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sábado, 23 de setembro de 2023

Autismo em adultos: como lidar com o diagnóstico tardio (1/3)

Autismo em adultos (Crédito: UOL)

AUTISMO EM ADULTOS: COMO LIDAR COM O DIAGNÓSTICO TARDIO

por Isabelle Manzini

Publicado e revisado em: 9 de junho de 2022

O diagnóstico, mesmo que tardio, aliado à terapia, é fundamental para o autoconhecimento e desenvolvimento da independência.

“Entre a nossa comunidade, brincamos que crianças autistas não envelhecem; elas entram no pote no final do arco-íris e desaparecem.” É dessa forma descontraída, porém crítica, que Luciana Viegas, 28 anos, pedagoga, ativista pela neurodiversidade e idealizadora do movimento “Vidas negras com deficiência importam”, define a relação da sociedade com o apagamento dos adultos no espectro. 

De fato, a discussão sobre o transtorno do espectro autista (TEA) na fase adulta ainda é restrita, mas isso não significa que as pessoas deixem de fazer parte do espectro com o avançar da idade. O autismo é uma condição para a vida toda, e compreender seu funcionamento em cada fase da vida é fundamental para garantir qualidade de vida e inclusão social das pessoas autistas. 

Para começar a explicar o que é o TEA, o mais fácil é dizer o que ele não é. Ao contrário do que os estigmas afirmam, o transtorno do espectro autista não caracteriza uma doença, mas sim uma variação do funcionamento típico do cérebro. No livro “guia” dos diagnósticos de saúde mental, DSM-5, o TEA faz parte dos transtornos do desenvolvimento neurológico, no qual os sintomas tendem a se manifestar nos primeiros anos de vida. 

Esses sintomas são principalmente déficits em funções de comunicação, sociabilidade e interação, e a presença de comportamentos, interesses e atividades restritas e repetitivas. Eles podem estar presentes em maior ou menor intensidade. 

Um autismo para cada pessoa

Há, inclusive, uma classificação com o objetivo de facilitar e orientar o manejo e as intervenções necessárias para cada pessoa. Atualmente, essa classificação é bastante questionada pela própria comunidade autista, uma vez que, por ser o espectro, é difícil “colocar em caixas” cada manifestação do transtorno. De qualquer forma, essa classificação é mais útil para definir o nível de apoio demandado por cada um. Ela é dividida entre graus e grupos.

  • Nível 1: existe uma dificuldade para a interação social, porém sutil, além de dificuldade para troca de atividades e problemas de organização, também de forma leve. Exige apoio leve. 
  • Nível 2: a dificuldade para socialização é maior. Há também uma resistência a lidar com mudanças, além de comportamentos repetitivos. Exige apoio moderado.
  • Nível 3: há déficit de comunicação verbal e não verbal de forma mais clara. A pessoa também possui dificuldade em abrir-se para interações sociais que partam de outras pessoas, muita dificuldade em mudanças e comportamentos repetitivos constantes. Exige muito apoio. 

“Já em relação ao grupo, existem a síndrome de Asperger; o transtorno autista; o transtorno invasivo do desenvolvimento; e, por fim, o transtorno desintegrativo da infância”, explica Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião, médico do Hospital Israelita Albert Einstein e pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Uma frase muito dita tanto pelos especialistas quanto por indivíduos autistas é que “Existe um autismo para cada pessoa”. E, considerando a variedade na manifestação dos sintomas e no funcionamento dentro do espectro autista, não há o que define melhor a condição. 

Descobrindo-se autista

Mas, quando falamos em adultos diagnosticados tardiamente, costuma haver um padrão: são pessoas que manifestam os sintomas de forma mais leve, tidas apenas como tímidas ou com dificuldades sociais típicas, o que atrasa o diagnóstico.

É o caso da Patrícia Ilus, 42, artista e apresentadora no “Adultos no Espectro”, projeto no Instagram que busca trazer visibilidade aos adultos autistas. Ela recebeu o diagnóstico apenas aos 41 anos, mas conta que sempre percebeu ter dificuldade em socializar. A decisão de buscar um especialista veio depois de uma situação no trabalho.  

“Tinha muitas dificuldades em relação a minha socialização, minha percepção sensorial e aos stims (movimentos autoestimulatórios), mas acreditava que era tímida e apenas diferente. Quando duas produtoras que trabalhavam comigo partiram para outros projetos, entrei numa crise profunda, que me fez ver que eu não tinha superado minhas dificuldades. Elas viabilizavam meu trabalho no que diz respeito a fazer contato com as pessoas. Sem elas, me senti completamente perdida e comecei a pensar seriamente que pudesse ser autista, pois sabia que a condição afetava relações sociais.”

A princípio, Patrícia buscou ajuda pelo SUS, mas infelizmente não encontrou uma equipe preparada para lidar com a possibilidade de um diagnóstico do TEA em uma pessoa adulta.

“Tentei apoio pelo SUS, mas não consegui prosseguir com a investigação. O clínico geral que me atendeu não levou minha queixa a sério, e disse que eu não era autista depois de 5 minutos de consulta. Tentei a psicóloga do postinho, mas os atendimentos foram suspensos com a pandemia. Resolvi juntar dinheiro para conseguir minha avaliação pela rede particular. Meu diagnóstico não foi demorado e não deixou dúvidas. Ou seja, eu só precisava encontrar os profissionais certos”, relembra.

Autismo e raça

O relato se assemelha ao da pedagoga Luciana, que, além de lidar com a falta de preparo da equipe, encarou ainda um outro empecilho: o racismo. “O autismo tem raça, classe social. Quando discutimos o transtorno, logo pensamos em um homem branco muito inteligente.”

Ela começou a suspeitar da condição depois que seu filho, Luiz, foi diagnosticado como autista quando tinha um ano e nove meses. A descoberta do próprio diagnóstico motivada pelo diagnóstico de um filho ou parente não é exclusividade de Luciana, como explica a seguir o dr. Marcelo Valadares. 

“Principalmente quando falamos sobre os graus mais leves do TEA, é muito comum que pais, que começam a entender melhor o assunto após diagnosticarem seus filhos, descubram que convivem com o autismo há anos. Muitas vezes, existe uma discreta dificuldade para interação social, mas essas pessoas são consideradas apenas tímidas, e isso acaba anulando qualquer investigação.”

Já pesquisando sobre o TEA e percebendo suas próprias características, Luciana decidiu compartilhar sua suspeita com o clínico geral que a acompanhava pelo SUS. O profissional concordou com a hipótese, e realizou o encaminhamento para a neurologista. Foi quando o desgaste começou.

“Na hora que eu entrei no consultório, a neurologista já disse que eu não era autista. Falou que eu estava lendo demais sobre autismo e por isso estava achando que tinha o diagnóstico, mas que isso era coisa da minha cabeça. A desculpa foi que eu era casada, o que não faria sentido para uma pessoa autista”, relembra. 

Além do próprio capacitismo da profissional em questão – uma vez que o espectro abrange diferentes graus de comprometimento das relações sociais, e uma pessoa autista pode perfeitamente desenvolver um relacionamento –, Luciana chama atenção para a questão racial, e conta que se sentiu negligenciada. 

“Eu sou uma mulher negra, então todas as vezes que eu tinha uma crise de descontrole era associada a transtornos mais marginalizados. O autismo não é um transtorno marginalizado. O autismo tem raça, tem classe. Sempre que a gente fala em autismo, nós imaginamos homens brancos muito inteligentes. E aí, quando você traz isso para mulheres negras, o que sobra? Nada. Sobra a gente tentando dar conta desse processo de forma solitária. Quando eu fui pra internet conhecer outras mulheres negras autistas, vi que as histórias batiam. São várias e várias mulheres negras que passam a vida toda sofrendo com o capacitismo, o racismo, e não têm acesso ao diagnóstico”, desabafa.

Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/

Moçambique: fanáticos muçulmanos matam 12 cristãos

Ataques em Cabo Delgado, Moçambique, por terroristas islâmicos, em 2021: situação dramática persiste (Aleteia)
Aid to the Church in Need

Por Francisco Vêneto

Facção ligada ao Estado Islâmico persiste na região: queimaram casas, destruíram bens e dispararam após separarem os cristãos dos muçulmanos.

Afundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) confirmou que, no último dia 15, fanáticos muçulmanos ligados ao grupo terrorista Estado Islâmico atacaram a localidade de Naquitengue, na província moçambicana de Cabo Delgado, e abriram fogo contra moradores cristãos depois de separá-los dos vizinhos muçulmanos. Os criminosos também incendiaram casas e destruíram bens de cristãos, obrigando parte da população a se refugiar em pânico na floresta.

O próprio Estado Islâmico reivindicou a autoria do ataque e informou ter matado 11 pessoas, mas acabaram sendo confirmadas ao menos 12 vítimas fatais, além de dezenas de feridos.

O bando criminoso é uma facção do grupo terrorista que estarreceu o planeta entre 2013 e 2017 ao dominar importantes áreas do Iraque, da Síria e da Líbia e prometer implantar um califado. Derrotados por uma coalizão de forças da OTAN, por um lado, e da Rússia, por outro, os fanáticos tentam reorganizar-se em células que persistem em algumas regiões do mundo, sendo o norte de Moçambique a de mais intensa atuação do grupo na atualidade.

A crise na região atinge sobretudo a província de Cabo Delgado, mas também afeta, em menor medida, as províncias vizinhas de Nampula e Niassa. Em todas elas, os terroristas atacam civis sistematicamente. Em abril de 2023 chegou-se à marca de 1 milhão de moradores obrigados a se deslocar da região. Em agosto, o bispo dom Antônio Juliasse, da diocese de Pemba, informou que a quantidade de mortos na região, em decorrência do terror, supera 5 mil.

O recente ataque em Naquitengue foi perpetrado cerca de um mês após a morte do líder terrorista Bonomade Machude Omar, executada e confirmada pelas autoridades militares moçambicanas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A defesa da Vida é prioridade do Magistério da Igreja

Para o Papa Francisco "o aborto significa descartar seres humanos".  (Vatican Media)

O Papa reiterou a parlamentares brasileiros que vieram ao Vaticano para lhe conferir o Prêmio Zilda Arns, o seu posicionamento a favor da defesa da vida. Foi quando a delegação abordou a temática do julgamento da ADPF 442, que pleiteia a possibilidade de legalizar o aborto. Francisco, em diversas ocasiões durante o seu Pontificado, pronunciou palavras muito claras a favor da vida desde a sua concepção, afirmando que essa defesa está intrinsecamente ligada à proteção de qualquer direito humano.

Thulio Fonseca - Vatican News

O tema do aborto foi tratado com o Papa durante uma audiência concedida aos membros da Comissão do Idoso da Câmara dos Deputados na quarta-feira (20). A delegação brasileira veio ao Vaticano para entregar a Francisco o Prêmio Zilda Arns.

A deputada Simone Marquetto, que também é vice-presidente da frente parlamentar católica, contou à redação do Vatican News que teve a oportunidade de falar com o Santo Padre sobre o pedido de inclusão em pauta da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, no Supremo Tribunal Federal (STF), que pleiteia a possibilidade de aborto legal até a 12ª semana de gestação. Francisco, ao escutar a realidade trazida pela deputada, reiterou o seu posicionamento a favor da vida e o fato de que a Igreja não muda a sua posição.

A deputada destacou que a motivação para abordar este assunto com o Pontífice está em conformidade com as posições evidenciadas pela Igreja no Brasil. "A CNBB, juntamente com muitos padres e leigos, está se manifestando contra a possível decisão do STF. É crucial que estejamos unidos para evitar a aprovação da legalização do aborto no Brasil", afirmou Simone Marquetto.

O Papa a favor da defesa da Vida

A defesa da vida é constantemente reafirmada pela Igreja, sobretudo quando se trata daqueles que não têm voz. Em sua Exortação apostólica Evangelii Gaudium, Francisco recorda que na Igreja há um sinal que nunca deve faltar: “a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e joga fora”. Trata-se da atenção preferencial pelos mais frágeis.

Logo no início de seu Pontificado, em um discurso aos ginecologistas católicos, o Santo Padre disse:

Uma difundida mentalidade do útil, a cultura do descarte, que hoje escraviza os corações e as inteligências de muitas pessoas tem um preço deveras elevado: exige a eliminação de seres humanos, sobretudo quando são física ou socialmente mais frágeis. A nossa resposta a esta mentalidade é um sim decidido e sem hesitações à vida. O primeiro direito de uma pessoa humana é a sua vida. [...] Por isso, a atenção à vida humana na sua totalidade tornou-se nos últimos tempos uma verdadeira prioridade do Magistério da Igreja, de maneira particular àquela mais inerme, ou seja, ao portador de deficiência, ao enfermo, ao nascituro, à criança e ao idoso, à vida mais indefesa. No ser humano frágil, cada um de nós é convidado a reconhecer o rosto do Senhor, que na sua carne humana experimentou a indiferença e a solidão às quais frequentemente condenamos os mais pobres, tanto nos países em fase de desenvolvimento, como nas sociedades abastadas. Cada criança não nascida, mas condenada injustamente a ser abortada, tem o rosto de Jesus Cristo, tem a face do Senhor, que ainda antes de nascer e depois, recém-nascido, experimentou a rejeição do mundo. (20 de setembro de 2013)

A Vida é um direito inviolável

No cenário político brasileiro, os próximos dias serão de grande atenção. O STF pautou para esta sexta-feira, 22 de setembro, o início do julgamento da ADPF 442, que discute a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. O julgamento ocorrerá no Plenário Virtual da Corte, com prazo para ser finalizado em 29 de setembro.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de sua presidência, reagiu à pauta do STF e reafirmou através da nota "Vida: direito inviolável", divulgada no dia 14 de setembro, sua posição em favor da vida desde a concepção. Os bispos ressaltam que “o aborto constitui a eliminação de uma vida humana, trata-se, pois, de uma ação intrinsecamente má e, portanto, não pode ser legitimada como um bem ou um direito”.

O texto também deixa claro o posicionamento da Igreja no Brasil: “de qualquer forma, jamais aceitaremos quaisquer iniciativas que pretendam apoiar e promover o aborto”.

O assessor jurídico civil da CNBB, o advogado Hugo Cysneiros Oliveira, ao falar sobre a ADPF 442, destacou que a ação tem por objetivo básico abrir caminhos para a legalização do aborto no Brasil. Para o advogado, a ação “sequer deveria ser conhecida” e que, no caso de debate sobre o tema, deveria ser feito pelo Congresso Nacional: “o Brasil já regula esta matéria, nós temos normas sobre isso, nós somos signatários de tratados internacionais que expressamente protegem a vida e não há porquê modificar essa regra pelo caminho que se pretende”, afirmou ele.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A História de Padre Pio

Padre Pio (comunidadepadrepio)

23 de setembro

São Pio de Pietrelcina

Padre Pio nasceu em 25 de maio de 1887 na localidade de Pietrelcina, muito próxima à cidade de Benevento. Foi um dos sete filhos de Grazio Forgione e Maria Giuseppa De Nunzio.

Ainda criança era muito assíduo com as coisas de Deus, tendo uma inigualável admiração por Nossa Senhora e o seu Filho Jesus, que os via constantemente devido a tanta familiaridade. Ainda pequeno havia se tornado amigo do seu anjo da Guarda, a quem recorria muitas vezes para auxiliá-lo no seu trajeto nos caminhos do Evangelho. Conta a história que ele recomendava muitas vezes as pessoas a recorrerem ao seu anjo da guarda, estreitando assim a intimidade dos fiéis para com aquele que viria a ser o primeiro sacerdote da história da igreja a receber os estigmas do Cristo do Calvário.

Com quinze anos de idade entrou no noviciado em Morcone adotando o nome de “frei Pio”; concluído o ano de noviciado, formulou os votos simples em 1904; em 1907 formulou a profissão dos votos solenes. Frequentou estudos clássicos e filosofia. Foi ordenado padre em 10 de agosto de 1910 no Duomo de Benevento.

Aos casos mais urgentes e complicados o frade de Pietrelcina dizia: “Estes só Nossa Senhora”, tamanha era a sua confiança na sua mãezinha do céu a quem ele tanto amava e queria obter suas virtudes.

Percebendo que a sua missão era de acolher em si o sofrimento do povo, recebe como confirmação do Cristo os sinais da Paixão em seu próprio corpo. Estava aí marcado em si mesmo a sua missão. Deus o queria para aliviar o sofrimento do seu povo. Entregando-se inteiramente ao Ministério da Confissão, buscava por este sacramento aliviar os sofrimentos atrozes do coração de seus fiéis e libertá-los das garras do Demônio que era conhecido por ele como “barba azul”. Torturado, tentado e testado muitas vezes por este, sabia muito da sua astúcia no seu afã em desviar os filhos de Deus do caminho da fé.

Percebendo que não somente deveria aliviar o sofrimento espiritual, recebeu de Deus a inspiração de Construir um grande hospital, o tão conhecido “Casa Alívio do Sofrimento”, que viria a ser o referência em toda a Europa. Mesmo com o seu ministério sacerdotal vitimado por calúnias injustificáveis, não se arrefeceu o coração para com a Igreja por quem tinha grande apreço e admiração. Sabia muito bem distinguir de onde provinham as calúnias, sendo estas vindas por parte de alguns da Igreja, e não da Igreja mãe e mestra a quem ele tanto amava.

A pedido do Santo Padre, devido aos horrores provocados pela Segunda Guerra Mundial, cria os grupos de Oração, verdadeiras células catalizadoras do amor e da paz de Deus para serem dispenseiros de tais virtudes no mundo que sofria e angustiava-se no vale tenebroso de lágrimas e sofrimentos.

Na ocasião do aniversário de 50 anos dos grupos de oração celebra-se uma Missa nesta intenção. Seria esta Missa o caminho do seu Calvário definitivo, onde entregaria a alma e o corpo ao seu grande apaixonado; a última vez que os seus filhos espirituais veriam o padre a quem tanto amavam. Era madrugada do dia 23 de setembro de 1968, no seu quarto conventual com o terço entre os dedos repetindo o nome de Jesus e Maria, descansa em paz aquele que tinha abraçado a cruz do Cristo, fazendo desta a ponte de ligação entre a terra e o céu. Morte suave de quem havia completado a missão, de quem agora retornaria ao seio do Pai em quem tanto confiou. Hoje são muitas as pessoas que se juntaram a fileira dos seus devotos e filhos espirituais em vários grupos de oração que se espalharam pelo mundo. É o próprio padre Pio que diz: “Ficarei na porta do Paraíso até o último dos meus filhos entrar”.

A canonização

O procedimento que levou à sua canonização teve início com o nihil obstat de 29 de novembro de 1982. Em 20 de março de 1993 foi começado o processo diocesano para sua canonização. Em 21 de janeiro de 1990 Padre Pio foi proclamado “venerável”, beatificado em 2 de maio de 1999 e foi canonizado em 16 de junho de 2002, proclamado na Praça de São Pedro pelo pontífice Papa João Paulo II como São Pio de Pietrelcina.

A sua festa litúrgica é celebrada dia 23 de setembro.

Os sinais milagrosos

Padre Pio de Pietrelcina com os estigmas.

Padre Pio com os estigmas (comunidadepadrepio)

Entre os sinais milagrosos que lhe são atribuídos encontram-se as estigmas, que duraram cinqüenta anos (20 de setembro de 1918 a 23 de setembro de 1968), e o dom da bilocação. Entre os muitos milagres, está a cura do pequeno Matteo Pio Colella de San Giovanni Rotondo sobre o qual se assentou todo processo canônico que fizeram do frade São Pio.

Entre os tantos relatos de bilocação, há o contado por Dom Luigi Orione também proclamado recentemente santo. Santo Orione contou que em 1925, sendo um dos tantos devotos de Santa Teresa de Lisieux, encontrava-se na praça de São Pedro para as celebrações em honra da mística francesa quando apareceu inesperadamente em sua frente Padre Pio. Todavia, segundo o relato de muitas pessoas, Pio nunca saiu do convento onde viveu de 1918 até sua morte.

Reconhecimento ao longo da História

Os santos Papas reconheceram a santidade e importância do Pe. Pio ao longo da história:

Papa Bento XV disse: “Padre Pio é um daqueles homens extraordinários que Deus envia de vez em quando à terra para converter os homens”.

Papa Paulo VI: “Veja que fama ele alcançou! Que clientela mundial reuniu em torno de si! Mas por quê? Por que era um filósofo? Por que era um sábio? Por que dispunha de meios? Não, mas porque rezava a Missa humildemente, confessava de manhã à noite; era, difícil de dizer, representante estampado dos estigmas de Jesus. Era um homem de oração e de sofrimento.” (20 de fevereiro de 1971).

Papa João Paulo II (Homilia na canonização do Padre Pio de Pietrelcina):

Domingo, 16 de Junho de 2002: “Padre Pio foi um generoso dispensador da misericórdia divina, estando sempre disponível para todos através do acolhimento, da direcção espiritual, e sobretudo da administração do sacramento da Penitência. O ministério do confessionário, que constitui uma das numerosas características que distinguem o seu apostolado, atraía numerosas multidões de fiéis ao Convento de San Giovanni Rotondo. Mesmo quando aquele singular confessor tratava os peregrinos com severidade aparente, eles, tomando consciência da gravidade do pecado e arrependendo-se sinceramente, voltavam quase sempre atrás para o abraço pacificador do perdão sacramental.

Oxalá o seu exemplo anime os sacerdotes a realizar com alegria e assiduidade este ministério, muito importante também hoje, como desejei recordar na Carta aos Sacerdotes por ocasião da passada Quinta-Feira Santa”.

16 de junho de 2002, durante o Angelus: “Que Maria pouse a sua mão materna sobre a tua cabeça”. Este voto, dirigido a uma filha espiritual, o dirija hoje o Padre Pio a cada um de vós. À proteção materna da Virgem e de São Pio de Pietrelcina confiamos o caminho de santidade de toda a Igreja, no início do novo milénio.”

Da falsa acusação de fraude

No livro Padre Pio – Milagres e Política na Itália do Século XX, o historiador Sérgio Luzzatto faz a acusação de que Padre Pio teria encomendado secretamente um grande número de garrafas de ácido carbólico, que ele pode ter usado para criar as feridas semelhantes às de Cristo em suas mãos.

O interessante de tal acusação e que revela o fato da mesma não ter qualquer fundamento é que qualquer pessoa com o mínimo conhecimento em química sabe que feridas provocadas por ácido não sangram, pois a substância corrosiva as cauteriza e impede a hemorragia, enquanto que os estigmas de Padre Pio sangravam constantemente (principalmente quando este celebrava a Missa). Alguns dos médicos que examinaram as chagas do Padre Pio, tais como o Dr. Luigi Romaneli e o Dr. Giorgio Festa, ficaram maravilhados com a quantidade de sangue que delas brotava e que seria suficiente para matar um homem normal de anemia aguda (cf. Olivo Cesca, Padre Pio, o Santo do Terceiro Milênio, Editora Myriam).

Assim, acredita-se que, se realmente Padre Pio comprava os ácidos, apenas o fazia para limpar e conter o sangramento em seus estigmas.

Exumação e exposição pública

Padre Pio: exposição pública (comunidadepadrepio)

O corpo incorrupto de Padre Pio exposto para veneração pública.
O corpo de Padre Pio foi exumado a 20 de abril de 2008 e colocado em exposição pública na cripta da Igreja de Santa Maria das Graças, em San Giovanni Rotondo, como parte das comemorações dos 40 anos do seu falecimento.

No dia 19 de abril de 2010, aconteceu a transladação da urna com as relíquias (corpo intacto) de São Pio de Pietrelcina da cripta do Santuário “Nossa Senhora das Graças” para a Igreja dedicada ao santo capuchinho.
De acordo com o arcebispo, a transladação foi decidida “respeitando o tradicional culto das relíquias que caracteriza a devoção dos fiéis desde os primeiros séculos da história da Igreja e será realizada respeitando as normas canônicas”. O lugar onde será colocado o corpo de São Pio de Pietrelcina – explica Dom Castoro – “permitirá a muitos peregrinos deterem-se em oração em um lugar mais amplo, mais acolhedor e rico em ocasiões de reflexão para um maior fortalecimento espiritual. O ambiente é constituído por mosaicos realizados pelo jesuíta Marko Ivan Rupnik”.

Fonte: https://comunidadepadrepio.com.br/

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Pio XII conseguiu salvar 63,04% dos judeus de Roma durante a perseguição nazista

Papa Pio XII | © DR

Por Alfa y Omega - publicado em 09/03/17

Vem abaixo, cada vez mais retumbantemente, a covarde lenda negra contra o Papa Pacelli.

Tentaram despejar sobre a figura do venerável Papa Pio XII uma covarde quantidade de lendas negras a propósito da sua suposta “colaboração” com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. A investigação histórica séria, no entanto, vem desmontando essas mentiras uma por uma. A mais recente a desabar (mais uma vez) é a da alegada falta de ajuda aos judeus durante a perseguição nazista.

Já havia numerosos testemunhos e documentos sobre as ações do Papa em favor dos judeus, apresentados amplamente, em 2014, durante o Congresso “Pio XII, o Papa da Caridade”. Agora, “estamos em posse de novos testemunhos de judeus, de novos documentos e arquivos”, explica o diácono Domenico Oversteyns, que confirmam e revelam ainda mais claramente a amplitude da ajuda que o Papa Pacelli prestou aos judeus.

A nova documentação, tornada pública por Oversteyns durante um segundo congresso sobre Pio XII realizado em Roma no último dia 2 de março, demonstra a existência de pelo menos outros cinco conventos que esconderam judeus entre seus muros.

Graças ao testemunho de Vittorio de Benedetti, entrevistado em quatro ocasiões entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, sabemos que o Instituto das Franciscanas Missionárias Clarissas do Santíssimo Sacramento acolheu Gino de Benedetti, sua esposa e seus dois filhos; que no Instituto de Adoração foram escondidos 11 judeus: Lília Coen e seus quatro filhos, Adriana, Anna, Angela e Andrea; a senhora Sestieri com seus filhos Valerio e Giancarlo; a senhora Lucia Basevi e seus dois filhos, Maria Vittoria e Antonio…”, foi citando o diácono Domenico durante a conferência “Pio XII – A lenda negra está prestes a terminar: novas provas e pontos de vista”.

A partir da informação reunida e atualizada até agora, verifica-se que Pio XII e seus colaboradores protegeram e ajudaram 6.288 judeus: 336 foram abrigados nos colégios pontifícios e nas paróquias de Roma; 4.112 foram escondidos em 235 conventos; 160 se resguardaram no próprio Vaticano e nas suas sedes extraterritoriais; e 1.680 judeus estrangeiros foram ajudados pela Associação Delasem com apoio econômico do Vaticano.

Em total, conforme os levantamentos feitos até o momento, Pio XII conseguiu esconder e proteger nada menos que 63,04% dos judeus que estavam em Roma durante a perseguição nazista.

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A partir de original em espanhol escrito por José Calderero (@jcalderero) para o site Alfa y Omega

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Igreja Católica celebra hoje os 233 mártires da guerra civil espanhola

ACI Digital

A Igreja Católica celebra hoje (22) o grupo de 233 mártires da guerra civil espanhola, que aconteceu entre 1936 e 1939.

Estes mártires foram beatificados pelo papa são João Paulo II no dia 11 de março de 2001, em uma cerimônia que ficará para sempre gravada na alma do povo espanhol.

Padre Sanz e os 232

Durante a missa, o papa recordou a figura de José Aparicio Sanz, padre diocesano natural de Valência, colocado no topo da lista dos novos beatos: “Assim viveram e morreram José Aparício Sanz e os seus duzentos e trinta e dois companheiros, assassinados durante a terrível perseguição religiosa que atormentou a Espanha nos anos trinta do século passado. Eram homens e mulheres de todas as idades e condições: sacerdotes diocesanos, religiosos, religiosas, pais e mães de família, e jovens leigos. Foram assassinados porque eram cristãos, devido à sua fé em Cristo, por serem membros ativos da Igreja. Todos eles, segundo o que consta dos processos canônicos para a sua declaração como mártires, antes de morrer perdoaram sinceramente os seus algozes” (Homilia da cerimônia de beatificação dos Servos de Deus José Aparicio Sanz e 232 companheiros mártires na Espanha).

Chama a atenção até hoje o número, sem precedentes, de beatificações celebradas na mesma cerimônia, bem como a heterogeneidade ou diversidade do grupo de mártires – algo que foi destacado pelo papa na ocasião. Ambos os aspectos são comoventes: os mártires estavam unidos pela fé e pelo amor a Jesus e aos seus irmãos, longe de qualquer tipo de compromisso ideológico e muito próximos do coração da Igreja.

Unidade na diversidade

A lista de beatos incluiu homens e mulheres com diferentes estados de vida e de todas as classes sociais:

“São trinta e oito sacerdotes da arquidiocese de Valença, juntamente com um numeroso grupo de homens e mulheres da Ação Católica também de Valença: dezoito dominicanos e dois sacerdotes da arquidiocese de Saragoça; quatro Frades Menores Franciscanos e seis Frades Menores Franciscanos Conventuais; treze Frades Menores Capuchinhos, com quatro religiosas Capuchinhas e uma Agostinha Descalça, onze Jesuítas com um jovem leigo; trinta e dois Salesianos e duas Filhas de Maria Auxiliadora; dezenove Terciários Capuchinhos da Virgem das Dores com uma cooperadora leiga; um sacerdote Deoniano; o Capelão do Colégio de La Salle da Boaventura, de Barcelona, com cinco Irmãos das Escolas Cristãs; vinte e quatro Carmelitas da Caridade; uma Religiosa Servita; seis Religiosas Escolápias com duas cooperadoras provenientes do Uruguai as primeiras Beatas desse País latino-americano; duas Irmãzinhas dos Anciãos Desamparados; três Terciárias Capuchinhas da Sagrada Família; uma Missionária Claretiana; e, enfim, o jovem Francisco Castellói Aleu, da Ação Católica de Lérida” (Homilia da cerimônia de beatificação dos Servos de Deus José Aparicio Sanz e 232 companheiros).

Mãe coragem: Maria Teresa Ferragud

Na homilia da beatificação, são João Paulo II contou algumas histórias comoventes dos 233 mártires. A primeira delas é a de Maria Teresa Ferragud, uma senhora idosa que foi presa junto com as suas quatro filhas, todas religiosas contemplativas. As cinco foram condenadas à morte. Maria Teresa tinha oitenta e três anos na época.

No dia 25 de outubro de 1936, festa de Cristo Rei, Maria Teresa, consciente do destino que as aguardava, pediu para estar ao lado das filhas e ser a última a ser executada. Aquela mãe quis acompanhar as filhas, uma a uma, na entrega da vida e, desta forma, poder encorajá-las até o momento final, para que o medo de morrer não enfraquecesse a sua fé.

Os verdugos, depois de presenciarem o que aquela mãe havia feito, só conseguiram exclamar: “Esta é uma verdadeira santa”.

Jovens corajosos e autênticos

Outra história exemplar citada por João Paulo II é o de Francisco Castellói Aleu, “de vinte e dois anos, químico de profissão e membro da Ação Católica que, consciente da gravidade do momento não se escondeu, mas ofereceu a sua juventude em sacrifício de amor a Deus e aos irmãos, deixando-nos três cartas, exemplo de fortaleza, generosidade, serenidade e alegria, escritas poucos momentos antes de morrer, às suas irmãs, ao seu diretor espiritual e àquela que fora sua noiva” (Homilia da cerimônia de beatificação dos Servos de Deus José Aparício Sanz e 232 companheiros).

Por fim, há a história do recém-ordenado sacerdote Germán Gozalbo, de 23 anos, “que foi fuzilado logo dois meses depois de ter celebrado a sua Primeira Missa, após ter padecido humilhações e maus tratos sem conta” (Homilia da cerimônia de beatificação dos Servos de Deus José Aparício Sanz e 232 companheiros).

Entre os 233 estava também o beato José Calasanz Marqués, missionário salesiano em Cuba.

Esperança da Igreja

Sem dúvida, estes beatos deram “testemunho de serenidade e esperança cristã”. Para nós, são um motivo de encorajamento e de confirmação da nossa fé. Aqueles homens e mulheres amaram de forma extraordinária, mesmo quando foram vítimas do “ódio à fé” – também presente nos nossos dias. Eles são uma prova confiável de que o amor e o perdão não são apenas possíveis, mas muito reais.

Junto com os 233, devem ser lembrados todos os mártires da Igreja: os conhecidos e os anônimos, os de ontem e, sem dúvida, também os de hoje.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

Pastor e ovelhas (coracaodemaria)

Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 46,10-11: CCL 41,536-538)       (Séc.V)

Prepara-te para a tentação

Já sabeis o que amam os maus pastores. Vede o que descuidam. Ao enfermo não fortificastes; do doente não cuidastes; o machucado, isto é, fraturado, não pensastes; ao desgarrado, não reconduzistes; ao que se perdia não fostes procurar e ao forte oprimistes (Ez 34,4), matastes, destruístes. A ovelha se enfraquece, quer dizer, tem coração débil, imprudente e desprevenido, a ponto de ceder às tentações que sobrevierem.

O pastor negligente, quando alguém se lhe confia, não lhe diz: Filho, vindo para servir a Deus, mantém-te na justiça e prepara-te para a tentação (cf. Eclo 2,1). Quem assim fala fortifica o fraco e de fraco faz firme, de modo que, se lhe forem confiados os bens deste mundo, não se fiará neles. Se, contudo, houver aprendido a fiar-se na prosperidade terena, por esta mesma prosperidade será corrompido; sobrevindo adversidades, ferir-se-á e talvez pereça.

Quem assim o edifica, não o constrói sobre pedra, mas sobre a areia. A pedra era Cristo (cf. 1Cor 10,4). Os cristãos têm de imitar os sofrimentos de Cristo e não, ir atrás de prazeres. O fraco se fortifica, quando lhe dizem: “Espera, sim, provações neste mundo, mas de todas elas te livrará o Senhor, se teu coração não voltar atrás. Pois para fortalecer teu coração veio padecer, veio morrer, veio ser coberto de escarros, veio ser coroado de espinhos, veio ouvir insultos, veio enfim ser pregado na cruz. Tudo isto por tua causa, e tu, nada: não para ele, mas em teu favor”.

Quais são estes que, por temerem ofender os ouvintes, não apenas não os prepararam para as inevitáveis provações, mas prometem a felicidade neste mundo, que Deus não prometeu a este mundo? Ele predisse labutas e mais labutas, que até o fim sobreviriam a este mundo. E tu queres que o cristão esteja isento destas labutas? Justamente por ser cristão, sofrerá algo mais neste mundo.

Com efeito disse o Apóstolo: Todos aqueles que querem viver sinceramente em Cristo, sofrerão perseguições (2Tm 3,12). Agora tu, pastor insensato, que procuras os teus interesses e não os de Jesus Cristo, deixa que ele diga: Todos aqueles que querem viver sinceramente em Cristo, sofrerão perseguições. E por tua conta vai dizendo: “Se em Cristo viveres piedosamente, terás abundância de todos os bens. Se não tens filhos, tê-lo-ás e os criarás, e nenhum morrerá”. É esta tua construção? Olha o que fazes, onde a colocas. Sobre a areia a constróis. Virá a chuva, o rio transbordará, soprará o vento, baterão contra esta casa; ela cairá e será grande sua ruína.

Tira-a da areia, põe-na sobre a pedra: esteja em Cristo aquele a quem desejas ver cristão. Observe os injustos sofrimentos de Cristo, observe-o sem pecado, pagando o que não devia, observe a Escritura a lhe dizer: O Senhor castiga todo aquele que reconhece como filho (Hb 12,6). Ou se prepare para ser castigado, ou não procure ser aceito.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Catedral de São Carlos entra na rota da Sagrada Cruz de Nosso Senhor

Missa na Catedral de São Carlos marca entronização das relíquias da Santa Cruz (Vatican Media)

As relíquias da Sagrada Cruz de Cristo foram entronizadas na Catedral de São Carlos, interior de São Paulo, onde permanecerão em exposição perpétua aos peregrinos. A missa presidida por dom Luiz Carlos foi realizada no último domingo (17).

Fábio Tucci Farah*

No século II, o rastro redentor de Jesus Cristo estava soterrado pelo paganismo romano. Em ruínas desde a primeira guerra judaico-romana, em 70 d.C., o imperador Adriano reconstruíra Jerusalém e a rebatizara de Aelia Capitolina, em homenagem ao deus Júpiter. Na nova cidade, o lugar escolhido para o templo de Vênus fora o terreno irregular além dos muros, palco das temíveis crucificações no tempo de Tibério. Nessa empreitada, os construtores fizeram aterros e muros de sustentação, sepultando os lugares mais sagrados do cristianismo: o Gólgota e o Santo Sepulcro.

Pouco menos de duzentos anos após a morte de Adriano, aquele legado seria destruído por ordem direta de seu sucessor, o imperador Constantino. Com quase 80 anos, a imperatriz-mãe Helena peregrinou à Terra Santa para acompanhar de perto algumas obras do Império. E fez uma descoberta extraordinária em uma cisterna a leste do Gólgota. Ao lado do bispo Macário, em um misto de canteiro de obras e sítio arqueológico, ela trouxe à tona a Cruz de Cristo e os Cravos que transpassaram Suas mãos e Seus pés. A descoberta seria como uma segunda ressurreição, quase três séculos após a ascensão de Jesus. Segundo Hermas Sozomenus, além de curar uma mulher moribunda, a Vera Cruz também teria ressuscitado um jovem!

Santa Helena não quis que os tesouros cristãos recém-descobertos fossem mantidos no mesmo lugar. Pelo relato de Sócrates, sabemos que a Cruz foi dividida. Pouco mais de dez anos após a missão da imperatriz-mãe na Terra Santa, pedaços do Santo Lenho se espalharam pelo Império. Em diversos santuários, as relíquias de Cristo tornaram-se luzeiros celestes, atraindo multidões de peregrinos.

A solenidade de entronização no Brasil

No último domingo, 17 de setembro, a Catedral de São Carlos, no interior de São Paulo, passou a fazer parte dessa rota sagrada. Em uma cerimônia presidida pelo bispo diocesano, dom Luiz Carlos Dias, e concelebrada pelo Pe. Sandro Portela, houve a entronização no templo de fragmentos da Vera Cruz, ladeados por outros da Coroa de Espinhos e da Sagrada Esponja. Com autentica expedida em 28 de junho de 1860, em Roma, por dom Francesco Marinelli, sacristão de Sua Santidade, essas relíquias provieram diretamente do tesouro do Papa Pio IX, beatificado por São João Paulo II. E a partir da solenidade, permanecerão em exposição perpétua. 

O tesouro estava anteriormente custodiado no Oratorium Sanctus Ludovicus, estabelecido na Arquidiocese de São Paulo para dar suporte ao Apostolado das Sagradas Relíquias no Brasil. A doação de algumas relíquias faz parte da segunda etapa desse apostolado e a escolha da Catedral de São Carlos para iniciá-la teve uma motivação pessoal. Quando criança, eu costumava brincar no chão dessa catedral. Há quase vinte anos, já na vida adulta, fui recebido de volta à Igreja pelas mãos do monsenhor Luiz Cechinato, o padre que ali rezava as missas em minha infância – e hoje está sepultado na cripta.

A solenidade de entronização ocorreu no domingo seguinte à Festa de Exaltação da Santa Cruz, tradicionalmente celebrada em 14 de setembro. Pouco menos de trezentos anos após a incrível descoberta de Santa Helena, os persas invadiram Jerusalém e roubaram parte da Santa Cruz ali custodiada. A relíquia seria recuperada pelo imperador bizantino Heráclio, em 628. Na Idade Média, o beato dominicano Jacopo de Varazze registrou a prece entoada pelo monarca ao devolver a Cruz à Cidade Santa:

Ó Cruz mais resplandecente que o conjunto dos astros, célebre no mundo, tão amável aos homens, mais santa que tudo, a única que foi digna de portar o valor do mundo! Doce madeira! Doces cravos! Doce ponta de espada! Doce lança! Doce cruz que suportou tal peso! Salve os que aqui estão, sob seu estandarte, para louvá-la. (1)

Quase mil e quatrocentos anos após a Exaltação da Cruz conduzida por Heráclio, os paroquianos e visitantes da Catedral de São Carlos foram acolhidos sob o mesmo estandarte para louvar a insígnia da salvação, o triunfo de Cristo.

Outras relíquias da Santa Cruz no Brasil

Terra de Vera Cruz. O Brasil foi originalmente batizado em homenagem à relíquia do Santo Lenho. Em 1963, em uma cerimônia presidida por dom Antônio Ferreira de Macedo na Basílica de Aparecida, uma cruz especial foi colocada no topo da Torre Brasília. O que poucas pessoas sabem é que essa cruz é coroada por uma redoma de bronze com um fragmento do Santo Lenho trazido de Roma por dom Antônio. É um relicário lacrado a 119 metros de altura! Mas é uma recordação oportuna, na casa de nossa padroeira, do símbolo de nossa salvação e do nome original de nossa terra.

Mas esse não é o único relicário da Vera Cruz no topo de uma construção religiosa brasileira. Presenteado pelo Papa com a relíquia da Cruz, dom José Newton de Almeida Baptista, primeiro arcebispo de Brasília, decidiu colocá-la no alto da catedral da nova capital do país para que toda a cidade fosse abençoada pelo mistério da Cruz de Cristo. Atualmente, a relíquia e a Cruz Peitoral de dom José Newton estão guardadas no interior da cruz de doze metros de altura abençoada pelo Papa Paulo VI.

Em 26 de fevereiro de 2020, no fim da missa de Cinzas, o arcebispo de Fortaleza, dom José Antônio Aparecido Tosi Marques, anunciou a descoberta, no subsolo da catedral, de uma relíquia da Vera Cruz, acompanhada pela autentica. Naquele ano, a relíquia foi exposta aos fiéis durante a Quaresma. A relíquia havia sido originalmente enviada de Roma, em 1928, ao primeiro arcebispo de Fortaleza, dom Manuel da Silva Gomes.

A recente reforma no Santuário Nacional de São José de Anchieta, no Espírito Santo, também trouxe à tona uma relíquia do Santo Lenho, cujo relicário foi restaurado e posto em exibição na sacristia. Em seu acervo, o Museu de Arte Sacra de Niterói, anexo à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, destaca uma relíquia da Sagrada Cruz também descoberta acidentalmente, em 2008. Na Sexta-Feira da Paixão, o relicário é levado para a Catedral São João Batista.

Em 18 de abril de 2020, o Pe. Cristiano José Benedito Chicuta sobrevoou Cesário Lange (SP) com uma relíquia da Santa Cruz para abençoar a cidade e suplicar pelo fim da pandemia da Covid-19 – suplicar pelo fim de epidemias na presença de relíquias é uma tradição da Igreja. A “relíquia voadora” pertence à Paróquia Santa Cruz e foi um presente do Papa João XXIII ao bispo auxiliar dom José Thurler, em 1962, durante a primeira sessão do Concílio Vaticano II.

As relíquias da Sagrada Cruz no Brasil

Ainda não há uma catalogação de todas as relíquias da Vera Cruz existentes no Brasil. Algumas já estavam esquecidas e foram redescobertas acidentalmente nos últimos tempos. Outras permanecem lacradas no alto de importantes construções religiosas, abençoando os católicos do país. Na Catedral de São Carlos, elas ficarão perpetuamente expostas.

Desde que devidamente atestadas pela autoridade eclesiástica competente, as relíquias da Santa Cruz remontam à descoberta feita por Santa Helena, ao lado de São Macário, há quase 1700 anos em uma cisterna a leste do Gólgota. E nos colocam frente a frente ao mistério central de nossa redenção. Como diz o hino composto por São Venâncio Fortunato após o convento de Santa Radegunda, em Poitiers, receber a relíquia da Vera Cruz: Fulget Crucis mysterium.

(1) Varazze, Jacopo de. Legenda Áurea – Vidas de santos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 769.

* Perito em relíquias sagradas da Arquidiocese de São Paulo, delegado brasileiro da International Crusade for Holy Relics (ICHR) e curador adjunto da Regalis Lipsanotheca, em Ourém

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Maurício

São Maurício (A12)

22 de setembro

País: Egito

São Maurício

Em meados do século III, sob o imperador romano Galiano (entre 253-268), houve um período de "pequena paz para a Igreja", no qual as perseguições aos católicos foram interrompidas, exceto por episódios isolados, e que perdurou para além do seu governo. Em 284 assumiu o império Dioclesiano, que decidiu tornar Maximiano Hercúleo seu coimperador no Ocidente, enquanto ele cuidava do Oriente.

Maximiano teve que enfrentar a revolta de Caráusio, um seu comandante militar na região da Gália Bélgica (atualmente regiões da Bélgica, Luxemburgo, norte da França, sul da Holanda e oeste da Alemanha), e entre as tropas que mobilizou estava a Legião Tebana ou Tebaica, por sua origem em Tebaida no Egito.

Toda uma coorte (mil homens) desta legião era composta por católicos, comandados por Maurício. Neste período, cerca do ano 286, pouco anterior à chamada Era de Dioclesiano ou Era dos Mártires (295-310), as cruéis perseguições deste imperador aos cristãos ainda não haviam começado, e eles ocupavam vários cargos, inclusive militares.

O exército de Maximiano atravessou os Alpes e chegou ao vale do rio Ródano, na atual Suíça. Para descansar a tropa, foram decretados três dias de festas em Octodorum, para homenagear os deuses do império, o que incluía sacrifícios a eles. A guarda avançada, com Maurício e companheiros, acampou em Agaunum, uma aldeia a cerca de 24 km do Lago de Genebra e a cinco km da cidade.

Eles se recusaram a sacrificar aos deuses pagãos, e Maximiano, irritado, mandou dizimar parte destes legionários para obter obediência. Como os demais permaneceram firmes na recusa, um segundo massacre foi ordenado.

Novamente Maximiano intimou os sobreviventes à apostasia, mas a resposta de Maurício e seus oficiais (Exupério, Cândido, Vital, Alexandre, Vitor, Inocêncio) foi contundente: “Somos teus soldados e não menos servidores de Deus. Sabemos perfeitamente a nossa obrigação como militares, mas não nos é lícito atraiçoar o nosso Deus e Senhor. Estamos prontos a obedecer a tudo que não contrarie a lei de Jesus Cristo Nosso Salvador.

Fomos testemunhas da morte dos nossos companheiros e não nos queixamos; antes, com eles nos congratulamos. Tuas ameaças não provocam sentimentos ou planos de rebelião de nossa parte. Estamos com as armas nas mãos, mas delas não faremos uso para nos defender. Antes queremos morrer inocentes do que viver culpados.”

Diante disso, o imperador mandou o exército exterminar os soldados restantes, que esperaram pacificamente os golpes de espada, dobrando as cabeças.

 O local do massacre no campo de Agaunum, à beira do Ródano, foi historicamente identificado como a cidade de Martigny, nome derivado de “martírio”. Uma igreja, só descoberta por volta de 1893, foi ali erguida em honra destes mártires, e no século seguinte construiu-se uma basílica no lugar da execução. Em 520, o rei Sigismundo da Borgonha lá edificou o Convento de São Maurício de Agaunum, onde são veneradas as relíquias dos soldados mortos ainda hoje, e cujo deu origem à cidade de São Maurício, em Valais, na Suíça.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São Maurício e companheiros, militares exemplares, nos mostram que todo tipo de atividade e profissão humana honesta é compatível com a Fé católica, e que o verdadeiro combate é somente contra o que afasta de Deus. Portanto, é sim possível construir uma vida nova e venerável sobre a morte do pecado; não só possível, como obrigação, se de fato desejamos servir ao Senhor dos Exércitos (e.g. Sl 45,12). Não nos é permitido ficar apenas acampados à margem das águas do Batismo, é preciso inclinar a cabeça e o coração às ordens do Senhor, o que muitas vezes vai exigir sacrifícios, não raros originados pelos que estão lutando nesta vida ao nosso lado. Mas é preferível uma legião de suplícios, penitências e abnegações no mundo, por causa de Cristo, do que ter decepada de nós a Sua salvação.

Oração:

Deus Todo-Poderoso, Rei dos Reis, a Quem “não agradam os sacrifícios”, mas sim “um coração contrito”, concedei-nos por intercessão de São Maurício e companheiros não apenas a retidão e competência nos nossos ofícios, mas também a generosidade de ofertar plenamente a vida ao Vosso serviço, em qualquer circunstância, para alcançarmos a vitória prometida aos que “combaterem o bom combate” da Fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF