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segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Novos documentos do Pontificado de Pio XII e seu significado para as relações judaico-cristãs

Documentos dos Arquivos Vaticanos sobre o Papa Pio XII (Vatican Media)

De 9 a 11 de outubro de 2023, terá lugar na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, o Simpósio Internacional “Os novos documentos do Pontificado de Pio XII e seu significado para as relações judaico-cristãs: um diálogo entre historiadores e teólogos”.

Vatican News

Estão abertas as inscrições para o conferência internacional New Documents from the Pontificate of Pope Pius XII and their Meaning for Jewish-Christian Relation: A Dialogue between Historians and Theologians (“Os novos documentos do Pontificado de Pio XII e seu significado para as relações judaico-cristãs: um diálogo entre historiadores e teólogos”). Os organizadores revelam que desde o anúncio de realização, em junho passado, a conferência despertou um grande interesse.

O objetivo do encontro é oferecer uma nova luz sobre as controvérsias históricas e teológicas relativas ao Papa Pio XII e ao Vaticano durante o período do Holocausto, e sobre as relações judaico-cristãs a múltiplos níveis, graças a importantes descobertas que emergiram da análise dos arquivos do Vaticano e a uma reforçada colaboração entre instituições e pesquisadores.

A conferência, que terá lugar de 9 a 11 de outubro na Aula Magna da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, contará com a participação dos principais acadêmicos e investigadores internacionais envolvidos neste setor, tanto no campo histórico como teológico, permitindo o encontro e o debate entre uma pluralidade de abordagens e visões.

Estruturado em sete sessões, o simpósio abordará as questões mais complexas, tanto nas implicações histórico-diplomáticas como naquelas sociais, religiosas e culturais que levaram a uma irrevogável reformulação da relação entre a Igreja Católica e o povo judeu nas décadas seguintes.

Segunda-feira, 9 de outubro – A primeira sessão abordará as motivações e decisões do Papa Pio XII face ao fascismo, ao nazismo e ao comunismo, na tentativa de equilibrar os seus papéis como chefe da Igreja e da Santa Sé.

Terça-feira, 10 de outubro – A segunda sessão explorará a visão de mundo do Vaticano como um todo face ao Holocausto e, em particular, as pontos de vista sobre nações e religiões que plasmaram a resposta dos funcionários, prelados e leigos em torno de Pio XII.

Na terceira sessão, será explorada em profundidade a teorização e a prática das leis raciais, nascidas na Alemanha nazista e difundidas pela Europa.

A quarta sessão, estruturada em dois painéis, será dedicada ao salvamento dos judeus, com especial atenção ao 80º aniversário da prisão em Roma: quem salvou os judeus e porquê? O que os novos arquivos podem nos dizer sobre esse acontecimento em relação aos motivos pelos quais ocorreu ou não o salvamento?

Quarta-feira, 11 de outubro – A quinta sessão mapeará as reações dos diplomatas papais e das nunciaturas em todo o mundo à crise dos refugiados e aos horrores do Holocausto.

A sexta sessão seguir alguns momentos particularmente críticos do pós-guerra, como a ajuda aos criminosos de guerra nazistas e do Eixo, e os esforços do Vaticano em favor dos alemães condenados por crimes de guerra em tribunais militares internacionais.

A sétima e última sessão percorrerá por fim o caminho incerto que levou à declaração Nostra Aetate (1965) quando, vinte anos após o Holocausto, o Concílio Vaticano II rejeitou o antissemitismo e sublinhou a profunda ligação entre o Cristianismo e o Judaísmo.

A sessão de abertura da conferência – segunda-feira, 9 de outubro, às 15h00 (horário local) – será inaugurada com saudações de S.E. Monsenhor Étienne Vető, bispo auxiliar de Reims, ex-diretor do Centro de Estudos Judaicos Cardeal Bea (Pontifícia Universidade Gregoriana); pelo Dr. Iael Nidam-Orvieto, Diretor do Instituto Internacional para Pesquisa do Holocausto (Yad Vashem, Jerusalém); pela Dra. Suzanne BrownFleming, Diretora do “Centro Jack, Joseph e Morton Mandel para Estudos Avançados do Holocausto” (Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, Washington D.C.); de Sua Excelência o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé; e Rav Riccardo Di Segni, Rabino Chefe de Roma.

O simpósio será precedido por uma sessão de estudo sobre os documentos encontrados nos arquivos do Pontifício Instituto Bíblico, relativos ao salvamento de judeus em paróquias romanas e institutos religiosos.

Para participar presencialmente na conferência é necessária a inscrição por meio do formulário online em www.unigre.it. É fornecido um serviço de tradução simultânea inglês-italiano. A conferência também será transmitida ao vivo em youtube.com/unigregoriana

Os jornalistas e operadores de mídia que pretendam participar deverão enviar uma solicitação no prazo de 48 horas após o evento por meio do sistema de credenciamento online do Salão Imprensa da Santa Sé, no endereço: press.vatican.va/accreditamenti

Para informações técnicas sobre o evento e entrevistas, entre em contato com: press@unigre.it

O encontro internacional tem o patrocínio de:

• UCEI – Unione delle Comunità Ebraiche Italiane
• La Santa Sede, Archivio Apostolico Vaticano
• La Santa Sede, Dicastero per la Cultura e l’Educazione
• La Santa Sede, Commissione per i rapporti religiosi con l’Ebraismo del Dicastero per la promozione per l’Unità dei Cristiani
• U.S. Department of State, Office of the Special Envoy for Holocaust Issues
• U.S. Embassy to the Holy See • Israeli Embassy to the Holy See
• FSCIRE – Fondazione per le Scienze Religiose Giovanni XXIII
• RESILIENCE, https://www.resilience-ri.eu 
• AJC – American Jewish Committee

*Com Assessoria de Comunicação e Imprensa - Pontifícia Universidade Gregoriana

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

São Firmino ou Firmin

São Firmino (arquisp)

25 de setembro

São Firmino ou Firmin

Firmino ou Firmin, como foi batizado, nasceu na Espanha, na cidade de Pamplona, na última metade do século III. Era filho de uma família rica, influente e bem firmada nos princípios do cristianismo. Mas foi na França que seu trabalho de evangelização destacou-se, de tal forma que foi considerado uma das figuras mais importantes da Igreja daquele tempo.

Sua pregação era muito apreciada pelos fiéis. Fez tanto sucesso pelo seu conhecimento das verdades da fé que foi eleito pelo povo seu novo bispo. Isso aconteceu quando o sacerdote Honesto, já muito velho e cansado, não podia mais orientar os fiéis. Firmino, então, recebeu o sacramento da ordem e a sagração episcopal, em Toulouse, dando início ao seu apostolado de evangelização, que pretendia acabar com as trevas do paganismo.

Por ser um exemplo de fé e virtude, Firmino conseguiu grande fama e suas peregrinações foram incansáveis nas cidades francesas como Age e Auvergne, Angers, Beuvais e, finalmente, Amiens, onde conseguiu a conversão de milhares e milhares de pagãos, que aceitaram a doutrina do Senhor. Os casos mais incríveis foram de Arcádio e Rômulo, implacáveis perseguidores de Firmino, os quais, diante da santidade e firmeza na fé do bispo, por suas palavras e intercessões prodigiosas, acabaram tocados pela graça de Deus e converteram-se a Jesus Cristo.

Era uma época em que a perseguição contra os cristãos apresentava uma fúria implacável e violência impiedosa. Por isso Firmino despertou a ira de seus opositores pagãos, como o governador romano Valério, que, desejando que o povo voltasse a cultuar os deuses pagãos, mas temendo uma revolta, pois tinham verdadeira veneração pelo bispo, mandou prendê-lo e decapitá-lo sem julgamento oficial.

O bispo Firmino morreu no ano 290. A ele foram concedidas as honras de "Apóstolo das Gálias", por seu trabalho como evangelizador. Seu zelo e sua dedicação pela evangelização na atual França fizeram-no merecedor do título que a Igreja lhe consagrou.

Seu corpo esta repousando na catedral francesa de Amiens. São Firmino é amplamente festejado pelo povo espanhol e francês, motivo pelo qual seu culto foi muito difundido no mundo cristão, que o comemora no dia de sua morte.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

domingo, 24 de setembro de 2023

A conversão à justiça do Reino de Deus

“Converter-se é mudar de mente, voltar aos caminhos do Senhor (Vatican Media)

A liturgia "é o lugar privilegiado da proclamação e da escuta da Palavra de Deus", afirma dom Adimir Antonio Mazali, bispo diocesano de Erexim. E a do domingo (24), Dia da Bíblia no Brasil, reflete sobre a necessidade de se converter à justiça do Reino de Deus, aprendendo ainda mais sobre os seus critérios, "que devem conduzir nossa vida cristã, a fim de sermos bons e justos para com todos".

Dom Adimir Antonio Mazali*

Neste último Domingo de Setembro, a Igreja do Brasil celebra o Dia Nacional da Bíblia. No Brasil, o mês da Bíblia tem sido oportunidade para um mergulho mais profundo no conhecimento de um texto da Sagrada Escritura. Nesse ano, o livro da Bíblia, para o estudo mais aprofundado, é a Carta aos Efésios, com o seguinte lema: “Vestir-se da nova humanidade” (cf. Ef 4,24).

Prezados irmãos e irmãs. A Liturgia é o lugar privilegiado da proclamação e da escuta da Palavra de Deus. A Liturgia da Palavra, deste Domingo, nos faz refletir e rezar sobre a necessidade de nos convertermos à justiça do Reino de Deus. A primeira leitura, do profeta Isaías (Is55,6-9), apresenta-nos a conversão como única resposta possível ao Plano de Deus, que supera nossas expectativas. Para Isaías, o processo de conversão contempla dois aspectos, a saber: o primeiro é positivo, “buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o, enquanto ele está perto; volte para o Senhor” (Is 55,6); já o segundo, caracteriza-se pelo abandono dos projetos injustos: “abandone o ímpio seu caminho, e o homem injusto, seus planos” (Is 55,7). Portanto, a conversão é mudança de caminho, de atitudes e ações, é tomar outras decisões e direções. Implica em fazer novas escolhas, em mudar de pensamento, em transformar-se internamente.

Converter-se é mudar de mente e voltar aos caminhos do Senhor, que ultrapassa tudo o que se possa pensar ou dizer sobre Ele. Por isso, para o profeta Isaías o próprio Senhor diz: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos (...) Meus caminhos estão tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos tão acima dos vossos pensamentos quanto está o céu acima da terra” (Is 55,8-9). E o Salmo responsorial, deste Domingo, completa esta ideia, dizendo: “Misericórdia e piedade é o Senhor; ele é amor, paciência e compaixão (...) O Senhor é muito bom para com todos; sua ternura abraça toda criatura (Sl 144, 8-9) (...) O Senhor é justo em seus caminhos (...) é santo em toda a obra que ele faz; Ele está perto da pessoa que o invoca” (Sl 144,17). Por isso, a vida humana encontra somente em Deus seu sentido pleno.

No Evangelho, Jesus conta mais uma parábola para explicar o Reino de Deus ou a justiça do Reino. O Reino dos Céus é comparado ao proprietário que contratou vários trabalhadores para sua vinha, em horários diferentes, desde a madrugada até às cinco horas da tarde. Combinou a todos pagar o que lhes “era justo”. A cada grupo combinou pagar-lhes “uma moeda de prata”. No final do dia de trabalho, começando pelos últimos, pagou o combinado, “uma moeda de prata” a todos (cf. Mt 20,1-16a).

Caríssimos irmãos e irmãs. A parábola, contada por Jesus, faz pensar em diversas questões. Uma delas diz respeito à situação de desemprego existente na Palestina, no tempo de Jesus. A Parábola traz à tona aquilo que ocorria na sociedade e aponta uma luz diante do problema. Ela mostra que Jesus estava muito engajado e por dentro da vida e do sofrimento do seu povo. Indica, outrossim, que Jesus é um profeta e que Seu ensinamento aponta para olharmos a vida a partir de um critério novo, ou seja, a necessidade das pessoas sofridas. Para Jesus, o importante é que todos tenham o necessário para viver dignamente.

O surpreendente se dá no final da Parábola. Na hora do pagamento, os primeiros que foram contratados pensavam que iriam ganhar mais que os outros. No entanto, eles receberam o que fora combinado com o patrão da vinha, isto é, o que era justo: “uma moeda de prata”, como os demais. Por isso, reclamaram. Tal reclamação se deve ao fato de que foram igualados aos trabalhadores contratados por último. Esta decisão do patrão é o coração da parábola, a saber, a justiça do Reino indica que todos têm o mesmo direito à vida e à dignidade. Afirma o Patrão da Parábola: “Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti” (Mt 20,14). Isto é ser bom. Esta é a maneira de Deus agir.

Estimados irmãos e irmãs. Lendo e meditando a Palavra de Deus, nas Sagradas Escrituras, aprendamos ainda mais os critérios do Reino de Deus, que devem conduzir nossa vida cristã, a fim de sermos bons e justos para com todos.

* Bispo Diocesano de Erexim – RS

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

Desafios de uma evangelização na era pós-digital

© nmedia / Shutterstock

Por Canção Nova - publicado em 16/06/17

É preciso que o evangelizador on-line desenvolva habilidades que o capacitem a enfrentar os perigos e desafios deste universo digital.

Vivemos na era pós-digital! A internet não é novidade, já não tememos tanto o mundo virtual, e todos nós, de alguma maneira, estamos nos acostumando a viver no espaço real (físico e analógico) e no mundo virtual (digital). Vivemos lá e cá, entre dois universos que não se excluem necessariamente, complementam-se com frequência e demandam de nós todo empenho na realização daquilo que somos e acreditamos.

São Paulo diz: “Ai de mim se não anunciar o evangelho!”. Essa verdade se realiza tanto aqui como ali, tanto no espaço presencial quanto no remoto. No entanto, se o mundo digital tem suas múltiplas características próprias, suas próprias leis, é possível que um evangelizador on-line precise desenvolver virtudes e habilidades que o capacite a melhor enfrentar os perigos e desafios deste universo.

Em seu livro “Marketing e Comunicação na era pós-digital”, o novo presidente do grupo Abril desde 2016, Walter Longo, alerta para aspectos específicos do mundo digital: efemeridade, mutuabilidade, multiplicidade, sincronicidade, complexidade, tensionalidade. Ciente de que o anúncio querigmático não é uma campanha de marketing, propomo-nos, neste texto, investigar aquilo que podemos aproximar ou confrontar com a experiência evangelizadora.

Efemeridade

A efemeridade afirmada por Longo diz respeito sobre a velocidade com que tudo “envelhece” no universo digital. Não são apenas as ferramentas, mas também as mídias. Um evangelizador eficiente, nesta era pós-digital, precisa se antecipar, ver na frente as tendências e ser capaz de mudar, de adequar seu formato e conteúdo para melhor comunicar a sua mensagem. “Pensar rápido!” é a palavra de ordem. A velha máxima “em time que está ganhando não se mexe” não tem mais lugar. O evangelizador on-line precisa ser ágil e atualizar constantemente seu discurso, sob o risco de oferecer comida fria a quem está precisando do seu alimento espiritual.

Mutualidade

A mutualidade é a conexão entre as coisas, as máquinas, os dispositivos. Nosso celular comanda por aplicativos, nossa agenda, nossos e-mails, nossa conta bancária, nossas redes sociais e, pasmem, até a nossa prática meditativa (exemplo? O app Headspace). Podemos acessar tudo o que se relaciona a nossa vida e nosso cotidiano.

Para melhor maximizarmos os efeitos da comunicação do anúncio evangélico, precisamos que o evangelizador entenda esse processo e como ele impacta nossa vida. A conexão entre todos os âmbitos da nossa vida gera uma quantidade de informação e dados (Big Data, Small Data…), os quais precisam ser interpretados para que se otimize nossa missão. Entender a métrica oferecida por redes sociais pode ser um bom ponto de partida para compreender com quem nos comunicamos: seus hábitos, seus interesses e rotina. Se Paulo, em Atenas, diante dos muitos deuses, soube identificar na estátua ao “deus desconhecido” uma oportunidade de anunciar o Cristo, em tempos atuais precisamos saber quais são os equivalentes a este “deus desconhecido” de agora. É preciso não só olhar os dados, mas aprender a interpretá-los, fazê-los gerarem fatos!

Multiplicidade

A multiplicidade: a antiga linearidade morreu. Hoje em dia, ao mesmo tempo que um jovem assiste a um filme no cinema com sua namorada, atualiza suas redes sociais em grupos de WhatsApp e faz uma busca no Google sobre o melhor lugar para levar sua acompanhante para jantar depois. Nossos ouvintes estão em muitos lugares e mudam-se (de mídia) com uma velocidade incrível. É preciso entender esta relação sem preconceitos, para que se possa dialogar de forma eficaz, conscientes das limitações que esse aspecto caótico e fragmentário pode trazer. Fica a pergunta: de que forma está fragmentação dificulta ou mesmo impossibilita de se falar de valores como unidade e integralidade?

Sincronicidade

A sincronicidade retoma o pensamento de que as pessoas (nesta era pós-digital) estão em muitos lugares ao mesmo tempo. No entendimento das métricas e dados já citados podemos afinar a nossa sensibilidade e compreender melhor os interesses e necessidades de quem nos escuta, de quem participa da audiência deste novo areópago digital. É preciso estar atento aos problemas reais e necessidades de quem nos escuta para que o anúncio evangélico tenha sincronismo com o cotidiano vivido da nossa audiência.

Complexidade

A complexidade é também um aspecto fundamental nos tempos atuais. Não há mais o número anônimo na audiência, pois a internet deu voz a todos os que são atingidos pela nossa mensagem. Eles podem concordar, discordar, agredir, reagir, apoiar etc. Essa complexidade faz nascer a necessidade de uma habilidade especial: a conexão com as múltiplas disciplinas. Não se precisa ter a resposta para tudo, mas é preciso ter uma compreensão do todo e não só das partes, juntar as peças do quebra-cabeça evangelizador e oferecer caminhos, textos e contextos possíveis e válidos para um anúncio mais efetivo.

Tensionalidade

Walter Longo fala, por último, na tensionalidade. Essa capacidade de não ser tão coeso, de inserir aspectos, muitas vezes plurais e contraditórios, gerando tensão, uma conexão emocional. Ele cita, por exemplo, o caso de Steve Jobs que era ao mesmo tempo carismático e com fama de carrasco. Gerando tensão e se destacando da multidão. Tentando traduzir em termos evangelizadores, talvez possamos entender que a proximidade que o universo digital nos proporcionou, faz surgir uma necessidade vital do ser humano: se reconhecer, na sua limitação e pluralidade, de forma igual, sincera e verdadeira naqueles que nos ofertam um caminho espiritual.

Evangelização não é marketing. Não de um jeito institucional de se pensar. Assim como o Papa Francisco já afirmou que a Igreja não é uma ONG. Mas a reflexão a partir de pontos de vistas diferentes pode nos sugerir outras possibilidades de fazer aquilo que nos é uma imposição do amor: levar o Cristo a todos!

Por Augusto Cézar (Músico da banda DOM, compositor, escritor de 3 livros, professor e palestrante) via Canção Nova 

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa: “Marselha acolhe, é uma mensagem para a Europa”

Papa fala com os jornalistas no voo Marselha-Roma (Vatican Media)

Francisco em diálogo com jornalistas no voo de regresso da França: “As migrações bem conduzidas são um tesouro”. As palavras sobre a eutanásia: “Cuidado com as colonizações ideológicas que arruínam a vida humana”. Ucrânia: “Não devemos brincar com o martírio desse povo”.

VATICAN NEWS

Matteo Bruni

Boa noite Santidade, boa noite a todos. Obrigado por reservar esse tempo no voo de volta. Foi uma viagem particular, em que pode sentir também, como dizia sua Eminência, todo o afeto dos franceses que foram rezar com o senhor. Mas creio que ainda existem algumas perguntas ou questões que os jornalistas queriam fazer-lhe. Ou o senhor queria nos dizer algumas palavras.

Papa Francisco

Boa noite e muito obrigado pelo seu trabalho. Antes que me esqueça, quero dizer duas coisas. Hoje acredito que seja o último voo do Roberto Bellino porque ele está se aposentando (aplausos). Obrigado, obrigado, obrigado. A segunda coisa é que hoje é aniversário do Rino, o inefável Rino (aplausos). Existe a claque. Agora, por favor, façam as perguntas.

Raphaelle Schapira (France Televisions)

Santo Padre, boa noite. O senhor começou seu pontificado em Lampedusa, denunciando a indiferença. Dez anos depois, continua pedindo à Europa que demonstre solidariedade. E vem repetindo a mesma mensagem há dez anos. Isso significa que o senhor falhou?

Papa Francisco

Eu diria que não. Eu diria que o progresso tem sido lento. Hoje, há consciência do problema da migração. Há consciência. E também existe a consciência de que o problema chegou a um ponto... como uma batata quente que você não sabe como segurá-la. Angela Merkel disse uma vez que o problema é resolvido indo à África e resolvendo-o na África, elevando o nível dos povos africanos. Mas há casos que são difíceis. Casos muito difíceis. Em que migrantes são enviados como "pingue-pongue". E sabe-se que muitas vezes eles acabam em "campos de concentração", acabam em situações piores do que estavam antes. Eu acompanhei a vida de um rapaz, Mahmoud, que estava tentando sair porque precisava, e no final ele se enforcou; ele não suportou essa tortura. Eu já lhes disse para lerem esse livro: Irmãzinho, ou "Hermanito". As pessoas que retornam são primeiro vendidas. Depois, tiram-lhes dinheiro. Em seguida, obrigam-nas a ligar para a família para enviar mais dinheiro. Mas são pessoas pobres. É uma vida terrível. Ouvi uma pessoa que testemunhou, quando à noite, ao embarcar, viu um navio tão simples, sem segurança, e não quis embarcar. E... "pum pum" (barulho como de tiros). Fim da história. É o reino do terror! Eles sofrem não apenas porque precisam sair, mas porque lá é o reino do terror. Eles são escravos. E não podemos, sem ver a realidade, enviá-los de volta como uma bola de "pingue-pongue". Não. É por isso que continuo dizendo que, em princípio, os migrantes devem ser bem-vindos, acompanhados, promovidos e integrados. Se você não puder integrá-los em seu país, então acompanhe-os e integre-os em seu próprio país, mas não os deixe nas mãos dessas pessoas cruéis do tráfico de pessoas. O problema com os migrantes é o seguinte: nós os enviamos de volta e eles caem nas mãos desses infelizes que fazem tanta maldade. Eles os vendem, eles os exploram. As pessoas tentam sair. Há alguns grupos que se dedicam a resgatar pessoas com barcos no mar. Convidei um deles para participar do Sínodo, que é o líder da “Mediterranea Saving Humans”. Eles nos contam histórias terríveis. Em minha primeira viagem, como a senhora disse, foi a Lampedusa. As coisas melhoraram. Realmente melhoraram. Há mais conscientização. Naquela época, nós não sabíamos. E também não nos diziam a verdade. Lembro que havia uma recepcionista na Casa Santa Marta, que era etíope, filha de etíopes. E ela estava acompanhando minha viagem pela TV. E durante a minha viagem havia um etíope, um pobre etíope, me explicando a tortura e outras realidades. E o tradutor - ela me disse - dizia mentiras, ele amenizava a situação. É difícil ter confiança. São inúmeros dramas. Naquele dia em que eu estava em Lampedusa me disseram: olhe para aquela mulher, era uma médica. Ela foi para o meio dos cadáveres, olhando os rostos das pessoas, porque estava procurando a filha, que ainda não tinha encontrado. Esses dramas... é bom que os tomemos em nossas mãos. Isso nos tornará mais humanos e, portanto, também mais divinos. É um chamado. Eu gostaria que fosse como um grito. Vamos estar mais atentos. Devemos fazer alguma coisa. A consciência mudou. Realmente mudou. Hoje há mais consciência. Não porque eu tenha me manifestado, mas porque as pessoas perceberam o problema, e muitos estão falando sobre isso. E essa foi minha primeira viagem. Quero dizer mais uma coisa pessoal, eu nem sabia onde ficava Lampedusa, nem isso. Mas ouvi as histórias. Li algo e, em oração, senti que precisava ir até lá. Como se o Senhor estivesse me enviando para lá, em minha primeira viagem.

Clemónt-Melki (AFP)

Boa tarde, Santo Padre. Esta manhã, o senhor encontrou Emmanuel Macron depois de ter expresso o seu desacordo em relação à eutanásia. O governo francês está se preparando para aprovar uma controversa lei sobre o fim da vida. Poderia gentilmente nos dizer o que disse ao presidente francês em relação a isso? E se pensa fazê-lo mudar de ideia...Obrigado!

Papa Francisco

Hoje não falamos sobre esse tema, mas falamos sobre isso na outra visita, quando nos encontramos, eu falei claramente. Quando ele veio ao Vaticano. Eu dei o meu parecer claro: com a vida não se brinca, nem no início nem no fim, não se brinca! E não o meu parecer, é custodiar a vida, sabe, porque depois acabará com aquela política de “não dor”, de uma eutanásia humanística. Sobre isso quero repetir, um livro – leiam-no – é de 1903, é um romance. Se chama “O senhor do mundo”, The Lord of the World ou The Lord of the Earth (tem dois títulos), escrito por Robert Benson, o autor, é um escritor futurista [romance de ficção científica distópico escrito por Robert Hugh Benson em 1907 que se centra no reino do Anticristo e no Fim do Mundo - ndr ]. Ele mostra como as coisas serão no final. E são tiradas todas as diferenças, todas, e também são tiradas as dores, tudo, e a eutanásia é uma dessas coisas, a morte doce, a seleção antes do nascimento,  como esse homem havia visto os conflitos atuais. Hoje, estejamos atentos com as colonizações ideológicas, que arruínam a vida humana, porque vão contra a vida humana. Hoje se cancela a vida dos avós, por exemplo, quando a riqueza humana vai no diálogo dos netos com os avós, se cancela, são velhos, não servem. Com a vida não se brinca. Desta vez não falei com o presidente, mas da outra vez sim, quando veio, eu dei o meu parecer, com a vida não se brinca, seja a lei de não deixar que cresça a criança no ventre da mãe, a lei da eutanásia, nas doenças, na velhice. Não digo que é uma coisa de fé, é uma coisa humana, humana, há a má compaixão. A ciência chegou a fazer com que cada doença dolorosa seja menos dolorosa, e a acompanha com tantos remédios. Mas com a vida não se brinca!

MARTÍNEZ BROCAL OGÁYAR Javier - ABC

Santo Padre, obrigado por responder às perguntas, por este tempo que nos dedica nesta viagem muito intensa, densa de conteúdos. Até o último momento o senhor falou da Ucrânia e o cardeal Zuppi acaba de voltar de Pequim. Houve progressos nesta missão? Pelo menos na questão humanitária do regresso das crianças? Depois, uma pergunta um pouco dura: como vive o fato, inclusive pessoalmente, de que esta missão não consegue obter nenhum resultado concreto até agora? O senhor, em uma audiência, falou de frustração. Sente frustração? Obrigado

Papa Francisco

Isto é verdade, um pouco de frustração se sente, porque a Secretaria de Estado está fazendo de tudo para ajudar nisto, também a “missão Zuppi” foi lá, há algo com as crianças que está indo bem, mas me vem em mente que esta guerra vai além do problema russo -ucraniano, mas é para vender armas, o comércio de armas. Dizia um economista alguns meses atrás que hoje os investimentos que dão mais lucro são as fábricas de armas, certamente fábricas de morte! O povo ucraniano é um povo mártir, tem uma história muito martirizada, uma história que faz sofrer, e não é a primeira vez: no tempo de Stalin, sofreu muito, muito, muito, é um povo mártir. Mas nós não devemos brincar com o martírio deste povo, devemos ajudá-los a resolver as coisas no modo mais real possível. Nas guerras, o real é possível, não para fazer ilusões: que amanhã os dois líderes em guerra vão comer juntos, mas até o possível, onde chegaremos para fazer o possível. Agora vi que algum país se retrai, que não dá armas, e começa um processo onde o mártir será o povo ucraniano certamente. E isso é algo ruim!
Você mudou de tema, e por isso gostaria de voltar ao primeiro argumento, à viagem. Marselha é uma civilização de tantas culturas, muitas culturas, é um porto de migrantes. No passado eram migrantes rumo a Cayenne, de lá saiam os condenados à prisão. O arcebispo [de Marselha, ndr] me presentou Manon Lescaut para me lembrar daquela história. Mas Marselha é uma cultura do encontro! Ontem, no encontro com os representantes de várias confissões - convivem islâmicos, judeus, cristãos -, mas existe a convivência, é uma cultura da ajuda. Marselha é um mosaico criativo, é esta cultura da criatividade. Um porto que é uma mensagem à Europa: Marselha acolhe. Acolhe e faz uma síntese sem negar a identidade dos povos. Devemos repensar este problema para outros lugares: a capacidade de acolher. Voltando aos migrantes, são cinco as pequenas cidades que sofrem a presença de muitos migrantes, mas em alguns delas quase não há população, penso num caso concreto que conheço onde moram menos de 20 idosos e nada mais. Por favor, que esses povos façam o esforço para integrar. Precisamos de mão de obra, a Europa necessita. As migrações bem conduzidas são uma riqueza, são uma riqueza. Pensemos nesta política migratória para que seja mais fecunda e nos ajude muito.

Agora tem a janta e também a festa para Rino [Anastasio coordenador da Alitalia-ITA Airways das viagens papais, ndr] e a despedida de Roberto. Vamos parar por aqui. Muito obrigado pelo trabalho de vocês e por suas perguntas.

Confira a coletiva:https://youtu.be/6_P1wrpH2IE

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Autismo em adultos: como lidar com o diagnóstico tardio (2/3)

Autismo em adultos (Crédito: UOL)

AUTISMO EM ADULTOS: COMO LIDAR COM O DIAGNÓSTICO TARDIO

por Isabelle Manzini

Publicado e revisado em: 9 de junho de 2022

O diagnóstico, mesmo que tardio, aliado à terapia, é fundamental para o autoconhecimento e desenvolvimento da independência.

Como é realizado o diagnóstico

Como já mencionamos, um caminho comum é que pais de filhos autistas, ao pesquisar sobre a condição da criança, percebem em si características semelhantes e busquem ajuda profissional. Mas esse não é o único cenário. 

Como o autismo afeta diretamente as habilidades sociais de comunicação e relacionamento, é comum que o indivíduo procure um serviço de saúde mental com outras queixas. É o que diz Ailton Martins, psicólogo, especialista em Análise do Comportamento (USP) e especialista em Análise do Comportamento Aplicada ao TEA (UFSCar).

“É comum que a pessoa se queixe da falta de conexão com outras pessoas, um certo distanciamento social. Essa dificuldade social pode gerar uma sensação de angústia, que às vezes pode se confundir com depressão e/ou ansiedade.”

Não é raro que o autismo venha acompanhado de outras condições, as chamadas comorbidades, principalmente na fase adulta. Os prejuízos provocados pela dificuldade de socialização e a autopercepção negativa podem desencadear transtornos de ansiedade e depressão, por exemplo. O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade também está associado ao TEA em 30% a 50% dos casos. 

“A dificuldade de atenção, a hiperatividade e a impulsividade são características comuns a ambas as condições. Os mecanismos envolvidos não são completamente elucidados; no entanto, alterações em redes neurais específicas foram propostas como déficits fundamentais tanto em TDAH como em TEA. Um estudo avaliou 19 meninos com TDAH e 18 com TEA contra 26 controles em situações de atenção focada e de atividades sociais enquanto sua atividade cerebral era mapeada. Tanto as crianças com TEA quanto aquelas com TDAH apresentaram alterações em redes específicas, mas com diferenças entre hipoativação (TEA) e hiperativação (TDAH)”, elucida o dr. Marcelo. 

Além das comorbidades de transtornos psiquiátricos, há também uma concomitância de distúrbios alimentares e gastrointestinais (relacionados principalmente a seletividade alimentar), epilepsia, distúrbios do sono, dentre outros. Tudo isso pode tirar o foco do diagnóstico principal, motivo pelo qual uma investigação profunda sobre o histórico do indivíduo é fundamental.

O autismo da infância é o mesmo da vida adulta?

Grosso modo, sim. O que acontece é que pessoas que têm um diagnóstico tardio geralmente são aquelas que não tiveram dificuldade no desenvolvimento da linguagem, ou seja, não tiveram a manifestação mais conhecida do transtorno. Como os principais conflitos têm a ver com a sociabilização e com os padrões de comportamento e rotina repetitivos, adultos no espectro podem aprender a “mascarar” os sintomas. Alexandre Valverde, médico psiquiatra pela Unifesp, fala sobre esse processo.

“Por passar tanto tempo sem um diagnóstico, a pessoa pode ter desenvolvido mecanismos para lidar com os sintomas e as situações. É o que a gente chama de ‘masking’, um disfarce da própria condição. Seja porque veem que tal comportamento é visto como inadequado, não é bem aceito socialmente ou é incompreendido pelos demais. O adulto consegue modular o próprio comportamento, enquanto a criança não tem essa habilidade.”

Por isso, os desafios enfrentados pelo adulto no espectro são diferentes dos enfrentados pela criança. Isso também impacta a forma como as intervenções vão ser trabalhadas pela equipe multidisciplinar que acompanha o indivíduo. E quais são os desafios na vida adulta? O psicólogo Ailton Martins resume: 

“A criança autista tem o desafio de ser equiparada dentro do que chamamos de marcos do desenvolvimento. Por isso dizemos que quanto mais cedo se descobrir o diagnóstico, melhores são as chances de essa criança ter uma vida mais satisfatória e funcional. 

O adulto autista já passou por esse primeiro processo sozinho. Alguns vão ter uma necessidade maior de intervenção e apoio. Já outros podem precisar de apoio em áreas específicas, como aprender a demonstrar sentimentos, se adaptar a um novo emprego e lidar com alterações na rotina.”

A chamada “rigidez cognitiva” é um dos maiores desafios para Patrícia, que, como artista, costuma ter uma rotina nem sempre estável. 

“Tenho uma rigidez cognitiva considerável, o que faz com que eventos surpresa possam me trazer muita ansiedade e até desencadear uma crise (meltdown/shutdown). Então procuro me programar com antecedência para qualquer coisa. Não consigo dar conta de muitos eventos no mesmo dia. Considero ir numa papelaria um evento, por exemplo.”

Hiperfoco

O hiperfoco é uma das características marcantes do autismo. É uma forma de hiperatividade que se dá no campo da atividade mental, e não na psicomotora (embora as duas possam existir ao mesmo tempo). É por isso que muitas dessas pessoas têm facilidade em dominar um determinado assunto, já que a facilidade em aprender se une ao grande interesse por uma única temática.  

O próprio dr. Alexandre Valverde, médico psiquiatra que colabora nessa matéria, foi diagnosticado como autista aos 42 anos. A suspeita de alguma alteração neurocognitiva já existia, observada por colegas que chegaram a apontar um possível TDAH, além de destacarem a inteligência acima da média de Alexandre. Ao receber o diagnóstico tardio, a ficha caiu. 

“Eu tenho um bom nível de interação social. Sempre tive mais dificuldades em começar relações afetivas, mas não em mantê-las, então encarava isso como um traço de timidez. Depois do diagnóstico, entendi por que tinha tanta facilidade para entender as coisas na escola e na faculdade. Só precisava assistir a uma aula ou a um procedimento uma única vez para aprender. Em compensação, tenho uma memória curiosa. Eu lembro de informações ligadas à ciência, mas tenho dificuldade de lembrar coisas mais simples, como o nome das pessoas ou situações do dia a dia”, relata. 

Além de médico, Alexandre fez mestrado em Filosofia, já escreveu um roteiro de longa-metragem, está produzindo uma série documental sobre autismo, e cuida de uma agrofloresta. “Eu tenho uma rotina rigorosa para conseguir dar conta de tudo isso sem ficar ansioso. A rotina me ajuda muito.”

Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/

São Geraldo

São Geraldo (A12)

24 de setembro

São Geraldo

Geraldo (Gerardo) nasceu em Veneza, Itália, no ano 980. Estudou numa escola da Ordem Beneditina, recebendo ótima formação espiritual e acadêmica. Cedo entrou para esta Ordem e completou os estudos superiores na Universidade de Bolonha. Monge exemplar no claustro veneziano de São Jorge, foi eleito abade ainda jovem.

Com o desejo de estudar com mais profundidade a Bíblia, renunciou ao cargo de abade para poder viajar à Terra Santa. A caminho, seguiu pelo rio Danúbio, passando pela Hungria, e ali o rei Estêvão, futuro santo, insistiu para que permanecesse no país, a fim de ajudar na sua evangelização e na educação do seu filho, o príncipe Emeric.

Geraldo renunciou também nesta ocasião, trocando seu projeto particular em favor de uma obra para o bem dos irmãos. Aceitou ser preceptor do príncipe e aconselhou o rei em várias questões espirituais e terrenas, e quis se preparar para sua missão evangelizadora no país depois de um período de retiro solitário na Selva Bacónia, aonde teria preferido ficar. Mas com o falecimento do bispo local, e obedecendo à Santa Sé, foi nomeado e assumiu a organização da nova diocese de Csanád, numa região de população quase totalmente pagã. Dedicou incessantemente sua nova tarefa à Onipotência Suplicante da Virgem Maria.

Acompanhado de 12 beneditinos, escolhidos dos mosteiros húngaros que começavam a dar frutos, erigiu em Csanád a catedral, a igreja do claustro em honra de Maria Virgem e uma escola de formação para os futuros sacerdotes e monges. A diretriz que usou foi, a partir da sua própria experiência pessoal e vocação monacal, especificamente beneditina, que tem por mote Ora et Labora, “Reza e Trabalha”, desenvolver a presença de Cristo na alma de cada fiel, para que a Igreja, comunidade destes mesmos fiéis, cresça a partir de dentro, da comunhão e qualidade desta união interior com o Senhor: assim cada membro do Corpo Místico coopera coerentemente no Espírito que une a todos eles, em benefício de todo o Corpo.

Este impulso inicial de levar Jesus a todos cabe particularmente àqueles que foram chamados para o clero, e Geraldo, como bispo, não fugiu ou delegou a responsabilidade de pelo exemplo e pela palavra dar a conhecer a Boa Nova ao povo. E a prática deste anúncio, o fez através do mais perfeito dos meios, a caridade. Portanto, além de evangelizar os nobres, deu especial atenção aos mais necessitados, pobres e doentes, pelos quais tinha especial amor. Recebia os leprosos na sua residência, partilhando da sua mesa, e tratava pessoalmente das suas feridas. Quando necessário, fazia-os repousar na sua própria cama e dormia no chão.

Deu grande atenção à renovação litúrgica, de modo a ressaltar a alegria sacramental. Escreveu várias obras sobre temas teológicos e sobre a Sagrada Escritura. Quanto a si mesmo, dominava-se com árduas penitências; várias vezes saía à noite, para cortar lenha na floresta, como mortificação do corpo. Os seus esforços missionários obtiveram ótimo resultado, e foram fundamentais para sedimentar a Hungria como nação católica.

Geraldo era admirado e amado pelos fiéis, mas havia membros da corte, refratários à Fé, que se tornaram seus inimigos. Com a morte do rei Estêvão em 1038, iniciaram-se as lutas pelo poder, uma vez que o herdeiro natural, príncipe Emeric, havia falecido prematuramente. Geraldo se recusou a coroar o pretendente Avon como rei magiar, por ter sido responsável pela morte de muitos inocentes, e quando da cerimônia de coroação na igreja, o bispo se levantou e denunciou publicamente os seus crimes; profetizou também a sua morte, violenta, que aconteceu três anos depois.

Neste ambiente instável, as animosidades contra Geraldo foram incitadas, enquanto ele procurava de modo pacífico garantir a correta sucessão régia. Partiu da cidade de Székesfehérvár para a de Buda, a fim de receber pessoalmente Endre (André), filho do primo (Basílio) de Estêvão, o legítimo futuro rei. No caminho, foi surpreendido e atacado por pagãos revoltosos, que o apedrejaram e o trespassaram com uma lança. Tornou-se assim o primeiro mártir da Hungria, em 24 de setembro de 1046.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

É rico, em qualidade e quantidade, o testemunho – acepção original de “martírio” – que nos dá São Geraldo. Independentemente das vocações particulares, podemos segui-lo nos fundamentos dos três aspectos que ele viveu e que são típicos da vida católica: a oração e o trabalho (“monge”), o apostolado (“missionário”) e entrega total a Deus, por amor (“mártir”). Na oração e trabalho, vem primeiro o cuidado da própria alma, a busca da comunhão com Deus na oração, crescimento espiritual necessário para a santificação de toda e qualquer atividade que se faça. O apostolado, a missão de levar o Evangelho, é intrínseca a todo batizado, e é exercido não apenas em terras distantes, mas na verdade, obrigatoriamente, no ambiente em que estamos e vivemos normalmente. A entrega total a Deus por amor se traduz, na maioria das vezes, simplesmente na caridade verdadeira, capaz de conquistar o irmão para o Senhor pela bondade. Além desse “plano geral”, a vida de São Geraldo mostra como devemos ter devoção e confiança em Nossa Senhora, a importância do cuidado com a Liturgia, a necessidade da formação na Fé, primeiro pessoal, depois pelo ensino ao próximo, a consciência e responsabilidade de assumirmos nossos trabalhos com todo o empenho, e a generosidade de abrirmos mão dos nossos sonhos, mesmo que bons e legítimos, se Deus o pedir para um bem maior. Só Ele sabe aonde nos levarão os caminhos que escolhemos nesta vida… talvez, como São Geraldo, tenhamos motivos corretos para querer chegar a objetivos longínquos, mas nosso serviço seja maior e melhor numa área mais próxima; o fundamental é que, como ele, e neste ponto com certeza e não “talvez”, nos disponhamos a encontrar pessoalmente o que rege de modo legítimo a real nobreza nesta pátria terrestre, e sermos arrebatados a caminho para o encontro face a face com a Realeza da Pátria Celeste. A respeito de nações, é apropriado um comentário de São João Paulo II a respeito da ação de São Geraldo na Hungria*: “Na sociedade moderna, como em qualquer outro tempo, não é acaso bênção ter semelhantes conselheiros e semelhantes preceptores se ocupem do destino do povo, especialmente da educação e da direção da juventude (...)? Para tal espírito ser formado não só na consciência de quantos têm responsabilidade, mas também na consciência de cada membro da Igreja e da sociedade, e se tornar cada vez mais operante, é necessário o conhecimento da doutrina cristã. (…) recordei a importância essencial da catequese para a formação dos cristãos no nosso tempo, isto não só para as crianças e para os jovens, mas também e sobretudo, para as pessoas adultas.” Em adendo, “(…) também nós devemos amar e servir a nossa pátria terrena, a sua cultura e os seus valores, sempre amando e servindo a Deus.” São Geraldo e mais 12, escolhidos por ele, começaram a consolidar a Fé num país; imitemos também este seu último exemplo e façamos o mesmo no Brasil, começando com Cristo e mais 12, escolhidos por Ele. *(cf. https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/1980/documents/hf_jp-ii_let_19800924_millennio-sangerardo.html)

Oração:

Senhor Deus, que destes o testemunho de Vós mesmo a todas as nações, em Cristo, concedei-nos por intercessão de São Geraldo a graça de sempre nos recusarmos a coroar de pecados as nossas vidas, mas como legítimos herdeiros do Céu, não morramos antes de nos lançarmos com perfeição às boas obras. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 23 de setembro de 2023

Reflexão para o XXV Domingo do Tempo Comum (A)

XXV Domingo do Tempo Comum - Ano A  (arquidiocesedemaringa)

Quando Deus nos criou não existíamos, Ele nos amou primeiro sem nenhum mérito nosso. E assim continua, porque Ele é Deus!

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

Mais uma vez a liturgia nos corrige quando dizemos que aquelas coisas boas que nos acontecem ou com os nossos amigos, são consequências dos méritos a que fizemos jus. Do mesmo modo, quando ocorre algum acontecimento infausto, perguntamos o que fizemos para recebermos tal castigo. Por outro lado, se isso acontece com alguém que não nos é simpático, comentamos que essa pessoa deve ter aprontado e, por isso, recebe essa punição.

Toda essa maneira de pensar está errada e não é cristã. O Cristianismo trabalha com a gratuidade, isto é, com a ação de Deus, e Deus é Pai, é Amor. Deus nos ama não por aquilo de bom que fizemos e nem nos deixa de amar pelas coisas erradas que praticamos. O Amor ama por amar e, mesmo vendo nossas culpas, continua nos amando. Essa é a grande eterna verdade. Somos amados gratuitamente por Deus!

Quando Deus nos criou não existíamos, Ele nos amou primeiro sem nenhum mérito nosso. E assim continua, porque Ele é Deus!

Isso nos diz Isaías na primeira leitura: “Meus pensamentos não são como vossos pensamentos e meus caminhos não são como os vossos caminhos, diz o Senhor!” (Is 55, 8)

Essa idéia é retomada e referendada por Jesus com a parábola do patrão generoso. O patrão dá a mesma quantia como pagamento tanto aos que começaram pela manhã, quanto aos que foram contratados no final do dia. Ao ouvir as reclamações dos que se achavam mais cheios de méritos que outros, ele responde: “Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?” (Mt 20,15)

A justiça do Reino de Deus é dar a cada um o que precisa para viver e viver abundantemente, ainda nesta terra.

Não faz parte da justiça de Deus a realidade na qual alguns que não trabalham tanto ganham quantias enormes, e outros que trabalham muito como empregadas domésticas, como professores de escola média, e como outros profissionais ganham insuficiente para uma vida decente.

Todos são filhos de Deus e a igualdade deve acontecer já nesta vida, e não apenas na outra. O amor deverá superar todas as desigualdades e fazer justiça a todos, isto é, todos deverão ter o necessário para uma vida tranquila com direito ao que precisam. Está errado e não é justo alguns terem tanto e outros, nem o necessário para sobreviver.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF