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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

A Inquisição no Brasil

Inquisição (Ed. Cléofas)

A Inquisição no Brasil

 POR PROF. FELIPE AQUINO

No Brasil nunca houve tribunal do Santo Ofício ou da Inquisição. O país achava-se sob a competência do tribunal de Lisboa.

Durante o século XVI, a Inquisição agiu discretamente. São conhecidos três processos e uma visita do Santo Ofício, sem graves consequências. Misturavam-se, às vezes, fatos reais de índole religiosa ou político-social com faltas graves aparentes ou supostas ou tendências perniciosas no campo religioso e social. A Inquisição no Brasil foi extinta em 1774 quando o Santo Ofício foi oficialmente transformado em tribunal régio, sem autonomia ou completamente dependente da Coroa.

A Inquisição de Portugal contava três distritos: Évora, Coimbra e Lisboa, tendo este a jurisdição sobre o Brasil. Seja brevemente examinado o seu funcionamento no Brasil.

1. Século XVI

Como a Inquisição no Brasil estivesse sob a jurisdição do Tribunal de Lisboa, não houve na colônia, em nenhuma época, um tribunal próprio. Assim sendo, os processos eram levados para a Corte. No Brasil, os Inquisidores eram os Bispos. Mas, visto o grande número de novos convertidos, foi nomeado Inquisidor Apostólico D. Antonio Barreiros. Seus poderes limitavam-se aos cristãos-novos; era-lhe recomendado usar de prudência, moderação e respeito. A ação do Santo Ofício foi discreta, sendo conhecidos três processos e uma visita do Inquisidor de Portugal.

1.1. Os Processos

Processo de Pero de Campo Tourinho, donatário da capitania de Porto Seguro, acusado de opor-se ao clero e ao Papa, e de desrespeitar as leis da Igreja. O processo iniciou-se no Brasil (1546) e terminou em Lisboa (1547). Não se sabe a conclusão. Supõe-se que o acusado tenha sido absolvido.

Processo de João de Bolés (Jean Cointha, seigneur des Boulez), francês que viera com Villegaignon. Em 1557 começou a difundir doutrinas Calvinistas e luteranas em São Paulo e depois na Bahia. O processo, iniciado no Brasil (1560), foi levado a Portugal, tendo João de Bolés lá chegado em 1563. Retratou-se, mas pouco depois começou novamente a difundir suas idéias, sendo então desterrado para as índias, onde foi condenado à morte, em 1572, como relapso e herege.

Processo do Pe. Antonio de Gouveia. Oriundo dos Açores, foi ordenado sacerdote em Portugal. Em 1555 entrou na Companhia de Jesus, sendo dela despedido tempos depois. Deu-se à necromancia e, por isto, foi acusado no Tribunal da Inquisição. Preso, fugiu em 1564. Recapturado, foi degredado para os Açores. Tendo novamente fugido, foi descoberto de 1567 e desterrado para Pernambuco. Aqui conseguiu uso de ordens, mas, continuando as atividades “mágicas”, foi preso e enviado ao Santo Ofício de Lisboa, embarcando em 1571. Em 1575 seu processo continuava, mas a partir desta data nada mais se sabe dele.

1.2. A primeira visitação do Santo Ofício

De 1591 a 1595 deu-se a primeira visitação do Santo Ofício ao Brasil. A causa próxima foi a passagem da Colônia ao domínio espanhol em 1580. Como o rei da Espanha possuísse ideias mais rígidas quanto aos cristãos novos, julgou necessária uma visita do Santo Ofício.

O Visitador nomeado, Heitor Furtado de Mendonça, chegou à Bahia em julho de 1591. Poucos dias depois publicou o “Edito da Graça”, período de trinta dias (de 28/7 a 27/8) em que haveria “muita moderação e misericórdia” aos que fossem acusados ou se viessem acusar. Houve muitas denúncias, versando sobre suspeitas de heresia, de judaísmo, escravização dos indígenas, bigamia etc. Em 1594 o Visitador passou a Pernambuco onde, após um período de “Graça”, iniciou as audiências, seguindo até o ano de 1595, quando retornou a Lisboa. A par de algum erro ou imprevidência, não parece ter sido severo, usando, em muitos casos, de moderação.

2. Século XVII

Data deste século a segunda visita do Santo Ofício. Esta ocorreu entre setembro de 1618 e janeiro de 1619, sendo Inquisidor D. Marcos Teixeira. Os motivos devem prender-se à preocupação da Coroa Espanhola com os cristãos-novos, temendo que pudessem aliar-se aos holandeses, que naquele tempo pressionavam o Reino Unido. A colônia, de fato, tornara-se lugar de refúgio e de segredo para os novos convertidos, que aqui se achavam em grande número. O Pe. Antonio Vieira, nessa época, defendeu a tolerância para com os cristãos-novos, ideia que se generalizou e continuou viva mesmo após a restauração, em 1640.

3. Século XVIII

Surgindo as minas de ouro, para as quais ia grande número de estrangeiros de todos os Credos, a política de tolerância vigente no século anterior começou a mudar. Intensificou-se a ação da Inquisição no Brasil.

No reinado de D. José I (1750-77), a Inquisição decaiu, chegando praticamente a anular-se. Dois fatores contribuíram para a sua queda, ambos ligados à personalidade do Marquês de Pombal. Primeiramente, o Primeiro-ministro considerou-a contrária aos interesses da Corte, embora anos antes (1761) a tivesse utilizado contra o Pe. Gabriel Malagrida, por ter este, na ocasião do terremoto de Lisboa (1755), acusado de erros morais os membros da Corte. Além disto, em virtude de um desentendimento entre Pombal e o Santo Ofício em Portugal, chegou o rei D. José I a procurar minorar a ação do Tribunal.

Assim é que em 1773 foram baixadas leis que acabaram com a distinção entre cristãos-novos e outros cristãos, e que proibiam qualquer discriminação por ascendência judaica. Em 1774 o Santo Ofício foi transformado num tribunal régio, sem autonomia, completamente dependente da Coroa, o que significou na prática a sua desativação. “Não obstante as falhas que se podem apontar contra todo e qualquer sistema repressivo, não é lícito nem honesto ver na atuação da Inquisição ou Santo Ofício somente a face negativa. Houve também vantagens para a fé e os bons costumes, evitando-se tolerância em demasia com desvantagens para a pureza da fé ou com tropelos dos mandamentos divinos, visto que a Inquisição não empregava somente a repressão, mas também a persuasão para corrigir desvios na fé ou nos costumes. Ademais, para muita gente que se deixa levar mais pelo temor que pelo amor, por muitas causas que não é o caso de abordar, toda ação coercitiva, quando psicologicamente bem orientada, pode ter seus reflexos positivos. Aliás, o Santo Ofício era, antes do mais, um tribunal eclesiástico que tinha em mente mover o culpado a reconhecer seu pecado, detestá-lo e prometer emenda. Só em casos de pertinácia agia com penas que variavam segundo a gravidade do delito e a renúncia ao perdão. No Brasil, felizmente, durante o século XVI, não temos a lamentar a pena capital entre os nascidos na terra, mesmo quando encaminhados ao tribunal de Lisboa” (RUBERT, Arlindo. A Igreja no Brasil. Origem e desenvolvimento (Século XVI), vol. 1. Santa Maria, n Pallotti, 1981, p. 284).

D. Estevão Bettencourt. Revista “Pergunte e Responderemos” – set./2000.

Fonte: https://cleofas.com.br/

A bebê inglesa Indi Gregory morreu na madrugada desta segunda-feira

Rosa branca (Vatican Media)

“Estamos com raiva, destruídos e envergonhados”, disse o pai Dean. No sábado, #PapaFrancisco disse que rezava pela família.

Vatican News

"Minha filha está morta, minha vida acabou", anunciou o pai, Dean Gregory, à mídia. Após a morte da menina, "minha esposa Clare e eu estamos com raiva, com o coração partido e envergonhados", disse o pai. Ele acrescentou: "O serviço de saúde nacional e os tribunais não apenas lhe tiraram a chance de viver, mas também a dignidade de morrer em sua própria casa. Eles conseguiram tirar o corpo e a dignidade de Indi, mas nunca poderão tirar sua alma".

A proximidade do Papa

A história de Indi comoveu o mundo e houve várias expressões de proximidade. Até mesmo o Papa Francisco, conforme relatou o diretor da Sala de Imprensa vaticana, Matteo Bruni, em uma nota no sábado, "abraçou a família da pequena Indi Gregory, seu pai e sua mãe, rezando por eles e por ela, e voltando seus pensamentos para todas as crianças que, nessas mesmas horas, em todo o mundo, estão vivendo com dor ou arriscando suas vidas por causa de doenças e guerras".

Indi sofria de uma forma rara de patologia mitocondrial. O Tribunal Superior de Londres negou a possibilidade de uma transferência para a Itália, depois de receber a cidadania, para receber tratamento, em particular no Hospital Pediátrico Bambino Gesù, da Santa Sé.

Após a recusa dos juízes ingleses em aceitar o recurso apresentado pela mãe e pelo pai, os maquinários que a mantêm viva foram desligados no sábado no Queen's Medical Centre em Nottingham e Indi foi transferida para uma estrutura para doentes terminais.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 12 de novembro de 2023

“Recebi o bastão de muitas mulheres corajosas”

Machús Otero: "Recebi o bastão de muitas mulheres corajosas" (Opus Dei)

“Recebi o bastão de muitas mulheres corajosas”.

A enfermeira Machús Otero, de Valladolid, compartilha as experiências e os desafios enfrentados na África Oriental, 63 anos após a chegada das primeiras mulheres da Obra em Nairóbi.

É possível ver na maneira como ela fala, sua cadência se suavizou e é perceptível que às vezes traduz do inglês, já perdeu o sotaque espanhol... Essa enfermeira de Valladolid tem um coração africano.

Foi em 1987 que pôs os pés no Quênia pela primeira vez: “Fui para lá quando era muito jovem e recebi o bastão de muitas mulheres corajosas que trabalharam desde o primeiro momento para levar a mensagem do Opus Dei à África”. Ela enfatiza que seus novos compatriotas “têm uma olhar limpo e aberto: isso completa nossa vida e, dessa forma, não é difícil se doar”. Como ela mesma confessa, “pude aprender ali quase tudo o que eu sei”. 

“Os quenianos têm um olhar limpo e aberto: isso completa nossa vida e, dessa forma, não é difícil se doar”.(Opus Dei)

Mulheres fortes e decididas em um país desconhecido

Foi em 1960 quando um grupo de mulheres de diferentes países assumiu a tarefa de promover o chamado universal à santidade na África. Mulheres americanas, irlandesas, portuguesas e espanholas foram encarregadas por São Josemaria de fazer daquela sociedade, que estava às portas da independência, um lugar mais cristão. Ali, graças à sua tenacidade, a educação se converteria em um instrumento de progresso e mudança para milhares de famílias.
Nesse sentido, a busca da santificação através do trabalho cotidiano marcou desde o início as iniciativas que foram lançadas. Segundo Machús, “as primeiros mulheres da Obra tinham claro que sua missão era ajudar o país e que deveriam fazê-lo de forma interracial, mas não sabiam como. Eram mulheres fortes e determinadas e, quando não sabiam o que iam ensinar, primeiro aprendiam e estudavam sozinhas e depois transmitiam aos outros. Compartilhamos com os quenianos um novo começo para seu país”.

“As iniciativas como Kianda College surgiram à medida que crescia a demanda por profissionais locais e qualificados para impulsionar o desenvolvimento econômico de um país que não era mais uma colônia, que assumia o futuro com as próprias mãos e que precisava ser interracial.

Há apenas três anos, a iniciativa comemorou seu 60º aniversário e, atualmente, a Kianda School, que surgiu a partir da referida faculdade, tem 900 alunos. Com o suporte de Fundação Kianda, são promovidos e desenvolvidos projetos e iniciativas que têm em seu DNA a mulher africana, a educação e a convivência multirracial, multiétnica e inter-religiosa, sem perder o seu caráter cristão e universal.

Os desafios do crescimento do Quênia

Nos últimos 35 anos, Machús testemunhou esse progresso e crescimento. “O Quênia é, como toda a África, um país de contrastes. De um ponto de vista ocidental, somos um país em desenvolvimento, mas compartilhamos os problemas e desafios do primeiro mundo”. Desde que abandonou formação inicial em saúde para se dedicar inteiramente à educação, Maria Otero (como é conhecida lá) é muito sensível às necessidades e demandas da juventude queniana.

As mulheres do Opus Dei impulsionam no Quênia projetos e iniciativas que têm em seu DNA a mulher africana, a educação e a convivência multirracial, multiétnica e interreligiosa. (Opus Dei)

De fato, sua estadia na Espanha se deve a um treinamento específico que ela está realizando para capacitar-se na gestão e no acompanhamento de jovens no campo da saúde mental. A onipresença das telas, o vício em tecnologia, a crise nas famílias e os problemas de convivência, entre outros, fazem com que os adolescentes tenham os mesmos problemas, atitudes e desafios no Quênia e na Espanha.

Diante dessas necessidades dos jovens e das famílias, Machús afirma que seu objetivo é “chegar a tempo. Queremos fornecer aos jovens quenianos ferramentas suficientes para atender às suas necessidades em termos de autoestima, gerenciamento emocional... Queremos evitar problemas que mais tarde podem se tornar muito sérios. Queremos que eles e suas famílias encarem a adolescência como uma oportunidade de crescimento saudável”.

Machús viu como o Quênia se tornou mais profissional e como agora tem especialistas muito bem treinados nos negócios e no setor de saúde. Mas também aponta algumas diferenças substanciais em relação ao Ocidente: “Em geral, a vida lá é muito simples. Meu pai definiu isso perfeitamente quando foi me visitar: é tudo muito descomplicado.

Ela insiste que vive em um país de contrastes e que “o Quênia é muito mais do que um destino turístico e de natureza. Podemos ajudar a fortalecer muitos de seus habitantes, que lutam para trabalhar de forma profissional e digna e que nunca se esquecem que esse esforço deve levar ao progresso e à educação de suas famílias. Os quenianos em geral querem ser reconhecidos pelo que são, têm um enorme potencial e estão sempre abertos para aprender”.

"Queremos fornecer aos jovens quenianos ferramentas suficientes para responder às suas necessidades de autoestima e gestão emocional..."(Opus Dei)

Entre os desejos para o futuro do país, Machús gostaria de pôr fim a algumas das diferenças de desenvolvimento que existem no interior. Confessa que uma das consequências negativas da globalização é que, “nessa ansiedade por ser iguais e ter o que os outros têm, a corrupção muitas vezes encontra espaço. O Papa Francisco nos alertou sobre isso durante sua visita”.

É por meio da dignificação do trabalho e da própria profissão que a corrupção pode ser combatida. Por esse motivo, Maria Otero conclui que “na Fundação Kianda trabalhamos e insistimos para que todos os que recebem apoio se comprometam a devolvê-lo à sua comunidade, à sua família, na forma de educação e tempo, nem tudo é dinheiro”.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

O dia mundial dos pobres e a partilha de vida na caridade

O dia mundial dos pobres e a partilha de vida na caridade (Diocese de Marabá-PA)

O Papa Francisco escolheu uma frase bíblica muito importante para o sétimo dia mundial dos pobres, dois mil e vinte três: “Nunca afastes teu olhar de algum pobre” (Tb 4,7) , salientando a superação da indiferença diante de alguma pessoa que sofre mais que a pessoa, levando o fiel a viver a misericórdia, a paz e amor para com os pobres.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Sinal da misericórdia do Pai - O Papa afirma que este dia seja profundo pela misericórdia do Pai, presente a caminhada das comunidades, da Igreja, como uma pastoral da Igreja, para descobrir sempre mais o conteúdo do Evangelho. Há uma acolhida em relação aos pobres de uma forma até cotidiana. Porém é preciso fazer algo a mais, ouvir o grito deles que parece ser sempre mais forte, por ajuda, consolo, solidariedade. O domingo que antecede a festa de Jesus Cristo, Rei do Universo, as pessoas estarão reunidas na mesa da eucaristia para voltar a receber o compromisso de servir os pobres[2].

O texto bíblico

Era uma referência a Tobite, pai de Tobias, que estava prestes a fazer uma longa viagem, de modo que ele temia não ver mais o seu filho, mas ele lhe deixou o seu testamento espiritual. Sendo deportado para Nínive, estava cego, mas confiava no Senhor. Como um pai preocupado com o seu filho, deseja-lhe que caminhasse na justiça, no amor aos mais necessitados[3]. O Tobite pediu para o seu filho para que nunca ele afastasse o seu olhar aos pobres, para que assim o olhar de Deus estivesse sempre nele[4].

Atos de misericórdia

Tobite ficou cego após a prática de atos de misericórdia, pois desde a sua juventude fez obras de caridade, dando esmolas aos seus irmãos que com ele foram levados à terra do exílio em Nínive, na qual forneceu pão aos que tinham fome, e, dava sepultura aos que estavam mortos (Tb 1,3.17)[5].

A partilha

O Papa Francisco continua a sua reflexão pelo texto bíblico onde ele colocou que Tobite quis num almoço em festa de Pentecostes, a festa das semanas, de modo que ele pediu ao seu filho, Tobias para que ele fosse a Nínive apanhar um pobre para que comesse com eles. O desejo do Papa é que isso se torne realidade no dia mundial dos pobres, que após a Eucaristia, haja a partilha do almoço dominical com os pobres. Tendo a consciência que ao redor da mesa do Senhor todos são irmãos e irmãs, a fraternidade se tornará visível pela partilha de alimentos na festividade dominical[6].

A firmeza de Tobite

O desejo de Tobite não foi realizado de uma forma plena, porque Tobias encontrou sim um pobre, mas que fora morto no meio da praça. O pai Tobite foi enterrar aquela pessoa. Na volta ficou cego por causa de excrementos de pássaros ao descansar no pátio de casa (Tb 2,1-10). No final da vida recobrou a vista, por graça de Deus e pode ver ainda o seu filho Tobias (Tb 11,13-14). O Papa coloca a questão da firmeza de Tobite: Donde vem toda a força que Tobite realizou no meio daquele povo pagão no amor a Deus e ao próximo? Ele diz que ela vem do Senhor que sustenta os pobres, os humildes e todas as pessoas que o amam de coração sincero. Ele faz para as pessoas as tornarem firmes nele[7].

A recomendação de Tobite

O Papa realçou a recomendação de Tobite, no período de sua provação e pobreza ao seu filho para que não desviasse do olhar de algum pobre, na verdade de todo o pobre, porque impediria à própria pessoa de se encontrar com o rosto do Senhor Jesus no próprio pobre. O pobre é o próximo da pessoa que segue o Senhor, de todo o pobre ou forma de pobreza, sacudindo desta forma a poeira da indiferença e todo bem-estar ilusório[8].

O momento histórico desfavorável aos pobres

Na sua mensagem falou o Papa Francisco de um momento desfavorável à vida dos pobres, pela valorização do bem-estar cada vez mais alto, em desconsideração à situação de pobreza de muitas pessoas, exaltam-se as qualidades físicas em detrimento dos sofrimentos das pessoas, a realidade virtual sobrepõe-se à vida real de modo que a parábola do bom samaritano ilumine as pessoas para agir em favor dos mais necessitados, a praticar a caridade, vocação de todo o fiel cristão[9].

O reconhecimento das pessoas para com os pobres

O Papa louva a Deus pelo fato de muitas pessoas, homens e mulheres, as quais se dedicam aos pobres e excluídos da sociedade, praticam a hospitalidade e empenham-se a encontrar soluções diante de situações de marginalização e sofrimentos. São pessoas que escutam os anseios dos pobres e buscam alternativas diante dos desafios encontrados, atentas às suas necessidades materiais e espirituais, de modo que o Reino de Deus torna-se presente no serviço generoso, na qual a semente dá fruto bom na vida das pessoas para a glória de Deus (Lc 8, 4-15)[10].

O bem comum

O Papa fala na necessidade de toda a sociedade, governos e entidades civis para o bem comum. Ele tem presente as guerras que privam as populações e crianças de um presente sereno e de um futuro mais digno de vida. Ele faz um apelo para que a paz se afirme sempre mais, como dom do Senhor Ressuscitado e fruto do empenho da justiça e do diálogo[11].

Os pobres são pessoas

O Papa Francisco tem presentes a facilidade de cair na retórica ou em números quando se fala de pobres. No entanto é fundamental afirmar que os pobres são pessoas, tem rosto, possuem uma história, coração e alma, com valores e defeitos, como todas as pessoas, mas que é importante estabelecer uma relação com eles[12].

Gestos concretos

O livro de Tobias, segundo o Papa Francisco impulsiona as pessoas seguidoras do Senhor na busca de gestos concretos em relação aos pobres, buscando a harmonia necessária para que a comunidade ajude as pessoas pobres. A atitude para não desviar o olhar do pobre possibilite gestos concretos, políticas públicas, a caridade para uma vivência digna dos necessitados e pobres[13].

A vivência do Evangelho

A solicitude para com os pobres seja um sinal da vivência do Evangelho de Jesus Cristo. É preciso ajudá-los para fazê-los sair da situação de pobreza, e perceber neles a presença do Senhor Jesus porque foi a Ele que as pessoas realizaram o bem (Mt 25, 40). O Papa Francisco termina a sua mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, tendo presente a necessidade da caridade, ponto presente também em Santa Terezinha do Menino Jesus e de Santo Antônio, na qual disse que é Patrono dos pobres, porque escreveu neste dia, 13 de junho de 2023, de modo que ninguém desvie o olhar do pobre, para encontrar nele o rosto humano e divino do Senhor Jesus Cristo[14].

[1] Cfr. VII Dia Mundial dos Pobres, 2023: «Nunca afastes de algum pobre o teu olhar» (Tb 4, 7) | Francisco (vatican.va).

[2] Cfr. Ibidem, 1.

[3] Cfr. Ibidem, 1.

[4] Cfr. Ibidem, 2.

[5] Cfr. Ibidem,

[6] Cfr. Ibidem.

[7] Cfr. Ibidem, n. 3.

[8] Cfr. Ibidem.

[9] Cfr. Ibidem, 4.

[10] Cfr. Ibidem, n.5.

[11] Cfr. Ibidem, n. 7.

[12] Cfr. Ibidem, n. 8.

[13] Cfr. Ibidem.

[14] Cfr. Ibidem, ns. 9-10.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Uma Igreja sinodal no limiar da mudança dos tempos

Uma Igreja sinodal e opções para mudanças (IHU - Unisinos)

UMA IGREJA SINODAL NO LIMIAR DA MUDANÇA DOS TEMPOS

Dom Romualdo Matias Kujawski 
Bispo Emérito de Porto Nacional  (TO)

Podemos nos perguntar: como batizados, somos sinal da Igreja de Cristo para os outros? 

Penso que esta inquietude leva o Papa Francisco a buscar, através da escuta, o que pensamos sobre a Igreja, nós mesmos, as estruturas eclesiais e nossa consciência missionária. 

Há alguns dias atrás, encerrou-se a XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, iniciada no dia 04 de outubro de 2023, em Roma. O tema discutido desde a convocação do referido Sínodo é: “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão.”  

“Sinodalidade” é o esforço coletivo e a busca contínua de aprendermos a “caminhar juntos” como irmãos. É um jeito de ser Igreja, pelo qual cada pessoa é importante, tem voz, é ouvida, capacitada e envolvida na realização da missão. O Papa Francisco, ao encerrar a sessão do Sínodo, sintetiza a sinodalidade: “adorar a Deus e servir ao próximo, como o coração de tudo.” No sentido antropológico, devemos enxergar a Igreja como Porta da Misericórdia Divina, que deve estar sempre aberta a todos. A chave do diálogo, para os dias de hoje, deve ser a Misericórdia Divina e não a Lei. 

Os membros do Sínodo partilharam vários assuntos, com a preocupação de como sermos Igreja hoje e como deve ser o diálogo com o mundo. Caros irmãos, a referência continua sendo antropológica: Deus nos convida à salvação e, nos tempos pós-modernos, nossa resposta não pode ser outra a não ser o nosso “sim”. 

Somos convidados a enxergar a nossa estrutura eclesiológica a partir de Cristo, no sentido da fé, do culto, da vida moral e da oração. Precisamos refletir a Palavra de Deus e fazer com que Ela se torne também a nossa. É impossível amar aquilo que não se conhece! Precisamos conhecer mais nossa própria identidade de cristãos e vivenciar nossa responsável e consciente pertença à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo: Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana. 

Neste caminho não deveríamos seguir o exemplo de Nossa Senhora, permanecendo à sombra do Espírito Santo, permitindo que Ele mesmo nos conduza? 

Animus Sancte Spiritus. 

Com a minha benção!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. José Eduardo esclarece: mudou algo na doutrina da Igreja sobre pessoas trans e homossexuais?

© WOJTEK RADWANSKI / AFP

Por Pe. José Eduardo - Reportagem local - publicado em 10/11/23

O sacerdote brasileiro colabora para evitar interpretações errôneas ou manipuladas do "responsum" recém-publicado pelo Vaticano.

O bispo diocesano de Santo Amaro, dom José Negri, solicitou esclarecimentos do Dicastério para a Doutrina da Fé a respeito da participação de pessoas trans e homoafetivas nos sacramentos do batismo e do matrimônio. Os questionamentos foram respondidos pelo cardeal Victor Mánuel Fernandez, prefeito desse dicastério, com aprovação do Papa Francisco – e a publicação do “responsum” vaticano tem gerado, especialmente no Brasil, uma onda de matérias não exatamente claras em grande parte dos veículos de imprensa.

Com o propósito de ajudar o público a entender com clareza as respostas apresentadas pelo Vaticano, o pe. José Eduardo de Oliveira e Silva, da diocese paulista de Osasco, doutor em Teologia Moral pela Universidade da Santa Cruz, em Roma, concedeu gentilmente uma entrevista que foi publicada pela Canção Nova.

Com a autorização do pe. José Eduardo, Aleteia reproduz os pontos-chave da entrevista:

Houve mudança na doutrina da Igreja quanto a pessoas transexuais e homossexuais?

  • O pe. José Eduardo responde que “substancialmente, nada [mudou]”, já que o próprio “responsum” do Dicastério para a Doutrina da Fé reforça que as respostas agora reiteradas “repropõem, em substância, os conteúdos fundamentais de quanto, no passado, foi afirmado por este Dicastério sobre tal matéria”.
  • O pe. José Eduardo destaca que, “para a doutrina católica, há uma imensa diferença entre a ‘condição’ homo e transexual e os ‘atos’ sexuais dessas pessoas” – e que, mesmo em relação aos atos, “um juízo negativo sobre uma situação objetiva não implica um juízo sobre a imputabilidade ou a culpabilidade da pessoa envolvida” (cf. Amoris Lætitia, n. 302), “pois a imputabilidade requer plena advertência e perfeito consentimento, como ensina o Catecismo (cf. n. 1859)”.
  • No tocante às pessoas trans, o sacerdote explica que “uma pessoa que tem disforia de gênero ou alguma inadequação entre o seu corpo e a sua própria autocepção não pode ser culpabilizada por isso, mesmo que tenha se submetido a uma intervenção de redesignação. Tais pessoas podem, perfeitamente, converter-se e entregar a sua vida a Deus, que é o escopo principal do sacramento do batismo”.

Pode-se receber o batismo sem estar arrependido dos próprios pecados?

  • Considerando que o Código de Direito Canônico (cânon 865) afirma a necessidade de se exortar o catecúmeno ao arrependimento dos seus pecados, enquanto o “responsum” menciona a possibilidade de uma pessoa receber o batismo sem estar arrependida, o pe. José Eduardo explica que este último se refere “a uma situação muito mais circunscrita e que tem a ver com a avaliação pastoral a ser feita pelo pároco: ‘quando existem dúvidas sobre a situação moral objetiva em que se encontra uma pessoa, ou sobre as suas disposições subjetivas para com a graça divina'”. O pe. José Eduardo explicita: “Isso se refere ao caso de alguém que se demonstra disposto a passar por um caminho de conversão, mas cuja ‘certeza moral’ possa ser dificultosa ao pároco diante dos indícios apresentados”. Neste caso, “o dicastério apenas apresenta a desnecessidade de uma certeza absoluta, circunscrevendo-a nos limites tradicionais do que se entende por ‘certeza moral'”.
  • Em relação à distinção entre os aspectos pastorais e doutrinais ou canônicos da questão, o sacerdote brasileiro observa que, “para a Igreja, a pastoral nunca está desvinculada da doutrina e do direito”. Entretanto, ele recorda que o Papa Francisco incentiva enfaticamente a perspectiva “de uma Igreja de ‘portas abertas’, que ‘cria pontes e não muros’, ‘em saída’, ‘samaritana’, como ele mesmo a descreve no documento mais importante do seu pontificado, a exortação Evangelii Gaudium, nos leva a fazer tudo o que for possível para aproximar uma pessoa de Deus, jamais limitando por nossa iniciativa as amplas portas da Misericórdia”.

Pode batizar-se uma pessoa que adotou um “nome social”?

  • O pe. José Eduardo observa que “o próprio Rito de Iniciação Cristã de Adultos prevê uma ‘mudança de nome’, que seja um marco para a mudança de vida”. Ele acrescenta que “o pastor local precisa dedicar-se muito mais à acolhida, ao discernimento, à reflexão juntamente com o catecúmeno, ajudando-o a encontrar não tanto a sua identidade para si, mas a sua identidade para Deus, aquele ‘nome novo’ do qual nos fala o livro do Apocalipse (cf. 2,17). O batismo nunca pode ser entendido como um momento de conquista e autoafirmação, mas como uma humilde recepção da graça, com o pedido a Deus de uma transformação real, que, no itinerário desse percurso, pode estar mais ou menos adiantada”.

Podem admitir-se transexuais como padrinhos/madrinhas de batismo ou matrimônio?

  • No caso do batismo, o pe. José Eduardo pede atenção ao fato de que “o cardeal Fernández menciona a necessidade de que não haja nenhum ‘perigo de escândalo'”. E explica: “Nós precisamos entender que, para além do direito, existem circunstâncias familiares complexas, que requerem certa flexibilidade pastoral de nossa parte. Aquilo que a Igreja requer para o batismo de uma criança é que se garanta que ela receberá a educação católica por parte de alguém; no mais, é possível que haja alguma situação em que seja viável, tomadas as devidas medidas de cautela, admitir alguém naquelas condições como padrinho. Observe-se bem que a mesma nota afirma que este ‘não é um direito’, pois é a Igreja que habilita alguém para exercer essa função”. Além disso, prossegue o padre, “a celebração do batismo nunca deve ser usada como instrumentalização ideológica, para impulsionar a agenda de nenhum movimento de revolução sexual. Garantidas essas cautelas e sempre com a supervisão do bispo diocesano, é possível que haja situações em que isso seja, de algum modo, viável”.
  • No caso do matrimônio, o pe. José Eduardo recorda que “a Igreja não fala em ‘padrinhos’ de matrimônio, pois, nesse caso, não se exerce nenhuma função educativa em relação ao casal, mas apenas em ‘testemunhas’, pois aqueles que estão destacados na assembleia para exercer essa função exercem-na como representantes da mesma assembleia, toda ela testemunha do ato, mas que se faz representar por alguns, escolhidos pelos nubentes, para atestarem seu testemunho por escrito. De fato, não há grandes inconvenientes em relação a isso”.

Podem apresentar-se casais homoafetivos como “pais” ou padrinhos de um batizando?

  • O pe. José Eduardo contextualiza que, “diante de uma vida concebida, a Igreja deve assegurar-se apenas da condição fundamental, sem a qual não seria lícito batizar, e que é reafirmada pela nota: ‘para que a criança seja batizada deve existir a fundada esperança de que será educada na religião católica'”. Dada esta base, o padre observa que “existem muitos casos em que está por detrás da cerimônia do batismo uma avó católica e sofredora pela condição do seu filho, um avô angustiado e que zela pela salvação do seu neto. Como diz o papa, ‘é mesquinho deter-se a considerar apenas se o agir duma pessoa corresponde ou não a uma lei ou norma geral, porque isto não basta para discernir e assegurar uma plena fidelidade a Deus na existência concreta dum ser humano’ (Amoris Lætitia, n. 304)”.
  • No tocante a casais homoafetivos como padrinhos, o padre registra ainda, conforme está expresso no próprio “responsum”, que “a Igreja coloca como ponto principal ‘salvaguardar o sacramento do batismo e sobretudo a sua recepção’, sem descuidar em que o padrinho ‘leve uma vida de acordo com a fé e o encargo que vai assumir’. Por isso, a mesma nota fala sobre a possibilidade de ser ‘testemunha do ato batismal’, sem que seja propriamente padrinho.

Podem admitir-se casais homoafetivos como testemunhas de um matrimônio?

  • O pe. José Eduardo observa que a Igreja diz que “não há uma proibição a que pessoas homoafetivas testemunhem o matrimônio”, mas “tudo isso deve ser oportunamente avaliado pelo pároco local, em sintonia com o seu próprio bispo”.

Considerações finais sobre o “responsum” e sua coerência com a doutrina

  • O pe. José Eduardo reitera que a interpretação de que o “responsum” não altera a doutrina católica “não é apenas possível, como é obrigatória, uma vez que nos cabe sempre interpretar ortodoxamente tudo o que diz e ensina a Igreja, em continuidade com a Tradição”. Ao mesmo tempo, ele constata que “apresentam-se hoje, à nossa cura pastoral, situações novas”, de modo que “a Igreja precisa não apenas aplicar os princípios, mas também ir atrás da ovelha perdida, mostrando a sua benevolência materna em aproximar de Cristo cada pessoa, sabendo que a conversão é um caminho diário, um processo contínuo, em que todos nós estamos.

  • No tocante ao risco de que alguns ou muitos não compreendam o “responsum” e fiquem sujeitos a manipulações, o sacerdote brasileiro afirma que cabe a nós “ter a humildade e a obediência de acolher de bom coração o que nos ensina a Igreja e que, no caso, não destoa minimamente do seu Magistério multissecular, ainda que adaptado às necessidades atuais. Atitudes de rebeldia e criticismos exagerados não são admissíveis na nossa relação com a Igreja docente”.
Fonte: https://pt.aleteia.org/

Angelus: menos tempo no celular, mais cuidado com a vida interior

Ângelus com o Papa Francisco, 12/11/2023 (Vatican News)

Antes de rezar o Angelus neste 32º Domingo do Tempo Comum, o Papa Francisco refletiu sobre a parábola das dez virgens. Em sua alocução destacou a importância da vida interior que "não pode ser improvisada, não é uma questão de um momento; deve ser preparada dedicando um pouco de tempo todos os dias."

https://youtu.be/1k0AUdg3854

Thulio Fonseca – Vatican News

“Viver é isso: uma grande preparação para o dia das núpcias, quando seremos chamados a sair para encontrar Aquele que nos ama acima de tudo, Jesus!”

O exemplo da sabedoria e da imprudência, presente na parábola das dez virgens, chamadas a sair ao encontro do noivo, foi o tema da reflexão do Papa, no Angelus deste 32º Domingo do Tempo Comum. Ao dirigir-se aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça São Pedro, em um domingo frio de outono, Francisco iniciou dizendo que este “evangelho nos apresenta uma parábola que diz respeito ao significado da vida de cada um”. 

O Papa sublinha que, no texto presente no livro de São Mateus, cinco virgens são sábias e cinco imprudentes, e convida os fiéis a refletirem sobre estas duas características:

“Todas aquelas damas de honra estão lá para receber o noivo, ou seja, elas querem encontrá-lo, assim como nós também desejamos a realização de uma vida feliz: a diferença entre sabedoria e imprudência não está, portanto, apenas na boa vontade, tampouco na pontualidade com que chegam ao encontro: todos estão lá com suas lâmpadas, esperando. A diferença entre as sábias e as imprudentes é outra: a preparação.”

Francisco destaca que as sábias juntamente com as suas lâmpadas, levaram também óleo, e as imprudentes, por outro lado, não o fizeram: “Aqui está a diferença: o óleo. E qual é a característica do óleo? O fato de não poder ser visto: está dentro das lâmpadas, não é visível, mas sem ele as lâmpadas não iluminam”.

O cuidado com a vida interior

“Se olharmos para nós mesmos, perceberemos que nossa vida corre o mesmo risco: hoje estamos muito atentos às aparências, o importante é cuidar bem da nossa imagem e causar uma boa impressão diante dos outros. Mas Jesus diz que a sabedoria da vida está em outro aspecto: no cuidado com o que não podemos ver, mas que é mais importante, porque está dentro de nós. É o cuidado com a vida interior.”

Segundo o Papa, essa atenção implica em “saber como parar e ouvir o próprio coração, vigiar os pensamentos e os sentimentos". Significa saber abrir espaço para o silêncio, ser capaz de ouvir.”, e como um exemplo concreto cita um instrumento muito comum, o celular, e exorta principalmente os agentes pastorais:

“Significa saber abrir mão do tempo gasto em frente à tela do celular para olhar a luz nos olhos dos outros, no próprio coração, no olhar de Deus sobre nós. Significa, especialmente para aqueles que desempenham um papel na Igreja, não se deixar aprisionar pelo ativismo, mas dedicar tempo ao Senhor, à escuta de sua Palavra.”

É preciso dedicar tempo para a vida com Deus

“O Evangelho nos dá o conselho certo para não negligenciarmos o óleo da vida interior” continua Francisco, "o óleo da alma, que é importante prepará-lo.” E recordando o exemplo das virgens que haviam se preparado bem, destaca:

“Assim é para nós: a vida interior não pode ser improvisada, não é uma questão de um momento, de uma vez ou outra, de uma vez por todas; ela deve ser preparada dedicando um pouco de tempo todos os dias, com constância, como se faz para tudo o que é importante.”

O Pontífice, ao final de sua alocução convida os fiéis a uma reflexão:

“Podemos nos perguntar”, indaga Francisco, “o que estou preparando neste momento da vida? Talvez eu esteja tentando fazer algumas economias, esteja pensando em uma casa ou em um carro novo, em projetos concretos... Essas são coisas boas. Mas será que também estou pensando em dedicar tempo para cuidar do meu coração, da oração e do serviço aos outros, ao Senhor, que é a meta da vida? Enfim, como está o óleo da minha alma, estou nutrindo-o e mantendo-o bem?”

“Que Nossa Senhora nos ajude a conservar o óleo da vida interior”, concluiu o Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Onde nascem o pão e o vinho (4/4)

Onde nascem o pão e o vinho (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 11/2005

Onde nascem o pão e o vinho

Um ensaio do bispo emérito de Arezzo. A sociedade camponesa ainda mantém a sua originalidade e valor em comparação com o mundo das megacidades e da alta tecnologia?

por Giovanni D’Ascenzi

O risco de que o mundo rural fique reduzido à margem, ou quase submerso, foi denunciado diversas vezes com singular intuição por Pio XII há vinte e cinco ou trinta anos. Que o Papa nunca deixou de afirmar a necessidade de «preservar a sua fisionomia para a vida espiritual, social e económica do mundo rural, e garantir que tenha uma ação, se não preponderante, pelo menos igual a toda a sociedade humana» (ao participantes no Congresso Internacional sobre a vida rural, 2 de julho de 1951).

Pio XII viu profeticamente que tanto o capitalismo industrial como o marxismo negligenciaram o mundo rural, na verdade atacaram-no, pondo em perigo a sobrevivência da sua civilização. Não é de admirar, porque, em última análise, o capitalismo e o marxismo apostaram as suas cartas no desenvolvimento da indústria em detrimento da agricultura e nas concentrações urbanas, que oferecem massas de consumidores a um e massas de manobra ao outro.

O risco de que o mundo rural fique reduzido à margem, ou quase submerso, foi várias vezes denunciado com singular intuição por Pio XII. Que o Papa nunca deixou de afirmar a necessidade de «preservar a vida espiritual, social e económica do mundo rural a sua fisionomia, e garantir que ela tenha uma acção, se não predominante, pelo menos igual, em toda a sociedade humana»

Em comum perseguem o mito da produção e concebem o trabalho humano ao serviço da produção, pouco preocupados com o papel de responsabilidade e iniciativa que é garantido ao trabalhador. Daí o ambiente alienante das grandes fábricas (capitalistas ou socialistas), onde o trabalho é fragmentado e despersonalizado; daí a exploração imprudente dos recursos naturais; poluição do meio ambiente; finalmente, do ponto de vista socioeconómico, os desequilíbrios regionais, setoriais e sociais e o fenómeno da concentração urbana.

A preocupação com a economia e a concorrência ordena efetivamente as escolhas e os processos de produção, excluindo considerações éticas; o dever de trabalho, valor tradicional do mundo rural, dá lugar ao salário do trabalho; a colaboração interpessoal é substituída pelo conflito permanente entre classes. Neste ambiente, o espaço para a afirmação da pessoa e para os valores do espírito permanece modesto; em vez disso, o materialismo prático, o hedonismo e o ateísmo em massa florescem e prosperam ali.

O mundo rural moderno, embora reduzido a um “resto” de pequenas proporções e atacado pelas tensões e sugestões da civilização industrial, ainda apresenta condições socioambientais profundamente diferentes e vivencia uma forma diferente de viver e conviver. No mundo rural ainda prevalece o trabalho pessoal e responsável, onde quem o realiza se sente protagonista; as relações sociais são interpessoais, baseadas no conhecimento mútuo, abertas ao respeito, à amizade e à solidariedade. O homem rural sabe que na natureza existe uma ordem imanente, da qual ele próprio faz parte; esta ordem é complexa, delicada e o ser humano deve compreendê-la e preservá-la com respeito religioso. Em última análise, a concepção da vida e do cosmos dos povos rurais era uma concepção "sacral" ou melhor, ético-religiosa: esta, em última análise, ainda é a característica básica da sua civilização, o anúncio profético que proclama ao mundo urbano-industrial.

Deste caráter natural O intérprete religioso foi Paulo VI, falando aos agricultores italianos em 16 de novembro de 1969: «A agricultura tem um sentido de devoção e um sentido de comunhão: de devoção, antes de tudo, porque facilita o contato com Deus através do contato com a natureza viva, que carrega dentro de si a marca da onipotência criativa de Deus, e a manifesta em suas diversas formas animadas, nas quais pulsa a vida, tanto a dos seres vivos do mundo animal quanto a vida secreta de que secretamente fervilha a mãe terra, irrompendo em suas estupendas produções que são renovados todos os anos. O seu não é, portanto, um contacto com a natureza inerte e inanimada, com a matéria bruta, relutante e surda, que o homem deve dobrar para si com violência, com mecanicidade repetida e monótona, como acontece no mundo da indústria, que no entanto é digno do maior respeito. A agricultura tem então também o sentido da comunhão com os irmãos, porque está ao serviço e aproveitamento direto da vida corporal do homem, oferece à comunidade humana os elementos primordiais da sua subsistência física, as coisas boas que têm o antigo cheiro do pão e do vinho. , e que exigem também o suor do teu rosto e um cuidado assíduo e diligente, que também sabes dar com alegria e sabedoria. Estes valores sempre tiveram a sua eficácia, mas hoje mais do que nunca sentimos a necessidade deles, porque o mundo em que vivemos está dessacralizado, é árido, é egoísta, num coletivismo que é fruto de muitos isolamentos, mônadas e às vezes os inimigos uns dos outros; isto porque hoje o homem - como escreveu um digníssimo Pastor, escreveu o Cardeal Frings com uma análise penetrante - "já não se depara com a obra de Deus, mas com a dos homens que a ela se sobrepôs. É claro que isto tem repercussões decisivas em toda a sua atitude espiritual.

Na história da humanidade, o encontro com a natureza sempre foi uma das saídas mais vitais da experiência religiosa... Portanto, se o acesso à natureza for profundamente modificado ou completamente alterado, uma das fontes primordiais da realidade espiritual seca. O facto de o ateísmo dos tempos contemporâneos ter conseguido difundir-se, antes de mais, no ambiente técnico dos trabalhadores industriais, e aí se ter estabelecido da forma mais vigorosa, tem certamente várias explicações, a começar pelas injustiças cometidas pelo capitalismo inicial, mas uma das mais importante está aqui".

Poderá o mundo rural ter influência, mesmo do ponto de vista religioso, na civilização moderna? Não faltam condições favoráveis: a consciência generalizada de que o modelo de desenvolvimento económico seguido até agora não é o correto. As reservas de matérias-primas estão a diminuir e esgotar-se-iam em poucas décadas se todos os povos atingissem níveis médios de consumo semelhantes aos dos países industrializados do Ocidente. Da mesma forma, a poluição ambiental e as concentrações urbanas criam preocupações muito sérias e situações difíceis de governar; o campo, a serenidade do meio rural, o valor humano do trabalho agrícola são gradualmente redescobertos, através dos contatos multiplicados entre a cidade e o meio rural: o que pode favorecer um diálogo promissor; é necessário colocar o processo produtivo novamente ao serviço do homem e que o homem seja o protagonista; Há também a necessidade de recompor as relações entre classes em relações humanas, nas quais a justiça, a colaboração, a solidariedade dentro das empresas, entre os setores produtivos e entre os povos não sejam apenas palavras bonitas.

Propostas finais

Parece, portanto, que chegou o momento favorável para uma reavaliação do mundo rural, de modo a reconhecer o seu papel nos domínios económico, social e religioso da vida moderna e que agora parece estar colocado na sombra.

O primeiro pré-requisito para que esta função não permaneça apenas uma utopia estéril é a consciência deste papel por parte das próprias populações rurais, o que implica uma vasta ação educativa.
A consciência deve ser seguida do compromisso de viver em conformidade com a própria identidade: o que exige a mobilização das forças tradicionais e novas do mundo rural: a família, a Igreja, a escola, as organizações profissionais, económicas e políticas.

Terceiro momento: o mundo rural deve abrir-se ao diálogo com outras componentes sociais e à participação ativa na construção de uma sociedade diferente, aproveitando todas as oportunidades favoráveis ​​e utilizando todas as ferramentas possíveis. Isto é essencial, não só para salvar os valores civilizacionais de que o mundo rural é portador, mas também para evitar o achatamento de uma sociedade-civilização, caracterizada e dominada pelos processos de produção e pelas leis económicas da indústria.

São propostas que exigem análise e especificação aprofundadas: são confiadas ao debate esclarecido e apaixonado entre aqueles que têm experiência viva do mundo rural e dedicam a mente e o coração ao mundo rural.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF