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domingo, 10 de dezembro de 2023

Legalização das drogas, o Estado e a liberdade de cada um

Aleksandr Yu | Shutterstock

Por Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 10/12/23

O conceito de fundo é que cada um é livre, num Estado democrático, para fazer o que bem entender, desde que não prejudique aos demais. Mas essa concepção nos engana em dois aspectos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) voltará, no início de 2024, a julgar a possibilidade de descriminalização do porte de drogas no Brasil, em particular a maconha. Poucos temas são tão impregnados de ideologia quanto este. Por outro lado, o tema é realmente complexo e tem uma boa dose de relatividade.

Seja qual for a posição de cada um, ninguém de boa-intenção gostaria de ver drogas pesadas serem oferecidas a uma criança pequena, ou uma sociedade que matasse sumariamente todo drogado e todo vendedor de drogas. O sucesso maior ou menor de uma estratégia com relação às drogas depende muito da forma como é executada. Propostas nem tão boas, se bem executadas, podem dar melhores resultados do que propostas ideais, porém mal realizadas. Mas isso passa longe dos discursos ideológicos, de um lado e de outro.

Além disso, para entendermos adequadamente o problema, temos que considerá-lo em três aspectos. O primeiro é o cultural: qual o papel da liberdade pessoal e da autoridade do Estado numa política para as drogas? Depois, temos um aspecto social: é bastante óbvio que drogas são perigosas para a saúde (ainda que algumas, como álcool e tabaco, sejam aceitas quase universalmente), como prevenir seu uso abusivo? Por último, mas não menos importante, o aspecto policial: como combater o crime organizado que explora o narcotráfico?

São muitos aspectos, todos complexos. Sendo assim, vejamos nesse artigo apenas o cultural, deixando os demais para outros artigos futuros.

Duas comparações incômodas: o álcool e o tabaco

Substâncias psicoativas, que alteram a percepção, o humor, a consciência e o comportamento, são sabidamente danosas tanto para os indivíduos quanto para a sociedade. Sendo assim, por que existe todo esse movimento para liberar o consumo da maconha? Qual seria a lógica desse movimento?

Teorias conspiratórias, invocando intenções de destruir famílias e manipular mentes não se sustentam para quem conhece tantos porta-vozes desse movimento bem-intencionados. A grande maioria dos defensores da descriminalização do porte de drogas agem de boa-fé, se espelhando nos casos do álcool e do tabaco.

O consumo moderado de álcool não é, obrigatoriamente, danoso (ainda que também não seja, obrigatoriamente, seguro). Ao longo dos séculos, a humanidade aprendeu a desenvolver bebidas e hábitos que minimizam os riscos do seu excesso. A sensibilidade e o risco de tornar-se dependente, perdendo inclusive o autocontrole, varia de pessoa para pessoa, mas cada um acredita que será capaz de consumir moderadamente, não se tornando dependente.

A Lei Seca nos Estados Unidos vigorou de 1920 a 1933, proibindo a produção, venda e transporte de bebidas alcoólicas. Estudos estatísticos mostraram que houve uma diminuição das mortes em acidentes de trânsito naquele período – portanto o álcool, mesmo consumido em quantidades socialmente aceitas, pode ser perigoso. No entanto, a lei foi revogada, pois contribuiu para o crescimento do crime organizado e para o aumento da corrupção.

Assim, imagina-se que as drogas ilícitas, se liberadas, terão um destino similar ao álcool. Passarão a ter um consumo moderado, dentro de níveis socialmente aceitáveis, e sem contribuírem para o crime organizado. E se alguém se prejudicar seriamente pela dependência, será um problema individual da pessoa.

A história dos cigarros de tabaco é bem diferente. Permitidos, foram amplamente apresentados pela propaganda como elementos virilidade masculina e até de charme feminino. Até que o câncer no pulmão, causado pelo fumo, se tornou um problema grave de saúde pública e os tribunais começaram a dar ganho de causa para vítimas que alegavam ter adquirido o câncer em função das campanhas publicitárias das fábricas de cigarro. 

No mundo todo, as políticas antitabagismo têm reduzido o consumo do tabaco, sem necessidade de uma proibição legal. No Brasil, de 1989 a 2010, a queda do percentual de fumantes foi de 46%. Mesmo não sendo proibido, o consumo do tabaco vem diminuindo graças a campanhas que restringem a publicidade, conscientizam para os perigos do fumo, proíbem de fumar em lugares públicos, etc. 

Atualmente, a sociedade está convicta de que o vício de fumar é danoso tanto para a pessoa quanto para a sociedade, mas tem-se a ilusão que drogas “leves” como a maconha não trariam danos sociais e seu consumo poderia ser confiado à autonomia individual. Ignora-se tanto seus efeitos danosos quanto a força daqueles que induzem as pessoas ao consumo e à dependência.

Liberar sem educar é perigosíssimo

Lícito, o álcool é uma droga potencialmente danosa – e, por ser amplamente consumido, causa muito mais mortes e danos que as drogas ilícitas. Já a proibição às drogas ilícitas foi se consolidando ao longo dos anos. A partir daí, argumenta-se que as proibições são seletivas, determinadas por interesses econômicos e políticos. Isso não muda o fato de que drogas são potencialmente danosas – e sua liberação, perigosa; mas cria-se a ideia de que seria uma ideologia repressora, e não o perigo em si, a causa da proibição.

Por outro lado, as campanhas de esclarecimento mostraram à sociedade que o tabaco é perigoso, levando a uma redução do tabagismo sem proibição. Isso não significa que as drogas ilícitas devem ser permitidas. Diminuir um fator de risco não implica em poder aumentar outro… Contudo, mostra que, quando existe vontade política e empenho, campanhas educacionais e medidas restritivas podem ser bem-sucedidas no combate à drogadição.

No Brasil, contudo, se fala muito em descriminalização do porte de drogas, mas muito menos em campanhas drásticas, como aquelas contra o tabaco, alertando a juventude dos perigos do uso de drogas. Difícil imaginar que uma combinação entre liberação do uso e falta de campanhas de esclarecimento levará a outra situação que não a de uma catástrofe anunciada.

E a liberdade individual?

Porém, quando o STF discute a descriminalização do porte da maconha, está considerando não tanto esses aspectos, mas sim o princípio constitucional da liberdade individual. O conceito de fundo é que cada um é livre, num Estado democrático, para fazer o que bem entender, desde que não prejudique aos demais. Mas essa concepção nos engana em dois aspectos.

Em primeiro lugar, nessa visão, a autonomia – e não a liberdade – é o valor supremo. Mas a autonomia é apenas uma condição para a liberdade. Fazemos a experiência da liberdade quando usamos nossas potencialidades para nos realizarmos como pessoa, não simplesmente quando fazemos o que queremos. Se usamos a autonomia para optar por aquilo que reduz nossas potencialidades, como acontece com a droga, não caminhamos rumo à liberdade, mas sim em direção à dependência.

Por isso, o Estado, quando impõe limites ao uso de substâncias psicoativas, não apenas está defendendo a segurança das pessoas (uma pessoa em estado alterado pode se tornar perigosa para todos ao dirigir ou em uma simples briga). Está cumprindo o seu dever de evitar que a pessoa faça mal para si mesma.

Ah! Mas então estamos defendendo um Estado paternalista, que monitora e controla as pessoas? Não. Esse é o segundo erro dessa concepção: imaginar que as pessoas podem agir de forma totalmente autônoma, sem nenhuma influência exterior, que a vida privada pode ser totalmente desvinculada da vida pública. Contudo, na vida em sociedade, ninguém é totalmente autônomo. Mesmo que o Estado não interfira em nossas decisões, haverá o poder da propaganda, dos influenciadores sociais, da mentalidade hegemônica, dos comércios ilegais, etc.

Existe uma relação permanente entre o Estado, a sociedade e a pessoa. Nunca somos totalmente autônomos, nunca somos totalmente determinados pelo meio em que estamos. Para que sejamos o mais livres possível, cabe sim às instituições públicas (Estado, igrejas, escolas, etc.) usarem todos os meios válidos para orientarem nossa autonomia, de modo que nos tornemos cada vez mais livres. Caso contrário, seremos cada vez mais presas fáceis do mal.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Fé, verdade e cultura (5/8)

Fé, verdade e cultura (Presbíteros)

Fé, verdade e cultura

Por Joseph Ratzinger

b) A superação das culturas na Bíblia e na história da Fé

Tendo o Papa insistido no caráter irrenunciável da herança cultural forjada no passado, que chegou a ser um veículo para a verdade comum de Deus e do homem, surge então espontaneamente a questão de se isso não seria canonizar um eurocentrismo da Fé. Um eurocentrismo que não parece ter sido superado pelo fato de que, ao longo da História, possam introduzir-se – ou já se tenham introduzido – novas heranças na identidade da fé constante que afeta a todos.

É uma questão que não se pode evitar. Até que ponto a Fé é grega ou latina, tendo aliás surgido não no mundo greco-latino, mas no mundo semita do antigo Oriente, onde estavam e estão em contato a Ásia, a África e a Europa? A Encíclica assume uma posição sobre isso, especialmente no seu segundo capítulo, em que trata do desenvolvimento do pensamento filosófico no interior da Bíblia, e no quarto capítulo, ao apresentar o encontro decisivo dessa sabedoria da razão cultivada na Fé com a sabedoria grega da Filosofia. Gostaria de acrescentar o seguinte:

Um variado acervo de pensamento religioso e filosófico, a partir de mundos culturais diversos, já está elaborado na Bíblia. A Palavra de Deus desenvolve-se num processo de encontros com a busca humana por respostas às suas perguntas últimas. Essa Palavra não é algo caído do céu como um meteorito: é precisamente uma síntese de culturas. Vista com mais profundidade, permite reconhecer um processo no qual Deus luta com o homem, fazendo com que este se vá abrindo lentamente à sua Palavra mais profunda, a Si próprio: ao Filho, que é o Logos.

A Bíblia não é a mera expressão da cultura do povo de Israel. Está, pelo contrário, continuamente em disputa com a intenção – totalmente natural desse povo – de ser ele próprio e de instalar-se na sua própria cultura. A Fé em Deus e o sim à sua vontade vão-lhe continuamente desarraigando as representações e aspirações próprias. Deus enfrenta-se continuamente com a religiosidade peculiar a Israel e com a sua cultura religiosa, que queria expressar-se no culto dos lugares altos, à deusa celeste e na pretensão de poder da própria monarquia.

Começando pela cólera de Deus e de Moisés contra o culto do bezerro de ouro no Sinai e até os últimos profetas depois do Exílio, tudo sempre concorre para que Israel desprenda-se da sua própria identidade cultural, abandone, por assim dizer, o culto à própria nacionalidade, o culto à raça e à terra, para inclinar-se diante do Deus totalmente outro, de Quem não podem apropriar-se, do Deus que criou o Céu e a Terra, e que é Deus de todos os povos.

A Fé de Israel significa uma permanente autossuperação da própria cultura na abertura no horizonte da verdade comum. Os livros do Antigo Testamento podem parecer, sob muitos pontos de vista, menos piedosos, menos poéticos, menos inspirados do que certas passagens mais importantes dos livros sagrados de outros povos. Mas em troca têm sua singularidade na índole combativa da Fé contra aquilo que é próprio, nesse desarraigamento daquilo que é próprio, iniciado com a peregrinação de Abraão.

A libertação da Lei que São Paulo alcança pelo seu encontro com Jesus Cristo ressuscitado conduz essa orientação fundamental do Antigo Testamento à sua conseqüência lógica: a plena universalização dessa Fé, separada da ordem nacional. Agora todos os povos são convidados a ingressar nesse processo de superação daquilo que é próprio, começado em primeiro lugar em Israel. Todos são convidados a se converterem a Deus, que se despojando de Si mesmo em Jesus Cristo derrubou o “muro de inimizade” que havia entre nós (cfr. Ef 2, 14) e nos congrega a todos na auto-entrega da Cruz.

Desse modo, a Fé em Jesus Cristo é na sua essência um permanente abrir-se, uma irrupção de Deus no mundo humano com a correspondente abertura do homem para Deus, que ao mesmo tempo congrega os homens. Tudo o que é próprio pertence agora a todos, e tudo o que é alheio chega a ser, ao mesmo tempo, algo próprio. E tudo abarcado pela palavra do pai ao filho mais velho: Tudo o que é meu é teu (Lc 15, 31), que torna a aparecer na oração sacerdotal de Jesus como modo de o Filho dirigir-se ao Pai: Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é meu é teu” (Jo 17, 10).

Esse padrão determina também o encontro da mensagem revelada com a cultura grega, que por certo não começa apenas com a evangelização cristã: já se desenvolvera dentro dos escritos do Antigo Testamento – sobretudo mediante a sua tradução ao grego -, e a partir de então no judaísmo primitivo. Esse encontro era possível, porque já fora aberto o caminho no mundo grego para um acontecimento de autotranscendência como esse. Os Padres da Igreja não verteram sem mais no Evangelho uma cultura grega que se mantinha em si e por si mesma: puderam assumir o diálogo com a filosofia grega e convertê-la em instrumento do Evangelho justamente porque nesse mundo grego já se tinha iniciado, mediante a busca de Deus, uma autocrítica da própria cultura e do próprio pensamento.

A Fé une os diversos povos – começando pelos germanos e pelos eslavos, que na época das invasões bárbaras tomaram contato com a mensagem cristã, até os povos da Ásia, da África e da América – não à cultura grega como tal, mas à sua autossuperação, que era o verdadeiro ponto de contato para a interpretação da mensagem cristã. A partir daí a Fé os introduz na dinâmica da sua autossuperação.

Richard Schäffler disse recentemente, e de modo certeiro, que a pregação cristã desde o princípio exigiu dos povos da Europa (que aliás nem existia antes da evangelização cristã) “a renúncia a todos os seus respectivos «deuses» autóctones, muito antes de entrarem em seu campo de visão as culturas extra-europeias”. É a partir daí que se deve entender por que a pregação cristã entrou em contato com a filosofia, e não com as religiões. Rapidamente caíram em desuso as tentativas de, por exemplo, interpretar Cristo como sendo o verdadeiro Dionísio, Esculápio ou Hércules. O fato de se ter entrado em contato com a filosofia, e não com as religiões, tem a ver com que não se tenha canonizado uma cultura, e sim se pôde entrar nela justamente no ponto onde ela já havia começado a sair de si mesma: por onde tinha começado ela mesma a sair de si, por onde tinha iniciado o caminho de abertura à verdade comum, deixando atrás a instalação no que lhe era meramente próprio. Isso constitui também hoje uma indicação fundamental para a questão dos contatos e transferências a outros povos e culturas.

A Fé não pode sintonizar com filosofias que excluam a questão da verdade, mas sintoniza, sim, com movimentos que se esforçam por sair do cárcere do relativismo. Da mesma forma, não pode integrar diretamente as antigas religiões. No entanto, as religiões podem proporcionar-lhe formas e imagens de diverso tipo, mas sobretudo atitudes, como o respeito, a humildade, a abnegação, a bondade, o amor ao próximo, a esperança na vida eterna. Isto parece-me – seja dito entre parênteses – ser importante também para a questão do significado salvífico das religiões. Não salvam, por assim dizer, na medida em que são sistemas fechados e pela fidelidade a esses sistemas, mas colaboram com a salvação na medida em que levam os homens a “perguntar-se por Deus” (como diz o Antigo Testamento), a “buscar o seu rosto”, a “buscar o Reino de Deus e a sua justiça”.

Joseph Ratzinger

Fonte: Site interrogantes.net

Link: http://www.interogantes.net

Tradução: Quadrante

https://presbiteros.org.br/

O milagre que levou a casa da Virgem Maria de Nazaré para Loreto

Loreto e a Casa de Maria (Creative Commons)

Por Aleteia Brasil - publicado em 13/03/17

O fenômeno jamais pôde ser explicado pelos cientistas que o estudaram.

Nossa Senhora de Loreto é uma devoção mariana que surgiu a partir do relato do milagroso traslado da casa em que viveu a Virgem Maria em Nazaré.

Casinha pequena feita de pedras, ela tinha se tornado uma relíquia protegida pelos católicos na Terra Santa. Sob aquele teto, afinal, “o anjo do Senhor tinha anunciado a Maria e ela concebera do Espírito Santo“. Tinha sido lá que São José ensinou a Jesus o seu ofício de carpinteiro; era lá que Jesus “crescia em estatura, sabedoria e graça diante do Senhor“; era lá que a Família de Nazaré vivia em amor e felicidade.

Séculos depois, em 1291, época de grande expansão islâmica e antes da chegada dos muçulmanos a Nazaré, a casa da Sagrada Família desapareceu inexplicavelmente e, tão inexplicavelmente quanto, apareceu na cidade de Tersatz, na antiga Dalmácia, região dos Bálcãs correspondente hoje a territórios da Croácia, Bósnia e Herzegovina e Montenegro.

O padre local, que estava muito doente e ficara curado por milagre, foi agraciado com uma visão de Nossa Senhora em que ela própria afirmava: “Esta é a casa onde Jesus foi concebido pelo poder do Espírito Santo e onde a Sagrada Família morou em Nazaré“.

Sim: a casa da Sagrada Família fora transportada inteira, de Nazaré para Tersatz, sem ser demolida.

O povo começou a fazer peregrinações e a obter graças e milagres. O governador local, embora impressionado com o fato, enviou quatro estudiosos à Terra Santa para confirmarem se aquela era mesmo a verdadeira casa de Nossa Senhora.

Em Nazaré, os enviados só encontraram os alicerces da casa e o espanto dos nazarenos com o seu desaparecimento. Os alicerces tinham as mesmas medidas dos que haviam aparecido em Tersatz e são conservados até hoje na Basílica da Anunciação, em Nazaré.

Quanto à casa que aparecera em Tersatz, ela estava intacta e sem sinais de ter sido desmontada e reconstruída.

Após pouco mais de três anos, ocorreu um novo milagre: em 10 de dezembro de 1294, a casa da Virgem Maria foi elevada por sobre o mar Mediterrâneo e levada para os bosques de Loreto, em Recanati, na Itália.

Os fiéis se lembraram então de uma profecia de São Francisco de Assis: “Loreto será um dos locais mais sagrados do mundo. Lá será construída uma Basílica em honra a Nossa Senhora de Loreto“. De fato, a basílica erguida em volta da casa se tornou um dos maiores santuários da Europa.

A pedido da Igreja, vários estudos foram realizados por engenheiros, arquitetos, físicos, historiadores e estudiosos, que, quanto mais analisam o caso, mais comprovam o caráter inexplicável do surgimento dessa casa:

1. Ela se ergue do solo sem nenhuma base de sustentação e é possível passar uma barra de ferro por baixo dela sem qualquer impedimento.

2. As pedras da construção não existem na Itália: somente na região de Nazaré, na Terra Santa.

3. Sua porta é de cedro, madeira que também não existe na Itália, mas é encontrada na Palestina.

4. As pedras das paredes foram levantadas com uma espécie de cimento feito de sulfato de cálcio e pó de carvão, mistura usada na Palestina dos tempo de Jesus, mas desconhecida na Itália quando a casa surgiu em Loreto.

5. As medidas da casa correspondem perfeitamente às da base que permaneceu em Nazaré.

6. A casa, pequena e simples, segue o estilo nazareno da época de Jesus.

O fenômeno do aparecimento da casa de Nossa Senhora em Loreto nunca foi explicado pelos cientistas que o estudaram.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

NAZARENO: Uma mulher à beira do poço (o encontro com a Samaritana) - (14)

Nazareno (Vatican Media)

Cap. 14 - Uma mulher à beira do poço (o encontro com a Samaritana)

Depois de passar alguns dias em Jerusalém, Jesus escolhe o caminho pela Samaria para voltar à Galileia. Os samaritanos, de antiga descendência semita, são considerados "hereges", de fato, afirmam que o verdadeiro templo é o deles, no Monte Garizim, e não o de Jerusalém. Jesus se senta perto de um poço, é meio-dia, horário impróprio para sair de casa, e uma mulher chega com um grande jarro de barro na cabeça e um olhar atento, como se não quisesse ser vista. Ela vive uma situação "irregular", pois já teve cinco maridos. Jesus lhe pede água e ela fica surpresa porque ele falou com ela. O Nazareno lhe fala de "água viva" e a mulher pede para poder bebê-la, se estabelece uma relação de verdade, ela reconhece o Messias e Jesus se revela como tal. A mulher samaritana não consegue esconder sua alegria e admiração por tê-lo encontrado e vai à cidade contar a todos.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2023/10/26/16/137408589_F137408589.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Reflexão para o Segundo Domingo do Advento (B)

Segundo Domingo do Advento (Vatican News)

A liturgia do 2º Domingo do Advento nos traz esta boa nova, de que nossas aflições, nossas angústias terminarão porque o Senhor virá com sua Mensagem de Paz.

Padre Cesar Augusto, SP - Vatican News

Em um ambiente onde se respira a opressão e as pessoas não são felizes, a libertação, a abertura de uma janela, de uma porta se torna vital.

Esse ambiente de constrangimento existe no meio do Povo de Israel e finalmente, após 40 anos, surge um profeta que anuncia estar próxima a libertação. Um novo espírito renasce no coração do povo e a expectativa é grande. Surgiu para eles a famosa luz no fundo do túnel. À medida que caminham, se aproximam da libertação. Todo e qualquer passo adiante é e sempre será um passo para a felicidade, aliás, qualquer passo proporciona esse sentimento de felicidade, de alegria.

Também nós, que vivemos no sufoco, que atravessamos graves dificuldades, que enfrentamos problemas aparentemente insolúveis, mudamos e criamos vida nova quando sabemos que existe uma solução, uma solução positiva, libertadora.

A liturgia do 2º Domingo do Advento nos traz esta boa nova, de que nossas aflições, nossas angústias terminarão porque o Senhor virá com sua Mensagem de Paz e colocará tudo em seu lugar e o ser humano voltará a desfrutar da tranquilidade, alegria e paz nas quais foi chamado a viver e nas quais viverá eternamente.

Deus age e envia seu Messias, mas Deus também pede a nossa conversão e, muitas vezes, é nossa adesão ao pecado, através da solidariedade para com o opressor, nossa conformação à situação de injustiça, que favorece a não mudança dos dominadores.

Portanto, somos causadores de nossa própria desdita e da de nossos irmãos. Por isso deveremos fazer um exame de consciência sobre nossa participação ou nossa convivência em situações de opressão e descobrir quais são os laços que nos unem, nos atam ao pecado.

Só seremos perdoados se além do arrependimento, fizermos o propósito de mudança de vida, de valores. É necessário que nos convertamos ao bem, a Deus. Só então o caminho para a vinda do Messias, do Salvador estará aplainado e a Vida se revelará, se manifestará em nosso meio.

Preparemo-nos para o Natal! Mas a verdadeira preparação, aquela que terá dimensões de eternidade, será a conversão de nosso coração. Conversão do coração para o outro, para Deus, fazendo o bem e fomentando a vida!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Melquíades

São Melquíades (A12)

10 de dezembro

São Melquíades

Nascido no norte da África, então pertencente ao Império Romano, Melquíades (ou Melcíades) fez parte do clero romano e foi eleito Papa em 310, época de perseguição aos cristãos por parte do imperador Maxêncio (Máximo).

Este foi derrotado por Constantino em 312, que teve uma visão antes da batalha decisiva e, reconhecendo o auxílio de Deus, promulgou em 313 o Edito de Milão, conferindo liberdade religiosa aos cristãos. Já então Melquíades havia sido torturado durante a perseguição, e por isso a Igreja o reconhece como mártir. Graças à paz com o governo civil, este Papa pôde reorganizar as paróquias romanas, reaver bens confiscados à Igreja, criar decretos disciplinares e litúrgicos, bem como iniciar a construção da primeira igreja em Roma, a Basílica Lateranense.

Seu curto pontificado de quatro anos teve que lidar, porém, com um inimigo interno, sempre mais prejudicial à Igreja do que as oposições externas. Em Cartago, na África, o prelado Donato pretendeu contestar as nomeações dos ministros de Deus, de modo fanático se substituindo à legítima autoridade da Igreja. A heresia donatista foi afastada com o auxílio de Constantino, mas continuou causando problemas durante todo aquele século.

São Melquíades faleceu em 11 de janeiro de 314, mas sua festa foi colocada neste dia.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Os maiores inimigos do Corpo Místico de Cristo, e das almas, são os que atuam no seu interior. De fato, as perseguições são inevitavelmente seguidas de abundantes conversões, e o sangue dos mártires, como já se disse, é semente de novos fiéis. Ao contrário, cismas e heresias afastam inúmeras almas de Deus, com o perigo muito objetivo de que estas se condenem ao inferno. Os pecados que cometemos, e que ofendem a Deus e Dele nos separam, só acontecem porque, interiormente, acabamos por ceder às tentações: se heroicamente resistirmos (sempre e apenas) com o auxílio de Deus, não pecaremos, como por exemplo São Bento que, diante da tentação sensual, atirou-se nu em meio às urtigas.

Oração:

Ó Deus clemente, que conheceis as nossas fraquezas e a necessidade que temos da Vossa graça para perseverar nas virtudes, concedei-nos por intercessão de São Melquíades a fortaleza no combate aos nossos inimigos internos, que insidiosamente nos querem afastar do Bem e Vos levar a de novo sofrer os martírios da Paixão. Por intercessão de Nossa Senhora, Vossa Mãe e nossa protetora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 9 de dezembro de 2023

Como eu consegui fazer meus filhos dormirem a noite inteira

© Ramona Heim/Shutterstock

Por Ricardo Sanches - publicado em 22/05/19

Sim, a rotina foi fundamental! Mas outros segredinhos fizeram a diferença.

Ver os filhos dormindo uma noite inteira – ou pelo menos oito horas seguidas – é um sonho para muitos papais e muitas mamães. Talvez o sono (ou a falta dele) seja um dos grandes desafios da maternidade. Todos queremos que nossos filhos durmam bem para que também possamos descansar e estarmos prontos para darmos o melhor de nós a eles durante o dia.

Costumo dizer que aqui em casa somos abençoados: nossos dois filhos são extremamente dorminhocos. O mais velho, de 11 anos, dorme a noite inteira desde o dia em que completou três meses de vida. O mais novo, que está com um ano e quatro meses, seguiu o mesmo caminho. Só mesmo quando ele está doentinho ou quando aponta um dente é que ele perde o sono durante a madrugada. Durante o dia, o danado também tira duas belas sonecas de mais ou menos uma hora cada – um alívio para a nossa ajudante, que aproveita para fazer a comida dele e cuidar das roupas do garotão.

Mas qual é o segredo de tamanha façanha? Essa é a pergunta que sempre ouvimos de nossos amigos e familiares. E o que posso dizer é que estou longe de ser um especialista na área, mas acredito que a genética tenha grande responsabilidade sobre isso!

Brincadeiras à parte, penso que a maneira como os criamos e os acostumamos a identificar e aceitar a hora de dormir também contribuem – e muito para uma boa noitada de sono.

Não há uma receita de bolo, um manual de instruções ou um modo de fazer as crianças dormirem. Cada uma tem a sua particularidade, cada família cria de um jeito e não há um melhor do que o outro. Além disso, existem fatores biológicos que devem ser levados em conta.

Porém, para os pais que estão desesperados e precisam urgentemente de uma boa noite de sono, as dicas podem ser valiosas – foi assim comigo e espero que a minha experiência possa ajudá-los. Por isso, compartilho com vocês quatro simples conselhos que deram certo aqui em casa:

1.Rotina

Ok, você já leu em 3.689 revistas e sites que estabelecer uma rotina é fundamental para que o bebê crie o hábito de dormir bem. Sim, não há nada de novidade nisso e, sim, rotina funciona! O bebê precisa de um mínimo de organização do tempo e de atividades para começar a “entender” o que ele deve fazer a cada momento do dia. Portanto, estabeleça horários para as mamadas, para os banhos, para os passeios, as brincadeiras, as refeições e, claro, para o sono. No começo não é fácil, mas os pequenos vão se acostumar e, assim, passam a funcionar como um lindo relógio suíço. Mas cuidado: quando você quebrar a rotina, eles vão sentir.

Aqui em casa, por exemplo, nosso bebê tem hora para tudo. Quando são oito da noite, ele já observa nossa ritual para o sono: arrumar a cama, vestir pijama, fazer a mamadeira e deitar. Às vezes, atrasamos um pouco e ele, de tão acostumado, passa a pedir o “mamá” e já vai direto para o quarto. Depois de rolar na cama durante meia hora, ele pega no sono profundamente. E vai assim até as seis da manhã;

2. A hora de dormir deve ser prazerosa

Não faça seu filho perceber que a hora do sono pode ser um suplício. Tente encontrar uma atividade relaxante para tornar ainda mais especial o momento de ir para a cama. Sugestões: inclua na rotina das crianças um banho e um leitinho quente à noite. Não faça brincadeiras que provoquem gargalhas. Eletrônicos, então, nem pensar! Depois, deite-se com elas, leia um pouco ou conte histórias.

A sua companhia nesse momento, vai deixar seus filhos mais seguros, menos ansiosos e preparados para um sono contínuo. Mas atenção: você também precisa aproveitar o momento. Então, tente não ficar ansioso(a) nem impaciente. Relaxe, pois o bebê vai perceber isso (e talvez queira fazer o mesmo);

3. Rezar é fundamental

Aqui em casa, a hora de dormir também é sinônimo de hora de rezar. O mais velho até hoje pede para orarmos com ele na cama. Sua oração favorita é o “Santo Anjo”. O mais novo já está até aprendendo a fazer o sinal da cruz.

Não é preciso rezar orações longas, que vão roubar a paciência dos pequenos. Aqui na Aleteia, há um artigo com várias orações para fazer com as crianças. Clique aqui e escolha algumas. A minha dica é: vá alternando entre uma e outra a cada noite.

4. Parceria entre o papai e mamãe

Fazer uma criança dormir não deve ser uma tarefa específica da mãe ou do pai. Aqui, geralmente, minha esposa e eu deitamos juntos com o nosso pequeno. Se eu não estou ou ela não pode, um de nós assume a tarefa sem problemas. E o nosso príncipe também não sofre com isso

Enfim, crie hábitos e incentive os pequenos a dormirem de forma tranquila e prazerosa. Esteja você também tranquila(o) e segura(o) para passar esses sentimentos aos filhos. Aos poucos, eles certamente estarão prontos para uma bela noite de sono e sem ficar acordando de hora em hora durante a madrugada. Quer bênção maior do que essa?

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A salvação se comunica por contato vital

A cura da hemorroíssa, catacumbas dos Santos Marcelino e Pedro, Roma (Giorni)

Arquivo de 30Dias - 12/2009

A salvação se comunica por contato vital

de Paolo Mattei

Em 19 de dezembro passado, o papa Bento XVI assinou o decreto de aprovação das virtudes heróicas de seu predecessor Pio XII. Esse fato chama imediatamente a atenção para a defesa da doutrina da fé feita pelo “Pastor Angelicus” durante seu pontificado, em particular em suas encíclicas de conteúdo dogmático.

O artigo de Ignace de la Potterie S.J. (extraído de 30Dias, n° 1 - 1997) republicado nestas páginas – que descreve a forma como a graça da salvação de Jesus Cristo se comunica aos homens – pode ser encarado como um comentário a uma passagem importante de uma dessas encíclicas de Pio XII, a Mediator Dei: “Esse resgate, porém, não teve logo o seu pleno efeito: é necessário que, depois de haver resgatado o mundo com o elevadíssimo preço de si mesmo, Cristo entre na real e efetiva posse das almas. Consequentemente, a fim de que, com o beneplácito de Deus, se cumpra para todos os indivíduos e para todas as gerações até o fim dos séculos a sua redenção e salvação, é absolutamente necessário que cada um tenha contato vital com o Sacrifício da Cruz, e que, assim, os méritos que dele derivam lhe sejam transmitidos e aplicados. Pode-se dizer que Cristo construiu no Calvário uma piscina de purificação e de salvação e a encheu com o sangue por ele derramado; mas, se os homens não mergulham nas suas ondas e aí não lavam as manchas de suas iniquidades, não podem certamente ser purificados e salvos. A fim de que, pois, cada pecador se purifique no sangue do Cordeiro, é necessária a colaboração dos fiéis. Se bem que, falando em geral, Cristo haja reconciliado com o Pai por meio da sua morte cruenta todo o gênero humano, quis todavia que todos se aproximassem e fossem conduzidos à Cruz por meio dos Sacramentos e do Sacrifício da Eucaristia, para poderem conseguir os frutos salutares por ele granjeados na Cruz” (Mediator Dei, nos 70-71).

É bonito e reconfortante constatar que a palavra “contato”, utilizada nessa passagem de Pio XII (“contato vital”), foi recentemente repetida por Bento XVI (no discurso de 30 de agosto passado a seus ex-alunos e na mensagem Urbi et orbi do Natal) para explicar a dinâmica histórica com que a todos os indivíduos e a todas as gerações “é comunicado o mérito de Sua paixão” (decreto De iustificatione, do Concílio de Trento, Denzinger 1523).

Fonte: https://www.30giorni.it/

Para ser crismado, menino percorre 11 km a pé em estrada cheia de lama

Imagem ilustrativa | Shutterstock

Por Reportagem local - publicado em 07/12/23

A determinação de Maximiliano rendeu o reconhecimento do Papa Francisco.

Um quilômetro a pé já cansa, né? Mas Maximiliano percorreu onze quilômetros para poder receber o sacramento da Confirmação no dia 11 de novembro de 2023. O menino argentino decidiu que nada o impediria em sua busca pelo Espírito Santo! 

Aos 11 anos, ele mora com a família no coração da zona rural de Suipacha, pequena cidade perto de Buenos Aires. Enquanto se preparava durante todo o ano para a Crisma em sua paróquia, Nossa Senhora do Rosário de Suipacha, o mau tempo que atingiu a região tornou as estradas intransitáveis. Até mesmo o trator da família, que havia quebrado alguns dias antes, não conseguiu ajudar o jovem Maximiliano. Ainda assim, o menino decidiu desafiar a lama e o mau tempo. Calçado com as botas de plástico, ele foi com a família a pé até a igreja onde seria crismado.

“Nossas botas afundaram na lama, escorregamos muito”, lembra Maximiliano em entrevista à ACI. “Quando você crescer terá uma ótima história para contar”, brincou o pai do menino no caminho. 

Maximiliano chegou a tempo para a Missa, da qual saiu crismado e parabenizado pelos paroquianos e pelo padre, que ficaram admirados pelo seu esforço.

A perseverança do menino chegou até aos ouvidos do Papa Francisco que enviou a Maximiliano e sua família a sua bênção apostólica. O documento foi entregue por Dom Mauricio Landra, bispo auxiliar de Mercedes-Luján. “Todos ficaram muito felizes”, testemunhou Maximiliano. Até os colegas dele ficaram “impressionados” ao ver o documento da bênção apostólica. 

Às demais crianças que se preparam para receber o sacramento da confirmação, Maximiliano lembra: “Jesus está esperando por vocês e estará sempre com vocês, como estará comigo.”

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Fé, verdade e cultura (4/8)

Fé, verdade e cultura (Presbíteros)

Fé, verdade e cultura

Por Joseph Ratzinger

2. CULTURA E VERDADE

a) A essência da Cultura

Tratamos até aqui do debate entre a Fé cristã que a Encíclica expressa e um tipo concreto de cultura moderna; por isso as nossas reflexões deixaram entre parênteses o lado técnico-científico da Cultura: o olhar dirigiu-se ao que se relaciona com as ciências humanas na nossa cultura. Não seria difícil mostrar que a sua desorientação quanto à questão da verdade (que acabou por converter-se em ira contra esse tema) reside, em última análise, na pretensão de se alcançar o mesmo cânon metodológico, o mesmo tipo de segurança, que se dá no campo empírico.

A renúncia metodológica praticada pela ciência natural, que a leva a ater-se ao que pode ser verificado, converte-se em credencial da cientificidade; mais ainda: converte-se na própria racionalidade. Essa redução metodológica, cheia de sentido – aliás, necessária – no âmbito da ciência empírica, converte-se assim num muro para a questão da verdade. No fundo, trata-se do problema da verdade e do método, da universalidade de um cânon metodológico estritamente empírico. Em face desse cânon, o Papa defende a multiplicidade de caminhos do espírito humano, a amplitude da racionalidade, que precisa conhecer diversos métodos conforme a índole do objeto. O que é imaterial não pode ser abordado com os métodos que correspondem ao que é material. Assim poderia ser resumida, em grandes traços, a denúncia do Papa contra uma forma unilateral de racionalidade.

O debate com a cultura moderna, o debate acerca da verdade e do método, é a primeira fibra do tecido da Encíclica. Mas a questão acerca da verdade da cultura apresenta-se ainda sob outro aspecto, que substancialmente remete-se ao âmbito propriamente religioso. Hoje, contrapõe-se de bom grado a relatividade das culturas à pretensão universal do cristão, fundamentada na universalidade da verdade. O tema ressoa já no século XVIII em Gotthold Ephraim Lessing, que apresenta as três grandes religiões na parábola dos três anéis, dos quais um tem que ser o autêntico, mas cuja autenticidade já não é verificável. A questão da verdade é insolúvel e é substituída pela questão do efeito curativo e purificador da religião.

Logo no início do século XX, Ernst Troeltsch refletiu expressamente sobre a questão da religião e da cultura, da verdade e da cultura. No princípio ainda considerava o Cristianismo como a revelação completa da religiosidade personalista, como a única ruptura completa com os limites e as condições da religião natural. Mas, no decorrer do seu caminho intelectual, a determinação cultural da religião foi fechando-lhe cada vez mais o olhar para a verdade e subordinando todas as religiões à relatividade das culturas. No final, a validez do Cristianismo converte-se num assunto europeu: para ele o Cristianismo seria a forma de religião adequada à Europa, enquanto atribui ao budismo e ao bramanismo uma autonomia absoluta. Na prática elimina-se a questão da verdade, e os limites entre as culturas tornam-se intransponíveis.

Por isso, uma Encíclica toda dedicada à aventura da verdade deveria também colocar a questão da relação entre verdade e cultura. Deveria perguntar se pode dar-se uma comunhão das culturas numa única verdade, se a verdade pode ser decidida para todos os homens, transcendendo as diversas formas culturais, ou se afinal teríamos que pressenti-la apenas assintoticamente, em meio a formas culturais diversas e até opostas.

A um conceito estático de cultura que pressupõe formas culturais fixas – que afinal só convivem umas com as outras, sem que haja comunicação entre elas -, o Papa opôs, na Encíclica, uma compreensão dinâmica e comunicativa da cultura. E ressalta que as culturas, “quando estão profundamente enraizadas no humano, trazem consigo o testemunho da abertura típica do homem ao universal e à transcendência”. Por isso as culturas – que são expressões do único ser do homem – estão caracterizadas pela dinâmica do homem, que transcende todos os limites: não estão fixadas numa dada forma de uma vez para sempre. Têm a capacidade de progredir e de transformar-se, e também o perigo da decadência. Estão voltadas para o encontro e para a fecundação mútua.

Quanto maiores e mais genuínas são as culturas, mais impregnadas estão da abertura interior do homem a Deus: trazem impressa uma predisposição para a revelação de Deus. A Revelação não lhes é estranha. Responde a uma espera interior presente nas próprias culturas. A propósito disso, Theodor Haecker falou do caráter de “advento” das culturas pré-cristãs, e são muitas as pesquisas de História das Religiões que puderam mostrar de maneira concreta essa alusão das culturas ao Logos de Deus, encarnado em Jesus Cristo.

Tendo isso em vista, o Papa vale-se da lista de nações contida no relato pascal dos Atos dos Apóstolos (2, 7-14), onde nos é narrado como o testemunho da Fé em Cristo é perceptível e comunicável mediante todas as línguas, e em todas as línguas, isto é, em todas as culturas das quais a língua é expressão. Em todas elas, a palavra humana faz-se portadora do falar próprio de Deus, do seu próprio Logos. E a Encíclica acrescenta: “O anúncio do Evangelho nas diversas culturas, embora exija a fé de cada destinatário, não o impede de conservar uma identidade cultural própria. Isso não cria nenhuma divisão, porque o povo dos batizados caracteriza-se por uma universalidade que sabe acolher cada cultura, favorecendo o progresso daquilo que nela está implícito, rumo à sua plena explicitação na verdade”.

A partir disso – e no que diz respeito às relações entre a Fé cristã e as culturas pré-cristãs em geral – o Papa, tomando o caso da cultura indiana, desenvolve de modo exemplar os princípios que devem ser observados no encontro dessas culturas com a Fé. Em primeiro lugar, chama brevemente a atenção para o grande auge espiritual do pensamento indiano, que luta por libertar o espírito das condições espaço-temporais, exercitando assim a abertura metafísica do homem, que depois haveria de receber uma configuração especulativa em importantes sistemas filosóficos.

Com essas indicações, o Papa põe em evidência a tendência universal das grandes culturas, a sua superação do tempo e do espaço, e também o seu avanço na direção do ser do homem e das suas supremas possibilidades. Aqui reside a capacidade de diálogo entre as culturas, neste caso entre a cultura indiana e as que cresceram no âmbito da Fé cristã.

O primeiro critério infere-se espontaneamente, por assim dizer, no próprio contato interior com a cultura indiana: consiste na “universalidade do espírito humano, cujas exigências fundamentais são idênticas nas mais diversas culturas”.

Dele se segue um segundo critério: “Quando a Igreja entra em contato com grandes culturas a que antes não tinha chegado, não pode esquecer o que adquiriu quando da sua inculturação no pensamento greco-latino. Rejeitar essa herança seria ir contra o desígnio providencial de Deus…”

Finalmente a Encíclica aponta um terceiro critério, decorrente das reflexões anteriores sobre a essência da cultura: “Deve-se evitar confundir a legítima reivindicação do que há de específico e original no pensamento indiano com a idéia de que uma tradição cultural deva encerrar-se na sua diferença e afirmar-se na sua oposição às demais tradições. Isso seria contrário à própria natureza do espírito humano”.

Joseph Ratzinger

Fonte: Site interrogantes.net

Link: http://www.interogantes.net

Tradução: Quadrante

https://presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF