Translate

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Audiência Geral: o chamado de Deus não é um privilégio, é para todos

Audiência Geral de 22 de novembro de 2023 com o Papa Francisco (Vatican Media)

“Não podemos dizer que somos privilegiados em relação aos outros. O chamado é para um serviço. E Deus escolhe um para amar a todos, para alcançar a todos”, disse o Papa na Audiência Geral desta quarta-feira, 22 de novembro.

https://youtu.be/SS_jj2NGNlQ

Thulio Fonseca - Vatican News

“A mensagem cristã é para todos”. Esse foi o tema escolhido pelo Papa Francisco para a catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (22). Reunido com milhares de fiéis na Praça São Pedro, o Pontífice enfatizou que através do encontro com Jesus os cristãos são chamados a anunciar com alegria as maravilhas do Evangelho.

Através da propagação da mensagem de Cristo, sublinhou Francisco, “existe um poder humanizador, uma realização de vida que está destinada a cada homem e a cada mulher, porque Cristo nasceu, morreu e ressuscitou por todos, não excluiu ninguém”.

O cristão deve ser aberto e extrovertido

O Papa recordou um trecho da Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, Evangelii Gaudium:

«Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de o anunciar, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas “por atração”» (n. 14).

Francisco ao sublinhar a importância do serviço da destinação universal do Evangelho, convidou os fiéis a destacarem-se “pela capacidade de ir além de si mesmos, de superar o egoísmo e todas as fronteiras”:

“Os cristãos reúnem-se mais no adro da igreja do que na sacristia, percorrem as praças e as ruas da cidade. Devem ser abertos e expansivos, extrovertidos, e este carácter vem de Jesus, que fez da sua presença no mundo um caminho contínuo, destinado a chegar a todos, aprendendo até com alguns dos seus encontros.”

O chamado do Senhor é para servir

Ao falar sobre a pregação de Jesus narrada nos evangelhos, o Papa recordou que a propagação da Boa Nova não deve limitar-se ao povo ao qual pertence, mas deve estar aberta a todos. “A Bíblia nos mostra”, disse o Papa, “que quando Deus chama uma pessoa e faz uma aliança com alguém, o critério é sempre esse:

“O Senhor elege alguém para alcançar outros, esse é o chamado de Deus.”

Em seguida o Santo Padre destacou que todos os amigos do Senhor experimentaram a beleza, mas também a responsabilidade e o fardo de serem "escolhidos" por Ele, e completou: “todos já experimentaram o desânimo diante de suas fraquezas ou da perda de sua segurança”.

Francisco então exortou os fiéis sobre o risco do fechamento que pode assolar os cristãos:

“A tentação maior é considerar o chamado recebido como um privilégio. Por favor, não, o chamado não é um privilégio, nunca. Não podemos dizer que somos privilegiados em relação aos outros. O chamado é para um serviço. E Deus escolhe um para amar a todos, para alcançar a todos.”

Ao final da sua catequese, o Papa enfatizou que o chamado de Jesus é universal: “não é para um grupo de eleitos de primeira classe”: “Deus escolhe alguém para amar a todos. Esse é o horizonte da universalidade. O Evangelho não é só para mim, é para todos, não vamos nos esquecer disso”, concluiu o Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

3 lições de santidade tiradas da vida de Santa Cecília

IgorGolovniov | Shutterstock

Por Philip Kosloski - publicado em 22/11/23

Santa Cecília continua sendo um exemplo poderoso para nós.

Santa Cecília dedicou-se a Jesus Cristo desde muito jovem, prometendo segui-lo, mesmo que isso lhe custasse a vida.

Ela não desistiu de sua promessa, mesmo quando se casou com um pagão, que se converteu ao cristianismo após a noite de núpcias.

Dom Prosper Guéranger compartilha três importantes lições de santidade que podemos aprender com a vida de Santa Cecília.

1
CORAÇÃO PURO

Santa Cecília fez votos de virgindade antes de seu casamento com Valeriano e disse ao marido que um anjo foi designado para proteger sua pureza. Ela não vacilou, e seu marido passou a respeitar esse voto.

A castidade é para todos, não apenas para os religiosos. Isso é algo que todos podemos seguir, reconhecendo a dignidade do casamento e não abusando dele, como explica Guéranger:

“Que o casamento, com suas castas consequências, seja considerado honroso; deixe de ser uma diversão ou uma especulação; que a paternidade e a maternidade não sejam mais um cálculo, mas um dever austero”.

2
ZELO ARDENTE

Santa Cecília era zelosa com sua fé, amando a todos e desejando que se unissem a ela na religião cristã.

Guéranger exalta a caridade que estes primeiros cristãos tinham pelos outros:

“[Os] pagãos costumavam dizer: ‘Veja como eles se amam!’E como eles poderiam ajudar a amar um ao outro? Pois na ordem da fé eles eram pais e filhos. Que ternura materna Cecília sentia pelas almas dos seus irmãos pelo simples fato de ser cristã!”

3
CORAGEM SOBRE-HUMANA

Santa Cecília também demonstrou coragem sobre-humana em meio à perseguição e à sentença de morte.

Guéranger explica como a coragem de Santa Cecília pode nos ajudar a banir o medo de nossas vidas, reconhecendo nosso destino final:

“Esquecemos que somos apenas peregrinos nesta terra? E a esperança do bem futuro desapareceu dos nossos corações? Cecília nos ensinará como nos livrar desse sentimento de medo. Na sua época a vida era menos segura do que agora. Certamente havia, então, alguma razão para temer e, no entanto, os cristãos eram tão corajosos que os poderosos pagãos muitas vezes tremiam com as palavras das suas vítimas.”

Enfim, Santa Cecília continua sendo um exemplo poderoso para nós e podemos aprender muitas lições com sua curta vida.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Francisco: Rezemos pelos pescadores, eles cuidam dos nossos mares

Pesca: "um dos mais antigos ofícios e fontes de alimento da história humana"

Com uma mensagem em sua conta na rede social "X", o Papa recorda o Dia Mundial da Pesca, enquanto na FAO o observador permanente dom Fernando Chica Arellano e a Irmã Alessandra Smerilli, secretária do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, recordam a posição da Santa Sé sobre os trabalhadores e as necessidades do setor: os portos devem ser lugares não só de intercâmbio, mas de fraternidade, não há oposição entre ecologia e trabalho.

Francesca Sabatinelli e Alessandro De Carolis - Cidade do Vaticano

O porto é uma metáfora da vida. Um lugar de passagens, trocas, reuniões, espera. Principalmente local de ancoragem, a segurança que deixa para trás longos dias de navegação, trabalho e possíveis tempestades. Portanto, mais do que apenas um local de comércio e negócios, precisa de "responsabilidade social e uma solidariedade constante que prevaleça sobre considerações puramente centradas no lucro". O arcebispo Fernando Chica Arellano, observador permanente da Santa Sé na FAO, Ifad e Wfp, tomou a palavra na sede da FAO para relatar a posição da Santa Sé sobre a vida dos pescadores no Dia Internacional da Pesca, ao qual o Papa dedicou um pensamento publicado em seu perfil @Pontifex no "X": "Rezemos pelos pescadores e por suas famílias e agradeçamos-lhes porque todos os dias lançam as suas redes com um ato de fé na providência divina e cuidam dos nossos mares".

A Santa Sé ao lado dos pescadores

Cada vez mais, observa dom Chica Arellano, os portos "são centros multiculturais de intercâmbio e diálogo, onde as relações humanas e comerciais contribuem para o crescimento econômico e social de um país, bem como para a segurança alimentar nacional". É "essencial", acrescentou, "intensificar os esforços para que todos esses aspectos continuem a se fortalecer e a se harmonizar em benefício de todo o setor marítimo e pesqueiro". A Santa Sé, reiterou, "sempre esteve ao lado dos pescadores, especialmente os menos favorecidos, buscando fazer com que todos possam desfrutar do direito fundamental ao trabalho decente e a um ambiente saudável, limpo e sustentável".

Conversão ecológica

O prelado deixou claro que é "nos portos que devem ser tomadas medidas apropriadas para a conservação e gestão dos recursos biológicos marinhos, respeitando o uso sustentável dos ecossistemas do mar", apreciando o que foi feito em nível legal em casos recentes. Em última análise, disse o arcebispo, é uma questão de voltar à "conversão ecológica" tão desejada pelo Papa. Conversão, acrescentou Chica Arellano, que se refere a "uma ética que respeita as pessoas", que também melhorará o bem daqueles que trabalham nos portos". Lugares onde, lembrou, a Igreja, por meio do cuidado pastoral do Stella Maris, assiste "humana e espiritualmente" aqueles que trabalham ou transitam ali "para que seu bem-estar aumente".

Irmã Smerilli: economia e justiça não estão em conflito

No limiar da COP 28, não nos esqueçamos "do grito de dor que sobe ao céu da terra e do mar" e, prestemos atenção ao apelo do Papa que, na Laudate Deum, adverte que os homens não estão reagindo o suficiente para evitar que o mundo se aproxime de um ponto de ruptura. Irmã Alessandra Smerilli, secretária do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, falou na FAO por ocasião do Dia Mundial da Pesca, dedicado, explica ela, "a um dos mais antigos ofícios e fontes de alimento da história humana".

A arrogância que ameaça a honestidade

O convite da religiosa aos participantes é que adotem uma visão holística para que possamos restabelecer as conexões que "muitas vezes os interesses e as perspectivas partidárias tendem a separar". "Não há nada de bom", explica Smerilli, "em ver uma oposição entre ecologia e trabalho, entre alimentação e segurança, entre economia e justiça". Smerilli considera o tema dos portos, ao qual a conferência é dedicada, como uma metáfora da vida. "Todos nós, como seres humanos, temos pontos de partida e retorno, intersecções de encontros e intercâmbios, necessidades de paz e regras comuns", e são nos portos que "grandes e pequenas organizações operam, reunindo a comunidade local e a presença do mundo inteiro".

Ali, explica a religiosa, é preciso combater "a arrogância dos fortes que ameaça o trabalho dos honestos e a biodiversidade marinha do planeta". A referência clara é à "pesca destrutiva no ecossistema marinho" que explora o trabalho dos pescadores "que sabem como é importante cuidar do mar para o futuro de seu sustento". Argumentos que provavelmente, indica Smerilli, já estão sendo abordados "em portos de todo o mundo", bem como em organizações internacionais, para que "levem a sério sua vocação original de promover e facilitar processos de legalidade e justiça que dão voz a quem não tem voz".

Repensar o futuro

A realidade, continua irmã Alessandra, pode ser melhor compreendida nas periferias humanas e existenciais, onde nasce uma "sabedoria do trabalho e da vida", de modo que "os centros de poder possam se conscientizar dos efeitos e do impacto das decisões que tomam e perceber a necessidade de repensar o futuro do nosso mundo". A Igreja, concluiu, pretende se colocar a serviço dessa "capacidade de ter sonhos e visões", colocando-se ao lado "daqueles que trabalham pela dignidade humana, pelo cuidado do planeta, pelo crescimento da fraternidade e da amizade social em um mundo que clama por justiça e paz".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Apresentação de Maria: uma preparação para o Advento

Public Domain

Por Philip Kosloski - publicado em 21/11/23

A Apresentação de Maria no Templo desafia-nos a pensar no que Deus está preparando para nós e a aproveitar o Advento como um grande período de preparação espiritual.

Apresentação de Maria é celebrada pela Igreja no dia 21 de novembro, uma das últimas festas antes do início do tempo do Advento.

Embora a ligação possa não parecer óbvia, o escritor do século XIX Dom Prosper Guéranger viu na Apresentação de Maria uma preparação para o Advento, como ele próprio explicou:

“A Apresentação de Nossa Senhora abre também novos horizontes à Igreja. No Ciclo dos Santos, que não é tão precisamente limitado como o do Tempo, o mistério da permanência de Maria no santuário da Antiga Aliança é a nossa melhor preparação para o tempo do Advento que se aproxima.

Maria, conduzida ao Templo para se preparar em retiro, na humildade e no amor para o seu destino incomparável, teve também a missão de aperfeiçoar ao pé do altar figurativo a oração do gênero humano, por si só ineficaz para atrair o Salvador…

Ela foi, como diz São Bernardino de Sena, a feliz conclusão de toda espera e súplica pela vinda do Filho de Deus; nela, como no seu ponto culminante, todos os desejos dos santos que a precederam encontraram a sua consumação e o seu termo.”

Apresentação de Maria

Guéranger refere-se à tradição de que Maria foi apresentada no Templo por seus pais. De acordo com o Pe. Alban Butler, este era um costume de alguns pais judeus da época: “Os pais nunca deixam de orar devotamente para consagrar seus filhos ao serviço divino e ao amor, tanto antes como depois de seu nascimento. Alguns dentre os judeus, não satisfeitos com esta consagração geral de seus filhos, ofereceram-nos a Deus em sua infância, pelas mãos dos sacerdotes no Templo, para serem alojados em apartamentos pertencentes ao Templo, e educados na presença dos sacerdotes…”

Este acontecimento corresponde essencialmente ao Advento. Consideramos a preparação de Maria no Templo como um exemplo para nós, para usarmos o Advento como um tempo de espera paciente e de oração.

A Apresentação de Maria desafia-nos a pensar no que Deus está preparando para nós e a aproveitar o Advento como um período especial de preparação espiritual.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Dimensão antropológica do rito litúrgico

Arcebispo Rino Fisichella, celebrando a Santa Missa do Dia Mundial dos Pobres (Vatican Media)

"Na encarnação de Cristo na história de maneira humana revela sua natureza também divina. No humano se revela o divino. No divino, a humanidade de Cristo também se revela como modelo também para toda a humanidade, revelando nossa natureza e dignidade, vocação para a plenitude e a divindade."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Na catequese da Audiência Geral de 26 de setembro de 2012, Bento XVI afirmava que quando vivemos a liturgia com o olhar do coração dirigido ao Senhor, “o nosso coração é como que subtraído à força de gravidade, que o atrai para baixo, e eleva-se interiormente para o alto, para a verdade, para o amor, para Deus. Como recorda o Catecismo da Igreja Católica: «A missão de Cristo e do Espírito Santo que, na liturgia sacramental da Igreja anuncia, atualiza e comunica o mistério da salvação, prossegue no coração de quem ora. Os Padres espirituais comparam, por vezes, o coração a um altar» (n. 2.655): altare Dei est cor nostrum!”.

No programa de hoje deste nosso espaço, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe uma reflexão sobre a “Dimensão Antropológica do Rito Litúrgico”:

"Recentemente aconteceu na capital gaúcha, no Brasil, o CONGRESSO INTERNACIONAL TEOLÓGICO-LITÚRGICO. O evento que foi organizado pela Pontifícia Católica do rio Grande do Sul e a Arquidiocese de Porto Alegre, refletiu também sobre as dimensões antropológicas do culto, dos ritos, dos sacramentos, em especial da liturgia. O professor gaúcho da PUCRS Dr. Frei Luiz Carlos Susin, OFM, ministrou a palestra sobre “O RITO EM QUE HABITAMOS: DIMENSÕES ANTROPOLÓGICAS DO RITO”. 

Frei Susin disse que, “se a Liturgia é cume e fonte - utilizando-se a alegoria da montanha – para se chegar ao cume não podemos esquecer a base, a própria montanha, os fundamentos, os pilares antropológicos. Temos essa recuperação do caminho que se fez em todo o século XX, começando com a necessidade de superar aquela espiritualidade escolástica, barroca, que estava encerrada demais, que tinha provocado uma esquizofrenia, separações entre diversos níveis de experiência cristã, teologia, espiritualidade, liturgia, devoções. Temos que insistir nessa recuperação dessa unidade. Isso se fez com o caminho do neotomismo, bem produtivo, que desembocou em uma nova teologia que tinha essas três instâncias: volta às fontes, diálogo com a cultura (sobretudo com a filosofia) e a dimensão pastoral”, discursou o frade franciscano no Congresso. O conferencista apontou Karl Rahner como um expoente de uma virada antropológica e que ele é um “saco de pancada” quando não é bem lido. Por meio dele e outros, houve um esforço da experiência humana com a experiência da graça e salvação.

Os últimos séculos recuperam a experiência humana como lugar da experiência de Deus.  No século XX, a fenomenologia, o existencialismo tem buscado mais essa experiência humana. Frei Susin afirmou assim: “Mas tudo isso ficou muito reduzido ao sujeito, ao indivíduo e nós temos como recuperar isso mais no sentido comunitário, no sentido social, que é muito o caminho que vínhamos fazendo nos termos latino-americanos”. O palestrante falou da Trindade econômica. Aqui precisamos explicar esse termo. O que é Trindade econômica? É a presença de Deus Trino na economia da salvação, ou seja, no decorrer da história salvífica. A palavra economia na Teologia não tem a ver com aspectos financeiros, mas a pedagogia da revelação de Deus por etapas e gradativamente. Susin, apontando o autor Rahner, que é tido como ter feito uma virada antropológica, palestrou dizendo: “Em termos trinitários Karl Rahner expõe a unidade entre a transcendência de Deus e a sua presença na história; a trindade econômica e a trindade imanente e vice-versa, ou seja, pela trindade econômica nós conhecemos realmente a Trindade de Deus, mas é pela história que conhecemos a Deus. Assim como em termos cristológicos, também é bem conhecida a relação que Karl Rahner elabora entre a Antropologia e a Cristologia, uma reclamando para si a outra, proclamando assim o dogma cristológico central: Cristo verdadeiramente humano e divino”. Na encarnação de Cristo na história de maneira humana revela sua natureza também divina. No humano se revela o divino. No divino, a humanidade de Cristo também se revela como modelo também para toda a humanidade, revelando nossa natureza e dignidade, vocação para a plenitude e a divindade.

O assessor franciscano, frei Susin referenda também a Constituição conciliar Gaudium et Spes, cuja memória de 60 anos também celebramos, afirmando assim: “No documento Gaudium et Spes, o Concílio coroa essa Cristologia, dizendo: o mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado. Cristo manifesta plenamente o humano ao próprio ser humano e lhe descobre sua altíssima vocação. É o humano descobrindo-se na humanidade do Filho de Deus”.

Para concluir nosso aprofundamento, descrevo aqui uma estrofe de um canto litúrgico composto por Pe. José Cândido da Silva, muito entoado nas liturgias no Brasil. Uma bela cantiga que referenda o acabamos de dizer. Diz assim o cântico intitulado “Caminhos percorremos” desse grande compositor brasileiro mineiro, que também é autor de um dos hinos da Jornada Mundial da Juventude: “No mistério de Deus Uno e Trino, o mistério do homem se encontra. Nosso Deus no absoluto do amor, nos convida à fraterna união. Caminhos Percorremos, a Igreja construindo, tentando restaurar, no homem nosso irmão, a imagem do Senhor”. Sem dúvida um belíssimo canto litúrgico que revela a teologia da Gaudium et Spes: “o mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado”."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

domingo, 19 de novembro de 2023

"O Messias" de Kiko Argüello

"O Messias" de Kiko Argüello (neocatechumenaleiter)

https://www.youtube.com/watch?v=ivD7AAEIIR0

TRIESTE, ITÁLIA – 19 DE NOVEMBRO DE 2023 – 18:00 H. (GMT +1)

16 novembro 2023

CncMadrid

Poema sinfônico dedicado aos mártires.

No domingo, 19 de novembro, às 18h (14h de Brasília), no Teatro Verdi (Itália), acontecerá uma estreia mundial especialmente importante.

O primeiro elemento a destacar é a obra “O Messias”, que se compõe de três momentos: “Aquedá”, “Filhas de Jerusalém” e “O Messias, leão para vencer”. Um tríptico com ar sinfônico no qual o piano ocupa um papel central.

Os títulos se referem a três episódios da História da Salvação: o Sacrifício de Isaac por parte de seu pai, Abraão. “Aquedá”, palavra hebreia que significa “Ata-me”, é a palavra que Isaac dirige ao seu pai para que seu sacrifício seja válido; e o grito dos anjos, que proclamam: “Vinde, olhai a fé sobre a terra”. “Aquedá”, o Mistério da fé: um dom de Deus ao homem.

O segundo movimento “Filhas de Jerusalém” são as palavras de Cristo às mulheres que o acompanham no caminho da Cruz, para que não chorem por Ele, mas por si mesmas e por seus filhos.

O terceiro movimento “O Messias, leão para vencer”, são as palavras de um mártir cristão do século IV, Victorino de Pettau, que revela e anuncia poeticamente o Mistério de Cristo que, tendo vindo como leão para vencer, faz-se cordeiro carregando a maldade do homem, para fazê-lo passar da morte para a vida.

"O Messias" de Kiko Argüello (neocatechumenaleiter

Conteúdos querigmáticos que anunciam ao cristão de hoje o modo de viver na história: acompanhar Cristo na Cruz, levando o pecado do homem, fazer-se cordeiro, amar ao outro até dar a vida por ele. Todo cristão, unido a Cristo, está chamado a converter-se em mártir, em testemunho deste amor.

O segundo elemento a ser destacado nesta estreia mundial é seu autor, Kiko Argüello, compositor de outra sinfonia: “O sofrimento dos inocentes”, que teve uma ressonância e importância internacional. Ela foi apresentada nos cenários dos principais teatros e em diversas salas de concertos de todo o mundo: Madri, Metropolitan de Nova York, Chicago Symphony Hall, Berliner Philharmoniker Hall – Berlin, Gerard Behar Auditorium – Jerusalém, Suntory Hall – Tóquio, Hungarian State Opera – Budapeste, Concerto Comemorativo – Auschwitz, Piazza Unità d’Italia – Trieste, etc.

"O Messias" de Kiko Argüello (neocatechumenaleiter
"O Messias" de Kiko Argüello (neocatechumenaleiter

O autor é um pintor espanhol que nasceu em León, em 9 de janeiro 1939. Estudou Belas Artes na Academia San Francisco de Madri, e em 1959 recebeu o Prêmio Nacional Extraordinário de Pintura. No começo dos anos 1960, viveu uma crise existencial que provocou nele uma profunda conversão, que o levou a dedicar sua vida a Cristo e à Igreja.

Em 1964, decidiu viver entre os pobres em um barraco na periferia de Madri. Nesta situação de marginalização, Kiko se encontrou com a presença de Cristo crucificado.

Posteriormente, conheceu uma missionária, Carmen Hernández, licenciada em Química e Teologia, hoje Serva de Deus, com quem deu vida a uma nova forma de pregação que pouco depois levou ao nascimento de uma comunidade cristã. Assim nasceu entre os pobres a primeira comunidade neocatecumenal, na qual se fez visível o amor de Cristo crucificado.

Esta semente começou a germinar primeiro na Espanha, em algumas paróquias de Madri, e depois da experiência de Kiko entre os pobres da periferia de Roma, no Borghetto Latino, estendeu-se pela Itália; e a partir da Espanha e da Itália se expandiu por todo o mundo. Hoje, nos cinco continentes, em 135 países, existem mais de 20.000 Comunidades Neocatecumenais.

Há mais de 50 anos, em 1971, Kiko e Carmen enviaram uma equipe de catequistas itinerantes a Trieste, e na Catedral de San Giusto Martire nasceu a primeira comunidade neocatecumenal.

Assim, Kiko Argüello e Carmen Hernández são os iniciadores do Caminho Neocatecumenal, uma iniciação cristã diocesana que, através da catequese, da Palavra de Deus e dos Sacramentos vividos em comunidade, conduz as pessoas a uma fé adulta e à comunhão fraterna.

Em 2008, a Santa Sé aprovou os Estatutos do Caminho Neocatecumenal que é reconhecido por vários Papas como “um dom do Espírito Santo para a Igreja de hoje”.

Kiko Argüello, além de iniciador desta realidade eclesial, e compositor destas duas sinfonias, é autor de importantes obras pictóricas, arquitetônicas e escultóricas em todo o mundo: Catedral de Madri, Paróquia de San Bartolomeu in Tuto em Scandicci (Florença), Igreja do Seminário Redemptoris Mater de Macerata (Itália) e Varsóvia (Polônia), Centro Neocateucmenal de Porto San Giorgio (Itália), Centro internacional “Domus Galilaeae” no Monte das Bem-Aventuranças na Terra Santa, etc. Mediante a pintura, concebida como reflexo da luz de Deus, e também através da música, linguagem universal capaz de abrir o coração à dimensão do espírito, Kiko encontra uma via para anunciar o Evangelho ao homem contemporâneo. Põe sua vocação artística a serviço da Igreja e da Liturgia, musica os Salmos, passagens da Sagrada Escritura, hinos da Igreja primitiva e também poemas espirituais tirados de seus escritos.

O terceiro elemento a destacar deste concerto em Triste é a Orquestra. Fundada por Kiko em 2010 para executar a primeira obra “O sofrimento dos inocentes”. Tanto os integrantes da Orquestra como os do Coro, aproximadamente 180 músicos procedentes da Itália, Espanha e outras nações, são artistas que põe seu talento gratuitamente a serviço da Nova Evangelização. Uma missão como forma expressiva da beleza através da música para anunciar e dar testemunho do Evangelho em todo o mundo.

"O Messias" de Kiko Argüello (neocatechumenaleiter

O Diretor da orquestra é Tomáš Hanus, nascido em Brno, República Tcheca. Desde a temporada 2016-2017 ocupa o cargo de diretor musical da Welsh National Opera (Reino Unido). Dirigiu os mais prestigiosos teatros de ópera e salas de concertos internacionais como Bayerische Staatsoper, Ópera de Paris, o Grand Théâtre de Ginebra, o Teatro Real de Madri, a Filarmônica de Berlin, e subiu ao pódio da Royal Philarmonic Orchestra, da London Syphony Orchestra e da BBC Symphony Orchestra. No último mês de junho teve seu debute no pódio da La Scala de Milão.

A estreia mundial da obra é, sem dúvida, um privilégio para o Teatro Verdi e para a cidade de Trieste.

"O Messias" de Kiko Argüello (neocatechumenaleiter

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br

Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo

33º  Domingo do Tempo Comum - A (liturgiadashorasonline)

Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo

(Ps 95,14.15:CCL39,1351-1353)             (Séc.V)

Não ofereçamos resistência à sua primeira vinda,
para não termos de recear a segunda

Então todas as árvores das florestas exultarão diante da face do Senhor porque veio, veio julgar a terra (Sl 95,12-13). Veio primeiro e virá depois. Esta sua palavra ressoou pela primeira vez no evangelho: Vereis sem demora o Filho do homem vir sobre as nuvens (Mt 26,64). Que quer dizer: Sem demora? O Senhor não virá depois, quando os povos da terra se lamentarão? Veio primeiro em seus pregadores e encheu o mundo inteiro. Não ofereçamos resistência à primeira vinda, para não termos de recear a segunda.


Que, então, devem fazer os cristãos? Usar do mundo; não servir ao mundo. Como é isto? Possuindo, como quem não possui. O Apóstolo diz: De resto, irmãos, o tempo é breve; que os que têm esposa sejam como se não a tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; e os que usam do mundo, como se não usassem; pois passa a figura deste mundo. Eu vos quero sem inquietações (1Cor 7,29-32). Quem não tem inquietações, aguarda com serenidade a vinda de seu Senhor. Pois, que amor ao Cristo é esse que teme sua chegada? Irmãos, não nos envergonhamos? Amamos e temos medo de sua vinda. Será que amamos? Ou amamos muito mais nossos pecados? Odiemos, portanto, estes mesmos pecados e amemos aquele que virá castigar os pecados. Ele virá, quer queiramos, quer não. Se ainda não veio, não quer dizer que não virá. Virá em hora que não sabes; se te encontrar preparado, não haverá importância não saberes.


E exultarão todas as árvores das florestas. Veio primeiro; depois virá para julgar a terra; encontrará exultantes aqueles que creram em sua primeira vinda, porque veio.


Julgará com equidade o orbe da terra, e os povos em sua verdade (Sl 95,13). Que significam equidade e verdade? Reunirá junto a si seus eleitos para o julgamento; aos outros separá-los-á dos primeiros; porá uns à direita, outros à esquerda. Que de mais justo, de mais verdadeiro do que não esperarem misericórdia da parte do juiz, aqueles que não quiseram usar de misericórdia antes da vinda do juiz? Quem teve misericórdia, será julgado com misericórdia. Os colocados à direita escutarão: Vinde, benditos de meu Pai, recebei o reino que vos foi preparado desde a origem do mundo (Mt 25,34). E aponta-lhes as obras de misericórdia: Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber etc. (Mt 25,34-46).


Por sua vez, que se aponta aos da esquerda? Sua falta de misericórdia. Para onde irão? Ide para o fogo eterno (Mt 25,41). Esta palavra suscita grande gemido. Que diz outro salmo? Será eterna a lembrança do justo; não temerá escutar palavra má (Sl 111,6-7). Que quer dizer: escutar palavra má? Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25,4). Quem se alegra com a palavra boa, não temerá escutar a má. É esta a equidade, a verdade.

Porque és injusto, não será justo o juiz? Ou porque és mentiroso, não será veraz a verdade? Se queres, porém, encontrar o Misericordioso, sê tu misericordioso antes de sua chegada: perdoa, se algo foi feito contra ti, dá daquilo de que tens em abundância. Donde vem aquilo que dás, não é dele? Se desses do que é teu, seria liberalidade; quando dás do que é dele, é devolução. Que tens que não recebeste? (1Cor 4,7). São estes os sacrifícios mais aceitos por Deus: misericórdia, humildade, louvor, paz, caridade. Ofereçamo-los e com confiança esperaremos a vinda do juiz que julgará o orbe da terra com equidade, e os povos em sua verdade (Sl 95,13).

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Dom Vital: Jesus nas suas condições divina e humana

Jesus Cristo (Vatican Media)

Deus o exaltou acima de tudo para que ao nome de Jesus todo joelho se dobre e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai.

Dom Vital Corbellini, bispo de Marabá – PA.

São Paulo expressou num cântico cristológico, a missão de Jesus Cristo na sua realidade divina e humana neste mundo e junto do Pai. O Cântico de Fl 2,6-11 tem presentes a sua condição divina não se apegando à sua igualdade a Deus, mas ele despojou-se fazendo servo, tornando-se semelhante ao ser humano de modo que se fez obediente até a morte e morte de cruz. Deus o exaltou acima de tudo para que ao nome de Jesus todo joelho se dobre e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai.

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V fez duas longas homilias colocando a humildade, a vida com Deus do Senhor Jesus e a sua igualdade com o ser humano ao conceder-lhes os dons da vida e da redenção. É importante fazer a análise do cântico paulino para a nossa realidade de discípulos, discípulas, missionários, e missionários de Jesus Cristo e de sua Igreja.

O exemplo de si próprio

O Bispo São João disse que Jesus Cristo colocou-se sempre como modelo de exemplo ao falar para os discípulos em relação às grandes exigências do discipulado. O Senhor disse que se as pessoas o perseguiram, também os discípulos serão perseguidos (Jo 15,20). Jesus disse que é para aprender dele, que é manso e humilde de coração (Mt 11,29). O Senhor pede de seus discípulos para que sejam misericordiosos como o Pai que está nos céus (Lc 6,36). O bispo disse que São Paulo agiu da mesma forma. Quando ele quis exortar os Filipenses a respeito da humildade, apresentou-lhes Jesus Cristo como modelo. Quando ele falou da caridade para com os pobres, exprimiu-se de maneira semelhante ao dizer que Jesus Cristo se fez pobre, embora fosse rico (2Cor 8,9). É importante a prática do bem porque é desta forma que uma alma grande e sábia assemelha-se a Deus[1].

A superação das diversas heresias

O bispo, ao ter presente que o Senhor Jesus tinha a condição divina não considerou ser igual a Deus como uma rapina, um ato de tomada com violência, mas ele esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo, vislumbrou a superação das diversas heresias, como aquelas de Ário de Alexandria, Paulo de Samósata, de Sabélio da Líbia, Apolinário de Laodicéia, entre outros negadores de suas naturezas divina e humana. Muitas falanges foram derrubadas pela palavra do Apóstolo São Paulo em relação a Jesus divino-humano[2].

A superação do arianismo

Crisóstomo afirmou contra Ário que o Senhor assumiu a condição de servo, não porque ele tinha uma substância inferior ao Pai como dizia Ário, mas porque como disse Paulo ele tinha a condição divina pela assunção da realidade humana. As duas condições de servo e de Deus são equivalentes ao Filho, a Jesus, de modo que a condição de servo significa homem, ser humano, e condição divina possui o significado de Deus por natureza. São Paulo e São João, evangelista afirmaram que ser igual a Deus em nada é menor que o Pai, mas está na mesma condição, na mesma linha divina(Fl 2,6; Jo 1,1)[3].

Senhor grande

São João Crisóstomo precisou a intenção dos hereges para justificar a palavra de São Paulo de que Jesus, o Filho não se apegou ao seu ser igual a Deus, mas ele esvaziou-se a si mesmo na natureza humana. Aos hereges haveria as concepções de dois deuses: um maior e outro menor. Mas o bispo afirmou que o Senhor assumiu o esvaziamento de si mesmo por causa da redenção humana e também porque a Escritura não coloca dois deuses, mas a existência do único Senhor como grande e muito louvável (Sl 48,2; 96,4; 145,3). Essas referências são dadas também para o Filho que em toda a parte o chamou de Senhor, pois o Deus é grande, só Ele faz maravilhas, é o único (Sl 86,10). Outra referência fundamental encontra-se na Bíblia onde se diz que o Senhor é grande e onipotente, a sua grandeza é incalculável (Sl 147,5; 145,3). A Escritura refere-se aos atributos divinos tanto ao Pai como ao Filho, porque se trata do único Deus[4].

A intenção do Apóstolo

São João Crisóstomo disse que a intenção do Apóstolo Paulo ao escrever para os Filipenses que o Filho existindo na forma divina não se apegou ao seu ser igual a Deus apresentou o Senhor Jesus como exemplo de humildade, porque ninguém exorta aos outros à humildade através da necessidade da humildade, considerando-se menor do que os seus semelhantes. Para o bispo a humildade é ter um modo de pensar humilde, possuir pensamentos humildes, não sendo humilde por necessidade, mas a pessoa humilha-se a si mesmo. O nome de humildade deriva de abaixamento, humilhação no modo que a pessoa pensa de si mesma[5]. Por causa do ser humano em vista de sua salvação, Jesus viveu a condição humilde.

A condição divina e de servo

Para São João quando o Apóstolo Paulo disse que o Senhor estava na condição divina ao assumir a condição de servo, não o diminuiu por vir ao mundo. Ele entrou na realidade humana, de modo que teve que assumir a condição de pessoa humana, de servo, igual ao ser humano em tudo menos o pecado (Hb 4,15). O fato era que Ele existia numa forma divina tendo como sentido idêntico de que Deus é aquele que é (Ex 3,14), mostrando a sua imutabilidade da condição como Deus Assim o Filho não é diferente do Pai, mas está em unidade com Deus, é Deus [6].

A descida da sua dignidade

Em base à palavra paulina, afirmou o bispo Crisóstomo também que o Filho de Deus não teve medo de descer de sua alta dignidade, porque não considerou um apego à sua condição divina, não tendo medo de que alguém lhe arrebatasse a natureza ou a dignidade. Jesus não considerou que vivendo junto ao povo de Deus, em nada ficaria diminuído, mas ao contrário elevou até a divindade, a natureza humana. Desta forma não hesitou em assumir a condição de servo. Assim ele esvaziou-se a si mesmo, humilhou-se e foi obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2,7-8). O Senhor não estava subordinado a um outro, mas ele escolheu isso livremente, por si mesmo[7]. Desta forma o Senhor tinha um corpo, uma alma e era também Deus. Por isso São Paulo disse que ele tinha a condição divina e assumiu a condição humana, de modo que é Deus perfeito como também servo perfeito[8].

A obediência do Filho

A homilia de São João prestou contas que a obediência do Filho foi de bom agrado ao Pai, na qual ele não desceu à terra na situação de um escravo, mas através da grande reverência que prestou ao Pai, conservando a admirável dignidade de sua filiação. Foi o Filho que prestou honras ao Pai. A obediência o levou à morte injuriosa, coberta de vergonha, de maldição porque era maldito quem era suspenso no madeiro (Gl 3,13; Dt 21,23). Nesta morte violenta houve a maior manifestação do amor de Deus à humanidade. Desta forma Deus o sobreexaltou grandemente e o agraciou com o nome que é sobre todo nome (Fl 2, 8-9)[9].

A glória do Pai

A continuidade do hino cristológico de São Paulo é reforçado por São João no sentido de que todo o joelho se dobre no nome de Jesus e para a glória de Deus, toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor (Fl 2, 10-11). Assim quando o Filho é glorificado é também glorificado o Pai. Diante das heresias é fundamental declarar ser o Filho perfeito para a glória do Pai. O Pai gera o Filho na sua grandeza, de modo que ele não é menor que o Pai, mas é igual a ele[10].

Como Filho, Jesus prestou obediência ao Pai, obteve as honras excelsas. Fez-se servo e tornou-se Senhor de todos, dos anjos e de todas as outras criaturas, de modo que a exaltação é humilhação e a humilhação é exaltação[11]. O Senhor Jesus veio a este mundo em vista da salvação do ser humano, fez servo, obediente, e foi exaltado sobre todas as criaturas para que toda a língua proclame que Jesus é o Senhor de todas as criaturas. O cântico aos Filipenses de São Paulo estava presente na doutrina de São João Crisóstomo em vista da defesa da fé e prática na pessoa de Jesus diante das heresias, do Senhor Jesus como Deus e como ser humano para a redenção de toda a humanidade. 

[1] Cfr. Sexta Homilia. Carta aos Filipenses. In: São João CrisóstomoComentário às Cartas de São Paulo/3. São Paulo, Paulus, 2013, pg.. 395.

[2] Cfr. Idem, pgs. 395-396.

[3] Cfr. Idem, pgs. 396-398.

[4] Cfr. Idem, pgs. 398-399.

[5] Cfr. Idem, pgs. 399-400.

[6] Cfr. Idem, pgs. 403.

[7] Cfr. Sétima Homilia, pgs. 412-413.

[8] Cfr. Idem, pgs. 413-417.

[9] Cfr. Idem, pgs. 418-420.

[10] Cfr. Idem, pgs. 420-421.

[11]  Cfr. Idem, pg. 422.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF