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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A Idade Média foi “noite escura”?

Creative Commons

Por Veritatis Splendor - publicado em 14/03/17

Leia isso antes de discutir com aquelas pessoas que acham que a Igreja é culpada por todos os problemas da humanidade...

A Idade Média é por vezes considerada qual «noite de mil anos» que se abateu sobre a civilização, constituindo, pela barbárie e ignorância de seus homens, verdadeira mancha no decorrer da História.

É o que, conforme alguns autores, a própria designação «Idade Média» deveria incutir. Esta foi forjada pelos humanistas do séc. XVI, que com tal denominação queriam caracterizar o período da língua latina, que vai da idade clássica antiga ao Renascimento da mesma, no séc. XVI. Entre duas épocas áureas estaria [então] uma fase intermediária ou «média», fase apagada ou decadente na História do idioma latino.

Em 1688, o historiador alemão Cristóvão Keller (Cellarius) na sua «Historia Medii Aevi» (=”História da Idade Média”) adotou pela primeira vez o nome no setor da História da Civilização, o que dava a entender que o período decorrente entre a Idade Antiga e a Renascença foi igualmente uma época apagada e decadente.

Nem todos os autores, porém, concordaram com tal modo de ver…

O historicismo do século passado tinha a Idade Média na conta de período cheio de realizações construtivas.

Vejamos o que há de objetivo nestas diversas apreciações.

1) O período Antigo ou Greco-Romano da civilização termina com a ruína do Império Romano, o qual cedeu aos golpes das invasões bárbaras (Roma caiu em 476). A Europa e a África Setentrional foram ocupadas pelos germanos invasores que, após haver derrubado as instituições antigas, eram incapazes de construir a vida social, pois careciam de valores culturais correspondentes. Ora, tendo desaparecido a figura do Imperador no Ocidente, a única autoridade capaz de tomar as rédeas da situação europeia dos séculos V/VII era a autoridade eclesiástica: o Papa, então, os bispos e os monges se puseram a preservar da perda total os valores da civilização greco-romana, utilizando-os na confecção de nova síntese cultural.

Não há dúvida de que a Religião Católica foi altamente benemérita neste trabalho de reconstrução; criaram-se valores e instituições de vulto no início e no decurso da Idade Média. Detendo-nos apenas na história da educação e da cultura, devemos mencionar que foram os clérigos e monges que asseguraram o ensino primário nas escolas catedrais, monacais e palatinas (isto é, erguidas respectivamente junto a uma igreja catedral, a um mosteiro, a um palácio de rei).

Eis alguns documentos a propósito:

Teodulfo, bispo de Orléans no séc. VIII, promulgou a seguinte lei:

– “Os sacerdotes mantenham escolas nas aldeias, nos campos. Se qualquer dos fiéis lhes quiser confiar os seus filhos para aprender as letras, não os deixem de receber e instruir, mas ensinem-lhes com perfeita caridade. Nem por isto exijam salário ou recebam recompensa alguma, a não ser por exceção, quando os pais voluntariamente a quiserem oferecer por afeto ou reconhecimento” (Sirmond, Concilia Galliae 2,215).

Este decreto passou verbalmente para as legislações eclesiásticas da Inglaterra. Frequentemente os Concílios regionais dos séc. VIII/IX repetiram semelhantes normas. O III concilio ecumênico do Latrão em 1179, por sua vez, lavrou o seguinte cânon:

– “A Igreja de Deus, qual mãe piedosa, tem o dever de velar pelos pobres aos quais, pela indigência dos pais, faltam os meios suficientes para poderem facilmente estudar e progredir nas letras e nas ciências. Ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se proveja um benefício (rendimento) conveniente a um mestre, encarregado de ensinar gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres” (cân. 18, Mansi 22,227-228).

Também o ensino superior na Idade Média se ministrava por iniciativa, ou ao menos sob a tutela, de bispos e príncipes cristãos. As primeiras Universidades foram fundadas por volta de 1100. Constituem uma das criações mais originais e valiosas da Idade Média: no período greco-romano cada filósofo e cada mestre de ciências tinham sua escola — o que implicava justamente no contrário de uma Universidade. Esta, na Idade Média, reunia mestres e discípulos de várias nações, os quais constituíam poderosos focos de erudição.

Até 1440, foram erigidas na Europa 55 Universidades e 12 Institutos de Ensino Superior, onde se ministravam cursos de Direito, Medicina, Línguas, Artes, Ciências, Filosofia e Teologia. Em 1200, Bolonha contava dez mil estudantes (italianos, lombardos, francos, normandos, provençais, espanhóis, catalães, ingleses, germanos etc.). O Papa Clemente V, no Concílio de Viena, em 1311, mandou que se instaurassem nas escolas superiores cursos de línguas orientais (hebreu, caldeu, árabe, armênio etc.), o que em breve foi executado em Paris, Bolonha, Oxford, Salamanca e Roma.

Poder-se-iam multiplicar dados deste gênero. Estes, porém, já dão a ver que a Idade Média não foi alheia à cultura, justamente em virtude da influência da Igreja que nela se exerceu.

2. É preciso, porém, reconhecer uma particularidade da ciência medieval: os homens da época careciam do aparato técnico necessário a experiências e investigações precisas; o seu horizonte geográfico e astronômico também era bastante restrito. Sendo assim, a ciência medieval era levada não raro a julgar os fenômenos segundo a sua aparência e pouco habilitada a exercer o senso crítico.

Outra consequência da penúria de meios de observação é que os cientistas medievais procediam por dedução mais do que por indução; não podendo formular as leis da natureza na base de experiências exatas físico-químicas, os medievais as formulavam recorrendo a princípios especulativos, abstratos, dos quais julgavam poder deduzir a explicação dos fenômenos da natureza. Este trabalho, porém, era em alta escala sujeito a erro: os medievais não raro julgavam (e nisto se enganavam) que a Bíblia Sagrada podia ser utilizada para elucidar não somente questões teológicas, mas também temas de ciências profanas, de sorte que, na falta de outros critérios, apelavam para a Escritura a fim de resolver problemas de ordem biológica, astronômica etc. (haja vista o que ainda no séc. XVII se deu no caso «Galileu», do qual trata o artigo “O caso de Galileu”).

Deve-se sublinhar que tal atitude se devia em grande parte à falta de instrumentos precisos para a investigação da natureza (falta bem compreensível na Idade Média, já que o homem só aos poucos progride na conquista do mundo que o cerca). Não seria justo dizer que os cristãos medievais tinham medo da ciência empírica e que as autoridades eclesiásticas travavam os estudos a fim de evitar conflitos de Ciência e Fé; entre os pioneiros dos avanços científicos medievais contam-se eclesiásticos, monges e cristãos de valor, como Santo Alberto Magno (op), Rogério Bacon (ofm), João Peckam (ofm; arcebispo de Cantuária), Dietrich de Freiberg (op), Jordão Nemorário, Guilherme de Moerbeke (op)…

Muito significativo é um dos últimos depoimentos sobre o assunto, proferido em 1957 por um grupo de estudiosos que, sem intenção confessional alguma, escreveram a História da Ciência Antiga e Medieval:

– “Parece-nos impossível aceitar a dupla acusação de estagnação e esterilidade levantada contra a Idade Média latina. Por certo, a herança (cultural) antiga não foi totalmente conhecida nem sempre judiciosamente explorada; (…) mas não é menos verdade que de um século para outro — mesmo de uma geração a outra dentro do mesmo grupo — há evolução e geralmente progresso. A Igreja (…) na Idade Média salvou e estimulou muito mais do que freou ou desviou. Por isso, embora só queira apelar para a Antiguidade, a Renascença é realmente a filha ingrata da Idade Média” (“La Science Antique et Médiévale”, sob a direção de René Taton, Presses Universitaires de France, Paris, 1957, pp.581-582).

Em particular, com referência ao fato de que só a partir de fins do séc. XIII se começaram a fazer dissecações e observações em cadáveres humanos, dizem os mencionados estudiosos:

– “Como quer que seja, não se poderia aceitar a opinião um tanto simplista segundo a qual a Igreja teria sido ‘a grande responsável da estagnação dos estudos de anatomia’” (ibidem, p.580).

Estes testemunhos tão insuspeitos levam a concluir que as crenças cristãs dos homens medievais não prejudicaram a cultura humana; antes, a favoreceram – apesar das consequências errôneas que em matéria de ciências os medievais julgavam por vezes dever deduzir da sua fé.

Dê o observador muito maior atenção a outra faceta da cultura medieval: a capacidade humana de especulação filosófica parece ter atingido então o auge de sua clareza e agudez, criando as famosas Sumas de Lógica, Ontologia e Metafísica da Idade Média. Estas obras, continuando as dos grandes pensadores gregos (principalmente de Aristóteles), até hoje são monumentos perenes, não ultrapassados, da cultura humana.

É, sem duvida, este aspecto positivo que merece preponderância numa apreciação objetiva da Idade Média.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Santo Alberto Magno

Santo Alberto Magno (A12)

15 de novembro

Santo Alberto Magno

Nascido em 1193, na Alemanha, Alberto pertencia a uma família de tradição militar. Piedoso desde a infância, cedo interessou-se pelos estudos e pela ciência. Aos 16 anos, foi para a Universidade de Pádua onde completou os estudos superiores.

Em 1229, tornou-se frade dominicano, de conduta modelar, e em 1254 foi eleito superior provincial na Alemanha. Para visitar os conventos, viajou a pé por grande parte da Alemanha, vivendo de esmolas. Fundou vários conventos, além de renovar os já existentes; em 1260 foi nomeado Bispo, ocupando o cargo somente por três anos e depois retornando ao mosteiro. Em 1274 teve participação decisiva na união da Igreja grega com a latina, no Segundo Concílio de Lião.

Alberto distinguiu-se como um homem da ciência. Cultivou de forma eminente as ciências naturais, junto com a Filosofia e a Teologia: abordou todo o conhecimento da época, e o ampliou, dominando a física, química, astronomia, meteorologia, mecânica, arquitetura, mineralogia, zoologia, botânica, e também a artes práticas da tecelagem, navegação, agricultura, etc. Suas obras escritas sobre tais temas somam mais de 22 grossos volumes. Seu conhecimento universal e profundo rendeu-lhe, ainda em vida, o título de Magno.

De fato, foi grande em tudo o que fez – frei dominicano, pregador eloquente, magistral professor das ciências naturais e das doutrinas da fé (lecionou em vários conventos e universidades, especialmente na de Paris, onde tinha milhares de alunos – entre eles São Tomás de Aquino – de forma que as aulas tinham que ser em praça pública), escritor, fundador, Bispo. Por isso o Papa Pio XI lhe deu o título de Doutor da Igreja e o declarou patrono dos estudiosos das ciências naturais.

Embora profundo observador e amante da natureza, escrevia que “Minha intenção última está na ciência de Deus”. Por isso permaneceu, coerentemente, humilde em meio às aclamações do mundo científico e ovações dos discípulos, amigo da oração, com grande amor a Jesus na Eucaristia e à Nossa Senhora. Sua vida foi inteiramente consagrada a Deus, por via da ciência e da santidade. Faleceu em 15 de novembro de 1280 e, 50 anos depois da sua morte, seu corpo foi encontrado incorrupto.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A partir da Criação, pode-se chegar à noção de Deus, como ensina São Paulo (cf. Rm 1, 18-23). A Ciência, a Razão e a Fé, oriundas do mesmo e único Deus, são caminhos que se complementam harmoniosamente e conduzem a Deus, não sendo possível a oposição entre eles (como muitos errônea e, até mesmo absurdamente, propõem). A perfeição de tudo o que existe, incluindo a perfeição das relações entre tudo o que foi criado, procede do Criador, e São Alberto Magno, cultivando sem soberba o conhecimento das obras de Deus, caminhou para a santidade reconhecendo a obra do Pai e transmitindo amorosamente este conhecimento.

Oração:

Deus, Criador e Pai amoroso, dá-nos a graça de, como São Alberto Magno, buscarmos o conhecimento e a vivência da “ciência de Deus”, na humildade e no serviço ao próximo, para fazermos jus à beleza com que nos criastes, nesta vida e especialmente na Paraíso infinito que para nós preparastes. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Vossa Mãe a Virgem Maria. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 14 de novembro de 2023

A incrível história da santa que foi mãe de um Papa

Public Domain

Por Anne Bernet - publicado em 13/11/23

Conheça a história de vida da padroeira das mães dos sacerdotes e dos que rezam pelas vocações.

Santa Sílvia, celebrada no dia 3 de novembro, teve sua memória acrescentada ao calendário da Igreja no século XVII, quase 1.200 anos após sua morte. Sabemos muito pouco sobre ela, mas o pouco que sabemos é suficiente para justificar o fato de ela ter ganhado a glória do altar.

Descendente de uma antiga família cristã

Quando Sílvia se casou com seu primo distante, o senador Gordiano, em Roma, por volta do ano 538, ela devia ter 18 ou 20 anos. Ambos pertenciam a uma família patrícia muito antiga, os Acilii Glabriones, os últimos descendentes da aristocracia republicana. 

Seu avô, o cônsul Marcus Acilius Glabrio, havia se convertido ao cristianismo já no ano 70. Morreu por Cristo em 83, por negar os deuses pagãos.

A família permaneceu firme defensora da Igreja. É por isso que não emigraram para Constantinopla, como fizeram quase todos os patrícios no século IV. Preferiram o humilde serviço de Deus e o papado sob perseguição às grandes carreiras políticas e militares da corte imperial.

Servindo à família e a Deus

Quando se casou com Gordiano, Sílvia sabia que o casamento deles – como era prática em famílias muito piedosas – duraria pouco tempo. Depois que ela tivesse assegurado o futuro da família dando dois filhos ao marido, o casal se separaria para “viver no santo propósito”, ou seja, ambos entrariam no serviço de Deus.

Esta escolha, que nos parece surpreendente, era comum na época. Existiam verdadeiras famílias sacerdotais, com homens casados ​​e com filhos separando-se das esposas e adotando o celibato e tornando-se padres, bispos e até papas. Seus filhos, muitas vezes, seguiram seus passos. Na verdade, Gordiano era tataraneto de Félix III.

Sílvia também sabia que estava apostando no futuro, pois os tempos eram ruins no século VI. Foi tão difícil que algumas pessoas, pensando que o fim do mundo era iminente, recusaram-se a casar e a ter filhos. Este não foi o caso do jovem casal, que se instalou na vasta casa de família no Monte Célio, em Roma. Eles levaram a vida típica de seu meio, entre as obrigações mundanas, a oração e a caridade.

Ela deu à luz dois filhos: Gregório em 540, depois de um primeiro cujo nome não sabemos. Depois disso, Gordiano e Sílvia desistiram da vida de casados, embora continuassem a viver na mesma propriedade, grande o suficiente para evitar a tentação. A jovem retirou-se para o que ficaria conhecido como “oratório de Santa Sílvia” e mais tarde para a igreja de Santa Sílvia.

Amor materno, espelho do amor divino

Como exemplo de amor maternal, Gregório um dia contaria esta anedota. Quando menino, enquanto brincava na beira de uma janela de um andar alto, sua mãe o pegou quando ele estava prestes a cair. Primeiro, ela instintivamente deu-lhe um tapa de terror por ele ter colocado sua vida em perigo descuidadamente, depois, chorando de alívio, ela desesperadamente o segurou perto dela e o cobriu de beijos. Esta memória serviu para ilustrar o amor divino que, como o de uma mãe, não se altera pela correção necessária.

Sílvia era muito apegada ao frágil filho mais velho, que sofreu graves problemas de estômago desde cedo e acabou morrendo. Ela zelou pela dieta dele, banindo frutas e vegetais fertilizados com estrume e potencialmente tóxicos, comprados no mercado. Em vez disso, ela o alimentava apenas com produtos da horta da família, que ela cuidava com amor.

Padroeira de todas as mães de sacerdotes

Confidente de seu filho sobrevivente, Gregório, ela sabia que, depois de um desgosto juvenil, ele não queria se casar e estava considerando o sacerdócio. Seu pai, Gordiano, não aprovou e empurrou Gregório para uma carreira política. Ele se destacaria na política, tornando-se o último grande prefeito da cidade e um destacado administrador. Esse treinamento lhe seria de grande utilidade quando se tornasse papa e enfrentasse as piores dificuldades.

Sem dúvida foi Sílvia quem implorou ao marido que deixasse o filho seguir o seu próprio caminho. Somente em 575, após a morte de seu pai, Gregório conseguiu renunciar ao cargo e fundar um mosteiro na propriedade da família. Sílvia morreu ali, talvez em 592.

Se isso for verdade ela pode ter tido a alegria de assistir à coroação pontifícia de seu filho, que se tornou papa em 3 de setembro de 590. Porém, isso não é conhecido com certeza. O certo é o amor filial do Sumo Pontífice, que mandou pintar os retratos dos seus pais na igreja do seu mosteiro Sant’Andrea al Celio.

O Papa São Gregório Magno legou-nos assim a imagem da sua mãe forte, piedosa, abandonada à Providência, que soube ajudá-lo na sua vocação sacerdotal. Como tal, Santa Sílvia é a padroeira de todas as mães de sacerdotes, bem como daqueles que se dedicam a ajudar os sacerdotes e a rezar pelas vocações.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Da Homilia de um Autor do século segundo

Sacramento da Penitência (Comunidade Olhar Misericordioso)

Da Homilia de um Autor do século segundo

(Cap.8,1-9,11: Funk 1,153-157)

A penitência de um coração sincero

Enquanto estamos aqui na terra, façamos penitência. Com efeito, somos argila na mão do artífice. Se o oleiro, tendo feito um vaso, e, em suas mãos, este se entorta ou quebra, de novo torna a fazê-lo. Se, porém, se decidiu a pô-lo no forno, nada mais há que fazer. Assim também nós, enquanto estamos no mundo e temos tempo, façamos, de coração, penitência pelos pecados cometidos, para sermos salvos pelo Senhor.

Porque depois de sairmos do mundo já não mais poderemos reconhecer os nossos pecados nem fazer penitência. Por este motivo, irmãos, se fizermos a vontade do Pai, mantivermos casto nosso corpo e guardarmos os preceitos do Senhor, alcançaremos a vida eterna. O Senhor disse no evangelho: Se não fordes fiéis no pouco, quem vos confiará o muito? Pois eu vos digo: quem é fiel no pouco também será fiel no muito (cf. Lc 16,10-11). Quis dizer: Guardai casto o corpo e imaculado o caráter, para que sejamos dignos de receber a vida.


E ninguém venha dizer que a carne não será julgada nem ressurgirá. Confessai: em que fostes salvos, em que recobrastes a vista, se não foi vivendo ainda nesta carne? Convém-nos, portanto, proteger a carne como templo de Deus. Tal qual fostes chamados no corpo, assim no corpo ireis. Cristo Senhor, que nos salvou, era antes só espírito e fez-se carne e assim nos chamou. Do mesmo modo também nós receberemos a recompensa neste corpo. Amemo-nos, pois, uns aos outros, para entrarmos todos no reino de Deus. Enquanto temos tempo de ser curados, entreguemo-nos a Deus médico, dando-lhe a paga. Que paga? A penitência brotada de um coração sincero. Com efeito, ele prevê todas as coisas e conhece o que se passa em nosso íntimo. Louvemo-lo, pois, não só de boca, mas de coração, para que nos receba como filhos. De fato o Senhor disse: Meus irmãos são aqueles que fazem a vontade de meu Pai (cf. Lc 8,21s).

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

História da Igreja: “Agora isso mostra” (2/3)

Máquina Quarantore de Gian Lorenzo Bernini na Capela Paulina, com o Santo Padre em adoração diante do Santíssimo Sacramento, em gravura de Francesco Piranesi (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 09-2007

“Agora isso mostra”

Le Quarantore: uma tradição que é há séculos, juntamente com a festa do Corpus Domini , a expressão mais importante da piedade popular para com a Eucaristia na vida da Igreja. As memórias dos cardeais Fiorenzo Angelini e Giovanni Canestri

por Giovanni Ricciardi

«A memória do Quarantore me leva a um dos momentos mais belos e difíceis da minha vida sacerdotal, o da guerra», diz Canestri. «Em 1941 fui designado vice-pároco da paróquia de San Giovanni Battista de Rossi, na Via Appia. O pároco Dom Marcello, verdadeiro romano, da Piazza Fontana di Trevi, já havia introduzido com grande fervor esta tradição, que ele acalentava desde o tempo em que, ainda criança, sua mãe o levava para visitar o Santíssimo Sacramento naquele dia. ocasião especial. E eu mesmo permaneci ligado a isso, mesmo quando me tornei pároco no distrito de Ottavia e depois em Casalbertone”. Perguntamos-lhe como se dava esta prática: «A estrutura era simples. Começou pela manhã com uma missa solene ao final da qual foi exposta a Eucaristia e permaneceu continuamente no altar até a conclusão igualmente solene. Muitas vezes, à noite, um pregador era convidado para falar ao povo e os padres estavam disponíveis para ouvir confissões. Foi um momento em que a vida espiritual da paróquia foi renovada. Ele foi uma grande ajuda para todos." A tradição, recorda ainda Dom Canestri, envolveu toda a cidade ao longo do ano: «Havia uma verdadeira organização a nível diocesano. Cada igreja teve sua vez. Em muitas igrejas de Roma havia cartazes exibindo o calendário anual do Quarantore nas diversas paróquias. A maior parte ficou com as igrejas do centro, onde a exposição foi ininterrupta e durou até altas horas da noite, enquanto aqui, por exemplo, a igreja fechava às nove. Existiam associações de fiéis, confrarias e grupos que competiam para garantir a presença diante de Jesus na Eucaristia a qualquer hora. Os altares e bancos foram decorados para a ocasião e houve livrinhos em italiano para incentivar a meditação pessoal e a oração comunitária diante do Santíssimo Sacramento. Foram anos muito lindos. Aí me interessei pelas crianças e vi as mães empalidecendo para não deixar faltar aos filhos o necessário. A igreja estava enchendo. Don Marcello ajudou as pessoas do bairro de uma forma extraordinária. Em determinados horários distribuíamos 8 mil sopas por dia. Quando começamos a sentir-nos melhor, tentei organizar uma festa em homenagem ao pároco, para lhe agradecer em nome de todos o bem que tinha feito. Nunca tinha pensado nisso… ele ficou muito bravo! “Essas coisas não são feitas em Roma”, ele me disse. “Faça o bem e depois esqueça.” Não foram necessárias palavras, bastaram os gestos, como quando a Eucaristia foi exposta, foi a mesma coisa. Bastou colocar alguns dias antes algumas toalhas brancas especiais e tirar aquele lindo ostensório de madeira que Dom Marcello mandou esculpir pelos mestres de Val Gardena. Isso foi tudo. Depois vieram outros problemas. Depois da guerra, os romanos começaram a fugir do centro e isso enfraqueceu a prática do Quarantore, que, como disse, tinha o seu ponto forte no centro da cidade. E até mesmo a organização diocesana desapareceu gradualmente”. Perguntamos-lhe se houve também outros motivos que levaram a negligenciar esta devoção: «Talvez, aos poucos, prevaleceu a ideia de que são necessárias muitas palavras para fazer o trabalho pastoral. Mas não é assim. O dia em que os aliados chegaram a Roma foi um domingo de junho. Ouvimos atentamente as notícias no rádio. A certa altura, espalhou-se a notícia de que os americanos já estavam em Ciampino. Nesse momento, o telefone toca. Havia um doente na Ápia que pedia um padre. Saí com pressa, tentei me apressar. Mas eu tinha lido um livro que dizia que não convém dizer imediatamente ao doente: “Quer confessar?”. E então entro nesta casa, faço uma longa frase, conto a história dos grandes acontecimentos daquelas horas. Sempre me lembrarei desse velho sério, mas lúcido, que me olhava perplexo. A certa altura, ele deixou escapar: “Mas o que me importa os aliados? Quero confessar!". Eu tinha vinte e cinco anos, mas nunca esqueci essa lição. É o sacramento que conta. O Quarantore sugeriu isso."

Fiorenzo Angelini: «Foram um dos momentos centrais da vida espiritual do povo. Houve pontos altos de espiritualidade, até muito populares; você poderia encontrar pessoas sem instrução lá, mas não ignorantes. Minha mãe, por exemplo, que certamente não sabia nada de teologia, mas raciocinava muito mais que eu. Todas as noites, nas paróquias de Roma, quando havia uma bênção e os sinos tocavam, ela me dizia: “Agora vamos mostrar!”. E ele parou, o que quer que estivesse fazendo."

Fonte: https://www.30giorni.it/

Cop 28, Francisco pede oração e agradece à Plataforma Laudato si'

Seca severa na Amazônia brasileira afeta 633.000 pessoas e 62 cidades (ANSA)

Após a oração mariana do Angelus, o Papa recorda os dois anos da iniciativa promovida pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. E, olhando para a próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Dubai, Francisco encoraja a continuação do caminho de conversão ecológica.

Vatican News

No final da oração do Angelus, Francisco recordou o lançamento, há dois anos, da Plataforma de Ação Laudato Si', que oferece ferramentas úteis para o cuidado da nossa Casa Comum. A iniciativa, coordenada pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, é um espaço compartilhado no qual a Igreja desenvolve respostas à crise ecológica, ilustrada com tanta urgência pelo Papa na encíclica Laudato si' e, mais especificamente, na recente Laudate Deum. Em particular, a plataforma fornece orientação, sugere ações e dá apoio a famílias, paróquias, dioceses, instituições educacionais, unidades de saúde, organizações, trabalhadores, empresas e até mesmo comunidades religiosas.

"Agradeço àqueles que aderiram a essa iniciativa e encorajo-vos a continuar no caminho da conversão ecológica."

O convite para rezar pela conferência sobre as mudanças climáticas

Francisco pede então, "nesse sentido", que se reze pela Conferência sobre Mudança Climática, Cop 28, que reunirá líderes mundiais em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 30 de novembro a 12 de dezembro, para chegar a um acordo sobre políticas para limitar o aumento da temperatura global e considerar os impactos associados à mudança climática. A conferência também contará com a presença do Papa, que fará um discurso em 2 de dezembro. O Papa, conforme anunciado em 9 de novembro, viajará para os Emirados Árabes Unidos de 1 a 3 de dezembro e, além de participar da Cop28, terá reuniões bilaterais privadas e inaugurará o "Pavilhão da Fé" na Expo City, projetado para inspirar ações mais concretas para conter as mudanças climáticas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Hoje é dia de São José Pignatelli, restaurador dos jesuítas

São José Pignatelli (ACI Digital)

Hoje (14) é dia de São José María Pignatelli, jesuíta nascido em Zaragoza, Espanha, em 1737. De família italiana, era filho de Antonio Pignatelli de Aragão, príncipe do Sacro Império Romano Germânico.

Ingressou na Companhia de Jesus e se dedicou inicialmente à catequese de crianças e presos. Em 1767, quando os jesuítas foram expulsos da Espanha e de seus territórios por ordem do rei Carlos III, foi oferecida ao padre José Pignatelli e seu irmão – também jesuíta – autorização para permanecer em território espanhol com a condição de que renunciem à Ordem.

Os irmãos não aceitaram a proposta e preferiram o exílio, por isso foram expulsos para a ilha de Córsega.

Eles permaneceram lá por um tempo, até que as forças militares francesas invadiram a ilha e ambos foram novamente exilados. Em 1773, o papa Clemente XIV, sob pressão da coroa espanhola e seus aliados europeus, emitiu um decreto suprimindo a Companhia de Jesus.

Como consequência, cerca de 23 mil jesuítas foram obrigados a deixar seus respectivos conventos e mosteiros. São José Pignatelli, junto com seus companheiros, cumpriram a ordem pontifícia e viveram na clandestinidade nos 20 anos seguintes.

Depois, o santo, com a permissão do papa Pio VI, juntou-se aos jesuítas na Rússia e com a ajuda deles começou a reorganizar a Companhia na Itália. O seu principal empenho era dirigido às novas vocações, que enviava à Rússia para a sua formação e preparação.

Quando chegou a hora, o superior provincial jesuíta na Rússia o nomeou provincial na Itália, com a aprovação do papa Pio VII. Assim, a comunidade começou a renascer, ainda que lentamente e em segredo. O santo rezou e trabalhou incansavelmente para que a Companhia de Jesus se fortalecesse.

Em 1804, seus esforços deram frutos: o reino de Nápoles aceitou o retorno dos jesuítas expulsos.

Pouco tempo depois, com a generosa ajuda de muitas famílias europeias, Pignatelli conseguiu reabrir vários conventos jesuítas em Roma, Palermo, Orvieto e Sardenha. Em 15 de novembro de 1811, antes que a Companhia de Jesus pudesse ser restabelecida, o padre José morreu.

Em 7 de agosto de 1814, o papa Pio XI decretou a restituição da Companhia de Jesus em todo o mundo.

Fonte: https://www.acidigital.com/

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

História da Igreja: “Agora isso mostra” (1/3)

Máquina Quarantore de Gian Lorenzo Bernini na Capela Paulina, com o Santo Padre em adoração diante do Santíssimo Sacramento, em gravura de Francesco Piranesi (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 09-2007

“Agora isso mostra”

Le Quarantore: uma tradição que é há séculos, juntamente com a festa do Corpus Domini , a expressão mais importante da piedade popular para com a Eucaristia na vida da Igreja. As memórias dos cardeais Fiorenzo Angelini e Giovanni Canestri.

por Giovanni Ricciardi

Quando, antes do Concílio, ainda não existia a missa vespertina, nas igrejas, à noite, havia a chamada “função”: rosário, exposição do Santíssimo Sacramento, bênção eucarística. A vida das paróquias foi marcada todos os dias por este momento de adoração. Mas o culto eucarístico durante o ano atingiu o seu auge com a celebração das “Quarenta Horas”.

Hoje, pelo menos para os mais novos, este nome pode significar nada ou quase nada. Talvez alguém se lembre de uma cena do filme de Luigi Magni, Fique bem se puder , em que São Filipe Neri faz as crianças do Oratório se ajoelharem diante do Santíssimo Sacramento, iniciando esta exposição solene e prolongada da Eucaristia - que poderia durar quarenta horas de cada vez, noite e dia, ou, mais normalmente, três dias consecutivos, da manhã à noite – o que durante séculos representou um momento fundamental da piedade cristã. E é verdade que Filipe foi um dos mais incansáveis ​​propagadores desta prática em Roma.

As origens do Quarantore, no entanto, devem ser procuradas em Milão, na década entre 1527 e 1537. Mesmo antes disso, existiam formas particulares de oração e jejum que eram praticadas sobretudo durante a Semana Santa, de quinta a sábado, em memória das quarenta horas passadas por Jesus no túmulo, segundo um cálculo que remonta a Santo Agostinho. Mas nos anos do terrível saque de Roma, sob ameaça de guerra e de peste, estas práticas também foram celebradas noutras épocas do ano, até que em 1534 o eremita Irmão Buono da Cremona pediu e obteve autorização para participar na oração. do Quarantore a exposição ininterrupta do Santíssimo Sacramento. Três anos depois, a ideia foi retomada por Santo António Maria Zaccaria, fundador dos Barnabitas, que propôs expor a Eucaristia nesta forma na Catedral e depois, sucessivamente, em todas as igrejas de Milão. A aprovação do Papa Paulo III, com o breve de 28 de agosto de 1537, teve como efeito difundir rapidamente a prática em toda a Itália, sobretudo graças à obra dos Capuchinhos, primeiro, e depois dos Jesuítas. Os Quarantores chegaram a Roma em 1548 e foram cada vez mais recomendados pelos pontífices, até à encíclica Graves et diuturnae com a qual Clemente VIII, em 1592, exortou o povo a celebrá-los em todas as igrejas da cidade para evitar as guerras religiosas que então se travavam. furioso na França. A vontade de tornar o momento o mais festivo e solene possível levou à criação de verdadeiras “cenografias” destinadas à exposição do Santíssimo Sacramento, que tiveram grande influência no desenvolvimento posterior da arte barroca.

Mas não é necessário regressar à Roma do "Pippo bono" para encontrar provas de uma tradição que existe há séculos na vida da Igreja, juntamente com a festa do Corpus Domini, a expressão mais importante da piedade popular para com a Eucaristia. Da Itália o Quarantore espalhou-se rapidamente por toda a Europa, chegando aos Estados Unidos em meados do século XIX. A tradição manteve-se muito viva até depois da Segunda Guerra Mundial e dos anos do Concílio, perdendo então importância, mas sem nunca desaparecer completamente. Conversamos sobre isso com dois membros do Sacro Colégio profundamente ligados a Roma, o primeiro por nascimento, Fiorenzo Angelini, o segundo por “adoção”, Giovanni Canestri. E isto porque, recorda o cardeal Canestri, «os anos quarenta em Roma sempre foram vividos, muito mais do que em outros lugares, com particular intensidade e fervor».

Giovanni Canestri: «A estrutura era simples. Começou pela manhã com uma missa solene ao final da qual foi exposta a Eucaristia e permaneceu continuamente no altar até a conclusão igualmente solene. Muitas vezes, à noite, um pregador era convidado para falar ao povo e os padres estavam disponíveis para ouvir confissões. Foi um momento em que a vida espiritual da paróquia foi renovada. Ele foi uma grande ajuda para todos"

Fonte: https://www.30giorni.it/

A atualidade do Apocalipse

Cordeiro de Deus (FASBAM)

Por Pe. Jean Steferson Pereira

A ATUALIDADE DO APOCALIPSE

O livro do Apocalipse é um livro atual. Sua mensagem não ficou nem deve ficar esquecida nos longos anos  que passaram desde sua composição. Encerrando as Sagradas Escrituras, este livro quer justamente "gritar" a todos os crentes que Cristo já nos salvou e que somente nele poderemos encontrar a salvação; quer também anunciar aos não crentes que a oposição a Deus trará abandono e morte eterna.

A revelação do Apocalipse acontece no tempo da Igreja. Não chegará um dia ou momento específico quando acontecerá o que foi profetizado, mas essas coisas já estão acontecendo. Na linguagem teológica, "vivemos um já e ainda um não". Cristo iniciou sua obra salvadora em sua Páscoa e terminará a consumação do Reino de Deus no final dos tempos, em sua vinda definitiva.

Com essa consciência, caro catequista, é que iremos concluir nossos estudos sobre o Apocalipse, aqui na nossa revista Ecoando.

O livro do Apocalipse é um livro atual

Muitas pessoas leem esse livro e sentem um incômodo, achando que o mundo irá acabar amanhã mesmo. Outras nem o leem, pois não querem passar por esse sentimento de medo. No entanto, uma compreensão mais apurada do assunto, como propomos ao longo deste estudo, mostra que já vivemos esse "Dia do Senhor", já estamos experimentando o "julgamento". Por isso, a mensagem do Apocalipse é atual, pois está acontecendo agora, no hoje de nossas vidas.

Mas por que. então, o apelo à chegada dessa hora ou desse dia? Por que carregar a mão imagens e expressões de urgência, de consumação dos tempos? A intenção do autor é dar importância ao momento atual, cobrar responsabilidade de quem tem o hoje em suas mãos. Se o tempo é curto, se tudo tende para o seu fim, a hora é agora. Assim, mais que dar medo, causar pavor, a mensagem apocalíptica quer nos encorajar a viver o presente; quer nos engajar na vivência de uma fé autêntica, como a de Jesus e de suas testemunhas; quer suscitar em nós o fervor de uma vida comprometida com o Senhor.

A revelação do Apocalipse acontece no tempo da Igreja

A Igreja está no mundo como sinal divino. Ela existe para atualizar a presença de Deus na história. Como a realidade histórica é marcada pelo pecado e pelas forças do mal, a comunidade que dá testemunho do Cordeiro imolado, a Igreja, precisa romper com a realidade e inaugurar um novo tempo, a era do mundo de Deus e dos seus escolhidos.

Esse novo tempo já foi iniciado com a morte-ressurreição de Jesus, mas tende à sua completude no final dos tempos, na manifestação gloriosa de Cristo. Esse tempo entre a ressurreição e a parusia, que é manifestação universal do Reino de Deus, é o tempo da Igreja. Ela caminha no mundo, mas tende para o céu; está comprometida com esta realidade passageira, mas caminha para a vida eterna.

É neste sentido que entendemos a proposta apocalíptica: não é o fim de uma era, o fim de um tempo cronológico, mas é a passagem do mundo que passa para o mundo que não passa, de um mundo limitado para a vida eterna. A isso chamamos esperança cristã.

O Apocalipse nos convida a viver a esperança

Para concluir nosso estudo, vamos agora buscar no livro do Apocalipse, a força necessária para enfrentarmos as dificuldades da vida, encorajados pela fé cristã. Que possamos, assim, renovar nossa esperança e caminhar por este mundo com os olhos voltados para o céu.

Para compreendermos a diferença entre quem caminha na esperança e quem não tem fé, vamos recorrer a algumas passagens da revelação apocalíptica. Elas revelam dois grupos de pessoas, os que aderem a Cristo e os que o negam:

* Os seguidores de Cristo: Ap 7, 9-17; 14, 1-5; 15, 2-4; 17, 14; 19, 1-9; 20, 4-6.

* Os opositores de Cristo: Ap 6, 15-17; 9, 20-21; 14, 9-11; 17, 8-14; 18, 9-19; 19, 19-21; 20, 7-9.

Diante dessa revelação, cada um de nós é chamado a fazer sua escolha. A fé é a vivência da adesão a Cristo no hoje de nossa vida, como nos revelou o autor do Apocalipse. E ele conclui assim sua profesia: "Estas palavras são certas e verdadeiras. Eis que venho em breve. Feliz o que guarda as palavras proféfitas deste livro" (Ap 22, 6-7).

Fonte: Revista Ecoando - Ano 21, nº 84 - Dez/Fev, 2023/2024, págs: 10/11 (Ed. Paulus).

O fascínio e o amor em três documentos do Papa Francisco

Antoine Mekary | ALETEIA

Por Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 12/11/23

Após termos nos dedicado ao tema da pobreza, vejamos aqui outros dois temas transversais nesses documentos: o fascínio e o amor.

No último artigo, observamos como os três documentos publicados recentemente pelo Papa Francisco, a Carta Apostólica Sublimitas et miseria hominis, dedicada a  Blaise Pascal (19 de junho de 2023), a Exortação Apostólica Laudate Deum, sobre a crise climática (4 de outubro de 2023) e a Exortação Apostólica C’est la confiance, por ocasião do 150° aniversário do nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face (15 de outubro de 2023), apresentam aspectos em comum que nos ajudam a compreender a mensagem global do papa.

Após termos nos dedicado ao tema da pobreza, vejamos aqui outros dois temas transversais nesses documentos: o fascínio e o amor.

Um homem dominado pelo fascínio

Em todos os três documentos está presente, com muita clareza, o fascínio diante da realidade. Para o homem que se descobre amado por Deus, o mundo se torna um grande sinal deste amor de Deus por nós. Tudo se torna fascinante, sejam os instáveis equilíbrios ecológicos do planeta, seja as ciências e o conhecimento filosófico, seja a própria interioridade de coração voltado para Deus, tudo se mostra fascinante. Tudo é sinal de beleza e em tudo transparece o rosto bom do Mistério e Seu amor por nós.

Assim, escreve em Sublimitas et miseria hominis (SMH): “Grandeza e miséria do homem é o paradoxo que está no centro da reflexão e mensagem de Blaise Pascal […, que] mostrou-se um incansável investigador do verdadeiro: como tal, permanece sempre ‘inquieto’, atraído por novos e mais amplos horizontes. Na verdade, uma razão assim arguta e, ao mesmo tempo, tão aberta nunca silenciava nele a questão, antiga e sempre nova, que ressoa no ânimo humano: ‘Que é o homem para Te lembrares dele, o filho do homem para com ele Te preocupares?’ (Sal 8, 5) {…] Na base disto, parece-me poder reconhecer nele uma atitude de fundo, que definiria ‘abertura estupefata à realidade’, que é abertura às outras dimensões do saber e da existência, abertura aos outros, abertura à sociedade”. Bergoglio, o homem fascinado pelas maravilhas do amor de Deus, encontra em Pascal esse mesmo “estupor” – e apresenta-o a todos nós.

Na Laudate Deum (LD), lemos: “O conjunto do universo, com as suas múltiplas relações, mostra melhor a riqueza inesgotável de Deus […] as criaturas deste mundo já não nos aparecem como uma realidade meramente natural, porque o Ressuscitado as envolve misteriosamente e guia para um destino de plenitude. As próprias flores do campo e as aves que Ele, admirado, contemplou com os seus olhos humanos, agora estão cheias da sua presença luminosa. O universo desenvolve-se em Deus, que o preenche completamente. E, portanto, há um mistério a contemplar numa folha, numa vereda, no orvalho, no rosto do pobre” (LD 63-65).

E, em C’est la confiance(CC), Francisco explica que sua exortação sobre Santa Teresinha permite-lhe recordar que “numa Igreja missionária, o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário. A proposta acaba simplificada, sem com isso perder profundidade e verdade, e assim se torna mais convincente e radiosa. O núcleo luminoso é a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado” (CC 47). A beleza e o fascínio não são um simples deleite estético, mas uma reação natural do coração, que nos permite identificar a Verdade, aquilo que é essencial.

O fascínio nasce do saber-se amado

O amor é a luz que permite ver toda essa beleza. Tudo é fruto do amor, tudo está impregnado de um amor cheio de misericórdia por nós. Por isso, em todo lugar o coração do Papa se enternece e vê os sinais da ternura de Deus por nós. Não é possível entender a espiritualidade do Papa Francisco sem entender esse vínculo entre o amor misericordioso, que se manifesta como ternura, e o fascínio.

Assim, Francisco, na Sublimitas et miseria hominis, considera “comovente constatar que, nos últimos dias da sua vida, um pensador tão genial como Blaise Pascal não via urgência mais sublime para investir as suas energias do que as obras de misericórdia: O único objeto da Escritura é a caridade”. E sugere “a quantos querem continuar a buscar a verdade […] que se coloquem à escuta de Blaise Pascal, um homem de inteligência prodigiosa que quis recordar que, fora da perspectiva do amor, não há verdade que valha a pena: Faz-se um ídolo até da própria verdade, pois a verdade fora da caridade não é Deus, é sua imagem e um ídolo que não se deve amar nem adorar”.

Logo no início da Laudate Deum, Francisco observa “Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles (Mt 6, 28-29). Não se vendem cinco pássaros por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa despercebido diante de Deus (Lc 12, 6). Como deixar de admirar esta ternura de Jesus por todos os seres que nos acompanham no nosso caminho?” (LD 1). E, adiante: “O mundo canta um Amor infinito; como não cuidar dele? […] nós e todos os seres do universo, sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde” (LD 65-67).

A confiança no amor misericordioso é o próprio tema de C’est la confiance. “Juntamente com a fé, Teresa vive intensamente uma confiança ilimitada na misericórdia infinita de Deus, ‘a confiança [que] tem de conduzir-nos ao Amor’. Vive, mesmo na escuridão, a confiança total da criança que se abandona sem medo nos braços do pai e da mãe. De fato, para Teresinha, Deus resplandece antes de mais nada através da sua misericórdia, chave de compreensão para qualquer outra coisa que se diga d’Ele” (CC 27). 

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF