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quarta-feira, 4 de outubro de 2023

O tema do Círio de Nossa Senhora de Nazaré 2023 em Marabá

43º Círio de Nazaré (cnbb)

O TEMA DO CÍRIO DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ 2023 EM MARABÁ

 Dom Vital Corbellini / Bispo de Marabá – PA

O quadragésimo terceiro Círio de Nossa Senhora de Nazaré em Marabá, 2023, tem um tema muito importante para a vida cristã e para todas as pessoas de boa vontade que seguem o Senhor Jesus, caminho, verdade e vida (Jo 14,6): “Ó Maria, ajudai-nos a partilhar a Palavra e o Pão”. Ele está relacionado à presença de Jesus, como a Palavra do Pai e da Campanha da Fraternidade 2023, cujo lema é: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). O tema delineia a vida de todo o Círio, o sentido litúrgico, o Simpósio Mariano realizado, as visitas nas comunidades, nas paróquias, o Círio Missionário, o Círio Fluvial e os dias propriamente ditos como no sábado e no domingo, 14 e 15 de Outubro.

Ó Maria, ajudai-nos a partilhar a Palavra.

A vida de todo o seguidor e seguidora está ligada a Jesus Cristo, por intercessão de Maria, a sua Mãe. Maria leva os pedidos das pessoas até o seu Filho Jesus Cristo. Nesta primeira parte, o lema é uma prece confiante que o fiel faz, pedindo a Maria para que ela ajude a todo o povo fiel cristão, seguidor de Jesus Cristo, a partilhar a Palavra, entendida como uma Pessoa, Jesus Cristo. Ele é o enviado do Pai, é o Verbo feito carne (Jo 1,14) que assumiu a realidade humana em tudo menos o pecado. A Palavra não é um balbuciar de coisas, mas é a Pessoa de Jesus de Nazaré, como Salvador e Redentor. É a Palavra eterna, gerada desde toda a eternidade pelo Pai e que se tornou Pessoa humana, entrando na realidade humana para a salvação de toda a humanidade.

Maria, mulher meditativa.

O evangelista São Lucas colocou um dado importante na vida de Maria santíssima, de mulher meditativa. No nascimento de Jesus à humanidade, os anjos cantaram aos pastores: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz a todos por ele amados”(Lc 2, 14). Os pastores foram ver em Belém as maravilhas do Senhor que entrou na realidade humana, encontraram Maria e José e o recém-nascido deitado na manjedoura (Lc 2, 16). Eles relataram as manifestações, as coisas divinas a respeito do menino Jesus, e, Maria guardava todos aqueles acontecimentos, meditando-os em seu coração (Lc 2, 18-19). Maria foi uma pessoa que meditava as coisas de Deus na sua vida intima, em seu coração. A palavra meditar vem do latim meditari, cujo significado é curar, permanecer por um longo tempo e com intensa concentração a mente sobre uma afirmação, palavra sagrada1. A meditação faz a pessoa viver o mistério do Senhor em seu coração com maior vivacidade, em vista de uma atuação caritativa.

Ouvir a Palavra de Deus e guardá-la.

O evangelista São Lucas também disse que uma mulher no meio da multidão levantou a voz para afirmar a Jesus que era bem-aventurado o ventre que o gerou e os seios que o amamentaram. Mas Jesus respondeu àquela mulher que eram bem-

aventurados antes as pessoas que ouvem a Palavra de Deus e a guardam (Lc 11, 27-28). Esta bem-aventurança era dirigida sem dúvida à sua mãe, Maria, como mulher que ouviu a Palavra de Deus e a guardou em seu coração. Jesus realçou a maternidade messiânica que fez Maria uma ouvinte da Palavra e operadora da mesma, guardando-a em seu coração.

Ó Maria, ajudai-nos a partilhar o Pão.

Na segunda parte do tema, a pessoa suplica a Maria para que ela ajude a partilhar o Pão. O tema está ligado à Campanha da Fraternidade 2023, da CNBB, que ressalta a fome e a partilha do Pão2. Jesus realizou a multiplicação dos pães para a multidão faminta. Diante da proposta dos discípulos para que o Senhor Jesus despedisse a multidão porque já era tarde e o lugar era deserto para que as multidões fossem aos povoados comprar comida, Jesus disse aos discípulos para que não fossem embora as multidões e eles mesmos dessem de comer (Mt 14, 15-16). Como uma pessoa trazia cinco pães e dois peixes, ele fez a multiplicação das poucas coisas de modo que todos se saciaram e ficaram felizes pela comida em abundância(Mt 14, 17-20). Jesus fez a ação maravilhosa da multiplicação dos pães, mas ele quer também que as pessoas façam o bem para os outros, sobretudo para todas aquelas que passam fome e necessidades.

O Pão e a caridade.

O Círio de Nossa Senhora de Nazaré estimula a práticas de caridade, porque é próprio da pessoa fiel viver o amor aos outros. A relação com Deus, para ser verdadeira passa pelo amor ao próximo. O Senhor Jesus Cristo nos disse que somos chamados a amar-nos uns aos outros (Jo 13,34). Ainda o Apóstolo São João diz que quem ama a Deus, mas não ama o próximo, o seu amor é mentiroso, porque se não ama o irmão que vê como pode amar a Deus a quem não vê? (1 Jo 4,20). A caridade é fundamental diante da realidade da fome. As pessoas passam por dificuldades de comer, de modo que a ajuda na comida ou em políticas públicas é essencial. A indiferença ou a omissão seriam coisas que não ajudariam em nada diante da possibilidade da caridade a ser percebida pela realidade da fome.

A caridade é o distintivo do discipulado do Senhor.

A caridade faz a pessoas seguir a Jesus Cristo. Ele deu a sua vida pela salvação da humanidade. Ele também disse que quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas quem a perde por causa de Jesus a encontrará (Mt 16,25). É preciso perder algo de si mesmo para o bem das pessoas que passam fome. Quando se tem amor pelos pobres como Jesus teve na evangelização (Lc 4, 18), tudo tem sentido na ajuda aos famintos e famintas. É o amor-caridade3 que faz a pessoa sair de si mesma para ir ao encontro de quem passa fome ou possui a necessidade para comer.

Ó Maria, ajudai-nos a partilhar a Palavra e o Pão.

O tema do Círio de Nossa Senhora de Nazaré 2023 motiva a todos os fiéis a ler a Palavra de Deus e fazer obras boas de caridade, de amor. Com o pouco que se tem será possível fazer muitas coisas, o que foi feito pelo Senhor pela multiplicação dos pães e dos peixes. Ele saciou a multidão faminta, com responsabilidade mútua. Maria seja a intercessora junto a Jesus para que todas as pessoas vivam a Palavra de Deus, que é Jesus e a Palavra seja partilhada, assim como o Pão seja também partilhado para mais pessoas para uma vida digna conforme o Plano do Senhor.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

"Laudate Deum", o grito do Papa por uma resposta à crise climática

Terra e extrema seca (Vatican Media)

Publicada a exortação apostólica de Francisco que especifica e completa a encíclica de 2015: não estamos reagindo o suficiente, estamos perto do ponto de ruptura. Crítica aos negacionistas: indubitável a origem humana do aquecimento global. O compromisso de cuidar da casa comum nasce da fé cristã.

VATICAN NEWS

““Laudate Deum” é o título desta carta. Porque um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior perigo para si mesmo". Com essas palavras, conclui-se a exortação apostólica do Papa Francisco, publicada em 4 de outubro. Um texto em continuidade com a encíclica Laudato si' de 2015. Em 6 capítulos e 73 parágrafos, olhando para a COP28 em Dubai daqui a dois meses, o Sucessor de Pedro pretende fazer um apelo à corresponsabilidade diante da emergência das mudanças climáticas, porque o mundo "está desmoronando e talvez se aproximando de um ponto de ruptura". É um dos "maiores desafios que a sociedade e a comunidade global enfrentam", "os efeitos das alterações climáticas recaem sobre as pessoas mais vulneráveis" (3).

Os sinais da mudança climática cada vez mais evidentes

No primeiro capítulo, o Papa explica que, por mais que tentemos negá-los, "os sinais da mudança climática estão aí, cada vez mais evidentes". Ele cita "fenômenos extremos, períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da terra". Afirma: "é possível verificar que certas mudanças climáticas, induzidas pelo homem, aumentam significativamente a probabilidade de fenômenos extremos mais frequentes e mais intensos". E para aqueles que minimizam, responde: "aquilo que agora estamos a assistir é uma aceleração insólita do aquecimento". "Provavelmente, dentro de poucos anos, muitas populações terão de deslocar as suas casas por causa destes fenômenos" (6).

A culpa não é dos pobres

Para aqueles que culpam os pobres por terem muitos filhos e talvez tentem resolver o problema "mutilando as mulheres nos países menos desenvolvidos", Francisco lembra "que uma reduzida percentagem mais rica do planeta polui mais do que o 50% mais pobre". A África, que "alberga mais da metade das pessoas mais pobres do mundo, é responsável apenas por uma mínima parte das emissões no passado" (9). Em seguida, o Papa desafia aqueles que afirmam que o menor uso de combustíveis fósseis levará "à diminuição dos postos de trabalho". Na realidade, "milhões de pessoas perdem o emprego” devido às diversas consequências da mudança climática. Enquanto a transição para as energias renováveis, "bem administrada", é capaz de "gerar inúmeros postos de trabalho em diferentes setores. Por isso é necessário que os políticos e os empresários se ocupem disso imediatamente" (10).

Indubitável origem humana

"A origem humana - 'antrópica' - da mudança climática já não se pode pôr em dúvida", diz Francisco. "A concentração na atmosfera dos gases com efeito estufa... nos últimos cinquenta anos, o aumento sofreu uma forte aceleração" (11). Ao mesmo tempo, a temperatura "aumentou a uma velocidade inédita, sem precedentes nos últimos dois mil anos" (12). Isso resultou na acidificação dos mares e no derretimento dos glaciares. A coincidência entre esses eventos e o crescimento das emissões de gases de efeito estufa "não pode ser escondida. A esmagadora maioria dos estudiosos do clima defende esta correlação, sendo mínima a percentagem daqueles que tentam negar esta evidência". Infelizmente, a crise climática não é propriamente uma questão que “interesse às grandes potências econômicas, preocupadas em obter o maior lucro ao menor custo e no mais curto espaço de tempo possíveis" (13).

Em tempo para evitar danos mais dramáticos

" Vejo-me obrigado – continua Francisco - a fazer estas especificações, que podem parecer óbvias, por causa de certas opiniões ridicularizadoras e pouco racionais que encontro mesmo dentro da Igreja Católica. Mas não podemos continuar a duvidar que a razão da insólita velocidade de mudanças tão perigosas esteja neste facto inegável: os enormes progressos conexos com a desenfreada intervenção humana sobre a natureza" (14). Infelizmente, algumas manifestações dessa crise climática já são irreversíveis por pelo menos centenas de anos. É "urgente uma visão mais alargada... tudo o que se nos pede é uma certa responsabilidade pela herança que deixaremos atrás de nós depois da nossa passagem por este mundo" (18).

O paradigma tecnocrático: a ideia de um ser humano sem limites

No segundo capítulo, Francisco fala do paradigma tecnocrático que "consiste, substancialmente, em pensar como se a realidade, o bem e a verdade desabrochassem espontaneamente do próprio poder da tecnologia e da economia" (20) com base na ideia de um ser humano sem limites. "Nunca a humanidade teve tanto poder sobre si mesma, e nada garante que o utilizará bem, sobretudo se se considera a maneira como o está a fazer...É tremendamente arriscado que resida numa pequena parte da humanidade" (23). O Papa reitera que "o mundo que nos rodeia não é um objeto de exploração, utilização desenfreada, ambição sem limites" (25). Ele também lembra que estamos incluídos na natureza, e "isso exclui a ideia de que o ser humano seja um estranho, um fator externo capaz apenas de danificar o ambiente" (26).

Vídeo: https://youtu.be/Ay51_JGRe54

Decadência ética do poder: marketing e informações falsas

"Realizamos progressos tecnológicos impressionantes e surpreendentes, sem nos darmos conta, ao mesmo tempo, que nos tornámos altamente perigosos, capazes de pôr em perigo a vida de muitos seres e a nossa própria sobrevivência" (28). "A decadência ética do poder real é disfarçada pelo marketing e pela informação falsa, mecanismos úteis nas mãos de quem tem maiores recursos para influenciar a opinião pública através deles" (29). "Podemos notar como às vezes os próprios pobres, confundidos e encantados perante as promessas de tantos falsos profetas, caem no engano dum mundo que não é construído para eles" (31). Há "um domínio daqueles que nasceram com melhores condições de progresso" (32).

Política internacional fraca

No capítulo seguinte da exortação, o Papa aborda o tema da fraqueza da política internacional, insistindo na necessidade de favorecer "acordos multilaterais entre Estados" (34). Ele pede "organizações mundiais mais eficazes, dotadas de autoridade para assegurar o bem comum mundial". Essas organizações que "devem dotadas duma real autoridade que possa «assegurar» a realização de alguns objetivos irrenunciáveis" (35). Francisco lamenta "que as crises globais sejam desperdiçadas, assim como sucedeu na crise financeira de 2007-2008 e com a pandemia, que trouxeram "maior individualismo, menor integração, maior liberdade para os que são verdadeiramente poderosos e sempre encontram maneira de escapar ilesos" (36). O desafio atual é recriar um novo multilateralismo "à luz da nova situação global" (37), reconhecendo que tantas agregações e organizações da sociedade civil ajudam a compensar as fraquezas da Comunidade internacional.

Inúteis as instituições que preservam os mais fortes

Francisco propõe " um multilateralismo «a partir de baixo» e não meramente decidido pelas elites do poder" (38). Ele lembra que é necessário um "quadro diferente para uma cooperação eficaz" (42). Portanto, precisamos de "uma espécie de maior «democratização» na esfera global... Deixará de ser útil apoiar instituições que preservem os direitos dos mais fortes, sem cuidar dos direitos de todos". (43)

O que se espera da COP de Dubai?

No capítulo seguinte, analisando a COP28, Francisco escreve: "Não podemos renunciar ao sonho de que a COP28 leve a uma decidida aceleração da transição energética, com compromissos eficazes que possam ser monitorizados de forma permanente. Esta Conferência pode ser um ponto de viragem" (54). Infelizmente, "a necessária transição para energias limpas..., não avança de forma suficientemente rápida" (55).

Chega de ridicularizar a questão ambiental

Francisco pede o fim da "atitude irresponsável" daqueles que ridicularizam a questão ambiental por interesses econômicos: em vez disso, trata-se de "dum problema humano e social em sentido amplo e a diversos níveis. Por isso requer-se o envolvimento de todos". Com relação aos protestos de grupos radicalizados, o Papa afirma que "eles preenchem um vazio da sociedade", pois caberia "a cada família pensar que está em jogo o futuro dos seus filhos" (58) e exercer uma pressão saudável. O Pontífice espera que da COP28 surjam "formas vinculantes de transição energética" que sejam eficientes e "facilmente monitoráveis" (59). " Oxalá que, a intervir na COP28, sejam estrategas capazes de pensar mais no bem comum e no futuro dos seus filhos, do que nos interesses contingentes de algum país ou empresa. Possam assim mostrar a nobreza da política, e não a sua vergonha" (60).

Um compromisso que brota da fé cristã

Por fim, o Papa recorda as razões desse compromisso que brota da fé cristã, incentivando "os irmãos e irmãs de outras religiões a fazerem o mesmo" (61). "A cosmovisão judaico-cristã defende o valor peculiar e central do ser humano no meio do maravilhoso concerto de todos os seres... formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde" (67). " Isto não é um produto da nossa vontade... pois Deus uniu-nos tão estreitamente ao mundo que nos rodeia" (68). O que é importante, escreve Francisco, é lembrar que "não há mudanças duradouras sem mudanças culturais... e não há mudanças culturais sem mudança nas pessoas" (70). "Os esforços das famílias para poluir menos, reduzir os esbanjamentos, consumir de forma sensata estão a criar uma nova cultura" (71). O pontífice conclui lembrando "que as emissões pro capite nos Estados Unidos são cerca do dobro das dum habitante da China e cerca de sete vezes superiores à média dos países mais pobres". E afirma "que uma mudança generalizada do estilo de vida irresponsável ligado ao modelo ocidental teria um impacto significativo a longo prazo. Assim, juntamente com as indispensáveis decisões políticas, estaríamos no caminho do cuidado mútuo" (72).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Paquistão e os 800 anos do encontro de São Francisco com o Sultão do Egito

São Francisco de Assis e o Sultão do Egito AL-Kamil em 1219 (Vatican Media)

Há 800 anos realizava-se o histórico encontro entre São Francisco de Assis e o sultão do Egito, AL-Kamil, um pilar na esteira do diálogo inter-religioso islâmico-cristão. O presidente dos bispos paquistaneses, Sebastian Shaw reitera que também hoje devemos ser embaixadores da paz.

Cecilia Sepia - Cidade do Vaticano

Era o ano de 1219 quando Francisco de Assis, em meio às Cruzadas e ao clima de violência e conflito delas decorrente, decidiu dar a sua contribuição para promover a paz,  com a bênção e permissão do Papa Honório III.

Assim, enquanto as duas margens do Mediterrâneo eram marcadas pelo ódio, o “Pobre de Assis” foi a Damietta, a poucos quilômetros de distância do Cairo para conversar com o Sultão do Egito Malik al Kamil, fazendo com que o Evangelho se encontrasse com o Alcorão. Um gesto inesperado, forte nas intenções e implicações, mas que permaneceu por muito tempo "pouco glorioso", sendo considerado até mesmo pela maioria como um fracasso.

Mas desejo do próprio Francisco de Assis em ir até os muçulmanos, sem bolsa nem alforje, com a única arma do respeito, que se coloca como caminho ainda hoje para buscar o entendimento e harmonia entre Oriente e Ocidente.

O Pobrezinho de Assis, com sua visão de evangelização e com suas ações, faz parte de toda outra lógica, desconhecida na época, e acaba até mesmo por prever a derrota aos cruzados.

Celebrações no Paquistão

Oitocentos anos mais tarde,  toma forma no Paquistão - por iniciativa da Comissão Nacional para o Diálogo Inter-religioso e o Ecumenismo, no seio da Conferência dos Bispos do Paquistão - uma série de importantes iniciativas e celebrações, voltadas a relançar a mensagem universal de tolerância, de amizade, do compromisso comum pela paz.

A inauguração deste ano especial dedicado ao diálogo ocorreu nos dias passados em Lahore, na presença de Dom Sebastian Shaw, arcebispo da cidade, e presidente da Conferência Episcopal do Paquistão e padre Francis Nadeem, Custódio dos Frades Capuchinhos paquistaneses, e secretário executivo da Comissão. Presentes  numerosos franciscanos, religiosas, sacerdotes, leigos e eminentes estudiosos muçulmanos que também foram para a ocasião partindo de cidades como Sialkot, Gujranwala e Islamabad.

Da parte do diálogo

Os dois grandes líderes, Francisco e Al-Kamil, "uniram-se em favor da paz e da tolerância em meio à atmosfera de guerra e conflito durante as Cruzadas. Deram um exemplo de diálogo inter-religioso e compreensão recíproca", disse o padre Nadeem.

No início da cerimônia, também foi desvelada uma pintura - como relatado pela Ag. Fides - que retrata o encontro entre São Francisco de Assis e Al- Kamil, enquanto pombas eram soltas, simbolizando a esperança de difundir a mensagem de paz no Paquistão e em todos aqueles lugares onde há conflitos religiosos e políticos.

O capuchino Shahzad Khokher a seguir,  apresentou  o contexto histórico e o significado deste encontro, narrado também em um livro da Livraria Editora Vaticana (LEV), intitulado "Bento XVI e São Francisco", de Gianfranco Grieco, que investiga justamente a teologia, a catequese e a espiritualidade do Papa emérito sobre o Pobrezinho de Assis, toda focada no fortalecimento do diálogo inter-religioso, tema caro também ao Papa Bergoglio, que do Frade Santo, escolheu o nome.

Embaixadores da paz

O arcebispo Shaw encorajou todos os presentes a "serem embaixadores da paz", inspirando-se no exemplo demonstrado por esses grandes líderes em um tempo em que falar sobre a paz parecia quase inoportuno.

Padre Nadeem, por sua vez, anunciou que em 2019 o evento será celebrado em todo o Paquistão, com diversas atividades: seminários para crianças, jovens, estudantes universitários, envolvendo sempre mais  cristãos e muçulmanos.

"Pretendemos alcançar - disse ele - também aqueles 30% de líderes religiosos muçulmanos que são hostis em relação aos cristãos.  Como São Francisco, sem medo, com a ajuda dos muçulmanos que estão do nosso lado, desejamos encontrá-los para promover a paz e a harmonia no Paquistão".

Muhammad Asim Makhdoom, famoso estudioso entre os muitos líderes islâmicos presentes, concordou: "Promoveremos juntos a missão de São Francisco e do Sultão. Cabe a nós enfrentar os que espalham ódio e preconceito entre as religiões. Cabe a nós comprometemo-nos seriamente este ano para convencer outras pessoas a unirem-se a este movimento que promove o diálogo inter-religioso, a paz e a harmonia social, enquanto nós celebramos o 800º aniversário daquele encontro histórico."

 A cerimônia foi concluída com a oração comum pela paz recitada pela assembleia.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Agostinho e a liberdade (5/6)

Agostino encontra os notáveis ​​milaneses (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 06/2002

Agostinho e a liberdade

O relatório do Arcebispo de Argel da Universidade de Pádua de 24 de maio, no final da série de conferências sobre a atualidade de Santo Agostinho.

por Henri Teissier

A liberdade de Agostinho comparada ao prestígio de Roma

Agostinho foi educado para conhecer toda a herança da cultura clássica. Toda a sua obra restaura esse conhecimento e mostra a sua extensão, por exemplo, em De civitate Dei , quando revê o panteão romano e critica os seus mínimos detalhes ( De civitate Dei IV, 8). Agostinho inseriu-se no Império Romano do seu tempo e soube apreciar a sua grandeza. E, no entanto, sabe distinguir os planos da Cidade de Deus: o da obra divina que, pela graça, toca o coração do homem e o das forças humanas que constroem o Império.

Tem a coragem de realçar o desejo de dominação que, com guerras incessantes, submeteu o mundo mediterrânico ao poder de Roma. «Este resultado», diz Agostinho, «foi alcançado com muitas guerras enormes, com grande matança de homens e grande derramamento de sangue humano» ( De civitate Dei XIX, 7).

Sabe-se que Agostinho foi espectador do saque de Roma por Alarico em 410, sem ceder ao desespero, como fez seu contemporâneo São Jerônimo. Negou o nome de república ao Estado Romano porque este não nasceu da justiça que a Cidade de Deus proporciona: «Se, portanto, o Estado ( res publica) é coisa do povo, se a definição for verdadeira, o Estado Romano nunca existiu, porque nunca foi coisa do povo, e ele [Cícero] demonstrou que essa é a definição do Estado. Na verdade, ele definiu o povo como a união de um certo número de indivíduos, ocasionada pela conformidade da lei e pela comunhão de interesses. No debate explica o que entende por conformidade do direito, pois demonstra que sem justiça o Estado não pode ser administrado; é, portanto, impossível ter direitos num Estado onde não existe verdadeira justiça" ( De civitate Dei XIX, 21).

Estes princípios levaram-no ao seguinte juízo (de liberdade absoluta em relação aos poderes terrenos) expresso no famoso texto onde os impérios sem justiça são comparados a bandos de bandidos: «Se a justiça não for respeitada, o que são os Estados senão grandes bandos de ladrões? ? Porque mesmo as gangues de bandidos, o que são elas senão pequenos estados?" ( De civitate Dei IV, 4). «Travar a guerra contra os vizinhos, continuar com outras guerras, derrotar e subjugar povos que não os perturbaram por simples ambição de domínio, o que mais devemos considerar senão um grande ato de banditismo?» ( De civitate Dei IV, 6).

No mesmo espírito, Agostinho opôs-se à tortura que o juiz utilizou contra pessoas inocentes para tentar descobrir os culpados: «E o que podemos dizer quando alguém sofre tortura num julgamento e é dilacerado quando se investiga se ele é culpado e um pessoa inocente sofre punições muito certas por um crime incerto?” ( De civitate Dei XIX, 6). Todos estes textos importantes foram recordados durante a reunião de Argel ou nos comentários da imprensa.

Parece-me que estas citações são suficientes para ilustrar a liberdade de Agostinho em relação ao sistema social em que cresceu e viveu. Quão distantes estão estas reflexões dos julgamentos categóricos que lhe são atribuídos pelos seus atuais adversários na Argélia!

A liberdade de se reconhecer filho de sua própria cultura

Agostinho é o maior médico latino de sua época. Mas este prestígio da língua latina, que utiliza com total maestria, não o leva a desprezar a cultura particular do povo númida de onde provém.

É bem conhecida sua famosa resposta ao gramático Máximo de Madaura, lembrada, entre outras coisas, pelo professor Kevin Coyle em seu discurso. O interlocutor de Agostinho brincou sobre as consonâncias púnicas dos nomes dos mártires africanos Miggin, Namphano e outros. Agostinho respondeu: «Você é tão esquecido de si mesmo, a ponto de pensar que tem que criticar os nomes púnicos, você, africano, no ato de escrever aos africanos e nós dois que vivemos na África?» ( Carta 17, 2)(19).

A igualmente famosa resposta a Juliano de Eclano durante a questão pelagiana também segue a mesma linha. O oponente de Agostinho o define como “poenus disputator” ou “poenus tratador” ou “poenus orator” ou, finalmente, “poenus scriptor”. Agostinho não contesta a referência à sua identidade “púnica”, mas responde ao seu oponente dizendo-lhe que não consegue livrar-se de uma discussão com sarcasmo que não consegue refutar com argumentos dignos do assunto em discussão (Ad Tururbantium, fr. 52 ) (20) .

É digno de nota, por outro lado, que Agostinho, depois da sua conversão em Cassiciacum e do batismo em Milão, quis regressar à sua terra natal para não a abandonar novamente e inscrever toda a sua obra na Igreja da África. Agostinho também exerce esta liberdade para se situar dentro da sua própria cultura dentro da Igreja. Combateu o particularismo donatista aproveitando o tema da inscrição da Igreja da África na Igreja universal. Mas, ao mesmo tempo, afirmou também a liberdade da Igreja de África nas suas relações com a Igreja de Roma. A crise pelagiana e as dificuldades da Igreja da África com o Papa Zózimo puseram em evidência a liberdade da Igreja da África quando defende a sua tradição teológica.

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19 K. Coyle, “L'identité du christianisme nord-africain aux temps d'Augustin”, Anais do Colóquio de Argel.
20 Ver M. Lamberigts, “O Italiano Juliano de Aeclanum versus o Africano Agostinho de Hipona”, Proceedings of the Algiers colloquium.

Fonte: http://www.30giorni.it/

São Francisco de Assis explica a perfeita alegria

São Francisco de Assis (Aleteia)

Por Aleteia Brasil - Publicado em 01/01/17

Uma alegria radical, surpreendente e incompreensível para a mente do mundo!

Vindo São Francisco certa vez de Perusa para Santa Maria dos Anjos com frei Leão, em tempo do inverno e atormentado pelo fortíssimo frio, frei Leão pediu-lhe:

Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a perfeita alegria.

E São Francisco assim lhe respondeu:

Quando chegarmos a Santa Maria dos Anjos, inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de lama e aflitos de fome, e batermos à porta do convento, e o porteiro chegar irritado e disser:

‒ Quem são vocês?

E nós dissermos:

‒ Somos dois dos vossos irmãos, e ele disser:

‒ Não dizem a verdade; são dois vagabundos que andam enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres; fora daqui!

E não nos abrir e deixar-nos estar ao tempo, à neve e à chuva, com frio e fome até à noite: então, se suportarmos tal injúria e tal crueldade, tantos maus tratos, prazenteiramente, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra ele (…) escreve que nisso está a perfeita alegria.

E se ainda, constrangidos pela fome e pelo frio e pela noite batermos mais e chamarmos e pedirmos pelo amor de Deus com muitas lágrimas que nos abra a porta e nos deixe entrar, e se ele mais escandalizado disser:

‒ Vagabundos importunos, pagar-lhes-ei como merecem.

E sair com um bastão nodoso e nos agarrar pelo capuz e nos atirar ao chão e nos arrastar pela neve e nos bater com o pau de nó em nó:

Se nós suportarmos todas estas coisas pacientemente e com alegria, pensando nos sofrimentos de Cristo bendito, as quais devemos suportar por seu amor:

Ó irmão Leão, escreve que aí e nisso está a perfeita alegria, e ouve, pois, a conclusão, irmão Leão.

Acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos amigos, está o de vencer-se a si mesmo, e, voluntariamente, pelo amor, suportar trabalhos, injúrias, opróbrios e desprezos.

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Excerto dos “Fioretti de São Francisco”, via Contos e Lendas Medievais

Fonte: https://pt.aleteia.org/

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Hoje é dia de São Francisco de Borja, o viúvo que reconsiderou o sentido da vida

São Francisco de Borja. | ACI Digital.

São Francisco de Borja

Por Redação central/ACI Digital

A Igreja Católica celebra hoje (3) a festa de são Francisco de Borja S.J. (Valência, Espanha, 1510 - Estados Pontifícios, 1572). Ele foi casado, teve filhos e após a morte de sua mulher descobriu uma vocação singular: seguir os passos de Cristo como religioso.

O chamado à santidade

Durante o tempo em que esteve casado, Francisco se tornou amigo de alguns membros da Companhia de Jesus. Seu apreço inicial pelos jesuítas se tornaria, após a morte de sua mulher, motivação para uma busca mais intensa por Deus e pelo caminho que Ele havia traçado para sua vida. Assim, depois de um tempo de busca e discernimento, Francisco daria uma reviravolta completa na sua vida.

O nobre valenciano deixou para trás o mundo que construiu, ligado aos círculos sociais que rodeavam a corte real e a aristocracia, para se dedicar totalmente ao serviço da Santa Mãe Igreja, ao lado de santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus.

Homem de família, homem do mundo

Francisco de Borja nasceu em Gandía, Valência, em 1510. Como sua família pertencia à realeza, foi educado como parte da elite. Na sua juventude ocupou vários cargos públicos muito de acordo com os títulos que detinha: foi erigido IV duque de Gandía, I marquês de Lombay, grande de Espanha e vice-rei da Catalunha. Ele até serviu como conselheiro pessoal do imperador Carlos I da Espanha e V da Alemanha.

Com apenas 19 anos, Francisco se casou com Leonor de Castro. E sua casa foi abençoada com oito filhos, que foram criados com muito carinho e dedicação.

Um vice-rei cara a cara com a morte

Nos tempos em que Francisco ocupava o cargo de vice-rei da Catalunha, recebeu a ordem real de transferir os restos mortais da imperatriz Isabel para o local onde repousariam definitivamente, o túmulo real de Granada. A viagem levaria vários dias.

Quando o vice-rei chegou ao local onde se encontrava o corpo da imperatriz, segundo o protocolo fúnebre da época, dirigiu-se à câmara onde havia sido colocado. Ele tinha que ver, reconhecer e certificar oficialmente a morte de Isabel.

No momento em que viu o cadáver, um abismo de medo se abriu diante dele e ele sentiu um vazio sem precedentes. O rosto da imperatriz morta, outrora cheio de exuberância e frescor, jazia à sua frente, desfigurado, deformado, em claro processo de decomposição.

Ter contemplado, mesmo que apenas por alguns momentos, um espetáculo tão lamentável causou estragos em seu interior. A morte abalou a sua segurança habitual e imediatamente mudou a sua forma de compreender a vida.

O vice-rei tinha percebido pela primeira vez a fatuidade da existência humana, sempre agarrada a “castelos de areia” que escondem a sua expiração e miséria até desmoronarem. Anos mais tarde, o santo se referiria a esses acontecimentos como “o dia da sua conversão”. Daí a sua famosa promessa: “Nunca mais servirei um homem que pode morrer”.

“Ele não é Deus dos mortos, mas dos vivos” (Mc 12, 17)

Após a morte de Leonor, sua mulher, e tendo cuidado dos filhos como deveria, Francisco renunciou aos seus títulos e bens e entrou para a Companhia de Jesus. Lá, ele aprendeu a ser servo dos outros e a não esperar ser servido. Por muito tempo, teve que ser ajudante de cozinha na Companhia.

A formação rigorosa, a oração e o estudo enobreceram sua alma e o prepararam para o sacerdócio. Vale lembrar que Jesus estabeleceu um tipo diferente de “nobreza” no mundo. Chegaria assim o dia da sua ordenação e da consequente nomeação como provincial da Companhia na Espanha. Abriu novos conventos e escolas e tornou-se conselheiro de reis e bispos. Sabe-se que até mesmo o papa pedia a sua opinião quando necessário.

Geral da Companhia: “Ele colocou o telhado no edifício e arrumou o interior” (R.P. Verjus SJ)

Em 1566, o santo foi nomeado terceiro superior-geral da Companhia de Jesus e, sob o seu mandato, o espírito missionário da Ordem foi fortalecido. No que diz respeito à educação, Francisco de Borja se tornaria o promotor do Colégio Romano, gerido pela Companhia, que mais tarde se tornaria a prestigiada Universidade Gregoriana.

São Francisco de Borja morreu à meia-noite do dia 30 de setembro de 1572. Dele falaria o famoso padre Verjus, biógrafo do santo e também membro da Companhia de Jesus: “Santo Inácio de Loyola projetou o edifício e lançou os alicerces; o padre Laínez construiu as paredes; são Francisco Borja colocou o telhado no edifício e arrumou o interior e, desta forma, concluiu a grande obra que Deus tinha revelado a santo Inácio".

Fonte: https://www.acidigital.com/

Das Cartas de São Cipriano, bispo e mártir

Para alcançar as promessas do Senhor, devemos imitá-lo em tudo (iCatólica)

Das Cartas de São Cipriano, bispo e mártir

(Ep.6,1-2:CSEL3,480-482)                                                            (Séc. III)

Todos os que desejamos alcançar as promessas do Senhor, devemos imitá-lo em tudo

Eu vos saúdo, irmãos caríssimos, ansioso por gozar da vossa presença, se o lugar onde estou me permitisse ir até vós. Que me poderia acontecer de mais desejável e alegre que estar junto a vós neste momento, para apertar essas mãos, puras e inocentes, que por fidelidade ao Senhor recusaram os sacrifícios sacrílegos?  

Que haveria para mim de mais agradável e sublime que beijar agora os vossos lábios que proclamaram a glória do Senhor, como também ser visto por vossos olhos que, desprezando o mundo, se tornaram dignos de contemplar a Deus?

Mas, como não me é dada essa alegria, eu vos envio esta carta, que me substituirá ante os vossos olhos e ouvidos. Por ela vos felicito e ao mesmo tempo exorto a perseverardes fortes e inabaláveis na proclamação da glória celeste. Uma vez no caminho da graça do Senhor, deveis prosseguir com espírito forte até conquistardes a coroa, tendo o Senhor como protetor e guia, pois ele disse: Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo (Mt 28,20).


Ó cárcere feliz, iluminado pela vossa presença! Ó cárcere feliz, que leva para o céu os homens de Deus! Ó trevas mais luminosas que o próprio sol e mais brilhantes que a luz deste mundo, onde estão agora colocados os templos de Deus, que são os vossos corpos santificados pela proclamação da fé!

Nada mais ocupe agora vossas mentes e corações, senão os preceitos divinos e os mandamentos celestes, pelos quais o Espírito Santo sempre vos animou a suportar os sofrimentos. Ninguém pense na morte mas na imortalidade nem no sofrimento passageiro, mas na glória eterna. Pois está escrito: É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus justos (Sl 115,15). E também: É um sacrifício agradável a Deus um espírito que sofre; Deus não desprezará um coração contrito e humilhado (Sl 50,19).


E ainda em outro lugar fala a Escritura divina dos tormentos que consagram os mártires de Deus e os santificam pelas provações dos sofrimentos: Embora tenham suportado tormentos diante dos homens, sua esperança está cheia de imortalidade. Julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor reinará sobre eles para sempre (Sb 3, 4.8).


Assim, quando vos lembrais de que ides julgar e reinar com o Cristo Senhor, a alegria é que deve prevalecer em vós, superando os suplícios presentes pela exultação futura. Bem sabeis que, desde o princípio, a justiça está em luta com o mundo: logo na origem da humanidade, o justo Abel foi assassinado, como depois dele todos os justos, profetas e apóstolos enviados por Deus.

A todos eles o Senhor quis dar a si mesmo como exemplo, ensinando que só aqueles que seguissem o seu caminho poderiam entrar em seu reino: Quem ama a sua vida neste mundo, perdê-la-á. E quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna (Jo 12,25). E ainda: Não temais os que matam os corpos, não podem, contudo, matar a alma; temei antes aquele que pode matar na geena a alma e o corpo (Mt 10,28).

São Paulo também nos exorta a imitar em tudo o Senhor, se desejamos alcançar as suas recompensas. Diz ele: Somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros – herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo; se realmente sofremos com ele, é para sermos também glorificados com ele (Rm 8,17).

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Costa do Marfim. Bispos: “jovens emigram porque não podem desfrutar riquezas do País”

Dom Marcelin Yao Kouadio e a nova Presidência da Conferência Episcopal da Costa do Marfim (CECI) | Vatican Media

O Presidente da Conferência Episcopal da Costa do Marfim, Dom Marcelin Yao Kouadio, disse em entrevista à Agência Fides a propósito das emigrações, que os Países africanos são imensamente ricos, mas os seus habitantes não podem desfrutar destas riquezas, e os nossos jovens são obrigados a ir morrer no cemitério que se tornou o Mediterrâneo.

Cidade do Vaticano

“Os primeiros missionários da Sociedade das Missões Africanas (SMA) chegaram à Costa do Marfim em 1895. Somos, portanto, uma Igreja relativamente jovem”, disse em entrevista à Agência Fides o Bispo de Daloa e Presidente da Conferência Episcopal da Costa do Marfim, Dom Marcelin Yao Kouadio.

A Costa do Marfim é ainda “terra de missão”?

Atualmente temos 15 dioceses com 4 províncias eclesiásticas, e toda a hierarquia é toda ela composta por Bispos vindos do clero diocesano da Costa do Marfim. Mas, certamente, ainda acolhemos missionárias e missionários estrangeiros pertencentes a diversas congregações religiosas (sobretudo femininas) e institutos de vida apostólica. Portanto, ainda somos uma Igreja “em terra de missão”. A nossa problemática é como passar desta condição para uma Igreja missionária.

O que pode ajudar esta passagem?

Do meu ponto de vista, é preciso ter em consideração a chamada “tríplice autonomia”. Em primeiro lugar, a autonomia do pessoal envolvido no trabalho apostólico, por meio de uma pastoral vocacional bem organizada, dirigida às gerações jovens. E depois a autonomia cultural, através da inculturação da fé: como valorizar a cultura local, que tem os seus valores, na dinâmica do anúncio do Evangelho. Na cultura tradicional do nosso povo existem fatores como a crença em Deus, o Ser Supremo; o reconhecimento do mal feito e do pecado; a crença na vida depois da morte; o sentido da vida comunitária. Finalmente, a autonomia financeira de todas as nossas dioceses. A nível nacional criámos um fundo católico nacional que está a ter bons resultados. Estamos terminando de construir a construção de uma cidade financiada por este fundo. É uma cidade com diversas casas para alugar em vista à criação de fundos para a Igreja.

Como se realiza o diálogo com as outras comunidades de crentes no seu País?

Num contexto como o da Costa do Marfim, se deve falar de diálogo inter-religioso, porque ainda existem os seguidores da religião tradicional africana e existem os muçulmanos. O diálogo ecuménico, pelo contrário, diz respeito às relações com as Igrejas protestantes. Na Costa do Marfim foi criada uma espécie de aliança entre comunidades de crentes pela paz, trazendo juntos sobretudo os nossos irmãos protestantes e os muçulmanos. Neste momento, como Conferência Episcopal, estamos presentes como observadores. Existe também o Fórum Nacional das Confissões Religiosas onde estão presentes todas as confissões do País, e onde juntamente com todos os outros líderes religiosos promovemos iniciativas para a paz e a coesão social, sobretudo durante o período crítico das eleições.

Em 2023, a primeira nacionalidade de imigrantes a chegar à costa italiana é da Costa do Marfim, até agora quase 8.000 pessoas. O que nos pode dizer sobre isso?

O fenómeno da emigração é uma realidade infeliz na medida em que os Países africanos, como a Costa do Marfim, são imensamente ricos. Mas os seus habitantes não podem desfrutar destas riquezas. Só para darmos um exemplo, a Costa do Marfim é o maior produtor mundial de cacau. Mas quem o cultiva na Costa do Marfim não se pode dar ao luxo de comprar “o bom chocolate” anunciado na vossa publicidade na Europa. Somos o terceiro maior produtor de café no mundo, sem contar o ouro, diamantes e muito mais ainda. E o mesmo vale para os outros Países africanos. Os seus filhos são obrigados a ir morrer naquele cemitério que se tornou o Mediterrâneo. É uma tragédia. Diz-se que vivemos num mundo globalizado. Diz-se que o mundo é uma grande aldeia, mas a mobilidade de que se fala é muitas vezes de sentido único. Existem alguns que podem ir em todo o lado mesmo sem visto, mas muitos outros que não se podem movimentar. A Igreja procura sensibilizar os jovens sobre os riscos de partir. Durante a última Quaresma orientei um retiro com 12 mil jovens onde abordamos o tema.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Novamente o aborto e a cultura da morte

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Por Francisco Borba Ribeiro Neto

O aborto é uma manifestação da cultura da morte, não sua causa. Ele não gera essa cultura da morte, é gerado por ela.

O contínuo avanço do aborto em nossas sociedades (permitido por lei em pelo mesmo 66 países e repetidamente invocado como direito em países como o nosso) nos obriga a uma séria reflexão sobre sua relação com a “cultura da morte”, denunciada por São João Paulo II na Evangelium vitae.

Uma cultura não se torna hegemônica apenas porque determina a mentalidade da maioria da população ou as normas seguidas pelo Estado. Ela, frequentemente, não corresponde à mentalidade da maioria. Em alguns casos, não se identifica nem mesmo com as posições oficiais do Estado. Uma cultura, se torna hegemônica à medida que condiciona a mentalidade da maioria dos formadores de opinião e dos tomadores de decisões (sejam agentes públicos ou privados). Nas sociedades contemporâneas, as mudanças começam justamente quando novas ideias, que são minoritárias entre a população e não tem representatividade junto ao poder político, começam a tornar-se hegemônicas. Por isso, temos que considerar que a cultura da morte, se não é hegemônica, pelo menos já é fortíssima no mundo de hoje.

O que caracteriza a cultura da morte?

O aborto é uma manifestação da cultura da morte, não sua causa. Ele não gera essa cultura da morte, é gerado por ela. Caso o enfrentemos como se fosse apenas uma tendência isolada e não o fruto de uma mentalidade que vai se consolidando, estaremos apenas “enxugando o gelo” e seremos, mais cedo ou mais tarde, superados pela onda que vai crescendo. Para ser efetiva, a luta contra o aborto tem que estar inserida numa batalha maior, contra a cultura da morte.

Essa cultura é caracterizada por um imediatismo desesperançado. Pode ser a perda de esperança atormentada, que leva ao desespero, daquelas pessoas que não veem nenhuma chance de serem minimamente felizes diante daquilo que lhes acontece. Pode ser uma desesperança fria e calculista, de quem se entregou a um pragmatismo cínico, para o qual todo ideal e todo afeto são ilusórios, e por isso o que resta é tentar controlar a vida, extraindo dela o máximo de prazer imediato. Num caso ou no outro, a morte é uma opção válida porque não existe um bom motivo para se sacrificar em nome da vida.

No caso de quem se vê realmente diante da opção de abortar, essa desesperança é acompanhada por um ocultamento da pessoa do nascituro. Fazemos muitas discussões conceituais sobre o direito do nascituro à vida, mas quem já encontrou pessoas que pensavam em abortar sabe que o problema não é teórico: elas simplesmente procuram não ver a criança que já está no útero. Não por acaso, uma das mais fortes e combatidas campanhas pró-vida consiste simplesmente em mostrar às mães imagens de como deve estar, naquele momento, a criança em seu ventre.

Recuperar a esperança

Bento XVI, respondendo a uma pergunta sobre as legislações pró-aborto, considerou que lhe parecia que “na base destas legislações haja por um lado um certo egoísmo e por outro uma dúvida sobre o futuro. E a Igreja responde sobretudo a estas dúvidas: a vida é bela, não é algo duvidoso, mas é um dom e também em condições difíceis a vida permanece sempre um dom. Portanto voltar a criar esta consciência da beleza do dom da vida. E depois, outra coisa, a dúvida do futuro: naturalmente há tantas ameaças no mundo, mas a fé dá-nos a certeza de que Deus é sempre mais forte e permanece presente na história e, portanto, podemos, com confiança, também dar a vida a novos seres humanos. Com a consciência de que a fé nos dá sobre a beleza da vida e sobre a presença providente de Deus no nosso futuro podemos resistir a estes medos que estão na base destas legislações”.

A cultura da morte é combatida justamente com essa consciência da beleza da vida, por meio do afeto que acolhe e mostra uma esperança onde antes só havia desespero ou cálculo individualista. Existe uma luta jurídica, absolutamente necessária, em defesa da vida. Contudo, temos que ter claro que a luta contra a cultura da morte deve transcender esse aspecto legislativo, deve ser também um trabalho formativo e um acompanhamento solidário que desperta para a confiança no amor, a beleza da vida e a esperança no futuro – pois todas essas três coisas faltam na cultura da morte e na opção pelo aborto.

Um caminho de justiça, mas também de solidariedade

Frequentemente, nossas campanhas pró-vida são interpretadas como se estivéssemos apenas culpando e penalizando as mulheres, fazendo com que elas se sintam menos amadas e respeitadas por causa disso. Precisamos aprender sempre mais a mostrar que a luta pró-vida é uma luta por amor tanto às crianças que estão por nascer quanto a suas mães. Uma mulher grávida, em dificuldade, deve descobrir-se amada por aqueles que lutam contra o aborto, ela e seu bebê devem receber o afeto e o apoio necessários para que ambos levem a vida para frente, para que a criança nasça e ambos, mãe e criança, experimentem a beleza da vida e do amor.

Não são apenas questões conceituais ou de um afeto abstrato, implicam em gestos concretos, apoios que podem ser psicológicos, familiares ou mesmo econômicos. Quando uma criança morre abortada, a responsabilidade raras vezes e só da mãe, quase sempre existe um conjunto de pessoas a levaram a isso ou deixaram de dar-lhe o apoio que lhe permitiria levar a gravidez à frente. Uns e outros, por empenho com o mal ou por omissão diante do bem, colaboram com a cultura da morte.

É natural e justo que nos sintamos indignados diante, por exemplo, do ativismo judicial que tenta legalizar o aborto no Brasil a qualquer custo. Contudo, a indignação deve levar ao compromisso, não à raiva. Quando olhamos o mundo com raiva dos abortistas e não com amor pelas vítimas do aborto (que são não só os filhos, mas também as mães que abortam por falta de apoio e orientação) reproduzimos a lógica do mal que gera o aborto e que deveríamos estar combatendo. O diabo ri contente quando vê os amigos de Deus olhando o mundo com os olhos da raiva e do ressentimento e não com os olhos do perdão e do amor. Quando isso acontece, ele (o diabo) sabe que já venceu uma batalha (que acontece em nosso coração e na sociedade).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF