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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

O Papa: Natal, inaudita ternura de Deus que salva o mundo encarnando-se

O Papa Francisco durante a missa da noite de Natal (Vatican Media)

"Como os pastores que deixaram os seus rebanhos, deixa o recinto das tuas melancolias e abraça a ternura do Deus Menino. Sem máscaras nem couraças, confia-Lhe os teus cansaços, e Ele cuidará de ti: Ele, que se fez carne, espera, não as tuas performances de sucesso, mas o teu coração aberto e confiado", disse Francisco em sua homilia da missa da noite de Natal.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco presidiu a missa da noite de Natal, neste domingo (24/12), na Basílica de São Pedro.

Francisco iniciou sua homilia, enfatizado as seguintes palavras do Evangelista Lucas: «O recenseamento de toda a terra». "Este é o contexto em que nasce Jesus e no qual se detém o Evangelho. Podia limitar-se a uma rápida alusão, mas ao contrário fala dele com grande esmero. Assim, faz surgir um grande contraste: enquanto o imperador conta os habitantes do mundo, Deus entra nele quase às escondidas; enquanto quem manda procura colocar-se entre os grandes da história, o Rei da história escolhe o caminho da pequenez. Nenhum dos poderosos se dá conta d’Ele; apenas alguns pastores, colocados à margem da vida social", disse o Papa.

"Nesta noite, irmãos e irmãs, podemos perguntar-nos: Em que Deus acreditamos? No Deus da encarnação ou no da performance? Sim, porque há o risco de viver o Natal tendo na cabeça uma ideia pagã de Deus, como se fosse um patrão poderoso que está no céu; um deus que se alia com o poder, o sucesso mundano e a idolatria do consumismo", sublinhou Francisco.

Fixemos o Menino, olhemos para a sua manjedoura

O Pontífice convidou a olhar para o «Deus vivo e verdadeiro». "Ele que está para além de todo o cálculo humano, no entanto, deixa-se recensear pelos nossos registos; Ele que revoluciona a história, habitando nela; Ele que nos respeita até ao ponto de nos permitir rejeitá-Lo; Ele que apaga o pecado assumindo a responsabilidade pelo mesmo, que não tira a dor, mas a transforma, que não nos tira os problemas da vida, mas dá às nossas vidas uma esperança maior do que os problemas. Deseja tanto abraçar as nossas existências que, sendo infinito, por nós se fez finito; grande, se fez pequeno; sendo justo, habita as nossas injustiças", disse ainda o Papa, acrescentando:

Aqui está a maravilha do Natal: não uma mistura de sentimentos adocicados e confortos mundanos, mas a inaudita ternura de Deus que salva o mundo encarnando-se. Fixemos o Menino, olhemos para a sua manjedoura, para o presépio, que os anjos chamam «o sinal»: realmente constitui o sinal revelador do rosto de Deus, que é compaixão e misericórdia, onipotente sempre e só no amor.

Carne, uma palavra que evoca a nossa fragilidade

O Pontífice convidou a nos deixamos "surpreender por Ele ter-se feito carne. Carne! Uma palavra que evoca a nossa fragilidade e que o Evangelho utiliza para nos dizer como Deus entrou profundamente na nossa condição humana".

"Irmão, irmã, para Deus, que mudou a história durante o recenseamento, tu não és um número, mas um rosto; o teu nome está escrito no seu coração", sublinhou o Papa.

Como os pastores que deixaram os seus rebanhos, deixa o recinto das tuas melancolias e abraça a ternura do Deus Menino. Sem máscaras nem couraças, confia-Lhe os teus cansaços, e Ele cuidará de ti: Ele, que se fez carne, espera, não as tuas performances de sucesso, mas o teu coração aberto e confiado. E n’Ele descobrirás quem és: um filho amado de Deus, uma filha amada de Deus. Agora podes acreditar nisto, porque, nesta noite, o Senhor nasceu para iluminar a tua vida, e os olhos d’Ele cintilam de amor por ti.

A adoração é a forma de acolher a encarnação

"Sim, Cristo não olha para os números, mas para os rostos. Contudo quem é que olha para Ele, por entre as inúmeras coisas e as corridas loucas de um mundo sempre agitado e indiferente? Em Belém, enquanto muitas pessoas, preocupadas com o recenseamento, iam e vinham, enchiam as hospedarias e pousadas falando de tudo e de nada, houve alguns que estiveram junto de Jesus: Maria e José, os pastores e depois os magos. Aprendamos com eles. Ei-los com o olhar fixo em Jesus, com o coração voltado para Ele; não falam, mas adoram."

A adoração é a forma de acolher a encarnação, porque é no silêncio que Jesus, Palavra do Pai, Se faz carne nas nossas vidas. Façamos nós também como se fez em Belém, que significa «casa do pão»: permaneçamos diante d’Ele, Pão da vida. Redescubramos a adoração, porque adorar não é perder tempo, mas permitir a Deus que habite o nosso tempo; é fazer florescer em nós a semente da encarnação, é colaborar na obra do Senhor, que, como o fermento, muda o mundo; é interceder, reparar, consentir a Deus que endireite a história.

O Papa concluiu sua homilia, dizendo que "nesta noite, o amor muda a história. Fazei, Senhor, que acreditemos no poder do vosso amor, tão diverso do poder do mundo. Fazei que, à semelhança de Maria, José, os pastores e os magos, nos estreitemos ao vosso redor para Vos adorar. Feitos por Vós mais semelhantes a Vós, poderemos testemunhar ao mundo a beleza do vosso rosto".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Anastácia

Santa Anastácia (Ecclesia)

A Grande Mártir Anastácia, a Herborista,
«Alívio dos Cativos»

Comemoração: 22 de dezembro

Tradução: Ricardo Williams G. Santos

A grande mártir Anastácia nasceu em Roma e foi martirizada durante o período de perseguições contra os cristãos perpetrado por Diocleciano entre os séculos III e IV d.C. Seu pai era pagão e sua mãe convertera-se secretamente ao cristianismo.

O mentor de Santa Anastácia durante sua juventude era um cristão piedoso e erudito chamado Crisógono (também celebrado em 22 de dezembro). Após a morte de sua mãe, seu pai lhe oferecera em casamento, contra sua vontade, a um pagão de nome Públio. Por recusar-se a consumar seu casamento com um pagão, e visando preservar sua virgindade, Anastácia sofreu muito nas mãos do marido.

Sendo criada como cristã desde pequena, ela encontrava consolo ao visitar as prisões romanas, para alimentar e cuidar daqueles que sofriam por sua fé em Cristo. Nessas visitas, Santa Anastácia se disfarçava de mendiga, e ia acompanhada apenas por um criado. Através de subornos, os guardas lhe permitiam acesso livre aos prisioneiros.

Quando seu criado contou a Públio o que ela fazia, ele espancou a esposa e a trancou em casa. Santa Anastácia então só mantinha contato com seu mentor, Crisógono, através de cartas. Escrevendo sobre seu sofrimento, ele lhe aconselhou a ser fosse paciente e aceitar a vontade de Deus, além de avisá-la que Públio morreria no mar, o que não tardou a acontecer – algum tempo depois, seu marido morreu afogado em um acidente com um navio que estava a caminho da Pérsia. Após a morte do marido, ela passou a distribuir seus bens para os pobres e necessitados.

Nesse tempo, a perseguição de Diocleciano tornou-se mais acirrada e sangrenta. Crisógono, que não aceitou renunciar sua fé mesmo diante das ameaças do imperador, que o interrogou pessoalmente, foi decapitado e teve o corpo jogado ao mar. O corpo e a cabeça do santo mártir foram trazidos à praia pela maré, e pela Divina Providência, seu corpo fora encontrado por um presbítero e secretamente enterrado.

Após a morte de seu mentor, a santa ia de cidade em cidade para cuidar de prisioneiros cristãos. Conhecedora das ervas medicinais da época, ela cuidava dos ferimentos e aliviava o sofrimento dos cativos. Por causa de seu talento médico, Santa Anastácia recebe em grego o título de Pharmakolytria (“aquela que cura os venenos”), e por sua intercessão muitas pessoas foram curadas dos efeitos nocivos de poções, venenos e outras substâncias malignas.

Em suas visitas ela conheceu uma jovem viúva romana chamada Teodota, que se tornou sua auxiliar. Quando as autoridades descobriram que Teodota era cristã, a levaram para a prisão.

Nessa época, Santa Anastácia estava na Ilíria (que corresponde atualmente à Albânia e partes da Bósnia). Ao chegar na prisão e encontrar as celas vazias, Santa Anastácia descobriu que eles haviam sido executados naquela mesma noite. Tomada pela tristeza, ela começou a chorar. Os guardas perceberam então que ela era cristã, e levaram-na para o governador[1] que, após interrogá-la, tentou, por meio de ameaças de tortura, persuadir Santa Anastácia a abrir mão de sua fé e oferecer sacrifício aos ídolos. Sem obter sucesso, ele a enviou de volta a Roma, onde seria questionada por um sacerdote pagão chamado Ulpiano.

O astuto pagão ofereceu duas opções a Santa Anastácia: uma vida de luxo e riquezas ou temíveis sofrimentos. Ele lhe apresentou ouro, pedras preciosas e roupas finas, e também seus instrumentos de tortura. Sem pensar duas vezes, Santa Anastácia recusou-se a abrir mão de Jesus Cristo e escolheu o martírio.

Abismado pela escolha da prisioneira, ele lhe ofereceu três dias para reconsiderar, não por pena, mas porque, arrebatado pela beleza da santa, planejava violentá-la após esse período, caso ela não cedesse. Passados os três dias, Ulpiano tentou saciar sua luxúria à força, mas assim que a tocou, ficou imediatamente cego, e sua cabeça doía tanto que ele gritava como se estivesse enlouquecido. Dizendo que fora amaldiçoado, ele exigiu ser levado a um templo pagão para fazer um sacrifício a seus ídolos, mas morreu no caminho.

Após o episódio, Santa Anastácia foi libertada, e novamente junto com sua assistente, voltou a cuidar de cristãos cativos. Porém, pouco tempo depois, Teodota e seus três filhos foram presos novamente. Seu filho mais velho, Evódio, desafiou corajosamente o magistrado, e foi espancado até a morte. Sua mãe e seus irmãos, após longa tortura, foram queimados vivos – também no dia 22, celebramos os santos mártires Teodota e filhos.

Santa Anastácia foi capturada novamente e condenada à morte por inanição. Ela ficou na prisão por sessenta dias sem alimento. Santa Teodota e os filhos apareciam para ela todas as noites para lhe encorajar e dar forças.

Vendo que Santa Anastácia não sofrera no cárcere, o magistrado ordenou que ela fosse afogada com outros prisioneiros, entre eles um presbítero [2] chamado Eutiquiano.

Os prisioneiros foram postos em um barco que foi lançado em mar aberto. Os soldados perfuraram o casco e partiram em outra embarcação. Então um anjo apareceu para os prisioneiros na proa do barco e os guiou até uma praia. Ao atingir terra firme devido ao milagre, os criminosos aceitaram Jesus Cristo e foram batizados por Santa Anastácia e Santo Eutiquiano. Posteriormente, todos foram recapturados e receberam a coroa do martírio.

Santa Anastácia foi presa a um poste e queimada viva. Seu corpo, que não havia se carbonizado, foi recolhido por uma cristã chamada Apolinária, que a enterrou no jardim de sua casa.

No século V as relíquias de Santa Anastácia foram transladadas para Constantinopla, em uma igreja construída e dedicada à santa. Posteriormente alguns de seus ossos foram transladados para o mosteiro de Santa Anastácia, próximo ao Monte Atos, na Grécia, onde estão até hoje.


NOTAS:

[1] Muito provavelmente Santa Anastácia era uma patrícia, e não plebéia. Do contrário, ela teria sido presa, e não levada para falar com o governador distrital – esse era um privilégio apenas dos patrícios.

[2] Padre.

Fonte: www.oca.org

https://www.ecclesia.com.br/

domingo, 24 de dezembro de 2023

Segunda Pregação do Advento 2023 do cardeal Cantalamessa (3/3)

2ª Pregação do Advento (Vatican Media)

Segunda Pregação do Advento 2023 do cardeal Cantalamessa

"O presépio é, portanto, uma tradição útil e bela, mas não podemos nos contentar com os tradicionais presépios externos. Devemos montar para Jesus um presépio diverso, um presépio do coração. Corde creditur: crê-se com o coração. Christum habitare per fidem in cordibus vestris: que Cristo venha habitar em vossos corações pela fé (Ef 3,17). Maria e o seu Esposo continuam, misticamente, a bater às portas, como fizeram naquela noite em Belém."

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap
“BEM-AVENTURADA AQUELA QUE ACREDITOU!”
Segunda Pregação do Advento de 2023

Voltar ao coração!

Voltemos, para terminar, à palavra de Pascal sobre Deus que “se sente com o coração”. Não mais para fazer disso objeto de considerações históricas e teológicas, mas pessoais e práticas. Pascal foi um fervoroso discípulo de Santo Agostinho, até, infelizmente, a compartilhar também algum excesso e erro, como aquele, reproposto pelos Jansenistas, da dupla predestinação divina, à glória ou à danação! Também o apelo de Pascal ao coração ressoa a influência do Doutor de Hipona. Comentando o versículo de Isaías: “Lembrai-vos disso e envergonhai-vos, guardai-o no coração, ó rebeldes (redite, praevaricatores ad cor)” (Is 46,8, Vulgata), em um discurso ao povo, Santo Agostinho dizia:

Voltai ao vosso coração!... Voltai de vossa errância que vos levou para fora do caminho; voltai ao Senhor. Ele está pronto. Volta antes ao teu coração, tu que te tornaste estranho a ti mesmo, por força de ir afora: não te conheces a ti mesmo, e buscas aquele quem te criou! Volta, volta ao coração, separa-te do corpo... Volta ao coração: lá, examina o que talvez percebas de Deus, pois lá se encontra a imagem de Deus; na interioridade do homem habita Cristo[10].

O homem envia as suas sondas até a periferia do sistema solar e além, mas ignora o que acontece a milhares de metros sob a crosta terrestre, daí a dificuldade em prever os terremotos. É uma imagem do que acontece no âmbito do espírito, em nossa própria vida. Vivemos todos projetados ao exterior, ao que acontece ao nosso redor, desatentos ao que acontece dentro de nós. O silêncio causa medo.

Greccio, 1223

No Natal deste ano recorre o VIII centenário da primeira realização do presépio em Greccio. É o primeiro dos três centenários franciscanos, o qual seguirão, em 2024, o dos Estigmas do santo e, em 2026, o da sua morte. Também esta circunstância pode nos ajudar a voltar ao coração. O seu primeiro biógrafo, Tomás de Celano, refere as palavras com que o Pobrezinho explicava a sua iniciativa: “Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e contemplar com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”[11].

Infelizmente, com o passar do tempo, o presépio se afastou daquilo que representava para Francisco. Tornou-se, frequentemente, uma forma de arte ou de espetáculo do qual se admira a montagem externa, mais do que o significado místico. Ainda assim, contudo, ele desempenha a sua função de sinal e seria tolo renunciar a ele. Em nosso Ocidente, multiplicam-se as iniciativas para eliminar das solenidades natalinas toda referência evangélica e religiosa, reduzindo-o a uma mera e simples festa humana e familiar, com tantas fábulas e personagens inventados no lugar dos verdadeiros personagens do Natal. Alguém gostaria de mudar até mesmo o nome da festa.

Um dos pretextos é favorecer, deste modo, a convivência pacífica com fiéis de outras religiões, na prática, com os muçulmanos. Na realidade, este é o pretexto de um certo mundo laicista que não quer estes símbolos, não dos muçulmanos. No Alcorão, há uma Sura dedicada ao nascimento de Jesus que vale a pena conhecer. Diz:

E quando os anjos disseram: “Ó Maria, por certo que Deus te anuncia o seu Verbo, cujo nome será o Messias, Jesus [‘Isà], filho de Maria, nobre neste mundo e no outro... Falará aos homens, ainda no berço, bem como na maturidade, e se contará entre os virtuosos”. Perguntou: “Ó Senhor meu, como poderei ter um filho, se mortal algum jamais me tocou?”. Disse-lhe o anjo: “Assim será, Deus cria o que deseja, posto que quando decreta algo, diz: ‘Seja!’. E é[12].

Uma vez, no tempo que, no sábado ao entardecer, eu explicava o Evangelho dominical no programa da RAI “A Sua Immagine”, pedi esta sura fosse lida por um muçulmano, que se disse feliz em contribuir, desse modo, para dissipar um equívoco que os prejudica, com o pretexto de favorecê-los. A veneração com que o Alcorão recorda o nascimento de Jesus e o lugar que a Virgem Maria nela ocupa teve, há alguns anos, um reconhecimento inesperado e clamoroso. O Emir de Abu Dhabi decidiu dedicar a Mariam, Umm Eisa, “Maria, Mãe de Jesus”, a belíssima mesquita do emirado, que antes portava o nome do seu fundador, o Xeique Mohammad Bin Zayed.

O presépio é, portanto, uma tradição útil e bela, mas não podemos nos contentar com os tradicionais presépios externos. Devemos montar para Jesus um presépio diverso, um presépio do coração. Corde creditur: crê-se com o coração. Christum habitare per fidem in cordibus vestris: que Cristo venha habitar em vossos corações pela fé (Ef 3,17). Maria e o seu Esposo continuam, misticamente, a bater às portas, como fizeram naquela noite em Belém. No Apocalipse, é o Ressuscitado em pessoa que diz: “Eis que estou à porta e bato” (Ap 3,20). Abramos-lhe a porta do nosso coração. Façamos dele um berço para o Menino Jesus. Que sinta, no frio do mundo, o calor do nosso amor e da nossa infinita gratidão de redimidos!

Esta não é uma bela e poética ficção; é a mais árdua empresa da vida. Em nosso coração, de fato, há lugar para muitos hóspedes, mas apenas para um dono. Deixar Jesus nascer significa deixar morrer o próprio “eu”, ou ao menos renovar a decisão de não mais viver para nós mesmos, mas por Aquele que nasceu, morreu e ressuscitou por nós (cf. Rm 14,7-9). “Onde nasce Deus, morre o homem”, afirmou um certo existencialismo ateísta. É verdade! Morre, porém, o homem velho, corrompido e destinado, em todo caso, a terminar com a morte, e nasce o homem novo, “criado em justiça e santidade da verdade” (Ef 4,24). É uma empresa que não terminará com o Natal, mas pode começar com ele.

Que a Mãe de Deus, que “concebeu Cristo no seu coração antes que no seu corpo”, nos ajude a realizar este propósito.

Feliz aniversário a Jesus – e Feliz Natal a todos: Santo – e amado – Padre, Papa Francisco, venerados Padres, irmãos e irmãs!

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Tradução de Fr. Ricardo Farias, OFMCap.

Notas
[10] Cf. Agostinho, Tratados sobre o Evangelho de João, 18,10.
[11] Cf. Tomás de Celano, Primeira Vida, 84-86.
[12] Alcorão, Sura III, 45-47.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Por que Jesus nasceu em Belém?

Foto: reprodução (Crédito: Guadium Press)

Tudo o que aconteceu com o Verbo de Deus encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo, possui uma altíssima razão de sabedoria, inclusive o fato de Ele ter nascido numa fria gruta de Belém.

Redação (23/12/2023 19:09, Gaudium Press) Por critérios deformados, é comum encontrarmos pessoas para as quais a ideia de superioridade significa ostentar os sinais do poder e/ou da fama, não carecer de bens materiais, enfim, receber diariamente o “sorriso da sorte”.

Entretanto, exatamente para romper com esta mentalidade, o Salvador do mundo, “por quem e para quem todas as coisas foram feitas” (Cf. Cl 1,16) desejou começar a sua vida nesta Terra nascendo numa gruta, deitado numa manjedoura e envolto em faixas.

O próprio São João escreve no prólogo de seu Evangelho que o Verbo “veio para os que eram seus e os seus não o receberam” (Jo 1,11), e, por esta falta de acolhida, o Menino-Deus teve que nascer escondido e rejeitado na cidadezinha de Belém. “Desastre!” – pensam os superficiais; “maravilha!” – bradam os homens de fé.

Com efeito, como reza o provérbio, “Deus escreve reto em linhas retas; somos nós que as vemos tortas…”

Tudo o que é feito por Deus tem uma razão de ser. Portanto, todos os fatos da vida de Nosso Senhor deram-se em decorrência de uma imensa – ou, a bem dizer, divina – Sabedoria. Exemplo frisante e sublime desta verdade é o próprio nascimento do Menino Jesus, mais detalhadamente narrado por São Lucas (cf. 2,1-20), cujas circunstâncias, à primeira vista incompatíveis ao nascimento de um Deus, foram permitidas pela Providência Divina.

Ora, como discernir tal perfeição no nascimento de Jesus Cristo? São Tomás de Aquino explica: “Cristo quis nascer em Belém por dois motivos. Primeiro, porque ‘é da descendência de Davi segundo a carne’ (Rm 1,3), como se diz na Carta aos Romanos. Por isso quis nascer em Belém, onde nascera também Davi, para que, pelo lugar mesmo do nascimento, aparecesse a realização da promessa que lhe tinha sido feita. É o que mostra o evangelista ao dizer: ‘Porque era da casa e da família de Davi’(Lc 2,4). E em segundo lugar, porque, como diz Gregório: ‘Belém quer dizer ‘casa do pão’. E o próprio Cristo afirma: ‘Eu sou o pão vivo, que desceu do céu’”.[1]

Se deitarmos o olhar por um instante no primeiro livro de Samuel, veremos o ilustre fato da escolha e unção do rei Davi. Vendo o Senhor que Samuel se afligia com Saul por causa dos pecados deste, dirigiu-lhe a palavra e ordenou-lhe que fosse a Belém: “Enche teu corno de óleo e vai; envio-te a Jessé de Belém, porque escolhi um rei entre os seus filhos, ungirás para mim aquele que eu mandar” (Cf. 2Sm 16,1.3). A história já é por nós conhecida. Mas dentre os detalhes da narração, algo muito simbólico é que, dentre todos os filhos de Jessé, o escolhido foi o único que estava apascentando as ovelhas de seu pai: “Davi vem do meio das ovelhas que apascenta e é constituído pastor de Israel (Cf. 2Sm 5,2). Já o profeta Miqueias fixa o olhar num futuro distante e anuncia que de Belém sairia Aquele que haveria de apascentar um dia o povo de Israel (Cf. Mq 5,1-3): Jesus nasceu entre os pastores; Ele é o grande Pastor dos homens (1Pd 2,25; Hb 13,20)”.[2]

Por que não em Jerusalém?

Por outro lado, nós não devemos nos esquecer de que a cidade por excelência para o povo eleito era Jerusalém. Lá estava o Templo, a casa de Deus. Encontramos no livro do profeta Isaías uma curiosa passagem que, aparentemente, poderia parecer uma refutação ao argumento de São Tomás quanto à conveniência de Cristo ter nascido em Belém. O próprio Doutor Angélico recorda tal trecho, à guisa de objeção: “A lei virá de Sião e a palavra de Deus de Jerusalém”. Ora, Cristo é a verdadeira Palavra de Deus. Logo, tinha de vir ao mundo em Jerusalém.[3]

Ao que ele mesmo responde: “Deve-se dizer que Davi nasceu em Belém, mas escolheu Jerusalém para ser a sede de seu reino e ali edificar o Templo de Deus. Assim, Jerusalém viria a ser ao mesmo tempo a cidade real e sacerdotal. Mas o sacerdócio de Cristo, e o seu reino, se realizaram principalmente em sua paixão. Por isso era conveniente que, para nascer, escolhesse Belém e para a paixão, Jerusalém.

“Além disso, desmascarava assim a glória dos homens que se orgulham de ter nascido em cidades famosas, nas quais querem principalmente ser honrados. Cristo, pelo contrário, quis nascer numa cidade sem nome e padecer opróbrios numa cidade famosa”.[4]

Finalmente, de tais ensinamentos decorrem uma eminente lição, transmitida por São Paulo: “O que é estulto no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes; e o que é vil e desprezível no mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são” (1Cor 27-28).

Por João Pedro Serafim


[1] Cf. TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, v. 8, 2002, III, q. 35, a. 7, co. (trad. Loyola).

[2] BENTO XVI. Jesus de Nazaré. Dois Irmãos: Minha Biblioteca Católica, 2021, p. 61.

[3] STh., III, q. 35, a. 7, ad 1.

[4] Ibid.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Mensagem de Natal: Renovar a esperança

Luz do Senhor (Vatican News)

O Natal nos convida a renovar a esperança, pois “Um menino nasceu, um filho nos foi dado” (Is 9,6) e a vida renasce sempre que uma criança vem ao mundo.

Padre Edvino Sicuro

No mundo em guerra em que estamos vivendo, a nossa mensagem de Natal não pode ser outra, senão uma prece como fizeram os anjos na noite em Belém: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Que haja paz! Que a humanidade aprenda a vier em paz, em harmonia.

Como cristãos temos duas grandes festas que marcam  a nossa fé: Encarnação e Ressurreição. A mais importante é a Ressurreição,- a Páscoa - mas devido ao aspecto comercial o Natal ganha destaque. Todavia se Jesus não tivesse ressuscitado, “vã seria a nossa fé” (1Cor 15, 18).

No tempo natalino, muitas pessoas se preocupam com o exterior: a decoração das casas, ruas, parques e se esquecem de preparar o seu interior, purificando seu modo de agir, fazendo uma revisão de vida e retomando os verdadeiros valores cristãos.

O Natal nos convida a renovar a esperança, pois “Um menino nasceu, um filho nos foi dado” (Is 9,6) e a vida renasce sempre que uma criança vem ao mundo. O pessimismo e o medo devem desaparecer do meio de nós. Não há mais lugar para o individualismo, nem para as ideologias. O Evangelho é agora uma pessoa: Jesus. “Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,4)

Em minha vida o Natal é um tempo de alegria que se prolonga nos dias do novo ano, pois creio na ressurreição e na presença de Jesus em nossa história, iluminando nosso caminhar, incentivando-nos a lançar as redes em águas mais profundas e não temendo as ondas do mar do mundo que querem nos afundar.

Ter fé é não deixar que os problemas e obstáculos do caminho nos impeçam de ir adiante e olhar o futuro com os olhos de Deus, porque “Ele é maior que todos e ninguém pode nos arrebatar de suas mãos”.

Sempre é Natal quando fazemos atos de bondade porque damos esperança a alguém, que necessita de nós. Há sempre mais alegria em dar do que em receber. Baseando-me nessa afirmação, minha mensagem de Natal é que apressadamente nos dirijamos a Belém,(que hoje é o nosso mundo) como foram os pastores, os magos e ofereçamos o melhor de nós para Jesus que está presente nos irmãos e irmãs mais necessitados. O Natal de verdade vai acontecer porque Ele nascerá nos gestos de fraternidade.

Feliz e Santo Natal!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Natal: eu espero

ALBERTO PIZZOLI | AFP

Por Carlos Padilla Esteban - publicado em 24/12/23

Aquela noite em que esperamos que aconteça o que sonhamos, que tudo mude, que algo novo comece.

A noite está quieta no Natal. Será uma noite quieta e silenciosa. Eu olho, penso e paro meus passos. Se eu tivesse um pincel, gostaria de pintar esta noite de estrelas, ou de luzes caindo e subindo. De estrelas. Assim, com um pincel.

Mas às vezes os pincéis mentem. Eles coletam vagamente em cores uma pequena parte da verdade. Apenas um pequeno esboço, um trecho da beleza mais profunda, uma pequena parte de toda a vida. Os pincéis mentem. Ou melhor, eles não dizem toda a verdade.

Porque a verdade, toda a verdade, não pode ser capturada em uma pintura, com um pincel. Os pincéis só param o tempo por um instante no fluxo da vida. Eles retratam o que acontece em uma tentativa de imortalizá-lo. Eles têm sucesso de forma desajeitada. Eles tentam manter na tela todo o mistério que não pode ser explicado com palavras.

A vida não pode ser retida com pincéis. Ela não tem valor. A vida é um vagão silencioso, escondido no tempo, puxado por Deus. Uma carruagem em movimento.

Uma carruagem cheia de mistérios que não podem ser pintados. De olhares que não falam e não podem ser retidos. De olhares cheios de palavras e emoções. De olhares profundos e lágrimas. Lágrimas cheias de alegria ou tristeza. Porque as lágrimas nem sempre contêm tristeza. Muitas vezes elas exalam alegria, esperança, emoção. Esses são os paradoxos que as lágrimas contêm.

A noite santa é um vagão carregado de silêncios. De estrelas e vida. Uma carruagem que para novamente em nossa vida. Porque a vida sempre acontece em um vagão. Qual deles é o meu? Um vagão de primeira classe? Um de segunda classe?

Talvez seja mais importante saber com quem estamos no vagão do que onde estamos no trem. Afinal de contas, todos chegam ao seu destino. Primeiro o primeiro, depois o último, mas todos chegam.

Talvez o silêncio do meu vagão seja importante. Porque é verdade que as palavras às vezes quebram o mistério sagrado dos olhares.

O silêncio da noite sagrada de Belém. Sim, especialmente o silêncio daquela noite. Maria estava em silêncio olhando para Jesus. José estava em silêncio olhando para Maria. A criança adormecida. Silêncios. Estrelas. Paz. Sorrisos.

Não quero negar que a palavra tem a beleza de uma semente lançada no deserto ou no campo. Ela carrega em seu peito oculto um mundo inteiro, uma vida inteira, um milagre prestes a nascer. É verdade que as palavras também são importantes. Escritas ou faladas. Ditas em voz baixa ou gritadas ao vento.

João falou suas palavras no deserto, foi um grito que quebrou o silêncio. A vida surgiu. Jesus passou por ali falando palavras. Às vezes em voz baixa, às vezes em voz alta.

Ele também guardava silêncios. Aqueles silêncios misteriosos, escrevendo na areia, recebendo ofensas. Às vezes um olhar é suficiente, às vezes apenas um silêncio. Um gesto claro e um silêncio, para entender o que é importante.

Na vida, há muitos encontros cheios de silêncios. Quando estou emocionado, fico em silêncio. Olho para o horizonte e fico em silêncio. Surpreso. Atônito, cheio de vida, esperando.

Como nesta noite sagrada. Esta noite em que esperamos que o que sonhamos aconteça, que tudo mude, que algo novo comece. É o silêncio sagrado de Deus diante de meus olhos. Ajoelhado em frente a um estábulo. Isso sempre me comove.

Vou me ajoelhar novamente. Não por hábito, mas porque não quero deixar de ser uma criança. Vou me ajoelhar com surpresa. O que eu espero? O que eu temo? O silêncio. O silêncio de Deus cheio de respostas.

Deus pronuncia uma palavra e eu vivo. A Criança nasce em meus braços. Fico em silêncio e vivo. Ele olha para mim e eu vivo. Espero em silêncio em meu vagão cheio de silêncios. Ele nasce novamente para me dizer que me ama. E eu o amo. A misteriosa vida de Deus entre os homens.

A vida cotidiana dos homens sem Deus. Como encontrá-lo escondido na violência, na divisão, no ódio? Como descobrir seu rastro esquivo entre as vidas em busca de significado? Fico em silêncio.

Volto-me para tantas vidas misteriosas que não buscam respostas. Elas observam o tempo passar. Elas têm muitas perguntas. O trem da vida segue em frente.

Espero com os olhos entreabertos. Estarei pronto? Direi sim a Jesus em meio ao meu silêncio? Rompê-lo-ei com aquela palavra que marca nossa vida?

Octavio Paz disse: “A liberdade é simplesmente a diferença entre dois monossílabos: sim e não”. Eu escolho a liberdade novamente. Sim, quero seguir seus passos.

Vou me ajoelhar como uma criança. Eu confio. Espero. Sonho. De joelhos, é mais fácil estar no nível da criança. E de sua mãe. Estarei pronto? Nunca estou. Ele sempre me pega de surpresa. Quando menos espero, ele nasce de novo. Isso quebra minha rotina. Isso me dilacera por dentro.

Quero que ele venha e coloque minha vida em ordem. Parece fácil. Pelo menos para Ele, que pode fazer tudo. Eu espero. Eu quero.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

25 de dezembro, uma data histórica (2/4)

Abside central da igreja de Sancta Maria Foris Portas em Castelserpio, na província de Varese (séculos VII-VIII). Preserva os restos de um afresco, inspirado nos Evangelhos apócrifos (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 11/2000

25 de dezembro, uma data histórica

Não foi uma escolha arbitrária suplantar os antigos festivais pagãos. Quando a Igreja celebra o nascimento de Jesus na terceira década de dezembro, inspira-se na memória ininterrupta das primeiras comunidades cristãs sobre os acontecimentos evangélicos e os lugares onde aconteceram. Tommaso Federici, professor emérito de teologia bíblica, faz um balanço de pistas e descobertas recentes que confirmam a historicidade da data do Natal.

por Tommaso Federici

A «virada Abia» com data certa

Em 1953 a grande especialista francesa Annie Jaubert, no artigo Le calendrier des Jubilées et de la secte de Qumran. Ses origines bibliques , em Vetus Testamentum , Supl. 3 (1953) pp. 250-264, havia estudado o calendário do Livro dos Jubileus , um apócrifo judaico muito importante, que datava do final do século. Século 2 a.C. C. Ora, numerosos fragmentos de texto deste calendário, encontrados nas cavernas de Qumran, demonstraram não só que ele havia sido criado pelos essênios que ali viviam (por volta do século II a.C. - século I d.C.), mas que ainda estava em uso . O referido calendário é solar e não dá nomes aos meses, mas os chama pelo número de sucessão. O estudioso publicou então vários outros artigos importantes sobre o assunto; veja também sua entrada Calendário de Qumran, na Enciclopédia da Bíblia 2 (1969) pp. 35-38. E numa famosa monografia, La date de la Cène Calendrier biblique et liturgie chrétienne , Études Bibliques, Paris 1957, ele também reconstruiu a sucessão de eventos da Semana Santa, identificando de forma convincente (exceto pela dissidência de alguns) terça-feira, e não quinta-feira, data da Ceia do Senhor. Por sua vez, o especialista Shemarjahu Talmon, da Universidade Hebraica de Jerusalém, também trabalhou nos documentos de Qumran e no calendário do Jubileu , e conseguiu especificar o desdobramento semanal da ordem dos 24 turnos sacerdotais no templo, depois ainda em funcionamento. Suas descobertas foram apresentadas no artigo The Calendar Reckoning of the Sect from the Judean Desert. Aspectos dos Manuscritos do Mar Morto, in Scripta Hierosolymitana , vol. IV, Jerusalém 1958, pp. 162-199; é um estudo preciso e importante, mas, é preciso dizer, passou quase despercebido pelo grande circuito, mas não por Annie Jaubert. Ora, a lista que o professor Talmon reconstrói indica que a «virada de Abia ( Ab-Jah )», prescrita duas vezes por ano, ocorria da seguinte forma: I) a primeira vez, do dia 8 ao dia 14 do terceiro mês do calendário e II) pela segunda vez, do dia 24 ao dia 30 do oitavo mês civil. Agora, de acordo com o calendário solar (e não lunar, como é o atual calendário judaico), este segundo horário corresponde aproximadamente aos últimos dez dias de setembro. Como também nota Antonio Ammassari, Nas origens do calendário natalino, em Euntes Docete 45 (1992) pp. 11-16, Lucas, com a indicação da "volta de Abia", remonta a uma preciosa tradição judaico-cristã de Jerusalém, que como narrador fiel da história ( Lc 1, 1-4) ele traçou, e oferece a possibilidade de reconstruindo algumas datas históricas.

Assim, o rito bizantino de 23 de setembro comemora o anúncio a Zacarias e preserva uma data histórica certa e quase precisa (talvez com um atraso de um ou dois dias). 

Datas históricas do Novo Testamento 

A principal datação histórica da vida do Senhor centra-se no acontecimento principal: a sua ressurreição no relato unânime dos quatro Evangelhos (e o resto da Tradição Apostólica do Novo Testamento, ver 1 Cor 15, 3-7) ocorreu na madrugada de domingo, 9 de abril do ano 30 d. C., uma determinada data astronômica e, portanto, sua morte ocorreu por volta das 15h da sexta-feira, 7 de abril do mesmo ano 30. De acordo com os dados obtidos na investigação recente mencionada acima, há uma mistura impressionante de outras datas históricas. O ciclo de João Batista tem como data histórica estabelecida (aproximadamente) 24 de setembro do nosso calendário gregoriano do ano 7-6 AC. C. pelo anúncio divino concedido a seu pai Zacarias. No cálculo atual, seria no outono de 1h. C., mas sabe-se que a partir do século VI houve um erro de cerca de seis ou cinco anos na data real do ano do nascimento do Senhor. O nascimento de João Batista nove meses depois ( Lc 1, 57-66), (aproximadamente) em 24 de junho, é uma data histórica. Mas depois, no ciclo de Cristo Senhor, que Lucas coloca em forma de díptico espelhado com o de Baptista, a anunciação à Virgem Maria de Nazaré «no sexto mês» depois da concepção de Isabel (Lc , 28) aparece como uma “outra data histórica”. E consequentemente, e por último, o nascimento do Senhor no dia 25 de dezembro é uma data histórica, ou seja, 15 meses depois do anúncio a Zacarias, nove meses depois da anunciação à sempre virgem Mãe, seis meses depois do nascimento de João, o Batista. A santa circuncisão oito dias após o nascimento, segundo a lei de Moisés ( Lv 12, 1-3), é uma data histórica. E assim, quarenta dias após o nascimento, no dia 2 de fevereiro, acontece a “apresentação” do Senhor no templo sempre segundo a lei de Moisés ( Lv 12, 4-8), que marca o hipapantê, o encontro com o seu povo, é uma data histórica.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Reflexão para o IV Domingo do Advento (B)

IV Domingo do Advento (Vatican Media)

Deixemo-nos tocar por Deus. Cabe a Ele a conduzir Seu plano de amor para nós e nosso papel no mundo. Digamos como Maria, “Faça-se em mim segundo a tua palavra.”

Padre Cesar Augusto, S J – Vatican News

A leitura do Segundo Livro de Samuel nos dá um alerta de que não poderemos enquadrar Deus dentro dos nossos esquemas e, até, deveremos desconfiar de nossas “boas intenções”.

O rei Davi tem uma idéia que aparentemente é santa –construir um belo templo para guardar a Arca da Aliança - mas na verdade seu inconsciente deseja justificar a grandiosidade de seu palácio e posicionar Deus em um local.

Ora, Deus não se enquadra e, menos ainda pode ser usado para justificar nossos caprichos e veleidades. O Senhor, ao contrário, diz a Davi que será Ele -Deus- quem edificará uma casa para Davi, mas não será algo que poderá envelhecer e precisar de reparos.

Deus dará a Davi uma importantíssima descendência, uma casa no sentido mais nobre, e da qual nascerá o Salvador. E esse Salvador, Jesus, mais tarde ao ser interrogado pela samaritana sobre qual o local apropriado para se reverenciar Deus, responderá que Deus deve ser adorado em qualquer parte por pessoas autênticas e que buscam a verdade.

Após essa reflexão poderemos nos perguntar sobre qual visão temos de Deus, qual nosso modo de nos relacionar com Ele? Queremos manipulá-lo, trazê-lo para justificar nossos interesses ou estamos abertos para a novidade que Ele é, sem tentar ajustá-lo ao nosso modo de ser, pelo contrário, adaptando-nos ao Seu querer?

Essa será a reação dos personagens de Nazaré. Deus vai buscar uma virgem, em Nazaré, um lugar social e economicamente desprezável. Ora, virgem na mentalidade da época era uma pessoa desprezível, que não havia atraído sobre si o olhar de nenhum homem. No entanto é exatamente aí, em um povoado abjeto e em uma pessoa sem importância que Deus irá se encarnar.

Por outro lado, Maria e José terão suas vidas totalmente mudadas por Deus. Eles haviam planejado um casamento comum e uma vida tranquila. Deus entrou na vida dos noivos dizendo a Maria que Ele gostaria que ela fosse mãe de Seu Filho e que a ação seria por conta do Espírito Santo.

Maria, generosamente deu o seu sim, sem exigir maiores explicações, mas apenas obedecendo a Deus e confiando em Seu amor.

José, de repente, percebeu que sua noiva estava e que ele não era o responsável. Ele nada entendeu, mas não quis difamar aquela que, a seus olhos, era honesta. Não entendeu e procedeu de modo justo. Deus foi a seu socorro e o fez entender o que se passava.

Porque Maria e José foram abertos à vontade de Deus, acolhendo a missão dada a eles, a Humanidade foi redimida e eternamente lhe é grata, ao sim de Maria e ao sim de José.

Deixemo-nos tocar por Deus. Cabe a Ele a conduzir Seu plano de amor para nós e nosso papel no mundo. Digamos como Maria, “Faça-se em mim segundo a tua palavra.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Tarsila, Monja

Santa Tarsila (Coisas de Santos)

24 de dezembro

Santa Tarsila

Tarsila era uma das tias paternas do Papa Gregório Magno, pontífice que conduziu a Igreja de 590 a 604. Tinha duas irmãs: Emiliana e Jordana. Pertenciam a uma das famílias mais ilustres de Roma: entre os ancestrais há também um imperador, Olibrio, do século V, e o Papa Félix III (526-530).

Sabe-se muito pouco sobre Tarsila. Seu nome aparece apenas no século XI num martirológio local e depois, após o Concílio de Trento, no Martirológio Romano, o oficial de toda a Igreja Católica. A única fonte autorizada sobre sua vida é a do sobrinho o papa, Gregório, o Grande. O papa Gregório era conhecido por contar histórias de parentes apenas quando elas lhe serviam de exemplos concretos e atuais, para tornar seu ensino eficaz.

Tarsila e suas irmãs certamente ajudaram a cunhada Sílvia a criar o pequeno Gregório, cuja saúde sempre foi frágil. Então, enquanto viviam, elas o seguiram nos estudos e na carreira profissional.

Gregório, ainda jovem, tornou-se chefe da administração civil em Roma: uma Roma então sem o imperador, que residia em Constantinopla, e com um Senado pouco ativo. Em seguida, encontramos Gregório embaixador do Papa Pelágio II e ao mesmo tempo monge, diretor espiritual de uma pequena comunidade reunida em sua residência. De lá, Gregório sairá para ser papa.

Tarsila que já havia se tornado monja, acabou influenciando as irmãs que a acompanharam. Eram monjas ocidentais, isto é, não viviam isoladas na solidão, mas dedicadas à vida comum, devotadas à castidade e à oração contínua. Mas não só.

Neste terrível século VI, marcado por inundações, epidemias, guerra entre godos e bizantinos, invasão lombarda e Roma é tomada por grande afluência de imigrantes em miséria. “A carestia”, escreveu Gregório, “manteve a cidade nas garras da fome”. A caridade torna-se assim também a tarefa habitual daquelas monjas, nunca alheias à vida do próximo. Tarsila as liderava em tudo, começando com a oração: quando faleceu foram constatados calos na pele que cobria seus joelhos e cotovelos por causa de sua contínua oração.

A memória de Tarsila, mesmo sem ter tido eventos prodigiosos, perdurará discreta e tenazmente no tempo, pois também foi enriquecida por um conto singular de Gregório Magno. Ele conta que essa tia morreu pouco antes do Natal (o ano, entretanto, permanece desconhecido). E acrescenta que sua irmã Emiliana, uma sobrevivente, um dia ouviu sua voz dizer-lhe: “Eu passei o Natal sem você, mas vamos celebrar a Epifania juntas”. Segundo uma tradição, de fato, Emiliana morreu no dia 5 de janeiro seguinte à morte de Tarsila. E sua festa ainda é nesta data.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF