado e decapitado. João Paulo II o canonizou junto com outros 102 mártires coreanos em 1984.

Para o Cardeal You, uma figura em ascensão na Cúria Romana, a inauguração dessa estátua tem um significado importante: convertido em sua juventude, ele foi muito inspirado por esse jovem santo que veio da mesma região que ele. “André nos diz que uma vida gasta no amor, mesmo que custe sacrifícios, volta para você em abundância, enche-o de alegria, abre o caminho para bons relacionamentos e introduz você na verdadeira alegria, que nunca desaparece”, ele nos disse.

Veja aqui imagens da celebração:

Os membros da delegação coreana foram recebidos em audiência pelo Papa Francisco pela manhã, que recentemente dedicou uma audiência geral inteira a Santo André Kim. O pontífice elogiou a ousadia e o vigor desse país, dizendo que, ainda hoje, ele “dá um belo testemunho” quando segue Jesus Cristo – como fez o padre André Kim ao doar sua vida.

Ciente do potencial dessa Igreja, o Papa também a incentivou a continuar a evangelizar, indo além de suas fronteiras. “Vocês têm a graça de ter tantas vocações sacerdotais; por favor, mandem-as para fora, enviem-nas para as missões”, exclamou.

No início da tarde, uma missa em coreano foi presidida pelo Cardeal You no altar da Cátedra, na Basílica do Vaticano, na qual a delegação contou com a presença de um grande número de católicos coreanos que vivem na Itália, especialmente freiras. Uma delas, estudante em Milão, ficou encantada ao ver seu santo nacional instalado no Vaticano: “É uma verdadeira honra para nós nos sentirmos parte da Igreja”.

Esculpida em mármore imaculado de Carrara por um artista coreano, Han Ji-seop, a estátua tem mais de três metros de altura e pesa mais de uma tonelada. Ela retrata o jovem padre em seu traje tradicional com um chapéu de abas largas e uma estola marcada com uma cruz. Em sua base está escrito seu nome em coreano e latim, as datas de seu nascimento e morte (1821-1846) e a simples inscrição “padre e mártir”.

O nicho no qual a imponente estátua se encontra, na fachada norte da basílica, fica aos pés da Capela Sistina. Ela fica entre um nicho com São Gregório, o Iluminador, o primeiro Catholicos da Armênia, e São Maron, fundador da Igreja Maronita no Líbano e na Síria. O Cardeal Mauro Gambetti, que presidiu a bênção da estátua como Arcipreste da Basílica do Vaticano imediatamente após a missa, observou que esses nichos haviam sido reservados anteriormente para os fundadores das Igrejas Orientais e das principais ordens religiosas católicas.

O cardeal italiano saudou o pedido dos bispos coreanos de dar um lugar a esse santo fundamental na história do catolicismo na Coreia – ele é o santo padroeiro dos padres coreanos – 200 anos após seu nascimento. “Ele é o primeiro santo a representar uma comunidade católica nacional”, disse ele, antes de pronunciar as palavras de bênção.
Em seguida, os cardeais Gambetti, You e Yeom aspergiram a estátua com água benta, antes de ouvir um vibrante concerto de percussão tradicional, muito aplaudido pelos fiéis coreanos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Um livro conta a conspiração de Hitler contra o Papa

aleteia ar

Por Roberta Sciamplicotti - publicado em 12/05/14

Hitler pensou em invadir o Vaticano e levar Papa Pio XII para a Alemanha.

Em 1942 , Adolf Hitler idealizou um projeto para deportar o Papa Pio XII e alguns membros da Cúria Vaticana para a Alemanha. Trata-se de um episódio histórico, quase ignorado pela opinião pública, que veio à tona a partir de diversos documentos, entre os quais as cartas informativas que chegavam ao Papa através de diversas fontes – inclusive militares-, sobre o que acontecia em Roma e nos arredores. 

O que há de verdadeiro nisso? Como se desenvolveu realmente o caso? Por que não deu certo? E mais: por que esse episódio se tornou desconhecido pelo grande público?  

As respostas a essas e outras perguntas podem ser encontradas no livro “O acordo secreto de Hitler”, da editora Città Nuova, apresentado esta semana na 13ª Feira do Livro de Turim (Itália).

O texto traz uma narração dos eventos dramáticos da Segunda Guerra Mundial através dos “olhos” de Pio XII e de seu antagonista, Adolf Hitler. O livro possui um estilo que liga uma sólida reconstrução histórica ao fascínio da narração.

Papa Pacelli, que estava informado sobre as deportações de judeus por parte dos nazistas, depois que Hitler decidiu exterminá-los, fez de tudo para salvá-los. 

Em agosto de 1942, em um grande forno de metal, na cozinha do terceiro andar do Palácio Apostólico, no Vaticano, o Papa queimava folhas repletas de anotações. “Ao lado, diz o texto, está Papa Pio XII, alto e pálido; em suas mãos, estão duas grandes folhas de papel, escritas com a sua grafia precisa e minuciosa. Ele joga uma a uma ao fogo e as supervisiona atentamente até que cada uma queime. As freiras alemãs que cuidam do apartamento papal observam à distância, silenciosas”.

“Irmã Pascalina Lehnert, a única freira mais próxima do Papa, teve coragem de intervir: ‘Santo Padre, – disse, abrindo aquele olhar azul – por que estás queimando essas folhas?’. Aqui – responde o Pontífice, olhando diretamente em seus olhos, como sempre fez – está o meu protesto contra as cruéis perseguições contra os hebreus na Holanda. Estava a ponto de publicá-la no L’Osservatore Romano’ ”.

Era uma carta muito mais dura que aquela dos bispos holandeses contra as represálias nazistas, a qual foi lida nas igrejas em 26 de julho daquele ano e provocou a prisão de milhares de pessoas, cerca de 40 mil. 

“A minha – explica Pio XII – poderia custar a vida de umas 200 mil pessoas”. Melhor não falar de forma oficial e trabalhar em silêncio por esse povo”.

Depois de 8 de setembro de 1943, a Itália transformou-se em um caos. O governo de Badoglio teve de fazer um armistício com os aliados; o rei e os seus parentes fugiram para Brindisi; Mussolini era prisioneiro do Führer, no norte da Itália, onde reconstituiu o governo fascista, a República de Salò. 

Karl Wolff, membro de alto escalão, de Himmler, recebeu de Hitler uma tarefa importante:

“Em Roma há o Vaticano e há o Papa. Não devem cair nas mãos dos aliados nem estar sob qualquer influência deles. Seria um grande dano para a Alemanha”, reconstruiu Dal Bello. 

Por isso, as tropas alemãs deveriam ocupar o Vaticano, salvando as obras de arte e os arquivos e demonstrando “preocuparem-se com a saúde do Papa”, uma desculpa para transportá-lo à Alemanha, para depois pensarem o que fazer.  

A notícia se espalhou: “Querem levar o Papa embora”. A rádio da República de Salo chegou a citar isso claramente no dia 7 de outubro 1942: “Já preparam os alojamentos para o Papa”. 

“A notícia das intenções dos nazistas é séria”, disse Pio XII a Cesidio Lolli, vice-diretor do L’Osservatore Romano. E ainda: “Eu não deixarei nunca o Vaticano e Roma; mesmo que me acorrentem, não sairei daqui”, disse Papa Pacelli ao jesuíta Paolo Dezza.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Maria, caminho para a unidade dos cristãos

Santa Missa presidida pelo Papa Francisco na Praça Knyaz Alexander I em Sofia, Bulgária, em 5 de maio 2019. (Photo by AFP/ Andreas Solaro)  (AFP or licensors)

"Por que, então, não olhar todos conjuntamente para a nossa Mãe comum, que intercede pela unidade da família de Deus e que a todos «precede», à frente do longo cortejo das testemunhas da fé no único Senhor, o Filho de Deus, concebido no seu seio virginal por obra do Espírito Santo?”, pergunta São João Paulo II em sua Encíclica Redemptoris Mater.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Desejo realçar, por outro lado, quanto a Igreja católica, a Igreja ortodoxa e as antigas Igrejas orientais se sentem profundamente unidas no amor e louvor à Theotókos. Não só «os dogmas fundamentais da fé cristã acerca da Trindade e do Verbo de Deus, que assumiu a carne da Virgem Maria, foram definidos nos Concílios ecuménicos celebrados no Oriente», mas também no seu culto litúrgico «os Orientais exaltam com hinos esplêndidos Maria sempre Virgem ... e Santíssima Mãe de Deus» (...). Os Padres gregos e a tradição bizantina, contemplando a Virgem Santíssima à luz do Verbo feito homem, procuraram penetrar na profundidade daquele vínculo que une Maria, enquanto Mãe de Deus, a Cristo e à Igreja: ela é uma presença permanente em toda a amplidão do mistério salvífico. (Papa João Paulo II, Redemptoris Mater, 31”

A Carta Encíclica Redemptoris Mater de São João Paulo II (1987), depois de meditar sobre a presença constante de Maria na Igreja, centra-se na questão da unidade dos cristãos e investiga como Nossa Senhora pode ajudar a Igreja neste caminho. Para as Igrejas e comunidades que não aderem plenamente ao mistério de Maria, ela deve ser um exemplo de “obediência de fé”; para as Igrejas Orientais, porém, Nossa Senhora constitui um ponto de encontro privilegiado.

Padre Gerson Schmidt* tem nos proposto uma série de reflexões sobre a Virgem Maria, quer abordando os títulos a ela atribuídos, como seu papel na história da salvação. No programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre nos fala sobre "Maria, caminho para a unidade dos cristãos":

"Já abordamos em nossos estudos que na conclusão da Lumen Gentium, os padres conciliares afirmaram que Maria é medianeira na ordem da unidade dos cristãos. Diz assim o número 69, com o título “Medianeira para a unidade da Igreja” – “E é uma grande alegria e consolação para este sagrado Concílio o fato de não faltar entre os irmãos separados quem preste à Mãe do Senhor e Salvador o devido culto; sobretudo entre os Orientais, que acorrem com fervor e devoção a render culto à sempre Virgem Mãe de Deus (194). Dirijam todos os fiéis instantes súplicas à Mãe de Deus e mãe dos homens, para que Ela, que acompanhou com suas orações aos começos da Igreja, também agora, exaltada sobre todos os anjos e bem-aventurados, interceda, junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, até que todos os povos, tanto os que ostentam o nome cristão, como os que ainda ignoram o Salvador, se reúnam felizmente, em paz e harmonia, no único Povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade”.

Para a busca ecumênica da unidade, querida pelo Concilio, nos valemos da Carta Encíclica de São João Paulo II Redemptoris Mater, de 1987, referendando a intenção do Vaticano II. Diz assim a carta encíclica de João Paulo II: “O movimento ecumênico, com base numa consciência mais lúcida e difundida da urgência de se chegar à unidade de todos os cristãos, teve a sua expressão culminante, por parte da Igreja católica, na obra do Concílio Vaticano II: é preciso que os mesmos cristãos aprofundem em si próprios e em cada uma das suas comunidades aquela «obediência de fé» de que Maria Santíssima é o primeiro e o mais luminoso exemplo. E uma vez que ela «brilha agora diante do Povo de Deus ainda peregrinante como sinal de esperança segura e de consolação», «é motivo de uma grande alegria e de consolação para o sagrado Concílio o fato de não faltar entre os irmãos desunidos quem tribute à Mãe do Senhor e Salvador a devida honra, sobretudo entre os Orientais»”[1](cf. Lumen gentium, 68-69).

E no número 30 dessa carta ao Povo Santo sobre “A Bem-aventurada Virgem Maria na vida da Igreja que está a caminho” – título da obra – o Papa ainda diz: “Os cristãos sabem que a unidade entre eles só poderá ser reencontrada verdadeiramente se estiver fundada sobre a unidade da sua fé. Eles devem resolver discordâncias não leves de doutrina, quanto ao mistério e ao ministério da Igreja e quanto à função de Maria na obra da salvação. (Papa aqui referenda o Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o Ecumenismo Unitatis redintegratio, 20). A função e o papel de Maria na obra da salvação é bem destacada pelos padres conciliares no final da Lumen Gentium, inserindo-a dentro da grande Constituição sobre a Igreja. E continua João Paulo II: “Os diálogos já entabulados pela Igreja católica com as Igrejas orientais e com as Igrejas e Comunidades eclesiais do Ocidente vão convergindo, cada vez mais, para estes dois aspectos inseparáveis do próprio mistério da salvação. Se o mistério do Verbo Encarnado nos faz vislumbrar o mistério da maternidade divina e se a contemplação da Mãe de Deus, por sua vez, nos introduz numa compreensão mais profunda do mistério da Encarnação, o mesmo se deve dizer do mistério da Igreja e da função de Maria na obra da salvação. Ao aprofundar um e outro e ao tentar esclarecer um por meio do outro, os cristãos, desejosos de fazer ― como lhes recomenda a sua Mãe ― o que Jesus lhes disser (cf. Jo 2, 5), poderão progredir juntos naquela «peregrinação da fé» de que Maria é sempre o exemplo e que deve conduzi-los à unidade, querida pelo seu único Senhor e tão desejada por aqueles que estão prontos a ouvir atentamente o que o Espírito diz hoje às Igrejas (cf. Apoc 2, 7. 11. 17)”. Vemos que nessa carta, o Papa insiste no termo “peregrinação da fé” feita por Maria, a ser seguida pelos cristãos. A contemplação da Mãe introduz o cristão numa compreensão mais profunda do mistério da encarnação, consequentemente, da salvação. O mistério da salvação passa pelo mistério da encarnação, que necessariamente passa pelo ventre da mulher cheia de graça.

“Entretanto – conclui o Papa - é um bom presságio que estas Igrejas e Comunidades eclesiais estejam concordes em pontos fundamentais da fé cristã, também pelo que diz respeito à Virgem Maria. Elas, de fato, reconhecem-na como Mãe do Senhor e acham que isso faz parte da nossa fé em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ademais, volvem para ela o olhar, aceitando ser Aquela que, aos pés da Cruz, acolhe o discípulo amado como seu filho, o qual, por sua vez, a recebe a ela como mãe. Por que, então, não olhar todos conjuntamente para a nossa Mãe comum, que intercede pela unidade da família de Deus e que a todos «precede», à frente do longo cortejo das testemunhas da fé no único Senhor, o Filho de Deus, concebido no seu seio virginal por obra do Espírito Santo?”, pergunta o Papa polonês em sua Encíclica Redemptoris Mater, dentro do espírito do Concílio Vaticano II."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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[1] Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 68, 69. Sobre o papel de Maria Santíssima  na promoção da unidade dos cristãos e sobre o culto de Maria no Oriente, cf. Leão XIII, Carta Enc. Adiutricem populi (5 de Setembro de 1895): Acta Leonis, XV, 300-312.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Conhecer a história dos santos pode transformar sua vida

Frank11 | Shutterstock and Portrait of Philip Neri, Carlo Dolci | Metropolitan Museum of Art, NYC

Por Michael Rennier

Ao conhecermos as histórias de vida dos santos, os conceitos teológicos podem tornar-se realidade e despertar em nós algumas virtudes.

A primeira vez que ouvi a história de São Maximiliano Kolbe eu chorei. Não por tristeza. Não por raiva. A história – a de um padre católico preso pelos nazistas que depois trocou a sua vida para salvar a vida de outro prisioneiro – é triste. 

Mas não foi por isso que chorei. Chorei porque São Maximiliano é um herói. A ideia de que tais pessoas – verdadeiros heróis – andam pela terra trouxe-me uma emoção profunda. Esse era um sentimento que eu não sabia que possuía.

Ao meditar sobre a sua vida, São Maximiliano reorganizou a minha percepção sobre mim mesmo e do que significa ser sacerdote. No cerne do sacerdócio está o sacrifício, um fato que eu conhecia, mas cuja realidade nunca foi totalmente compreendida. Maximiliano, literalmente, desistiu da vida porque sentiu que isso fazia parte da sua vocação. Inúmeros outros sacerdotes entregam diariamente a vida ao serviço do altar, mantendo a obediência à Igreja e marcando os seus dias com um ciclo de oração.

Se eu não estivesse disposto a fazer esses simples atos de sacrifício, não teria sido padre. Eu sabia que se não pudesse me sacrificar nas pequenas coisas, nunca seria suficiente para os momentos maiores. Não tenho certeza se sou feito do mesmo material heróico que Maximiliano, mas estou tentando a cada dia ser um pouco mais parecido com ele.

A imitação cria virtude

Essa qualidade imitativa que cria novas virtudes em nós é a razão pela qual conhecer a vida dos santos é tão importante. Através das histórias deles – e não simplesmente das suas palavras – os santos trazem conceitos teológicos para a realidade. Uma coisa é saber que o amor cristão é um sacrifício, outra totalmente diferente é vê-lo ganhar vida nas palavras e ações de alguém como São Maximiliano Kolbe. Uma coisa é entender que a maternidade é uma doação total para um filho, outra coisa é ouvir a história de como Santa Gianna trocou sua vida pela de sua filha.

Essas são vidas reais, vividas no mundo real.

Santas influências

Meu amigo Patrick diz que a atitude “estranha” de São Filipe Neri o ajudou a relaxar e a não se levar muito a sério. O grande sucesso do santo em influenciar o mundo revela que o bom humor e a gentileza vão muito além da necessidade imperiosa de estar sempre certo e vencer uma discussão.

Outro amigo, Tim, menciona um pequeno detalhe da vida de São João Vianney. Na paróquia de Vianney, o sino da igreja tocava de hora em hora. Ele e os trabalhadores de campo ajoelhavam-se brevemente e faziam uma oração sempre que o ouviam. Isso inspirou Tim a ativar a função de campainha em seu relógio. 

O colega padre Jonathan Mitchican, é um grande fã de Dorothy Day e de São Oscar Romero, que o ajudaram através de seus respectivos exemplos a reorientar sua vida para o amor e o serviço. “Ainda estou longe do destino, mas sem o testemunho de Romero e Day eu nem estaria na jornada”, explica ele.

Os santos até influenciaram outros santos. São João da Cruz e Santa Joana D’Arc influenciaram Santa Teresinha de Lisieux para a santidade. Santo Ambrósio influenciou Santo Agostinho quando este ainda era um playboy, perdendo tempo perseguindo mulheres e fama. E a lista continua…

O fracasso também pode inspirar

E não são apenas os sucessos dos santos que nos inspiram. São também seus fracassos. Vianney era uma estudante notoriamente fraco e lutou para aprender latim. Como sacerdote que também luta com o latim, sinto-me encorajado pela sua persistência.

A minha amiga Anne menciona como Maximiliano Kolbe, antes de se tornar mártir num campo de prisioneiros, admitiu ter lutado contra pecados repetidos. Acho que todos nós provavelmente temos alguns vícios dos quais não conseguimos nos livrar. Ouvir Maximiliano discutir suas lutas tão abertamente é libertador. No final, seus pecados não tiveram a última palavra. Enquanto não desistirmos, os nossos também não desistirão.

Os santos podem trazer à tona o que há de melhor em nós

As vidas dos santos são estudos de caso fascinantes sobre como realizar o nosso potencial. Cada santo é exclusivamente ele mesmo. São Francisco é totalmente diferente de São Luís, que é completamente diferente do Beato Franz Jagerstatter, mostrando que a conformidade não é o caminho para a felicidade – ser a melhor versão de si mesmo é.

A vida de São Maximiliano Kolbe é importante para mim não porque eu precise ser exatamente como ele em todos os aspectos, mas porque ele me encoraja a buscar o melhor dentro de mim e oferecê-lo aos outros. Afinal de contas, se o seu exemplo teve tanta influência sobre mim, como é que o meu modesto exemplo de resposta autêntica à virtude (quando consigo administrá-lo) poderá afetar os outros?

Nossos filhos também precisam dos santos

Quero que meus filhos conheçam a história de vida dos santos Quero que eles sejam amigos dos santos também. Quero que eles se inspirem neles, que vivam virtuosamente como eles, e que através deles a sua fé ganhe vida e se torne real. E, claro, seguindo o exemplo dos santos que amo, sou desafiado diariamente a assumir melhor a minha própria vocação e a viver de uma maneira igualmente admirável. 

A teologia pode parecer complicada. Aplicar essa teologia à nossa experiência vivida é ainda mais complicado. Os santos (e aqueles que se comportam de maneira santa) simplificam as coisas. O colunista da Aleteia, Tom Hoopes, conta com sua vida foi impactada pela história de heroísmo de Tom Vander Woude, que morreu salvando seu filho de uma fossa séptica. Ele diz que Vander Woude, “tinha uma hora sagrada semanal às 2 da manhã. Eu também tenho. Ele rezava Rosário de joelhos. Eu também rezo. Ele treinava seus filhos. Eu comprei caiaques para eles e para mim. Ele ajudava casais. Eu também ajudo.”

É simples assim! Aprenda sobre os santos e tente viver como eles. Os santos arrancam de nós algo que talvez nunca soubéssemos que tínhamos – uma nova virtude, uma disposição para o sacrifício, uma chama de devoção acesa em um coração já transbordando de amor.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Vida espiritual, ela é necessária?

A vida espiritual existe e é necessária! (Facebook)

VIDA ESPIRITUAL, ELA É NECESSÁRIA?

Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo de Pelotas (RS)

Trago presente, a estória do país dos poços. Ele, o país dos poços, era um lugar bonito, verdejante, um ponto de parada onde as aves vinham saciar-se e realizar as suas danças a céu aberto. O país dos poços era uma terra bem povoada, atraente, cheia de vida. Mas um dia aconteceu que o país dos poços tornou-se um devastador deserto. Com o passar do tempo, os poços tinham começado a calar a fonte que havia dentro deles. E, quase sem dar-se conta, deixaram de ser poços e se transformaram em depósitos de entulho. Todas as coisas que tinham deixado amontoar, acabaram por calar a identidade e a beleza dos poços. E como relegaram a água para o fundo, em redor dos poços começou a crescer o deserto. E com o deserto veio a solidão, o peso de uma vida em que as coisas acabaram por se virar contra ela mesma. Mas um dia um poço disse não! Esse poço tinha ouvido no mais fundo de si mesmo como que o borbulhar de uma música esquecida, que estava nele, mas há tanto tempo silenciada. E começou, então, a despejar o excesso para perseguir o rastro daquilo que o enchia de curiosidade. E, ao prosseguir nessa procura, sentia-se apaixonado. Em muitos anos, aproximava-se finalmente de um tesouro que não se comprava nem se vendia. Era uma realidade que estava nele. ERA ÁGUA! E como ele se tinha esvaziado, a água pode recomeçar a subir e a espalhar-se. E à volta daquele poço, a vida ressurgiu. Então os outros poços começaram a ser tocados pelo exemplo daquele. E como toda a água provinha de uma vigorosa nascente, foi possível reconverter aquele imenso deserto “. 

A estória do país dos poços nos indica que “nós somos o país da água viva”. Nós, humanidade, brotamos da fonte eterna da “Água viva”; fomos feitos “à imagem e semelhança” dessa fonte. 

Contudo, ainda, parecemo-nos mais com “desertos”. Assemelhamo-nos mais a montes de entulho do que a lugares onde a fonte da eternidade encontra a sua morada e a sua expressão. De repente, sentimos que a vida se esgota no mesmo instante, que tudo acaba naquilo que vemos, que a nossa esperança é só o efêmero, o momento, que como fumaça se esvai. A vida espiritual está abafada, o entulho de toda a ordem a está deixando submersa. 

 Mas a vida espiritual existe e é necessária.! 

Por isso, é fundamental tirar o “excesso de entulho” e fazer desabrochar do fundo de nós mesmos a fonte da eternidade. É essencial acolher a vida espiritual! É verdade que ela nos diz claramente: Não há caminho interior, caminho de “poço entulhado” para um “poço de água”, sem a coragem de nos esvaziarmos, de deixar fora o que nos pesa e atordoa, para poder acolher o sabor líquido daquela fonte adiada, mas afinal acessível no fundo de nós mesmos. 

A vida espiritual existe e é necessária! 

A vida espiritual não é uma teoria ou uma abstração. Não é um momento virtual nem uma projeção imaginária. É apenas isto: experiência, atenção, imersão. Sabemos como existe uma solidão escura e pesada, aquela que nasce quando olhamos para a vida e percebemos que nunca fomos amados. Essa é uma solidão terrível e, no entanto, tão frequente. Mas há uma outra solidão, luminosa, aquela em que dispensamos as palavras, porque estamos diante de uma presença transbordante viva, circulante. Não é a culpa ou a autoflagelação que nos converte. Transforma-nos, sim, a experiência de amor, de um amor desmedidamente apaixonado, como esse amor que Deus tem pelo gênero humano que nós somos. É no confronto com esse amor que mudamos continuamente. É por isso que a única solidão na qual podemos confiar, é a solidão que nos encaminha devagarinho para a “fonte da água viva” presente no fundo do nosso “poço”. 

A vida espiritual existe e é necessária!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

S. JANUÁRIO, BISPO DE BENEVENTO E MÁRTIR

O martírio de São Gennaro e seus companheiros, Menologia de Basílio II (Vatican Media)

19 de setembro

São Januário

«... Como este sangue, que se liquefaz em cada celebração, assim a fé do povo napolitano possa se abrasar, reavivar e se consolidar...» (Paulo VI, discurso aos peregrinos napolitanos, 1966).

Natural de Nápoles ou talvez de Benevento, Januário nasceu na segunda metade do século III; aos trinta anos, já era Bispo da cidade samnita, onde era amado pelos fiéis e respeitado pelos pagãos, por suas obras de caridade para com os pobres, sem nenhuma distinção. Transcorria o primeiro período do império de Diocleciano, quando os cristãos tinham certa liberdade de culto e podiam até ocupar altos cargos civis. Mas, no ano 303, tudo mudou e os cristãos eram vistos como inimigos a serem eliminados.

Mártir da fé

O episódio, que levou Januário ao martírio, ocorreu no início do século IV, com a retomada das perseguições contra os cristãos. Há algum tempo, Januário era muito amigo de Sóssio, diácono da cidade de Miseno. Certo dia, enquanto lia o Evangelho na igreja, teve uma visão: apareceu uma chama sobre a sua cabeça. Reconhecendo nela o símbolo do seu futuro martírio, Januário deu graças ao Senhor e pediu para aquele fosse o seu destino. Assim, o Bispo convidou Sóssio a participar da visita pastoral, que se realizaria em Pozzuoli, para falar sobre a fé. O diácono pôs-se a caminho, mas, durante a viagem, foi preso pelos guardas, enviados por Dragôncio, governador da Campânia. Na prisão recebeu a visita de Januário, acompanhado pelo diácono Festo e o leitor Desidério: os três tentaram interceder, junto a Sóssio, pela sua libertação. Mas, em resposta, todos foram condenados a serem dilacerados publicamente pelos ursos. No entanto, a notícia da sua condenação à morte não foi bem vista pelo povo. Por isso, temendo uma revolta, o governador mudou a sentença para uma decapitação discreta, longe dos olhos do povo. Foram martirizados também Próculo, diácono da igreja de Pozzuoli, e os fiéis Eutíquio e Acúcio, por terem criticado a execução publicamente.

Outra versão do martírio

Nem todas as fontes, tão antigas, concordavam com o martírio de São Januário e, por isso, há outra hipótese do que, provavelmente, poderia ter acontecido: enquanto Januário se encaminhava para Nola, o pérfido juiz, Timóteo, o prendeu com a acusação de proselitismo, que violava os decretos imperiais. No entanto, as torturas perpetradas contra o Santo, não afetaram seu corpo ou sua fé. Por isso, Timóteo o jogou em uma fornalha da qual, mais uma vez, Januário saiu ileso. Enfim, foi condenado à decapitação em um lugar perto da chamada Solfatara. Durante a sua transferência, encontrou um mendigo, que lhe pede um pedaço do seu manto para guardar como relíquia: o Santo respondeu que podia ficar com todo o lenço, que estava amarrado em seu pescoço, antes da execução. Antes de morrer, Januário colocou um dedo na garganta, que também foi decepado pela lâmina, junto com o lenço, depois conservados como relíquia.

O milagre da liquefação de sangue

Segundo o costume, por ocasião da execução dos mártires, uma mulher, Eusébia, chegou ao lugar da morte de Januário e recolheu, em duas ampolas, o sangue derramado pelo Bispo, já em odor de santidade. Ela as entregou ao Bispo de Nápoles, que mandou construir duas capelas em homenagem ao sagrado traslado: São Januarinho em Vômero e São Januário em Antignano. Seu corpo, ao invés, sepultado na zona rural de Marciano, teve uma primeira translação, no século V, quando o culto ao Santo já era bem difundido. São Januário foi canonizado por Sisto V, em 1586. Quanto à relíquia do seu sangue, foi exposta, pela primeira vez, em 1305. Porém, o milagre do seu sangue, que parece quase ferver e voltar ao estado líquido, permanecendo até a oitava seguinte, ocorreu, pela primeira vez, em 17 de agosto de 1389, após uma grande escassez. Hoje, o milagre se repete três vezes ao ano: no primeiro sábado de maio, em memória da primeira translação; em 19 de setembro, memória litúrgica do Santo e data do seu martírio; e em 16 de dezembro, para comemorar a desastrosa erupção do Vesúvio, em 1631, bloqueada por intercessão do Santo. As duas ampolas estão conservadas em uma teca de prata, por desejo de Roberto d’Angiò, na Capela do Tesouro de São Januário, na Catedral de Nápoles.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Santa Sofia e o caos na Turquia: basílica e terremoto históricos

Caos na Turquia (Guadium Press)

Onde se localizou, de fato, o epicentro do terremoto da Turquia? Recentemente, no dia 30 de janeiro, Erdogán, presidente turco, exaltava um “Segundo Conquistador” com palavras um tanto ameaçadoras e polêmicas.

Redação (17/02/2023 11:46, Gaudium Press) É realmente uma tristeza a situação pela qual estão passando a Turquia e a Síria, após o terrível terremoto do dia 6 deste mês.

Segundo especialistas, o que se deu, na verdade, foi um doblete: um terremoto de tamanho similar que ocorre em lugar e tempo similares. O primeiro sismo, de magnitude 7.8, ocorreu às 4:17 em horário local, e o segundo se deu quase nove horas depois, com magnitude 7.7. Os dobletes não são tão inusuais, mas este parece sem precedentes, sobretudo pelas inúmeras réplicas de tremores – mais de trinta no mesmo dia – e por ter sido acompanhado de chuvas intensas e importantes nevadas em algumas zonas do país: uma forte borrasca invernal.

Por enquanto, há mais de 40.000 mortos e 82.000 pessoas feridas, sendo a Turquia o país mais atingido. Segundo relatou o bispo de Alepo, Mons. Antoine Audo, “a situação é apocalíptica”.

Isto nos faz lembrar um grande tremor de terra que houve na Antioquia, no ano de 528, durante o qual os cristãos escreviam frases como estas nas paredes das casas: “Iesus nobiscum et nemo loco moveatur” e “Christus nobiscum, state”.[1]

É muito oportuno rezarmos pelas vítimas do recente terremoto, mas confiemos: como tudo o que acontece conosco, certamente há um desígnio de Deus por trás de tanto sofrimento.

Santa Sofia, maravilhoso templo

Há dois outros fatos ocorridos também na Turquia, que merecem nossa atenção.

No dia 24 de julho de 2020, por desejo expresso de Erdogán, presidente da Turquia, a célebre e histórica Basílica de Santa Sofia, por muito tempo pertencente aos cristãos, foi reconvertida em mesquita, o que foi visto por muitos – inclusive pelo papa – como uma discriminação aos cristãos da Turquia.

Recentemente, no dia 30 de janeiro deste ano, em um evento que se deu na capital da Turquia, o presidente turco exaltava um suposto “novo conquistador” com palavras que recendiam, ao menos na aparência, uma não pequena antipatia ao tão cordato povo cristão.

Erdogán jubilava-se ao celebrar o fato ocorrido a 24 de julho de 2020. Eis alguns de seus dizeres:

“Santa Sofia, maravilhoso templo! Não te preocupes, os netos de Mahoma, o Conquistador, derrubarão todos os ídolos e voltarão a converter-te em uma mesquita […]; isto acontecerá, os dias estão próximos, talvez mais perto do que amanhã […], somos dignos de alcançar este amanhã. Escutaste o poema e disse que se abriria. Santa Sofia… Está aberta Santa Sofia? Deus nos fez dignos […]”.

Ora, quem fala de “conquistador”, fala de conquista; quem fala de conquista, fala de guerra; quem fala de guerra, fala de inimigos.

Ora, a quem Erdogán e os turcos consideram como inimigos? Aos que, outrora, guardaram com tanto carinho Santa Sofia, santificaram-na com suas orações, ornamentaram-na com piedosas imagens? Não sabemos. Mas se a resposta for afirmativa, podemos nos perguntar se o epicentro do terremoto da semana passada foi mesmo perto de Gaziantep, como afirmam os geólogos, ou se teve lugar, antes, na referida basílica.

Quem o saberá? Somente Deus. Mas o amanhã, de que falou Erdogán, talvez no-lo venha a revelar.

Por Horácio Cruz


[1] Do latim: “Jesus está conosco: ninguém se moverá” e “Cristo está conosco, ficai parados”. Cf. REZENDE, Arthur. Dicionários Garnier: Frases e curiosidades latinas. Belo Horizonte: Garnier, 2001, v. 4, p. 347.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Fascínio e religiosidade na obra de Tolkien

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Tolkien não escrevia com um interesse catequético ou apologético – e isso traz um sabor especial à religiosidade, profundamente cristã, de sua obra. Entenda:

Os Valar (anjos) esperavam há muito pelo encontro com os Primogênitos que Ilúvatar (Deus) havia lhes prometido criar no mundo. E aconteceu que um desses Valar, se afastando de seus lugares de caça, como que por acaso encontrou aqueles a quem tanto esperava. E, os vendo, encheu-se de admiração, como se eles fossem inesperados, maravilhosos e imprevistos… Porque assim é como as coisas de Deus: parecem novas e surpreendentes, ainda que as esperássemos desde sempre.

Essa narrativa, imaginada por J.R.R. Tolkien, em seu O Silmarillion (Harper Collins Brasil, 2019), diz muito não só sobre a sua obra, mas também sobre o coração de seus leitores. Seu estilo, a literatura de fantasia, se tornou um sucesso mundial cada vez maior porque nos fala de alguma coisa pela qual esperamos ardentemente, ainda que nos pareça surpreendente quando encontramos. Nosso coração insiste em reconhecer que algo subsiste para além da aparência material do mundo, um mistério – ou melhor, um Mistério, com letra maiúscula – nos acompanha em nosso perambular cotidiano. Esperamos o tempo todo que algo venha nos resgatar da mesmice de sempre, dos esforços e sofrimentos sem sentido, dos prazeres vazios que parecem se esvair em nada. Tolkien, de forma magistral, escreveu sobre esse algo. Sua Terra Média, ambientação de O Senhor do Anéis, realmente não existe ou existiu em qualquer território material, nesse planeta ou em outro, mas está sempre presente, ainda que sem as personagens e figuras emblemáticas imaginadas por Tolkien, no coração de cada ser humano.

Superando um velho preconceito e descortinando novos horizontes

Já houve um tempo em que a literatura de fantasia foi condenada, por muitos cristãos, como um chamado ao paganismo, convite a práticas esotéricas e crenças contrárias à fé. Era um contexto no qual, infelizmente, o formalismo se sobrepunha ao espírito. Imaginava-se que tudo que não se encaixasse dentro de um discurso católico rígido representa uma negação e uma fuga dos princípios cristãos. A própria especificidade de cada obra era perdida (um livro escrito para entretenimento não é um tratado de filosofia), o medo da influência de discursos subliminares embotava o discernimento e não permitia distinguir o que é verdadeiramente contrário à fé daquilo que até afirma a fé…

Com isso, muitos cristãos perdiam a chance de se fascinar com obras que, com outras linguagens, poderiam ajudá-los a compreender melhor a própria experiência religiosa. Além disso, se perdia uma importante oportunidade de um diálogo evangelizador, aos moldes daquele proposto por São Paulo, dirigindo-se aos atenienses, ao referir-se ao Deus Desconhecido, que adoravam sem conhecer (At 17, 23).

Nesse sentido, podemos compreender e valorizar o fascínio que Tolkien exerce entre movimentos que vão dos hippies, com suas propostas de contracultura na década de 1960, aos atuais geeks, apaixonados pelo mundo virtual e pelas fantasias veiculadas online. O mundo de O Senhor dos Anéis é uma ponte para que pessoas muito diferentes possam falar e se entender sobre “as coisas e as histórias que realmente importam”, parafraseando uma frase de Sam Gamgee no filme de Peter Jackson.

Uma grande história sobre os humildes que herdarão a Terra

Tolkien não escrevia com um interesse catequético ou apologético – e isso traz um sabor especial à religiosidade, profundamente cristã, de sua obra. Essa religiosidade não é um projeto intelectual, mas um diálogo que nasce espontaneamente entre o coração e a imaginação do autor. Nesse sentido, não se pode negar que algumas aproximações entre a narrativa tolkieniana e as tradições e elementos da tradição cristã podem ser um pouco (ou muito) forçadas, mas outras são até difíceis de não se considerar.

Para se entrar verdadeiramente no espírito de O Senhor dos Anéis, é fundamental a leitura de O Silmarillion, conjunto de contos nos quais Tolkien narra a história de sua Terra Média, desde o surgimento de todas as coisas, por vontade de Deus, até os eventos descritos na Trilogia filmada por Peter Jackson. Com esse pano de fundo, se percebe que a obra tolkieniana nos fala dos perigos da vaidade e da arrogância; de como os poderosos, vítimas de suas próprias ambições e prepotências, se perdem e são contaminados e vencidos pelo Mal. Trata-se de uma grande elegia aos pequenos e aos fracos, uma declaração de confiança numa salvação final que não virá da força ou do poder, mas sim do amor e do dom de si.

Dificilmente, numa história de aventuras, se encontrará um herói mais “cristico” que Frodo Baggins. O pequeno hobbit também nasce numa terra esquecida pelos registros históricos dos poderosos, realiza sua missão não por ser forte e poderoso, mas sim por ser puro e humilde, pronto para sacrificar-se pelo bem do mundo. Seu trajeto até a Montanha da Perdição, onde destruirá definitivamente o Anel – eliminando a possibilidade do mal vencer no mundo – se aproxima de certa forma à subida de Jesus a Jerusalém e ao Gólgota, onde Ele salvará a humanidade. De modo similar, Sam Gamgee, seu fiel colaborador, não é outro que não o santo, ser humano fraco e confuso, até cômico em suas limitações, que não encontra outra razão de ser que não aquela de olhar, apoiar e carregar no mundo o seu senhor.

Tolkien e o senso religioso

Mas, não é demais repetir, esses e muitos outros paralelos entre o cristianismo e a obra de Tolkien se tornam forçados – e até caricaturais – se entendidos como um projeto intelectual. São consequências naturais de um modo de ver o mundo. A fé é um modo de olhar o mundo, percebendo a Transcendência que se oculta em cada detalhe da realidade. Esse olhar impregnou a imaginação de Tolkien e se refletiu em suas obras – e nos impacta, mesmo quando não nos damos conta de sua origem, pela profunda correspondência com as exigências mais profundas de nosso coração.

Por conta dessas implicações da obra de Tolkien, o Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, com o apoio da revista Passos, do movimento Comunhão e Libertação, promove o Encontro “Tolkien: vida, obras e o senso religioso”, com a presença de três profundos conhecedores da sua obra: Diego Klautau, doutor em Ciências da Religião pela PUC-SP, professor do curso de especialização em Teologia e Ensino Religioso da Faculdade de Teologia da PUC-SP; Rafael Soares, autor do blog “O bolseiro”, sobre a obra de Tolkien; Luana Maíra Rufino Alves Zubelli, doutora em Economia Criativa pela UFRJ, Coordenadora de Cinema e Vídeo da ANCINE. O evento acontecerá na sexta-feira, 29 de setembro, a partir das 19h30, podendo ser visto tanto presencialmente quanto online. As inscrições podem ser feitas no link https://eventos.pucsp.br/tolkien/.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

Como deve ser o pastor? (iCatólica)

Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 46,3-4: CCL 41,530-531)       (Séc.V)


Pastores que se apascentam a si mesmos


 Vejamos, portanto, o que aos pastores que se apascentam a si mesmos, não as ovelhas, diz a palavra divina que não adula a ninguém: Eis que bebeis o leite e vos cobris com a lã; matais as mais gordas e não apascentais minhas ovelhas. Não fortalecestes a fraca; não curastes a doente; não pensastes a ferida, não reconduzistes a desgarrada e não fostes em busca da que se perdera; tratastes com dureza a forte. E minhas ovelhas se dispersaram, por não haver pastor (Ez 34,3-5).


Começa por dizer que é que apreciam e o que descuidam aqueles pastores que se apascentam a si, não as ovelhas. Que apreciam? Bebeis o leite, vos cobris com lã. Diz o Apóstolo: Quem planta uma vinha e não se alimenta de seu fruto? Quem apascenta um rebanho e não se serve do leite? (1Cor 9,7) Entendemos por leite do rebanho tudo quanto o povo de Deus dá ao bispo para sustento da vida terena. Era o que queria dizer o Apóstolo com as palavras citadas.


Embora preferisse viver do trabalho de suas mãos, sem esperar, nem mesmo o leite das ovelhas, o Apóstolo, no entanto, declarou ter o direito de recebê-lo, e ter o Senhor determinado que vivam do Evangelho aqueles que anunciam o Evangelho (cf. 1Cor 9,14). E acrescentou que os outros apóstolos usavam deste direito, não usurpado, mas concedido. Mais fez ele, por não querer receber o que lhe era devido. Dispensou a dívida, mas não era indevido aquilo que outros aceitaram; ele fez mais. Talvez o prefigurasse aquele que, ao levar o ferido à estalagem, dissera: Se gastares mais, pagar-te-ei ao voltar (Lc 10,35).

Daqueles, pois, que não precisam do leite das ovelhas, que diremos ainda? São misericordiosos, ou melhor, com liberalidade maior cumprem seu ofício de misericórdia. Podem, e o que podem, fazem. Elogiemos a estes sem condenar os outros. Este mesmo Apóstolo não procurava presentes. Desejava com ardor que fossem fecundas as ovelhas, não estéreis, sema riqueza do leite.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF