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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Segundo os santos, como alcançar a santidade?

Tonktiti | Obturador
Por Mónica Muñoz publicado em 14/01/24
A santidade é a meta de todos os cristãos, porque é aí que devemos aspirar para poder entrar no Céu. Os santos nos dizem o que fazer para alcançá-lo.

O cristão tem um objetivo na vida. É o mais importante e não tem nada a ver com o sucesso económico, mas sim com o sucesso espiritual, porque para o conseguir é preciso aprender a renunciar às situações, aos gostos, às tentações e até às pessoas. Esse objetivo é a santidade; e por ela milhões de homens e mulheres de todos os tempos e idades deram a vida.

O Catecismo da Igreja Católica diz que:

 “Todos os fiéis, de qualquer estado ou regime de vida, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” ( LG  40). Todos são chamados à santidade: “Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste” ( Mt  5,48 ) ( CEC 2013 ).

E acrescenta que:

«Para alcançar esta perfeição, o crente deve usar as suas forças, segundo a medida do dom de Cristo [...] para se entregar totalmente à glória de Deus e ao serviço do próximo. Fá-lo-ão seguindo os passos de Cristo, conformando-se à sua imagem e obedecendo em tudo à vontade do Pai. Desta forma, a santidade do Povo de Deus produzirá frutos abundantes, como mostram claramente as vidas dos santos na história da Igreja” ( LG  40) ( CEC 2013 ).

O que dizem os santos?

Nova África | Obturador

Cada homem e cada mulher que chegou aos altares teve a sua experiência, mas concordaram que o único caminho seguro era ser como Jesus, o Senhor. O que eles nos contam sobre isso?

1
SÃO PAULO DE TARSO

Busque a paz com todos e a santificação, porque sem ela ninguém verá o Senhor (Hb 12, 14).

2
SÃO PEDRO, PRIMEIRO PAPA

Assim como é santo aquele que vos chamou, sede santos em todo o vosso procedimento, conforme está escrito: Sede santos, porque eu sou santo (1Pe 1, 15-16).

3
SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

Um grande desejo de ser santo é o primeiro passo para se tornar um; e o desejo deve ser acompanhado de uma resolução firme. 

4
SANTA TERESA DE CALCUTÁ

A santidade é o maior presente que Deus pode nos dar porque foi para isso que ele nos criou.

5
SÃO TOMÁS DE AQUINO

A santidade não consiste em saber muito ou meditar muito; A santidade é um segredo: o segredo de muito amor. 

6
SÃO FRANCISCO DE SALES

A santidade encontra-se no caminho que cada um dos nossos dias nos abre, no qual nos são oferecidos os deveres da nossa vida quotidiana, com atrativos desiguais.

7
SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS

Em vez de ficar desanimado, disse a mim mesmo: Deus não pode inspirar desejos irrealizáveis; Portanto, apesar da minha pequenez, posso aspirar à santidade.

8
SANTA MARGARIDA MARIA ALACOQUE

Basta amar o Santo dos Santos para nos tornarmos santos. 

9
SÃO JOÃO BOSCO

A santidade consiste em estar sempre feliz.

10
SÃO FILIPE NERI

O verdadeiro caminho para avançar nas santas virtudes é perseverar na santa alegria.

Fonte: https://es.aleteia.org/

A formação do clero e a Música Sacra (1/2)

A formação do clero e a Música Sacra (Presbíteros)

A formação do clero e a Música Sacra

Os postulados derivados da identidade sacerdotal

Para poder compreender a importância da formação relativa à música sacra dos candidatos ao sacerdócio ministerial, deve-se antes de tudo ter presentes alguns elementos da identidade do presbítero e da sua missão específica.

Na Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, sobre a formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais, de 25 de Março de 1992, João Paulo II, colocando as raízes da identidade sacerdotal no mistério da Santíssima Trindade e da comunhão da Igreja, observa: «O presbítero, […] em virtude da consagração que recebe pelo sacramento da Ordem, é enviado pelo Pai, através de Jesus Cristo, ao qual como Cabeça e Pastor do seu povo é configurado de modo especial para viver e atuar, na força do Espírito Santo, ao serviço da Igreja e para a salvação do mundo». Por conseguinte, o presbítero «encontra a verdade plena da sua identidade no facto de ser uma derivação, uma participação específica e uma continuação do próprio Cristo, sumo e único Sacerdote da nova e eterna Aliança: ele é uma imagem viva e transparente de Cristo Sacerdote».

Contudo, deve-se ter presente que Cristo realizou o seu sacerdócio plenamente no mistério da sua morte e ressurreição, e este mistério da morte e ressurreição «está de certo modo recolhido […] e ‘concentrado’ para sempre» na Eucaristia, na qual «Cristo entregou à Igreja a atualização perene do mistério pascal. Com ele, instituiu uma misteriosa ‘contemporaneidade’ entre [o Triduum Paschale] e o transcurso de todos os séculos». Por outras palavras, a Eucaristia «é o sacrifício da Cruz que se perpetua através dos séculos». Portanto, «quando a Igreja celebra a Eucaristia, […] este acontecimento central de salvação torna-se realmente presente e ‘realiza-se a obra da nossa redenção’».

Ora, a Eucaristia está estreitamente ligada ao sacramento da Ordem, aliás é «a principal e central razão de ser do sacramento do Sacerdócio, que nasceu efetivamente no momento da instituição da Eucaristia e juntamente com ela». Por conseguinte, os sacerdotes – como nos recorda o Concílio Vaticano II –, na sua qualidade de ministros das coisas sagradas, «são sobretudo os ministros do sacrifício da Missa» .

Há um vínculo estreito também entre toda a atividade e eficácia pastoral dos presbíteros e a Eucaristia. De facto, o Decreto conciliar sobre o ministério e a vida dos presbíteros, Presbyterorum ordinis, indica a caridade pastoral como «o vínculo de perfeição sacerdotal que reduzirá à unidade a sua vida e ação», acrescentando imediatamente que «a caridade pastoral brota sobretudo do Sacrifício Eucarístico».

Partindo destes elementos da identidade do sacerdote e da sua missão, não é difícil perceber a responsabilidade dos sacerdotes pela Eucaristia. Eles não são apenas ministros da Eucaristia, mas dependerá deles principalmente a forma como será também celebrada na realidade a Eucaristia, como será compreendida e vivida pelos fiéis. Dependerá deles a orientação da música e do canto sagrado nas nossas igrejas. Seria irrealista esperar a promoção da genuína música sacra na liturgia, sem uma adequada preparação de quantos devem desempenhar neste sector um papel predominante.

A Eucaristia e a Liturgia das Horas na formação sacerdotal

Das considerações feitas até agora resulta também que, quanto mais profundamente o sacerdote compreende e na realidade vive a Eucaristia – que é o centro de toda a liturgia –, tanto melhor poderá compreender e orientar a música sacra. De facto, o canto e a música sacra são «parte necessária e integral da liturgia solene», devem portanto estar intimamente harmonizados com a liturgia, participar eficazmente na sua finalidade, ou seja, devem expressar a fé, a oração, a admiração, o amor a Jesus presente na Eucaristia. Por isso, o Catecismo da Igreja Católica repete mais uma vez que o canto e a música sacra desempenham a sua função de sinais de maneira tanto mais significativa «quanto mais estreitamente estão unidos à ação litúrgica», e quanto mais exprimem a oração.

A Eucaristia

Por conseguinte, na nossa perspectiva, é também importante que os seminaristas:

a) Sejam educados para compreenderem a Eucaristia na sua plena dimensão e valor; se deem conta de que «na Santíssima Eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa»; que Ela é «o vértice da oração cristã»; que é «fonte e ápice de toda a vida cristã» e «todos os sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e as obras de apostolado, estão estreitamente unidos à sagrada Eucaristia e para ela estão ordenados» .

b) Se deem conta do seu papel em relação à Eucaristia, ou seja, que «na sua qualidade de ministros das coisas sagradas, são sobretudo os ministros do Sacrifício da Missa» e que, por conseguinte, «o seu papel é totalmente insubstituível, porque sem sacerdote não pode haver oferta Eucarística»; que se consciencializem também da sua tarefa no que se refere à compreensão e à promoção da Eucaristia na vida dos fiéis.

c) Recebam uma adequada educação litúrgica juntamente com a devida explicação do significado das normas litúrgicas.

d) Sejam introduzidos a viver intensamente e a amar a Eucaristia. A este propósito, o Código de Direito Canónico prescreve: «A celebração eucarística seja o centro de toda a vida do seminário, de forma que todos os dias os alunos, participando da própria caridade de Cristo, possam haurir sobretudo desta fonte abundantíssima as forças para o trabalho apostólico e para a sua vida espiritual». De igual modo, a Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis diz: «A celebração quotidiana da Eucaristia […] deve ser o centro de toda a vida do seminário, e os alunos devem participar nela com devoção».

A Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, precisamente da relação entre a Ordem sagrada e o Sacrifício da Missa, deduz «a importância fundamental da Eucaristia na vida e no ministério sacerdotal e, por conseguinte, na formação espiritual dos candidatos ao sacerdócio». Aliás, João Paulo II, não só recomenda que a participação quotidiana dos seminaristas na Eucaristia se torne depois ‘regra da sua vida sacerdotal’, mas também que sejam educados a considerar a celebração eucarística como o momento essencial do seu dia a dia, no qual participarão ativamente, nunca se contentando com uma assistência meramente rotineira», que sejam «formados nas íntimas disposições que a Eucaristia promove: o reconhecimento pelos benefícios recebidos do alto, pois a Eucaristia é ação de graças; a atitude oblativa que os estimula a unir à oferta eucarística de Cristo a própria oferta pessoal; a caridade alimentada por um sacramento que é sinal de unidade e de partilha; o desejo de contemplação e de adoração diante de Cristo realmente presente sob as espécies eucarísticas».

Estou profundamente convencido de que a compreensão e a atitude correta e apaixonada para com a música sacra dependem do modo de compreender e de viver a liturgia, e especialmente a Eucaristia.

Por Cardeal Zenon Grocholewski

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Papa, Angelus: o Senhor não quer “followers”, não a uma fé feita de hábitos

Papa Francisco - Angelus (Vatican Media)

O Papa Francisco rezou o Angelus deste II Domingo do Tempo Comum na Praça São Pedro, comentando o Evangelho do dia que fala do encontro de Jesus com os primeiros discípulos.

Silvonei José – Vatican News

''O Senhor não quer fazer prosélitos, não quer 'followers' (seguidores) superficiais, mas pessoas que se questionem e se deixem-se interpelar pela sua Palavra”. Foi o que disse o Papa Francisco no Angelus deste II Domingo do Tempo Comum na Praça São Pedro, comentando o Evangelho do dia que fala do encontro de Jesus com os primeiros discípulos.

"Esta cena – sublinhou Francisco – convida-nos a recordar do nosso primeiro encontro com Jesus – cada um teve o primeiro encontro com Jesus -, a renovar a alegria de segui-Lo e a perguntarmo-nos: o que significa ser discípulos do Senhor? Segundo o Evangelho de hoje podemos tomar três palavras: procurar Jesus, morar com Jesus, anunciar Jesus", disse o Papa.

“Para sermos discípulos de Jesus é preciso antes de tudo procurá-lo, ter um coração aberto, em busca, não saciado ou satisfeito. Nós somos seus discípulos na medida em que o frequentamos, ouvimos a sua Palavra, dialogamos com Ele na oração, O adoramos, O amamos e o servimos nos irmãos. Em suma, a fé não é uma teoria, é um encontro, é ir e ver onde o Senhor mora e morar com Ele''.

https://youtu.be/4uIc_pZzR6M

Procurar, morar e, finalmente, anunciar. Esse primeiro encontro com Jesus foi uma experiência tão forte que os dois discípulos se recordaram para sempre da hora: "eram cerca de quatro horas da tarde". E seus corações estavam tão cheios de alegria que imediatamente sentiram a necessidade de comunicar o dom que haviam recebido. De fato, um dos dois, André, apressa-se em compartilhá-lo com seu irmão Pedro.

Praça São Pedro durante o Angelus (Vatican Media)

Irmãos e irmãs, também nós hoje recordemos do nosso primeiro encontro com o Senhor. “Cada um de nós teve o primeiro encontro, seja dentro da família, seja fora dela... Quando encontrei o Senhor? Quando o Senhor tocou meu coração? E nos perguntemos: ainda somos discípulos apaixonados, procuramos o Senhor ou nos acomodamos em uma fé feita de hábitos? Moramos com Ele na oração, sabemos ficar em silêncio com Ele? E, enfim, sentimos a necessidade de compartilhar, de anunciar esta beleza do encontro com o Senhor?

E Francisco concluiu: “Que Maria Santíssima, a primeira discípula de Jesus, nos conceda o desejo de procurá-Lo, de estar com Ele e de anunciá-Lo”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

JESUÍTAS. «É o Senhor quem faz a diferença» (1/2)

São Francisco Xavier batiza indígenas (30Giorni)

Arquivo 30Dias -04/2006

JESUÍTAS.

«É o Senhor quem faz a diferença»

Entrevista com o superior geral da Companhia de Jesus por ocasião dos 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier e do Beato Pedro Favre e dos 450 anos da morte de Santo Inácio de Loyola.

Entrevista com Peter-Hans Kolvenbach por Giovanni Cubeddu

«A visita de hoje me oferece a oportunidade de agradecer ao Senhor junto com você por ter concedido à sua Companhia o dom de homens de extraordinária santidade e excepcional zelo apostólico, como Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e o Beato Pedro Favre. Eles são para vós os pais e os fundadores: é justo, portanto, que neste ano do centenário os recordeis com gratidão e os olheis como guias iluminados e seguros do vosso caminho espiritual e da vossa atividade apostólica”. Assim o Papa Bento XVI, na saudação com que acolheu a peregrinação que no passado dia 22 de Abril viu a Companhia de Jesus vir a São Pedro para visitar o túmulo do Príncipe dos Apóstolos.
Com efeito, celebramos os quinhentos anos do nascimento de São Francisco Xavier, que Pio Uma oportunidade favorável para entrevistar o Padre Peter-Hans Kolvenbach, superior geral da Companhia de Jesus desde setembro de 1983. 

Por que episódio da sua vida Francisco Xavier lhe é particularmente querido? 

PETER-HANS KOLVENBACH: Xavier queria servir o Senhor na pobreza e na humildade, como aprendeu com Inácio e os Exercícios Espirituais . Ser nomeado legado papal para a Ásia não alterou o seu padrão de vida. Temos testemunhos da época sobre a pobreza de Xavier. Ele e seus companheiros viajavam a pé e estavam tão mal vestidos que as crianças japonesas os recebiam com pedras e os ridicularizavam. Descrevendo suas andanças apostólicas no auge do inverno, Xavier fala das dores que sentiu devido ao inchaço dos pés. Pensando que uma visita ao senhor de algumas províncias lhe daria permissão para pregar em público, ele pediu uma audiência, mas foi-lhe negada a entrada no palácio porque não tinha presentes adequados para oferecer. Essas experiências o levaram a mudar sua abordagem. Então ele foi para a cidade de Miyako, vestido de seda, apresentando cartas de credenciamento como embaixador do governador da Índia, escritas em pergaminho decorado, e trazendo consigo presentes preciosos... Este episódio encarna um importante princípio do zelo apostólico de a Companhia de Jesus: a utilização dos meios ao serviço dos propósitos mais elevados. Xavier representa a “indiferença” que Inácio ensina em seus Exercícios Espirituais.
Foi livre, desapegado do conforto e das aparências para que o Senhor pudesse fazer a diferença nas suas escolhas e nos seus planos apostólicos. E como era espiritualmente livre, pôde adotar outro estilo de vida para tornar possível a pregação do Evangelho na realidade do Japão. Acho esse episódio extremamente revelador. 

Existem duas imagens clássicas de Francisco Xavier, uma enquanto parte com o breviário na mão em direção às Índias, outra enquanto reúne os jovens índios tocando uma campainha para convidá-los à catequese e à oração. No entanto, Santo Inácio tinha dito que Xavier era «o barro mais rebelde que alguma vez teve oportunidade de moldar»... 

KOLVENBACH: Sim. Quando Inácio o conheceu, Xavier sonhava em tornar-se um intelectual, um jurista ou um homem de armas para obter uma posição de destaque em seu país natal, Javier, e elevar o status social de sua família humilhada pelas batalhas políticas. Foi preciso muito tempo e perseverança da parte de Inácio até que as palavras do Evangelho, repetidas incessantemente, encontrassem eco no coração de Xavier: “De que aproveitará ao homem ter ganho o mundo inteiro se depois perder a alma”. Ao passo que, perdendo a vida no seguimento de Cristo, enriquecerá em Cristo... Isto levou Xavier a fazer os Exercícios Espirituais e a entregar-se a Cristo. Uma vez entregue, entregou-se totalmente ao Senhor e à ajuda aos outros, seguindo os passos do Cristo pobre, na humildade e no serviço gratuito.

Peter-Hans Kolvenbach (30Giorni)

Falando de Santo Inácio, o Cardeal Martini afirmou que sempre que há discussão na Companhia de Jesus - de acordo com todas as diversas visões e opiniões que derivam do pluralismo vivido pelos Jesuítas no contexto global da sua ação -, tudo se articula por magia ao tratar dos Exercícios Espirituais.

KOLVENBACH: Sem sombra de dúvida, os Exercícios Espirituais são o fundamento da espiritualidade e da vida da Companhia. Muitos jesuítas perceberam que Deus os chamava para a Companhia de Jesus no contexto dos Exercícios muitas vezes feitos na juventude e depois consolidados no retiro de um mês no noviciado. Na enriquecedora diversidade de culturas e línguas, de abordagens espirituais e de competências profissionais, todos os Jesuítas descobriram, ajudados pela experiência espiritual de Inácio, um apelo a discernir a vontade de Deus e um caminho para continuar hoje a missão de Cristo.

Francisco Xavier morreu, como Inácio, sem confortos religiosos...

KOLVENBACH: Há uma anedota da vida de Santo Luís Gonzaga que é frequentemente citada. Conta-se que ele estava jogando bilhar com outros jovens jesuítas quando um deles lhe perguntou: “Luigi, se te dissessem que sua hora havia chegado, o que você faria?”. Dizem que Luigi respondeu: «Eu continuaria a jogar»… Verdadeira ou falsa, a anedota revela um ponto importante da espiritualidade inaciana. Mais do que a preparação imediata para o momento da morte, são as horas e os anos que a precedem, apoiados pela graça de Deus e vividos no cumprimento da Sua vontade, que influenciam o encontro com Cristo na perspectiva da eternidade. Os poucos jesuítas que estiveram ao lado do leito do moribundo Inácio ficaram “consternados” com a falta daqueles gestos que normalmente se esperam de um fundador moribundo: chamar os seus colaboradores à sua cabeceira, dar-lhes o conselho final, nomear um sucessor… Inácio nunca pensava em governar “sua” empresa, mas a Companhia de Jesus. Os jesuítas ficaram completamente surpresos que Inácio morreu simplesmente, “como uma pessoa comum”. A única testemunha da morte de Xavier diz-nos que Xavier estava feliz no momento do seu falecimento solitário, convencido como estava de que tinha chegado o momento de encontrar Aquele que durante a sua vida foi seu Senhor e companheiro.

O Cardeal Tucci escreveu que seria fácil ver em Saverio a alma do conquistador daquela época. Enquanto, continua o cardeal, o que move Xavier é a crença de que ninguém pode ser salvo sem ter recebido o batismo. Que exemplo e lição podemos tirar?

KOLVENBACH: Xavier foi, em muitos aspectos, um filho do seu tempo. A teologia que aprendeu em Paris e o ambiente religioso em que viveu consideravam o batismo uma necessidade absoluta para a salvação. Xavier sofreu muito ao ver os japoneses chorarem após lhes contar que seus ancestrais estavam condenados ao inferno porque não foram batizados. Mais tarde, Xavier colocou mais ênfase na misericórdia de Deus, que aceitaria as vidas justas daqueles que ignorassem sem culpa a necessidade do batismo. Guiados pela Igreja e pelo Concílio Ecuménico Vaticano II, sabemos hoje que a semente da verdade se encontra em todos os homens e que Deus oferecerá a salvação àqueles que não conheceram Cristo. Mas esta não era a doutrina da época de Xavier. Contudo, as novas interpretações do Vaticano II não diminuíram a urgência de toda a Igreja ser missionária com a mesma paixão que Xavier.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Santo Arnaldo Janssen

Santo Arnaldo Janssen (A12)
15 de janeiro
Santo Arnaldo Janssen

Nascido em 1837 em Goch, pequena cidade da Baixa Renânia na Alemanha, Arnaldo foi o segundo de onze filhos numa fervorosa família cristã de classe média. Ali aprendeu o amor à Santíssima Trindade, a devoção ao Espírito Santo e a preocupação pelas missões, bem como a responsabilidade no trabalho.

Estudou em Gaesdonck até 1855, quando ingressou no seminário diocesano de Münster. Além de Teologia, a partir de 1857 aprendeu Matemática, Ciências Naturais e Filosofia na Universidade de Bonn, diplomando-se aos 20 anos para ensinar todas as matérias do colegial. Ordenou-se em 1861 e nos 12 anos seguintes, aproximadamente, lecionou na escola pública de Bocholt e coordenou o Apostolado da Oração na diocese de Münster.

Em 1873, preocupado com a questão missionária, resignou do cargo de professor, viajou pela Alemanha e fundou a revista mensal Mensageiro do Sagrado Coração, voltada ao incentivo dos católicos alemães para o trabalho nas missões, tanto no país quanto no exterior. Neste período Bismarck, no governo teutônico, declarou a Kulturkampf (batalha cultural), com leis contra os católicos, pretendendo colocar a Igreja sob a direção do Estado, incluindo a expulsão de religiosos e a prisão de bispos.

A muitos dos sacerdotes banidos, Arnaldo propôs que se dedicassem às missões, ou que ajudassem na formação dos missionários. O incentivo de um bispo, Vigário Apostólico de Hong-Kong, que conheceu em 1874, o levou a querer fundar uma congregação missionária que suprisse tais necessidades dos clero e dos fiéis. Diante das objeções de que ele não estaria qualificado para isso e de que os tempos não eram favoráveis, respondeu: “O Senhor desafia a nossa fé e incentiva-nos a fazer algo novo, precisamente quando tantas coisas implodem na Igreja.”

Por causa da perseguição em território nacional, Arnaldo comprou uma hospedaria antiga na Holanda, próxima à fronteira, em Steyl. Fundou ali a primeira comunidade missionária de origem alemã para formação de sacerdotes e irmãos, a Sociedade do Verbo Divino (Congregação dos Missionários do Verbo Divino), sob a regra da Ordem Terceira Dominicana. Com austeridade, confiança na Divina Providência e intensa vida de oração, pessoal e comunitária, Arnaldo venceu as dificuldades iniciais e já em março de 1879 seus dois primeiros missionários foram para a China (um deles o Pe. José Freinadmetz, também canonizado no mesmo dia). Nos anos seguintes, outros partiram para o Extremo Oriente, América e África.

Para obter divulgação, incentivar vocações e obter meios econômicos, Arnaldo abriu uma tipografia apenas quatro meses depois da inauguração, contando com a contribuição de milhares de leigos na distribuição da revista de Steyl. Também desde o princípio houve a contribuição de mulheres voluntárias, que desejavam atuar como religiosas. Assim, em dezembro de 1889, ele fundou a Congregação Missionária das Servas do Espírito Santo (SspS), cujas primeiras missionárias chegaram à Argentina em 1895. E em 1896 fundou o ramo contemplativo, a Congregação das Irmãs Servas do Espírito Santo da Adoração Perpétua (SspSAP), dedicado a rezar permanentemente diante do Santíssimo Sacramento pela Igreja e especialmente pela atividade missionária das outras duas congregações.

Santo Arnaldo faleceu em 15 de janeiro de 1909 em Steyl, consumido pelo trabalho. Sua obra está atualmente nos cinco continentes, havendo mais de 6.000 missionários do Verbo Divino em 63 países, mais de 3.800 Servas do Espírito Santo e 400 Servas do Espírito Santo de Adoração Perpétua. Ele foi proclamado pioneiro do movimento missionário moderno nos países de língua alemã, holandesa e eslava.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A obra dos santos é sempre admirável e surpreendente, mas nada há de espantoso no sucesso das atividades missionárias de São Arnaldo Janssen: esteve absolutamente garantido a partir das orações ininterruptas diante da Santíssima Eucaristia que ele, prudente, sábia e providencialmente destinou em favor da Igreja e das suas fundações através da Congregação das Irmãs Servas do Espírito Santo da Adoração Perpétua. Tudo pode ser obtido com a oração humilde e perseverante diante do Santíssimo, uma lição perene e tão claramente necessária para a santidade pessoal de todo fiel católico, e mais do que nunca para as necessidades atuais da Igreja, do nosso país e do mundo, no embate com a mais perniciosa Kulturkampf da História. Leis que perseguem o Catolicismo e a pretensão de colocar a Igreja sob as ordens do Estado são o retrato da crise mundial hodierna. E o sucesso contra esta nova (porém não original) agressão a Deus no Seu Corpo Místico depende desta forma de oração; nas palavras de São Arnaldo, “O Senhor desafia a nossa fé e incentiva-nos a fazer algo novo, precisamente quando tantas coisas implodem na Igreja.” A Adoração ao Santíssimo, muito provavelmente, pode ser algo novo para o nosso dia a dia de oração, mas a implosão dentro da Igreja, como heresias e afins, existem há mais de 20 séculos, e sempre existirão, e sempre serão vencidas com a confiança na Providência, oração e trabalho árduo. O modo de agir, como também ensina São Arnaldo, é o apostolado – "O anúncio do Evangelho é a forma mais sublime de amor ao próximo", anúncio pelo exemplo de verdadeira caridade na oração e nos atos, na palavra falada e escrita.

Oração:

Senhor, que quisestes vir a nós pela Palavra e pelo exemplo de vida do Vosso Filho, concedei-nos pela intercessão de São Arnaldo Janssen a graça de vivenciar como ele o intenso desejo de Vos obedecer, cumprindo o que nos pedis mesmo se parecer difícil; e com uma intensa e constante oração Vos amar, e também ao próximo na missão evangelizadora que recebemos no Batismo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Santo Amaro

Santo Amaro (Diocese de Apucarana-PR)
15 de janeiro
Por Pascom Diocesana - 28 de agosto de 2014
Santo Amaro

Santo Amaro ou São Mauro, nasceu em Roma no final do século V. De família nobre, seu pai, o senador Equício o confiou ainda jovem aos cuidados do monge São Bento.

O Martirológio Romano e a Ordem beneditina comemoram Santo Amaro a 15 de janeiro. Santo Amaro foi um dos primeiros discípulos de São Bento, e tudo o que sabemos dele está contido em dois trechos da vida de São Bento, escrita por São Gregório Magno. O primeiro trecho faz alusão à oferta, por parte do pai de Amaro, o senador Equício, que o oferece ainda menino a São Bento. O segundo trecho torna célebre Santo Amaro na história de ascética cristã, pela incondicional obediência, premiada com um milagre.

Enquanto estava imerso em oração, São Bento percebeu, em visão, que o menino Plácido, que tinha ido buscar água num lago, por imprudência, tinha caído e corria o risco de se afogar. O santo abade chamou Amaro e lhe disse: “Meu irmão Amaro, corre porque aquele mongezinho que foi buscar água caiu e a onda o carrega”. Amaro partiu imediatamente: correu ao lago e foi ao encontro de Plácido no meio do lago, tomou-o pelos cabelos e o carregou até a terra. Só então percebeu haver caminhado sobre as ondas, como o apóstolo São Pedro no lago de Tiberíades.

Estupefato, narrou o episódio a São Bento. Este humildemente atribuiu o prodígio aos merecimentos de Amaro, mas o discípulo estava convicto do contrário e teve a confirmação pelo próprio colega Plácido, que disse ter tido a impressão de haver estado agarrado à capa do abade: ‘… e parecia que ele me tirava da água”. Tudo o que sabemos sobre este santo discípulo de São Bento, além desses trechos de São Gregório, nos vem de uma biografia apócrifa escrita na metade do século IX.

Santo Amaro freqüentava o monastério do Subíaco, a fim de adquirir sabedoria e prudência cristãs na convivência com São Bento. Acompanhou o mestre até que este se fixasse em Montecassino. Aí Santo Amaro foi o primeiro superior e administrador.

Homem de grande virtude, modelo de obediência, humildade e caridade, Santo Amaro era austero consigo, porém bondoso e caridoso com os outros. Sua regra de vida consistia na leitura meditada da Palavra de Deus e no louvor litúrgico, com ritmos de trabalho, intensa caridade fraterna e ajuda mútua.

Santo Amaro, enviado pelo seu Mestre à França, aí fundou, em 535, o primeiro mosteiro beneditino, em Glanfeuil, no Anjou, que graças à liberalidade do rei difundiu-se rapidamente, e, à sua volta, surgiu a primeira localidade que lhe leva o nome. Santo Amaro faleceu no mosteiro francês aos setenta e dois anos, a 15 de janeiro de 567, depois de uma peste que também levou à morte muitos de seus monges. É invocado contra várias doenças e especialmente enxaquecas, artrose e artrite.

Fonte: https://diocesedesantoamaro.org.br/

domingo, 14 de janeiro de 2024

A razão do jejum eucarístico, segundo São Tomás de Aquino

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Por Henry Vargas Holguín publicado em 01/03/16 atualizado em 12/01/24
Principalmente, não devemos comer antes de comungar para não desrespeitar o corpo e o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo; mas há mais razões.

O jejum eucarístico não é, como alguns acreditam, abster-se de comunhão. Há quem entenda o jejum eucarístico como não comungar, ou seja, não receber a comunhão. Mas, na realidade, este jejum é o período de tempo que deve ser respeitado antes de receber a comunhão.

Uma das condições para receber a comunhão com dignidade é observar o jejum eucarístico, visto como uma das formas de preparação para um acontecimento tão grande na vida do cristão, que é receber Jesus Cristo, o pão da vida.

De onde vem o jejum eucarístico?

O ágape e a Eucaristia estiveram circunstancialmente unidos horas antes da paixão do Senhor; Ou seja, o Senhor instituiu a Eucaristia na Última Ceia, que nada mais era do que o ágape (refeição fraterna) da Páscoa judaica. Consequentemente, a Eucaristia foi inicialmente celebrada como continuação e conclusão do ágape.

Mas logo Considerou-se conveniente separar o ágape da Eucaristia interpondo um período de tempo, dando origem ao jejum eucarístico.

E isso foi feito por três motivos: para assinalar a passagem do Antigo Testamento ao Novo Testamento, para especificar “exclusivamente” a ordem de Jesus de perpetuar o memorial do seu sacrifício, e como preparação imediata para a comunhão. Isto é o que já encontramos num texto paulino.

São Paulo, na sua primeira carta aos Coríntios, aborda o tema da “Ceia do Senhor”. E fala, entre outras coisas, de não receber indignamente o pão e o cálice do Senhor.

E, a este respeito, já vislumbra o jejum eucarístico quando acrescenta: «Portanto, meus irmãos, quando vos reunirdes para a Ceia, esperai uns pelos outros. Se alguém tiver fome, coma em casa, para que não se reúnam para o castigo. Eu providenciarei o resto quando eu for” ( 1 Cor 11, 33-34 ).

3 razões explicadas por São Tomás de Aquino

Temos também outra pista ao citar Santo Tomás de Aquino (século XIII) que na Summa Theologica , citando mesmo Santo Agostinho (século IV), explica As três principais razões do jejum eucarístico:

  • Respeito pelo sacramento
  • O significado de Cristo ser o verdadeiro alimento
  • Para evitar o perigo de vomitar quando se come demais

(Summa Theologica, Parte III, questão 80, art. 8).

Sabe-se, segundo a citação anterior, que no tempo de São Tomás vigorava a partir da meia-noite anterior o jejum eucarístico, costume que se manteve até ao pontificado doo Papa Pio XII que, em 1953, reduziu o jejum para três horas; Jejum que mais tarde foi reduzido para uma hora pelo Concílio Vaticano II.

Este rápido é obrigatório?

Este jejum deve ser observado “pelo menos” uma hora antes da Comunhão ( Cân 919 ), independentemente de a Comunhão ser tomada dentro ou fora da Missa. Com a expressão “pelo menos uma hora antes”, estamos dizendo que o jejum eucarístico deve durar o maior tempo possível, 60 minutos no mínimo.

Portanto, o jejum eucarístico é uma disposição legal; Não se trata de um regulamento facultativo, nem de simples conselhos ou conselhos práticos.

Algumas exceções

Segundo a Instrução Inmensae Caritatis (3), o tempo do jejum eucarístico, em casos extremos, é reduzido para cerca de um quarto de hora única e exclusivamente para:

1) Pacientes que residem em hospitais ou em domicílio, mesmo que não estejam acamados.

2) Os fiéis idosos, que devido à idade avançada não saem de casa ou estão em lares de idosos.

3) Pessoas que, para trabalhar, têm que cuidar constantemente de doentes e idosos.

4) Familiares que estejam ao serviço de doentes e idosos, desde que não possam cumprir o jejum de uma hora.

Qual é o propósito do jejum eucarístico?

Portanto, o jejum eucarístico é importante. Mas jejuar para quê? A Igreja dá-nos a resposta: «Para se preparar adequadamente para receber este sacramento, os fiéis devem observar o jejum prescrito pela Igreja. Através da atitude corporal (gestos, vestimenta) manifestam-se o respeito, a solenidade, a alegria daquele momento em que Cristo se torna nosso hóspede” (Catecismo, 1387).

Fonte: https://es.aleteia.org/

Por uma vida a ser gasta com o que não passa

O tempo (Pinterest)

Por uma vida a ser gasta com o que não passa

Semeando a fraternidade e vivendo o evangelho, uma experiência de amor e doação.

por Larissa Matos Gonçalves  publicado em 108/12/2023

Eu conheci o Movimento dos Focolares por meio de uma atividade dos Jovens pelo Mundo Unido[1] (JPMU), em São Paulo. Desde então, uma revolução silenciosa começou, e nunca mais parou, dentro de mim: depois que eu conheci esse Deus, que é Amor, e me vi amada por Ele, a minha vida se transformou, porque mudou de sentido.

Este grupo foi como uma porta para uma realidade que eu não conhecia. Ele me possibilitou estabelecer um relacionamento completamente novo com Deus e vínculos profundos com as pessoas, por meio das quais via que era possível viver de modo autêntico o cristianismo, que continuava atual. Além disso, experienciei atividades sociais que mudariam, inclusive, meu rumo profissional. Em uma delas, visitamos o serviço de apoio a refugiados, da Cáritas de São Paulo. Acabei me tornando voluntária da organização e, depois de um ano, comecei em um novo trabalho, com projetos sociais. Também conheci, por meio de uma ação de Natal com os JPMU, um Serviço de Acolhimento Institucional de Crianças e Adolescentes, no qual atuamos como voluntários por alguns anos e construímos relações de afeto com os atendidos. Com a grande providência de Deus, conseguimos levar alguns deles no Genfest local da Mariapolis Ginetta, em 2018.

Com o passar dos anos, começou a crescer em mim o desejo de fazer uma missão. A vida cristã é inerentemente missionária, onde quer que estejamos, mas eu tinha esse anseio de imersão. Inicialmente, pensei na Jordânia, mas no pós-pandemia o voluntariado na organização que queria não havia se restabelecido, e, aos poucos, pensei fazer esta experiência na Terra Santa. A mim me tocava a passagem do Evangelho em que Jesus chora por Jerusalém; eu imaginava o grande amor que Ele sentia por esse lugar, e eu também queria amar. Busquei organizações humanitárias, e, em contato com o centro dos Focolares de lá, me falaram sobre um hospital, que realizava um programa de voluntariado, no qual duas focolarinas também participavam. Pesquisei e vi que davam condições de acomodação, alimentação e ajuda de custo; participei de entrevista e, em novembro de 2022, cheguei em Jerusalém.

O hospital oferecia assistência a idosos, a pacientes crônicos acamados (muitos há anos hospitalizados), e a pessoas em cuidados paliativos. Eu nunca imaginei voluntariar em um hospital - nem sabia que eu precisava tanto disso. Foi transformador o contato com os pacientes. Para mim, era um privilégio poder acompanhar alguém em um momento de tamanha vulnerabilidade, solidão e grandeza - a morte é algo grande, a ser coberta de amor, assim como é a chegada da vida. O hospital era um ambiente multicultural, com pacientes de diversas nacionalidades e religiões. Judeus, mulçumanos e cristãos partícipes nos sofrimentos físicos e emocionais próprios de todo ser humano, ainda que impactados pela doença de modo diferente, em decorrência de desigualdades políticas e socioeconômicas, ou da falta de rede de apoio e afeto. O programa consistia em atuar como cuidadora dos pacientes, mudando-os de posição, trocando fraldas, alimentando-os e dando banho. No meu primeiro plantão, eu me lembro de pensar o que estava fazendo ali. Enfrentei muitas dificuldades e limites, especialmente pela minha falta de força física.

Nas folgas, costuma visitar a cidade de Jerusalém e outras cidades e lugares que fizeram parte da vida de Jesus. Às vezes eu aproveitava para ler determinada passagem do Evangelho que havia se dado naquele lugar e refletir, sem pressa. Como a calma e o silêncio fazem falta na nossa vida de oração. Um amigo diz que a gente deve “saborear” o Evangelho. Esse tempo na Terra Santa foi um banquete espiritual, e acredito que boa parte dos frutos se deu pelos momentos de oração e busca de intimidade com Deus.

Outra grande alegria para mim foi a proximidade com a comunidade local do Movimento dos Focolares e com as focolarinas. Um encontro, em especial, me marcou como grande testemunho de unidade. Na Páscoa, no centro dos Focolares em Jerusalém, uma freira ucraniana se sentou em frente a uma leiga russa e dialogaram sobre o sofrimento enorme e a loucura da guerra. Cerca de três meses depois que eu voltei para o Brasil, após a experiência na Terra Santa, ocorreu o atentado terrorista do Hamas em 7/10 e teve início a guerra de Israel contra o Hamas, provocando destruição terrível em Gaza, morte de milhares de pessoas e acirramento da violência contra palestinos na Cisjordânia, além do crescimento da islamofobia e antissemitismo internacionalmente.

O mundo precisa, hoje mais do que nunca, de pessoas que não temam gastar sua vida com o que não passa, que a queiram fecunda em frutos de amor. O papa Francisco disse aos jovens: “Arriscar! Amigos, por favor, nunca vos esqueçais duma coisa: sois todos – sem exceção – um tesouro, um tesouro único e precioso. Por isso, não mantenhais a vida num cofre, pensando que é melhor poupar-se e que o momento de a gastar ainda não chegou! (...) Ao contrário, como é bom deixar agora um bom rastro no caminho, cuidando da comunidade, dos companheiros de escola, dos colegas de trabalho, da criação... A propósito, far-nos-á bem questionar-nos: Que rastro estou a deixar agora, aqui onde vivo, no lugar onde a Providência me colocou? Este é o primeiro convite: a cultura do cuidado. Se a abraçarmos, contribuímos para fazer crescer a semente da fraternidade (...) [2]”.

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[1]Os Jovens para um Mundo Unido são a expressão juvenil do Movimento dos Focolares. O grupo é formado por membros de diferentes países, culturas e convicções religiosas, unidos no compromisso de viver pela fraternidade universal.

[2]Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Reino do Bahrein por ocasião do "Bahrain Forum For Dialogue: East and West for Human Coexistence", Encontro com os Jovens, 05 nov. 2022.  Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2022/november/documents/20221105-giovani-bahrain.html>.


Fonte: https://www.cidadenova.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF