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terça-feira, 12 de dezembro de 2023

São Hermógenes

São Hermógenes (A12)

12 de dezembro

São Hermógenes

As poucas informações que puderam ser recolhidas sobres este São Hermógenes – há mais quatro com este nome – estão diretamente relacionadas a dois outros santos, Menas e Eugrafos, sendo que para este último os dados são ainda mais escassos. O contexto da época era o da perseguição religiosa aos cristãos, sob a tetrarquia do império romano: inicialmente Dioclesiano, Maximiano, Galério e Constâncio Cloro, que impuseram vários éditos (anúncio de uma lei; decreto), revogando os direitos legais dos cristãos e exigindo que adotassem as práticas religiosas pagãs. Diocleciano e Maximiano resignaram em 305; Constâncio e Galério tornaram-se Augustos, e os dois novos imperadores, Valério Severo e Maximino Daia (este entre 305–313), tornaram-se Césares, isto é, todos assumiram títulos imperiais. Com a morte de Galério em 311, Daia dividiu o império do Oriente com Licínio, sucessor de Constâncio Cloro. O grau das perseguições divergiu segundo cada tetrarca na sua própria região administrativa, e Daia as retomou, tenaz e cruelmente, no Egito, Palestina e Ásia Menor, após o Édito de Tolerância de Galério em 311.

São Menas era ateniense, convertido ao Cristianismo sem que Daia o soubesse, e por isso o nomeou governador em Alexandria. As ordens de perseguição que Menas recebeu do imperador obviamente não foram executadas, mas, ao contrário, o santo começou a dedicar-se à organização da Igreja local.

Daia enviou então Hermógenes para Alexandria, como novo governador e encarregado das perseguições, as quais ele iniciou com a prisão de Menas. Este foi torturado com crueldade, e deixado para morrer por consequência dos ferimentos, graves. Porém, para grande surpresa do governador, depois de algum tempo Hermógenes soube da cura completa do prisioneiro, e foi interrogá-lo sobre como isto havia sido possível.

“Quando me encontrava ferido e jogado ao chão, comecei a rezar, pois como diz o salmista: ‘ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam’ [Sl 23,4]foi a resposta. Diante deste testemunho, Hermógenes convenceu-se da Verdade, e também ele se converteu.

 A notícia desta nova conversão levou Daia a ordenar a execução de ambos, por decapitação, no ano 313, em Alexandria; aparentemente, estava com estes dois ainda um terceiro mártir, São Eugrafos. Uma outra data citada para a festa destes santos é 10 de dezembro.

Reflexão:

O testemunho dos santos é sempre muito forte e convincente. São Menas, que havia buscado na Filosofia o que lhe faltava na religiosidade pagã da própria família, chegou por fim aos escritos cristãos, que lhe indicaram o caminho certo na espiritualidade; São Hermógenes nos dá um exemplo talvez ainda mais vivo, pois não parecia buscar até a sua conversão nada mais elevado que o politeísmo romano oficial. Talvez que a crueldade do trato aos cristãos o impressionasse, e o exemplo de são Menas fosse o ponto culminante de dúvidas que sempre existirão nas almas, pois naturalmente aspiramos ao que é maior e verdadeiro na existência. Já de São Eugrafos ficamos com o mistério de quais caminhos uma alma pode percorrer para chegar ao Pai: mas a certeza de que O podemos encontrar é já um passo na Fé, na confiança e na paz que almejamos. Seja pelo estudo, pela vivência ou por algum meio misterioso, fundamental é a honestidade da nossa busca, pois independentemente dos meios – e para cada filho de Deus há um caminho específico – o que importa é chegarmos ao nosso fim, natural e sobrenatural, da total Comunhão com Deus, iniciada nesta vida pelo Batismo e pela Eucaristia e plenificada na participação da própria vida Trinitária de Deus, no nosso Paraíso definitivo.

Oração:

Senhor Deus de Bondade, que nos oferece sempre inúmeros e renovados caminhos de aproximação a Vós, concedei-nos pela intercessão de São Hermógenes a graça da Fé que acredita e adere sem reservas ao perceber a Verdade, mesmo diante das perseguições, e a cura das nossas doenças de alma, pois só estas podem nos aprisionar e torturar na morte infinita. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Significado das novenas

Imaculada Conceição (cancaonova)

SIGNIFICADO DAS NOVENAS

Dom Carmo João Rhoden
Bispo Emérito de Taubaté (SP)
 

Novena é um belo costume, que a Igreja descobriu para preparar melhor seus filhos, mormente as famílias como um todo, para um acontecimento importante, da vivência religiosa, do povo de Deus. As novenas se fazem, geralmente, em datas como Natal, Páscoa, Pentecostes ou celebrações marianas: Assunção, Imaculada Conceição, Nossa Senhora Aparecida, Lourdes, Fátima e Guadalupe; ou em preparação para a festa de um padroeiro(a), seja da nação, do estado, da paróquia (Santa Terezinha, Santa Catarina, São João Batista, Santo Antônio, etc.). Como o verbete (novena) deixa entender, trata-se de uma série de orações, ou exercícios espirituais, realizados durante nove dias consecutivos, visando a celebração mais consciente do padroeiro(a). As novenas se fazem, também, para obtenção de uma graça (especial): saúde, por exemplo. 

Fazem parte, geralmente, da tradição popular. Ele (o povo), aprecia muito e as valorizam. Podem tornar-se, também, um belo momento de evangelização, de conversão ou de agradecimento(gratidão). Podem ser incentivadas, justamente, porque, a pós-modernidade é muito individualista, e os meios de comunicação, aumentam sempre mais, suas atrações para melhorarem suas audiências. Está em curso um processo de descristianização ou de paganização dos eventos da fé.  

É preciso refletir melhor e rezar mais. Principalmente, evangelizar mais e melhor. Basta analisar, um pouco melhor, a atividade de igrejas (seitas): como se fazem presentes na mídia (TV, rádio e panfletos). O povo católico, não conhece bem a riqueza de suas centenárias tradições, ou de sua liturgia. É preciso, atrair mais o povo, a família para Cristo, para autêntica visão cristã da vida e de suas realidades. As novenas podem ser realizadas, também, em casa. Valoriza-se, assim, mais o sacerdócio próprio dos pais. Quem não já percebeu como a família está sendo paganizada? A santidade do matrimônio (sacramento), não está sendo vilipendiado? Não somos ingênuos demais? É bom pensar. A responsabilidade é de todos nós. O Papa Bento XVI falou da família como “patrimônio da humanidade”. 

Valorizemos, então, as novenas, pessoais, em família, ou na comunidade. Redescubramos o sentido religioso (cristão) da vida dos nossos padroeiros, dos nossos santos, mormente aqueles(as), que o povo aprecia e tem devoção. Nossa Senhora, principalmente. Ela foi esposa, mãe, educadora: grande em todas as fases da vida. Todos nós, como cristãos, temos a responsabilidade, a partir do batismo e crisma, pela propagação autêntica da fé. Não somos omissos? Como vai nossa vida na família, na comunidade? Onde queremos passar a eternidade? Com Cristo? Com o Pai? Com o Espírito Santo? Então, comecemos logo, se ainda não o estamos fazendo. Feliz Natal e boa preparação.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A importância do Exame de Consciência diário

shurkin_son | Shutterstock

Por Vanderlei de Lima - publicado em 10/12/23

Santo Inácio de Loyola, em seus Exercícios Espirituais, é quem ensina, em três pontos, o modo de se praticar esse Exame Particular.

Quando falamos em Exame de Consciência, logo pensamos naquele que antecede a Confissão sacramental (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1454). Todavia, aqui, o foco será o Exame de Consciência diário. Para atingir nosso objetivo, valemo-nos do pequeno livro O Exame particular, do Pe. Miguel Ángel Fuentes, IVE, publicado pela Editora do Verbo Encarnado. São Paulo, 2020, 100 páginas.

Importa, logo de início, citar sobre o tema tratado, o que o Papa Pio XII aconselha aos sacerdotes: “Não omita o exame diário de consciência, que é o meio mais eficaz para perceber o progresso da vida espiritual durante o dia, bem como para remover os obstáculos que impedem ou retardam o progresso na virtude como, finalmente, para conhecer os meios mais idôneos de garantir maiores frutos ao ministério sacerdotal e implorar ao Pai celestial perdão por tantas fraquezas” (Menti nostrae, 52, p. 12, nota 2). Tal prática pode ser útil a cada fiel, sacerdote ou não (cf. p. 13-15). De que modo?

Santo Inácio de Loyola, em seus Exercícios Espirituais, n. 24-31, é quem ensina, em três pontos, o modo de se praticar esse Exame Particular. 1º) De manhã, ao se levantar, a pessoa toma consciência ou se lembra do que irá trabalhar naquele dia: algo que precisa adquirir de virtude, corrigir de vício, desarraigar de apego desmedido etc. Pode até, em forma de oração, escrever o que trabalhará e o modo concreto de o fazer (cf. p. 17-18). 2º) No meio do dia, revisar, hora a hora, com assiduidade – e até com anotações – o que falhou no propósito matinal ou, em contrapartida, o que foi alcançado na intenção feita. Importa, ainda, levar em consideração as razões dessas falhas e, por fim, renovar o propósito para a tarde. Ter uma tabela para anotar, com algum sinal, as falhas da manhã e da tarde muito pode auxiliar o fiel exercitante (cf. p. 20). 3º) No fim do dia, a pessoa – assim como fez no meio do dia – revisa o que se passou à tarde e anota, na tabela, no local correspondente. Percebendo alguma falha, faça também, como sinal de arrependimento, um gesto externo por ela: um toque de mão no peito, uma genuflexão etc.

Ainda: “No exame noturno, a pessoa deve observar se sua conduta melhorou em relação à da manhã; e todos os dias (ou pelo menos uma vez por semana) deveria comparar seu trabalho com o dia ou os dias anteriores, verificando se melhorou ou piorou, procurando os motivos (se melhorou, para continuar trabalhando nessa linha; se piorou, para corrigir as coisas que fazem retroceder no trabalho); e de vez em quando, comparar uma semana com as anteriores, verificando se progride ou se afasta de seus objetivos” (p. 23). Com a graça de Deus e a firme perseverança do fiel, em poucos meses, se verão grandes progressos. 

Lembre-se de que o projeto a ser trabalhado tem de ser objetivo e detalhado; isto é, não basta apenas se propor – de modo genérico – a ser mais humilde. É preciso saber bem se se deseja ser humilde nas palavras, nos gestos, nos olhares etc. Ora, isso requer, sem dúvida, um autoconhecimento detalhado da parte do fiel. Ele tem de apreciar bem o “terreno” no qual irá trabalhar (cf. p. 27). Neste ponto, muito ajuda a leitura de temas de espiritualidade em autores célebres (Garrigou-Lagrange, Royo Marín, Tanquerey etc.) e o seguimento do que o próprio Pe. Fuentes propõe nas páginas 29 a 41 de sua obra. 

A pessoa considerará sempre, entre seus defeitos, aquilo que se chama “defeito dominante” – com sua natureza, a necessidade de combatê-lo, os meios para conhecê-lo, o modo de combatê-lo – e sua relação com os sete vícios capitais (cf. p. 44-63). Neste trabalho, cabe a cada um conhecer também o seu temperamento, que está ligado ao que trazemos de negativo ou de positivo (cf. p. 64-95).

Isso posto, tenha a palavra final o Pe. Fuentes ao escrever o que segue: “Acima de tudo, devemos reconhecer uma grande verdade com muitíssima frequência – para não dizer quase sempre – sem um exame particular sério, todos os bons desejos e tentativas estão condenados, mais cedo ou mais tarde, ao fracasso total e o cristão acaba fechado na tibieza e na mediocridade. Por esse motivo, não dar a importância que merece pode ser um sinal de tolice” (p. 43).

Mais informações aqui.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Fé, verdade e cultura (6/8)

Fé, verdade e cultura (Presbíteros)

Fé, verdade e cultura

Por Joseph Ratzinger

3. RELIGIÃO, VERDADE E SALVAÇÃO

Permitam-me que me detenha um momento mais nesse ponto, pois toca um aspecto fundamental da existência humana, e que com razão representa também uma questão radical no atual debate teológico. Isso porque se trata do próprio impulso do qual partiu a Filosofia, e ao qual tem de voltar sempre: nele se tocam necessariamente a Filosofia e a Teologia, quando estas se mantêm fiéis à sua intenção. É a questão de como o homem se salva, de como se justifica.

No passado, pensou-se de preferência na morte e naquilo que vem depois da morte; hoje o mais além é visto como algo incerto, e portanto continua sendo excluído das questões atuais. Por isso é necessário continuar buscando o que é reto e justo no tempo: não se pode preterir o problema de como se deve enfrentar a morte. Curiosamente, no debate sobre a relação do Cristianismo com as religiões universais, o ponto de discussão que vem sendo mantido é o de como se relacionam as religiões e a salvação eterna.

A questão sobre como o homem pode salvar-se ainda vem sendo debatida em moldes clássicos. Ultimamente, porém, vem-se impondo de modo bastante geral esta tese: todas as religiões são caminhos de salvação. Talvez não o caminho ordinário, mas ao menos caminhos “extraordinários” de salvação: por todas as religiões se chegaria à salvação. É essa a visão habitual.

Semelhante tese não corresponde apenas à idéia da tolerância e do respeito pelos outros que hoje nos é imposta. Corresponde também à imagem moderna de Deus: Deus não pode rejeitar homem algum apenas porque não conhece o cristianismo e, em conseqüência, cresceu em outra religião. Aceitará a sua vida religiosa da mesma forma que faz com a nossa.

Embora esta tese – reforçada nos últimos tempos com muitos outros argumentos – seja bastante clara à primeira vista, não deixa de suscitar dúvidas. Pois as religiões particulares não exigem apenas coisas diferentes, mas também coisas opostas. Diante do número crescente de homens não vinculados ao religioso, esta teoria universal da salvação estendeu-se também a formas de existência não religiosas, mas vividas de maneira coerente. Sendo assim, atitudes contraditórias conduziriam à mesma meta. Em poucas palavras, estamos novamente diante do relativismo. Pressupõe-se sub-repticiamente que, no fundo, todos os conteúdos são igualmente válidos. Não sabemos o que vale realmente.

Cada um tem de percorrer o seu caminho, ser feliz à sua maneira, como dizia Frederico II da Prússia. Assim, galopando nas teorias da salvação, o relativismo torna a entrar sub-repticiamente pela porta traseira: a questão da verdade é separada da questão das religiões e da salvação. A verdade é substituída pela boa intenção; a religião mantém-se no plano subjetivo, porque não se pode conhecer aquilo que é objetivamente bom e verdadeiro.

Joseph Ratzinger

Fonte: Site interrogantes.net

Link: http://www.interogantes.net

Tradução: Quadrante

https://presbiteros.org.br/

Papa Francisco: a corrupção é perigosa, precisamos estar muito atentos

O Papa Francisco recebe em audiência os funcionários do Escritório do Auditor Geral (Vatican Media)

O Papa Francisco recebeu em audiência na manhã desta segunda-feira, no Vaticano, os funcionários do Escritório do Auditor Geral, um organismo vaticano instituído, juntamente com outros, há nove anos, com o Motu Proprio Fidelis dispensator et prudens.

Silvonei José – Vatican News

O desejo de Francisco ao criar esse organismo vaticano, há nove anos, com o Motu Proprio Fidelis dispensator et prudens era lançar algumas reformas econômicas, em continuidade com o trabalho já iniciado pelo Papa Bento XVI.

Um órgão cujas funções foram então mais bem definidas nos Estatutos subsequentes e reafirmadas na Constituição Apostólica Praedicate Evangelium.

O Papa Francisco no seu discurso entregue aos presentes dentre os vários aspectos e valores que caracterizam esse Escritório, recordou brevemente três: independência, atenção às práticas internacionais e profissionalismo.

Em primeiro lugar, a independência. O Escritório do Auditor Geral não depende hierarquicamente de outros órgãos. Entretanto, longe de significar arbitrariedade, isso implica a responsabilidade de uma ação sempre bem pensada e inspirada no mais alto princípio da caridade. É importante que o espírito de correção fraterna sempre o guie, mesmo quando for necessário apontar práticas contábeis e administrativas que não estejam de acordo com as regras e situações a serem corrigidas.

A Palavra de Deus – escreveu o Papa - nos ensina que "o Senhor corrige aqueles a quem ama, como um pai corrige seu filho amado" (Pr 3:12). Lembremo-nos dessas palavras que acompanham a correção: amor e paternidade, sempre, sem ceder à tentação do protagonismo fácil.

A esse respeito Francisco diz que é bom recordar, com espírito sinodal, a importância da colaboração do Escritório com os outros Dicastérios da Cúria e, em particular, com os organismos econômicos, evitando "competições" que podem facilmente se transformar em rivalidade, também em nível pessoal.

Em segundo lugar, atenção às práticas internacionais. É importante promover a aplicação das melhores práticas, promover a justiça e estar alinhado com o restante da comunidade internacional, desde que, é claro, os padrões não contradigam os ensinamentos da Igreja.

Terceiro lugar: profissionalismo. Referindo-se aos presentes salientou que eles têm um histórico profissional considerável, adquirido em organizações importantes. Em alguns casos, isso significa décadas de experiência trabalhando em alto nível, e o Papa agradeceu-lhes por terem decidido colocar tudo isso a serviço da Santa Sé.

“Sei que, para manter altos padrões profissionais, o senhor investe muito em treinamento, e isso é bom. O Papa Francisco recordou então que o “Escritório do Auditor Geral também é uma das Autoridades Anti corrupção de acordo com a Convenção de Mérida, à qual a Santa Sé aderiu em 2016 também em nome do Estado da Cidade do Vaticano.

“Certamente, - acrescentou o Papa - aqueles que trabalham na Santa Sé e no Estado da Cidade do Vaticano o fazem com fidelidade e honestidade, mas a tentação da corrupção é tão perigosa que precisamos estar muito atentos”.

“Sei que os senhores dedicam muita atenção a isso, com um trabalho que é administrado com firmeza e misericordiosa discrição, porque, sujeito à necessidade de transparência absoluta em todas as ações, os escândalos servem mais para encher as páginas dos jornais do que para corrigir em profundidade comportamentos”. “Convido-os, - disse Francisco - além disso, a ajudar os responsáveis pela administração dos bens da Santa Sé a criar salvaguardas que possam impedir, "no início", que a própria insidiosidade da corrupção se concretize”.

O Papa concluiu seu discurso dizendo que sabe que alguns dos presentes servem no refeitório da Cáritas. “É uma coisa bonita, e eu lhes digo: façam isso com o coração aberto, com simplicidade e gratuidade, e encontrem tempo para conversar com essas pessoas e ouvir suas histórias. Muitas vezes se encontram pessoas que precisam de amizade, mas que são deixadas sozinhas. Muitas vezes, um sorriso e uma palavra valem ainda mais do que um prato de macarrão”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

NAZARENO: Ninguém é profeta em casa (expulsão de Nazaré) - (15)

Nazareno (Vatican Media)

Cap. 15 - Ninguém é profeta em casa (expulsão de Nazaré)

Quanto mais os dias passavam, mais as pessoas falavam Dele, de Seus milagres. Retornando por alguns dias a Nazaré, em um sábado Ele entrou na pequena sinagoga que o havia visto criança. Ele se levanta para ler uma passagem de Isaías e depois toma a palavra. "Hoje se cumpriu esta Escritura que vocês ouviram". Palavras que causam espanto, mas também perplexidade entre seu povo, porque desafiavam as certezas adquiridas, de modo que o expulsaram da cidade e o levaram até a beira da montanha para jogá-lo para baixo. Mas ele, passando pelo meio deles, partiu. "Nenhum profeta", diz Jesus, citando a Sagrada Escritura, "é bem aceito em sua própria terra! O Nazareno desce a Cafarnaum, onde há uma multidão de pessoas, pescadores e comerciantes vendendo suas mercadorias, soldados romanos, mendigos, multidões de crianças barulhentas dedicadas às suas brincadeiras. Cafarnaum é uma terra fronteiriça, onde a Ásia e a Europa se encontram ao longo da "rota marítima"; aqui tudo parece menos problemático, até mesmo os encontros de Jesus.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2023/11/02/16/137431196_F137431196.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Dâmaso I

São Dâmaso I (A12)
11 de dezembro
São Dâmaso

Há alguma controvérsia sobre a nacionalidade de Dâmaso, romano, espanhol, ou “espanhol da Lusitânia”. Sua eleição ao papado, em 366, foi perturbada pela tentativa do antipapa herege dos arianos (que negavam a consubstancialidade de Jesus com o Pai), Ursino, de chegar à Cátedra de Pedro. Além do arianismo, seu pontificado teve que se colocar firmemente também contra outras seitas heréticas, como os marcionistas, os donatistas, os novacianos, os sabelianos, os apolinaristas, os macedonianos…

Com tudo isso, definiu inequivocamente o primado do Romano Pontífice (a Igreja de Roma exerce jurisdição sobre todas as demais), constituiu o II Concílio Ecumênico em Constantinopla, organizou o canto dos Salmos, obrigatórios para o clero nas igrejas e mosteiros. Conviveu e contou com o auxílio de Santo Ambrósio, Santo Atanásio, Santo Agostinho e São Jerônimo, a quem encomendou a tradução, para o Latim, dos textos originais gregos e hebreus da Bíblia, conhecida como “Vulgata”, e que serviu durante séculos como referência para a Igreja.

Além disso, publicou uma decisão relativa ao catálogo dos livros bíblicos, de importância fundamental na definição do cânon da Sagrada Escritura. Seu interesse pelas catacumbas o levou a visitá-las pessoalmente e a determinar sua digna restauração, bem como a levantar notícias dos seus mártires, em textos de grande importância histórica. Morreu em 11 de dezembro de 384, após mais de 18 anos de pontificado.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São Dâmaso I foi talvez o Papa mais notável do século IV, época de grandes mudanças para a Igreja, tanto em relação a aspectos externos, de relação com o mundo civil, quanto a questões internas, que exigiam definições pastorais e combate a heresias. Sua firmeza e precisão doutrinária permitiram à Igreja navegar seguramente por estas águas difíceis, e, como no Corpo de Cristo há vários membros, que cooperam entre si, seu trabalho foi apoiado pela ação de outros grandes santos. Nossa maturidade na Fé conta também com o auxílio dos irmãos, através das suas orações e obras; tudo o que fazemos tem importância para o bem do próximo.

Oração:

Deus Pai, que guiais com mão segura a Vossa Igreja através dos tempos, concedei-nos pela intercessão de São Dâmaso I, Vosso Vigário nesta Terra, a segurança na Doutrina e a firmeza na Fé, para que como ele possamos alcançar a salvação ajudando o próximo, no serviço de perseverar no único Caminho que leva ao Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que Convosco vive e reina, e por Vossa Mãe Santíssima. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 10 de dezembro de 2023

Papa: rumo ao Natal, valorizar o silêncio e a sobriedade, inclusive nas redes sociais

Papa: rumo ao Natal, valorizar o silêncio e a sobriedade (Vatican Media)

Já com a Praça São Pedro enfeitada para o Natal, o Pontífice rezou com milhares de fiéis a oração do Angelus e comentou o trecho do evangelista Marcos, que fala de João Batista, o precursor de Jesus.

Vatican News

Libertar-se do supérfluo para compreender aquilo que é realmente importante diante de Deus: para o Papa Francisco, esta é a mensagem principal que o Evangelho nos apresenta neste II Domingo do Advento.

Já com a Praça São Pedro enfeitada para o Natal, o Pontífice rezou com milhares de fiéis a oração do Angelus e comentou o trecho do evangelista Marcos, que fala de João Batista, o precursor de Jesus. O Papa se deteve no versículo em que o Batista é descrito como "voz daquele que grita no deserto", para refletir sobre as palavras "voz" e "deserto". 

O deserto é o local do silêncio e da essencialidade, onde não é permitido divagar sobre coisas inúteis, mas é preciso se concentrar no que é indispensável para viver.

“Eis um chamado sempre atual: para proceder no caminho da vida, é necessário despir-se do 'a mais', porque viver bem não quer dizer encher-se de coisas inúteis, mas se libertar do supérfluo, para cavar em profundidade dentro de si, para compreender aquilo que é realmente importante diante de Deus.”

Para Francisco, somente se fizermos espaço a Jesus através do silêncio e da oração, saberemos nos libertar da poluição das palavras vãs e dos falatórios. Nesse sentido, o silêncio e a sobriedade – nas palavras, no uso das coisas, na mídia e nas redes sociais – não são só “promessas” ou virtude, mas elementos essenciais da vida cristã.

Já a voz é o instrumento com o qual manifestamos o que pensamos e levamos no coração, e está intimamente relacionada ao silêncio, porque expressa aquilo que amadurece dentro, da escuta daquilo que o Espírito sugere.

"Se não se é capaz de calar, é difícil que se tenha algo de bom a dizer; enquanto mais atento é o silêncio, mais forte é a palavra", disse o Papa. 

A minha vida é sóbria ou repleta de coisas supérfluas?

Francisco então convida os fiéis a se questionarem: que lugar ocupa o silêncio nos meus dias? É um silêncio vazio, talvez opressor, ou um espaço de escuta, de oração, onde custodiar o coração? A minha vida é sóbria ou repleta de coisas supérfluas?

Mesmo que signifique ir contracorrente, exortou, valorizemos o silêncio, a sobriedade e a escuta.

"Que Maria, Virgem do silêncio, nos ajude a amar o deserto, para nos tornar vozes críveis que anunciam o seu Filho que vem."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Legalização das drogas, o Estado e a liberdade de cada um

Aleksandr Yu | Shutterstock

Por Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 10/12/23

O conceito de fundo é que cada um é livre, num Estado democrático, para fazer o que bem entender, desde que não prejudique aos demais. Mas essa concepção nos engana em dois aspectos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) voltará, no início de 2024, a julgar a possibilidade de descriminalização do porte de drogas no Brasil, em particular a maconha. Poucos temas são tão impregnados de ideologia quanto este. Por outro lado, o tema é realmente complexo e tem uma boa dose de relatividade.

Seja qual for a posição de cada um, ninguém de boa-intenção gostaria de ver drogas pesadas serem oferecidas a uma criança pequena, ou uma sociedade que matasse sumariamente todo drogado e todo vendedor de drogas. O sucesso maior ou menor de uma estratégia com relação às drogas depende muito da forma como é executada. Propostas nem tão boas, se bem executadas, podem dar melhores resultados do que propostas ideais, porém mal realizadas. Mas isso passa longe dos discursos ideológicos, de um lado e de outro.

Além disso, para entendermos adequadamente o problema, temos que considerá-lo em três aspectos. O primeiro é o cultural: qual o papel da liberdade pessoal e da autoridade do Estado numa política para as drogas? Depois, temos um aspecto social: é bastante óbvio que drogas são perigosas para a saúde (ainda que algumas, como álcool e tabaco, sejam aceitas quase universalmente), como prevenir seu uso abusivo? Por último, mas não menos importante, o aspecto policial: como combater o crime organizado que explora o narcotráfico?

São muitos aspectos, todos complexos. Sendo assim, vejamos nesse artigo apenas o cultural, deixando os demais para outros artigos futuros.

Duas comparações incômodas: o álcool e o tabaco

Substâncias psicoativas, que alteram a percepção, o humor, a consciência e o comportamento, são sabidamente danosas tanto para os indivíduos quanto para a sociedade. Sendo assim, por que existe todo esse movimento para liberar o consumo da maconha? Qual seria a lógica desse movimento?

Teorias conspiratórias, invocando intenções de destruir famílias e manipular mentes não se sustentam para quem conhece tantos porta-vozes desse movimento bem-intencionados. A grande maioria dos defensores da descriminalização do porte de drogas agem de boa-fé, se espelhando nos casos do álcool e do tabaco.

O consumo moderado de álcool não é, obrigatoriamente, danoso (ainda que também não seja, obrigatoriamente, seguro). Ao longo dos séculos, a humanidade aprendeu a desenvolver bebidas e hábitos que minimizam os riscos do seu excesso. A sensibilidade e o risco de tornar-se dependente, perdendo inclusive o autocontrole, varia de pessoa para pessoa, mas cada um acredita que será capaz de consumir moderadamente, não se tornando dependente.

A Lei Seca nos Estados Unidos vigorou de 1920 a 1933, proibindo a produção, venda e transporte de bebidas alcoólicas. Estudos estatísticos mostraram que houve uma diminuição das mortes em acidentes de trânsito naquele período – portanto o álcool, mesmo consumido em quantidades socialmente aceitas, pode ser perigoso. No entanto, a lei foi revogada, pois contribuiu para o crescimento do crime organizado e para o aumento da corrupção.

Assim, imagina-se que as drogas ilícitas, se liberadas, terão um destino similar ao álcool. Passarão a ter um consumo moderado, dentro de níveis socialmente aceitáveis, e sem contribuírem para o crime organizado. E se alguém se prejudicar seriamente pela dependência, será um problema individual da pessoa.

A história dos cigarros de tabaco é bem diferente. Permitidos, foram amplamente apresentados pela propaganda como elementos virilidade masculina e até de charme feminino. Até que o câncer no pulmão, causado pelo fumo, se tornou um problema grave de saúde pública e os tribunais começaram a dar ganho de causa para vítimas que alegavam ter adquirido o câncer em função das campanhas publicitárias das fábricas de cigarro. 

No mundo todo, as políticas antitabagismo têm reduzido o consumo do tabaco, sem necessidade de uma proibição legal. No Brasil, de 1989 a 2010, a queda do percentual de fumantes foi de 46%. Mesmo não sendo proibido, o consumo do tabaco vem diminuindo graças a campanhas que restringem a publicidade, conscientizam para os perigos do fumo, proíbem de fumar em lugares públicos, etc. 

Atualmente, a sociedade está convicta de que o vício de fumar é danoso tanto para a pessoa quanto para a sociedade, mas tem-se a ilusão que drogas “leves” como a maconha não trariam danos sociais e seu consumo poderia ser confiado à autonomia individual. Ignora-se tanto seus efeitos danosos quanto a força daqueles que induzem as pessoas ao consumo e à dependência.

Liberar sem educar é perigosíssimo

Lícito, o álcool é uma droga potencialmente danosa – e, por ser amplamente consumido, causa muito mais mortes e danos que as drogas ilícitas. Já a proibição às drogas ilícitas foi se consolidando ao longo dos anos. A partir daí, argumenta-se que as proibições são seletivas, determinadas por interesses econômicos e políticos. Isso não muda o fato de que drogas são potencialmente danosas – e sua liberação, perigosa; mas cria-se a ideia de que seria uma ideologia repressora, e não o perigo em si, a causa da proibição.

Por outro lado, as campanhas de esclarecimento mostraram à sociedade que o tabaco é perigoso, levando a uma redução do tabagismo sem proibição. Isso não significa que as drogas ilícitas devem ser permitidas. Diminuir um fator de risco não implica em poder aumentar outro… Contudo, mostra que, quando existe vontade política e empenho, campanhas educacionais e medidas restritivas podem ser bem-sucedidas no combate à drogadição.

No Brasil, contudo, se fala muito em descriminalização do porte de drogas, mas muito menos em campanhas drásticas, como aquelas contra o tabaco, alertando a juventude dos perigos do uso de drogas. Difícil imaginar que uma combinação entre liberação do uso e falta de campanhas de esclarecimento levará a outra situação que não a de uma catástrofe anunciada.

E a liberdade individual?

Porém, quando o STF discute a descriminalização do porte da maconha, está considerando não tanto esses aspectos, mas sim o princípio constitucional da liberdade individual. O conceito de fundo é que cada um é livre, num Estado democrático, para fazer o que bem entender, desde que não prejudique aos demais. Mas essa concepção nos engana em dois aspectos.

Em primeiro lugar, nessa visão, a autonomia – e não a liberdade – é o valor supremo. Mas a autonomia é apenas uma condição para a liberdade. Fazemos a experiência da liberdade quando usamos nossas potencialidades para nos realizarmos como pessoa, não simplesmente quando fazemos o que queremos. Se usamos a autonomia para optar por aquilo que reduz nossas potencialidades, como acontece com a droga, não caminhamos rumo à liberdade, mas sim em direção à dependência.

Por isso, o Estado, quando impõe limites ao uso de substâncias psicoativas, não apenas está defendendo a segurança das pessoas (uma pessoa em estado alterado pode se tornar perigosa para todos ao dirigir ou em uma simples briga). Está cumprindo o seu dever de evitar que a pessoa faça mal para si mesma.

Ah! Mas então estamos defendendo um Estado paternalista, que monitora e controla as pessoas? Não. Esse é o segundo erro dessa concepção: imaginar que as pessoas podem agir de forma totalmente autônoma, sem nenhuma influência exterior, que a vida privada pode ser totalmente desvinculada da vida pública. Contudo, na vida em sociedade, ninguém é totalmente autônomo. Mesmo que o Estado não interfira em nossas decisões, haverá o poder da propaganda, dos influenciadores sociais, da mentalidade hegemônica, dos comércios ilegais, etc.

Existe uma relação permanente entre o Estado, a sociedade e a pessoa. Nunca somos totalmente autônomos, nunca somos totalmente determinados pelo meio em que estamos. Para que sejamos o mais livres possível, cabe sim às instituições públicas (Estado, igrejas, escolas, etc.) usarem todos os meios válidos para orientarem nossa autonomia, de modo que nos tornemos cada vez mais livres. Caso contrário, seremos cada vez mais presas fáceis do mal.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Fé, verdade e cultura (5/8)

Fé, verdade e cultura (Presbíteros)

Fé, verdade e cultura

Por Joseph Ratzinger

b) A superação das culturas na Bíblia e na história da Fé

Tendo o Papa insistido no caráter irrenunciável da herança cultural forjada no passado, que chegou a ser um veículo para a verdade comum de Deus e do homem, surge então espontaneamente a questão de se isso não seria canonizar um eurocentrismo da Fé. Um eurocentrismo que não parece ter sido superado pelo fato de que, ao longo da História, possam introduzir-se – ou já se tenham introduzido – novas heranças na identidade da fé constante que afeta a todos.

É uma questão que não se pode evitar. Até que ponto a Fé é grega ou latina, tendo aliás surgido não no mundo greco-latino, mas no mundo semita do antigo Oriente, onde estavam e estão em contato a Ásia, a África e a Europa? A Encíclica assume uma posição sobre isso, especialmente no seu segundo capítulo, em que trata do desenvolvimento do pensamento filosófico no interior da Bíblia, e no quarto capítulo, ao apresentar o encontro decisivo dessa sabedoria da razão cultivada na Fé com a sabedoria grega da Filosofia. Gostaria de acrescentar o seguinte:

Um variado acervo de pensamento religioso e filosófico, a partir de mundos culturais diversos, já está elaborado na Bíblia. A Palavra de Deus desenvolve-se num processo de encontros com a busca humana por respostas às suas perguntas últimas. Essa Palavra não é algo caído do céu como um meteorito: é precisamente uma síntese de culturas. Vista com mais profundidade, permite reconhecer um processo no qual Deus luta com o homem, fazendo com que este se vá abrindo lentamente à sua Palavra mais profunda, a Si próprio: ao Filho, que é o Logos.

A Bíblia não é a mera expressão da cultura do povo de Israel. Está, pelo contrário, continuamente em disputa com a intenção – totalmente natural desse povo – de ser ele próprio e de instalar-se na sua própria cultura. A Fé em Deus e o sim à sua vontade vão-lhe continuamente desarraigando as representações e aspirações próprias. Deus enfrenta-se continuamente com a religiosidade peculiar a Israel e com a sua cultura religiosa, que queria expressar-se no culto dos lugares altos, à deusa celeste e na pretensão de poder da própria monarquia.

Começando pela cólera de Deus e de Moisés contra o culto do bezerro de ouro no Sinai e até os últimos profetas depois do Exílio, tudo sempre concorre para que Israel desprenda-se da sua própria identidade cultural, abandone, por assim dizer, o culto à própria nacionalidade, o culto à raça e à terra, para inclinar-se diante do Deus totalmente outro, de Quem não podem apropriar-se, do Deus que criou o Céu e a Terra, e que é Deus de todos os povos.

A Fé de Israel significa uma permanente autossuperação da própria cultura na abertura no horizonte da verdade comum. Os livros do Antigo Testamento podem parecer, sob muitos pontos de vista, menos piedosos, menos poéticos, menos inspirados do que certas passagens mais importantes dos livros sagrados de outros povos. Mas em troca têm sua singularidade na índole combativa da Fé contra aquilo que é próprio, nesse desarraigamento daquilo que é próprio, iniciado com a peregrinação de Abraão.

A libertação da Lei que São Paulo alcança pelo seu encontro com Jesus Cristo ressuscitado conduz essa orientação fundamental do Antigo Testamento à sua conseqüência lógica: a plena universalização dessa Fé, separada da ordem nacional. Agora todos os povos são convidados a ingressar nesse processo de superação daquilo que é próprio, começado em primeiro lugar em Israel. Todos são convidados a se converterem a Deus, que se despojando de Si mesmo em Jesus Cristo derrubou o “muro de inimizade” que havia entre nós (cfr. Ef 2, 14) e nos congrega a todos na auto-entrega da Cruz.

Desse modo, a Fé em Jesus Cristo é na sua essência um permanente abrir-se, uma irrupção de Deus no mundo humano com a correspondente abertura do homem para Deus, que ao mesmo tempo congrega os homens. Tudo o que é próprio pertence agora a todos, e tudo o que é alheio chega a ser, ao mesmo tempo, algo próprio. E tudo abarcado pela palavra do pai ao filho mais velho: Tudo o que é meu é teu (Lc 15, 31), que torna a aparecer na oração sacerdotal de Jesus como modo de o Filho dirigir-se ao Pai: Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é meu é teu” (Jo 17, 10).

Esse padrão determina também o encontro da mensagem revelada com a cultura grega, que por certo não começa apenas com a evangelização cristã: já se desenvolvera dentro dos escritos do Antigo Testamento – sobretudo mediante a sua tradução ao grego -, e a partir de então no judaísmo primitivo. Esse encontro era possível, porque já fora aberto o caminho no mundo grego para um acontecimento de autotranscendência como esse. Os Padres da Igreja não verteram sem mais no Evangelho uma cultura grega que se mantinha em si e por si mesma: puderam assumir o diálogo com a filosofia grega e convertê-la em instrumento do Evangelho justamente porque nesse mundo grego já se tinha iniciado, mediante a busca de Deus, uma autocrítica da própria cultura e do próprio pensamento.

A Fé une os diversos povos – começando pelos germanos e pelos eslavos, que na época das invasões bárbaras tomaram contato com a mensagem cristã, até os povos da Ásia, da África e da América – não à cultura grega como tal, mas à sua autossuperação, que era o verdadeiro ponto de contato para a interpretação da mensagem cristã. A partir daí a Fé os introduz na dinâmica da sua autossuperação.

Richard Schäffler disse recentemente, e de modo certeiro, que a pregação cristã desde o princípio exigiu dos povos da Europa (que aliás nem existia antes da evangelização cristã) “a renúncia a todos os seus respectivos «deuses» autóctones, muito antes de entrarem em seu campo de visão as culturas extra-europeias”. É a partir daí que se deve entender por que a pregação cristã entrou em contato com a filosofia, e não com as religiões. Rapidamente caíram em desuso as tentativas de, por exemplo, interpretar Cristo como sendo o verdadeiro Dionísio, Esculápio ou Hércules. O fato de se ter entrado em contato com a filosofia, e não com as religiões, tem a ver com que não se tenha canonizado uma cultura, e sim se pôde entrar nela justamente no ponto onde ela já havia começado a sair de si mesma: por onde tinha começado ela mesma a sair de si, por onde tinha iniciado o caminho de abertura à verdade comum, deixando atrás a instalação no que lhe era meramente próprio. Isso constitui também hoje uma indicação fundamental para a questão dos contatos e transferências a outros povos e culturas.

A Fé não pode sintonizar com filosofias que excluam a questão da verdade, mas sintoniza, sim, com movimentos que se esforçam por sair do cárcere do relativismo. Da mesma forma, não pode integrar diretamente as antigas religiões. No entanto, as religiões podem proporcionar-lhe formas e imagens de diverso tipo, mas sobretudo atitudes, como o respeito, a humildade, a abnegação, a bondade, o amor ao próximo, a esperança na vida eterna. Isto parece-me – seja dito entre parênteses – ser importante também para a questão do significado salvífico das religiões. Não salvam, por assim dizer, na medida em que são sistemas fechados e pela fidelidade a esses sistemas, mas colaboram com a salvação na medida em que levam os homens a “perguntar-se por Deus” (como diz o Antigo Testamento), a “buscar o seu rosto”, a “buscar o Reino de Deus e a sua justiça”.

Joseph Ratzinger

Fonte: Site interrogantes.net

Link: http://www.interogantes.net

Tradução: Quadrante

https://presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF