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terça-feira, 10 de outubro de 2023

Deve-se seguir sempre a consciência? (Parte 4/Final)

(Crédito: Presbíteros)

Deve-se seguir sempre a consciência?

Por Robert Spaemann

Tem sempre razão a consciência? É o que perguntávamos no início. Deve-se seguir sempre a consciência? A consciência nem sempre tem razão. O mesmo que nossos cinco sentidos nem sempre nos guiam corretamente ou o mesmo que nossa razão não nos preserva de todos os erros. A consciência é no homem o órgão do bem e do mal; mas não é um oráculo. Marca-nos a direção, nos permite superar as perspectivas do nosso egoísmo e olhar o universal, o que é reto em si mesmo. Mas para poder vê-lo, necessita da reflexão de um conhecimento real, um conhecimento, se podemos dizer assim, que seja também moral. O qual significa: necessita de uma idéia reta da hierarquia de valores que não esteja deformada pela ideologia.

Existe a consciência errônea. Há gente que, atuando em consciência, causa claramente a outros uma grave injustiça. Também esses devem seguir a própria consciência? Naturalmente que devem. A dignidade do homem repousa, como vimos, no fato que é uma totalidade de sentido. O bom e o correto objetivamente, para que seja bom, deve ser considerado também pelo sujeito como bom, já que para o homem não existe nada que seja somente “objetivamente bom”. Se não o reconhece como bom, então justamente não é bom para ele. Deve seguir sua consciência; isso somente quer dizer que deve fazer o que entende como objetivamente bom, coisa que, no fundo è trivial: realmente bom é somente o que tanto objetiva como subjetivamente é bom. Não há então nenhum critério que nos permita distinguir uma consciência verdadeira de uma errônea? Mas, como poderia havê-lo? Se houvesse, ninguém se equivocaria. Uma prova segura de que um segue sua consciência e não o seu capricho é a disposição de controlar, de confrontar o próprio juízo com o dos demais. Mas também isto não é um critério certo; dá-se também o caso de que, ao contrário dos homens que o rodeiam e que estão convencidos intelectual ou teoricamente, pode um ter entretanto a segura sensação de que essa gente não tem razão. Não como se acreditasse que os demais tenham melhores razões. Pensa somente que não é alguém para fazer valer as melhores razões. Pensa que o fato de que os mais inteligentes estejam no lado falso se baseia no contingente dessa situação. Esse fechar-se às razões pode ser, em tal situação, um ato de consciência.

Deve-se respeitar sempre a consciência dos demais? Depende do que entendamos por respeitar. Em nenhum caso se pode dizer que um deve poder fazer o que lhe permita sua consciência, já que então também o homem sem consciência poderia fazê-lo tudo. E também não quer dizer que um deva poder fazer o que lhe manda sua consciência. Certo que ante si mesmo tem o dever de seguir sempre sua consciência; mas se com ela lesa os direitos dos outros, ou seja, os deveres para com os demais, então estes, o mesmo que o Estado, tem o direito de impedi-lo. Pertence aos direitos dos homens o que não dependa do juízo de consciência de outro homem. Assim, por exemplo, pode-se discutir sobre se os não nascidos são dignos de defesa, ainda quando a Constituição do nosso país responda afirmativamente.

 Mas é estúpido o slogan de que essa é uma questão que cada um deve resolver em sua consciência.

 Pois, ou os não nascidos tem direito à vida – e então a consciência não tem nada com que se preocupar – ou existe esse direito, e então esse não pode ser posto à disposição da consciência de outro homem. A obediência às leis de um Estado de direito, que a maioria dos cidadãos tem por justo, não pode limitar-se em todo caso a de aquelas pessoas cuja consciência não lhes proíbe, por exemplo, pagar os impostos.

 Que não os paga (a custa de outros) e se aproveita das estradas e canais, será encarcerado ou multado justamente. E se trata-se de alguém que atua em consciência, aceitará a pena.

Somente no caso de serviço de guerra, tem o legislador que encontrar a regulação que assegura que ninguém possa ser obrigado ao serviço de armas em contra do ditado da sua consciência. No fundo, o que faz o legislador é algo trivial, já que se a consciência lhe proíbe a um lutar, não lutará. Ademais, nem mesmo aqui se dá um critério para decidir, em última instância e desde fora, se trata-se de um juízo de consciência ou não. Nem sequer os interrogatórios de um tribunal são adequados para facilitar uma decisão. Tais interrogatórios, ao fim das contas, favorecem somente ao orador que está disposto a mentir com habilidade.

Não há mais que um indício para comprovar a autenticidade da decisão de consciência e é à disposição do citado a ater-se a uma desagradável alternativa. A consciência não é ferida se se impede a um de fazer o que ela manda, já que esse obstáculo não cai sobre sua responsabilidade. Por isso se pode aprisionar a um homem que quer melhorar o mundo por meio do crime. Outra coisa é quando a um se obriga de atuar em contra da sua consciência. Se trata de uma lesão da dignidade do homem. Mas é isso realmente possível? Nem sequer a ameaça de morte obriga a um a atuar contra sua consciência, como documenta a história dos mártires de qualquer tempo.

Existe, entretanto, um modo de forçar a atuação contra a consciência: a tortura, que converte a um homem em instrumento sem vontade do outro. De aqui que a tortura pertença aos poucos modos de atuar que, sempre e em toda circunstância, são maus; toca diretamente o santuário da consciência, do que já o pré-cristão Sêneca escreveu: “habita em nós um espírito santo como expectador e guardião de nossas boas e más ações”.

https://presbiteros.org.br/

Pio XII, Parolin: novos documentos nos quais fala aos "irmãos judeus"

Momento de silêncio pelas vítimas em Israel e Gaza durante conferência sobre Pio XII (Vatican Media)

Na conferência de três dias da Gregoriana para historiadores e teólogos sobre o significado dos textos que foram abertos do Arquivos Vaticano para as relações judaico-cristãs. O cardeal secretário de Estado: "Eles mostram uma imagem do Papa Pacelli muito diferente da que é geralmente conhecida". Um minuto de silêncio pelas vítimas em Israel e Gaza.

Alessandro Di Bussolo – Vatican News

Com a mente ocupada em lançar uma nova luz sobre os eventos histórico-teológicos ligados à figura de Pio XII e ao Vaticano durante o período do Holocausto, mas com o coração no Oriente Médio pelo que está acontecendo após o ataque dos terroristas do Hamas contra Israel. Estes foram os sentimentos contrastantes experimentados na tarde desta segunda-feira na Pontifícia Universidade Gregoriana, na abertura da conferência internacional sobre o tema "Os novos documentos do Pontificado de Pio XII e seu significado para as relações judaico-cristãs: um diálogo entre historiadores e teólogos". Uma conferência que será encerrada no dia 11 de outubro e que levou dois anos de preparação, como lembrou dom Étienne Vető, bispo auxiliar de Reims e ex-diretor do Centro Cardeal Bea de Estudos Judaicos da Pontifícia Universidade Gregoriana, na introdução dos trabalhos. Ele convidou todos os presentes na sala magna, após as intervenções introdutórias, a fazer um minuto de silêncio pelas centenas de vítimas em Israel e na Palestina.

Parolin: fundamental agora estabelecer a verdade histórica

Uma escalada de violência impediu que os historiadores do Instituto Internacional de Pesquisa sobre o Holocausto, Yad Vashem, em Jerusalém - como a diretora Iael Nidam-Orvieto, que colaboraram na preparação da conferência -, participassem dos trabalhos. A primeira sessão foi introduzida pelo discurso do secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin. O purpurado enfatizou que, após a decisão do Papa Francisco, em março de 2019, de tornar acessíveis os documentos do Arquivo Secreto Vaticano relativos ao Pontificado de Pio XII e a publicação de vários estudos, "é de fundamental importância continuar a estabelecer uma verdade histórica" por meio da pesquisa histórico-crítica. Manter a precisão histórica, de acordo com Parolin, significa defender a verdade acima de todas as partes envolvidas.

Casos de desonestidade científica

Mas, infelizmente, ressaltou, "ainda há casos de desonestidade científica, que se tornam manipulação histórica, em que os documentos são ocultados de modo negligente ou deliberadamente". Como aconteceu com a resposta de 1916 do então secretário de estado, cardeal Gasparri, ao Comitê Judaico Americano e, em 1919, aos judeus ashkenazi de Jerusalém. Documentos só recentemente redescobertos que dizem como os católicos devem ver os judeus: "Os judeus são nossos irmãos - citou o cardeal Parolin - e o povo judeu deve ser considerado um povo irmão de qualquer outro povo do mundo".

A resposta do cardeal Gasparri, inspirada por Pacelli

O futuro Papa, então dom Eugenio Pacelli, que era secretário da Congregação para Assuntos Eclesiásticos Extraordinários na época, "contribuiu pessoalmente para a elaboração desses documentos, que mostram - explicou o cardeal Parolin - uma imagem de Pacelli muito diferente da que é geralmente conhecida". Os judeus, incluindo vários rabinos, estavam convencidos de que a atitude do Papa Pio XII em relação a eles era amigável, "e é por isso que recorreram a ele durante a Segunda Guerra Mundial em busca de ajuda". E o presidente israelense, Isaac Herzog, relembrou esse episódio em uma entrevista ao L'Osservatore Romano, "falando das relações cordiais com Pio XII e seus colaboradores durante a Segunda Guerra Mundial.

A Santa Sé com o povo judeu já no início do século XX

O secretário de Estado explicou que quis relembrar esses documentos de 1916 e 1919 e a amizade de Pacelli com o povo judeu no mundo inteiro, "para enfatizar que a Santa Sé já havia tomado uma posição a favor do povo judeu na época da Primeira Guerra Mundial. E na Segunda Guerra Mundial, o Papa convidou um número considerável de católicos de institutos religiosos para defender os judeus por todos os meios, até mesmo participando da resistência contra o fascismo e o nazismo". Descobertas recentes no Vaticano, mas também em outros arquivos, "tornaram mais fácil para todos entender quantos registros históricos foram manipulados no período após a Segunda Guerra Mundial".

O caminho da "resistência não declarada" de Pio XII

Graças à abertura dos arquivos, continuou o cardeal Parolin, "ficou claro que o Papa seguiu tanto o caminho da diplomacia quanto o da resistência não declarada. Essa decisão não foi apática e sem ação", mas implicou grandes riscos para todos os envolvidos e participantes. Os historiadores têm anos de trabalho pela frente, concluiu o secretário de Estado, esperando que "eles continuem a lançar luz sobre um dos períodos mais controversos e delicados do Pontificado de Pio XII".

Di Segni: posições que na história criaram sofrimentos

Em seguida, Riccardo Di Segni, rabino-chefe da Comunidade Judaica de Roma, tomou a palavra e pediu que fizéssemos "uma distinção entre emoção e história, porque é necessário um distanciamento adequado para examinar os fatos. Há uma dimensão religiosa diferente da dimensão política, entre os grandes eventos da história e as inúmeras micro-histórias. O próprio desenrolar dos acontecimentos é diferente do plano moral". Ele argumentou que, durante o Pontificado de Pio XII, "o sofrimento do povo judeu era teologicamente justificado. Mas a explicação da dinâmica é uma coisa, o julgamento moral é outra". O diálogo judaico-cristão, concluiu Di Segni, nasceu de uma revisão, graças ao Concílio Vaticano II, "de posições que criaram grande sofrimento na história".

Coco: não falou de "extermínio", mas de "massacres por ódio à raça"

Após os discursos introdutórios, a primeira sessão tratou das motivações e decisões de Pio XII diante do fascismo, do nazismo e do comunismo, em uma tentativa de equilibrar suas funções como chefe da Igreja e da Santa Sé. Falando sobre "Palavras, silêncios e mal-entendidos nos documentos de Pio XII", Giovanni Coco, arquivista do Arquivo Apostólico Vaticano, lembrou que, em novembro de 1945, o Papa Pacelli teve sua primeira audiência com um grupo de judeus. Eles eram sobreviventes de campos de concentração que vieram expressar sua profunda gratidão pela ajuda que haviam recebido da Igreja católica. Em seu discurso, lembrou o acadêmico, o Papa foi compreensivo, mencionou as "paixões racistas" que haviam "engolido inúmeras vítimas inocentes" por causa de sua "raça", mas evitou cuidadosamente fazer qualquer referência explícita à palavra "extermínio".

"Movido pela inquietação por uma ferida não cicatrizada"

Esse silêncio persistente sobre a Shoah, continuou Coco, é uma questão de longa controvérsia histórica, que dura meio século. O debate sobre a atitude do Papa envolveu historiadores, filósofos e teólogos, embora anteriormente os documentos completos do Vaticano não estivessem diretamente disponíveis, com exceção da seleção publicada nos Actes et Documents du Saint-Siège relatifs à la Seconde Guerre Mondiale. "A recente abertura do Arquivo Vaticano para o Pontificado de Pio XII finalmente permitiu o acesso a todos os documentos. E agora os documentos poderão revelar - explicou o arquivista - como conceitos como antissemitismo, extermínio e silêncio foram formados nas mentes do Papa Pacelli e da Igreja da época". Para Coco, isso certamente foi influenciado pela excessiva prudência do minutador da Secretaria de Estado, monsenhor Angelo Dell'Acqua, a quem foi confiado o dossiê sobre os judeus, para quem as notícias do Holocausto eram "exagero judaico". Não é verdade, concluiu ele, que a Shoah tenha passado sem incidir o magistério católico. Pois Pio XII falou de "massacres por ódio racial" e dos "horrores dos campos de concentração", mas não de "extermínio", em 1953, em um discurso aos juristas. Até o fim, Pacelli foi "movido por uma inquietação saudável por uma ferida ainda não cicatrizada".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Daniel e companheiros

São Daniel e companheios (cffb)

10 de outubro

São Daniel e companheiros

Leão, Angelo, Nicolau, Samuel, Hugolino e Donino. Mártires de Ceuta, no Marrocos, da Primeira Ordem (+ 1227). Aprovou seu culto como santos, Leão X no dia 22 de janeiro de 1516.

No dia 16 de janeiro de 1220, portanto ainda durante a vida de São Francisco, São Bernardo e seus companheiros foram martirizados na cidade de Marrakesh, Marrocos (a Igreja os canonizou em 1481).

Os esclarecimentos que se tem sobre o ocorrido com estes missionários franciscanos são devidos a duas cartas encontradas nas suas residências. Os estudiosos consideraram também autêntica a carta de um certo Mariano de Gênova, que escrevera ao irmão Elias de Cortona comunicando o destino glorioso dos missionários. Esse documento teria sido escrito poucos dias após os acontecimentos, e faz parte dos arquivos da Igreja.

O irmão Elias de Cortona era o superior da Ordem, em 1227, quando os sete franciscanos viajaram da Itália para a Espanha, desejosos de transferirem-se para o Marrocos, na África, onde pretendiam converter os muçulmanos. Era um período de grande entusiasmo missionário nas jovens ordens franciscanas, fortalecidas pela memória de são Francisco, que morrera no ano anterior.

O chefe do grupo era Daniel, nascido em Belvedere, na Calábria, que também ocupava o cargo de ministro provincial da Ordem naquela região; os outros se chamavam Samuel, Ângelo, Donulo, Leão, Nicolas e Hugolino. Após uma breve permanência na Espanha, transferiram-se para a cidade de Ceuta, no Marrocos.

Era um ato verdadeiramente corajoso, porque as autoridades marroquinas haviam proibido qualquer forma de propaganda da fé cristã. No início, e por pouco tempo, trabalharam nos inúmeros mercados de Pisa, Gênova e Marsiglia, enquanto residiam em Ceuta. Depois, nos primeiros dias de outubro de 1227, decidiram iniciar as pregações entre os infiéis.

Nas estradas de Ceuta, falando em latim e em italiano, pois não conheciam o idioma local, anunciaram Cristo, contestando com palavras rudes a religião de Maomé. As autoridades mandaram que fossem capturados. Levados à presença do sultão, foram classificados como loucos, devendo permanecer na prisão.

Depois de sete dias, todos eles voltaram à presença do sultão, que se esforçou de todas as maneiras para que negassem a religião cristã. Mas não conseguiu. Então, condenou à morte os sete franciscanos, que se mantiveram firmes no cristianismo. No dia 10 de outubro, foram decapitados em praça pública e seus corpos, destroçados.

Todavia os comerciantes cristãos ocidentais recuperaram os pobres restos, que sepultaram nos cemitérios dos subúrbios de Ceuta. Em seguida, os ossos foram transferidos para a Espanha. Hoje, as relíquias são conservadas em diversas igrejas de várias cidades da Espanha, de Portugal e da Itália.

O papa Leão X, em 1516, canonizou como santos Daniel e cada um dos seis companheiros, autorizando o culto para o dia 13 de outubro, três dias após suas mortes.

Fonte: Franciscanos.org.br

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Do Tratado sobre Caim e Abel, de Santo Ambrósio, bispo

Caim e Abel (Bíblia de Estudo)

Do Tratado sobre Caim e Abel, de Santo Ambrósio, bispo
(Lib. 1,9,34.38-39: CSEL 32,369.371-372)             (Séc. IV)

Deve-se orar especialmente por todo o Corpo da Igreja

Imola a Deus um sacrifício de ação de graças e cumpre teus votos ao Altíssimo (Sl 49,14). Louvar a Deus é fazer um voto de louvor e cumpri-lo. Por isto o samaritano se sobressai aos demais porque, ao ser purificado com os outros nove da lepra, pela palavra do Senhor, voltou sozinho a Cristo e engrandeceu a Deus com ação de graças. Dele disse Jesus: Não houve dentre eles quem voltasse e desse graças a Deus a não ser este estrangeiro. E dirigindo-se a ele: Levanta-te e vai; tua fé te salvou (Lc 17,18-19).

O Senhor de modo divino também te ensinou a bondade do Pai que sabe dar coisas boas, para que ao Bom peças tudo o que é bom. E aconselhou a orar com instância e repetidamente; não em prece fastidiosa pela duração, mas continuada pela frequência. Futilidades afogam, as mais das vezes, a longa oração, e não muito interrompida facilmente se insinua o descuido.

Exorta ainda a que, quando lhe pedes perdão para ti, saibas que será concedido sobretudo aos outros, na medida em que apoiares o pedido coma voz de tuas obras. O Apóstolo também ensina que se deve orar sem ira nem contestação, para que não se turve, não se altere tua súplica. E ainda ensina que se há de rezar em todo lugar (cf. 1Tm 2,8), pois disse o Salvador: Entra em teu quarto (Mt 6,6).

Não entendas, porém, um quarto cercado por paredes, onde teu corpo fica fechado, mas o quarto que existe dentro de ti, onde são encerados teus pensamentos, onde moram teus sentimentos. Este quarto de tua oração em toda parte está contigo, em toda parte é secreto, sem outro juiz que não Deus só.

Aprendeste também que se deve rezar principalmente pelo povo, quer dizer, pelo Corpo inteiro, por todos os membros de tua Mãe, onde se nota a mútua caridade. Se, pois, pedes por ti, somente por ti rogarás. E se apenas por si roga cada qual, será menor a graça do pecador do que a do intercessor. Agora, porém, já que cada um pede por todos, então todos rezam por cada um.

Portanto, para resumirmos, se apenas pedes por ti somente, como dissemos, pedirás por ti. Ao passo que se pedes por todos, todos pedirão por ti. Na verdade também tu estás em todos. É assim grande a recompensa: que pela intercessão de um se beneficie o povo inteiro. Não há nisto nenhuma arrogância; porém, há maior humildade e mais copiosos frutos.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

A sinodalidade como dom de Deus e compromisso humano

Sínodo - Sala Paulo VI (Vatican Media)

É próprio da Igreja a caminhada em conjunto, sinodal, tornando-a vida de comunhão, de uma maior participação do povo de Deus, a missão de proclamar a todas as pessoas e os povos a palavra de Jesus, que é palavra de libertação, de vida eterna (Jo 6,68).

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá, PA

A Igreja toda está em unidade com Roma aonde ocorre a Décima Sexta Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre: Por uma Igreja sinodal, comunhão, participação e missão. Todos os seguidores do Senhor e que amam a Igreja são chamados a rezar pelo Papa Francisco e todas as pessoas participantes do Sínodo. É próprio da Igreja a caminhada em conjunto, sinodal, tornando-a vida de comunhão, de uma maior participação do povo de Deus, a missão de proclamar a todas as pessoas e os povos a palavra de Jesus, que é palavra de libertação, de vida eterna (Jo 6,68). Se a primeira palavra, comunhão indica a realidade da qual vive a Igreja, o dom da comunhão divina nos quais os seres humanos participam da vida com Deus Uno e Trino, a segunda, a participação refere-se ao modo com o qual a comunhão é vivida na história, enquanto a terceira, a missão assinala o motivo pela qual existe a Igreja, não para si mesma, mas para testemunhar o dom da comunhão para as pessoas e aos povos[1]. A seguir ver-se-á a sinodalidade na Igreja primitiva e como esta forma de viver influencia a vida da Igreja no mundo atual, para que em tudo se faça a Vontade de Deus.

São Clemente Romano e os Coríntios

A comunidade dos Coríntios mereceu por parte do Apóstolo São Paulo duas longas cartas, exortando-as à caridade fraterna. No final do século primeiro, o bispo de Roma, Clemente fez uma intervenção na comunidade no sentido da aceitação da autoridade apostólica proveniente do Senhor nos bispos, nos presbíteros, nos diáconos e na vida eclesial do povo de Deus. “Os que foram estabelecido por eles ou por outros homens eminentes, com aprovação de toda a Igreja, e que serviram irrepreensivelmente ao rebanho de Cristo, com humildade, calma e dignidade, e que durante muito tempo receberam o testemunho de todos, achamos que não é justo demiti-los de suas fincões”[2].

Exortação à unidade

O Bispo de Roma exortou a todas as pessoas da comunidade de Coríntios à unidade dos ministros ordenados e do povo de Deus. “Apeguemo-nos, portanto, aos inocentes e aos justos, porque eles são os eleitos de Deus. Para que haver brigas, ódios, disputas, divisões e guerras entre vós? Não temos nós um só Deus, um só Cristo, um só Espírito de graça, que foi derramando sobre nós, e uma só vocação em Cristo”[3].

O clima sinodal

São Clemente especificou a importância de um caminho em conjunto, sinodal através do amor em Cristo. “O amor tudo sofre e tudo suporta. No amor não há nada de banal, nem de soberbo. O amor não divide, o amor não provoca revolta, o amor realiza tudo na concórdia. No amor, tornam-se perfeitos os eleitos de Deus; sem o amor nada é agradável a Deus. É no amor que o Senhor nos atraiu a si. É por causa de seu amor para conosco, que Jesus Cristo nosso Senhor, conforme a vontade de Deus, deu o seu sangue por nós, sua carne pela nossa carne, e sua vida por nossa vida”[4].

A vivência da unidade na vida eclesial e social

Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir no final do século I afirmou a necessidade da unidade eclesial e social para quem segue o Senhor. “Procurai manter-vos firmes nos ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, para que prospere tudo o que fizerdes na carne e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no princípio e no fim, unidos ao vosso digníssimo bispo e à preciosa coroa espiritual formada pelos vossos presbíteros e diáconos segundo Deus”[5]. Ele pedia à comunidade dos Magnésios a vivência da unidade entre os seus membros, para que assim a mensagem de Jesus fosse melhor compreendida e acolhida para todas as pessoas, sobretudo aquelas que ainda não tinham o conhecimento de Jesus Cristo.

A participação dos cristãos no Império romano

A vida comunitária do fiel cristão foi dada também na vida social, pela participação na vida imperial. Isto manifestou sinal de sinodalidade. São Justino de Roma, filósofo, mártir após a metade do século II afirmou que os cristãos eram fieis aos tributos e contribuições, procurando pagá-los antes de todos aqueles que estabeleceram para isso em todos os lugares, assim como os cristãos foram ensinados por Cristo[6].

A adoração dada a Deus e o serviço dado às autoridades

São Justino continuou os seus argumentos em relação às autoridades, afirmando que a adoração é dada somente a Deus pelos fieis cristãos e em tudo eles servem a eles, “confessando que sois imperadores e governantes dos homens e rogando que, junto com o poder imperial, também se encontre que tenhais prudente raciocínio”[7].

A valorização da comunhão e da missão

Santo Ireneu de Lião, bispo nos séculos II e III afirmou à comunhão dos gentios, dos pagãos, à vida eclesial e comunitária, por meio do Verbo de Deus que se encarnou e morou com os seres humanos, como disse o discípulo João: “O Verbo se fez carne e veio morar entre nós (Jo 1,14). Por isso a Igreja gera um grande número de salvos, porque não é mais um intercessor, Moisés, ou um envaido Elias, que nos salvam, mas o Senhor mesmo, que gera mais filhos à Igreja”[8].

Sinais de sinodalidade

Tertuliano, Padre da Igreja de Cartago, nos séculos II e III disse que a comunidade estava unida pela Palavra de Deus e pelas exortações de seus dirigentes. “É nessas reuniões, também, que se fazem as exortações, as correções e as que Deus haverá de censurar. Com efeito, aí também os julgamentos são feitos com grande ponderação, como aqueles que têm a certeza de estar junto à presença de Deus: e enorme é o preconceito do julgamento futuro, se alguém cometer, assim, uma falta tal de modo que seja excluído da comunhão de orações e da assembléia e de toda a relação com as coisas santas”[9]

A refeição, a eucaristia

Tertuliano tinha presentes que a refeição mostrava a sua razão de ser por seu nome, tendo o significado de caridade, de amor. “Quaisquer que sejam as despesas que ela custe, é lucro fazer esta despesa em nome da piedade: com efeito, por meio deste refrigério, ajudamos os desprovidos, não que nós os tratássemos como vossos parasitas que aspiram à glória de ver sua liberdade ser subjugada, na condição que eles possam encher sua barriga em meio às afrontas, mas porque, diante de Deus, os humildes gozam de uma consideração maior”[10].

Os santos padres colocaram a importância da sinodalidade, por uma Igreja comunhão, participação e missão. O Espírito Santo ilumine a todas as pessoas participantes do Sínodo dos Bispos em Roma e ajude a todo o povo de Deus a viver o espírito sinodal, de serviço a Deus, ao próximo como a si mesmo.

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[1] Cfr. Riccardo Battocchio, Gianni Genre, Basilio Petrà. Sentieri di sinodalità. Prospettive teologiche interconfessionali. Milano, San Paolo, 2022, pg. 52.

[2] Clemente Romano, 44,3. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 55.

[3] Idem, 46, 4-6, pg. 56.

[4] Idem, 49, 5-6. pgs. 58-59.

[5] Inácio aos Magnésios, 13,1. In: Padres Apostólicos, idem, pg. 95.

[6] Cfr. Justino de Roma. I Apologia, 17,1. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 34.

[7] Ibidem, 3, pg. 35.

[8] Irineu de Lyon. Demonstração da Pregação Apostólica, 94. In: São Paulo, Paulus, 2014, pg. 134.

[9] Tertuliano. Apologético. 39,4. São Paulo, Paulus, 2021, pg. 150.

[10] Idem, 39,16. pg. 154.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A temida aridez espiritual

Image d'illustration (Shutterstock)

Por Julia A. Borges

Fato é que a aridez espiritual pode ter algumas causas, dentre elas, uma raiz física, ou seja, o corpo como causa de empecilho para o progresso espiritual.

Durante o mês de outubro, a Igreja se dedica ao chamado fundamental na vida dos cristãos, o chamado expresso pelo próprio Cristo: “ Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura.” (Mc 16:15). Essa missão torna cada cristão um soldado em uma batalha diária na certeza de combater o bom combate. Mas é sabido que as armas que levamos não pertencem a este mundo, nosso escudo e  nossa couraça não são artigos bélicos a serem encontrados e negociados, porque acima de tudo está a certeza do motivo da luta, está a certeza do para que e para quem lutamos.

Mas ao longo do combate, é possível que o guerreiro passe por determinadas provações, dentre elas a chamada aridez espiritual, na qual a alma parece estar num deserto e se caracteriza por uma espécie de falta de apetite espiritual. Nessa fase, estar com Deus, sobretudo na oração pessoal, torna-se um fardo.

Em muitos casos, ao iniciar uma vida de oração e intimidade com Deus, experimenta-se um verdadeiro fascínio e deslumbramento com as sensações ocasionadas nos momentos de prece e estreiteza com as coisa do céu. A vida espiritual parece ultrapassar todas as barreiras, atingindo a própria carne, com efeitos avassaladores, de choro; sorrisos involuntários; arrepios; e até mesmo desmaios. Entretanto, ao longo do tempo, nota-se que os efeitos parecem diminuir e as sensações, antes tão claras e evidentes, sucumbem-se a um vazio, a um grande vácuo.

Quando se está somente sob a perspectiva carnal, as consolações permitidas por Deus (como as descritas acima), tornam-se um sinal de progresso e, da mesma forma, quando vem a aridez (também comum), ela é vista como sinal de distanciamento de Deus, até mesmo como fracasso. Contudo, na maior parte das vezes, essa quase apatia é permitida por Deus justamente para que a pessoa obtenha progresso na vida espiritual. É por isso que a visão sobrenatural é importante, pois ela permite receber esses momentos com fé e confiança em Deus.

Fato é que a aridez espiritual pode ter algumas causas, dentre elas, uma raiz física, ou seja, o corpo como causa de empecilho para o progresso espiritual.  Constituído de corpo e mente, o homem terá uma vida espiritual melhor se a sua mente e o seu corpo estiverem bem, a tal máxima: Mens sana in corpore sano. Não se trata aqui só de doença, mas também do stress diário, o que pode cansar tanto a pessoa que ela se sente incapacitada para a oração. Se o problema for físico, o remédio também será físico, ou seja, é preciso retirar as causas, talvez cuidando da doença, reduzindo o ritmo de vida, descansando um pouco mais.

Mas é preciso ficar atento porque a causa pode ir além de uma questão física  quando, por exemplo, não se dá a devida importância à vida de santidade, sendo condescendente com os pecados veniais, apegando-se aos pequenos prazeres. O modo de se relacionar com Deus também é determinante, pois se a relação é superficial, baseada apenas numa troca de favores (emprego, finanças, saúde, amor,…), Ele se torna apenas um empregado e não o Senhor. Portanto, o apego ao mundo material, uma visão carnal da própria fé e uma relação superficial com Deus podem causar também a aridez espiritual.

Cabe ressaltar que é possível apontar a tibieza como causa da aridez espiritual. A frouxidão é uma espécie de preguiça espiritual, que leva a pessoa à mornidão, à falta de ardor no servir a Deus. O remédio, portanto, é colocar mais generosidade no serviço a Deus.

Diante da aridez espiritual, deve-se ter a resignação, aceitando a falta de consolação e entendendo que se trata de uma maneira de servir melhor a Deus e procurando obter dela algum fruto. A segunda atitude é a de humilhação diante de Deus. Afinal, é um bom momento para se colocar humildemente perante o Senhor, reconhecendo a própria pequenez. É um tempo propício para reconhecer o senhorio de Deus, deixando de exigir consolações como se as merecesse, como se tivesse algum direito. Santo Inácio de Loyola, em seus exercícios espirituais ensina que o remédio para a aridez é a generosidade o que, na prática, significa aumentar o tempo de oração, o tempo dedicado às coisas do Senhor.

Ninguém gosta de soar sangue, mas o progresso exige esforço, mesmo quando não é sentido nenhuma recompensa ou consolação, afinal a vitória que nos aguarda torna certa a batalha rumo à Glória eterna.

Referências:

RICARDO, Pe. Paulo. Um olhar que cura: Terapia das doenças espirituais. Canção Nova: São Paulo, 2008.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Deve-se seguir sempre a consciência? (Parte 3)

(Crédito: Presbíteros)

Deve-se seguir sempre a consciência?

Por Robert Spaemann

Se a consciência não é simplesmente um produto da educação nem se identifica com o “super eu”, será então algo inato? Uma espécie de instinto social inato? Também não é este o caso, já que um instinto se segue instintivamente; mas o “eu não posso atuar de outro modo” dos que atuam por instinto se diferencia como o dia da noite do “eu não posso atuar de outro modo” de que obra em consciência.

Aquele que se sente arrastado, privado de liberdade; bem que queria atuar de outro modo, mas não pode. Está em discórdia consigo mesmo. E o “aqui estou eu, não posso agir de outro modo” do que atua em consciência é, pelo contrário, expressão de liberdade. Diz o equivalente a: “não quero outra coisa”. “Não posso querer outra coisa e também não quero poder outra coisa.” Esse homem é livre. Como afirmavam os gregos, esse homem é amigo de si mesmo.

Então, de onde vem a consciência? Mas também poderíamos perguntar: de onde vem a linguagem? Por que falamos? Dizemos, naturalmente, que falamos porque o aprendemos dos nossos pais. Quem jamais ouviu uma pessoa falar, segue mudo e, se não se comunica de alguma maneira, então não chega sequer a pensar. Entretanto, ninguém afirmará que a linguagem é uma hetero-determinação interiorizada.

E que seria uma hetero-determinação? Seguramente não se pode dizer que o homem seja, por si mesmo, uma essência que fala ou que pensa. A verdade é a seguinte: o homem é um ser que necessita da ajuda dos outros para chegar a ser o que propriamente é. Isto vale também para a consciência. Em todos os homens há como um germe de consciência, um órgão do bem e do mal. Quem conhece as crianças sabe que isso se aprecia facilmente neles. Têm um agudo sentido para a justiça e se revelam quando a vêem lesionada. Tem sentido para o autêntico e para o falso, para a bondade e para a sinceridade; mas esse órgão se atrofia se não vêem os valores encarnados numa pessoa com autoridade. Entregues demasiado cedo ao direito do mais forte, perdem o sentido da pureza, da delicadeza e da sinceridade. Por isso, a palavra é antes de tudo um meio de transparência e de verdade. Mas quando, por medo às ameaças, aprendem que é necessário mentir para livrar-se delas, ou experimentam que seus pais não lhes dizem a verdade e empregam a mentira na vida diária como normal instrumento de progresso, desaparece o brilho de suas consciências, que se deformam: a consciência perde a delicadeza. A consciência delicada e sensível é característica de um homem interiormente livre e sincero, coisa que nada tem a ver com o escrupuloso que, em vez de contemplar o bom e o reto, observa sempre a si mesmo e contempla com angústia cada um dos seus próprios passos. Eis aqui uma espécie de enfermidade.

Pois bem, há pessoas que em por enfermidade uma má consciência. Consideram tarefa do psicólogo tirar da pessoa essa má consciência, o assim chamado “sentido de culpabilidade”. Mas em realidade, o que é uma enfermidade é não poder ter uma má consciência ou sentimento de culpabilidade, quando se tem realmente uma culpa. O mesmo que é uma enfermidade e um perigo para a vida o não sentir dor. Para o que está são, a má consciência é sinal de uma culpa, de um comportamento que se opõe ao próprio ser e à realidade.

A revisão dessa atitude é denominada arrependimento. Como demonstrou o filósofo Max Scheler, não consiste num remover sem sentido o passado, quando o mais adequado seria simplesmente tentar de fazer melhor no futuro. E não se pode fazer algo melhor se persiste o mesmo posicionamento que o levou a atuar mal em ocasiões anteriores. O passado não pode ser reprimido: é necessário olhá-lo conscientemente, ou seja, deve-se mudar conscientemente uma má atitude. E como não se trata de algo puramente racional, mas que intervém também a constituição emocional, a mudança de atitude significa uma espécie de dor por haver atuado injustamente. O psicólogo Mitscherlich trata o papel da tristeza.

No fundo esperamos esse arrependimento. Não confiaríamos num homem que, depois de atormentar uma criança, paralisando-a psiquicamente, explicasse logo, rindo, que basta uma vítima e que às demais tratará bem. Se a dor do passado não lhe comove e cambia sua má consciência, isso significa que seguirá sendo o que era.

https://presbiteros.org.br/

A "Barca de Pedro" aterrissa nos Museus do Vaticano

A "Barca de Pedro" (Vatican Media)

"O barco de todos", essas foram as palavras com as quais o Papa Francisco abençoou o precioso artefato recebido como presente em 15 de março de 2023 da histórica família de armadores Aponte.

Vatican News

Feita à mão pelos mestres Aprea, armadores da península de Sorrento, em colaboração com o Instituto Diplomático Internacional, a barca é uma reprodução fiel da antiga e original Barca de Pedro encontrada em 1986 no fundo do Lago Tiberíades e agora mantida no museu Yigal Allon em Ginosar, na Galileia.

Desde 17 de setembro, o imponente veleiro, com quase 9 metros por 2 metros de comprimento, encontrou sua localização cenográfica final na entrada dos Museus do Vaticano, ou na "Casa de Todos", de acordo com uma expressão querida pelo Papa Francisco. As complexas operações de manuseio e instalação foram realizadas no domingo, a portas fechadas, graças a um sofisticado trabalho de construção acrobática e ao apoio de empresas especializadas, com a contribuição conjunta de funcionários da Direção de Museus e Patrimônio Cultural e da Direção de Infraestrutura e Serviços (Governo do Estado da Cidade do Vaticano).

A "Barca de Pedro" (Vatican Media)

Situado na base da moderna rampa helicoidal também conhecida como "O caminho do mar" - uma rota de exposição permanente com modelos de barcos do mundo todo - a "Barca de Pedro" dá as boas-vindas, com sua forte carga simbólica e espiritual, a todos os peregrinos e turistas que partem em sua "viagem" evocativa às belezas dos Museus do Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Luis Beltrán

São Luis Beltrán. | ACI Digital
09 de outubro

São Luís Beltrán

Por Redação central / ACI Digital

Hoje (9), a Igreja Católica celebra são Luis Beltrán (1526-1581), missionário espanhol da Ordem dos Pregadores, Dominicanos, que viajou para a América e evangelizou o norte da Colômbia (Nova Granada, Vice-Reino de Nova Granada), conquistando para Deus as populações indígenas do território.

Ele é padroeiro da República da Colômbia, por isso a população se confia de maneira especial à sua intercessão neste dia.

Cercado por santos

São Luis Beltrán nasceu em Valência, Espanha, no ano de 1526. Poucos dias depois de seu nascimento foi batizado na mesma pia batismal onde, 175 anos antes, foi batizado são Vicente Ferrer, outro filho ilustre da ordem fundada por são Domingos de Gusmão. Diz-se que Luis era parente de são Vicente através da família paterna.

Entrou para a Ordem dos Pregadores em 1544 e foi ordenado sacerdote por são Tomás de Villanueva. Luis se destacou pela prudência, pela capacidade de discernimento e pela clareza no aconselhamento. Certa vez, santa Teresa d’Ávila veio lhe perguntar sobre a reforma que estava fazendo no carmelo e se deveria fundar um convento em sua cidade.

São Luis Beltrán respondeu: “O assunto sobre o qual me pedes informações é tão importante que me dediquei durante vários dias a pedir a Nosso Senhor que me esclarecesse sobre o que devo responder... Agora te digo que sim, você deve fundar. E acrescento mais uma notícia: sua comunidade será tão ajudada por Deus que em cinquenta anos será uma das mais importantes da Igreja Católica”.

Missionário no Novo Mundo

Em 1562 foi enviado como missionário à América e, segundo os escritos que ele mesmo deixou, batizou mais de 15 mil índios. Em 1568, foi eleito prior do convento de São Domingos, em Santa Fé de Bogotá.

Naquela cidade, graças à sua preocupação com os indígenas, fez perigosos inimigos, principalmente entre alguns espanhóis que maltratavam os indígenas. Eles procuraram uma oportunidade para lhe fazer mal e, numa ocasião, tentaram matá-lo: um homem lhe entregou um copo de água envenenada; são Luis o recebeu e o abençoou antes de tomá-lo. Em seguida, o vidro quebrou em suas mãos, sem qualquer explicação.

Assim, existem muitas histórias de feitos maravilhosos e milagres através da intercessão deste homem santo.

Apóstolo de dois mundos

Em 1569, são Luis Beltrán voltou a Valência para ser mestre de noviços, tal como fizera muitos anos antes. Lá ele se dedicou à formação dos futuros missionários que iriam para a América. Frei Luis, em seus últimos anos, sofreu diversas doenças e enfermidades, mas mesmo nesse estado manteve o espírito evangelizador.

Por ter anunciado Cristo na Espanha e na América com frutos abundantes, é muitas vezes chamado de “o apóstolo dos dois mundos”. Ele morreu em 9 de outubro de 1581.

Fonte\: https://www.acidigital.com/

domingo, 8 de outubro de 2023

É adequado um Papa falar sobre o aquecimento global?

Antoine Mekary | ALETEIA

Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Duas críticas interligadas merecem ser comentadas, pois nos dão a oportunidade de entender muitas outras coisas... Entenda:

Nas redes sociais, a Exortação Apostólica Laudate Deum(LD), lançada no último 4 de outubro, tem recebido tanto uma recepção entusiasmada quanto críticas ásperas, como antes já tinha acontecido com a Encíclica Laudato si’. Papas são sempre polêmicos, mesmo que não queiram. O problema não está neles, mas em seus leitores. Tendemos a gostar quando eles escrevem o que queremos ler e criticar quando escrevem coisas com que não concordamos ou que não entendemos.

Duas críticas interligadas merecem ser comentadas, pois nos dão a oportunidade de entender muitas outras coisas… Muitos acreditam que o Papa não deve escrever sobre questões ecológicas e sobre aquecimento global, pois não são temas referentes à fé. Outros até concedem essa possibilidade, mas acreditam que Francisco é excessivamente “mundano”, mais preocupado com os problemas mundanos do que com a conversão das almas. Dedico esse artigo à primeira crítica e discutirei a segunda num próximo.

Quais são os temas aos quais os Papas se dedicam?

Não há dúvida que a atenção principal dos Papas se foca na relação entre Deus e a pessoa humana, mediada por Cristo e realizada historicamente na Igreja. Mas a caridade cristã impulsiona a Igreja a ocupar-se de tudo aquilo que diz respeito à vida humana. É São João Paulo II que bem explica: “A Igreja é ‘perita em humanidade’, e isso impele-a necessariamente a alargar a sua missão religiosa aos vários campos em que os homens e as mulheres desenvolvem as suas atividades em busca da felicidade, sempre relativa, que é possível neste mundo, em conformidade com a sua dignidade de pessoas […] É por isso que a Igreja tem uma palavra a dizer, hoje como há vinte anos e também no futuro, a respeito da natureza, das condições, das exigências e das finalidades do desenvolvimento autêntico e, de igual modo, a respeito dos obstáculos que o entravam. Ao fazê-lo, a Igreja está a cumprir a missão de evangelizar, porque dá a sua primeira contribuição para a solução do urgente problema do desenvolvimento, quando proclama a verdade acerca de Cristo, de si mesma e do homem aplicando-a a uma situação concreta” (Sollicitudo rei socialis, SRS 41).

Ora, uma catástrofe climática que pode afetar a humanidade inteira sem dúvida se adequa aos critérios acima. A única razão para um Papa não se deter sobre esse tema é se fosse uma ameaça falsa. Responder a esse questionamento é o primeiro tema desenvolvida na Exortação.

Ninguém mais pode negar o aquecimento global

Hoje, a maioria esmagadora da comunidade científica mundial acredita que o aquecimento global existe e é causado principalmente pela atividade humana. Existem evidencias robustas para isso, enquanto que todas as tentativas de negá-lo ou de dar-lhe outras causas que não a ação humana não apresentam evidências favoráveis sólidas.

Francisco elenca uma série de eventos, que se tornaram muito mais evidentes nesses anos, que o demonstram: “Ninguém pode ignorar que, nos últimos anos, temos assistido a fenómenos extremos, a períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da terra que são apenas algumas expressões palpáveis duma doença silenciosa que nos afeta a todos” (LD 5). Segundo um estudo das Nações Unidas, os desastres relacionados ao clima aumentaram 83% nos últimos anos – de 3.656 eventos, durante o período de 1980-1999, para 6.681 entre 2000-2019. As grandes inundações mais do que dobraram, o número de tempestades severas aumentou 40% e houve um grande aumento nas secas, incêndios florestais e ondas de calor. E, nos últimos anos, mesmo sem a sofisticação das análises científicas, todos nós estamos vendo essas tragédias acontecerem em nossos noticiários.

“É impossível esconder a coincidência destes fenômenos climáticos globais com o crescimento acelerado das emissões de gases com efeito estufa, sobretudo a partir de meados do século XX. A esmagadora maioria dos estudiosos do clima defende esta correlação, sendo mínima a percentagem daqueles que tentam negar esta evidência […] Os elementos naturais típicos que provocam o aquecimento, como as erupções vulcânicas e outros, não são suficientes para explicar a percentagem e a velocidade das alterações registadas nos últimos decênios” (LD 13-14). O aquecimento global é uma ameaça criada pelos seres humanos e não pode ser resolvida sem mudanças radicais em nosso modo de viver e produzir.

Não é possível, contudo, olhar para a questão climática sem dar-se conta das agudas desigualdades das sociedades humanas. “As emissões per capita nos Estados Unidos são cerca do dobro das dum habitante da China e cerca de sete vezes superiores à média dos países mais pobres” (LD 72), observa o Papa, citando um relatório das Nações Unidas. Por outro lado, as catástrofes climáticas quase sempre afetam as populações mais pobres. São elas que habitam os territórios mais sujeitos a inundações e deslizamentos de terra, que perdem o trabalho quando as lavouras são perdidas pela seca…

Apresentando alternativas viáveis

Francisco, nesse novo documento, de forma mais enfática, se reporta a propostas que tem se mostrado cada vez mais necessárias e viáveis nos últimos anos. Não se trata de fazer alarmismo em torno a previsões catastrofistas, mas sim de assumir caminhos viáveis para evitar o pior…

Do ponto de vista prático, o Papa reconhece os méritos das medidas de mitigação, que procuram retirar da atmosfera gases responsáveis pelo aquecimento global – a mais conhecida, de grande importância para o Brasil, é a política de créditos de carbono, onde países e empresas poluidoras financiam a manutenção e expansão das florestas que, com a fotossíntese, “sequestram” o gás carbônico atmosférico. Para a Amazônia, por exemplo, é uma grande alternativa de financiamento para um desenvolvimento socialmente justo e economicamente interessante. Contudo, lembra que essas medidas serão insuficientes sem mudanças mais radicais (LD 57).

Diante das ameaças do aquecimento global, o mundo precisa acelerar a substituição das fontes de energia derivadas da queima de combustíveis fósseis por fontes “limpas” (solar, eólica, hidráulica, biocombustíveis). Não se trata de um caminho utópico ou oposto ao progresso. O aperfeiçoamento e a popularização dos carros elétricos é um bom exemplo da viabilidade dessa substituição. Outro ponto, que poucos de nós sabemos, é que o Brasil já é um líder mundial no uso de fontes “limpas”. As fontes de energia limpas respondem por 83% da produção nacional. Nosso país tem uma das matrizes energéticas mais renováveis do mundo, com 48% de fontes renováveis na matriz energética, enquanto o resto do mundo tem apenas 14%.

Laudate Deum incorpora, nesse sentido, as indicações da Agência Internacional de Energia Renovável (ligada às Nações Unidas). Esse organismo internacional defende que os acordos internacionais devem chegar a propostas eficientes, vinculantes (isso é, que não dependam apenas da boa vontade dos países para serem implementadas) e facilmente monitoráveis (LD 59). O Papa, contudo, reconhece que os encontros internacionais têm ficado aquém das expectativas (LD 44ss). Por isso, defende a necessidade de redesenhar o multilateralismo (que é a cooperação entre os países, buscando o bem comum – e não a imposição de normas por um país ou organismo internacional, como alguns maldosamente imaginam). Francisco acredita que, nesse redesenho, deve crescer a importância e a pressão das organizações sociais, buscando sanar as debilidades dos governos (LD 37).

O que nos cabe?

Como o Papa irá salientar no final do documento, cabe a todos nós, sejamos católicos, professemos outras religiões ou mesmo sejamos ateus, lutar para que as mudanças necessárias aconteçam. É um imperativo moral que transcende as religiões ou as posições políticas. Nas palavras de Francisco: “Na própria consciência e pensando nos filhos que pagarão os danos das minhas ações, coloca-se a questão do sentido: Qual é o sentido da minha vida? Qual é o sentido da minha passagem por esta terra? Qual é, em última análise, o sentido do meu trabalho e do meu compromisso?” (LD 33).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF