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terça-feira, 2 de janeiro de 2024

A beleza dos Salmos na vida cristã

Chat Karen Studio | Shutterstock
Por Hozana - publicado em 11/08/23
Não é incrível como um livro de cânticos pode ter atravessado gerações e ser tão atual?

Todos conhecem a célebre afirmação do personagem Dom Quixote, obra de Miguel de Cervantes: “Sempre ouvi dizer: quem canta seus males espanta”. E não é que ele estava certo? Estudos mostram que cantar produz endorfina, a mesma substância gerada quando realizamos exercícios físicos ou comemos chocolate. Além de ter uma potente ação analgésica, estimula a sensação de bem-estar, autoconfiança, otimismo e conforto. Cantar também diminui o stress, melhora a capacidade pulmonar e ativa o sistema cardiovascular e ameniza os efeitos do envelhecimento.

E se o canto é para Deus em forma de louvor?

O louvor é antes de tudo uma manifestação da graça de Deus em nós. É o Espírito Santo que nos faz reconhecer a grandeza d’Aquele que nos ama de maneira incomparável. Esse mesmo Espírito deve nos fazer entender que nosso louvor não acrescenta nada a Deus, que é desde todo sempre perfeito, Todo-poderoso, princípio e fim de tudo. Algumas vezes rezamos na missa: “Na Verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso. Ainda que nossos louvores não vos sejam necessários, vós nos concedeis o dom de vos louvar. Eles nada acrescentam ao que sois, mas nos aproximam de vós por Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso”(Prefácio Comum IV – O louvor, dom de Deus).

Que imensa graça!

Deus nos concede o dom do louvor e esse dom nos aproxima d’Ele, gera em nós intimidade com Ele. Louvamos a Deus pelo que Ele é, por sua grandeza e majestade infinitas, não somente pelo que Ele faz. 

Paralelamente, para a vida cristã em geral, revestem-se de singular importância os Salmos do Antigo Testamento, que há séculos têm sido uma particular fonte de inspiração para os fiéis cristãos. Não é em vão São Basílio Magno, Doutor da Igreja, ensina que o livro dos Salmos “é um depósito geral dos mais excelentes ensinamentos” (Homilia ao Salmo 1). Na língua hebraica, é chamado “Livro dos Louvores” ou “Hinos” (Tehillim, da raiz hll, “louvar”). Embora somente na 3ª parte do saltério predominem os salmos de louvor e o nome “hino” seja dado apenas ao Sl 145, esta atitude orante se faz presente ao longo de todo o livro – por isso o fiel não se esquece de louvar a Deus mesmo quando suplica (cf. Sl 22,2.26; 106,1.47s). Os termos “Salmos” e “saltério” provêm do grego “Psálmoi” (“melodias”) e “Psaltérion” (“instrumento de cordas”, como a lira, a harpa…), pois, em sua maioria eram acompanhados pelo canto instrumental. Vale lembrar que o gênero salmódico se encontra presente também em outros livros (cf. Êx 15; Nm 21,17s; Jz 5; 1Sm 21; 2Sm 1; Jó 2 etc.)

“Os Salmos constituem a obra-prima da oração no Antigo Testamento. Apresentam dois componentes inseparáveis: o pessoal e o comunitário. Estendem-se a todas as dimensões da história, comemorando as promessas já realizadas e esperando a vinda do Messias. Rezados e realizados em Cristo (Lc 20,42, grifo meu), os Salmos são um elemento essencial e permanente da oração de sua Igreja e são adequados aos homens de qualquer condição ou tempo.” (CIC, 2596-2597)

Trata-se de um dos mais citados pelos escritores do Novo Testamento. O próprio Jesus orava os salmos, e sua vida e ação trouxe um significado pleno para o sentido que essas orações já possuíam. Depois dele, os salmos se tornaram a oração do novo povo de Deus.

Os 150 salmos formam o núcleo da oração cotidiana: a Liturgia das Horas, também conhecida por Ofício Divino. O rosário, que era formado incialmente por 150 Ave Marias, formou-se por analogia aos 150 salmos do Ofício. Na Igreja, o “motu proprio Tra le Solecitudine” de 1903, do Papa Pio X, excluiu da liturgia os salmos “de concerto”. Após o Concílio Vaticano II, foi restaurado o salmo responsorial na missa, através da Instrução Geral do Missal Romano de 1969, tornando-se assim parte integrante da Liturgia da Palavra.

Não há unanimidade a respeito da classificação dos Salmos. Admite-se, em geral, que se enquadram numa subespécie do gênero literário lírico ou poético e, dentre as diversas válidas tentativas de classificá-los, acredita-se que podem ser divididos em alguns gêneros. A Bíblia de Jerusalém propõe a seguinte: 

Hinos (Sl 8, etc.); 

Súplicas coletivas (Sl 12, etc.); 

Súplicas individuais (Sl 3, etc.); 

Lamentações (Sl 22, etc.); 

Ação de graças (Sl 18, etc.); 

Oráculos (Sl 2, etc.); 

Salmos régios (Sl 24, etc.); 

Gêneros mistos (Sl 27, etc.). 

Há outras tipificações que incluem, por exemplo: 

Salmos de penitência (Sl 32, etc.); 

Salmos imprecatórios (Sl 58, etc.); 

Salmos didáticos (Sl 62, etc.).

Não é incrível como um livro de cânticos pode ter atravessado gerações e ser tão atual? Você também rezar com os Salmos todos os dias através de um itinerário de oração guiado, que facilita e atualiza cada Salmo bíblico. Reze conosco na rede social de oração Hozana (clique aqui para participar)

E não se esqueça: “Recitai entre vós salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai e louvai ao Senhor no vosso coração” (Ef 5,19)

Wellington de Almeida Alkmin, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa: quem fere uma mulher profana Deus

Papa: quem fere uma mulher profana Deus (Vatican News)

Francisco, em sua homilia durante a Missa na Basílica de São Pedro, na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, enfatizou a importância de Maria para a identidade feminina da Igreja “para se assemelhar ainda mais a Ela que, como mulher Virgem e Mãe, representa o seu modelo e figura perfeita”.

https://youtu.be/2U2QszGIiBE

Thulio Fonseca - Vatican News

“É bom que o ano se abra com a invocação d’Ela; é bom que o povo fiel proclame com alegria a Santa Mãe de Deus.” 

Com essas palavras, o Papa Francisco introduziu sua homilia aos sete mil fiéis presentes na Basílica de São Pedro, no primeiro dia do ano (01/01/2024), durante a missa da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus. 

Os termos “mãe” e “mulher” estiveram no centro da reflexão do Santo Padre, ao destacar que a maternidade de Maria é o caminho para encontrar a ternura paterna de Deus, o caminho mais próximo, mais direto, mais fácil:

“As palavras Mãe de Deus exprimem a feliz certeza de que o Senhor, terno Menino nos braços da Mãe, Se uniu para sempre à nossa humanidade, de tal modo que esta já não é só nossa, mas d’Ele. Mãe de Deus: poucas palavras para confessar a aliança eterna do Senhor conosco. Mãe de Deus, um dogma de fé, mas é também um «dogma de esperança»: Deus no homem e o homem em Deus, para sempre.”

Papa: quem fere uma mulher profana Deus (Vatican News)

O rosto feminino da Igreja

Francisco recordou que é a Mãe que nos conduz ao início e ao coração da fé, “esta não é uma teoria nem um empenho pessoal, mas um dom imenso, que nos faz filhos amados, moradas do amor do Pai”. Por isso, sublinhou o Papa,  “acolher na própria vida a Mãe, não é uma decisão de mera devoção, mas uma exigência de fé: se queremos ser cristãos, devemos ser marianos, ou seja, filhos de Maria”.

“A Igreja precisa de Maria para descobrir o seu próprio rosto feminino: para se assemelhar ainda mais a Ela que, como mulher Virgem e Mãe, representa o seu modelo e figura perfeita, para abrir espaço às mulheres e ser geradora através duma pastoral feita de cuidado e solicitude, paciência e coragem materna.”

Segundo o Pontífice, “o mundo precisa de olhar para as mães e para as mulheres a fim de encontrar a paz, escapar das espirais da violência e do ódio, voltar a ter um olhar humano e um coração que vê”.

Ferir uma mulher é profanar Deus

“Toda a sociedade precisa de acolher o dom da mulher, de cada mulher: respeitá-la, protegê-la, valorizá-la, sabendo que, quem fere ainda que seja uma única mulher, profana Deus, nascido de mulher”, ressaltou Francisco. 

“Maria, a mulher, assim como é decisiva na plenitude do tempo, também o é para a vida de cada um; porque ninguém melhor do que a Mãe conhece os tempos e as urgências dos filhos.”

O Papa recordou aos fiéis que diante da tentação do fechamento é preciso voltar-se para Maria, “quando não conseguirmos desembaraçar-nos por entre os nós da vida, procuremos refúgio n’Ela”. 

Papa: quem fere uma mulher profana Deus (Vatican News)

Ternura materna

Ao concluir  a homilia, o Santo Padre enfatizou que “os nossos tempos, vazios de paz, precisam de uma Mãe que congregue a família humana”, e indicou  Maria como caminho para a construção da fraternidade, que com a sua criatividade de Mãe, cuida dos filhos: reúne-os e conforta-os, escuta as suas penas e enxuga as suas lágrimas.

“Confiemos o novo ano à Mãe de Deus. Consagremos-Lhe as nossas vidas. Ela saberá, com ternura, apontar-nos a sua plenitude; com efeito, levar-nos-á a Jesus, e Jesus é a plenitude do tempo, de cada tempo, do nosso tempo.”

“Que este ano seja cheio da consolação do Senhor! Que este ano seja repleto da ternura materna de Maria, a Santa Mãe de Deus”, concluiu Francisco, convidando os fiéis a juntos, repetir três vezes a invocação: “Santa Mãe de Deus!”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Basílio Magno

São Basílio Magno (Crédito: Bons Fluídos)
02 de dezembro
São Basílio Magno

Origens – Uma família de Santos

Basílio nasceu na Cesaréia da Turquia, região da antiga Capadócia, em 329. A santidade estava no DNA deste grande homem. Com efeito, seu avô teve morte de mártir durante a perseguição romana, pois preferiu morrer a negar Jesus Cristo. Sua avó também foi santa, conhecida como Santa Macrina. Sua mãe passou a ser reverenciada pela Igreja como Santa Amélia. A irmã, também chamada Macrina, tornou-se religiosa e, posteriormente, santa. Seus dois irmãos também trilharam o caminho da santidade: São Pedro, que foi bispo de Sebaste e São Gregório, da cidade de Nissa. Inclusive seu melhor amigo, também celebrado no dia de hoje, tornou-se santo: São Gregório Nazianzeno.

Formação

Basílio estudou nas cidades de Atenas e Constantinopla. Mais tarde, sua irmã Macrina encaminhou-o para a vida religiosa. Nesse tempo, ela havia comandado a fundação de um mosteiro no qual as irmãs cresciam bastante na santidade e isso influenciou Basílio. Ele decidiu, então, ir para o Egito. Seu objetivo era aprender com os monges os segredos da vida no deserto e na solidão. Quando voltou, decidiu consagrar-se monge. Posteriormente escreveu as famosas "Constituições". Este documento tornou-se a primeira Regra de vida espiritual escrita para os religiosos. Os mais importantes fundadores de comunidades religiosas basearam-se neste livro para escrever os regulamentos de suas respectivas fundações.

Bispo de Cesaréia enfrenta o império

Mais tarde, São Basílio foi eleito e sagrado bispo da cidade de Cesaréia, na Judéia. Nessa época o governador romano tentou fazê-lo renegar a Fé. Basílio, porém, resistiu e guardou sua fidelidade a Jesus. Mesmo com saúde frágil, São Basílio enfrentou o governador através de um discurso tão inspirado e forte, que o líder romano desistiu de prendê-lo. O governador, ao contrário, percebeu sua sabedoria e santidade e compreendeu por que São Basílio era venerado por todo o povo.

Magno

Por causa do maravilhoso dom da palavra, de seus escritos admiráveis e de suas grandiosas e inúmeras obras de caridade em favor do povo, São Basílio recebeu o apelido de “Magno", que significa “grande”. Era amado e admirado pelo povo cristão, pelos judeus e pelos pagãos. Além de sua eloquência maravilhosa e arrebatadora, São Basílio exercia uma grande atividade em favor dos pobres, marginalizados e necessitados. Tudo o que ganhava, era doado a eles. São Basílio Magno foi o primeiro bispo a criar um hospital totalmente dedicado aos carentes. Depois disso, ainda criou orfanatos e asilos para idosos.

Escritor inspirado

Além de seu lado caridoso, São Basílio Magno era um conhecedor profundo da teologia, da literatura, da filosofia e da Bíblia. Seus sermões são repletos de sábias e importantes. Seus são agradáveis, claros, profundos e convincentes. Eles suas obras destacam-se quase quatrocentas cartas de grande beleza literária. Essas cartas são, de fato, de grande proveito para a vida espiritual.

Amor e trabalho

A grande regra de vida de São Basílio Magno era amar a Deus, ajudar ao próximo e levar os outros a ajudarem os pobres e os necessitados. Trabalhava muito e escrevia tanto quanto conseguia, apesar da saúde frágil. Sofria de hepatite. Por isso, tinha várias restrições  alimentares. Comia tão pouco que seus ossos ficaram visíveis. Mas, enquanto viveu, dedicou-se a Deus e ao próximo.

Morte

São Basílio Magno faleceu no dia 1º de janeiro do ano 379. Tinha, então, apenas quarenta e nove anos. Foi velado por multidões e sepultado no dia seguinte, 2 de janeiro, dia de sua festa. Seu cortejo fúnebre foi acompanhado por uma multidão como jamais se tinha visto na região. Seu grande amigo São Gregório Nazianzeno, também celebrado nesta mesma data, disse no dia do sepultamento: "Basílio santo, nasceu entre os santos. Basílio pobre viveu pobre entre os pobres. Basílio, filho de mártires, sofreu como um mártir. Basílio pregou sempre; com seus lábios e com seus exemplos, e seguirá pregando sempre com seus escritos admiráveis".

Oração a São Basílio Magno

“Deus, nosso Pai, enriquecestes a Igreja e deste-nos em São Basílio um exemplo de que a vossa Palavra é vida e luz para nossos corações. Que ela frutifique também em nós obras agradáveis aos vossos olhos; o serviço sincero e gratuito aos necessitados. Por sua intercessão, sejamos dignos da vocação a que fomos chamados, e tudo façamos para que o vosso Reino de justiça se dilate no meio dos homens. E, assim, os que virem nossas boas obras possam louvar e confessar o vosso santo Nome. Permaneçamos sempre abertos ao Espírito para cumprir a vossa vontade agora e sempre. Amém! São Basílio Magno, rogai por nós.”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Oração para receber bênçãos no Ano Novo

Hamara | Shutterstock
Por Reportagem local - publicado em 01/01/23
Reze com fé:

Esta é uma oração extraída do livro “As mais belas preces de João Paulo II”, para pedir as bênçãos de Deus no ano que se inicia:

“Que o Senhor te abençoe e te proteja.

Que o Senhor faça resplandecer a Sua face sobre ti e te seja benevolente.

Que o Senhor dirija o Seu olhar sobre ti e te conceda a paz!” (Números 6,24-26)

Além disso, repitamos com fé e esperança as palavras do apóstolo: Cristo é a nossa paz! (Carta do Hebreus 2, 14)

Tenhamos confiança na ajuda do Senhor e na materna proteção de Maria, Rainha da paz.

Apoiemos essa nossa esperança em Jesus, nome de salvação dado aos povos de todas as línguas e raças.

Confessando o Seu nome, caminhemos confiantes rumo ao futuro.

Certos de que não ficaremos desiludidos se confiarmos no santíssimo nome de Jesus.

Amém!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

História e mistério

Bíblia: Palavra de Deus (Diocese de Lorena)

História e mistério

Arquivo 30Dias - 01/1998

por Ignace de la Potterie

História e mistério é o título do livro anexo ao último número de 30Giorni . Esta é uma coletânea das principais intervenções que publico nesta revista mensal desde 1992. Na introdução lembrei que queria explicar o que é a exegese cristã. Mas porque este título aparentemente dialético , História e Mistério? 

Um princípio hermenêutico de São Gregório Magno 

Segundo Gregório, o exegeta cristão, lendo a Bíblia, sobe da história ao mistério, “ ab historia in mysterium surgit ” ( Homilia sobre Ezequiel I, 6, 3). Gregório explica: «Quanto mais cada homem santo progride na Sagrada Escritura, mais esta mesma Sagrada Escritura progride nele [...], porque as palavras divinas crescem com quem as lê» (I, 7, 8). Este princípio de leitura das Escrituras foi inspirado em Gregório pela visão inicial do livro de Ezequiel que ele comentava. O profeta, em sua visão, viu uma “carruagem” arrastada por “quatro seres viventes”. As rodas do carro giraram e Gregório refletiu sobre estas palavras do texto: “ Spiritus vitae erat in rotis ” ( Ez 1, 20). Aqui está o comentário: o fato do espírito estar nas rodas da carruagem é um símbolo da Escritura na qual o Espírito está presente. O texto bíblico é como uma roda giratória: sobe, depois desce, mas para voltar a subir. O texto, portanto , cresce (sobe), “cresce com quem o lê”. E a razão é, explica ainda Gregório, que a Sagrada Escritura «ao propor o texto revela o mistério» (« dum narrat textum prodit mysterium ») e consegue assim dizer as coisas do passado «de modo a pregar [ também] o futuro ». Esta forma de ler as Escrituras foi muito difundida na tradição patrística e medieval, e foi recentemente estudada com grande erudição por Pier Cesare Bori em A Interpretação Infinita. Hermenêutica cristã antiga e suas transformações (Bolonha, Il Mulino, 1987). Vejamos um caso concreto desta exegese. Gregório comenta o episódio bíblico dos dois filhos de Isaque, ou seja, Esaú e Jacó ( Gn 27, 3-8). Jacob era o segundo filho, mas comprou o direito à primogenitura do irmão com um prato de lentilhas. Isaque agora está cego e sua esposa inventa um truque para enganá-lo: ela veste Jacó com uma pele de cabra para enganar o marido e fazê-lo confundi-lo com o peludo Esaú. Lembro-me que em Leuven, o nosso professor, comentando esta passagem, disse: «Não é uma mentira, mas um mistério», o que parecia significar que para ele tal episódio permanecia incompreensível. Na realidade, porém, era inquestionavelmente uma mentira, um engano. Mas como explica São Gregório isso? Precisamente para este caso, ele nos pede para “subir da história ao mistério”, recorrendo a uma leitura alegórica do trecho, ao seu sentido espiritual. A partir desse episódio, diz Gregório, revela-se-nos a importância da primogenitura na história da salvação. O velho Isaque não pode dar a bênção ao verdadeiro primogênito, Esaú, que foi caçar e representa o povo judeu. A bênção é dada a Jacó, o segundo filho, que se apresenta sob a aparência do irmão mais velho: é portanto ele quem recebe a bênção em seu lugar, mas Jacó representa os pagãos. O significado é, portanto, que os pagãos devem participar das bênçãos destinadas a Israel. Portanto entende-se que com estas bênçãos recebidas Jacó receberá o nome de Israel ( Gn 35, 10). Os pagãos devem participar das bênçãos prometidas ao povo escolhido. O horizonte alargou-se, portanto, imensamente.

A transição “da história ao mistério” não se faz apenas pelos acontecimentos históricos, como neste caso. Também é feito, e repetidamente, para termos usados ​​na tradição cristã, mas que vieram do paganismo. No volume anexo à revista, demos um exemplo típico: o termo Theotokos , título dado pelos cristãos a Maria no século II (por volta do ano 180), era usado no mundo helenístico para designar a deusa da fertilidade, Cibele. (a mãe dos deuses). O primeiro a aplicá-lo à mãe de Jesus foi Orígenes, que causou assim um verdadeiro escândalo entre os cristãos. Mais tarde, porém, os Padres usaram-no regularmente, purificando-o das suas ressonâncias pagãs. Assim aconteceu que no terceiro Concílio Ecumênico (o de Éfeso, em 431), contra a recusa de Nestório que não queria ouvir falar do termo Theotokos , o que esse título significava foi proclamado como dogma: Maria, a mãe de Jesus, é verdadeiramente a Mãe de Deus. 

História e mistério: ambos necessários à fé 

A importância da história no cristianismo é inegável. Lutero já havia sublinhado isso claramente. Certa vez lhe perguntaram: «O que é interpretatio? », «O que significa interpretar?» (claro que era a Bíblia). Ele respondeu: “ Qui non intelligit rem non potest ex verbis sensum elicere ”, “Quem não compreende o acontecimento é incapaz, quando confrontado com o texto , de compreender o seu significado ”. Este princípio de Lutero teve grande ressonância na hermenêutica contemporânea (ver Hans Georg Gadamer, Paul Ricoeur). Deve-se observar que no texto de Lutero se propõe uma espécie de relação triangular entre o acontecimento histórico , o texto que o narra e o sentido buscado. Na verdade, devemos perguntar onde está o significado : no acontecimento ou no texto ? Ou talvez ambos? Mas então qual é a relação entre o evento e o texto? Qual dos dois tem prioridade? Ao colocar toda a ênfase no texto, corre-se o risco de torná-lo uma pura criação literária, um “teologumen”; se, em vez disso, dermos toda prioridade à história, estaremos expostos ao historicismo ou ao fundamentalismo. O mérito de Lutero (a sublinhar hoje, depois de Bultmann) é ter insistido na importância da história para a interpretação. No entanto, faltou-lhe um elemento essencial: não levou em conta o fato de que entre o texto e nós (que buscamos o sentido ) existe uma longa distância, ou seja, a tradição que transmite e atualiza o texto para chegar ao significado. Lutero permaneceu fechado na sola scriptura ; vemos aqui, com o ensino católico, a importância da tradição para a busca de sentido.

A necessidade da história para a interpretação das Escrituras também foi enfatizada pelo Padre Henri de Lubac, mas em conexão com a obra do Espírito. Isto também é essencial para a transição da história para o mistério. Recordemos as principais obras de Henri de Lubac sobre este problema: o livro sobre Orígenes intitulado História e Espírito ; o umatika historikôs )». 

Problemas hoje 

Segundo artigo de Charles Kannengiesser citado no volume (páginas 17-20), a exegese dos Padres (lembre-se que partimos de Gregório Magno) não seria mais possível hoje porque estamos submetidos aos ditames do Iluminação. Na verdade, Kant indicou o seu princípio fundamental na Religião apenas dentro dos limites da razão: «Uma fé histórica simplesmente baseada em fatos não pode estender sua influência além do limite de tempo e lugar a que podem chegar as notícias que permitem um julgamento de credibilidade» (Bari, Laterza, 1980, página 110). A passagem de um fato histórico particular (necessariamente aleatório) para uma verdade necessária da razão seria, portanto, ilegítima.

Para responder a este desafio do racionalismo, recordemos alguns textos fundamentais de São João. Cita dois textos essenciais sobre a verdade, um para Jesus: “Eu sou a verdade” ( Jo 14,6); o outro pelo Espírito: “O Espírito é a verdade” ( 1 João 5:6). Quem ousaria, na linha do kantismo, afirmar que se trata aqui de uma “verdade necessária da razão”? Para Jesus, que foi sem dúvida um homem concreto da história, a sua vinda é falada como um acontecimento: “A graça da verdade veio [•géneto] por meio de Jesus Cristo” ( Jo 1, 17). A verdade de Jesus foi, portanto, um «acontecimento», não uma verdade «puramente fortuita», mas uma verdade que «permanece entre nós» ( 2Jo 2); a verdade de Jesus foi de fato um acontecimento histórico , mas um acontecimento revelador : o homem Jesus revelou-se como o Filho de Deus e, portanto, o Pai revelou-se no Filho (ver João 14:9).


Mas a crise causada pelo racionalismo parece agora ter sido superada na filosofia contemporânea. É significativo (ver páginas 157-162 do livro) que vários filósofos contemporâneos pareçam ter redescoberto a noção joanina de verdade. Um deles, Bernard Ronze, publicou recentemente um livro, L'essence du christianisme , Paris, 1996 (A essência do Cristianismo) que começa com esta frase decisiva: «A noção de acontecimento é apresentada como fundamental nos Evangelhos e nos escritos apostólico" (página 17). Todos os leitores de 30Dias sabem quão fundamental é a noção de “acontecimento” no pensamento e nos escritos de Dom Luigi Giussani: é preciso redescobrir “a maravilha do acontecimento de Cristo”. Esta redescoberta do acontecimento de Cristo com a ajuda do Evangelho de João ajudar-nos-á também a redescobrir a passagem «da história ao mistério».

Fonte: https://www.30giorni.it/

NAZARENO: O perdão para quem muito amou (a pecadora na casa do fariseu Simão) - (23)

Nazareno (Vatican Media)

Cap. 23 - O perdão para quem muito amou (a pecadora na casa do fariseu Simão)

Entre as testemunhas oculares da ressurreição de Ezequiel estava um fariseu chamado Simão, que convidou Jesus para jantar. Em sua casa, encontraram uma mulher, Myriam, uma pecadora daquela cidade, que, tendo ouvido que Jesus estava na casa do fariseu, entrou sem permissão. Levava um frasco de perfume e, chorando, começou a molhar os pés com lágrimas, que depois enxugou com os cabelos, borrifando-os com o perfume. Ela não era casada nem tinha filhos, mas levava uma vida dissoluta. Diante de tudo isso, Simão, o fariseu, disse a si mesmo: "se este homem fosse profeta, saberia quem é, e de que gênero é a mulher que o toca". Jesus, então, chamou-o para junto de si e disse: "você está vendo esta mulher? Entrei em sua casa e você não me deu água para os pés; em vez disso, ela banhou meus pés com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Não me deste um beijo; ao contrário, ela não parou de beijar os meus pés desde que entrei. Não ungiste a minha cabeça com óleo; ela, ao contrário, ungiu os meus pés com perfume. Por isso vos digo: os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou. Ao passo que aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama". Voltando-se então para a mulher: "A tua fé a salvou; vá em paz!

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2023/12/29/13/137579923_F137579923.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Dia Mundial da Paz: a súplica do Papa por um mundo mais solidário, justo e pacífico

Papa Francisco suplica por um mundo mais solidário, justo e pacífico (Vatican Media)

"Que o rápido desenvolvimento de formas de inteligência artificial não aumente as já demasiadas desigualdades e injustiças presentes no mundo, mas contribua para pôr fim às guerras e conflitos e para aliviar muitas formas de sofrimento que afligem a família humana", é o apelo do Papa em sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz.

Vatican News 

Paz é  a primeira palavra a ressoar no Ano Novo e na mensagem que o Papa escreveu para 1º de janeiro de 2024, o 57º Dia Mundial da Paz. Uma palavra e, ao mesmo tempo, um desejo para um mundo dilacerado por conflitos, que Francisco confia indissoluvelmente à Virgem Maria, que é Mãe e compartilha o sofrimento humano.

"Volte seu olhar misericordioso para a família humana, que preferiu Caim a Abel, interceda por nosso mundo em perigo e tumulto", rezou o Papa em 27 de outubro de 2023 na Basílica do Vaticano, junto com os padres sinodais. "Sozinhos, não podemos fazer nada", disse na ocasião, e isso é demonstrado pelas notícias que ainda chegam da "amada" Síria e da "martirizada" Ucrânia, da Terra Santa e da Armênia, do Sahel e do resto do continente africano. Isso é demonstrado pela obstinação dos governos que não encontram soluções, pelo comércio de armas, pela sede de poder, pela brutalidade do terrorismo que faz vítimas em um silêncio e em uma aparente incapacidade de reagir.

Súplica pela paz

Mas a força "mansa e santa" dos que creem para "se opor ao ódio da guerra" é a oração e, por isso, Francisco convida todos a se voltarem incansavelmente para a Rainha da Paz e para o "Filho de Deus, humilde Criança". Ao longo do ano, ao rezar o Rosário, ao falar aos fiéis nas Audiências Gerais e na recitação do Ângelus, nos encontros e tantas outras atividades, o Papa pediu e continua pedindo ajuda para que, na "noite dos conflitos, se abram lampejos de luz", para que Maria, "Terra do céu", "possa trazer de volta ao mundo a harmonia de Deus":

"Mãe de Deus e nossa, vimos até Vós, buscamos refúgio no vosso Coração Imaculado. Imploramos misericórdia, Mãe da misericórdia; paz, Rainha da paz! Movei o íntimo de quem está preso no ódio, convertei quem alimenta e excita conflitos. Enxugai as lágrimas das crianças – nesta hora, choram tanto! –, assisti os idosos que estão sozinhos, amparai os feridos e os doentes, protegei quem teve de deixar a sua terra e os afetos mais queridos, consolai os desanimados, despertai a esperança."

Tecnologia em prol da fraternidade humana

A paz não pode ser alcançada se não refletirmos sobre o "sentido do limite", enfatiza o Papa em sua Mensagem para o 57º Dia Mundial da Paz, na qual adverte tanto contra o risco de que os "algoritmos" minem os "valores essenciais da compaixão, da misericórdia e do perdão", quanto contra os perigos do "uso bélico da inteligência artificial", que exige uma formação adequada quanto ao uso das novas tecnologias.

"O mundo", escreve o Papa em sua Mensagem, "não precisa realmente que as novas tecnologias contribuam para o iníquo desenvolvimento do mercado e do comércio das armas, promovendo a loucura da guerra. Ao fazê-lo, não só a inteligência, mas também o próprio coração do homem, correrá o risco de se tornar cada vez mais artificial. As aplicações técnicas mais avançadas não devem ser utilizadas para facilitar a resolução violenta dos conflitos, mas para pavimentar os caminhos da paz”.

"Espero que esta reflexão encoraje a fazer com que os progressos no desenvolvimento de formas de inteligência artificial sirvam, em última análise, a causa da fraternidade humana e da paz. Não é responsabilidade de poucos, mas da família humana inteira. De facto, a paz é fruto de relações que reconhecem e acolhem o outro na sua dignidade inalienável, e de cooperação e compromisso na busca do desenvolvimento integral de todas as pessoas e de todos os povos."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Solenidade de Santa Mãe de Deus, Maria

Santa Mãe de Deus, Maria (A12)

01 de janeiro

Nossa Senhora, Mãe de Jesus, foi especialmente escolhida por Deus, desde a Eternidade, para tornar realidade a Encarnação de Cristo, segundo o plano de salvação da Humanidade que o Pai determinou, após o Pecado Original. Para assumir esta divina maternidade, Maria foi concebida sem pecado, pelo adiantamento dos méritos salvíficos da Paixão, Morte e Ascensão de Jesus.

Maria deveria conceber a pessoa humana do Cristo, mas ao mesmo tempo permanecer virgem, pois, como é óbvio, nenhum homem poderia, com Ela, gerar “naturalmente” Deus Encarnado: o ser humano não pode “criar” Deus, ao contrário, é criado por Ele, à Sua imagem e semelhança, e destinado a compartilhar infinitamente a vida íntima da Santíssima Trindade no Paraíso Celeste, algo que Deus não ofereceu nem aos anjos (e é exatamente por isso que a dignidade do ser humano é superior, sim, a de todas as outras criaturas). É portanto milagrosa, através da ação do Espírito Santo, a maternidade de Maria, que permaneceu sempre virgem, antes, durante e depois do parto.

Esta Sua virgindade também é necessária, na ordem da Graça, para que a Mãe de Jesus conservasse a pureza plena, igual à de Deus, de corpo e de alma (embora, na ordem natural, o sexo, no âmbito do legítimo matrimônio natural e católico, não seja, de forma alguma, um “erro” ou “pecado”, ao contrário!, a união entre homem e mulher, como explica São Paulo, é um grande e sublime mistério, comparável à plena união de Cristo à Sua Igreja – cf. Ef 5,32).

São Lucas, no início do seu Evangelho, relata a Anunciação feita à Maria, isto é, a aparição do arcanjo São Gabriel a Ela, fazendo-Lhe a proposta de ser Mãe do Senhor. Este aspecto é fundamental: Deus não forçou Maria, mas ofereceu-Lhe participar do Seu plano por meio da maternidade divina. E Ela, livremente, disse o Seu sim: “Fiat”, faça-se, “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em Mim segundo a Sua palavra” (Lc 1,38).

Neste instante, Maria concebeu Jesus no Seu ventre, tornando-Se deste modo o primeiro sacrário da História. (Todos os batizados, comungando em estado de graça, também somos igualmente sacrários vivos do Senhor… porém Nossa Senhora jamais deixou de tê-Lo na sua alma e corpo, enquanto nós, pelo pecado, muitas vezes perdemos a graça deste estado de união plena com Deus, ao qual devemos voltar pela Confissão).

Jesus veio a nós por Maria, e desta maneira Deus pôde realizar a obra da nossa salvação. Também por Ela, como afirma a Igreja, devemos ir a Cristo; como explica São Luís Maria Grignon de Montfot (“Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Maria”, livro obrigatório para quem quer de fato conhecer e crescer na Fé católica), é só por Ela, e com toda a lógica, que podemos chegar a Deus, uma vez que Ela é o caminho escolhido para intermediar a materialização entre Deus e o Homem. A devoção sincera a Maria é sinal de predestinação à salvação, como afirmam vários santos; não deixemos de amar e cultivar uma cada vez maior proximidade com a nossa Mãe, pois todas as graças que Deus nos quer dar passam, obrigatoriamente, pelas Suas mãos.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A infinita sabedoria e doçura de Deus, que providencia com perfeição mesmo os menores detalhes, nos trazem este caminho que é Maria na obra da salvação, tanto sob o aspecto sobrenatural, com a Encarnação de Jesus por obra do Espírito Santo numa virgem, como sob o aspecto natural, pois os filhos têm necessariamente pai e mãe. Ora, Deus Pai é perfeito e infinitamente bom, mas também é temível em Sua majestade divina: devemos a Ele amor mas também temor e reverência. Já a figura da mãe é essencialmente afeto, e por isso, normalmente, qualquer criança sabe que, para conseguir algo do pai, pede por intercessão da mãe, que dele tudo consegue com paz e harmonia, incluindo o perdão e as necessidades… Deus quis que tivéssemos também este especial carinho materno e insuperável intercessão. Ele mesmo quer ser “vencido” pelos rogos de Maria, Sua Filha predileta, Sua esposa, e Sua Mãe… como Filho, em Jesus, não pode negar a Ela nenhum pedido legítimo, e em particular o perdão de qualquer pecado, por mais horrendo que seja. Nunca deixemos de recorrer ao amor e carinho de nossa divina Mãe!

Oração:

Ó Deus de infinito amor, concedei-nos, pela intercessão de Maria, Vossa e nossa Mãe, ser atendidos em todas as nossas necessidades materiais e espirituais, mas especialmente a salvação, pois não podeis negar a tão divina intercessora, que Vós mesmo quisestes obedecer, o bem maior dos Vossos Filhos. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 31 de dezembro de 2023

Propósito de ano novo: ficar mais próximo do meu anjo da guarda!

marina shin - Shutterstock
Por Francisco Vêneto - publicado em 29/12/23
Aproveite o privilégio maravilhoso de ter um anjo encarregado por Deus de cuidar de você e guiá-lo pelos caminhos do Senhor!

Todo novo ano costuma ser um período de promessas, propósitos e metas – muitas das quais são esquecidas ainda em janeiro.

E já que é sempre necessário traçar metas na vida, é importante que elas sejam realistas, atingíveis e inspiradoras, pois essas características aumentam a nossa possibilidade de não esquecer nem desistir delas tão facilmente.

Uma fascinante sugestão de propósito espiritual para o próximo ano é aprofundar a relação com o próprio anjo da guarda.

Os anjos da guarda são criaturas espirituais de Deus, invisíveis aos nossos olhos, mas que nos acompanham diariamente. Deus mesmo designa a cada pessoa um anjo encarregado de protegê-la e guiá-la ao longo da jornada terrena.

Há quem se pergunte se o anjo da guarda tem a capacidade de conhecer os nossos pensamentos. Será que eles conseguem entrar em nossa mente e ler os nossos pensamentos secretos?

A resposta é: NÃO, eles não têm acesso especial aos nossos pensamentos. Somente Deus é capaz de saber exatamente o que está acontecendo em nossa mente, pois ele é o criador e o sustentador de todos nós. São Tomás de Aquino afirma isso claramente em sua Summa Theologiae: “O que é próprio de Deus não pertence aos anjos” (I, 57, 4).

Entretanto, embora os anjos não tenham acesso irrestrito à nossa mente, podemos revelar a eles os nossos pensamentos de uma maneira espiritual. O filósofo Peter Kreeft escreve em seu livro “Anjos e Demônios”, que você pode “revelar seus pensamentos e seus segredos ao seu Anjo da Guarda conversando com ele, como você falaria a um santo humano no céu ou um amigo em terra.”

Ao mesmo tempo, nossos anjos da guarda têm mentes muito inteligentes e são especialistas na arte da observação (muito melhores que nós). Isso significa que, mesmo que não tenham acesso aos nossos pensamentos sem o nosso consentimento, eles podem nos observar e ter uma capacidade sobrenatural de saber o que estamos pensando apenas estando conosco. São Tomás de Aquino também explica isso quando escreve: “Pois o pensamento é, às vezes, descoberto não apenas pelo ato exterior, mas também pela mudança de semblante; e os médicos podem contar algumas paixões da alma pelo simples pulso”(I, 57, 4).

Portanto, se quisermos que o nosso anjo da guarda nos conheça verdadeiramente e saiba dos nossos segredos e desafios, precisamos conversar com eles regularmente. Desta forma, eles estarão mais bem preparados para nos proteger e nos guiar para a vida eterna. Essa conversa pode ser feita na oração, desabafando, pedindo ajuda, orientação e luz. E esta é uma forma excelente de alimentar a nossa amizade com o nosso anjo da guarda.

Aliás, essa relação não depende do nosso signo, nem do dia em que nascemos, nem de técnicas, cores ou aromas. Existem muitas desvirtuações da doutrina cristã sobre os anjos, desviando-nos para crendices e superstições.

Em vez de cair nesse tipo de engano, é muito mais simples e poderoso rezar todos os dias a tradicional e singela oração católica ao anjo da guarda:

Santo Anjo do Senhor,
meu zeloso guardador,
se a ti me confiou a piedade divina,
sempre me rege, me guarda, me governa me ilumina.
Amém.

Quer aprender esta oração também em latim?

Ángele Dei,
qui cústos es mei,
me, tíbi commíssum pietáte supérna,
hódie illúmina, custódi, rége et gubérna.
Ámen.

Não se esqueça também de rezar todos os dias o Ângelus, que, ao mesmo tempo, homenageia Nossa Senhora e evoca o seu anjo da guarda. Tradicionalmente, o Ângelus é rezado de manhã, ao meio-dia e ao final da tarde.

Aproveite o privilégio maravilhoso de ter um anjo encarregado por Deus de cuidar de você e guiá-lo pelos caminhos do Senhor!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF