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sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Onde nascem o pão e o vinho (2/4)

Onde nascem o pão e o vinho (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 11/2005

Onde nascem o pão e o vinho

Um ensaio do bispo emérito de Arezzo. A sociedade camponesa ainda mantém a sua originalidade e valor em comparação com o mundo das megacidades e da alta tecnologia?

por Giovanni D’Ascenzi

Origem da religiosidade do rural

Onde se origina a religiosidade do rural? De facto, a utilização do “além” no mundo rural pré-técnico é sistemática, quer se trate de explicar fenómenos cuja causa é desconhecida, quer se trate de ultrapassar um obstáculo, ou de evitar alegremente um risco. A ignorância e o medo alimentam frequentemente a religiosidade do rural, estimulam o uso do rito propiciatório, provocam o gesto religioso. No entanto, atribuir a causa da crença religiosa à ignorância e ao medo é, na melhor das hipóteses, superficial.

Talvez seja mais correto reconhecer a origem do sentimento, ou crença religiosa, do rural na intuição do “além” ou do divino, decorrente da experiência vital e contínua da natureza, experiência que assume um significado singular para aqueles que exercem a profissão agrícola.

Para o rural pré-técnico, a natureza com a qual vive é uma realidade imensa, complexa, misteriosa; disso depende a possibilidade de sobreviver, muitas vezes daí vem o risco de sucumbir. O homem do campo que procura combinar a sua “arte” de cultivo dos campos com as energias da natureza compreende ainda melhor o valor da natureza e a sua ligação vital com ela.

No entanto, a observação da grandeza e do poder da natureza e das suas forças vitais está sempre associada à experiência da morte que marca o destino de todas as coisas, de modo que a natureza lhe aparece como uma alternância, quase uma dança, de morte e vida. Daí a intuição do “limite” em que tudo está envolto e ao mesmo tempo a “certeza” da existência de um ser “além” do mundo sensível, senhor de tudo e não sujeito à morte.

Daí a multiplicação dos ritos de propiciação para bajular este “ser” ou estes “seres” que têm poder sobre a natureza. Para compreender a legitimidade e o significado profundo desta necessidade religiosa e das suas expressões, é necessário compreender a preocupação atormentadora do trabalhador pré-técnico rural comprometido com a sobrevivência. Por isso o rio, ora fecundo, ora ameaçador, poderia tornar-se sagrado; pela mesma razão, as árvores, os animais úteis, as montanhas são sagrados; toda a natureza era sagrada para ele e era a manifestação da divindade. Quem diz que a religiosidade rural tem características cosmológicas e biológicas está falando a verdade; essas características, porém, não diminuem o seu valor como testemunho singularmente válido: a religião como conquista de uma experiência vivida em contato com a natureza, fruto de uma intuição, à qual caberá ao filósofo dar a forma de uma rigorosa silogismo.

Se o mundo da natureza parece enigmático ao homem moderno, na medida em que não contém em si a razão suficiente para a sua existência, e ambíguo, na medida em que pode levar ao panteísmo, o homem rural primitivo resolveu o enigma e superou a ambiguidade com a ajuda religiosa. fé, mesmo que expressa com muitos desperdícios e antropomorfismos.

O conceito de sacralidade da natureza amplamente difundido entre as populações rurais deriva da crença de que a natureza pertence a Deus, origina-se de Deus e manifesta o poder divino. Portanto, a natureza deve ser respeitada como uma dádiva de Deus pela qual devemos prestar contas. Da mesma forma, os produtos da terra são uma dádiva de Deus. Toda exploração irracional da natureza assume o significado de uma ofensa à ordem desejada por Deus; todo abuso imprudente é considerado uma desordem moral; a concentração da terra nas mãos de poucos choca-se com a consciência íntima da população rural de que Deus criou a terra para todos os homens e é considerada uma grave injustiça. A profissão agrícola, operando em contato com a natureza “sagrada”, torna-se também algo sagrado, caro à própria divindade; uma missão divina, de acordo com a Bíblia.

Onde nascem o pão e o vinho (30Giorni)

Valores ético-religiosos do mundo rural

Desta concepção religiosa deriva toda uma série de valores éticos, que são ao mesmo tempo religiosos, na medida em que a ordem ética é atribuída a Deus, a sua transgressão exige o castigo divino, o seu respeito merece a recompensa de Deus nesta vida e/ou na futura.

Trabalho - dever moral. O trabalho no campo é árduo e arriscado. Muitas vezes, apesar do trabalho árduo, a terra não produz produtos suficientes. Por outro lado, a maior parte dos alimentos provém do trabalho agrícola; portanto, o trabalho, para quem goza de boa saúde, assume o carácter de um dever moral: todos devem trabalhar, ninguém tem o direito de viver do trabalho dos outros. Quem trabalha é estimado; quem não trabalha é desprezado e será punido por Deus, porque o trabalho é uma ordem divina. Trabalhe para viver, não para ganhar. O conceito de lucro não entra na antiga concepção rural de trabalho: o trabalho está ao serviço do homem e da sua subsistência. O lucro era perseguido pela arte do comércio, à qual a mentalidade rural tinha muitas reservas.

Neste tipo de sociedade a religião desempenha um papel de primordial importância, aliás, é fundamental. Mesmo o observador superficial percebe que a vida individual, profissional, familiar e social do rural é permeada de ritos, festas e signos religiosos. A religião dá a explicação definitiva da realidade, a religião apoia a esperança, a religião dá fundamento às leis morais, dá estabilidade à vida social

O conceito sagrado se estende ao casamento e à família. Deus é o autor da vida, portanto o casamento, instituição de transmissão da vida, faz parte da ordem desejada por Deus e é sagrado. As leis morais que a regulam e que regulam as relações entre pais e filhos são sagradas e têm sanção divina. Por isso a família rural se alimenta da religião e a transmite; quando esta função deixa de ser desempenhada pela família, a religião entra em profunda crise; Da mesma forma, quando o conceito de casamento e família é dissociado da religião, a estabilidade familiar é prejudicada.

A ordem ético-religiosa é também o fundamento da vida social, isto é, das relações e dos valores dentro da sociedade, bem como das instituições através das quais a sociedade se expressa. Portanto as leis, orais ou escritas, além de uma sanção humana, têm uma sanção divina; a autoridade é sagrada; a proteção da comunidade é confiada a um santo (ou divindade); muitas instituições, especialmente as assistenciais, assumem caráter religioso; as mesmas atividades económicas (feiras, mercados) coincidem com feriados religiosos; as atividades culturais e artísticas também têm maioritariamente um conteúdo religioso.

Nas sociedades rurais pré-técnicas, a religião constitui um elemento singular de coesão, uma constante cultural, um consolo nas calamidades públicas, uma esperança, uma força de recuperação. A atenuação do sentido religioso nestas sociedades quebra o equilíbrio e coloca problemas que não são fáceis de resolver. Mundo rural e progresso técnico-científico Já foi dito que a característica fundamental da civilização rural pré-técnica é a tradição: isto é, a transmissão fiel de valores, certezas, costumes, comportamentos, sem a preocupação de procurar e explicar por quê. Esta atitude acrítica aparece acentuada quando a tradição tem como objeto o “sagrado” e o que lhe diz respeito, pelo qual o rural sempre teve respeito misturado com medo; entra em crise com a difusão do progresso técnico-científico.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O céu é mesmo um lugar ou seria um “estado” da alma?

Blue Titan | Shutterstock

Por Francisco Vêneto - publicado em 09/11/23

A resposta tem a ver com a natureza humana e com a conseguinte ressurreição dos corpos.

O pe. Reginald Garrigou-Lagrange, frade dominicano francês reconhecido como um dos maiores teólogos do século XX, esclareceu, em sua obra “L’éternelle vie et la profondeur de l’âme” (“A vida eterna e a profundidade da alma”), que o céu significa, sim, tanto o lugar quanto, sobretudo, a condição de suprema bem-aventurança da alma que é salva por Deus após a vida neste mundo.

O frade observa que o céu não precisaria ser um lugar se Deus não tivesse criado corpos, mas somente puros espíritos: em tal caso, o céu poderia ser “somente” um estado de pleno regozijo em Deus, mas não teria por que ser também um lugar, já que lugar é um conceito físico.

No entanto, a natureza humana é uma unidade composta por corpo e espírito – e, dado que seremos ressuscitados também em corpo, o céu precisa ser, além de um estado, ainda um lugar. Lá encontraremos, prossegue o pe. Garrigou-Lagrange, a humanidade de Jesus, a Santíssima Virgem Maria, os anjos e as almas dos santos. A própria Revelação, destaca ele, deixa clara a existência do céu, muito embora se mantenha em mistério como seria esse lugar.

O Papa Bento XII, mencionado pelo frade dominicano, registrou que “as almas de todos os santos estão no céu antes da ressurreição dos corpos e do julgamento final”, vendo ali “a essência divina por uma visão que é intuitiva e facial, sem a intermediação de qualquer criatura”. O papa acrescenta que, “por causa desta visão na qual desfrutam da essência divina, eles são verdadeiramente bem-aventurados, têm a vida eterna e o repouso eterno” (cf. Denzinger, n. 530).

A isto, o Concílio de Florença acrescenta que, no céu, as almas em estado de graça “veem Deus trino como Ele é em Si mesmo”, mas em graus de maior ou menor intensidade “conforme os seus méritos durante a vida terrena” (cf. Denzinger, n. 693).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa: a educação dos jovens leve fraternidade, paz e justiça ao mundo

Pontifícia Universidade Gregoriana (Vatican Media)

A mensagem de Francisco foi transmitida no encerramento do 4º Simpósio Global Uniservitate, realizado nos dias 8 e 9 de novembro em Manila.

Vatican News

Com o convite do Papa Francisco para construir um mundo melhor por meio de uma educação que promova a justiça e a paz, o 4º Simpósio Global Uniservitate, que reuniu especialistas em educação de todos os continentes, foi concluído nesta quinta-feira (09) na Universidade La Salle, em Manila.

Uniservitate: um programa para tornar os jovens protagonistas

Uniservitate é um programa para promover o aprendizado e o serviço solidário em instituições católicas de ensino superior que adere ao Pacto Educacional Global do Papa Francisco, buscando oferecer uma educação integral às novas gerações, envolvendo-as em um compromisso ativo com os problemas de nosso tempo para que sejam protagonistas de propostas transformadoras e promotoras da paz e da fraternidade para a mudança social.

Francisco: formar, não apenas informar

Nesta quinta-feira, antes do encerramento do segundo e último dia do Simpósio, foi lida a mensagem do Papa Francisco, na qual ele enfatizou a necessidade de "desenvolver nos jovens uma maior consciência da relação que deve existir entre as 'linguagens' da mente, do coração e das mãos". Dessa forma", disse o Papa, "os educadores poderão formar, e não simplesmente informar, aqueles que estão sob sua responsabilidade, para que todos possam aprender a pensar em harmonia com o que sentem e fazem; a sentir em harmonia com o que pensam e fazem; e a fazer em harmonia com o que sentem e pensam".

Os jovens podem construir um mundo melhor

Trata-se - observa Francisco - de uma abordagem à educação que "requer métodos criativos, interdisciplinares e transdisciplinares para ajudar os jovens a serem líderes e protagonistas na construção de um futuro melhor para toda a sociedade". Ao mesmo tempo, o Papa observa que "a importância da dimensão espiritual na educação não pode ser negligenciada", o que deve levar os jovens a "servirem o bem comum como discípulos missionários, capazes de levar a verdade transformadora, a beleza e a alegria do Evangelho a todos os membros da família humana, promovendo assim o reino de Deus de solidariedade fraterna, justiça e paz".

No próximo ano, o Simpósio será realizado na Lumsa, em Roma

As duas primeiras edições do Simpósio Global da Uniservitate, em 2020 e 2021, foram realizadas em modo virtual devido às limitações criadas pela pandemia da Covid-19. No ano passado, a terceira edição foi realizada na Universidade LUMSA, em Roma, que também sediará o 5º Simpósio Global da Uniservitate no próximo ano. Em outubro do ano passado, o Papa Francisco recebeu os alunos vencedores do Prêmio Uniservitate 2022 e os incentivou a continuar trabalhando em projetos dessa natureza.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O dia em que um papa enfrentou – e venceu – os bárbaros mais terríveis

São Leão Magno, papa (Aleteia)

Por Blog Castelo Histórico - Aleteia Brasil - publicado em 28/04/16

O encontro assombroso entre São Leão Magno e Átila, o famigerado líder dos hunos.

A região europeia dos Bálcãs, bem próxima da Itália, estava sendo invadida e saqueada pelos hunos, um povo bárbaro, extremamente violento, liderado por Átila. Para se ter uma ideia de quem era Átila, seu apelido era “a Praga de Deus” ou “o Flagelo de Deus“. Uma das suas frases mais célebres é:

“Onde eu passar, a grama não crescerá novamente”.

Eram desse nível os guerreiros que se dirigiram ao norte da Itália para saquear Milão no ano de 452. O imperador Valentiniano III achou por bem fugir para Roma…

Diante das circunstâncias, o povo romano e o próprio imperador pediram que o papa, São Leão Magno, fosse pessoalmente ao encontro dos bárbaros nas proximidades de Mântua.

E o papa foi mesmo.

Acompanhado de clérigos e paramentado com as vestes pontifícias, o Santo Padre pediu aos hunos que não invadissem Roma e retornassem aos Alpes. Qual era a chance de que alguém como Átila atendesse a tal pedido de um líder religioso no qual ele nem acreditava?

Pois Átila obedeceu.

De acordo com Próspero da Aquitânia, Átila teve, durante o encontro com o papa Leão, uma visão de ninguém menos que São Pedro e São Paulo brandindo espadas – visão esta que consta no Breviário Romano.

A pintura do grande artista italiano Rafael Sanzio retrata o momento:

Átila teve, durante o encontro com o papa Leão, uma visão de ninguém menos que São Pedro e São Paulo brandindo espadas (Rafael Sanzio)

Depois desse milagre, São Leão Magno pediu que o povo orasse em agradecimento, mas os romanos logo se entregaram novamente às suas frivolidades e vícios. Não muito tempo depois, outro povo bárbaro, o dos vândalos, chegou a Roma sob o comando de Genserico.

E lá foi São Leão novamente ao encontro deles…

O papa lhes pediu para que não houvesse saques e que a vida do povo fosse respeitada. Os vândalos obedeceram só à metade do pedido: durante quinze dias, saquearam Roma, mas nenhum cidadão foi morto. Depois disto, São Leão reconstruiu a cidade e proferiu tristemente as seguintes palavras sobre a imoralidade do povo:

“Meu coração está cheio de tristeza e invadido por um grande temor, porque há grande perigo quando os homens são ingratos a Deus, quando se esquecem de suas mercês e não se arrependem depois do castigo, nem se alegram com o perdão”.

Afinal, se o povo não colabora, o papa sozinho não pode resolver tudo.

São Leão fez a sua parte. Além de cuidar dos cidadãos em Roma, ele também enviou missionários para interceder pelos prisioneiros dos vândalos no norte da África, entre outros muitos gestos pastorais.

São Leão Magno morreu em 10 de novembro do ano de 461, deixando uma rica coleção de cartas, sermões e escritos graças aos quais ele foi reconhecido, no século XVIII, como Doutor da Igreja.

Uma de suas grandes lições, seguida por papas como São João Paulo II, Bento XVI e Francisco, é a de ir ao encontro dos inimigos com as armas da palavra e da fé na Cruz de Cristo – o sinal no qual venceremos.

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A partir do blog Castelo Histórico

Fonte: https://pt.aleteia.org/

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Onde nascem o pão e o vinho (1/4)

Onde nasce o pão e o vinho (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 11/2005

Onde nascem o pão e o vinho

Um ensaio do bispo emérito de Arezzo. A sociedade camponesa ainda mantém a sua originalidade e valor em comparação com o mundo das megacidades e da alta tecnologia?

por Giovanni D’Ascenzi

Mundo rural e suas características

O mundo rural, num sentido geral, significa aquela parte da sociedade que vive no campo. Inclui, portanto, tanto as famílias dos empregados do campo e da pecuária, quanto as demais categorias profissionais (artesanato, comércio, etc.) que participam do mesmo ambiente. Normalmente, na sociedade rural, estas categorias estão economicamente ao serviço da agricultura e são influenciadas por ela.

Do ponto de vista sociocultural, as características preeminentes do mundo rural são as seguintes:
O contacto com a natureza e as suas expressões e manifestações: montanhas, rios, lagos, desertos, bosques, culturas, animais, são objetos de experiência para todos. A natureza aparece em todo o seu esplendor e poder, e a engenhosidade humana está ocupada interagindo com ela. O ambiente natural caracteriza significativamente a sociedade rural e a civilização com a qual ela se expressa.

Profissão agrícola. Uma percentagem mais ou menos elevada da população pratica-o, experimenta os seus riscos e satisfações, participa estreitamente, muitas vezes como protagonistas ou colaboradores, nos fenómenos da produção de bens agrícolas. Para os não-agricultores rurais a profissão agrícola é conhecida em todas as suas fases, porque é observada diariamente nos rostos dos homens, nos campos cultivados, em conexão com as mudanças das estações e do clima. O trabalho agrícola torna-se assim uma componente cultural, que dá imagens às conversas e também dá termos às expressões espirituais e religiosas.

Comunidades pequenas, portanto à escala humana. Geralmente, os camponeses estão agrupados em pequenas comunidades, onde todos se conhecem e trocam serviços; os comportamentos individuais, e ainda mais as relações mútuas, inspiram-se em valores partilhados, que são transmitidos de pai para filho e dos quais derivam uma riqueza de regras não escritas, que todos sentem o dever de respeitar.
A combinação dessas características constitui o mundo rural e está presente nas sociedades rurais de todos os tempos e lugares, desde que o ser humano passou a cultivar plantas e a criar animais para prover o necessário para si e para suas famílias.

Onde nasce o pão e o vinho (30Giorni)

Mundo rural pré-técnico e religião

A evolução da sociedade rural foi muito lenta, a ponto de ser definida como “estática”, até entrar em contacto com as ciências e técnicas modernas. Podemos portanto falar de um “mundo rural pré-técnico” e de um “mundo rural tecnicamente evoluído”, como duas sociedades profundamente diferentes, mas sempre caracterizadas pelo contacto com a natureza, pela profissão agrícola, por comunidades locais de dimensões modestas.

No mundo rural pré-técnico, os comportamentos profissionais, familiares e sociais são regulados pela tradição : experiência das gerações passadas, fielmente transmitida e observada. A tradição tende a permanecer estável e a mudar muito lentamente. A tradição é também o fundamento da cultura nas suas mais variadas expressões, desde a oral até à impressa nos artefatos. A tradição tem os mais velhos como guardiões e guardiães ao mesmo tempo; por esta razão, o mundo rural normalmente confia o exercício do poder aos idosos. O passado é a lei do futuro. Neste tipo de sociedade a religião desempenha um papel de primordial importância, aliás, é fundamental. Mesmo o observador superficial percebe que a vida individual, profissional, familiar e social do rural é permeada de ritos, festas e signos religiosos. A religião dá a explicação definitiva da realidade, a religião apoia a esperança, a religião dá fundamento às leis morais, dá estabilidade à vida social. Em última análise, a religião apresenta-se como um complexo de crenças, práticas, instituições, que têm relação com o sagrado. “Sagrado” para o rural é tudo o que tem relação com o “além” entendido como aquilo que está além do mundo sensível e além da morte. Portanto a tradição também é sagrada, pois é transmitida pelos antepassados ​​que nela continuam a viver; consequentemente, o dever de respeitar a tradição, transmiti-la fielmente, defender a sua integridade, é considerado um dever religioso; os valores étnicos, culturais e religiosos formam um todo indissociável e desligar-se da religião significa desligar-se ao mesmo tempo do povo ao qual pertence.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa Francisco lançará autobiografia à luz dos grandes fatos da história nas últimas décadas

YARA NARDI / POOL / AFP
Cerimônia histórica de 27 de março de 2020, quando o Papa Francisco deu a bênção Urbi et Orbi ao agravar-se a pandemia de covid-19 no planeta

Por Francisco Vêneto - publicado em 08/11/23

"Ao chegarmos a certa idade, é importante, inclusive para nós mesmos, reabrir o livro das memórias e olhar para as lembranças."

O Papa Francisco publicará no primeiro semestre de 2024 um novo livro de memórias autobiográficas, a ser lançado primeiramente na Itália, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Polônia, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, México, Brasil e outros países da América do Sul ainda não confirmados.

O anúncio foi feito nesta terça-feira, 7 de novembro, pela assessoria de imprensa do Vaticano e pela editora norte-americana HarperCollins, responsável pela publicação.

Intitulado “Life. A minha história na História“, o livro contará memórias da vida de Jorge Mario Bergoglio entrelaçadas com os grandes fatos da história mundial ao longo das últimas décadas, desde a Segunda Guerra Mundial, que eclodiu em 1939 quando o futuro papa tinha quase 3 anos de idade, até o presente.

A obra abordará temas de profunda repercussão nesse período, como a luta pró-vida, as desigualdades sociais, a discriminação racial, as guerras, o armamento nuclear e a crise climática. Os contextos históricos serão relatados pelo vaticanista italiano Fabio Marchese Ragona, do grupo Mediaset.

Discernimento antes que seja tarde demais

Sobre a publicação, o Papa Francisco declarou:

“Contamos a história da minha vida por meio dos eventos mais importantes e dramáticos que a humanidade vivenciou nos últimos oitenta anos. É um volume que vem à luz para que especialmente a geração mais jovem possa ouvir a voz de um homem idoso e refletir sobre o que o nosso planeta viveu, para não repetir os erros do passado”.

Francisco acrescenta:

“Ao chegarmos a certa idade, é importante, inclusive para nós mesmos, reabrir o livro das memórias e olhar para as lembranças: aprender olhando para trás, encontrar as coisas que não são boas, as coisas tóxicas que vivenciamos, junto com os pecados que cometemos, mas também reviver tudo o que Deus nos enviou de bom. É um exercício de discernimento que todos nós deveríamos fazer, antes que seja tarde demais”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Doutrina social e catequese: caridade e justiça

Doutrina social e catequese (cnbb norte 2)

DOUTRINA SOCIAL E CATEQUESE: CARIDADE E JUSTIÇA

Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

DOUTRINA SOCIAL E CATEQUESE: CARIDADE E JUSTIÇA (Parte 10) 

Outro princípio fundamental que rege a Doutrina Social da Igreja é a inseparabilidade entre Caridade e Justiça. Diz o salmo 85,11: “amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam”. Deus que é amor e misericórdia, é também justiça e verdade.  

A Sagrada Escritura nos confirma que o mistério do amor (Caridade) divino envolve múltiplas virtudes, sem limites numa perfeita harmonia. Afirma o salmista: “Ó Senhor, vós sois bom e clemente, sois perdão para quem vos invoca” (Sl 86,5); “sois clemente e fiel, sois amor, paciência e perdão” (Sl 86,15). “Sim, é bom o Senhor e nosso Deus, 

sua bondade perdura para sempre, seu amor é fiel eternamente” (Sl 100,5). O Deus revelado em Jesus de Nazaré é misericordioso, bondoso e compassivo.  

A prática da Doutrina Social da Igreja é testemunho da promoção do amor e da justiça inseparavelmente em todos os contextos e para todas as pessoas em qualquer situação existencial. A luta da Igreja pela promoção da justiça social é consequência da caridade. Bem como, a prática da Caridade exige a promoção da justiça.    

 Deus é amor pleno 

As diversas traduções da Sagrada Escritura nos mostram que os termos “amor” e “Caridade” têm o mesmo significado e, ambos englobam o mesmo conteúdo quando se referem a Deus. A palavra “charitas” é a tradução latina do “ágape” grego, que significa amor de doação, livre, desinteressado, generoso, gratuito, eterno, pleno, que se sacrifica pela vida do outroAssim é o amor com o qual Deus nos ama. Esse foi o amor testemunhado por Jesus Cristo em prol da Salvação da humanidade. 

A novidade do Amor revelado em Jesus Cristo, não se contrapõe ao amor humano (bem querer), mas o supera radicalmente e apresenta-se com um horizonte universal de expressões, conteúdos, dinamismos, sem fronteiras, manifestando a infinitude do próprio Deus. O modo de agir de Deus para com os homens (e o posicionamento do discípulo de Cristo diante do seu próximo) é expresso com o termo Caridade. A Caridade não é um gesto isolado de beneficência, mas é o permanente compromisso de cuidado, proteção, justiça, solidariedade, paz, amparo, perdão, compaixão, fraternidade, serviço, respeito, verdade etc.  

Não há Caridade sem justiça 

Quando uma pessoa diz que ama, mas é negligente e trata com severidade o amado, dificilmente esse amor é crível e aceito. Quem ama não pode ser injusto! Na Caridade não há espaço para a violência e nenhuma forma de injustiça. Quem quer ser caridoso, deve ser necessariamente justo. A Caridade autêntica se manifesta numa pluralidade de modos e atitudes. Essa inclui virtudes, palavras, gestos, silêncio, capacidade de adaptação, garantias, segurança, apoio, fidelidade… 

Não há, portanto, Caridade sem cuidado, sem a preservação do outro, sem respeito por aquilo que é e seus direitos; a justiça é parte integrante da Caridade! Ela se insere na dimensão das relações. A vivência da Caridade se traduz numa positiva relação com os outros e por ser profundamente vinculada à Justiça não tolera a negação daquilo que é necessário ao outro. 

A lei que defende a morte do culpado é injusta e contraditória. O amor de Deus não tolera o massacre, o sangue derramado, o direito ofendido, a indiferença política, a escravidão gratuita. Assim diz o texto bíblico: «Eu vi a aflição do meu povo no Egito e ouvi o seu grito de dor por causa dos seus opressores. Conheço muito bem as suas angústias…» (Ex 3,7). O amor não tolera a opressão! O foco da justiça divina é a salvação: “Não sinto nenhum prazer com a morte do injusto. O que eu quero, é que ele mude de comportamento e viva” (Ez 33,11). 

A meta da justiça não é a morte, mas é a preservação e promoção da dignidade humana. Eis porque a Doutrina Social da Igreja rejeita a pena de morte. A autêntica justiça deve sempre defender a vida. Por isso, na perspectiva da caridade, não basta o cumprimento das leis. A Caridade Divina promove a integridade da vida, defende o direito, recupera a dignidade, conduz à libertação. 

No Novo Testamento a característica da Caridade torna-se mais radical ainda, até ao dar a vida por quem se ama. A Caridade cristã exige partilha de bens, solidariedade para com o necessitado, tolerância (cf. Rm 12,9-21); se retoma o tema da relação culto-justiça (cf. Is 1,10-17), sobretudo, quando Jesus entra em conflito com a hipocrisia dos fariseus. Só ama a Deus quem pratica a Justiça: vivência do perdão! O Amor é um dinamismo, um caminho de atitudes que zela pela vida.  

A Caridade sem a justiça é vazia, destituída de significado; a fé para ser autêntica deve expressar-se através das obras, na nossa relação com os outros (cf.Tg 2,14-17). A vivência do Amor de Deus se torna inexpressiva para alguém que, tendo posse de bens e vendo a necessidade do seu próximo, não partilha. Por isso é necessário a Justiça (cf. 1Jo 3,17-18; Mt 25,31-46). A proclamação da Caridade sem a prática da justiça é falsa e destituída de conteúdo. 

A partir desse horizonte da caridade, conectado à justiça, a Igreja não defende a esmola, mas estimula a promoção da cultura da solidariedade e o permanente compromisso de promoção da dignidade humana. 

A Caridade, não se reduzindo à esfera individual, zela pela justiça social, estimula o surgimento de estruturas institucionais éticas; inspira a busca incessante da Civilização do Amor e da Paz. A Caridade, é profundamente crítica diante das raízes dos males sociais e tem como meta a transformação da sociedade promovendo a dignidade de vida para todos, como sinal do Reino de Deus. A Caridade tem uma dimensão que ultrapassa as fronteiras terrenas. Por isso a vivência da verdadeira caridade, ampla e profunda, como amor sem fronteias, exige uma profunda consciência de fé. Deus é caridade! A caridade, portanto, é experiência de Deus que tem a sua plenitude na vida eterna. 

 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:   

Como podemos promover a superação da Caridade como puro gesto de beneficência? 

Como podemos superar a hipocrisia do culto sem a Caridade? 

O que significa afirmar que o amor “não se alegra com a injustiça”? (1Cor 13,6).

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Hoje é dia de São Benigno, o salmista de são Patrício

São Benigno (ACI Digital)

A Igreja Católica celebra hoje (9) são Benigno, nascido em Armagh, hoje Condado de Meath, Irlanda. Foi bispo coadjutor da diocese de Armagh e cultivou uma longa e fecunda amizade com são Patrício, padroeiro da Irlanda, de quem foi discípulo preferido.

Benigno, assim chamado por sua natureza serena e gentil, acompanhou são Patrício em muitas viagens e missões. Além de ter se destacado pela gentileza e bom caráter, destacou-se pela habilidade para cantar; por isso o povo o chamava de o "salmista de Patrício".

A ele é atribuída a evangelização dos condados de Clare e Kerry, de onde mais tarde se mudou para Connaught. Sempre, ao longo de sua trajetória, usou a música coral para fortalecer a evangelização. Depois, quando são Patrício fundou uma igreja em Drumlease, na diocese de Kilmore, confiou os seus cuidados a Benigno, que a governou durante vinte anos.

A parceria entre são Patricio e são Benigno não se limitou ao que foi mencionado, mas estendeu-se a outros campos. Diz-se que Benigno contribuiu para a preparação do Saltério de Cashel e do Livro dos Direitos, o Senchus Mor, em trabalho conjunto com o seu santo preceptor.

Com a morte de Sechnall, sobrinho de Patrício, Benigno foi nomeado coadjutor de Armagh e se tornou o primeiro reitor da Escola da Catedral daquela cidade. Como bispo, participou do sínodo que aprovou o cânone que reconhecia a Sé do Apóstolo Pedro como tribunal final de apelação em casos difíceis. Este cânone faz parte do Livro de Armagh.

Com a morte de são Patrício, Benigno se tornou o bispo principal da Irlanda.

Por volta do ano 467, são Benigno renunciou ao cargo de coadjutor e morreu pouco depois, nesse mesmo ano. O santo foi sepultado em Feringmere e muitos séculos depois, em 1901, suas relíquias foram transferidas para a abadia de Glastonbury.

Fonte: https://www.acidigital.com/

A Renovação Carismática no Brasil entre "esfriamento" e "retomada", analisa Pe. Wagner

Pe. Wagner Ferreira, presidente da Canção Nova (Vatican Media)

O presidente da Canção Nova, Pe. Wagner Ferreira, está em Roma por ocasião das iniciativas do Charis, que teve assembleia internacional no início de novembro. Foi "um belo momento de comunhão das diversas expressões carismáticas da Igreja". Em entrevista ao Vatican News, Pe. Wagner também revelou a nova realidade vivida pela Renovação Carismática Católica no Brasil.

Andressa Collet - Vatican News

Representantes do Brasil também estiveram em Roma para participar do encontro internacional do Charis, o Serviço Internacional para a Renovação Carismática Católica. Entre eles, o Padre Wagner Ferreira, presidente da Canção Nova, que, em entrevista a Silvonei José, recordou que a entidade foi criada em 2019 pelo Papa Francisco para promover "a comunhão das diversas expressões carismáticas da Igreja, o diálogo ecumênico entre os cristãos que professam a fé em Jesus Cristo e o testemunho da fé por meio da caridade para com os pobres". E Pe. Wagner continuou:

"Como o Padre Jonas sempre nos ensinou, o fundador da Comunidade Canção Nova, a Canção Nova é renovação carismática católica, no sentido que ela vive a graça dessa corrente espiritual que é a experiência carismática." 

Prestes a celebrar em dezembro o aniversário de um ano de falecimento de Padre Jonas Abib (1936-2022), Pe. Wagner contou da importância de recordar "um homem que se dedicou à evangelização" e que tem levado muitas pessoas a visitar o seu túmulo e a pedir graças ao fundador da Canção Nova.

Mas, a entidade "não se esgota na figura do Padre Jonas", enfatizou o presidente, pois a comunidade e o seu carismo têm impactado fecundamente em várias missões no Brasil e no exterior: "uma comunidade que busca viver com fidelidade os princípios do carisma, está em formação permanente e isso tem garantido também o nosso comprometimento com a evangelização através dos meios de comunicação. Então, não paramos, não. Não paramos com o compromisso de evangelizar juntos."

A Renovação Carismática Católica no Brasil

Questionado sobre a atuação da Renovação Carismática no Brasil, o Pe. Wagner revelou:

“Por um lado, uma realidade de um certo esfriamento. Os grupos de oração, sobretudo, eles foram muito mais presentes e atuantes na vida da Igreja, principalmente nas décadas de 80 e 90. Depois parece que houve um esfriamento. Mas, ao mesmo tempo, há um esforço de retomada.”

"Quando a gente fala de Renovação Carismática, nós não podemos ter apenas presente os grupos de oração, mas também nós temos presente as novas comunidades que nasceram da experiência carismática, vários ministérios de evangelização, ministério singulares de pessoas bem específicas, como, por exemplo, Padre Marcelo Rossi, Frei Gilson, Irmã Kelly Patrícia, então, são também institutos religiosos que vivem essa experiência do novo Pentecostes, essa experiência carismática - o que de fato tem sido uma oportunidade de um novo ardor para aqueles que integram a Renovação Carismática Católica. Então, por um lado houve um esfriamento, mas por outro lado nós estamos começando a assistir um novo momento que não reduz a Renovação Carismática apenas aos grupos de oração, aos grupos paroquiais, mas que se estende também enquanto força de evangelização que não apenas se concentra na própria vida da Igreja, mas para além da Igreja porque acaba também atingindo a sociedade."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

O apego que faz sofrer

Uma rosa (Ed. Cléofas)

O apego que faz sofrer

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Deus dispôs tudo neste mundo de modo que nada fosse durável para sempre. Qual seria o desígnio de Deus nisso?

Sofremos muito nesta vida porque gastamos muito tempo correndo atrás de coisas transitórias, que não satisfazem o nosso coração. Só o que está acima de nós pode nos satisfazer, não o que está abaixo, a matéria e as paixões.

Deus dispôs tudo neste mundo de modo que nada fosse durável para sempre. Qual seria o desígnio de Deus nisso? A cada dia de nossa vida temos de renovar uma série de procedimentos: dormir, acordar, tomar banho, alimentar, etc. Tudo é precário, nada é duradouro, tudo deve ser repetido todos os dias. A própria manutenção da vida depende do bater interminável do coração e do respirar contínuo dos pulmões; todo o organismo repete sem cessar suas operações para a vida se manter. Tudo é transitório nesta vida… Nada é imperecível.

Toda criança se tornará adulta um dia, e depois idosa. Toda flor que se abre logo estará murcha, todo dia que nasce logo se esvai… E assim tudo passa, tudo é transitório. Compra- se uma camisa nova, e logo já está surrada; compra-se um carro novo, e logo ele estará bastante rodado e desgastado. Assim por diante. Por que será? Qual a razão de nada ser duradouro?

A razão inexorável dessa precariedade das coisas também está nos planos de Deus. A marca da vida é a renovação. A razão profunda dessa realidade tão transitória é a lição cotidiana que Deus nos quer dar de que esta vida é apenas uma passagem, um aperfeiçoamento em busca de uma vida duradoura, eterna, perene, muito melhor.

Santo Agostinho perguntava: “De que vale viver bem, se eu não puder viver para sempre?”.

Se não entendermos e não aceitarmos esta realidade, sofreremos muito nesta vida, pois estaremos o tempo todo, a vida toda, lutando, desesperadamente, contra esta lei inexorável: tudo passa. Em cada flor que murcha e em cada homem que falece, ouça Deus dizer: “Não se prenda a esta vida transitória. Prepare-se para aquela que é eterna, quando tudo será duradouro, e nada precisará ser renovado dia a dia”.

Isto mostra-nos também que a vida está em nós, mas não é nossa. Quando vemos uma bela rosa murchar, é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não lhe pertence. Muito sofre quem se apega a este mundo e às criaturas, achando que não vai ter fim, e pensando que aqui poderá ter toda a felicidade, ou que poderá construir o céu na terra.

Aquele que se apega às coisas e a este mundo, sente que a cada passo, as coisas são como que arrancadas das suas mãos pela vida. Então, quanto menos apego, melhor. Quanto menos você se apegar às coisas e às pessoas, menos você sofrerá. Mais livre será. Com a precariedade da vida e de tudo o que nos cerca, Deus nos ensina, diária e constantemente, que tudo passa e que não adianta querer construir o céu aqui nesta terra.

Toda esta realidade não é maldade de Deus; ao contrário, Ele tem algo melhor para nós do que esta vida, por isso não nos quer presos a esta vida precária e às criaturas que não podem nos satisfazer plenamente.

Mesmo com essa lição permanente que Deus nos dá, muitos de nós somos levados a viver como aquele homem rico da parábola narrada por Jesus. Ele abarrotou seus celeiros de víveres e disse à sua alma: “Descansa, come, bebe e regala-te (Lc 12,19b); ao que Deus lhe disse: ‘Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma’” (Lc 12,20).

A efemeridade das coisas é a maneira mais prática e constante que Deus encontrou para nos dizer a cada momento que aquilo que não passa, que não se esvai, que não morre, é aquilo de bom que fazemos para nós, e, principalmente, para os outros. Isto não acaba. São Paulo afirma que “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm 6,10).

“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furam nem roubam” (Mt 6,19-20). Jesus manda tomar cuidado para que o coração não seja embotado pela riqueza: “Guardai-vos escrupulosamente de toda avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas” (Lc 12,15).

Santo Agostinho disse que “o homem não se torna bom por possuir coisas boas. Ao contrário, o homem torna boas as coisas que possui, ao usá-las bem”.

Quem se preocupa em viver apenas para acumular bens e dinheiro, acumula sofrimentos e preocupações. O mal não é o dinheiro, mas o apego desordenado a ele.

Para vencer este mal aprenda a dar, abra as mãos e você será abençoado. “Quem se apieda do pobre, empresta ao Senhor, que lhe restituirá o benefício” (Pr 19,17).

Os talentos multiplicados no dia a dia, a perfeição da alma buscada na longa caminhada de uma vida de meditação, de oração, de piedade e caridade, essas são as coisas que não passam, que o vento do tempo não leva e que, finalmente, nos abrirão as portas da vida eterna e definitiva, quando “Deus será tudo em todos” (1 Cor 15,28b). É isto que nos faz feliz nesta vida.

A transitoriedade de tudo o que está sob os nossos olhos deve nos convencer de que só viveremos bem esta vida, se a vivermos para os outros e para Deus. São João Bosco dizia que “Deus nos fez para os outros”. Só o amor, a caridade, o oposto do egoísmo, pode nos levar a compreender a verdadeira dimensão da vida e a necessidade da efemeridade terrena.

Se a vida na terra fosse incorruptível, muitos de nós jamais pensaríamos em Deus e no céu. Acontece que Ele tem para nós algo mais excelente, aquela vida que levou São Paulo a exclamar: “Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Cor 2,9).

A corruptibilidade das coisas desta vida deve nos convencer de que Deus quer para nós uma vida muito melhor do que esta, uma vida junto d’Ele. E, para tal, Ele não quer que nos acostumemos com esta, mas que busquemos a outra, onde não existirá mais Sol, porque o próprio Deus será a Luz, e não haverá mais choro nem lágrimas.

Aqueles que não creem na eternidade jamais se conformarão com a precariedade desta vida terrena, pois sempre sonharão com a construção do céu nesta terra. Então, todo o sofrimento desta vida lhes parecerá uma tragédia sem sentido. Não para nós cristãos. Para os que creem, a efemeridade tem sentido: “a vida não será tirada, mas transformada”; o “corpo corruptível se revestirá da incorruptibilidade” (1Cor 15,54) em Jesus Cristo.

O desapego das coisas da terra depende do amor que temos a Deus. Um amor só se troca por outro maior. O livro dos Cânticos diz que: “Se um homem der todas as riquezas de sua casa por amor, ele as desprezará como se não tivesse dado nada” (Ct 8,7). Se todo o nosso amor estiver em Deus, então será suave e até agradável desprezar tudo: riquezas, prazeres, dignidades, honras, reputação e vanglória.

São Francisco de Sales diz que: “O amor puro de Deus consome tudo o que não é de Deus para transformar tudo nele”. Os santos foram como que “embriagados” de Deus, quase não sentiam as coisas do mundo, e só desejavam amar e agradar a Deus. É o caminho mais rápido para a paz interior.

Retirado do livro: “Sofrendo na Fé”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

Fonte: https://cleofas.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF