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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Primeira Pregação do Advento 2023 do cardeal Raniero Cantalamessa (1/3)

1ª Pregação do Advento 2023 (Vatican News)

Primeira Pregação do Advento 2023 do cardeal Raniero Cantalamessa

"Jesus não espera que os pecadores mudem de vida para poder acolhê-los; mas os acolhe, e isso leva os pecadores a mudar de vida. Todos os quatro Evangelhos – Sinóticos e João – são unânimes nisso."

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap

“VOZ DE QUEM CLAMA NO DESERTO”

João Batista, o moralista e o profeta

Primeira Pregação do Advento de 2023

Na liturgia do Advento, nota-se uma progressão. Na primeira semana, a figura de destaque é o profeta Isaías, aquele que anuncia de longe a vinda do Salvador; no segundo e terceiro domingos, o guia é João Batista, o precursor; na quarta semana, a atenção se concentra toda em Maria. Este ano, tendo apenas duas meditações à disposição, pensei dedicá-las aos dois: ao Precursor e à Mãe. Nas iconóstases dos irmãos Ortodoxos, os dois estão um à direita e o outro à esquerda de Cristo e, frequentemente, são apresentados como dois “recepcionistas” dos lados da porta que introduz ao recinto sacro.

João Batista, pregador de conversão

Nos Evangelhos, o Precursor nos aparece em dois papéis diversos: o de pregador de conversão e o de profeta. Dedico a primeira parte da reflexão a João moralista, a segunda, a João profeta.

Alguns versículos do Evangelho de Lucas são suficientes para nos dar uma ideia da pregação do Batista:

João dizia às multidões que chegavam a ele para serem batizadas: “Crias de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para chegar? Produzi, pois, frutos dignos de vosso arrependimento... As multidões lhe perguntavam: “Que devemos fazer?”. João respondia: “Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem, e quem tiver comida, faça o mesmo!” Alguns publicanos vieram para o Batismo e perguntaram: “Mestre, que devemos fazer?”. Ele respondeu: “Não cobreis além do que foi estabelecido”. Alguns soldados também lhe perguntaram: “E nós, que devemos fazer?”. João respondeu: “Não maltrateis a ninguém, nem tomeis dinheiro à força e contentai-vos com o vosso soldo” (Lc 3,7-14).

O Evangelho permite ver o que distingue, neste ponto, a pregação do Batista daquela de Jesus. O salto de qualidade é expressado do modo mais claro pelo próprio Jesus:

A Lei e os Profetas vigoraram até João! A partir de então, o Reino de Deus é anunciado; e cada um se esforce para entrar nele (Lc 16,16).

Devemos tomar cuidado com contraposições simplicistas entre Lei e Evangelho. Logo após a afirmação acima citada, Jesus (ou, mais provavelmente, o próprio evangelista) acrescenta: “Ora, é mais fácil passar o céu e a terra do que cair uma só vírgula da Lei” (Lc 16,17). O Evangelho não abole a lei, isto é, concretamente, os mandamentos de Deus; mas inaugura uma relação nova e diversa com eles, um modo novo de observá-los.

O que é novo é a ordem entre o mandamento e o dom, isto é, entre a lei e a graça. À base da pregação do Batista está a afirmação: “Convertei-vos e o reino de Deus virá a vós!”; à base da pregação de Jesus está afirmação: “Convertei-vos, pois o reino de Deus veio a vós!” (recordemos a afirmação de Jesus acima citada: “A Lei e os Profetas vigoraram até João! A partir de então, o Reino de Deus é anunciado; e cada um se esforce para entrar nele”).

Não é uma diferença apenas cronológica, como entre um antes e um depois; trata-se de uma diferença também axiológica, isto é, de valor. Quer dizer que não é a observância dos mandamentos que permite ao reino de Deus vir; mas é a vinda do reino de Deus que permite a observância dos mandamentos. Os homens não mudaram improvisamente e se tornaram melhores, de modo que o Reino pôde vir sobre a terra. Não, eles são os de sempre, mas foi Deus quem, na plenitude dos tempos, enviou o seu Filho, dando-lhes assim a possibilidade de mudar e viver uma vida nova.

“Pois a Lei foi dada por meio de Moisés; a graça [de observá-la, entende-se] e a verdade vieram por Jesus Cristo”, escreve o evangelista João (Jo 1,17). Amar a Deus com todo o coração é “o primeiro e maior mandamento”; mas a ordem dos mandamentos não é a primeira ordem, ou o primeiro nível: acima dele, está a ordem do dom: “Nós amamos, porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19).

É interessante ver como esta novidade de Cristo se reflete na atitude diversa do Batista e de Jesus em relação aos chamados “pecadores”. João, nós ouvimos, aborda os pecadores que vão até ele com palavras de fogo. É Jesus mesmo que faz notar a diferença, neste ponto, entre ele e o Precursor: “Veio João, que não come nem bebe e dizem: ‘Tem um demônio’. Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘É um comilão e beberrão, amigo de publicanos e de pecadores” (Mt 11,18-19; cf. Lc 7,34). “Por que vosso mestre come com os publicanos e pecadores?”, diziam os fariseus aos seus discípulos (Mt 9,11).

Jesus não espera que os pecadores mudem de vida para poder acolhê-los; mas os acolhe, e isso leva os pecadores a mudar de vida. Todos os quatro Evangelhos – Sinóticos e João – são unânimes nisso. Jesus não espera que a Samaritana ponha em ordem a sua vida privada, antes de entreter-se com ela e até mesmo lhe pedir para lhe dar de beber. Mas assim fazendo, mudou o coração daquela mulher, que se torna uma evangelizadora em meio ao seu povo. O mesmo acontece com Zaqueu, com o publicano Mateus, com a pecadora anônima que lhe beija os pés na casa de Simão e com a adúltera.

Não podemos tirar uma norma absoluta a partir desses exemplos (Jesus era Jesus e lia nos corações; nós não somos Jesus!). a Igreja não pode prescindir, contudo, do seu estilo, sem nos encontrar ao lado de João Batista, ao invés do de Cristo. Jesus reprova o pecado infinitamente mais do que possam fazê-lo os mais rígidos moralistas, mas propôs no Evangelho um novo remédio: não o afastamento, mas a acolhida. A mudança de vida não é a condição para nos aproximar de Jesus nos Evangelhos; contudo, deve ser o resultado (ou ao menos o propósito) depois de termos nos aproximado dele. A misericórdia de Deus, de fato, é incondicional, mas não é sem consequências!

Sobre este ponto, a Santa Mãe Igreja tem muito que aprender das mães e dos pais de família de hoje. Todos nós conhecemos os dramas que dilaceram tantos pais de hoje: filhos que, apesar do seu bom exemplo de vida cristã e de seus bons conselhos, tomam um caminho diferente do deles, destruindo a si mesmos com as drogas, abuso do sexo, escolhas precipitadas que se revelam equivocadas e frequentemente trágicas...

Será que, por isso, eles lhes fecham a porta à face e os expulsa de casa? Não podem fazer nada a não ser respeitar sua escolha, como a respeita Deus antes deles, e continuar a amá-los. Esta situação dramática da sociedade se reflete naquela da Igreja. Somos chamados a escolher entre o modelo de João Batista e o modelo de Jesus, entre o dar a preeminência à lei, ou dá-la à graça e à misericórdia.

Há um ponto sobre o qual não se há de escolher, porque João e Jesus estão completamente de acordo. Sobre ele também nós deveríamos levantar a voz, sem deixar que seja apenas o papa a fazê-lo. Trata-se daquele que João exprime com as palavras: “Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem, e quem tiver comida, faça o mesmo” (Lc 3,11) e que Jesus inculca com a parábola do rico epulão e com a descrição do juízo final em Mateus 25.

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Tradução de Fr. Ricardo Farias, OFMCap.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Cristiana ou Nina

Santa Cristiana (arquisp)

15 de dezembro

Santa Cristiana ou Nina

No século IV, vivia, nas terras pagãs entre o mar Negro e o mar Cáspio, hoje território da Geórgia, uma jovem escrava cristã chamada Nina ou Nuné. Era o tempo do imperador Constantino e ela havia nascido na Capadócia, atual Turquia, e fora aprisionada por ocasião da invasão dos bárbaros aos confins orientais do Império Romano. Nina era uma escrava que demonstrava toda sua fé em Cristo, na alegria com que enfrentava as dificuldades e os sofrimentos.

Esse fato chamou a atenção dos pagãos com quem convivia. Assim, teve a oportunidade de ensinar a palavra de Cristo a todos os que a cercavam. Tornou-se tão conhecida que passaram a chamá-la de "Cristiana", a serva cristã.

A antiga tradição russa narra que, certa vez, uma senhora procurou-a, pedindo que solicitasse a intervenção de Deus para que seu filho, gravemente enfermo, não morresse. Nina se ajoelhou aos pés da cama onde estava a criança e rezou com tanto fervor que o menino abriu os olhos, sorriu e levantou-se na frente de todos. Foi o bastante para que toda a região mostrasse interesse pela religião da serva de Cristo. Quanto mais prodígios ela promovia, mais catequizava e convertia os pagãos.

Até que, um dia, a rainha desse povo, chamada Nana, adoeceu gravemente e nenhum remédio conseguia fazê-la melhorar. Tentaram de tudo. Nada parecia possível. Então, alguém se lembrou dos chamados "poderes" da serva cristã. Como último recurso, foram sugeridos à rainha, que mandou chamá-la. Assim, essa humilde escrava foi ao palácio atender a rainha, levando consigo apenas a certeza de sua fé e a confiança de suas orações. Logo conseguiu curar a soberana.

Enquanto ela se recuperava, seu marido, o rei Mirian, certo dia, saiu em comitiva para uma caçada. Mas o grupo acabou isolado no bosque devido a uma violentíssima tempestade. A situação era crítica, com trovões e raios incendiando árvores, pedras rolando ao vento e atingindo pessoas. O pavor tomou conta de todos, clamaram por seus deuses, mas nada acontecia. Lembrando-se da rainha, o rei decidiu rezar para o Deus de Cristiana. Uma luz, então, foi vista saindo do céu, a tempestade cessou e todos puderam regressar sãos e salvos à Corte. Nesse instante, o rei sentiu a fé invadir seu coração.

Ao voltar, procurou a escrava Nina e lhe pediu que falasse tudo o que sabia sobre sua religião. Acabou catequizado e convertido. Entretanto os reis Mirian e Nana não podiam ser batizados, pois na Corte não havia nenhum bispo. Seguindo a orientação de Cristiana, o rei enviou esse pedido ao imperador Constantino. Nesse meio tempo, mandou construir a primeira igreja cristã, de acordo com uma planta feita sob orientação de Nina, já liberta. Quando chegou o primeiro bispo da Geórgia acompanhado de um grupo de sacerdotes missionários, encontraram o povo já abraçando a doutrina de santa Nina, como os fiéis a chamavam por força de sua piedade e prodígios de fé. Com facilidade, converteram a nação inteira, a partir da grande solenidade do batismo do casal real.

Depois, junto com o bispo, o rei Mirian e a rainha Nana construíram o Mosteiro Samtavro, anexo àquela igreja, onde mais tarde foram sepultados. Nele também viveu alguns anos santa Nina, que morreu no ano 330.

Venerada pelos fiéis como padroeira da Geórgia, suas relíquias estão guardadas na Catedral da Metiskreta, antiga capital do país. Seu culto foi confirmado, sendo realizado, no Oriente, em 14 de janeiro, enquanto a Igreja de Roma a comemora no dia 15 de dezembro.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Uma joia românica entre as montanhas

A igreja de São Bento vista da igreja de São Pedro, aos pés do monte Civate (30Giorni)

Arquivo 30Dias - 12/2003

Uma joia românica entre as montanhas

São legendárias as origens da igreja de São Pedro da Montanha, em Civate, no norte da Itália. Mais que os documentos, neste caso são as pedras e afrescos que falam. É o caso da imagem dos anjos que, guiados por Miguel, lutam contra o imenso dragão vermelho que queria se apossar do filho recém-nascido da mulher vestida de sol, como se lê no capítulo 12 do Apocalipse.

de Giuseppe Frangi

O que aquelas duas joias da arquitetura românica fazem lá em cima, sozinhas, no côncavo aos pés do monte Pedale, sobre a planície lombarda e o lago de Anone? Parece estranho, mas nem os historiadores nem os críticos de arte conseguiram responder a essa questão. Ainda hoje, para chegar às duas igrejas, São Pedro e São Bento, a 660 metros de altura, é preciso caminhar mais de uma hora, saindo da pequena cidade de Civate, da qual o santuário tomou o nome. Um esforço amplamente recompensado pelo espetáculo que se tem quando se tornam visíveis as duas igrejas, cuidadosamente dispostas em meio ao verde das pradarias.

Mas quem e por qual motivo decidiu construí-las num lugar tão isolado? A lenda conta que o rei lombardo Desidério quis erguê-las em agradecimento por um voto respondido: seu filho Adelque, condenado por sacrilégio por ter matado um javali que se refugiara sob o altar, fora punido com a cegueira. O pai implorou a graça e, em sonho, foi-lhe anunciado que seu filho recuperaria a visão se ele construísse uma igreja naquele lugar. E assim se deu, como conta, num latim já vulgarizado, a Chronica mediolanensis, um manuscrito conservado na Biblioteca Nacional de Paris. O manuscrito acrescenta um pormenor interessante: Desidério teria também pedido relíquias ao papa Adriano, para que fossem conservadas na igreja que estava construindo. Obteve nada menos que uma relíquia de São Pedro, além de outra, do papa Marcelo (e a lenda confere, pois o papa Marcelo é representado no afresco do século XII, logo na entrada da igreja). Um documento de 845 é o primeiro atestado histórico da existência da igreja de São Pedro. Dizem que ali vivia uma comunidade de 35 monges, obedientes à regra beneditina: uma comunidade de tamanho razoável, que vivia num edifício que hoje não existe mais. A notícia seguinte, do ano de 859 ou até mais antiga, diz que o arcebispo de Milão Angiberto II, o mesmo que encomendara o célebre altar de ouro para a Basílica Ambrosiana, mandou transportar de Albenga a Civate três relíquias de São Calógeras, um mártir que viveu, ao que parece, no século I. A ele é dedicada uma outra igreja antiga, com um mosteiro anexo, na zona urbana do município de Civate.

Mas a data mais importante, que marca as fisionomias das igrejas de São Pedro e São Bento, talvez seja 1097. Em setembro daquele ano morreu o arcebispo de Milão Arnolfo III, sendo sepultado justamente em Civate: fora eleito à cátedra milanesa em 1093, em circunstâncias pouco claras, tanto que sua nomeação inicialmente foi invalidada pelo pontífice Urbano II. Arnolfo, à espera da ratificação, retirou-se em oração a São Pedro da Montanha, em Civate, onde permaneceu por dois anos, até que chegasse a confirmação de Roma. Esses episódios atestam o apego do bispo à antiga sede monástica e confirmam as hipóteses apresentadas pelos críticos de que seja exatamente esse o período dos grandes trabalhos de ornamentação de São Pedro.

O altar afrescado na abside pequena da igreja de São Bento (30Giorni)

De fato, mais que os documentos, quem fala em Civate são as pedras e, sobretudo, os afrescos e as decorações. Como já dissemos, são duas igrejas. A primeira, pouco abaixo da segunda, é dedicada a São Bento. Tem planta central, o que levou a pensar que fosse um batistério: na realidade, nunca exerceu essa função, já que jamais se encontraram a fonte e os canais de escoamento de água. Seja como for, dentro dela há um primeiro aperitivo do que nos espera, logo acima, em São Pedro. O altar, na absidíola de frente para quem entra, conserva afrescos em três de seus lados. Destaca-se em particular, no lado direito, um São Bento de braços abertos. Num dos braços, o santo segura a pastoral; no outro, o livro com a “legenda” da imagem: “Ego sum Benedictus abas”.

Saindo da igreja e olhando para cima, somos acolhidos pela majestosa escadaria de 23 degraus talhados de maneira bastante grosseira que sobe para São Pedro. Aqui nos espera a primeira surpresa: a fachada de São Pedro é convexa, parece, ou melhor, é uma abside, semelhante à da igreja de Passagem de São Pedro, em Pisa, no lugar onde a tradição diz que São Pedro teria desembarcado. Além disso, em torno da abside corre um pórtico que se abre para o vale com suas elegantes bíforas. As razões dessa fascinante mas estranha fachada-abside estão ligadas àquele ano de 1097 e à história do arcebispo Arnolfo III. Teria sido ele quem modificou a igreja, invertendo sua orientação e levando o altar para a montanha. A velha abside se tornou, assim, a nova fachada, e a cripta, por baixo dela, mantendo a orientação originária, aparece hoje virada para a planta da igreja.

Teria sido o mesmo Arnolfo III a convidar as extraordinárias corporações de artistas que afrescaram e decoraram a igreja? A datação proposta, já há cinqüenta anos, pelo maior estudioso da Idade Média lombarda, Pietro Toesca, baseada no confronto de estilos, coincide com a que é sugerida pela história de Arnolfo III. Estamos no início do século XI, anos ainda dominados pelas escolas bizantinas. Um grande mestre certamente terá subido a Civate, entre outros artistas. A ele é atribuída a grande cena pintada na luneta à entrada, que ilustra o início do capítulo 12 do Apocalipse.

Mas, antes de chegar a esse ponto-chave, o fiel é chamado a um breve percurso que começa com o afresco em cima da porta de entrada, onde Cristo entrega as chaves e o livro a Pedro e Paulo, apóstolos de mãos veladas. Uma vez dentro da igreja, vê-se, na primeira abóbada, a representação da Jerusalém celeste, descrita como uma cidade luxuosa, fechada por 12 portões nos quais aparecem 12 anjos e os nomes das 12 tribos de Israel e dos 12 apóstolos. No centro, Cristo segura nas mãos um livro no qual se pode ler em letras claras o convite: “Qui sitit veniat”, venha quem tem sede. É uma referência ao rio que vai da montanha aos pés do Salvador, derrama-se em quatro cursos d’água e conflui para os quatro gomos da abóbada seguinte (onde cada um dos rios recebe um nome), indicando o fato de que os Evangelhos são pregados em todos os cantos da terra, como recuperou recentemente Lorenzo Cappelletti em seu livro dedicado aos afrescos da cripta de Anagni, bastante próximos, do ponto de vista temático e talvez até cronológico, dos afrescos de Civate. “Nos corações de pedra dos gentios, Deus abriu os rios da pregação. [...] O que ouvimos ser prometido vemos agora cumprido”: são palavra de Gregório Magno, que descrevem perfeitamente o itinerário ilustrado aqui. Será um acaso que o próprio papa Gregório, ao lado do papa Marcelo, tenha sido pintado numa das duas paredes estreitas da porta de entrada, em gesto de acolhida dos fiéis? “Venite filii audite me, timorem Domini docebo vos” (Vinde, filhos, ouvi-me, eu vos ensinarei o temor do Senhor), diz o primeiro; “Accedite filii et inluminamini” (Entrai, filhos, e sereis iluminados), diz o segundo.

Algumas imagens da igreja de São Pedro (30Giorni)

Depois de passar sob essas pequenas abóbadas baixas do átrio interno, chega-se à grande nave de São Pedro, com mais de 20 metros de comprimento. É então que, se nos voltarmos para trás, veremos na parede ao fundo o grande afresco do Apocalipse. Num esplendor de cores que o clima seco do monte Pedale preservou até nós, é contada a luta dos anjos, guiados por Miguel, contra o imenso dragão que queria apossar-se do filho recém-nascido da mulher “vestida de sol”, como se lê no capítulo 12 do Apocalipse. O cortejo de anjos armados com lanças finas, com seu andar dançante e auréolas verdes, vermelhas e azuis, acaba derrotando o dragão, “e não se encontrou mais um lugar para ele no céu. Foi expulso” (Ap 12,8-9). É impossível não ficar atônito diante da elegância e da perfeita harmonia dessa composição, que sintetiza o complexo relato do Apocalipse numa única cena, conservando uma extraordinária unidade de conjunto. Parece “pular” sem esforço os mil anos de história que nos separam dela, para falar com uma linguagem visual ainda direta e fascinante.

A última jóia conservada pela igreja de São Pedro é a luminosa capela do cibório, decorada com baixos-relevos semelhantes aos da basílica de Santo Ambrósio, em Milão, mais conhecidos. No lado que fica de frente para a entrada, destaca-se um Cristo crucificado. O Senhor tem um olhar cheio de ternura, como se quisesse dizer que seus braços estão abertos para acolher os homens. Embaixo, Maria e São João se voltam para ele, como se fossem impelidos por um desejo ardente. “Mors superat mortem”, diz uma das escritas ao fundo dessa cena. No lado direito da capela do cibório, na belíssima Ressurreição, vê-se o anjo que se senta imponente sobre o sepulcro vazio, com as asas desdobradas, quase num ímpeto de felicidade. O artista segue o que diz o Evangelho de Marcos e descreve Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago, que vieram para ungir com óleos o corpo do Senhor: esta última, surpreendida, deixa escapar das mãos o vaso dos unguentos, que quica no vazio, destacado no fundo branco. Com as escritas vistosas, que sublinham os nomes de todos os protagonistas, parece que vemos uma história em quadrinhos da antiguidade. Nela, nada é banal: cada quadro é para todos e está ao alcance de todos.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Muitas histórias, um Natal

Natal (Opus Dei)

Muitas histórias, um Natal

Qual é a origem de nossas tradições natalinas? Para recuperar o sentido cristão destas festas, pode ser útil conhecer a origem dos costumes, como a árvore ou o presépio. Consideremos algumas.

24/11/2021

A COROA DO ADVENTO

A coroa do Advento compõe-se de quatro velas com quatro ramos de vegetais, que vão se acendendo, uma a uma, nas quatro semanas que precedem o Natal.

A coroa do advento encontra suas raízes nos costumes anteriores ao cristianismo, dos povos do norte, entre os séculos IV e VI. Durante o inverno e a pouca luz de dezembro, colhiam coroas de ramos verdes e acendiam fogos, como sinal de esperança pela vinda da primavera.

Natal (Opus Dei)

No século XVI, católicos e protestantes alemães começaram a utilizar este símbolo durante o Advento. Aqueles costumes primitivos continham uma semente de verdade que agora podiam expressar a Verdade suprema: Jesus é a Luz que veio, que está conosco e que virá na glória. As velas antecipam a vinda da Luz no Natal: Jesus Cristo.

A coroa está cheia de símbolos: a luz lembra a salvação; o verde, a vida; sua forma redonda a eternidade etc.

A DATA: O DIA 25 DE DEZEMBRO

Em um primeiro momento, durante os séculos I e II depois de Cristo, os cristãos não celebravam o nascimento de Jesus. Sabia-se quando tinha morrido, na Páscoa Judaica, mas não quando havia nascido. Porém, no século III existem os primeiros testemunhos de que a festa do Nascimento de Cristo era celebrada pela Igreja, ainda que de forma clandestina, no dia 25 de dezembro.

Natal (Opus Dei)

Como em outros casos, os primeiros cristãos aproveitaram festividades pagãs para celebrar sua fé. No caso do Natal, em torno do dia 25 de dezembro, as civilizações pré-cristãs celebravam o solstício de inverno, no qual a luz voltava a aparecer e terminavam as trevas. Ainda que seja uma época de frio e de noites longas, sabe-se que a vida volta a se iniciar.

De seu lado, os romanos celebravam, entre os dias 17 e 24 de dezembro, as Saturnalia, festa dedicadas ao deus Saturno. Na época imperial, a partir dos séculos I e II, se fixou o dia 25 de dezembro como o dia do nascimento do “Sol invicto", divindade que era representada por um recém-nascido. Era um dia de festa, ninguém trabalhava, inclusive os escravos festejavam.

Logo, a já grande comunidade romana de cristãos – que ainda vivia na clandestinidade – aproveitou essa data, tão celebrada na sociedade romana, para celebrar o nascimento de Jesus, cuja data era desconhecida.

A difusão da celebração litúrgica do Natal foi rápida. Após as perseguições de Diocleciano, em 354, foi fixada oficialmente a data do nascimento de Cristo. É possível considerar que, no século V, o Natal era uma festa universal, já que na ocasião a Igreja não estava dividida.

Também os povos do Norte da Europa celebravam uma série de festas ao redor do solstício, em honra a deuses como Thor, Odin ou Yule, razão pela qual não custou aos evangelizadores adaptar as festas pagãs ao Natal.

MISSA DO GALO

No século V, o Papa Sixto III introduziu em Roma o costume de celebrar no Natal uma vigília noturna, à meia noite, “mox ut gallus cantaverit" (“enquanto o galo canta"). A missa tinha lugar num pequeno oratório, chamado “ad praesepium" (“junto ao presépio"), situado atrás do altar mor da Basílica paleo-cristã de São Pedro.

A celebração Eucarística dessa Noite Santa começa com um convite insistente e urgente à alegria: “Alegremo-nos todos no Senhor – dizem os textos da liturgia -, porque nosso Salvador nasceu no mundo". O tempo litúrgico do Natal vai até o domingo do Batismo do Senhor, o domingo que se segue à Epifania.

OS PRESÉPIOS

Natal (Opus Dei)

O presépio é a representação doméstica do mistério do Nascimento de Jesus. O costume surgiu quando, no Natal de 1223, na Itália, São Francisco de Assis oficiou como diácono a Missa dentro de uma gruta na localidade de Greccio. Nela, após pedir permissão ao Papa Honório III, tinha montado um presépio com uma imagem em pedra do Menino Jesus e um boi e um asno vivos.

Esta representação de Greccio foi o ponto de partida de um fenômeno extraordinário de difusão do culto do Natal. A partir do próprio século XIII, a elaboração de presépios difundiu-se por toda a Itália. Os frades franciscanos imitaram seu fundador nas igrejas dos conventos abertos na Europa. Este costume propagou-se por toda a Europa durante os séculos XIV e XV.

Atualmente, o movimento da representação do nascimento de Cristo tem um grande êxito, principalmente na Itália, Espanha e América Latina. Na França, após a Revolução Francesa, em que foram proibidas as manifestações natalinas, nasceram com muita força na região da Provença. Até mesmo as comunidades protestantes, ainda que não montem presépios em suas casas, conservam, sim, a tradição de montar “presépios vivos" com crianças.

A ÁRVORE DE NATAL

É outra tradição pré-cristã que adquiriu um significado profundamente cristão. Muitas tradições, todas de procedência nórdica, reclamam o costume da árvore de Natal, ainda que nenhuma seja confiável, pelo que sua origem se perde na noite dos tempos.

Os antigos povoadores da Europa Central e Escandinávia consideravam as árvores seres sagrados. Assim, na época do solstício de inverno, adornavam a árvore mais alta e poderosa do bosque com luzes e com frutos (maçãs, por exemplo), acreditando que suas raízes chegavam ao reino dos deuses, onde se encontravam Thor e Odin.

Natal (Opus Dei)

Segundo a tradição, o cristianismo atribuiu uma leitura mais profunda a este costume. Conta-se que São Bonifácio – um sacerdote inglês que evangelizou a Europa Central nos séculos VII e VIII –, explicava o mistério da Trindade com a forma triangular do abeto (pinheiro): os frutos seriam os dons do Espírito Santo (os presentes de Deus aos homens); a estrela seria Cristo, a luz de Deus, a luz do mundo; e o tronco é facilmente assimilável à tradição cristã, que utiliza também muitas árvores em sua catequese: a árvore do Paraíso, da ciência do Bem e do Mal, a árvore de Jessé, o santo madeiro do qual se fez a cruz...

A partir do sáculo XV, os fiéis começaram a montar as árvores em suas casas. Com a reforma protestante – que suprime as tradições do presépio e de São Nicolau –, a árvore adquire maior protagonismo em muitos países do norte. A seus pés, as crianças encontram os presentes trazidos pelo Menino Jesus.

O enorme êxito da árvore no mundo anglo-saxão deve-se à rainha Vitória, que instalou uma no palácio real em 1830 e estendeu o costume a todo o reino. Em 1848, chegou até a felicitar as festividades natalinas com uma imagem da família real junto à árvore, o que contribuiu para sua difusão também nos Estados Unidos da América.

A difusão da árvore no mundo protestante fez com que, nos países católicos, especialmente do sul da Europa, se desse menos importância a essa tradição. Mais recentemente, com dois pontífices centro-europeus, o costume da árvore de Natal recuperou sua importância.

Em 1982, a árvore foi instalada pela primeira vez na Praça de São Pedro: “Que significa esta árvore? – perguntava João Paulo II -. Eu creio que é o símbolo da árvore da vida, aquela árvore mencionada no livro do Gênesis e que foi plantada na terra da humanidade junto a Cristo (...). Depois, no momento em que Cristo veio ao mundo, a árvore da vida voltou a ser plantada através dEle e agora cresce com Ele e amadurece na cruz (...). Devo dizer-lhes - confessava – que eu pessoalmente, apesar de ter uns quantos anos, espero impacientemente a chegada do Natal, momento em que é trazido aos meus aposentos esta pequena árvore. Tudo isso tem um enorme significado, que transcende as idades...".

OS PRESENTES

A relação Natal-presente é muito antiga. Desde o início, um presente nestas datas tem sido um modo de transmitir de modo material às pessoas queridas a alegria própria pelo nascimento do Filho de Deus.

Natal (Opus Dei)

Até o século XIX, não se generalizou a idéia, fruto das classes médias, da burguesia. Reis Magos, Menino Jesus, São Nicolau ou Papai Noel, Befana, Olentzero, Caga Tiò... são personagens que, nas festas natalinas, trazem presentes às crianças. Mas muitos destes personagens têm uma longa história. Contaremos duas.

Reis Magos

A importância dos Reis Magos é principalmente religiosa: eles são os protagonistas da Epifania, isto é, da manifestação de Deus a todos os homens, de todos os povos da terra.

Já tinham sido anunciados no Antigo Testamento (o Livro dos Reis e Isaias), e São Mateus os descreve como “magos do Oriente". Que fossem três, e reis, é uma tradição que se consolidou rapidamente, como o demonstrou Orígenes, teólogo do século II. Provavelmente, tratava-se de sacerdotes da Babilônia, do culto de Zoroastro, dedicados à astrologia.

No século V, Leão Magno fixa em três o número de reis, representando assim as três raças humanas: a semítica, representada pelo rei jovem; a camítica, representada pelo rei negro; a jafética, representada pelo rei mais velho. No século XV, com o descobrimento de novas terras, adquirem seus traços definitivos.

Natal (Opus Dei)

Ao longo da história, têm recebido nomes como Magalath, Galgalath e Serakin; Appellicon, Amerin y Damascón; ou Ator, Sater e Paratoras. Os nomes Melchior, Gaspar e Baltasar aparecem pela primeira vez em um pergaminho do século VII.

Os restos dos reis magos, após serem encontrados por Santa Helena, em Saba, viveram em agitadas viagens por toda a Europa, até que repousaram finalmente na catedral de Colônia.

Natal (Opus Dei)

Papai Noel

São Nicolau foi um bispo cristão que viveu na atual Turquia, no século IV. Ainda que tenha feito muitos milagres, o mais conhecido foi o que restituiu a vida a três meninos que haviam sido esquartejados por um carniceiro que havia colocado seus restos em uns sacos. Por isso, sua figura esteve sempre unida às dos meninos. Sua devoção sempre existiu tanto na Igreja católica como na ortodoxa. Logo se associou o santo aos presentes que as crianças recebiam no Natal.

A imagem atual é uma mistura do Sinterklaas holandês e tradições escandinavas que haviam chegado aos Estados Unidos. Sua origem remonta a uma noite de 1822, quando o pastor protestante Clément C. Moore criou o personagem Santa Claus. No dia 24 de dezembro, ao cair da tarde, sua esposa descobriu que faltavam algumas coisas para a ceia e pediu a seu marido que fosse comprá-las. Na volta, Clement se entreteve algum tempo com o guarda Jan Duychinck: um holandês gordo e efusivo, com vontade de contar as tradições natalinas de sua terra, em particular os costumes relacionados com Sinterklaas (São Claus).

Já em casa, enquanto a esposa preparava a ceia, redigiu um poema para suas três filhas, contando a visita que lhe havia feito São Nicolau. A figura que descreveu era a mesma de Duychinck: um indivíduo cordial, gordo, de olhos chispeantes, nariz vermelho e faces rosadas, que trazia consigo um cachimbo e dizia “ho, ho, ho". Ainda que o personagem se chamasse São Nicolau, nada tinha a ver com o bispo.

(*) Artigo escrito por M. Narbona, Doutor em História.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Olhar o presépio com a pureza das crianças

Crianças da Catequese da Paróquia São João Batista em Campos - RJ (Foto: Arhyadniz Goulart de Ávila)

Celebrar os 800 anos do Presépio de São Francisco com um olhar das crianças revelando as lições do Natal, do amor de um Deus pela humanidade. Na Diocese de Campos as crianças da Catequese da Paróquia São João Batista fizeram de forma simples a representação que emocionou a comunidade eclesial.

Ricardo Gomes – Diocese de Campos

O que parecia uma simples brincadeira de criança revela o olhar de pureza e simplicidade das crianças que tiveram uma lição de espiritualidade preparando para viver o verdadeiro sentido do Natal. Foi que inspirou as catequistas da Pré – Catequese da Paróquia São João Batista em Campos dos Goytacazes (RJ) - e foi um momento de evangelização. 

A Catequista Vanessa da Silva Ribeiro de Oliveira aponta a apresentação como uma forma de apresentar de forma lúdica o sentido da preparação para a Festa do Natal em seu verdadeiro sentido. E colocar em foco esse tempo litúrgico do Advento. Foi animada a representação, mas que atingiu as crianças e a toda comunidade.

Como explicar para crianças algo tão grandioso de uma maneira simples e clara? Com alegria e de coração para coração. O caminho para alcançar a Deus deve ser divertido e somente por meio do amor conseguimos compartilhar o Tesouro da Fé.

Crianças da Catequese da Paróquia São João Batista (Foto: Arhyadniz Goulart de Ávila)

Conversamos com os catequizandos da pré-catequese sobre um homem, muito piedoso, que tentava explicar aos camponeses de uma cidadezinha chamada Gréccio, como havia sido o nascimento de Jesus, mas que apesar da boa intenção, ele percebeu que as pessoas não estavam entendendo. Esse homem chamado Francisco ficou pensando em uma forma de melhor explicar e foi através de São Francisco de Assis que iniciou essa bonita tradição. Após contar essa história, perguntamos se eles gostariam de ajudar as pessoas da nossa cidade de Campos dos Goytacazes a sentir o que São José, a Virgem Maria e Jesus sentiram e tentar compreender e contemplar a simplicidade em que Jesus veio ao mundo através de uma apresentação do presépio, reunindo suas famílias e comunidade para chamar a atenção para o simples da vida e para rezar diante do Presépio.  O mais importante de toda a nossa vivência e convivência, e que realmente não esqueceremos e será o nosso maior tesouro, foram os momentos que passamos juntos, catequistas, catequizandos e suas famílias! Vivemos o verdadeiro Natal e que deve ser celebrado todos os dias, enfatiza Vanessa da Silva Ribeiro de Oliveira

“Como catequista, acho necessário apresentar para as crianças, de forma lúdica que, com o Advento, iniciamos um novo tempo litúrgico. Assim, mostro a diferença entre o ano litúrgico e o ano civil. Então elas começam a entender que o Advento é um tempo de preparação para o Natal de Jesus, tempo de vigília e oração. Desta forma, começam a entender o significado do presépio com os personagens nele representados. Marion Barreto Ribeiro, Catequista da Paróquia São João Batista de Campos dos Goytacazes.

Crianças da Catequese da Paróquia São João Batista (Foto: Arhyadniz Goulart de Ávila)

A Catequista. Marion Barreto Ribeiro chama atenção para através do presépio inserir as crianças na vivência do tempo do Advento já preparando para celebrar o Natal com gestos concretos de solidariedade e de partilha e de empatia com aqueles que precisam de ter neste tempo um pouco de alegria.

Catequista (Foto: Arhyadniz Goulart de Ávila)

O presépio nos ajuda na espiritualidade do Natal. Proponho algumas ações a serem realizadas durante as quatro semanas do Advento, como: fazer alguém sorrir, distribuir brinquedos que já não usam, fazer uma pequena penitência, etc. Nesta tarefa, procuro envolver a família, pontua Marion Barreto Ribeiro,

Foto: Arhyadniz Goulart de Ávila

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

NAZARENO: Na coletoria de impostos (a vocação de Mateus e dos apóstolos) - (18)

Nazareno (Vatican Media)

Cap. 18 - Na coletoria de impostos (a vocação de Mateus e dos apóstolos)

Após a cura do paralítico, Jesus desaparece por dois dias. Ele se refugia para rezar não muito longe de Cafarnaum, saindo de casa à noite para evitar as multidões. Ele passa, como já havia feito antes, em frente à coletoria de impostos. No lugar mais odiado pelos israelitas, símbolo do poder dos ocupantes, estão as insígnias de Roma, dois soldados de guarda e os cobradores de impostos. Jesus havia notado um deles, um jovem robusto, hábil e rápido em contar dinheiro. Mas seus olhos nunca haviam encontrado o olhar do Nazareno. Jesus olha para ele e o chama, enquanto ele se inclina para contar moedas, e diz: "Siga-me". Ele, Mateus, obedece, para espanto de Pedro e André. No almoço em sua casa, havia publicanos, fariseus e escribas que murmuravam contra o fato de Jesus comer com pecadores. "Não são os sãos", respondeu o nazareno, "que precisam de médico, mas os doentes; eu não vim chamar os justos, mas os pecadores, para que se convertam". Certa noite, Jesus se afastou do grupo de discípulos para se retirar e rezar e, quando amanheceu, chamou-os para junto de si, escolhendo 12, aos quais deu o nome de apóstolos: Simão, a quem chamou Pedro, André, seu irmão, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé; Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelota; Judas, filho de Tiago; e Judas Iscariotes.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2023/11/24/13/137488439_F137488439.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Por que deveríamos nos inspirar no exemplo de São João da Cruz?

São João da Cruz | Finoskov-(CC BY 4.0)

Por Philip Kosloski - publicado em 14/12/23

Embora não possamos ascender às mesmas alturas que São João da Cruz nas nossas vidas, certamente podemos partilhar as mesmas lutas que ele teve e aprender com o seu exemplo de abertura ao amor de Deus.

São João da Cruz é um santo muito conhecido e tido como um profundo escritor místico que explorou as profundezas da teologia espiritual.

Às vezes, seus escritos podem ser difíceis de ler para o cristão moderno e sua vida pode parecer impossível de imitar.

No entanto, o Papa Bento XVI acreditava que São João da Cruz era para todos. Ele explicou seus pensamentos em uma audiência geral em 2011. Primeiro, ele fez uma pergunta:

“Caros irmãos e irmãs, no fim permanece esta pergunta: com a sua mística excelsa, com este árduo caminho rumo ao cimo da perfeição, este santo tem algo a dizer também a nós, ao cristão normal que vive nas circunstâncias desta vida de hoje, ou é um exemplo, um modelo apenas para poucas almas escolhidas que podem realmente empreender este caminho da purificação, da ascese mística?”

Uma vida difícil

Bento XVI responde então à sua pergunta, afirmando a relevância de São João da Cruz:

“Para encontrar a resposta, em primeiro lugar temos que ter presente que a vida de são João da Cruz não foi um «voar sobre as nuvens místicas», mas uma vida muito árdua, deveras prática e concreta, quer como reformador da ordem, onde encontrou muitas oposições, quer como superior provincial, quer ainda no cárcere dos seus irmãos de hábito, onde esteve exposto a insultos incríveis e a maus tratos físicos. Foi uma vida dura, mas precisamente nos meses passados na prisão, ele escreveu uma das suas obras mais bonitas. E assim podemos compreender que o caminho com Cristo, o andar com Cristo, «o Caminho», não é um peso acrescentado ao fardo já suficientemente grave da nossa vida, não é algo que tornaria ainda mais pesada esta carga, mas é algo totalmente diferente, é uma luz, uma força que nos ajuda a carregar este peso. Se um homem tem em si um grande amor, este amor quase lhe dá asas, e suporta mais facilmente todas as moléstias da vida, porque traz em si esta grande luce; esta é a fé: ser amado por Deus e deixar-se amar por Deus em Cristo Jesus. Este deixar-se amar é a luz que nos ajuda a carregar o fardo de todos os dias.

Além disso, Bento XVI explica que um elemento-chave da santidade de São João é uma “abertura” a Deus, uma virtude que todos podemos imitar:

“E a santidade não é uma obra nossa, muito difícil, mas é precisamente esta «abertura»: abrir as janelas da nossa alma, para que a luz de Deus possa entrar, não esquecer Deus, porque é precisamente na abertura à sua luz que se encontra a força, a alegria dos remidos. Oremos ao Senhor para que nos ajude a encontrar esta santidade, deixando-nos amar por Deus, que é a vocação de todos nós e a verdadeira redenção.”

Embora não possamos ascender às mesmas alturas que São João da Cruz nas nossas próprias vidas, certamente podemos partilhar as mesmas lutas que ele teve e aprender com o seu exemplo de abertura ao amor de Deus.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

O meu Natal em Belém

O cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão (30Giorni)

Arquivo 30Dias - 12/2004

O meu Natal em Belém

Artigo do cardeal Carlo Maria Martini para o jornal La Stampa, publicado em 29 de dezembro de 2004.

de Carlo Maria Martini

Ainda que, no calendário civil, o dia de Natal em Jerusalém seja um dia como outro qualquer (este ano cai no shabbat, ou seja, o dia de repouso semanal judaico, mas sem nenhuma referência à celebração cristã), muitos percebem que para os cristãos este é um dia de grande festa, e correm a cumprimentá-los quando os encontram. Dizem “hag sameah”, que é a expressão com que se costuma cumprimentar nas festas judaicas, e poderia ser traduzida assim: “A tua festa seja feliz, te traga alegria!”. Luminárias nas ruas, pensadas para os turistas (nesses casos, o consumismo também ajuda um pouco), lembram também que nestes dias existe algo especial para os cristãos. Aumenta o número de peregrinos (ainda que não como seria de se esperar) e, a partir da véspera de Natal, todos os católicos (os ortodoxos celebrarão o Natal na data em que celebraremos a Epifania) se apressam para ir a Belém. Todos esses sinais, mesmo que discretos, expressam que aqui o Natal é também um dia no qual ainda se espera algo belo e grande: um dom do alto, uma alegria inesperada, uma espiral de paz depois de tantos sofrimentos. Dessa forma, muitos não cristãos também captam alguma coisa do sentido dessa festa, que não é tanto a celebração de um aniversário (cerca de 2004 anos do nascimento de Jesus), mas a festa da esperança, do que se deseja e se espera, ou seja, a manifestação definitiva e última do reino de Deus, que para nós é o Senhor Jesus, manifestação que enxugará toda lágrima e fechará a estação de lutos dolorosos. Muitos católicos, na noite de Natal, participam da missa do patriarca latino em Belém. Ele sai à meia-noite da sacristia da igreja adjacente à Basílica da Natividade (onde os gregos ortodoxos fazem seus ofícios) com a imagem do menino Jesus nas mãos, para depô-la no centro do altar. Nós também introduzimos essa cerimônia em Milão, há alguns anos, para lembrar precisamente o que acontece em Jerusalém na noite santa. Mas faz alguns anos que não participo dessa missa, na qual a igreja fica apinhada de gente e não é fácil encontrar um momento ou um lugar de recolhimento. Prefiro celebrar na manhã de Natal, com alguns jovens estudantes do Pontifício Instituto Bíblico de Roma que frequentam a Universidade Hebraica de Jerusalém. Celebramos a missa na chamada gruta de São Jerônimo. Esse ambiente subterrâneo é adjacente à gruta da Natividade, na qual há também um grande vai-e-vem de pessoas que descem pelas escadas para passar em frente da estrela que indica o lugar tradicional do nascimento de Jesus. Nós, por nossa vez, ficamos no pequeno quarto escuro a poucos metros da gruta tradicional. Ele lembra os trinta anos que São Jerônimo passou aqui em Belém, no lugar do nascimento de Jesus. A figura de São Jerônimo me atrai e me comove. Esse estudioso inteligente e tenaz, cansado das ambições e das fofocas de Roma, quis retirar-se em Belém para rezar e estudar intensamente as Escrituras judaicas e cristãs, dedicando-se sobretudo ao trabalho de tradução das línguas originais para o latim. Um trabalho ingrato, num tempo em que poucos conheciam o hebraico e faltavam ferramentas de trabalho, como dicionários e gramáticas. A ele devemos a tradução da Bíblia latina, a dita “Vulgata”, que chegou até nós e foi declarada pelo Concílio de Trento, no século XVI, o texto autêntico da Igreja latina. Aqui, à sombra da gruta de Belém, Jerônimo passava as noites estudando as Escrituras e algumas vezes, como ele mesmo lembra, adormecia com a rosto caído sobre o texto que tinha à sua frente. Esse exemplo de fidelidade a Jesus, em sua humildade de Belém, e de fidelidade às Sagradas Escrituras do primeiro e do segundo Testamento me inspira profundamente.

 Como São Jerônimo, ainda que muito longe de sua santidade e de seu rigor ascético e científico, sinto como se estivesse aqui também, em Jerusalém, para adorar o Se­nhor nascido por nós e estudar as Escrituras do povo hebraico e da primitiva comunidade cristã. Gostaria, assim, de conhecer mais a fundo algo do mistério de Deus e do homem, que encontrei tanto em meu ministério como bispo. Nem aqui, portanto, os dias de Natal reservam experiências particularmente “místicas”. Trata-se, de certa forma, de uma comemoração como as outras, mas na qual tomamos consciência do pequeno fato ocorrido em Belém há dois mil anos que mudou a história do mundo. Essa história parece continuar ainda pelos trilhos antigos, mas nós, que abrimos os olhos com a graça do batismo, vemos que já nela operam, no tecido da história cotidiana, também neste país, aquela fé, aquela alegria, aquela capacidade de acolhida e de reconciliação e aquela paz que os anjos cantaram sobre a gruta de Belém. A partir deste lugar, eu gostaria de chegar a toda a humanidade, em particular àqueles cujas orações guiei durante vinte e três anos no Domo de Milão. Gostaria que chegasse a todos eles a mensagem que nasce desta gruta despojada: mesmo nas menores coisas do nosso dia, mesmo nas mais escondidas ou aparentemente insig­nificantes, mesmo nas coisas que nos fazem sofrer está presente o mistério de Deus que, com amor, volta-se para nós. Como todos os anos, retorno a esta missa na gruta com olhos um pouco novos. Até mesmo a visão da cidade de Belém, com sua desolação e seu abandono pela falta de peregrinos, nos dá a oportunidade de esperar que um dia tudo isso dê lugar à alegria, ao bem-estar e à paz.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF