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quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Hoje é celebrado são Domingos de Silos, abade destemido

São Domingos de Silos (ACI Digital)

Por Redação central

20 de dez de 2023

Hoje (20) é celebrado são Domingos de Silos, abade de origem espanhola, pertencente à Ordem de São Bento.

Domingos nasceu em Cañas, La Rioja, Espanha, por volta do ano 1000. Entrou como monge no mosteiro beneditino de San Millán de la Cogolla, onde fez grandes progressos na vida espiritual.

São Domingos é reconhecido pelo dom da sabedoria, que usou para estudar lucidamente a Sagrada Escritura.

Ele se tornou prior do mosteiro de San Millán. O amor que professava pelo seu mosteiro não era segredo para quem o conhecia. Por isso, uma das primeiras coisas que ordenou como autoridade foi a restauração do prédio que abrigava os monges que estava há muitos anos com problemas na construção. Domingos conseguiu restaurá-lo em dois anos.

A história narra que o prior teve de enfrentar o próprio rei de Navarra, que uma vez apareceu às portas do mosteiro para exigir a entrega dos ornamentos litúrgicos -cálices e cibórios- e tudo o que havia de valor, com a intenção de financiar as despesas de sua próxima campanha militar.

São Domingos de Silos não hesitou em negar ao rei o que ele pedia: "Você pode matar o corpo e a carne, você pode fazer as pessoas sofrerem, mas não tem poder sobre a alma. O evangelho me diz isso, e devo crer no que ele diz “que só devo temer àquele que pode lançar a alma no inferno”.

O rei de Navarra, cheio de indignação, expulsou o abade Domingos. Ao saber do sucedido, o rei Fernando I de Castela mandou chamá-lo para lhe confiar o mosteiro de Silos, situado num local recôndito, quase em ruínas e considerado “estéril” pela ausência de vocações.

Domingos foi encarregado de devolver àquele mosteiro o prestígio espiritual que havia perdido e aos monges a alegria de viver para Deus. O santo revelou-se um magnífico administrador e restaurador.

Silos tornou-se um mosteiro exemplar, no qual se cultivaram as artes e os saberes; um centro espiritual que renovou e fortaleceu a vida dos beneditinos e da Igreja. Ali se formou uma grande biblioteca, que contribuiu para o enriquecimento do monacato e da cultura espanhola.

Deus é quem liberta

São Domingos de Silos também participou da libertação de numerosos prisioneiros cristãos dos mouros. Ele conseguiu libertar mais de 300 deles. Naquela época, aqueles que eram feitos prisioneiros pelos muçulmanos costumavam ser tratados como escravos. Por isso, na arte, Domingos costuma ser representado acompanhado de homens acorrentados.

São Domingos de Silos morreu em 20 de dezembro de 1073 e seus restos mortais estão preservados no famoso mosteiro que leva seu nome.

Reze a são Domingos!

Segundo uma antiga tradição, noventa e seis anos após a morte de são Domingos de Silos, ele apareceu em sonho à mãe do futuro fundador da Ordem dos Pregadores: são Domingos de Guzmán. O monge beneditino anunciou à mulher que ela teria um filho que se tornaria um grande apóstolo.

Por isso aquela criança recebeu o nome de "Domingos", em homenagem ao santo de Silos. Por isso, muitas mães espanholas se confiam até hoje ao santo, para pedir que seus filhos nasçam saudáveis ​​e tenham uma vida santa quando crescerem.

Fonte: https://www.acidigital.com/

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Um coração de pastor que nunca fecha a porta

Mãos juntas (Vatican Media)

A Declaração que abre a possibilidade de simples bênçãos para casais irregulares, a atitude de Jesus e o Magistério de Francisco.

ANDREA TORNIELLI

"Nemo venit nisi tractus", ninguém se aproxima de Jesus se não for atraído, escreveu Santo Agostinho parafraseando as palavras do Nazareno: "Ninguém vem a mim se meu Pai não o atrai". Na origem da atração por Jesus - aquela atração de que falava Bento XVI, lembrando o modo como a fé se difunde - está sempre a ação da graça. Deus sempre nos precede, nos chama, nos atrai, nos faz dar um passo em direção a Ele ou, pelo menos, acende em nós o desejo de dar esse passo, mesmo que ainda pareçamos não ter forças e nos sintamos paralisados.

O coração de um pastor não pode ficar indiferente às pessoas que se aproximam dele pedindo humildemente para serem abençoadas, seja qual for sua condição, sua história, sua trajetória de vida. O coração do pastor não apaga o brilho ardente daqueles que sentem sua própria incompletude, sabendo que precisam de misericórdia e ajuda do Alto. O coração do pastor vislumbra nesse pedido de bênção uma brecha no muro, uma pequena fenda pela qual a graça já poderia estar agindo. Assim, sua primeira preocupação não é fechar a pequena fenda, mas acolher e implorar bênçãos e misericórdia para que as pessoas à sua frente possam começar a entender o plano de Deus para suas vidas.

Essa consciência básica transparece na "Fiducia supplicans", a Declaração do Dicastério para a Doutrina da Fé sobre o significado das bênçãos, que abre a possibilidade de abençoar casais irregulares, até mesmo casais do mesmo sexo, esclarecendo claramente que a bênção, nesse caso, não significa aprovar suas escolhas de vida, e também reiterando a necessidade de evitar qualquer ritualização ou outros elementos que possam, mesmo que remotamente, imitar um casamento. É um documento que aprofunda a doutrina sobre as bênçãos, distinguindo entre aquelas que são rituais e litúrgicas e aquelas que são espontâneas, que se caracterizam mais como atos de devoção ligados à piedade popular. É um texto que concretiza, dez anos depois, as palavras escritas pelo Papa Francisco na "Evangelii gaudium": "A Igreja não é uma alfândega, é a casa paterna onde há lugar para cada pessoa com sua própria vida fadigosa".

A origem da Declaração é evangélica. Em quase todas as páginas do Evangelho, Jesus quebra as tradições e prescrições religiosas, conformismos e as convenções sociais. E ele faz gestos que escandalizam os bem-pensantes, os autodenominados "puros", aqueles que se fazem escudo de normas e regras para afastar, rejeitar, fechar portas. Quase em todas as páginas do Evangelho, vemos os doutores da lei tentando colocar o Mestre em xeque com perguntas tendenciosas, apenas para murmurar indignados diante de sua liberdade transbordante de misericórdia: "Ele acolhe os pecadores e come com eles!"

Jesus estava pronto para correr até a casa do centurião de Cafarnaum para curar seu amado servo, sem a preocupação de se contaminar ao entrar na casa de um pagão. Ele permitiu que a pecadora lhe lavasse os pés diante dos olhares de julgamento e desprezo dos convidados, incapazes de entender por que Ele não a rejeitou. Ele observou e chamou o publicano Zaqueu enquanto ele se agarrava aos galhos do sicômoro, sem esperar que ele se convertesse e mudasse de vida antes de receber aquele olhar misericordioso.

Ele não condenou a adúltera que estava sujeita a ser apedrejada de acordo com a lei, mas desarmou as mãos de seus carrascos recordando-lhes que eles também - como todo mundo - eram pecadores. Ele disse que tinha vindo para os doentes e não para os saudáveis, e se comparou à figura singular de um pastor disposto a deixar 99 ovelhas sem vigilância para ir em busca daquela que havia se perdido. Ele tocou o leproso, curando-o de sua doença e do estigma de ser um pária "intocável". Esses "rejeitados" encontraram seu olhar e se sentiram amados, destinatários de um abraço de misericórdia dado a eles sem nenhuma condição prévia. Ao se descobrirem amados e perdoados, eles perceberam o que eram: pobres pecadores como todo mundo, necessitados de conversão, mendicantes de tudo.

O Papa Francisco disse aos novos cardeais em fevereiro de 2015: “Para Jesus, o que conta acima de tudo é alcançar e salvar os distantes, curar as feridas dos doentes, reintegrar todos na família de Deus. E isso escandaliza alguns! E Jesus não tem medo desse tipo de escândalo! Ele não pensa em pessoas fechadas que se escandalizam até mesmo com uma cura, que se escandalizam com qualquer abertura, com qualquer passo que não se encaixe em seus esquemas mentais e espirituais, com qualquer carícia ou ternura que não corresponda aos seus hábitos de pensamento e à sua pureza ritualística".

A "perene doutrina católica sobre o matrimônio", ressalta a Declaração, não muda: somente no contexto do casamento entre um homem e uma mulher é que "as relações sexuais encontram seu significado natural, adequado e plenamente humano". Portanto, é preciso evitar reconhecer como matrimônio "aquilo que não é". Mas, em uma perspectiva pastoral e missionária, agora não é hora de fechar a porta para um casal "irregular" que venha pedir uma simples bênção, talvez em uma visita a um santuário ou durante uma peregrinação. O estudioso judeu Claude Montefiore identificou o diferencial do cristianismo exatamente nisso: 'Enquanto outras religiões descrevem o homem buscando Deus, o cristianismo proclama um Deus que busca o homem.... Jesus ensinou que Deus não espera pelo arrependimento do pecador, ele vai à sua procura para chamá-lo para si". A porta aberta de uma oração e uma pequena bênção podem ser um começo, uma oportunidade, uma ajuda.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A beleza epifânica de um beijo de Deus

Iuliia Pilipeichenko | Shutterstock

Por Joseph Pearce - publicado em 18/12/23

Às vezes, recebemos muito mais do que merecemos.

Há muitos anos, quando vivia no interior da Inglaterra, experimentei um nascer do sol muito especial, que me pareceu ser um beijo de Deus. Estávamos no meio do verão. Nessa época do ano, na Inglaterra, o sol nasce antes das 5h da manhã e começa a clarear algum tempo antes.

Eu não consegui dormir. A manhã estava apenas começando a surgir. A escuridão deu lugar ao crepúsculo. Decidi levantar-me e cumprimentar o amanhecer. 

A casa em que eu morava ficava voltada para os campos. Nem os pássaros ainda tinham se levantado e o coro da madrugada ainda estava para começar. O silêncio aquietou a alma. Nada se agitava, exceto a brisa mais suave cantando suavemente na grama. 

À medida que o crepúsculo se transformava na primeira sugestão de luz do dia, olhei para o céu. As poucas nuvens agrupadas no cinza carregado de escuridão da noite tornaram-se rosadas. Era como se o próprio céu estivesse cheio de brasas. 

Então, o sol nasceu acima do horizonte. Era um disco de neve pura. Isso me fez lembrar da elevação da hóstia na Santa Missa. Cristo estava ressuscitando com o dia. A ressurreição da luz. Olhei em adoração, não para o sol em si, mas para o Filho que nos dá o sol. 

Enquanto eu olhava para o esplendor nevado a olho nu, o disco ficou vermelho e o céu sangrou vermelho em toda a extensão panorâmica dos céus. O Corpo de Cristo foi unido ao Sangue de Cristo! E então o sol ficou dourado e tive que desviar o olhar de sua glória ofuscante. Como se fosse uma deixa, os pássaros começaram a cantar seu coro matinal em louvor ao dia recém-nascido e era possível imaginar os anjos cantando com eles.

Parecia haver apenas uma maneira de agradecer a Deus por esse beijo epifânico de beleza. Destilando a memória ainda fresca em versos, escrevi um poema em agradecimento à glória do presente milagroso que recebi. O poema não é digno de tal bênção, nem eu. Recebemos muito mais do que merecemos. Deus seja louvado!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

É esta a festa que agrada a Deus? Que Natal gostaria Ele?

A Manjedoura (Conceitos)

PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL

Sala Paulo VI
Quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

[Multimídia]


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Em seis dias será Natal. Árvores, enfeites e luzes por toda parte nos lembram que este ano também será de festa. A máquina publicitária convida você a sempre trocar novos presentes para se surpreender. Mas, eu me pergunto, será este o feriado que agrada a Deus? Que Natal você gostaria, que presentes e que surpresas?

Vamos observar o primeiro Natal da história para descobrir os sabores de Deus. Aquele primeiro Natal da história foi cheio de surpresas. Começamos com Maria, que era a esposa prometida de José: o anjo chega e muda a sua vida. De virgem ela será mãe. Continuamos com José, chamado a ser pai de um filho sem gerá-lo. Um filho que – golpe de efeito – chega no momento menos adequado, ou seja, quando Maria e José estavam noivos e, segundo a Lei, não podiam coabitar. Diante do escândalo, o bom senso da época convidou José a repudiar Maria e assim salvar sua boa reputação, mas ele, mesmo que tivesse o direito, surpreende: para não prejudicar Maria planeja demiti-la secretamente, ao custo de perder sua reputação. Depois, outra surpresa: Deus em sonho muda seus planos e pede que leve Maria consigo. Assim que Jesus nasceu, quando ele tinha seus planos para a família, novamente em sonho lhe disseram para se levantar e ir para o Egito. Em suma, o Natal traz mudanças inesperadas na vida. E se quisermos viver o Natal, temos que abrir o coração e estar preparados para as surpresas, ou seja, para uma mudança inesperada na vida.

Mas quando a maior surpresa chega é na véspera de Natal: o Todo-Poderoso é uma criança. A Palavra divina é uma criança, que significa literalmente “incapaz de falar”. E a palavra divina ficou incapaz de falar. Para receber o Salvador não existem as autoridades da época, nem do lugar, nem os embaixadores: não, são simples pastores que, surpreendidos pelos anjos enquanto trabalhavam à noite, vêm sem demora. Quem teria esperado isso? Natal é celebrar o inédito de Deus, ou melhor, é celebrar um Deus inédito, o que muda nossa lógica e nossas expectativas.

Celebrar o Natal é acolher as surpresas do Céu na Terra. Você não pode viver “terra, terra”, quando o Céu traz suas novidades ao mundo. O Natal inaugura uma nova era, onde a vida não é planeada, mas sim doada; onde já não vivemos para nós mesmos, segundo os nossos gostos, mas para Deus e com Deus, porque desde o Natal Deus é o Deus conosco, que vive conosco, que caminha conosco. Viver o Natal é deixar-se abalar pela sua surpreendente novidade. O Natal de Jesus não oferece o calor seguro da lareira, mas o frio divino que sacode a história. O Natal é a vingança da humildade sobre a arrogância, da simplicidade sobre a abundância, do silêncio sobre o tumulto, da oração sobre o “meu tempo”, de Deus sobre o meu “eu”.

Celebrar o Natal é fazer como Jesus, que veio por nós, os necessitados, e desceu para com aqueles que precisam de nós. É fazer como Maria: confiar, dócil a Deus, mesmo sem entender o que Ele fará. Celebrar o Natal é fazer como José: levantar-se para fazer o que Deus quer, mesmo que isso não esteja de acordo com os nossos planos. São José surpreende: ele nunca fala no Evangelho: não há uma única palavra de José no Evangelho; e o Senhor fala com ele em silêncio, fala com ele precisamente em sonhos. Natal é preferir a voz silenciosa de Deus ao rugido do consumismo. Se soubermos calar-nos diante do presépio, o Natal será uma surpresa para nós, não algo que já tenhamos visto. Ficar em silêncio diante do presépio: este é o convite para o Natal. Pare um pouco, fique em frente ao presépio e fique em silêncio. E você sentirá, verá a surpresa.

Infelizmente, porém, podemos escolher a parte errada e preferir as coisas comuns da terra às novidades do Céu. Se o Natal for apenas um feriado à moda antiga, onde nós e não Ele estamos no centro, será uma oportunidade perdida. Por favor, não vamos mundanizar o Natal! Não deixemos de lado o Célebre, como então, quando “veio entre os seus, e os seus não o receberam” (Jn 1, 11). Desde o primeiro Evangelho do Advento, o Senhor colocou-nos em guarda, pedindo-nos que não nos sobrecarregássemos com “devassidão” e “cuidados da vida” (Lc 21,34). Durante estes dias as pessoas correm, talvez como nunca antes durante o ano. Mas isto é o oposto do que Jesus quer. Culpamos as muitas coisas que preenchem os dias, o mundo que passa rápido. E, no entanto, Jesus não culpou o mundo, pediu-nos que não nos deixássemos levar, que estivéssemos sempre vigilantes orando (cf. v. 36).

Será Natal se, como José, dermos espaço ao silêncio; Se, como Maria, dissermos a Deus “aqui estou”; sim, como Jesus, estaremos perto de quem está sozinho, sim, como os pastores, deixaremos o nosso recinto para estar com Jesus. Será Natal, se encontrarmos a luz na pobre gruta de Belém. Não será Natal se procurarmos o brilho do mundo, se nos enchermos de presentes, almoços e jantares, mas não o fazemos ajude pelo menos um pobre, que se pareça com Deus, porque no Natal Deus veio pobre.

Queridos irmãos e irmãs, desejo-vos um Feliz Natal, um Natal rico nas surpresas de Jesus! Podem parecer surpresas incômodas, mas são os prazeres de Deus. Se os tornarmos nossos, teremos uma surpresa maravilhosa. Cada um de nós esconde no coração a capacidade de ser surpreendido. Deixemo-nos surpreender por Jesus neste Natal.


Saudações:

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua espanhola provenientes de Espanha e da América Latina. Pedimos à Virgem Maria que nos ajude a contemplar silenciosamente o mistério do nascimento do seu Filho, para que façamos do seu exemplo de humildade, pobreza e amor uma realidade nas nossas vidas. Desejo-lhe um feliz natal. Muito obrigado.


Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, 19 de dezembro de 2018

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Dom Murilo Krieger: Os Presépios, 800 anos de História

Presépio de Natal - Praça São Pedro (Vatican Media)

A partir do exemplo de São Francisco de Assis, somos convidados a montar um presépio em nossa casa. Ajudaremos assim crianças, jovens e adultos a compreender melhor o presente que o Pai nos dá no Natal: Seu Filho Jesus.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj - Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia

Na noite de 24 de dezembro de 1223 – portanto, há oitocentos anos -, na cidade de Greccio – Itália, nascia a tradição de se fazer presépios. Por trás dessa iniciativa estava Francisco de Assis, que queria representar a cena do nascimento de Jesus em Belém, para que todos pudessem compreender melhor a grandiosidade daquele acontecimento que, aparentemente, é tão simples: uma criança que nasce em uma gruta.

O local escolhido para a apresentação da cena do nascimento de Jesus foi uma gruta no alto de um monte, onde um cardeal celebrou a santa Missa. Francisco, que dava uma grande importância ao Natal, falou, então, aos fiéis sobre Jesus, o Emanuel, o Deus-conosco. Ele queria que o povo, diante do presépio, experimentasse de maneira concreta, viva e atual, a humilde grandeza do nascimento do Menino Jesus. A partir daí, o presépio se popularizou na Europa e rapidamente foi levado para os demais continentes. Isso fez com que o povo de Deus passasse a acolher mais facilmente a mensagem do Natal e, com nova intensidade, amasse e adorasse a humanidade de Cristo. Até as pessoas mais simples começaram a compreender que no Natal Deus nos mostra quanto está próximo de nós, tão próximo que podemos tratá-lo com simplicidade, tendo com ele um relacionamento afetuoso, como fazemos com um recém-nascido que pegamos nos braços.

Com a popularização do Natal, a fé cristã passou a ser vista sob uma nova dimensão. A Páscoa havia chamado a atenção de todos para a força de Deus que vence a morte e inaugura uma vida nova. Já a festa do Natal coloca em evidência que o nascimento de Cristo é a vitória da verdadeira luz sobre as trevas, a vitória do amor sobre o pecado. São Francisco, com o seu presépio, colocou em destaque o delicado amor de Deus, sua humildade e benignidade, que na encarnação do Verbo se manifesta aos homens para ensinar-nos um novo modo de viver e amar.

Um famoso biógrafo de São Francisco, Celano, conta que naquela noite de Natal, em Greccio, foi concedida a Francisco a graça de uma visão maravilhosa. Ele viu deitado, imóvel, na manjedoura, uma pequena criança, que se acordou quando Francisco se aproximou do presépio.  “Essa visão correspondia aos fatos porque, por obra da graça divina que agia por meio de seu santo servo Francisco, o Menino Jesus ressuscitou no coração de muitos que o haviam esquecido e ficou impresso profundamente em sua memória amorosa”.

Com a representação do presépio, o santo de Assis ajudou crianças e adultos a compreenderem melhor o anúncio do profeta Isaías: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz... Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho” (Is 9,1.5)Receber Jesus como criança, como Menino, nos ajuda a compreender as palavras de Jesus: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos Céus” (Mt 18,3).

Hoje, não importa de que maneira são feitos, os presépios têm as mesmas características: em seu centro está Jesus. Todas as figuras estão voltadas para ele. Maria está a seu lado; José o protege. Os pastores o visitam e se mostram surpresos com o que veem; os Magos do Oriente trazem seus presentes ao Menino que os levou a fazer uma longa viagem. Jesus, recém-nascido, nada diz. Sua presença, contudo, é um forte grito de amor.

A partir do exemplo de São Francisco de Assis, somos convidados a montar um presépio em nossa casa. Ajudaremos assim crianças, jovens e adultos a compreender melhor o presente que o Pai nos dá no Natal:  Seu Filho Jesus. E, diante do presépio, saibamos nos dirigir à Criança de Belém com uma prece, que pode ser assim:

Aqui estamos para te adorar, Menino Jesus! Ficamos sem palavras diante da grandeza e da simplicidade do teu amor! Tu és o Emanuel, o Deus conosco. Vieste até nós para nos comprovar o quanto tu nos amas. És pobre, és frágil, és pequeno. És divino, és grandioso, és o Príncipe da paz! Tu nos ofereces o perdão, a amizade com o Pai do céu, a vida da graça. Por isso, aqui estamos para colocar sob os teus pés e em teu coração a nossa vida e tudo o que somos e temos. Nós te trazemos muitos irmãos e irmãs que sofrem e que não te amam porque não te conhecem. Já que vieste também para eles, toca seus corações, Jesus. Dá-lhes a graça de descobrirem o quanto tu amas cada pessoa, com um amor sem limites. Queremos que todos te conhecem e te sigam, e possam, um dia, realizar aquilo para o que todos nós fomos criados: adorar a Santíssima Trindade sempre, eternamente.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Urbano V

Santo Urbano V (A12)

19 de dezembro

Santo Urbano V

Guilherme Grinoald, francês, de família nobre, formado em Direito, professor, estudioso renomado e monge e depois abade beneditino, desempenhava delicadas missões diplomáticas para o Papa Inocêncio IV, quando por sua morte foi eleito Papa em 1362, mesmo não fazendo parte do Colégio Cardinalício. Assumiu com o nome de Urbano V, numa época conturbada para a Igreja, cuja sede havia sido exilada de Roma para Avignon na França, por causa de intrigas e perseguições políticas.

Em apenas oito anos de papado, desenvolveu enorme atividade. Pastoralmente, reformou a disciplina eclesiástica, reorganizou a corte pontifícia acabando com abusos e reduzindo a burocracia; instituiu norma de residência para os pastores da Igreja, foi severo com os simoníacos, elegeu pessoas dignas e competentes para os cargos eclesiásticos; opôs-se com energia contra o poder temporal nas atividades da Igreja. Para o povo promoveu o desenvolvimento cultural, criando centros de estudo e valorizando a Ciência, ajudando pessoalmente estudantes necessitados. (Nas universidades, exigiu roupa igual para os estudantes, a fim de se poupar humilhação aos pobres). Preocupou-se com atividades missionárias em regiões carentes de evangelização, como a Bulgária, a Romênia e os mongóis na Ásia. E de novo levou a sede papal para Roma em 1367, embora três anos mais tarde voltasse desgostoso a Avignon, por conta de novas intrigas políticas. Aí faleceu em 19 de dezembro de 1370.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A Igreja sempre valorizou e desenvolveu a Fé, a Ciência, a Cultura, ordenadas na honestidade e competência, e apoiando-se mutuamente, pois todas são dádivas do próprio Deus. Mesmo em tempos de crise, como prova o frutuoso pontificado de São Urbano V. As desordens deste mundo não são motivo para desespero ou inatividade, mas circunstâncias que o Pai permite para que os Seus filhos mais se empenhem e humildemente reconheçam a necessidade do Seu auxílio, em todas as atividades: “...sem Mim, nada podeis fazer”, afirmou Jesus (Jo 15,5).

Oração:

Deus Pai de infinita sabedoria, que desejais para os Vossos filhos não as trevas da ignorância, mas a luz do verdadeiro conhecimento, concedei-nos pela intercessão de São Urbano V, exemplo de estudo e caridade, a diligência na nossa formação espiritual e cultural, necessária para enfrentar os desafios do nosso tempo, e sobretudo na ciência plena da caridade, no amor à Igreja e ao próximo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O Noivado e a Igreja

O Noivado e a Igreja (Cléofas)

O Noivado e a Igreja

 POR PROF. FELIPE AQUINO

O noivado é um belo tempo que antecede o casamento; é quando o casal já decidiu que vai se casar, e estão na preparação imediata para o matrimônio.

É o tempo em que tudo deve ser dialogado, tudo deve ser revelado, o mistério insondável que é cada um deve ser revelado ao outro, para que este não se case com um “desconhecido”.

Infelizmente muitos casais se casam sem se conhecer; alguns colocam máscaras durante o namoro e noivado, e depois se estranham quando casados, achando que o outro mudou muito. Não mudou, é o mesmo, mas apenas não era conhecido pelo cônjuge.

Só se deve ficar noivo quando se decidiu que vão se casar; não há mais dúvida; se amam de verdade, se conhecem, sabem os defeitos e as qualidades recíprocas e estão dispostos a viverem juntos para sempre, unidos no amor de Deus, prontos para “fazer o outro crescer a cada dia”, amando-o, perdoando-o, compreendendo-o; e dispostos a “acolher os filhos que Deus lhes enviar”, educando-os na fé do Cristo e da Igreja. O casamento é para sempre; até que a morte os separe; precisam estar convictos do juramento que vão em breve fazer no Altar de Deus: “Eu te recebo como meu marido (mulher) e te prometo ser-lhe fiel na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te e respeitando-te TODOS OS DIAS de minha vida”. Estão preparados?

Não se pode casar “no escuro”; e não se pode enganar-se, fingindo que não vê os problemas que estão pela frente. Se o casal não tem convicção de que estão preparados e maduros para o casamento, então, talvez seja melhor adiar o noivado. E devem saber os jovens cristãos, que o noivado não é ainda uma autorização para a vida sexual; não. Ela só deve começar depois do casamento, pois eles ainda não pertencem mutuamente. São Paulo disse: “O marido cumpra o seu dever para com a sua esposa e da mesma forma também a esposa o cumpra para com o marido. A mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence ao seu marido. E da mesma forma o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence à sua esposa” (1Cor 7, 3-4). O Apóstolo não fala em namorados e noivos, mas marido e mulher. E o Catecismo da Igreja ensina: “2350 – Os noivos são convidados a viver a castidade na continência. Nessa provação eles verão uma descoberta do respeito mútuo, uma aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem ambos da parte de Deus. Reservarão para o tempo do casamento as manifestações de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na caridade”. Assim, vivam o noivado como Deus quer e a Igreja ensina, serão felizes.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

Reflexões sobre a usura

Raffaele Armando Califano Mundo, Monte di pieta, obra de data incerta preservada no Município de Nápoles (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 12/1999

Reflexões sobre a usura

Três histórias retiradas do jornal O vagabundo. As razões pelas quais recorremos à agiotagem são diferentes, mas as consequências são sempre as mesmas.

Três histórias retiradas do jornal O vagabundo

Eu sou tão lindo jornal que é O vagabundo você pode ler considerações muito detalhadas sobre o flagelo da usura, que espalha os seus tentáculos mesmo entre muitos pobre.

O serviço, intitulado "Er cravattaro tra i vagabundos", é apresentado da seguinte forma:
«Uma das causas pelas quais um indivíduo 'normal' vira completamente a vida de uma pessoa de cabeça para baixo até que foi forçado a privar-se de tudo, até da própria vida, é desgaste.
As razões pelas quais recorremos à usura, no entanto conhecendo os perigos, eles são diferentes, mas as consequências são quase sempre o mesmo.

Estes são os testemunhos de três de nós colaboradores que, direta ou indiretamente, tenham conhecido este Experiência horrível.

Aqui estão os três testemunhos.

Guido“Um conhecido meu – vou ligar para ele Andrea – foi reduzida à pobreza pelos agiotas. Lá Sua história não difere das muitas que agora são lidas periodicamente nos jornais. Andrea, há cerca de quatro anos, iniciou um pequeno negócio comércio, mas as coisas não tinham ido bem e ele logo se viu em sérias dificuldades. Não vou me preocupar aqui em contar a você tudo sobre ele dificuldades; Só vou te dizer isso – como você já deve ter entendido – acabou nas mãos de agiotas sem escrúpulos que o possuem literalmente estrangulados com o exagero de seus pedidos. As ameaças constantes também o forçaram a ceder o pouco que lhe restava e então ele acabou no meio do estrada para vagar de um centro de assistência para outro. Foi precisamente num destes centros que Eu o conheci e ele me confidenciou suas desventuras. Quando eu os tiver perguntei por que ele não havia denunciado seus perseguidores, ele me disse explicou que ele havia sido contido pelo medo de retaliação: por este preferiu escolher o que em última análise lhe parecia ser o Mal menor. Infelizmente, quando ele tomou conhecimento de sua existência de um “fundo anti-usura” que possa ser utilizado em caso de necessário, já era tarde demais." 

Silvana“Quando ouço o nome dos chamados 'cravattari' o sangue ferve em minhas veias, porque eu me deparei com isso e é algo que eu não desejaria nem no meu pior inimigo. Foi há muito tempo, na estreia comunhão de um dos meus filhos. Então havia dinheiro em casa poucos e, por outro lado, por orgulho, não queríamos pedir ajuda a nossos parentes. Preferimos, portanto, contactar, através um… 'amigo', para uma empresa que emprestou dinheiro, mesmo que o interesse nos parecesse excessivo. Nós concordamos em um empréstimo de 200 mil liras, das quais recebemos apenas 180 mil. A restituição deveria ocorrer com o pagamento de 25 mil liras a cada 15 dias porque meu sócio, Vittorio, era pago por quinzena.

Terminamos de devolver todas as 200 mil liras convencidos de que havíamos quitado totalmente nossa dívida, mas estávamos errados grande. Na verdade, já se passaram 15 dias desde o último pagamento, esses os abutres voltaram para exigir mais interesse e sim ele repetiu depois de mais 15 dias. Nesse ponto, Vittorio recusou continuar pagando uma dívida que já havíamos quitado tempo. Quando fui para a escola no sábado seguinte para pegar meus filhos Descobri que faltava um e havia uma carta deixada em seu lugar com o qual foi solicitado o pagamento de 50 mil liras e fomos convidados a não mencione isso a ninguém, caso contrário nunca mais o veríamos nosso bebê.

O que devemos fazer? Claro que há medo forçado a ceder à chantagem. Pagamos um preço bem acima disso acima de nossas possibilidades, mas a vida do nosso filho valeu a pena muito mais". 

Rosina: “Também tenho uma amiga que viveu esta trágica experiência de usura e, com o seu consentimento... Falarei sobre a triste odisseia que virou sua vida de cabeça para baixo. Sua época uma família feliz; ela tinha três lindos filhos e um marido que, junto com o irmão, dirigia uma carpintaria que permitia lhes um certo conforto. Isso foi até seis anos atrás, quando, de repente, dentro de três meses, seu marido morreu causa de um tumor. Deixada sozinha com seus três filhos que ainda eram adolescentes, sim ela tomou coragem e assumiu o negócio do marido. Mas ele não contava com o cunhado – um contador da pequena empresa – que, na primeira oportunidade, desapareceu com todo o dinheiro em mãos, deixando-a num mar de dívidas. Então, pela enésima vez, é replicou o drama da usura que, como sempre, tem um final família ficou falida. Depois que ela acabou dormindo com os filhos no estação, ela finalmente conseguiu entrar em uma residência no Município, onde ainda reside.

Mas a vida mudou completamente. Ela tem doença cardíaca e mal consegue carregar bebês você trabalha com alguma família; os filhos, já crescidos, procuram trabalho... mas eles oram a Deus para não encontrá-lo. Essa pobre mulher realmente não aguenta mais". Todos nos perguntamos: “Quando poderemos acabar com o massacre dos agiotas?”.

Fonte: https://www.30giorni.it/

EDITORIAL: A start-up que transforma moradores de rua em jardineiros

A start-up que transforma moradores de rua em jardineiros (Vatican Media)

Foi criada por Lorenzo Di Ciaccio, engenheiro de computação que deixou seu emprego em uma grande empresa e, com o dinheiro de seu fundo de garantia, fundou a 'Ridaje': empresa que ajuda pessoas necessitadas a cuidarem de si mesmas através da recuperação das áreas verdes abandonadas de Roma. "Ninguém se salva sozinho, a nossa missão é salvar e mudar o mundo, um jardim de cada vez."

https://youtu.be/RmzA2CeRCI4

Cecilia Seppia – Vatican News

"Daje!", é uma expressão romana que se usa para dar confiança, incentivar alguém, dar força, animá-lo a não desistir, mas também para expressar exultação diante do gol de seu time favorito ou para compartilhar o sucesso de um amigo. "Ridaje" é um tipo de reforçativo, um "daje duplo", bem como o nome da start-up de Lorenzo Di Ciaccio, que oferece uma segunda vida, uma chance de redenção para os muitos, muitos sem-teto que vivem pelas ruas da cidade eterna. Com 38 anos, engenheiro de computação, nascido em Gaeta, há cerca de dez anos Lorenzo decidiu deixar seu emprego estável e bem remunerado para se dedicar à solução de um problema social que a Igreja e as organizações eclesiais de caridade sempre têm que enfrentar.

Mas antes da Ridaje, Lorenzo usou o dinheiro do fundo de garantia para criar a Pedius e se aproximou do empreendedorismo social, por meio da informática. Ele conta: “Vendo TV, ouvi a história de Gabriele, um menino surdo que, depois de um acidente, não conseguiu fazer uma ligação telefônica para uma ambulância. Isso me impressionou muito e comecei a pensar em uma solução, daí a ideia de um software que permitisse que pessoas com deficiência auditiva fizessem ligações telefônicas, e não apenas em casos de emergência. Eu não conhecia ninguém com esse problema. Gabriele se tornou meu primeiro amigo surdo". A Pedius chegou a 14 países em todo o mundo, levantou capital, tem um faturamento de 700 mil euros e entre seus clientes estão grandes empresas, como o Banco da Itália, a Telecom e a Enel. Mas Lorenzo não está satisfeito e volta à questão dos sem-teto. "Durante 12 anos", afirma, "em meio a mil atividades e compromissos, também consegui ser voluntário na Cáritas. Minha tarefa era abrir e fechar um dos muitos Centros de Emergência para o Frio que permanecem em funcionamento na capital do Natal à Páscoa.

Sair das ruas, formar, integrar, dar novamente dignidade por meio do trabalho, cuidar: os objetivos da Ridaje (Vatican Media)

Trabalho social é business

De ano para ano, percebia que, os que batiam à porta desses abrigos administrados pela Cáritas, eram sempre os mesmos rostos, as mesmas pessoas, só que mais abatidas, envelhecidas, assustadas, doentes. “Perguntei-me: 'mas então uma cama e uma refeição quente não os tira das ruas? O que posso fazer com relação a esse drama que afeta todas as grandes cidades do mundo? Nesse meio tempo, levei a história da Pedius às universidades e, em um desses encontros com estudantes da Universidade Luiss, conheci o pesquisador Luca Mongelli, que estava fazendo uma pesquisa sobre a capacitação de pessoas marginalizadas, em particular prisioneiros, tentando identificar formas de integração social e trabalhista depois de cumprirem suas penas".

A start-up que transforma moradores de rua em jardineiros (Vatican Media)

Lorenzo e Luca iniciaram uma colaboração, criando um modelo de negócio, a partir de um outro flagelo que assola Roma: as áreas verdes, os parques, as grandes moradias abandonadas e sujas. "Dissemos a nós mesmos: se as empresas e os cidadãos estiverem dispostos a parar de reclamar da degradação e pagar algo para ver a cidade mais limpa, podemos encontrar um caminho". A ideia agradou. Funciona. E, mais uma vez, ela traz à tona uma verdade que perpassa toda a Laudato si' e as histórias que contamos até agora: cuide do meio ambiente e o meio ambiente cuidará de você. Os dois fazem acordos com empresas, indivíduos e lojas. "Com muita frequência, temos a tendência em criar uma distinção clara entre o que é lucrativo e o que não é, como se o lucro fosse um mal”, diz Lorenzo, “na realidade, o que queremos mostrar com a Ridaje é que o trabalho social é business e que, em um mercado capitalista, é possível dar espaço ao homem, simplesmente colocando-o de volta no centro, como explica o Papa Francisco". O estudo também mostra que das 70 mil pessoas sem-teto da Itália, 80% vivem nas grandes cidades e mais de 20% nas ruas de Roma, que também é a cidade com o maior número de áreas verdes da Europa e com menos de 200 jardineiros profissionais para cuidar dessas áreas.

Um dos jardineiros trabalhando em uma área de Roma a ser saneada (Vatican Media)

Em resumo, o que a Ridaje faz?

A base são os acordos com os serviços sociais da Prefeitura de Roma, com a Cáritas, a Comunidade de Santo Egídio e organizações menores que ajudam a selecionar as pessoas com o apoio de psicólogos. As pessoas frágeis incluem aquelas que podem estar sofrendo de dependência de álcool ou drogas e, para elas, é necessário um programa de reabilitação antes de introduzi-las no mundo do trabalho. “Muitas delas", explica Di Ciaccio, "com frequência são capazes, mas carecem de estabilidade e constância; as que realmente conseguem sair das ruas são as pessoas que cometem menos erros, porque avançam mais devagar, mas com mais firmeza. De fato, um dos inimigos é o excesso de entusiasmo. Aqueles que começam querendo fazer tudo, com um ritmo muito forte, em um determinado ponto entram em colapso". A fase de seleção é delicada e importante: na Ridaje, são realizadas cerca de cem entrevistas em seis meses para selecionar no máximo 10 pessoas que participam de um curso de jardinagem de 40 horas com uma parte teórica e uma prática que também envolve o uso de maquinários. Dessas 10 pessoas, apenas 2 trabalham para a empresa com um contrato de meio período que, no entanto, garante uma vida decente e, nesse meio tempo, também a busca por outro emprego. Os operadores da Ridaje também são responsáveis pelo mapeamento das áreas verdes que precisam de saneamento. O mapeamento é feito com base na indicação da Prefeitura e dos cidadãos, que, por meio do site da Ridaje, podem comprar horas de financiamento coletivo para dedicar às áreas verdes. Depois de se fazer um orçamento, iniciam os trabalhos e se organizam as equipes a serem enviadas ao local. Até o momento, 50 moradores de rua participaram do curso de formação e 16 já trabalharam com a Ridaje. Oito deles conseguiram outros empregos como jardineiros em outras empresas.

As pessoas, os rostos, antes dos números (Vatican Media)

Uma história dentro da história

"Há algum tempo", conta Lorenzo, "eu estava em um escritório de advocacia de muito prestígio e o proprietário que estava na minha frente, falando ao telefone com um dos fornecedores, reclamou que os jardineiros para serviços naquela área muito rica de Roma sempre acrescentavam um zero ao orçamento. Então eu disse a ele: se quiser, eu lhe envio jardineiros! E ele me olhou como se eu fosse louco e, entre o sério e o jocoso, exclamou: você quer trazer "vagabundos" para uma cobertura como essa? Porém, aceitou o desafio, pois conhecia meu trabalho na Pedius, dizendo que não contaria nada a seus sócios, se algo acontecesse, eu teria que oferecer um jantar a ele, caso contrário, ele garantiria um contrato terceirizado com a Ridaje. E assim foi. Desde então, estamos administrando esse local há anos. A propósito, enquanto estávamos lá, um de nossos jardineiros olhou a vista do terraço que dava para uma grande e conhecida praça de Roma e me confidenciou com os olhos brilhantes: 'veja aquele banco ali, é o banco em que eu estava na minha primeira noite na rua. Pensei erroneamente que o lugar mais seguro para dormir era no centro histórico da cidade, com policiais e cheio de turistas que poderiam me deixar algum dinheiro, mas, em vez disso, percebi que havia me tornado invisível. Ao meu redor, em outros bancos ou no chão, sobre caixas de papelão, havia outros sem-teto. Além disso, é desconfortável, úmido, por causa do rio Tibre, e depois de um tempo peguei pneumonia. Agora, olhando de cima, sinto-me privilegiado. Sinto-me comovido, sinto que consegui’.

Muitas áreas urbanas abandonadas e degradadas voltaram à viver graças ao Ridaje (Vatican Media)

Mudar o mundo, jardim após jardim

Além do empreendedorismo social por trás da Ridaje, há muitos macroconceitos e valores que o Papa expressa na Laudato si' e reforça com a exortação Laudate Deum. Primeiro de tudo: ao cuidar de um espaço verde, as pessoas cuidam de si mesmas. “O nosso", conclui Lorenzo, "é uma forma de jardinagem terapêutica e, ao cuidar da terra, se recupera a dignidade, se torna visível novamente. Ninguém pode tirar as pessoas da rua pela força, a única força é o amor, o bem. Fazemos com que essa forma de amor volte a circular, construímos uma rede porque, como diz o Santo Padre, ninguém se salva sozinho. A Laudato si' é uma confirmação de nossos estudos empíricos e nos dá esperança de que estamos caminhando na direção certa. A Ridaje entrou hoje em um programa de aceleração, dando ações da empresa àqueles que investirem no projeto. Venceu a licitação de "Inovação Aberta" da empresa estatal Ferrovias do Estado Italiano. Até o momento, recuperou mais de 50 mil metros quadrados de espaço verde e agora, com a campanha de financiamento colaborativo, a empresa está se organizando para administrar pedidos maiores. E, acima de tudo, está comprando uma casa para os sem-teto que lhes dará o "espaço seguro" de que todos nós precisamos para nos sentirmos bem.

"A nossa missão é mudar o mundo para melhor, um jardim de cada vez, e, em vez de pensar em maximizar o lucro, ter uma ética que também vise à felicidade e ao bem-estar dos indivíduos: é isso que estamos levando às escolas e universidades quando falamos sobre empreendedorismo social e as muitas implicações relacionadas a ele”.

Na Ridaje, há uma regra: ajuda-se o outro com um sorriso (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O que é de César? O que é de Deus?

jfergusonphotos | Shutterstock

Por Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 17/12/23

Em nossos tempos, César é o Estado. Gostemos ou não, dele emana toda a ordem social instituída.

“A César o que é de César, a Deus o que é de Deus” (Mc 12, 17). Lembrei-me da frase de Jesus ao ler que o novo procurador-geral da República, Paulo Gonet declarou: “não tomo a Constituição como Bíblia, nem a Bíblia como Constituição”. As duas frases remetem a questões significativas para um justo entendimento da laicidade do Estado e o papel dos cristãos na política. A primeira, título deste artigo, é distinguir o que é de César e o que é de Deus, a segunda é qual o paralelismo que existe entre a Bíblia e a Constituição, aparentemente tão díspares, para levar o futuro procurador-geral da República a cunhar a frase citada.

O que daremos em troca de nossa própria alma

Em nossos tempos, César é o Estado. Gostemos ou não, dele emana toda a ordem social instituída. Anarquistas à esquerda e neoliberais à direita sonham com uma sociedade sem Estado – mas, na realidade de hoje, esse sonho parece mais uma ilusão ideológica do que um ideal próximo.

A César (o Estado) cabe cuidar do bem-comum, garantir a justiça e a manter harmonia entre os seres humanos. Dependendo da história de cada país, das escolhas de cada povo, o Estado se organizará de formas diversas, mas de um modo ou de outro deve cumprir essas atribuições. Para isso lhe é dado um poder, que não é absoluto, mas objetivamente muito grande.

Cabe às pessoas, usando a sua liberdade, construir o Estado. Para isso, Deus nos deu discernimento e autonomia. É verdade que frequentemente usamos nossa autonomia com pouco discernimento e que alguns poucos eliminam, direta ou indiretamente, a autonomia de muitos, mas esse é o mundo dos seres humanos, espaço do Estado laico, reconhecido pela própria Igreja (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, CDSI 571-572).

Mas, então, o que é de Deus? Se a ordem social pertence a nós, e nos cabe trabalhar para uma sociedade cada vez melhor, o nosso coração é de Deus. A Ele pertencemos e, conforme a conhecidíssima expressão de Santo Agostinho, por Ele ansiamos e só Nele encontramos nossa paz. Nem todos os seres humanos se reconhecem pertencendo a Deus, mas, toda vez que fazem o bem, participam de alguma forma da graça que Ele espalha sobre o mundo. Inversamente, quando fazemos o mal, criamos um mundo à nossa imagem, mas que não corresponde à vontade Deus. Usamos a nossa autonomia e nosso senhorio sobre o mundo, mas perdemos o sentido de nossa vida… E “de que nos vale ganhar o mundo inteiro, se perdermos a nós mesmos? o que daremos em troca de nossa própria alma?” (cf. Mc 8, 36).

A inspiração e a imposição

Voltemos à frase de Paulo Gonet… Ao qual não conheço e do qual não faço nenhum julgamento, apenas espero – como todo brasileiro – que cumpra bem seu dever… Insisto nessa frase porque suscita uma reflexão que me parece significativa em nossos tempos.

Como exposto acima, a Bíblia e o magistério social da Igreja não podem ser vistos como programas políticos ou códigos jurídicos. Referem-se a princípios éticos que ajudam o ser humano a ser mais feliz e realizar melhor o bem-comum. Diferem, obviamente, de uma Constituição nacional.

Contudo, as leis, para serem justas, devem procurar atender às necessidades e à vocação natural do ser humano – e, nesse sentido, a Bíblia e o magistério social da Igreja podem ser uma grande referência para que tenhamos boas legislações. Mas, se as leis são intrinsicamente impositivas – pertencem ao mundo de César; as normas que nascem da sabedoria cristã são sempre um convite lançado à liberdade humana – e como tais devem ser vistas e anunciadas aos demais (o que não impede a sociedade civil de criar leis que se baseiem nessas normas). Esse caráter inspirador e não impositivo distingue, do ponto de vista político-institucional, a doutrina católica da norma constitucional.

No mundo sociopolítico, aquilo que é inspiração para o bem-comum (a mensagem cristã) não pode ser imposição de conduta (como deve ser a lei civil); mas as normas impositivas (derivadas de um “contrato social” firmado entre os seres humanos) precisam de uma inspiração maior (a sabedoria do humanismo religiosos) para não se perderem em posições e interesses privados ou jogos de poder.

Chamados a dar testemunho

A comunidade religiosa e seus líderes são um espaço natural para que as pessoas encontrem inspiração e orientação em sua vida. Têm a grande responsabilidade de testemunhar a Verdade e o Bem aos que vêm a sua procura. Aqueles que encontram ali a resposta a suas inquietações, naturalmente tendem a confiar na instituição religiosa, em suas palavras, nos irmãos de fé e em suas lideranças. Isso é bom, mas implica em dois cuidados: (1) não querer que uma inspiração verdadeira se torne uma imposição injusta; (2) estar atento para com os aproveitadores que declaram a fé em seus discursos, mas a traem em sua prática.

Deus criou o ser humano livre, dotado de autonomia, para escolher o bem. Dentro dos limites do respeito à vida e da construção do bem-comum, os cristãos devem reconhecer essa liberdade naqueles que não tem a mesma fé. Escandalizar-se ou tentar impor uma conduta são as formas mais fáceis de perder credibilidade e a chance de poder dar um testemunho adequado aos demais. Infelizmente, diante de muitos descalabros que constatamos no dia-a-dia, temos frequentemente a tentação de ceder tanto ao escândalo quanto à imposição, mas isso seria querer fazer da Bíblia uma Constituição, de querer que um “nosso César” ocupasse o lugar do Deus verdadeiro.

Além disso, muitos políticos e líderes tentam se aproveitar da fé sincera das comunidades, professando princípios cristãos, mas os traindo miseravelmente quando não correspondem a seus interesses. Esse é o motivo pelo qual a Igreja deixou de incentivar diretamente a formação de partidos explicitamente cristãos (cf. CDSI 573-574). Os católicos se sentiam no dever de votar nesses partidos, mas os candidatos muitas vezes eram cristãos só na hora da campanha, traindo e envergonhando posteriormente as comunidades.

Isso não quer dizer que os católicos e os demais cristãos não possam se organizar em frentes e associações. Contudo, ao fazerem isso, devem demonstrar, com seu testemunho e sua coerência, ser dignos do voto e do apoio de seus irmãos de fé… Assim como todos nós somos chamados a testemunhar, beleza da vida e do amor ao próximo, que nosso coração é “de Deus” e não “de César”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF