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sábado, 7 de outubro de 2023

Papa Francisco: Maria é a Mãe dos descartados, daqueles que descartamos

Santo Padre com a Confraria de Nossa Senhora de Montserrat, por ocasião do 800º aniversário de fundação.  (Vatican Media)

Discurso do Santo Padre à Confraria de Nossa Senhora de Montserrat, por ocasião do 800º aniversário de fundação.

Silvonei José, Manoel Tavares – Vatican News

O Papa Francisco recebeu, na manhã deste sábado, 7, no Pátio São Dâmaso do Vaticano, cerca de 800 membros da Confraria de Nossa Senhora de Montserrat, por ocasião dos seus 800 anos de fundação.

Em sua saudação aos numerosos presentes, o Santo Padre expressou sua satisfação por esta peregrinação realizar-se no dia da festa da nossa Mãe celeste, sob o título de Nossa Senhora do Rosário: “Celebrar Maria é celebrar a proximidade e a ternura de Deus, no meio de seu povo, que não nos deixa sozinhos, mas que nos deu uma Mãe, que cuida de nós e nos acompanha”. E o Papa acrescentou:

Vocês vieram a Roma como peregrinos para celebrar e dar graças ao Senhor por esta presença tão próxima de Maria, que, há 800 anos, os acompanha no caminho da vida cristã. Invoquemos a imagem da Virgem de Montserrat, a Virgem morena ou “Moreninha”, sentada, segurando o Menino nos braços. A Mãe de Deus traz, em sua mão direita, uma esfera, que representa o universo. Logo, ela é a “Rainha e Senhora de toda a criação”.

Nossa Senhora de Montserrat (Vatican Media)

A dupla vocação de Maria de ser Mãe de Deus e nossa Mãe, disse o Papa, ajuda-nos a refletir sobre o lema que vocês escolheram para esta peregrinação: “Piedade popular, amizade social e fraternidade universal”. E explicou: “Sabemos que a devoção mariana é muito significativa nas manifestações de piedade do santo povo fiel de Deus”.

Nestes 800 anos da presença mariana em Montserrat, exclamou Francisco, quantos fiéis visitaram seu santuário, rezaram o rosário e pediram à Moreninha, com humildade e simplicidade, sua intercessão por si e por seus entes queridos! Quantas expressões de carinho filial, de súplicas e ações de graças!

Quando o Povo de Deus vai visitar sua Mãe, - continuou o Papa improvisando – “ele se expressa, se expressa de uma forma que talvez não faça tanto em outros tipos de oração. Diante da Mãe, os sentimentos mais nobres de uma pessoa são despertados. E quando Maria ouve nossas orações, ela faz esse gesto, que é o gesto mais mariano”. Ela aponta para Jesus: "Façam tudo o que ele lhes disser". Esse é o típico gesto mariano. Não, ela não faz assim. Ele não faz assim, não. Ela aponta o caminho e fala com seu Filho para que ele entenda.

E acrescentou:

A força evangelizadora da piedade popular cria condições favoráveis ​​para aumentar e fortalecer os laços de amizade e fraternidade entre os povos. Neste sentido, a devoção mariana tem um lugar privilegiado: Maria, nossa advogada, é mediadora nos conflitos e problemas, como aconteceu nas Bodas de Caná. Ela nos ajuda a ‘desatar os nós’, que surgem em nós e entre nós”.

Santo Padre encontra membros da Confraria de Nossa Senhora de Montserrat (Vatican Media)

Isso significa, afirmou ainda Francisco, que Maria também abre o caminho da amizade entre os povos e nos convida a voltar o olhar para as origens e meta da nossa existência, “Jesus Cristo”. Ela nos encoraja a seguir o seu exemplo, trilhando os caminhos da paz, da bondade, da escuta e do diálogo paciente e confiante. E o Papa concluiu:

Queridos irmãos e irmãs. A Virgem de Montserrat, com o globo nas mãos, nos convida a viver esta fraternidade universal, sem fronteiras e sem exclusões, que dissipa as trevas de um ambiente fechado. Ela zelou não apenas de Jesus, mas também de todos os seus descendentes. Com a força do Ressuscitado, ela contribui para a construção de um mundo novo, onde todos sejam irmãos, onde cada excluído tenha seu lugar nas nossas sociedades e onde brilhem a justiça e a paz”.

Para ela – disse ainda o Papa - "não há descarte, ela é a Mãe dos descartados, daqueles que descartamos, porque ela vai até lá buscá-los. Ela não conhece a atitude de descartar ninguém. E, por ser Mãe, sabe ouvir tantas coisas, tantos pedidos, mesmo quando vêm de um coração duplo, de um coração que não é coerente consigo mesmo, um coração injusto que faz mal. Ela ouve, ouve os pedidos, ouve os pedidos, ouve os pedidos. Ela ouve, ouve também o filho criminoso".

Ao se despedir do numeroso grupo de peregrinos da Confraria, Francisco exortou: “Como é bom refletir sobre estes temas e poder viver juntos a alegria de anunciar Jesus, que Maria segura em suas mãos, pois ela é a Mãe do Evangelho vivo e Estrela da nova evangelização. Encorajo-os a continuar esta missão, que é um dom e uma tarefa”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Bem-aventurados os que choram! (Parte 1)

Bem-aventurados os que choram! (iCatólica)

Chorar é diferente de ser triste

Por Giovanni Marques Santos

    Já dizia o poeta Vinícius de Moraes, em seu “Samba da benção”, que “é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz do coração”. E ele está certo: a alegria ilumina a vida. Para os discípulos de Cristo, a alegria é praticamente um mandamento para quem acolhe seu Evangelho: “Eu vos tenho ensinado todas essas coisas para que a minha alegria permaneça em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15, 11). A alegria, a paz, a mansidão são frutos do amor de Deus derramado em nosso coração.

    No entanto, nem só de rosas são feitos os caminhos dos seguidores de Jesus. A todo tempo, estamos expostos aos duros contragolpes da vida, num mundo que se encontra sob pesada influência do mal, do pecado e da morte. Quando menos esperamos, vários males – dificilmente vêm sozinhos – assaltam-nos inesperadamente, perturbando nossa vida, enchendo-nos de sofrimento e aflição. Isso sem falar nos constantes massacres da dignidade humana que nos chegam pelos noticiários todos os dias: guerras, fome, doenças, violência urbana, consumo de drogas.

    Em momentos de grandes crises, pode ser que você já tenha feito a experiência da fortaleza que nos dão a fé, a esperança e o amor. Encontramos força que não sabemos ter, quando nos colocamos em uma dinâmica de cuidado amoroso para o próximo que sofre ou mesmo quando somos diretamente atingidos pelo problema. A amizade com Deus proporciona-nos uma serenidade que nos ajuda a enfrentar as tempestades da vida.

    Serenidade, porém, é algo muito diferente de indiferença ou frieza. Não pode ser frio ou indiferente quem tem amor no coração. A Bíblia nos relata que o humaníssimo Filho de Deus chorou três vezes: diante da morte de seu amigo Lázaro e da angústia das irmãs dele, Marta e Maria (cf. Jo 11, 32-36); perante a dureza de coração do povo de Jerusalém, imerso em sua arrogância, incapaz de perceber a chegada da salvação (cf. Lc 19, 41-42); antes de sua crucificação, na agonia do horto das Oliveiras(cf. Hb 5, 7). As lágrimas são uma reação importante, até mesmo necessária, diante da percepção de uma aparente vitória do mal, que nosso coração recusa com profundidade. Não aceitamos que o mal seja forte, que ele nos oprima ou oprima nossos irmãos, por isso, choramos.

    “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5, 4). Chorar é um dom, um grande dom que devemos mesmo pedir a Deus: chorar pelo mal que nos atinge e, principalmente, chorar pelo mal com que atingimos os outros. O choro nos reconecta com nossa verdade, para além de nossas máscaras. Reconecta-nos com o profundo amor de Deus por nós, ajudando-nos a perceber que ninguém existe para sofrer o mal e muito menos para fazê-lo.

    Chorar, assim, por estranho que pareça, é condição para a alegria em Deus. Como pode ser feliz quem não se compadece da dor do próximo? Como pode ser feliz quem não sente seu coração sangrar de arrependimento por uma ofensa cometida? O verdadeiro discípulo de Jesus, tal como seu Mestre, chora diante da aflição e do pecado. Esse choro é belo, virtuoso, necessário, pois é ele que nos abre para a consolação do Espírito Santo, ternura de Deus que cura e fortalece nosso coração.

Fonte: Revista Ecoando. Ano 21, nº 83, Set-Nov/2023, págs. 6/7 (Paulus)

Você disse “insustentável”?

WK Lai | Shutterstock | #image_title

Por Jean-François Thomas, SJ

Hoje em dia, o termo “insustentável” é empregado nas mais diversas situações e serve para expressar a incapacidade de se saber apoiado em provações verdadeiramente avassaladoras.

Palavras ligadas a vestuário, gostos culinários e destinos turísticos estão sujeitas à ditadura da moda passageira e das ideologias impostas. Assim, são usadas ​​indiscriminadamente, repetidas vezes, por um tempo variável, até o momento em que caem novamente no esquecimento ou encontram o seu devido lugar. É o caso do termo “insustentável”. Talvez trazido à moda por Milan Kundera em sua obra “A Insustentável Leveza do Ser”, de 1982, ele agora tem uma pele dura e coriácea.

 Este escritor dirá, por exemplo, em “A Imortalidade”: “A vocação da poesia não é nos deslumbrar com uma ideia surpreendente, mas sim fazer com que um momento seja inesquecível e digno de uma nostalgia insustentável”. A partir daí tudo se tornará insustentável: o bem e o mal, a felicidade e a infelicidade – e esta palavra será aplicada às mais diversas situações e realidades, sendo tudo colocado no mesmo patamar. 

Esvaziado de sua substância

insustentável é, assim, gradualmente esvaziado da sua força, da sua substância. Aplica-se mais frequentemente à alimentação forçada de gansos do que ao aborto ou aos horrores da guerra fratricida. O pintor alemão Otto Dix, muito marcado pela Grande Guerra durante a qual lutou em território francês em batalhas sangrentas, compôs, entre 1929 e 1932, o seu famoso tríptico Der Krieg (“A Guerra”), para tentar expressar um sofrimento que estava além da compreensão. Ele teria ficado surpreso e escandalizado com o uso grosseiro do termo insustentável algumas décadas depois. Normalmente o que é insuportável ou insustentável é aquilo que não podemos receber sem ceder, física ou moralmente, porque o peso é muito grande. O homem suporta o insuportável, tentando lutar e, às vezes, conquistando algumas vitórias, mas sai da provação ferido, marcado, e não é pela nostalgia poética de que fala Kundera. 

Se valorizamos tanto o insustentável, é melhor chafurdarmos na autopiedade e no ódio pela ordem das coisas desejada por Deus.

A resignação e o abandono de Jó dominado pelos males são uma forma de atravessar o insuportável e emergir novamente para mais luz. No entanto, no meio da tempestade, Jó clama, abandonado, pronto para se libertar. Ele amaldiçoou o dia do seu nascimento: “Pereça o dia em que nasci e a noite em que foi dito: ‘Nasceu um menino!’. Que esse dia se torne em trevas! Que Deus, lá do alto, não se incomode com ele, que a luz não brilhe sobre ele. Que trevas e obscuridade se apoderem dele, que nuvens o envolvam, que eclipses o apavorem” (Jó 3, 3-5). Algo diferente das simples manipulações literárias ou políticas do nosso tempo aqui.

Valorizar tanto o insustentável é chafurdar melhor na autopiedade e no ódio pela ordem das coisas desejadas por Deus. Misturamos tudo, e uma das maneiras mais eficazes de fazer isso é também retirar o poder do vocabulário. Só quem experimenta uma dor idêntica à de Jó poderia usar sabiamente esta palavra, sabendo quão terrível é passar pela ponte de um destino trágico. O que é realmente insustentável é que não tomamos a precaução de andar na ponta dos pés enquanto caminhamos pela existência humana. 

O transbordamento do insustentável

Um filme americano de 1999, American Beauty, dirigido por Sam Mendes, retrata ferozmente a decadência da nossa moral ocidental. Uma frase do filme é particularmente interessante: “Às vezes digo a mim mesmo que há tanta beleza no mundo que é insuportável. E meu coração está prestes a desistir”.

Aqui estaria o transbordamento, o que se tornaria impossível de sustentar, sendo então introduzido numa dimensão superior, aquela que talvez entreabre as portas do céu. Isto se refere a esta alegria sobrenatural que invade os santos a tal ponto que eles quase sufocam sob a avalanche da graça.

Resistimos com mais dificuldade às adversidades do que os nossos antepassados, cuja vida foi dura e austera, mais saudável e menos desordenada.

Foi esta insustentabilidade espiritual que levou Santa Teresa de Ávila a levitar, São Francisco Xavier a clamar por amor na sua solidão missionária, e tantos místicos a sentirem-se esmagados sob o peso de tantos privilégios. Sem dúvida foi isto também que irrompeu no coração da Santíssima Virgem no dia da Anunciação, quando a sua alma exultou. Diante dela, os profetas não cessam de convidar a filha de Sião, Israel, a ser transportada de alegria, transbordando de gratidão. 

Sem suporte

Como muitas vezes não nos beneficiamos de tais bênçãos, a nossa experiência do insustentável permanece mais limitada, muitas vezes muito distante desta luz concedida. Resistimos com mais dificuldade às adversidades do que os nossos antepassados, cuja vida foi dura e austera, mais saudável e menos desordenada. 

Muitos procuram, em vão, pelo apoio, esperando ser repentinamente carregados nos ombros de quem é mais forte, mais resistente, mas a espera muitas vezes termina em fracasso e decepção. 

O que um dia é vivido como insuportável é rapidamente apagado por algum lazer, algum prazer, algum método para se distrair e continuar seu curso em direção a uma nova vala.

Os grandes cataclismos que regularmente atingem a humanidade existem como choques elétricos para redirecionar o nosso olhar para cima, mas o despertar é de curta duração. O homem aprende muito pouco com o seu passado e o dos seus antepassados, caindo em falhas idênticas. 

A lição da História é uma ilusão, incluindo a nossa própria história pessoal. O que um dia é vivido como insuportável é rapidamente apagado por algum lazer, algum prazer, algum método para se distrair e continuar seu curso em direção a uma nova vala. 

O isustentável é, sobretudo, não reconhecer até que ponto Deus nos faz existir e nos rodeia de uma beleza como nenhuma outra, uma criação onde cada detalhe está no seu devido lugar, numa harmonia na qual o homem nunca penetrará.

Seres orgulhosos sentirão que é insustentável o fato de não serem capazes de controlar as leis da natureza. A humildade é a chave para nos deixarmos abraçar por Aquele que não se cansa de nos apoiar apesar da nossa ingratidão.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Amor que abraça o mundo (A Criação, 2)

O Amor que abraça o mundo (Opus Dei)

O Amor que abraça o mundo (A Criação, 2)

Após ter refletido sobre os relatos da criação, podemos nos perguntar outra vez: em que sentido é racional falar de criação hoje?

18/12/2017

Para muitas pessoas, dizer que o amor ocupa um lugar central na realidade é uma ideia bonita e inspiradora. Mas talvez frequentemente se trate uma convicção nostálgica: o mundo seria um lugar melhor se todos nos guiássemos por esse princípio. É o que dizem a si mesmos. A experiência do mal, das injustiças, da imperfeição do mundo, parecem fazer do amor mais um ideal a que aspirar do que a base sobre a qual se levanta o próprio edifício da realidade. “De fato, aos olhos do homem moderno, parece que a questão do amor não tem nada a ver com a verdade; o amor surge, hoje, como uma experiência ligada, não à verdade”[1].

“NADA MAIS OCULTO QUE ELE, NADA MAIS PRESENTE; DIFICILMENTE SE ENCONTRA ONDE ESTÁ, MAIS DIFÍCIL ONDE NÃO ESTÁ (SANTO AGOSTINHO)

Por contraste, a fé cristã encontra, na origem do universo, um Amor pessoal e infinitamente criativo, que chegou ao ponto de entrar ele mesmo, como mais um em sua criação, para salvá-la. “Eu te amo com amor de eternidade; por isso, guardo por ti tanta ternura” (Jer 31, 3). Muitas pessoas que trabalham com entusiasmo para melhorar o mundo reconhecem a grandeza desta visão da realidade, mas não podem deixar de ver a ideia de um ser pessoal e eterno – um ser que precede o mundo – como algo que no fundo corresponde a um modo de pensar “mítico e contrário ao sistema”[2]: uma ideia que não pertence à estrutura racional que pode ser compartilhada, baseada em nossa experiência comum do mundo. Depois de ter refletido sobre os relatos da criação no Gênesis, podemos nos perguntar agora, mais uma vez: é racional falar de criação hoje?

Onde está Deus?

É frequente ouvir, inclusive entre pessoas com fé, a consideração de que, enquanto a ciência baseia as suas afirmações em provas seguras, a ideia de Deus se basearia em tradições ou suposições não verificáveis. À primeira vista, parece difícil contradizer essa ideia. No entanto, se considerarmos que “provas seguras” significa aqui “evidências empíricas”, compreende-se que essa segurança tem um alcance limitado pela própria ciência, que deliberadamente se concentra nos aspectos empíricos e mensuráveis da realidade. Essa decisão estratégica permitiu à ciência crescer exponencialmente, mas também implica que seu estudo não pode embarcar toda a realidade, ou pelo menos não pode descartar que a realidade seja mais ampla. Por outro lado, como toda disciplina – também a teologia –, a ciência experimental tem pontos de partida que ela mesma não pode demonstrar. Um deles é a existência da realidade que estuda, que requer, necessariamente, uma reflexão racional de outro tipo. Entende-se assim que a revelação cristã não questione o método da ciência nem seus êxitos evidentes: na realidade, precede esta metodologia e lhe abre horizontes mais amplos.

É verdade que o modo peculiar com que Deus se faz presente no mundo, às vezes, pode fazê-lo parecer um grande ausente. Santo Agostinho escrevia: “Nada mais oculto que ele, nada mais presente; dificilmente se encontra onde está, mais difícil onde não está”[3]. Esse paradoxo, este cruzamento de sim e não, que parece um curto-circuito, fala pelo contrário da necessidade de abrir a racionalidade a outro nível[4]. Deus não é uma realidade como outras neste mundo, nem intervém necessariamente nos processos naturais verificáveis empiricamente. Deus atua em um nível muito mais profundo, sustentando o próprio ser das coisas, fazendo que as coisas sejam. Ao falar Dele, inclusive para negar sua existência, a linguagem vai sempre além do âmbito de rigor da ciência experimental, e se insere em uma linguagem distinta, que a própria ciência pressupõe, e que tem também um rigor próprio: a linguagem filosófica ou metafísica. Por isso, o deus que fosse obrigado a revelar-se através de instrumentos de observação científica não seria o verdadeiro Deus, mas uma caricatura d’Ele. E o verdadeiro Deus não interfere na ciência, porque está num nível de realidade anterior à própria ciência. Deus não cabe nas leis da física, porque é melhor dizer que as leis da física é que “cabem” n’Ele[5].

UMA CIÊNCIA SEM DEUS NÃO LIBERTARIA O MUNDO DOS MITOS, PORQUE SEMPRE FICARIAM, INEVITAVELMENTE, FENDAS QUE SERIAM PREENCHIDAS COM OUTRAS EXPLICAÇÕES

A contribuição da ciência foi decisiva para tornar o homem consciente da grandeza do universo, da sua evolução dinâmica; para compreender as suas leis, assim como a trajetória evolutiva, que forma uma espécie de pré-história biológica da aparição do homo sapiens sobre a terra. Entretanto, a ciência não pode explicar completamente a origem do universo, porque este evento não entrelaça dois “estados” da mesma realidade. Explicar a “lei” com a qual se passou do nada à primeira forma embrionária do universo está fora das possibilidades da ciência, porque o nada não pode ter uma representação científica. Toda teoria cosmológica assume uma estrutura espaço-temporal como ponto de partida; e o nada em sentido radical, ou seja, o não ser, fica fora dessa estrutura: o limiar que separa o ser o nada é metafísico[6]. Entende-se, por isso, que o diálogo entre a ciência e a teologia não só é desejável mas também necessário, e que requer a mediação da filosofia, no papel de interlocutor capaz de compreender o alcance e as possibilidades de ambas as disciplinas, mais que como um árbitro para pôr paz entre partes em litígio.

No coração do real

Mesmo que se aproxime da origem do universo, pois, a ciência fica sempre do lado de cá da realidade, dentro do ser. Há muitos cientistas que, ao identificar esse limiar, percebem a necessidade de empreender uma reflexão filosófica, a partir da qual é possível chegar a compreender a necessidade de um Criador na origem do universo. “A própria formosura da criação é, sem dúvida, um grande livro. Contempla, olha, lê sua parte superior e inferior. Deus não fez letras de tinta, mediante as quais pudesses conhecê-lO: pôs diante dos teus olhos essas coisas que fez. Por que buscas uma voz mais potente? A ti clamam o céu e a terra: ‘Deus me fez’”[7].

No entanto, a própria filosofia encontra perguntas limite: por que existe o ser e não o nada? Por que existo? Nesse sentido, a fé cristã contribui com “uma nova imagem de Deus, mais elevada do que a que poderia ser forjada ou pensada pela razão filosófica. Mas a fé não contradiz a doutrina filosófica de Deus; (...) a fé cristã em Deus aceita em si a doutrina filosófica sobre Deus e a consuma.”[8] Diante da pergunta sobre o porquê, o sentido último da existência – pergunta que se torna decisiva para todos em algum momento da vida –, faz-se o silêncio. Então a fé cristã se levanta, e responde sinceramente: Deus estava aí antes do mundo, pensou nele, e o criou com amor.

Essa simples afirmação produz, na realidade, o contrário do que, às vezes, é atribuído à noção de criação: desmistifica o universo. Compreender o mundo como criação de Deus é “a ‘Iluminação decisiva da história (...), a ruptura com os temores que tinham reprimido os homens. Significa a libertação do Universo pela razão, o reconhecimento da sua racionalidade e de sua liberdade”[9]. Mesmo que a ciência seja capaz de ler uma parte importante da lógica interna da natureza, uma ciência sem Deus não libertaria o mundo dos mitos, porque sempre ficariam, inevitavelmente, fendas que seriam preenchidas com outras explicações[10]. Não é possível, pela autolimitação da ciência ao empírico, que ela própria cubra algum dia todas essas fendas. E o homem não deixará de se perguntar por elas, porque o próprio ato de fazê-lo – como o próprio exercício da ciência – mostra que o ser humano transcende o nível empírico. O espírito humano, que se manifesta entre outras coisas no fato de que cada um de nós percebe sua identidade diante do mundo, no fato de nos perguntarmos por essas fendas, e inclusive no fato de que alguém possa considerar estúpido perguntar-se por elas… Tudo isso manifesta, mesmo do ponto de vista meramente filosófico, que nós mesmos – apesar de ser um microcosmos, que compartilha com o universos seus mesmos elementos – somos algo mais que simples mundo.

A liberdade pessoal e a autoconsciência, pelas quais uma pessoa percebe que é distinta do mundo, são por isso também grandes fendas através das quais o homem pode vislumbrar a transcendência: falam do Deus pessoal que é ainda mais radicalmente distinto do mundo, e que o cria livremente. E vice-versa, no reconhecimento de que a realidade tem sua origem nessa Liberdade criadora se joga o próprio reconhecimento da liberdade humana, e, portanto, da dignidade de cada pessoa[11]. Este é um dos sentidos fundamentais nos quais o Gênesis diz que “Deus criou o homem à sua imagem” (Gn 1,27): nós mesmos somos um espelho no qual se pode vislumbrar a Deus. Por isso o Bem-Aventurado John Henry Newman identificava na consciência “nosso grande mestre interior de religião”[12], um “princípio de conexão entre a criatura e o criador”[13].

A fé na criação, pois, não acrescenta de fora o “mundo do espírito” ao mundo material: afirma decididamente que Deus abraça inteiramente o universo material. A intuição poética de Dante o expressou de modo imortal: Deus é “o amor que move o sol e as outras estrelas”[14]. No coração do real está Deus, e Deus ama o mundo, e cada um: “aberta sua mão com a chave do amor, surgiram as criaturas[15]”. Neste sentido um pensamento recorrente em São Josemaria tem grande profundidade teológica; ao atuar, costumava dizer, este é “o motivo mais sobrenatural de todos: porque nos apetece[16]. A liberdade e o amor, como a racionalidade do mundo, falam de Deus. Por isso, Santo Agostinho reconhecia Deus no livro da natureza, encontrava-O também na intimidade de sua alma: “Eis que estavas dentro de mim, e eu lá fora, a te procurar! (...) Tu me chamaste, gritaste por mim, e venceste minha surdez. Brilhaste, e teu esplendor afugentou minha cegueira”[17].

O milagre do mundo

A realidade dos milagres corresponde a esta mesma prioridade que a liberdade, o amor e a sabedoria de Deus têm sobre o mundo. Com seu peculiar estilo paradoxal, Chesterton dizia: “Quem acredita numa lei natural inalterável não pode acreditar em nenhum milagre em nenhuma época. Quem crê em uma vontade anterior às leis, pode crer em qualquer milagre de qualquer época”[18]. Os três Evangelhos sinóticos falam de um leproso que se aproxima de Jesus, pedindo a sua cura. Jesus responde: “Quero, sê limpo” (Mt 8, 3). Deus cura àquele homem porque quer, da mesma forma que criou o mundo, e criou cada pessoa, porque quer, por amor. Comentando o relato de outro milagre, a cura de um cego, Bento XVI observava: “Não é por acaso que o comentário conclusivo das pessoas, depois do milagre, recorda a avaliação da criação no início do Gênesis: ‘Ele fez bem todas as coisas’ (Mc 7, 37). Na obra curadora de Jesus sobressai de modo claro a oração, com o seu olhar voltado para o Céu. A força que curou o surdo-mudo é, sem dúvida, provocada pela compaixão por ele, mas provém do recurso ao Pai. Encontram-se estas duas relações: a relação humana de compaixão para com o homem, que entra em relação com Deus, tornando-se assim cura”[19].

VIVEMOS POR MILAGRE: CADA INSTANTE DA NOSSA VIDA DIÁRIA ACONTECE NO MEIO DO MILAGRE DE UM MUNDO QUE EXISTE POR AMOR

Os milagres, pois, não são exceções que põem em questão a solidez e a racionalidade do mundo, mas indicam a própria raiz dessa solidez: manifestam o verdadeiro milagre, que é a própria existência do Universo e da vida. O verdadeiro milagre – miraculum, algo diante de que só cabe se admirar – é a criação de Deus. A abertura da razão a este início dos inícios não só torna os milagres razoáveis, mas sobretudo torna o próprio mundo razoável. “A uniformidade e a generalidade das leis naturais (...) levam a pensar que a natureza se basta a si mesma. E, no entanto, não há solução de continuidade entre a criação e o acontecimento mais habitual e banal. O milagre intervém para nos convencermos disso”[20].

Às vezes, se diz que “vivo por milagre”, para se referir à forma surpreendente como certos problemas ou perigos são resolvidos. Na realidade, a expressão recolhe uma verdade radical: cada instante da nossa vida diária acontece no meio do milagre de um mundo que existe por amor. “Cada um de nós, cada homem e cada mulher, é um milagre de Deus, é desejado por Ele e conhecido pessoalmente por Ele”[21]. Como dizia São Paulo aos que o escutavam no Areópago de Atenas, “nele vivemos, nos movemos e somos” (At 17, 28). Por isso, “na tradição judaico-cristã, dizer ‘criação’ é mais do que dizer natureza, porque tem a ver com um projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado”[22].

***

“Eu te louvo porque me fizeste maravilhoso” (Sl 139,14): a fé na criação se manifesta em uma atitude de profundo agradecimento. Apesar da dor e do mal presentes no mundo, a realidade inteira – e especialmente a nossa vida e a dos que nos rodeiam – aparece como uma promessa de felicidade: “Todos que estais com sede, vinde buscar água! Quem não tem dinheiro venha também! Comprar para comer, vinde, comprar sem dinheiro vinho e mel” (Is 55,1). O homem tem consciência de ser inerme – porque realmente o é –, mas destinatário de uma generosidade infinita que o chama a viver, e a viver para sempre. Santo Irineu sintetizou esta ideia em uma máxima célebre: “A glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus”[23]. Com este modo de ver, a vida não é uma simples luta pelo sucesso ou pela sobrevivência, nem sequer em condições extremas: é espaço para agradecimento, para a adoração, na qual o homem encontra seu verdadeiro descanso[24]. “Como é maravilhosa a certeza de que a vida de cada pessoa não se perde num caos desesperador, num mundo regido pelo puro acaso ou por ciclos que se repetem sem sentido! O Criador pode dizer a cada um de nós: ‘Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia’ (Jr 1, 5). Fomos concebidos no coração de Deus e, por isso, ‘cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário’”[25].

Marco Vanzini / Carlos Ayxelá


Leituras para aprofundar

Catecismo da Igraja Católica, nn. 279-324.

Francisco, Enc. Laudato si’, capítulo II, “O Evangelho a criação” (nn. 62-100)

Bento XVI, Audiência, 6-II-2013; Audiência, 9-XI-2005

– Homilia na Vigília Pascal, 23-IV-2011; Homilia na Vigília Pascal, 7-IV-2012.

– Mensagem aoMeetingde Rimini, 10-VIII-2012.

– Discurso na Pontifícia Academia das Ciências, 31-X-2008.

– Discursona Universidade de Regensburg, 12-IX-2006.

Juan Pablo II, Catequese sobre a criação, 8-I-1986 – 23-IV-1986.

– Memória e identidade, Planeta, Barcelona 2005.


Artigas, M.; Turbón, D. Origen del hombre. Ciencia, filosofía y religión, Eunsa, Pamplona 2007.

Chesterton, G. K. Santo Tomás de Aquino, Ecclesiae, Madrid 2015 (On Saint Thomas Aquinas).

Guardini, R. El principio de las cosas: Meditaciones sobre los tres primeros capítulos del Génesis, publicado em Meditaciones Teológicas, Cristiandad, Madrid, 1965, 13-113. (Der Anfang der Dinge [Meditationen über Genesis, Kapitel 1-3]).

– “El ojo y el conocimiento religioso”, em Los sentidos y el conocimiento religioso, Cristiandad, Madrid, 1965, 21-48. (“Das Auge und die religiöse Erkenntnis”).

– La aceptación de sí mismo. Lumen, Buenos Aires 2016; Cristiandad, Madrid 1962 (Die Annahme seiner selbst).

Kehl, M.La creación, Sal Terrae, Bilbao 2011 (Schöpfung: Warum es uns gibt).

Marmelada, C.; Palafox, E.; Llano, A. En busca de nuestros orígenes. Biología y trascendencia del hombre a la luz de los últimos descubrimientos, Rialp, Madrid 2017.

Maspero, G.; O’Callaghan, P. Creatore perché Padre. Introduzione all’ontologia del dono, Cantagalli, Siena 2012.

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– Deus e o mundo, Ratzinger J. (Gott und die Welt. Glauben und Leben in unserer Zeit).

Sanz, S. A Criação, em www.opusdei.org.

Tanzella-Nitti, G. Creation, en Tanzella-Nitti, G. y Strumia, A. (eds.), Interdisciplinary Encyclopedia of Religion and Sciencewww.inters.org.


[1] Francisco, Enc. Lumen Fidei (29-VI-2013), 27.

[2] J. Ratzinger, La fiesta de la fe, Desclée, Bilbao 1999, 25.

[3] Santo Agostinho, De quantitate animae (A grandeza da alma), 34, 77.

[4] É neste sentido que Bento XVI falou da “valentia para se abrir à amplitude da razão” (Discurso na Universidade de Ratisbona, 12-IX-2006).

[5] “Albert Einstein disse que nas leis da natureza ‘se revela uma razão tão superior que toda a racionalidade do pensamento e dos ordenamentos humanos em comparação é um reflexo absolutamente insignificante’ (...). Portanto, um primeiro caminho que leva à descoberta de Deus é a contemplação da criação com um olhar atento.” (Bento XVI, Audiência, 14-XI-2012).

[6] Nesse sentido, São Tomás de Aquino explica que para tirar o ser do nada é necessária uma “potência infinita” (cfr. Summa Theologica I, q. 45,5, ad 3): uma capacidade que não pode ser comunicada a nenhuma criatura, precisamente porque – como podemos perceber em nossa própria existência – as criaturas são contingentes, ou seja, poderiam nunca ter sido (Summa Theologica I, q. 104,1).

[7] Santo Agostinho, Sermão 68, 6.

[8] J. Ratzinger, Der Gott des Glaubens und der Gott der Philosophen (O Deus da fé e o Deus dos filósofos).

[9] J. Ratzinger, Creación y pecado, Eunsa, Pamplona 2005, 37.

[10] Muitos cientistas pensam assim; basta mencionar Einstein, que, com uma ideia peculiar de Deus chegou a dizer que “a ciência sem a religião está coxa; a religião sem a ciência é cega” (Pensieri, idee, opinioni [1934-1950], Newton Compton, Roma 1996, p. 29); e Georges Lemaître, sacerdote e físico, que pôs as bases do mais adiante se chamaria, a princípio com ironia, e depois mais seriamente, o Big Bang.

[11] Cfr. J. Ratzinger, A festa da fé, 25-26: “Se, partindo da realidade, a personalidade não é possível ou não existe, tampouco pode existir em lugar algum. A liberdade ou é possível partindo da realidade ou não existe”.

[12] Bem-Aventurado John Henry Newman, An Essay in Aid of a Grammar of Assent, Longmans Green and Co, Londres 1903, 389.

[13] Ibidem, 117.

[14] «L’amor che move il sole e l’altre stelle» (Dante, Commedia. Paradiso, XXXIII, 145).

[15] São Tomás de Aquino, Commentum in secundum librum Sententiarum, Prologus (citado em Catecismo da Iglesia Católica, 293).

[16] São Josemaria, É Cristo que passa, 184.

[17] Santo Agostinho, Confissões, X, 27, 38.

[18] G. K. Chesterton, Ortodoxia, São Paulo, 2008.

[19] Bento XVI, Audiência geral, 14-XII-2011.

[20] J. Guitton, Le temps et l’éternité chez Plotin et saint Augustin, Aubier, Paris 1955, 176-177.

[21] Bento XVI, Audiência geral, 23-V-2012.

[22] Francisco, Laudato si’, 76.

[23] Santo Irineu, Adversus haereses, 4, 20, 7 (citado em Catecismo da Igreja Católica, 294).

[24] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, 347. Criação, milagre, adoração, agradecimento… Não é coincidência que esses motivos convirjam no mistério eucarístico: “A Eucaristia une o céu e a terra, abraça e penetra toda a criação. O mundo, saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração” (Francisco, Laudato si’, 236).

[25] Francisco,Laudato si’, 65; cfr. Bento XVI, Homilia no solene início do ministério petrino (24-IV-2005).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Silêncio e escuta, para deixar o Espírito falar

A participação do Papa durante a XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo (Vatican News)

Nas palavras do Papa Francisco, um método para os membros do Sínodo e um convite aos jornalistas.

Andrea Tornielli

O Papa Francisco falou no início do Sínodo sobre a Sinodalidade, insistindo sobre o que diferencia uma assembleia eclesial de uma reunião política e enfatizando a centralidade de ouvir o Espírito Santo. O que começou em 4 de outubro é um Sínodo peculiar, semelhante apenas àquele de 1986 sobre a comunhão. A comunhão na Igreja e a sinodalidade como forma de viver e de expressar essa comunhão representam, de fato, aspectos fundamentais e não estão ligados a temas específicos.

O bispo de Roma também indicou um método para os membros do Sínodo, com um pedido que estendeu - pedindo compreensão - também aos jornalistas chamados a relatar o que está acontecendo no Vaticano neste mês de outubro.

Francisco explicou que no Sínodo a prioridade deve ser dada à escuta, à escuta do Espírito Santo acima de tudo. Ouvir o que os outros têm a dizer, ouvir o que aqueles que estão longe de mim têm a dizer, compartilhar suas experiências. Para fazer isso, é preciso uma ascese. É preciso manter um espaço protegido, para evitar que posições e protagonismos individuais prevaleçam sobre a harmonia sinfônica do todo. O Papa pede explicitamente "um certo jejum da palavra pública para proteger isso". Ele também pede que o que for publicado consiga, de alguma forma, transmitir isso. Francisco acrescentou: "Alguns dirão - e estão dizendo - que os bispos têm medo e por isso não querem que os jornalistas digam...". Expressando assim a atitude e o discernimento exigidos dos membros do Sínodo em primeiro lugar.

Na noite do primeiro dia de assembleia, foi divulgado o regulamento dos trabalhos para estes dias que afirma que "a cada um dos participantes é solicitado de manter a privacidade e a confidencialidade seja com relação às suas próprias intervenções, seja em relação às intervenções dos outros participantes".

Manter esse espaço protegido não significa não saber o que está acontecendo. De fato, este é o Sínodo com o maior número de transmissões ao vivo da história: das meditações do retiro espiritual até as saudações, dos relatórios introdutórios de cada módulo até as coletivas diárias de imprensa sobre os conteúdos debatidos. São bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas de todas as partes do mundo que, juntos, em um clima de oração e não de oposição ou polarização, buscam nas próximas semanas compreender os caminhos que o Espírito indica para um anúncio evangélico capaz de chegar a todos e por uma Igreja cada vez mais fiel à sua origem, uma Igreja de portas abertas, "a casa paterna onde há lugar para cada um com a sua própria vida fatigante".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF