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sábado, 16 de dezembro de 2023

Terço dos Homens cresce em um dos países mais secularizados do mundo

Ground Picture | Shutterstock

Por Francisco Vêneto - publicado em 07/08/23

Os membros da iniciativa têm o desejo de compartilhar publicamente a sua fé na misericórdia divina, manifestada por meio do santo rosário.

Aconteceu neste sábado, 5 de agosto, a primeira reunião do Terço dos Homens na cidade australiana de Adelaide. O encontro de oração foi realizado nos arredores da catedral de São Francisco Xavier, depois da celebração da Santa Missa.

A iniciativa chama especial atenção porque a Austrália é um dos países em mais acelerado processo de secularização no mundo. A conclusão vem do censo realizado em 2021 pelo Australian Bureau of Statistics, que apontou que, pela primeira vez, o número de cristãos ficou abaixo de 50% da população, enquanto o de australianos que se declaram sem religião aumentou 39%.

Sidney, a maior cidade do país, foi a pioneira no território australiano em contar com um grupo do Terço dos Homens. Os participantes da assim chamada Cruzada do Terço dos Homens de Sydney se reúnem todo primeiro sábado de cada mês para rezar pela intercessão da Santíssima Virgem Maria.

Ivica Kovac, responsável pela pastoral da Vida, Casamento e Família na arquidiocese de Sydney, os membros da iniciativa têm o desejo de compartilhar publicamente a sua fé na misericórdia divina, manifestada por meio do santo rosário. Ela declara que os participantes sabem que “existem milhares como eles” na cidade e no país e, portanto, esperam que o seu testemunho os incentive a também se engajarem na oração e na devoção mariana.

O Terço dos Homens também se expandiu de modo extraordinário no Brasil.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

NAZARENO: A Lei e o coração: uma nova lógica (Pai Nosso e outros ensinamentos) - (20)

Nazareno (Vatican Media)

Cap. 20 - A Lei e o coração: uma nova lógica (Pai Nosso e outros ensinamentos)

Depois daquela lista de bem-aventuranças que derrubou todos os critérios do mundo, Jesus explica que a reconciliação com os irmãos e irmãs é a condição para podermos nos aproximar de Deus. "Eu lhes digo: amem seus inimigos e rezem por aqueles que os perseguem...". Com sua mensagem, o Nazareno pede às pessoas, que vieram ouvi-lo, que passem da regra escrita para o coração, da norma para a consciência, da observância externa para a adesão interna a um bem maior. Um bem que ele os convida a fazer em segredo, porque o Pai, que vê em segredo, os recompensará. O mesmo critério é aplicado à oração; ele ensina a todos o "Pai Nosso". Suas palavras são um convite a ir ao essencial, a não julgar para não ser julgado, a não condenar para não ser condenado.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2023/12/07/13/137523143_F137523143.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Primeira Pregação do Advento 2023 do cardeal Raniero Cantalamessa (2/3)

1ª Pregação do Advento 2023 (Vatican News)

Primeira Pregação do Advento 2023 do cardeal Raniero Cantalamessa

"Jesus não espera que os pecadores mudem de vida para poder acolhê-los; mas os acolhe, e isso leva os pecadores a mudar de vida. Todos os quatro Evangelhos – Sinóticos e João – são unânimes nisso."

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap

“VOZ DE QUEM CLAMA NO DESERTO”

João Batista, o moralista e o profeta

Primeira Pregação do Advento de 2023

Na liturgia do Advento, nota-se uma progressão. Na primeira semana, a figura de destaque é o profeta Isaías, aquele que anuncia de longe a vinda do Salvador; no segundo e terceiro domingos, o guia é João Batista, o precursor; na quarta semana, a atenção se concentra toda em Maria. Este ano, tendo apenas duas meditações à disposição, pensei dedicá-las aos dois: ao Precursor e à Mãe. Nas iconóstases dos irmãos Ortodoxos, os dois estão um à direita e o outro à esquerda de Cristo e, frequentemente, são apresentados como dois “recepcionistas” dos lados da porta que introduz ao recinto sacro.

João Batista, “profeta e mais que profeta”

Passemos agora ao segundo papel, ou título, de João Batista. Ele – eu dizia – não é só um moralista e um pregador de penitência; é também e sobretudo um profeta: “E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo” (Lc 1,76). Jesus o define até mesmo “mais que um profeta” (Lc 7,26).

Em que sentido, poderíamos nos perguntar, João Batista é um profeta? Onde está a profecia no seu caso? Os profetas anunciavam uma salvação futura. Mas João Batista não anuncia uma salvação futura; ele aponta para alguém que está presente. Em que sentido, então, pode ser chamado de profeta? Isaías, Jeremias, Ezequiel, ajudavam o povo a superar e ultrapassar a barreira do tempo; João Battista ajuda o povo a ultrapassar a barreira, ainda mais espessa, das aparências contrárias. O Messias tão aguardado, aquele anunciado pelos profetas, prometido nos Salmos, seria, portanto, aquele homem de aparência tão humilde?

É fácil crer em algo grandioso, divino, quando nos projetamos em futuro indefinido – “naqueles dias”, “nos últimos dias”... –, em um quadro cósmico, com os céus que orvalham doçura e a terra que se abre para fazer brotar o Salvador. Mais difícil é quando se deve dizer: “Agora! Está aqui! É este!”. O homem é imediatamente tentado em dizer: “Isso é tudo? “De Nazaré – diziam – pode sair algo de bom?”. “Este, porém, sabemos de onde é”.

É o escândalo da humildade de Deus que se revela “sob aparências contrárias”, para confundir o orgulho e “a vontade de potência” dos homens. Acreditar que o homem que há pouco viram comer, talvez até bocejar ao despertar, é o Messias, o aguardado por todos; acreditar que chegamos ao porquê da história: isso requeria uma coragem profético maior do que a de Isaías. Trata-se de uma tarefa sobre-humana; compreende-se a grandeza do precursor e porque é definido “mais que um profeta”.

Todos os quatro Evangelhos põe em evidência a dúplice veste de João Batista, a de moralista e a de profeta. Mas, enquanto os Sinóticos insistem mais sobre a primeira, o Quarto Evangelho insiste mais sobre a segunda. João Batista é o homem do “Ei-lo!”. “Foi dele que eu disse... Eis o Cordeiro de Deus!” (Jo 1,15.29). Que arrepio deve ter corrido pelo corpo daqueles que, com estas palavras ou outras semelhantes, receberam por primeiro a revelação. Era como uma passagem de insígnias: passado e futuro, espera e cumprimento se tocavam.

O que João Batista nos ensina como profeta? Creio que ele nos tenha deixado de herança a sua tarefa profética. Ao dizer: “No meio de vós está quem vós não conheceis!” (Jo 1,26), inaugurou a nova profecia cristã que não consiste em anunciar uma salvação futura, mas em revelar uma presença escondida, a presença de Cristo no mundo e na história, em rasgar os véus dos olhos das pessoas, quase gritando, com as palavras de Isaías: “Ainda não percebeis?” (Is 43,19).

Jesus disse: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”. Ele está em meio a nós; está no mundo e o mundo, também hoje, após dois mil anos, não o reconhece. Há uma frase de Cristo que tem sempre inquietado os fiéis. “O Filho do homem, porém, encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18,8). Mas Jesus não fala aqui da sua vinda no fim do mundo. Nos chamados discursos escatológicos, frequentemente cruzam duas perspectivas: a da vinda final de Cristo e a da sua vinda como ressuscitado, glorificado e reivindicado pelo Pai, que Paulo define a sua vinda “com poder, segundo o Espírito de santidade” (Rm 1,4), em contraste com a vinda anterior “segundo a carne”. É se referindo a esta vinda segundo o Espírito, que Jesus pode dizer: “Não passará esta geração até que tudo isso aconteça” (Mt 24,34).

Por isso, aquela frase inquietante de Jesus não interpela os nossos descendentes, aqueles que viverão no momento do seu retorno final como juiz; interpela os nossos antepassados e interpela os nossos contemporâneos, incluindo nós. Apesar da sua ressurreição e dos prodígios que acompanharam o início da Igreja, Jesus encontrou fé entre os seus? Apesar de dois mil anos da sua presença no mundo e todas as confirmações da história, ainda encontra fé sobre a terra, especialmente entre os chamados “intelectuais”?

A tarefa profética da Igreja será a mesma de João Batista, até o fim do mundo: sacudir cada geração da sua terrível distração e cegueira que impede reconhecer e ver a luz do mundo. É esta a tarefa perene da evangelização. No tempo de João, o escândalo derivava do corpo físico de Jesus; da sua carne tão semelhante à nossa, exceto o pecado. Também hoje é o seu corpo, a sua carne a escandalizar: o seu corpo místico, a Igreja, tão semelhante ao resto da humanidade, não excluído nem mesmo o pecado. Como João Batista fez reconhecer Cristo sob a humildade da carne aos seus contemporâneos, assim é necessário hoje fazê-lo reconhecer na pobreza e na miséria da Igreja e da nossa própria vida.

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Tradução de Fr. Ricardo Farias, OFMCap.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Adelaide

Santa Adelaide (A12)

16 de dezembro

Santa Adelaide

Filha do rei da Borgonha, Adelaide nasceu em 931, e cedo casou com o rei Lotário II da Itália, ficando viúva três anos depois. O Duque Berengário de Ivreia, que desejava o reino de Lotário, a mandou prender. Com a ajuda de amigos, como o piedoso capelão Martinho, conseguiu fugir e pedir ajuda ao rei Otão I da Alemanha. Este se apaixonou por ela e, casados, assumiu ele o trono da Itália. Anos mais tarde, como recompensa por expulsar os invasores das terras pontifícias, Otão recebeu a coroa imperial que pertencera a Carlos Magno, dando origem ao Sacro Império Romano-Germânico, o qual duraria mais de oito séculos.

Falecido Otão I, Adelaide foi Regente até a maioridade do filho, Otão II, que em 971 se casou com a princesa grega Teofânia Escleraina. Esta era maldosa e ciumenta, e tanto perseguiu a Regente que Adelaide acabou exilada. Arrependido, o filho, após alguns anos, a trouxe de volta, havendo uma reconciliação; mas pouco depois o imperador morreu. Teofânia assumiu a regência, planejando a morte da sogra; mas, com apenas quatro semanas de governo, foi ela mesma assassinada. Novamente como Regente, agora do neto Otão III, Adelaide retomou suas obrigações políticas e religiosas.

Em todos os períodos em que teve obrigações de Estado, Adelaide agiu com humildade, caridade, justiça, solidariedade e piedade. Entendia que a prosperidade e felicidade de uma nação dependiam da bênção de Deus; por isso procurou que o povo vivesse no santo temor de Deus, empenhando-se para que fossem fielmente conservados os costumes e usos da vida cristã. Santo Odilão, abade de Cluny e seu biógrafo, dizia dela que o trono não a deixou orgulhosa, permanecendo imperturbavelmente humilde. “Humilde na prosperidade, era paciente e conformada na adversidade; sóbria e modesta no comer e vestir; constante na prática dos exercícios de piedade, penitência e caridade, era o modelo de uma perfeita cristã”.

Após a segunda viuvez, Adelaide dedicou-se cada vez mais ao auxílio da Igreja, ajudando os pobres e necessitados e fundando vários mosteiros. No de Selz, recolheu-se nos últimos anos de vida, falecendo em 16 de dezembro de 999.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Santa Adelaide é luminoso exemplo de esposa, mãe, viúva, governante, humildade, resignação, modéstia, fé. No horizonte da Cristandade, destaca-se como modelo de mulher, que sem perder nada da sua feminilidade cumpriu maravilhosamente todos os papéis que a vida lhe solicitou. Donde se vê claramente que as atribuições da mulher na sociedade não exigem de forma alguma que as mulheres se descaracterizem, tornando-se “competidoras” dos homens como querem muitos movimentos “feministas” atuais, incluindo a fácil e desastrosa negação da própria maternidade. A doutrina católica, que vem de Deus, sabe respeitar e valorizar perfeitamente as naturais condições do ser humano, sem violência ou agressões, sem jogar uns contra os outros, permitindo a cada qual se desenvolver como deve, para a sua própria felicidade, de acordo com a sabedoria do Criador para com as Suas criaturas.

Oração:

Deus de infinita misericórdia, dai-nos a graça de, por intercessão de Santa Adelaide, Vossa fiel seguidora, obtermos governantes que de fato se preocupem em buscar as Vossas bênçãos sobre o povo e a Nação, e famílias bem estruturadas no fundamento do matrimônio, edificado na grandeza que concedestes à maternidade e à estabilidade. Pelas mãos da Sagrada Família, Jesus, Maria e José. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

ANÁLISES: Dois povos, dois estados

Dois povos, dois estados (Odair Cunha - Brasil 247)

Arquivo 30Dias - 12/1998

Dois povos, dois estados

«Esta é a solução. Talvez alguém não reconheça, alguém não queira dizer. Mas é apenas uma questão de tempo." Shimon Peres fala.

Entrevista com Shimon Peres por Giovanni Cubeddu

De acordo com uma pesquisa oficial, no dia seguinte dos acordos de Wye Plantation, 75% dos israelenses tinham aprovado com sua própria confiança o pacto assinado pelo ex- Ministro Benjamin Netanyahu. Em certo sentido, encurralando-o, forçando a relutância natural do Likud e, mais geralmente, do direito israelita em benefício do processo de paz. Essa pesquisa também destacou o crescimento de um sentimento moderado, agora também testemunhado pelo nascimento de novas listas e novos candidatos que, tendo em conta as eleições marcadas para 17 de Maio de 1999, sim caracterizam como centristas, concorrentes tanto do Partido Trabalhista quanto do Likud.

A Shimon Peres, ex-primeiro-ministro e historiador Líder trabalhista (e após a morte de Rabin, o único porta-estandarte do sonho de uma “Novo Médio Oriente”) pedimos uma análise do momento político que Israel está vivendo.

«O que Netanyahu fez em Wye Plantation”, diz Peres, “é uma vitória de todos nós. O problema mais importante permanece em aberto: a solução para a paz permanente. O Likud perdeu o seu viés ideológico. Ele estava disposto devolver 13% da Cisjordânia, e isso é um compromisso territorial. Antes de Wye Plantation ele não voltaria nem mesmo um palmo. Tudo bem, bem-vindo ao clube! Os 75 por centenas de israelenses aprovam, e acredito que o Partido Trabalhista deveria colocar-se à frente da vontade nacional, na primeira fila ao serviço do País, e não aparecer ou ser alguém que queira fazer cálculos de papel. Seria um erro. Devemos olhar para a paz e à unidade como a dois fundamentos”. 

Você sabe que agora temos 13 governos na Europa “esquerda”, a última é justamente a italiana presidido pelo Honorável D'Alema...

Shimon Peres: …sim, você tem um comunista com a aprovação do Papa... 

…enquanto agora Israel parece estar se movendo em direção uma posição centrista. É mesmo? 

Peres: Centrista politicamente, mas não socialmente. Na Europa, após a criação do Mercado Comunidade Europeia e a União Europeia, foi A política europeia foi “economizada”. Agora acho que queremos isso em vez disso, “socializar” a economia. Esquerda e direita têm dois significados. Uma em termos políticos: diga guerra ou paz, faça concessões ou não. A outra é a distância entre um temperamento economia social ou gestão com critérios puros barato. A Europa escolheu o caminho social. Mas este é um questão econômica, não de política externa. Aqui, porém, avançamos para o centro simplesmente porque o Likud está a mover-se para o centrar-se em questões de paz. O que certamente não me arrependo. Pelo contrário, Acho que é um ótimo resultado e estou feliz com isso.

A mudança para o centro dos conservadores e do Likud um futuro político ou é de curta duração? 

Peres: O que os tem empurrados para Wye Plantation também os empurrarão para o futuro. eu não acho temos mais de uma solução: Israel deve decidir se quer ser um estado binacional ou ter dois estados com boas relações de vizinhança. PARA na minha opinião, a solução é ter dois estados. É apenas um questão de tempo. O Likud também chegará lá. Talvez possamos resolver isso mais um ano, talvez dois, mas certamente criaremos um estado Palestino, ah, sim! E em vez de dois povos no mesmo estado eles se odeiam e se matam, como no Kosovo, em Bósnia, dois estados melhores para viverem juntos. E então, que tipo de relacionamento deveria haver entre os dois estados? Sendo um rico e o outro pobre? Erro. Devemos também ajudar os pobres a enriquecerem. Esse é a solução. Talvez alguém não reconheça, alguém não reconheça Isso significa. Mas é apenas uma questão de tempo. 

Acredita verdadeiramente que a criação do Estado palestino a situação mudará e não, em vez disso, que as pessoas continuarão a odiando uns aos outros por trás de suas próprias fronteiras? 

Peres: Não. Você não pode ter o cem por cento de segurança se você não der cem por cento às pessoas da liberdade. Você não pode ter cem por cento de segurança se dar setenta por cento de liberdade. Hoje, Jordanianos e Palestinos eles são as mesmas pessoas. Porque confiamos nos Jordanianos e não nos Palestinos? Não são pessoas diferentes, têm status e situações diferentes. Então, vamos mudar a situação, vamos também dar liberdade aos palestinianos e independência, para que possamos viver juntos. Porque eu Os palestinos não estão interessados ​​no terror: Arafat teme o terror da mesma forma que Netanyahu. Porque terror significa que ele não ele é mais senhor em sua própria casa do que tem um exército dentro o exército, e que está contra ele. Assim, com Arafat temos o mesmo interesse. 

Será que Arafat será capaz de bloquear os extremistas do Hamas? 

Peres: Provavelmente sim, se lhes dermos mais oportunidades para o fazer. 

No acordo Wye Plantation, para garantir a obrigações relacionadas com a segurança, a CIA assume um papel incomum mediador entre as partes. Você concorda? 

Peres: Bem, eu teria consertado as coisas de forma diferente, mas tudo bem. 

Quanto ao status final de Jerusalém, o O "Ministro dos Negócios Estrangeiros" do Vaticano manifestou o desejo de que «as esperanças das comunidades de crentes, isto é, judeus, Cristãos e Muçulmanos, que eles estejam presentes nas mentes dos negociadores»…

Peres: Veja bem, nós negociamos com o Vaticano em questões religiosas, não em questões de política. O Vaticano não é um órgão político. Então se eles querem sentar para discutir ideias religiosas, ok, mas não aquelas políticas.

Na Terra Santa certamente não é fácil separar claramente essas duas realidades…

Peres: Não é Assim. Podemos dividir a Terra Santa numa situação política e em outro religioso. Penso que a questão de Jerusalém é politicamente fechado e religiosamente aberto. São duas coisas diferentes. 

Então você não ajudaria o Vaticano a estar presente de alguma forma para as negociações? 

Peres: Não para as negociações políticas. 

Para os religiosos? 

Peres: Sim, claro sempre discutimos. Sim.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa Francisco reitera que não pretende renunciar

Antoine Mekary | ALETEIA

Por Francisco Vêneto - publicado em 14/12/23

No entanto, ele não descarta a eventualidade de uma renúncia se for necessário, a exemplo do Papa Bento.

Em entrevista à emissora mexicana N+, conduzida pela veterana vaticanista Valentina Alazraki, o Papa Francisco, prestes a completar 87 anos de idade neste próximo 17 de dezembro, reafirmou que não pretende renunciar ao pontificado, muito embora considere a renúncia uma possibilidade válida e já normalizada desde que foi posta em prática pelo seu predecessor, o saudoso Papa Bento XVI.

Francisco declarou que não descarta a eventualidade de precisar renunciar, a exemplo do Papa Bento, mas, no momento, não considera que seja necessário.

Aliás, caso chegue a hora de fazê-lo, não deverá ser uma surpresa: numa entrevista anterior, concedida no ano passado à rede espanhola ABC, o papa argentino contou que, desde o início do seu pontificado, deixou pronta, como é de praxe, uma carta de renúncia em caso de impedimento médico. Essa carta foi confiada aos cuidados do então cardeal Tarcisio Bertone, então Secretário de Estado do Vaticano. O papa comentou a respeito:

“Vi a coragem de Bento quando percebeu que não conseguia. Preferiu dizer basta. E isso é bom para mim como exemplo e peço ao Senhor que, num determinado momento, eu possa dizer basta, mas quando Ele quiser”.

Francisco reconheceu, mais uma vez, que a idade avançada lhe acarreta dificuldades naturais. Ele já foi operado duas vezes nos últimos dois anos e, recentemente, sofreu um quadro de bronquite. No entanto, declara sentir-se “melhor”, ainda que completando:

“Preciso que rezem pela minha saúde”.

Mentalmente muito ativo, o papa acrescenta ter o desejo de viajar à Bélgica em 2024 e recorda que também considera “pendentes” as visitas apostólicas à Polinésia e à sua Argentina natal.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

NAZARENO: Um mundo diverso (as Bem-Aventuranças) - (19)

Nazareno (Vatican Media)

Cap. 19 - Um mundo diverso (as Bem-Aventuranças)

É de manhã e o sol já está brilhando alto, iluminando as águas calmas do Mar da Galileia. Há uma impressionante extensão de pessoas esperando por Jesus, seus rostos falam. No silêncio, o Mestre começa a gritar várias vezes: "Bem-aventurado... bem-aventurados... bem-aventurado". Aqueles que estão mais distantes, às margens, só conseguem entender essa palavra, mas compreendem que ele está falando de uma felicidade para eles. Ele está falando dos pobres, dos puros de coração, dos mansos. Ouvindo-o, está uma mulher repudiada pelo marido depois de engravidar dele. Seu nome é Rebeca. Ela ainda é bonita, apesar de sua vida difícil. Ela mantém os olhos baixos de vergonha. Seu filho Yeoshua, antes que ela pudesse segurá-lo, correu para se aproximar do Nazareno. O pequeno ficou com apenas algumas palavras de Jesus. "Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados". "No choro...", como sua mãe. O pequenino dá um pulo e corre até ela. 'Mãe, a senhora também é abençoada, pois chora...' Ele disse isso! Ele disse que você será consolada!" 'Não há nada realmente errado comigo', pensa Rebecca. "Não sou amaldiçoada...", ela repete, erguendo os olhos para contemplar o Mestre que continuava a falar. Ele também estava falando para ela, precisamente para ela.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2023/12/01/11/137507005_F137507005.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Primeira Pregação do Advento 2023 do cardeal Raniero Cantalamessa (1/3)

1ª Pregação do Advento 2023 (Vatican News)

Primeira Pregação do Advento 2023 do cardeal Raniero Cantalamessa

"Jesus não espera que os pecadores mudem de vida para poder acolhê-los; mas os acolhe, e isso leva os pecadores a mudar de vida. Todos os quatro Evangelhos – Sinóticos e João – são unânimes nisso."

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap

“VOZ DE QUEM CLAMA NO DESERTO”

João Batista, o moralista e o profeta

Primeira Pregação do Advento de 2023

Na liturgia do Advento, nota-se uma progressão. Na primeira semana, a figura de destaque é o profeta Isaías, aquele que anuncia de longe a vinda do Salvador; no segundo e terceiro domingos, o guia é João Batista, o precursor; na quarta semana, a atenção se concentra toda em Maria. Este ano, tendo apenas duas meditações à disposição, pensei dedicá-las aos dois: ao Precursor e à Mãe. Nas iconóstases dos irmãos Ortodoxos, os dois estão um à direita e o outro à esquerda de Cristo e, frequentemente, são apresentados como dois “recepcionistas” dos lados da porta que introduz ao recinto sacro.

João Batista, pregador de conversão

Nos Evangelhos, o Precursor nos aparece em dois papéis diversos: o de pregador de conversão e o de profeta. Dedico a primeira parte da reflexão a João moralista, a segunda, a João profeta.

Alguns versículos do Evangelho de Lucas são suficientes para nos dar uma ideia da pregação do Batista:

João dizia às multidões que chegavam a ele para serem batizadas: “Crias de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para chegar? Produzi, pois, frutos dignos de vosso arrependimento... As multidões lhe perguntavam: “Que devemos fazer?”. João respondia: “Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem, e quem tiver comida, faça o mesmo!” Alguns publicanos vieram para o Batismo e perguntaram: “Mestre, que devemos fazer?”. Ele respondeu: “Não cobreis além do que foi estabelecido”. Alguns soldados também lhe perguntaram: “E nós, que devemos fazer?”. João respondeu: “Não maltrateis a ninguém, nem tomeis dinheiro à força e contentai-vos com o vosso soldo” (Lc 3,7-14).

O Evangelho permite ver o que distingue, neste ponto, a pregação do Batista daquela de Jesus. O salto de qualidade é expressado do modo mais claro pelo próprio Jesus:

A Lei e os Profetas vigoraram até João! A partir de então, o Reino de Deus é anunciado; e cada um se esforce para entrar nele (Lc 16,16).

Devemos tomar cuidado com contraposições simplicistas entre Lei e Evangelho. Logo após a afirmação acima citada, Jesus (ou, mais provavelmente, o próprio evangelista) acrescenta: “Ora, é mais fácil passar o céu e a terra do que cair uma só vírgula da Lei” (Lc 16,17). O Evangelho não abole a lei, isto é, concretamente, os mandamentos de Deus; mas inaugura uma relação nova e diversa com eles, um modo novo de observá-los.

O que é novo é a ordem entre o mandamento e o dom, isto é, entre a lei e a graça. À base da pregação do Batista está a afirmação: “Convertei-vos e o reino de Deus virá a vós!”; à base da pregação de Jesus está afirmação: “Convertei-vos, pois o reino de Deus veio a vós!” (recordemos a afirmação de Jesus acima citada: “A Lei e os Profetas vigoraram até João! A partir de então, o Reino de Deus é anunciado; e cada um se esforce para entrar nele”).

Não é uma diferença apenas cronológica, como entre um antes e um depois; trata-se de uma diferença também axiológica, isto é, de valor. Quer dizer que não é a observância dos mandamentos que permite ao reino de Deus vir; mas é a vinda do reino de Deus que permite a observância dos mandamentos. Os homens não mudaram improvisamente e se tornaram melhores, de modo que o Reino pôde vir sobre a terra. Não, eles são os de sempre, mas foi Deus quem, na plenitude dos tempos, enviou o seu Filho, dando-lhes assim a possibilidade de mudar e viver uma vida nova.

“Pois a Lei foi dada por meio de Moisés; a graça [de observá-la, entende-se] e a verdade vieram por Jesus Cristo”, escreve o evangelista João (Jo 1,17). Amar a Deus com todo o coração é “o primeiro e maior mandamento”; mas a ordem dos mandamentos não é a primeira ordem, ou o primeiro nível: acima dele, está a ordem do dom: “Nós amamos, porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19).

É interessante ver como esta novidade de Cristo se reflete na atitude diversa do Batista e de Jesus em relação aos chamados “pecadores”. João, nós ouvimos, aborda os pecadores que vão até ele com palavras de fogo. É Jesus mesmo que faz notar a diferença, neste ponto, entre ele e o Precursor: “Veio João, que não come nem bebe e dizem: ‘Tem um demônio’. Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘É um comilão e beberrão, amigo de publicanos e de pecadores” (Mt 11,18-19; cf. Lc 7,34). “Por que vosso mestre come com os publicanos e pecadores?”, diziam os fariseus aos seus discípulos (Mt 9,11).

Jesus não espera que os pecadores mudem de vida para poder acolhê-los; mas os acolhe, e isso leva os pecadores a mudar de vida. Todos os quatro Evangelhos – Sinóticos e João – são unânimes nisso. Jesus não espera que a Samaritana ponha em ordem a sua vida privada, antes de entreter-se com ela e até mesmo lhe pedir para lhe dar de beber. Mas assim fazendo, mudou o coração daquela mulher, que se torna uma evangelizadora em meio ao seu povo. O mesmo acontece com Zaqueu, com o publicano Mateus, com a pecadora anônima que lhe beija os pés na casa de Simão e com a adúltera.

Não podemos tirar uma norma absoluta a partir desses exemplos (Jesus era Jesus e lia nos corações; nós não somos Jesus!). a Igreja não pode prescindir, contudo, do seu estilo, sem nos encontrar ao lado de João Batista, ao invés do de Cristo. Jesus reprova o pecado infinitamente mais do que possam fazê-lo os mais rígidos moralistas, mas propôs no Evangelho um novo remédio: não o afastamento, mas a acolhida. A mudança de vida não é a condição para nos aproximar de Jesus nos Evangelhos; contudo, deve ser o resultado (ou ao menos o propósito) depois de termos nos aproximado dele. A misericórdia de Deus, de fato, é incondicional, mas não é sem consequências!

Sobre este ponto, a Santa Mãe Igreja tem muito que aprender das mães e dos pais de família de hoje. Todos nós conhecemos os dramas que dilaceram tantos pais de hoje: filhos que, apesar do seu bom exemplo de vida cristã e de seus bons conselhos, tomam um caminho diferente do deles, destruindo a si mesmos com as drogas, abuso do sexo, escolhas precipitadas que se revelam equivocadas e frequentemente trágicas...

Será que, por isso, eles lhes fecham a porta à face e os expulsa de casa? Não podem fazer nada a não ser respeitar sua escolha, como a respeita Deus antes deles, e continuar a amá-los. Esta situação dramática da sociedade se reflete naquela da Igreja. Somos chamados a escolher entre o modelo de João Batista e o modelo de Jesus, entre o dar a preeminência à lei, ou dá-la à graça e à misericórdia.

Há um ponto sobre o qual não se há de escolher, porque João e Jesus estão completamente de acordo. Sobre ele também nós deveríamos levantar a voz, sem deixar que seja apenas o papa a fazê-lo. Trata-se daquele que João exprime com as palavras: “Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem, e quem tiver comida, faça o mesmo” (Lc 3,11) e que Jesus inculca com a parábola do rico epulão e com a descrição do juízo final em Mateus 25.

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Tradução de Fr. Ricardo Farias, OFMCap.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Cristiana ou Nina

Santa Cristiana (arquisp)

15 de dezembro

Santa Cristiana ou Nina

No século IV, vivia, nas terras pagãs entre o mar Negro e o mar Cáspio, hoje território da Geórgia, uma jovem escrava cristã chamada Nina ou Nuné. Era o tempo do imperador Constantino e ela havia nascido na Capadócia, atual Turquia, e fora aprisionada por ocasião da invasão dos bárbaros aos confins orientais do Império Romano. Nina era uma escrava que demonstrava toda sua fé em Cristo, na alegria com que enfrentava as dificuldades e os sofrimentos.

Esse fato chamou a atenção dos pagãos com quem convivia. Assim, teve a oportunidade de ensinar a palavra de Cristo a todos os que a cercavam. Tornou-se tão conhecida que passaram a chamá-la de "Cristiana", a serva cristã.

A antiga tradição russa narra que, certa vez, uma senhora procurou-a, pedindo que solicitasse a intervenção de Deus para que seu filho, gravemente enfermo, não morresse. Nina se ajoelhou aos pés da cama onde estava a criança e rezou com tanto fervor que o menino abriu os olhos, sorriu e levantou-se na frente de todos. Foi o bastante para que toda a região mostrasse interesse pela religião da serva de Cristo. Quanto mais prodígios ela promovia, mais catequizava e convertia os pagãos.

Até que, um dia, a rainha desse povo, chamada Nana, adoeceu gravemente e nenhum remédio conseguia fazê-la melhorar. Tentaram de tudo. Nada parecia possível. Então, alguém se lembrou dos chamados "poderes" da serva cristã. Como último recurso, foram sugeridos à rainha, que mandou chamá-la. Assim, essa humilde escrava foi ao palácio atender a rainha, levando consigo apenas a certeza de sua fé e a confiança de suas orações. Logo conseguiu curar a soberana.

Enquanto ela se recuperava, seu marido, o rei Mirian, certo dia, saiu em comitiva para uma caçada. Mas o grupo acabou isolado no bosque devido a uma violentíssima tempestade. A situação era crítica, com trovões e raios incendiando árvores, pedras rolando ao vento e atingindo pessoas. O pavor tomou conta de todos, clamaram por seus deuses, mas nada acontecia. Lembrando-se da rainha, o rei decidiu rezar para o Deus de Cristiana. Uma luz, então, foi vista saindo do céu, a tempestade cessou e todos puderam regressar sãos e salvos à Corte. Nesse instante, o rei sentiu a fé invadir seu coração.

Ao voltar, procurou a escrava Nina e lhe pediu que falasse tudo o que sabia sobre sua religião. Acabou catequizado e convertido. Entretanto os reis Mirian e Nana não podiam ser batizados, pois na Corte não havia nenhum bispo. Seguindo a orientação de Cristiana, o rei enviou esse pedido ao imperador Constantino. Nesse meio tempo, mandou construir a primeira igreja cristã, de acordo com uma planta feita sob orientação de Nina, já liberta. Quando chegou o primeiro bispo da Geórgia acompanhado de um grupo de sacerdotes missionários, encontraram o povo já abraçando a doutrina de santa Nina, como os fiéis a chamavam por força de sua piedade e prodígios de fé. Com facilidade, converteram a nação inteira, a partir da grande solenidade do batismo do casal real.

Depois, junto com o bispo, o rei Mirian e a rainha Nana construíram o Mosteiro Samtavro, anexo àquela igreja, onde mais tarde foram sepultados. Nele também viveu alguns anos santa Nina, que morreu no ano 330.

Venerada pelos fiéis como padroeira da Geórgia, suas relíquias estão guardadas na Catedral da Metiskreta, antiga capital do país. Seu culto foi confirmado, sendo realizado, no Oriente, em 14 de janeiro, enquanto a Igreja de Roma a comemora no dia 15 de dezembro.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Uma joia românica entre as montanhas

A igreja de São Bento vista da igreja de São Pedro, aos pés do monte Civate (30Giorni)

Arquivo 30Dias - 12/2003

Uma joia românica entre as montanhas

São legendárias as origens da igreja de São Pedro da Montanha, em Civate, no norte da Itália. Mais que os documentos, neste caso são as pedras e afrescos que falam. É o caso da imagem dos anjos que, guiados por Miguel, lutam contra o imenso dragão vermelho que queria se apossar do filho recém-nascido da mulher vestida de sol, como se lê no capítulo 12 do Apocalipse.

de Giuseppe Frangi

O que aquelas duas joias da arquitetura românica fazem lá em cima, sozinhas, no côncavo aos pés do monte Pedale, sobre a planície lombarda e o lago de Anone? Parece estranho, mas nem os historiadores nem os críticos de arte conseguiram responder a essa questão. Ainda hoje, para chegar às duas igrejas, São Pedro e São Bento, a 660 metros de altura, é preciso caminhar mais de uma hora, saindo da pequena cidade de Civate, da qual o santuário tomou o nome. Um esforço amplamente recompensado pelo espetáculo que se tem quando se tornam visíveis as duas igrejas, cuidadosamente dispostas em meio ao verde das pradarias.

Mas quem e por qual motivo decidiu construí-las num lugar tão isolado? A lenda conta que o rei lombardo Desidério quis erguê-las em agradecimento por um voto respondido: seu filho Adelque, condenado por sacrilégio por ter matado um javali que se refugiara sob o altar, fora punido com a cegueira. O pai implorou a graça e, em sonho, foi-lhe anunciado que seu filho recuperaria a visão se ele construísse uma igreja naquele lugar. E assim se deu, como conta, num latim já vulgarizado, a Chronica mediolanensis, um manuscrito conservado na Biblioteca Nacional de Paris. O manuscrito acrescenta um pormenor interessante: Desidério teria também pedido relíquias ao papa Adriano, para que fossem conservadas na igreja que estava construindo. Obteve nada menos que uma relíquia de São Pedro, além de outra, do papa Marcelo (e a lenda confere, pois o papa Marcelo é representado no afresco do século XII, logo na entrada da igreja). Um documento de 845 é o primeiro atestado histórico da existência da igreja de São Pedro. Dizem que ali vivia uma comunidade de 35 monges, obedientes à regra beneditina: uma comunidade de tamanho razoável, que vivia num edifício que hoje não existe mais. A notícia seguinte, do ano de 859 ou até mais antiga, diz que o arcebispo de Milão Angiberto II, o mesmo que encomendara o célebre altar de ouro para a Basílica Ambrosiana, mandou transportar de Albenga a Civate três relíquias de São Calógeras, um mártir que viveu, ao que parece, no século I. A ele é dedicada uma outra igreja antiga, com um mosteiro anexo, na zona urbana do município de Civate.

Mas a data mais importante, que marca as fisionomias das igrejas de São Pedro e São Bento, talvez seja 1097. Em setembro daquele ano morreu o arcebispo de Milão Arnolfo III, sendo sepultado justamente em Civate: fora eleito à cátedra milanesa em 1093, em circunstâncias pouco claras, tanto que sua nomeação inicialmente foi invalidada pelo pontífice Urbano II. Arnolfo, à espera da ratificação, retirou-se em oração a São Pedro da Montanha, em Civate, onde permaneceu por dois anos, até que chegasse a confirmação de Roma. Esses episódios atestam o apego do bispo à antiga sede monástica e confirmam as hipóteses apresentadas pelos críticos de que seja exatamente esse o período dos grandes trabalhos de ornamentação de São Pedro.

O altar afrescado na abside pequena da igreja de São Bento (30Giorni)

De fato, mais que os documentos, quem fala em Civate são as pedras e, sobretudo, os afrescos e as decorações. Como já dissemos, são duas igrejas. A primeira, pouco abaixo da segunda, é dedicada a São Bento. Tem planta central, o que levou a pensar que fosse um batistério: na realidade, nunca exerceu essa função, já que jamais se encontraram a fonte e os canais de escoamento de água. Seja como for, dentro dela há um primeiro aperitivo do que nos espera, logo acima, em São Pedro. O altar, na absidíola de frente para quem entra, conserva afrescos em três de seus lados. Destaca-se em particular, no lado direito, um São Bento de braços abertos. Num dos braços, o santo segura a pastoral; no outro, o livro com a “legenda” da imagem: “Ego sum Benedictus abas”.

Saindo da igreja e olhando para cima, somos acolhidos pela majestosa escadaria de 23 degraus talhados de maneira bastante grosseira que sobe para São Pedro. Aqui nos espera a primeira surpresa: a fachada de São Pedro é convexa, parece, ou melhor, é uma abside, semelhante à da igreja de Passagem de São Pedro, em Pisa, no lugar onde a tradição diz que São Pedro teria desembarcado. Além disso, em torno da abside corre um pórtico que se abre para o vale com suas elegantes bíforas. As razões dessa fascinante mas estranha fachada-abside estão ligadas àquele ano de 1097 e à história do arcebispo Arnolfo III. Teria sido ele quem modificou a igreja, invertendo sua orientação e levando o altar para a montanha. A velha abside se tornou, assim, a nova fachada, e a cripta, por baixo dela, mantendo a orientação originária, aparece hoje virada para a planta da igreja.

Teria sido o mesmo Arnolfo III a convidar as extraordinárias corporações de artistas que afrescaram e decoraram a igreja? A datação proposta, já há cinqüenta anos, pelo maior estudioso da Idade Média lombarda, Pietro Toesca, baseada no confronto de estilos, coincide com a que é sugerida pela história de Arnolfo III. Estamos no início do século XI, anos ainda dominados pelas escolas bizantinas. Um grande mestre certamente terá subido a Civate, entre outros artistas. A ele é atribuída a grande cena pintada na luneta à entrada, que ilustra o início do capítulo 12 do Apocalipse.

Mas, antes de chegar a esse ponto-chave, o fiel é chamado a um breve percurso que começa com o afresco em cima da porta de entrada, onde Cristo entrega as chaves e o livro a Pedro e Paulo, apóstolos de mãos veladas. Uma vez dentro da igreja, vê-se, na primeira abóbada, a representação da Jerusalém celeste, descrita como uma cidade luxuosa, fechada por 12 portões nos quais aparecem 12 anjos e os nomes das 12 tribos de Israel e dos 12 apóstolos. No centro, Cristo segura nas mãos um livro no qual se pode ler em letras claras o convite: “Qui sitit veniat”, venha quem tem sede. É uma referência ao rio que vai da montanha aos pés do Salvador, derrama-se em quatro cursos d’água e conflui para os quatro gomos da abóbada seguinte (onde cada um dos rios recebe um nome), indicando o fato de que os Evangelhos são pregados em todos os cantos da terra, como recuperou recentemente Lorenzo Cappelletti em seu livro dedicado aos afrescos da cripta de Anagni, bastante próximos, do ponto de vista temático e talvez até cronológico, dos afrescos de Civate. “Nos corações de pedra dos gentios, Deus abriu os rios da pregação. [...] O que ouvimos ser prometido vemos agora cumprido”: são palavra de Gregório Magno, que descrevem perfeitamente o itinerário ilustrado aqui. Será um acaso que o próprio papa Gregório, ao lado do papa Marcelo, tenha sido pintado numa das duas paredes estreitas da porta de entrada, em gesto de acolhida dos fiéis? “Venite filii audite me, timorem Domini docebo vos” (Vinde, filhos, ouvi-me, eu vos ensinarei o temor do Senhor), diz o primeiro; “Accedite filii et inluminamini” (Entrai, filhos, e sereis iluminados), diz o segundo.

Algumas imagens da igreja de São Pedro (30Giorni)

Depois de passar sob essas pequenas abóbadas baixas do átrio interno, chega-se à grande nave de São Pedro, com mais de 20 metros de comprimento. É então que, se nos voltarmos para trás, veremos na parede ao fundo o grande afresco do Apocalipse. Num esplendor de cores que o clima seco do monte Pedale preservou até nós, é contada a luta dos anjos, guiados por Miguel, contra o imenso dragão que queria apossar-se do filho recém-nascido da mulher “vestida de sol”, como se lê no capítulo 12 do Apocalipse. O cortejo de anjos armados com lanças finas, com seu andar dançante e auréolas verdes, vermelhas e azuis, acaba derrotando o dragão, “e não se encontrou mais um lugar para ele no céu. Foi expulso” (Ap 12,8-9). É impossível não ficar atônito diante da elegância e da perfeita harmonia dessa composição, que sintetiza o complexo relato do Apocalipse numa única cena, conservando uma extraordinária unidade de conjunto. Parece “pular” sem esforço os mil anos de história que nos separam dela, para falar com uma linguagem visual ainda direta e fascinante.

A última jóia conservada pela igreja de São Pedro é a luminosa capela do cibório, decorada com baixos-relevos semelhantes aos da basílica de Santo Ambrósio, em Milão, mais conhecidos. No lado que fica de frente para a entrada, destaca-se um Cristo crucificado. O Senhor tem um olhar cheio de ternura, como se quisesse dizer que seus braços estão abertos para acolher os homens. Embaixo, Maria e São João se voltam para ele, como se fossem impelidos por um desejo ardente. “Mors superat mortem”, diz uma das escritas ao fundo dessa cena. No lado direito da capela do cibório, na belíssima Ressurreição, vê-se o anjo que se senta imponente sobre o sepulcro vazio, com as asas desdobradas, quase num ímpeto de felicidade. O artista segue o que diz o Evangelho de Marcos e descreve Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago, que vieram para ungir com óleos o corpo do Senhor: esta última, surpreendida, deixa escapar das mãos o vaso dos unguentos, que quica no vazio, destacado no fundo branco. Com as escritas vistosas, que sublinham os nomes de todos os protagonistas, parece que vemos uma história em quadrinhos da antiguidade. Nela, nada é banal: cada quadro é para todos e está ao alcance de todos.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF