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quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Santo Ambrósio

Santo Ambrósio (A12)

07 de dezembro

SANTO AMBRÓSIO

Ambrósio, filho de nobres romanos, nasceu em Tréveris, Alemanha, em 340, quando seu pai era governador das Gálias. Recebeu tradicional educação romana, rica em valores morais e cívicos, pelo amor à justiça, retidão, probidade, doação às causas públicas. Aos 35 anos, catecúmeno (na época, o batismo era adiado até a idade adulta) e governador romano com sede em Milão, foi à igreja onde se deveria eleger um novo bispo, para manter a ordem pública: havia uma divergência entre os fiéis católicos e os hereges arianos.

Foi surpreendido com a sua aclamação a bispo, pelo clero e pelos fiéis, por conta das suas elevadas qualidades. Foi então batizado, ordenado sacerdote e sagrado bispo, apesar de seus protestos, mas reconhecendo naquela aclamação a vontade de Deus.

Grande organizador e administrador como alto funcionário do Império, fez o mesmo no episcopado, destacando-se no campo pastoral, doutrinal, litúrgico, político; extirpou definitivamente os restos de paganismo no Senado romano, que ainda cultuava a “deusa vitória”; impôs ao imperador Teodósio, como a qualquer outro fiel, penitência pública por tolerar abusos dos seus legionários que devastaram a cidade de Tessalônica.

 Seus escritos, em latim clássico e elegante, atraíam pela forma e pelo conteúdo, e assim um jovem professor de retórica, Agostinho, chegou à conversão… escreveu textos ascéticos, tratados sobre os deveres do clero e dos fiéis, e quatro obras sobre a virgindade, virtude ignorada pela moral romana. Também poemas, alguns ainda constantes do breviário litúrgico. Por tudo isso, é considerado Doutor da Igreja. Porém, mais do que pregar, vivia a sua fé: jejuava todos os dias, exceto aos domingos, e distribuiu seu grande patrimônio aos pobres e obras de caridade. Faleceu em 4 de abril de 394, aos 60 anos.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Sempre fundamental é a coerência de vida para os que seguem a Cristo, que nos deixou o exemplo de ensinar, e viver concretamente, a Fé. Intelectual e grande administrador, civil e religioso, foi a prática da caridade – seja na correção a um imperador, seja nas obras de misericórdia aos pobres – que deu testemunho da verdade de vida de Santo Ambrósio. A grandeza da partilha dos seus bens, espirituais e materiais, com todos, é modelo claro de ação para os fiéis de todos os tempos.

Oração:

Deus de bondade e misericórdia, que tantas graças e dons concedestes a Santo Ambrósio, dai-nos, pela sua intercessão, utilizar com perseverança e coerência tudo o que de Vós recebemos, para o bem do próximo e para a Vossa maior glória, na generosidade caridosa da entrega e do serviço. Pelas doces mãos de Nossa Senhora, Vossa e nossa Mãe. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Fé, verdade e cultura (1/8)

Fé, verdade e cultura (Presbíteros)

Fé, verdade e cultura

Por Joseph Ratzinger

A busca da verdade – sobre Deus e sobre o mundo – é profundamente humana e aparece em todas as culturas. Mas a verdade não é meramente relativa, como se as culturas fossem incomunicáveis e incapazes de evoluir. É por ela que a fé católica se encontra com a filosofia e com as outras religiões. Estas reflexões do então Cardeal Ratzinger sobre a Encíclica Fides et Ratio, de João Paulo II, foram apresentadas no Primeiro Congresso Internacional da Faculdade San Dámaso de Teologia, em Madrid, no dia 16.02.2000.

Do que trata, essencialmente, a Encíclica Fides et ratio? É um documento só para especialistas, uma tentativa de renovar a partir da perspectiva cristã uma disciplina em crise, a Filosofia, e portanto interessante só para os filósofos, ou coloca uma questão que nos afeta a todos? Dito de outra maneira: A Fé precisa realmente da Filosofia, ou a Fé – que, em palavras de Santo Ambrósio, foi confiada a pescadores e não a dialéticos – é completamente independente da existência ou inexistência de uma filosofia aberta em relação a ela? Se considerarmos a Filosofia apenas como uma disciplina acadêmica entre outras, então a Fé é de fato independente dela. Mas o Papa João Paulo II entende a Filosofia num sentido muito mais amplo e mais conforme com a sua origem. A Filosofia pergunta se o homem pode conhecer a verdade, as verdades fundamentais sobre si mesmo, sobre a sua origem e o seu futuro, ou se vive numa penumbra que não é possível iluminar e tem de recolher-se, em última análise, ao âmbito da utilidade.

A característica própria da Fé cristã no mundo das religiões é que afirma dizer-nos a verdade sobre Deus, o mundo e o homem, e que pretende ser a religio vera, a religião da verdade.

Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida: nestas palavras de Cristo segundo São João (14, 6) está expressa a pretensão fundamental da Fé cristã. Dessa pretensão, brota o impulso missionário da Fé: se a Fé cristã é a verdade, diz respeito a todos os homens. Se fosse apenas uma variante cultural das experiências religiosas do homem, cifradas em símbolos e nunca decifradas, então faria bem em permanecer na sua cultura e deixar as outras em paz.

Mas isto significa o seguinte: a questão da verdade é a questão essencial da Fé cristã, e, neste sentido, a Fé tem inevitavelmente a ver com a Filosofia. Se tivesse que caracterizar brevemente a intenção da Encíclica, diria que quer reabilitar a questão da verdade num mundo marcado pelo relativismo. Perante a situação atual da Ciência – que certamente busca verdades, mas qualifica a questão da verdade como sendo não-científica -, a Encíclica apresenta essa questão como tarefa racional e científica; caso contrário, a Fé perderia o ar que respira. A Encíclica quer simplesmente animar-nos de novo a empreender a aventura da verdade. Por isso fala daquilo que está fora do âmbito da Fé, mas também daquilo que está no próprio centro do mundo da Fé.

Joseph Ratzinger

Fonte: Site interrogantes.net

Link: http://www.interogantes.net

Tradução: Quadrante

https://presbiteros.org.br/

O que é a Academia Brasileira de Hagiologia?

Academia Brasileira de Hagiologia - Abrhagi | Facebook
Participantes da Sessão de fundação da ABRHAGI (esquerda para a direita): Na frente: José Olavo Rodrigues, Paulo Mindello, Horácio Dídimo, Francisco Barbosa Filho, Mantovanni Collares. Atrás: Irmã Francileide Bezerril, Matusahila Santiago, Irmã Elisabeth Silveira, José Luis Lira, Dom José Bezerra Coutinho, Gizela Nunes da Costa e Norma Maia Soares.

Por Reportagem local - publicado em 05/12/23

"Quem deseja compreender a Igreja, precisa conhecer os seus santos, pois a santidade é a dimensão que melhor exprime o seu mistério", afirma o novo presidente da academia.

A hagiologia é a área do conhecimento voltada ao estudo da vida dos santos, sendo especialmente desenvolvida no cristianismo, em particular no catolicismo e nas tradições ortodoxas. A palavra vem do grego, composta por “hagios” (santo) e “logia” (estudo). Um termo relacionado com a hagiologia é a hagiografia, que consiste no registro da vida de um santo e, neste sentido, é semelhante a uma biografia; no entanto, preocupa-se menos com detalhes históricos e mais com o relato da trajetória espiritual e religiosa do biografado.

O Brasil é sede de uma iniciativa pioneira no campo da hagiologia: a criação, em 8 de dezembro de 2004, da Academia Brasileira de Hagiologia – possivelmente, a primeira do gênero em todo o mundo. A data de fundação, a propósito, celebra os 150 anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição e os 100 anos de coroação de Nossa Senhora Aparecida.

Os fundadores da academia são a advogada e escritora Matusahila Santiago, o também advogado e escritor José Luís Lira, ambos criadores da Academia Fortalezense de Letras, bem como a desembargadora Gizela Nunes da Costa. O propósito geral da academia é estudar a santidade e o significado dos santos para o anúncio de Jesus Cristo, assim como estimular a reta veneração dos santos inserindo-os sempre no mistério pascal. A instituição é formada por vinte acadêmicos cearenses, uma vez que foi criada no Ceará, e por mais vinte dos outros Estados brasileiros, a fim de garantir a sua abrangência nacional.

A academia realiza a cada dois anos o Congresso Brasileiro de Hagiologia, além de publicar uma revista e realizar mensalmente palestras sobre os santos.

Nova diretoria

Neste último 29 de novembro, em assembleia geral, a Academia Brasileira de Hagiologia elegeu a sua nova diretoria para o biênio 2024-2025. O presidente eleito é o Ir. André Alves dos Santos, que comentou, conforme registrado pelo Vatican News:

“Quem deseja compreender a Igreja, precisa conhecer os seus santos, pois a santidade é a dimensão que melhor exprime o seu mistério. Assim como homens e mulheres ao longo dos séculos seguiram a Cristo e se santificaram, todas as vezes que a Igreja canoniza um dos seus filhos, ela quer ensinar que a santidade está ao alcance de todos. Quando a Igreja celebra os seus santos, ela celebra as grandezas de Deus, Santo e fonte de toda a santidade, e admirável nos seus santos”.

Os santos e o Brasil

Sobre a veneração aos santos no Brasil, o Ir. André acrescenta:

“Nos últimos anos, a Igreja no Brasil vem despertando para o culto e as causas aos seus santos através da publicação de biografias, construção de igrejas dedicadas aos santos e beatos brasileiros e divulgação de suas vidas e a abertura de novas causas. Todavia, ainda faltam pessoas capacitadas para o árduo trabalho que uma causa exige. Muitos dos veneráveis e servos de Deus brasileiros ainda são desconhecidos até mesmo nas dioceses em que viveram e famílias religiosas que faziam parte. Além de ter santos, o Brasil precisa conhecer os seus candidatos aos altares, os seus heróis da fé”.

É o caso de lembrar, aliás, que todos os cristãos são chamados por Jesus Cristo a serem santos. A Igreja Católica recorda essas vocação sistematicamente a todos os seus membros, como por meio, entre tantos outros documentos, da constituição Lumen Gentium, cujo capítulo quinto apresenta a vocação universal à santidade. Essa vocação consiste na “capacidade de responder ao apelo divino por meio da vivência evangélica do próprio estilo de vida” (cf. LG 39).

Especificamente sobre a vivência da santidade por parte dos católicos brasileiros, cabe lembrar as palavras do Papa São João Paulo II:

“O Brasil precisa de santos”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

NERO OU DOMICIANO?

Mártires cristãos (Guiame)

NERO OU DOMICIANO?

Dom Fernando Arêas Rifan
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (RJ)

Os cristãos dos primeiros séculos discutiam sobre escolhas dos chefes políticos? Certamente não. Era o tempo das perseguições. Nero havia iluminado o seu anfiteatro com os corpos dos cristãos embebidos em piche e incendiados. Domiciano, o segundo grande perseguidor, não foi menos cruel. As perseguições duraram até o início do século IV. 

Os Atos dos Apóstolos, primeiro livro de História da Igreja, narra como era a vida dos primeiros cristãos: “Eles eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão (Eucaristia) e nas orações… Perseverantes e bem unidos, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão pelas casas e tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E, cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que eram salvas (At 2, 42-47). 

Uma das joias da literatura cristã primitiva é a Carta a Diogneto, que assim descreve o perfil dos primeiros cristãos: “Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem por sua terra, nem por sua língua, nem por seus costumes. Eles não moram em cidades separadas, nem falam línguas estranhas, nem têm qualquer modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, nem se deve ao talento e à especulação de homens curiosos; eles não professam, como outros, nenhum ensinamento humano. Pelo contrário: mesmo vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes de cada lugar quanto à roupa, ao alimento e a todo o resto, eles testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como se fossem forasteiros; participam de tudo como cristãos, e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é sua pátria, e cada pátria é para eles estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Compartilham a mesa, mas não o leito; vivem na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm a sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas, com a sua vida, superam todas as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, ainda assim, condenados; são assassinados, e, deste modo, recebem a vida; são pobres, mas enriquecem a muitos; carecem de tudo, mas têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, recebem a glória; são amaldiçoados, mas, depois, proclamados justos; são injuriados e, no entanto, bendizem; são maltratados e, apesar disso, prestam tributo; fazem o bem e são punidos como malfeitores; são condenados, mas se alegram como se recebessem a vida. Os judeus os combatem como estrangeiros; os gregos os perseguem; e quem os odeia não sabe dizer o motivo desse ódio. Assim como a alma está no corpo, assim os cristãos estão no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo; os cristãos, por todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não pertencem ao mundo. A alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são visíveis no mundo, mas a sua religião é invisível…”.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A Igreja cresce em um dos países mais desenvolvidos, mas menos católicos da Europa

Helsinque, a capital da Finlândia | Finn stock | Shutterstock

Por Francisco Vêneto - publicado em 05/12/23

Apenas 0,2% da população se declara católica.

O novo bispo católico de Helsinque, o espanhol dom Raimo Goyarrola, visitou o Papa Francisco antes de receber a ordenação episcopal e lhe agradeceu pela confiança ao encarregá-lo pastoralmente de um país desafiador: de fato, na Finlândia, de arraigada cultura luterana e em acelerado processo de secularização, somente 0,2% da população se declara católica.

A agência de notícias ACI Prensa conversou com dom Raimo durante a sua passagem por Roma. O novo bispo, que é médico e membro do Opus Dei, contou que convidou Francisco a visitar o país nórdico, onde, embora seja bispo há pouco tempo, já morava havia mais de 20 anos.

A Finlândia tem cerca de 5,5 milhões de habitantes, dos quais apenas 14 mil são católicos. E este número, embora pequeno em termos absolutos, vem crescendo a cada ano – como na parábola do grão de mostarda. O crescimento se deve, em parte, aos imigrantes e refugiados, mas também existe aumento na quantidade de batismos tanto de crianças quanto de adultos finlandeses, muitos dos quais eram membros de outras confissões cristãs.

Esses fiéis, conta o novo bispo, lhe proporcionaram um “acolhimento que foi lindo, com imenso carinho e entusiasmo, inclusive no aspecto ecumênico”. Dom Raimo relata que recebeu “mensagens de apoio, parabéns, orações… e elas continuam”.

Para o bispo, o segredo do crescimento da comunidade católica na Finlândia é o próprio Jesus:

“Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Se abrirmos espaço para o Senhor em nosso coração, poderemos levá-lo a outras pessoas. Somos como os primeiros cristãos. Onde quer que estejamos, seremos sal e luz para os outros, com nosso amor, nossa amizade e nosso testemunho. Os primeiros cristãos mudaram a sociedade”.

Nesse processo, o testemunho do pequeno rebanho católico é crucial para promover as conversões:

“Alguns se sentem atraídos pelo sacramento da confissão, outros pela Eucaristia, outros pela figura do papa, outros pela doutrina clara, positiva e bela do matrimônio e da vida humana”.

Em contrapartida, a secularização assola a Finlândia, como de resto varre todo o continente europeu, em particular o norte:

“A secularização está causando estragos na população de forma acelerada, mas a fé dos católicos finlandeses será essa luz que não apenas nos permitirá ver o caminho que leva à casa do Pai, para onde nós todos somos chamados, mas também calor para derreter os corações congelados pela distância de Deus e torná-los mais calorosos, mais humanos e mais divinos. Cada pessoa é única e Deus toca os corações com algo concreto para depois saborear toda a mensagem da Igreja, o conteúdo da nossa fé”.

De fato, o laicismo na Finlândia chegou a tal nível de intolerância ideológica anticristã que até mesmo uma ex-ministra de Estado foi processada recentemente em decorrência das suas declarações públicas de fé. Após um longo processo, ela foi absolvida, mas o precedente gerou preocupações em todo o continente pelo avanço de uma agenda persecutória em relação às liberdades de religião e expressão.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

NAZARENO: O encontro com o Maligno (as tentações no deserto) - (10)

Nazareno (Vatican Media)

Cap. 10 - O encontro com o Maligno (as tentações no deserto)

Depois de ser batizado, Jesus volta para o deserto e escolhe um lugar para rezar, com vista para o vale do Jordão. Ele sente as dores da fome, a garganta que queima pela falta de água, a imensa e silenciosa solidão do deserto. Muitos dias e noites se passam, e quanto mais suas forças lhe faltam, mais cresce seu abandono ao Pai. Na hora mais quente, ele vê um homem magro e comprido, com olhos penetrantes e perturbadores e lábios muito finos. Ele fala com ele como se o conhecesse a vida inteira. Jesus nunca responde, mesmo quando confrontado com a oferta de comida, e quando confrontado com a provocação, ele fala: "Também está escrito: Não porás à prova o Senhor teu Deus". Jesus o expulsa, e aquela criatura se torna uma fera ferida e gritante que se desfaz em nada. Após a luta com o Maligno, ele desaba suando sobre as pedras, os anjos sopram uma brisa para refrescá-lo, e é então que ele adormece.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2023/09/01/09/137285608_F137285608.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Papa: a missão não é um manual a ser aplicado, mas obra do Espírito Santo

Papa Francisco em Audiência Geral - 06/12/2023 (Vatican Media)

Na Audiência Geral desta quarta-feira (06/11), Francisco reafirmou que se sente "muito melhor", mas que sente dificuldades "quando fala demais". A reflexão, pronunciada por mons. Ciampanelli, foi dedicada à quarta dimensão do zelo apostólico: o Espírito Santo, protagonista do anúncio do Evangelho.

https://youtu.be/qpqhdOxEqcw

Thulio Fonseca - Vatican News

Francisco entrou caminhando na Sala Paulo VI enquanto os milhares de fiéis e peregrinos o saudavam. Ainda um pouco ofegante, o Papa deu início à Audiência Geral desta quarta-feira, 6 de dezembro, fazendo o sinal da cruz.

“Irmãs e irmãos, bom dia, bem-vindos a todos. Também hoje pedi ao monsenhor Ciampanelli para ler porque ainda estou com dificuldade. Estou muito melhor, mas tenho dificuldades se falo demais. É por isso que ele vai ler.”, foram as palavras introdutórias do Santo Padre, em seguida, Monsenhor Filippo Ciampanelli, colaborador da Secretaria de Estado, proferiu a catequese sobre a quarta dimensão do zelo apostólico, “o anúncio é movido pelo Espírito Santo”:

“Nas catequeses anteriores, vimos que o anúncio do Evangelho é alegria, é para todos e deve ser dirigido ao hoje. Descubramos agora uma última característica essencial: o anúncio deve realizar-se no Espírito Santo. Com efeito, para 'comunicar Deus' não bastam a alegre credibilidade do testemunho, a universalidade do anúncio e a atualidade da mensagem. Sem o Espírito Santo todo zelo é vão e falsamente apostólico: seria apenas nosso e não daria frutos”.

O Espírito Santo protagonista

No texto, o Papa recorda que, como escreveu na Evangelii gaudium, “Jesus é o primeiro e o maior evangelizador”; que “em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus”, que “quis chamar-nos para cooperar com Ele e impelir-nos com a força do seu Espírito”. 

“O Espírito é o protagonista, sempre precede os missionários e faz brotar os frutos. Essa consciência nos consola muito! E ajuda-nos a esclarecer outra, igualmente decisiva: isto é, que no seu zelo apostólico a Igreja não anuncia si mesma, mas uma graça, um dom, e o Espírito Santo é precisamente o Dom de Deus”.

Segundo Francisco, a primazia do Espírito não deve levar-nos à indolência:

“O Senhor não nos deixou folhetos teológicos ou um manual de pastoral para aplicar, mas o Espírito Santo que inspira a missão. E a desenvoltura corajosa que o Espírito infunde leva-nos a imitar o seu estilo, que tem sempre duas características: a criatividade e a simplicidade.”

Criatividade pastoral

No texto lido por mons. Ciampanelli, o Papa destaca que a criatividade é necessária para anunciar Jesus com alegria, a todos e no hoje.

“Nesta nossa época, que não nos ajuda a ter uma visão religiosa da vida e em que o anúncio se tornou mais difícil, cansativo e aparentemente infrutífero em vários lugares, pode surgir a tentação de desistir do serviço pastoral. Talvez nos refugiemos em zonas de segurança, como na repetição habitual de coisas que sempre fazemos, ou nos apelos tentadores de uma espiritualidade íntima, ou mesmo num sentido incompreendido da centralidade da liturgia. São tentações que se disfarçam de fidelidade à tradição, mas muitas vezes, em vez de respostas ao Espírito, são reações às insatisfações pessoais.” 

“A criatividade pastoral, o ser ousados no Espírito, ardentes com o seu fogo missionário, é prova de fidelidade a Ele. Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo atual.”

A simplicidade evangelizadora

A segunda característica que Francisco enfatiza é a simplicidade, “precisamente porque o Espírito nos leva à fonte, ao primeiro anúncio, que deve ocupar o centro da atividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial”.

“Irmãos e irmãs, deixemo-nos cativar pelo Espírito e invoquemo-lo todos os dias: seja Ele o princípio do nosso ser e do nosso agir; esteja no início de cada atividade, reunião, encontro e anúncio. Ele vivifica e rejuvenesce a Igreja: com Ele não devemos temer, porque Ele, que é a harmonia, mantém sempre juntas a criatividade e a simplicidade, inspira a comunhão e envia em missão, abre à diversidade e reconduz à unidade. Ele é a nossa força, o sopro do nosso anúncio, a fonte do zelo apostólico. Vinde, Espírito Santo!”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Os progressistas, os conservadores… e o futuro da Igreja

Santa Missa de abertura do Sínodo dos Bispos 2023 no Vaticano
Antoine Mekary | ALETEIA

Por Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 03/12/23

O futuro da Igreja provavelmente verá um crescimento, ao menos do ponto de vista demográfico, de seu lado “conservador”. Entenda:

Li recentemente, no New York Times, um texto de Ross Douthat, articulista católico daquele jornal, comentando as polêmicas entre “progressistas” e “conservadores” em torno do pontificado de Francisco. Referia-se, particularmente, à destituição do bispo Joseph Strickland, da diocese de Tyler, no Texas, uma atitude do Vaticano que desagradou aos “conservadores”; e à carta que a Santa Sé dirigiu ao Caminho Sinodal Alemão, reafirmando o magistério em relação à ordenação de mulheres e à homossexualidade, dessa vez desagradando aos “progressistas”.

Douthat vê, nesses dois gestos, uma preocupação do Papa em evitar que os extremismos de ambos os lados terminem por desgarrar parte do povo de Deus e, numa possibilidade mais radical, levar a um cisma. Não é uma discussão nova. Assim como São João Paulo II e Bento XVI eram acusados de pender mais para os conservadores, Francisco é acusado de pender mais para os progressistas. Quando se analisa as situações com cuidado, se percebe que o posicionamento dos papas – qualquer um desses três – não é sectário ou polarizado, se encontrando em suas mensagens tantos aspectos “progressistas” quanto “conservadores”.

Antes de continuar essa reflexão, é bom lembrar que tanto “progressista” quanto “conservador” são rótulos que não definem o magistério católico, nem deveriam servir para definir a posição dos católicos. A Igreja – e cada um de nós – deve ser progressista, mudando ou incentivando a mudança do que está errado, e conservadora, mantendo ou incentivando a manutenção do que está certo. Contudo, as polarizações, certas ou erradas, são um dado da realidade e não podemos fugir delas, principalmente se desejamos superá-las, buscando a verdadeira unidade em Cristo.

Quem está crescendo?

O aspecto mais interessante do artigo de Douthat é uma comparação entre a Igreja norte-americana e a alemã, as duas mais ricas e que mais contribuem financeiramente para o catolicismo mundial. A primeira tem cerca de 73 milhões de fiéis, a segunda, 21 milhões. Enquanto nos Estados Unidos existem mais de 3.000 seminaristas diocesanos, a Alemanha amarga uma gigantesca crise de vocações, com apenas 48 novos seminaristas em 2022. A título de comparação, o Brasil tem mais de 120 milhões de católicos (a maior população católica do mundo) e pouco mais de 5.000 seminaristas diocesanos.

A questão, aponta Douthat, é que os católicos norte-americanos são cada vez mais “conservadores” – e isso parece estar fortalecendo suas comunidades; enquanto, na Alemanha, existe um esforço evidente do Caminho Sinodal de mudanças “progressistas”, que copiariam práticas das igrejas protestantes. Mas, argumenta Douthat, é uma busca desesperada por uma solução que tende a só aumentar a crise.

Para completar o quadro, temos ainda os posicionamentos do Papa Francisco, frequentemente interpretados como “progressistas”…

A dinâmica das minorias

Ao longo do século XX, a Igreja Católica perdeu a hegemonia político-cultural que detinha nos países onde era majoritária. Isso não tem a ver só com uma perda de fiéis, mas – sobretudo – com a perda da capacidade de indicar seus valores como bons e desejáveis para as pessoas. Até pior, os valores defendidos pelo cristianismo frequentemente se tornaram uma espécie de “bodes expiatórios”, como se fossem os responsáveis por todas as mazelas da sociedade. Foi uma perda de capacidade de dialogar com o mundo e suas mudanças, um problema que vem de bem antes, e que só começou a ser enfrentado institucionalmente, com a devida firmeza, a partir do Concílio Vaticano II.

A questão é que os católicos, principalmente os jovens, passaram a sentir-se cada vez mais “cancelados” na sociedade …. Mas o cancelamento nem sempre tem o resultado esperado. Pode levar a uma perda da expressão social de um grupo, mas fortalece seus laços internos e suas convicções. Os cancelados precisam ser confirmados em suas práticas e em suas ideias – e nisto o discurso tido como “conservador” é muito mais eficaz. Por outro lado, um discurso vago e inseguro tende a afastar os cancelados, que preferem, nesse caso, aderir ao discurso hegemônico.

O Espírito corrige os que estão fortes

Não sei o que se passa na cabeça do Papa Francisco. Como todos os demais, procuro entender seus documentos e pronunciamentos. Indo além dessas fontes, não posso dizer o que ele pensa das polêmicas entre “progressistas” e “conservadores”. Contudo, esse quadro geral aponta para uma curiosa característica da Igreja.

Minha mãe, uma católica muito ortodoxa e fervorosa, dum tempo em que não se falava em polarizações na Igreja, me ensinava: quem nos ama, nos corrige. Nada do que é humano é perfeito e a correção, tanto a fraterna quanto aquela exercida pela autoridade eclesial, é necessária para que nos aproximemos cada vez mais de Deus. Por isso, a Igreja corrige seus filhos mais fortes e próximos a ela e se desvela em acolhimento para com os mais frágeis e mais distantes.

Num tempo que os poderosos procuram calar os católicos e censurar seus valores, em que tendemos a nos enrijecer e nos fecharmos em nossas convicções, o mais esperado deveria ser mesmo que o Espírito nos convidasse a abertura, ao perdão e ao diálogo. É o contrário do que pensa “o mundo”. Pensamos que a instituição eclesial e o próprio papa deveriam seguir as tendências ditadas pela história, para fortalecer os quadros católicos, como fariam as lideranças partidárias. Mas o Espírito quer a nossa santificação, não nossa força política. Quer conquistar os corações para Deus, não os indivíduos para os censos demográficos… Por isso, o caminho eclesial é de correção dos fortes e não de reafirmação de suas posições.

O futuro da Igreja provavelmente verá um crescimento, ao menos do ponto de vista demográfico, de seu lado “conservador” – mas, justamente por isso, esse é um tempo em que nosso conservadorismo precisa ser continuamente corrigido, para que encontremos a Deus, não para que sirvamos a esse ou aquele projeto de poder.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Festa da Imaculada, o Papa doará a Rosa de Ouro para a Salus Populi Romani

O Papa Francisco em oração diante da Salus Populi Romani (Vatican Media)

Símbolo da bênção papal, será entregue por Francisco ao ícone mariano conservado na Basílica papal de Santa Maria Maior, na tarde de 8 de dezembro. Um gesto histórico que não se repete há 400 anos.

Vatican News

O Ato de veneração à estátua da Imaculada Conceição na Praça de Espanha, centro de Roma, que o Papa realizará às 16h do próximo dia 8 de dezembro, terá uma pequena cerimônia meia hora antes na Basílica papal de Santa Maria Maior, à qual Francisco chegará para a tradicional visita com a finalidade levar a homenagem da "Rosa de Ouro" ao ícone da Salus Populi Romani.

Um presente antigo

A Rosa de Ouro tem raízes antigas, simbolizando a bênção papal, e a tradição desse presente remonta à Idade Média. Ao longo dos séculos, ela foi dada a mosteiros, santuários, soberanos e personalidades proeminentes em reconhecimento ao seu compromisso com a fé e o bem comum. Com o presente da Rosa para a Salus, "o Papa Francisco - diz uma nota da basílica mariana - enfatiza a importância espiritual e o profundo significado que esse ícone tem na vida da Igreja Católica, pois é também o mais antigo santuário mariano do Ocidente dedicado à Mãe de Deus".

Os dois precedentes

A Rosa a ser doada pelo Papa não é a única atribuída à Salus. A primeira foi doada em 1551 pelo Papa Júlio III, que era profundamente devoto do ícone mariano mantido na Basílica e onde, no altar do Presépio, ele celebrou sua primeira Missa. Em 1613, o Papa Paulo V doou a Rosa de Ouro por ocasião do traslado do venerado ícone para a nova capela construída para esse fim. A Basílica não conserva nenhum vestígio das duas Rosas de Ouro doadas pelos dois Pontífices, que provavelmente se perderam com a invasão napoleônica do Estado Pontifício (Tratado de Tolentino, 1797). Portanto, após 400 anos, continua a nota, "o Pontífice quis dar um sinal tangível de sua devoção ao venerado ícone, fortalecendo o vínculo milenar entre a Igreja Católica e a cidade de Roma".

"Gesto histórico"

Ao receber a notícia dessa homenagem, o comissário extraordinário da basílica, dom Rolandas Makrickas, expressou sua alegria, dizendo: "O presente da Rosa de Ouro é um gesto histórico que expressa visivelmente o profundo vínculo do Papa Francisco com a Mãe de Deus, que é venerada neste santuário sob o título de Salus Populi Romani. O povo de Deus poderá será fortalecido ainda mais em seu vínculo espiritual e devocional com a Santíssima Virgem Maria. À Salus pedimos o dom da paz para o mundo inteiro".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O Verbo abreviado

Presépio montado na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, Roma (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 12/2006

O Verbo abreviado

Os trechos a seguir foram extraídos de: Henri de Lubac, Esegesi medievale. I quattro sensi della Scrittura (vol. III, Milão, Jaca Book, 1996)

de Henri de Lubac

Em Jesus Cristo, que era seu fim, a Lei antiga encontrava anteriormente a sua unidade. Século após século, tudo nessa Lei convergia para Ele. É Ele que, da “totalidade das Escrituras”, formava já “a única Palavra de Deus”. [...]

N’Ele, os “verba multa” (as muitas palavras) dos escritores bíblicos se tornam para sempre “Verbum unum” (a única Palavra). Sem Ele, no entanto, o laço se desfaz: de novo a palavra de Deus se reduz a fragmentos de “palavras humanas”; palavras múltiplas, não apenas numerosas, mas múltiplas por essência e sem unidade possível, pois, como constata Hugo de São Vítor, “multi sunt sermones hominis, quia cor hominis unum non est” (numerosas são as palavras do homem, pois o coração do homem não é uno). [...]

Eis então esse Verbo único. Ei-lo entre nós, “descido de Sion”, tendo tomado carne no seio da Virgem. “Omnem Scripturae universitatem, omne verbum suum Deus in utero virginis coadunavit” (todo o conjunto das Escrituras, cada palavra sua, Deus o reuniu no seio da Virgem). [...]

Ei-lo agora, total, único, na sua unidade visível. Verbo abreviado, Verbo “concentrado”, não apenas neste primeiro sentido, de que Aquele que é em si mesmo imenso e incompreensível, Aquele que é infinito no seio do Pai se encerra no seio da Virgem ou se reduz às proporções de uma criança no estábulo de Belém, como São Bernardo e seus filhos gostavam de falar dele, como repetiam M. Olier, num hino para o Ofício, a respeito da vida interior de Maria, e, ainda ontem, padre Teilhard de Chardin; mas também e ao mesmo tempo, neste sentido, de que o conteúdo múltiplo das Escrituras espalhadas ao longo dos séculos de espera vem a concentrar-se todo inteiro para se cumprir, ou seja, para se unificar, se completar, se iluminar e se transcender nEle. “Semel locutus est Deus” (Deus pronunciou uma só palavra): Deus pronuncia uma só palavra, não apenas em si mesmo, em sua eternidade sem vicissitudes, no ato imóvel com o qual gera o Verbo, como Santo Agostinho recordava; mas também, como já Santo Ambrósio ensinava, no tempo e entre os homens, no ato com o qual ele envia o seu Verbo a habitar na nossa terra. “Semel locutus est Deus, quando locutus in Filio est” (Deus pronunciou uma só palavra, quando falou no seu Filho): pois é Ele que dá o sentido a todas as palavras que o anunciavam, tudo se explica nEle e somente nEle; “et audita sunt etiam illa quae ante audita non erant ab lis quibus locutus fuerat per prophetas” (e se entenderam então também todas aquelas palavras que não haviam sido entendidas antes por aqueles aos quais Ele havia falado por meio dos profetas). [...]

Sim, Verbo abreviado, “abreviadíssimo”, “brevissimum”, mas substancial por excelência. Verbo abreviado, mas maior do que aquilo que abrevia. Unidade de plenitude. Concentração de luz. A encarnação do Verbo equivale à abertura do Livro, cuja multiplicidade exterior deixa perceber desde já o “miolo” único, esse miolo do qual os fiéis se alimentarão. Eis que com o fiat (aconteça) de Maria que responde ao anúncio do anjo, a Palavra, até aqui apenas “audível aos ouvidos”, se tornou “visível aos olhos, palpável às mãos, carregável às costas”. Mais ainda: ela se tornou “comestível”. Nada das verdades antigas, nem dos antigos preceitos, foi perdido, mas tudo passou para um estado melhor. Todas as Escrituras se reúnem nas mãos de Jesus como o pão eucarístico, e, carregando-as, ele carrega a si mesmo em suas mãos: “toda a Bíblia em substância, a fim de que nós façamos dela um só punhado de comida...”. “Mais de uma vez e sob várias formas” Deus distribuiu aos homens, folha após folha, um livro escrito, no qual uma Palavra única estava escondida sob numerosas palavras; hoje ele abre a eles esse livro, para mostrar-lhes todas essas palavras reunidas na Palavra única. “Filius incarnatus, Verbum incarnatum, Liber maximus” (Filho encarnado, Verbo encarnado, Livro por excelência): o pergaminho do Livro agora é Sua carne; o que nele está escrito é a Sua divindade. [...]

Toda a essência da revelação está contida no preceito do amor; nessa única palavra, “toda a Lei e os Profetas”. Mas esse Evangelho, anunciado por Jesus, essa palavra pronunciada por Ele, se contém tudo, é porque nada mais é que Jesus mesmo. A sua obra, a sua doutrina, a sua revelação: é Ele! A perfeição que ele ensina é a perfeição que ele traz. “Christus, plenitudo legis” (Cristo, plenitude da lei). É impossível separar a Sua mensagem da Sua pessoa, e aqueles que tentaram isso não tardaram muito a ser induzidos a trair a própria mensagem; pessoa e mensagem, enfim, não fazem senão uma coisa só. “Verbum abbreviatum, Verbum coadunatum”: Verbo condensado, unificado, perfeito! Verbo vivo e vivificante. Contrariamente às leis da linguagem humana, que se torna clara quando é explicada, ele, de obscuro, se torna manifesto apresentando-se sob sua forma abreviada: Verbo pronunciado antes “in abscondito” (ocultamente), e agora “manifestum in carne” (manifesto na carne). Verbo abreviado, Verbo sempre inefável em si mesmo, e que todavia explica tudo! [...]

As duas formas do Verbo abreviado e dilatado são inseparáveis. O Livro, portanto, continua, mas ao mesmo tempo passa todo inteiro para Jesus, e, para o crente, a sua meditação consiste em contemplar essa passagem. Mani e Maomé escreveram livros. Jesus, por sua vez, não escreveu nada; Moisés e os outros profetas “escreveram dele”. A relação entre o Livro e a sua Pessoa é portanto o oposto da relação que se observa em outros casos. Assim, a Lei evangélica não é de forma alguma uma “lex scripta” (lei escrita). O cristianismo, propriamente falando, não é de forma alguma uma “religião do Livro”: é a religião da Palavra – mas não unicamente nem principalmente da Palavra sob a sua forma escrita. É a religião do Verbo, “não de um verbo escrito e mudo, mas de um Verbo encarnado e vivo”. A Palavra de Deus hoje está aqui entre nós, “de maneira tal que a vemos e tocamos”: Palavra “viva e eficaz”, única e pessoal, que unifica e sublima todas as palavras que dão testemunho dela. O cristianismo não é “a religião bíblica”: é a religião de Jesus Cristo.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF