A formação do clero e a Música Sacra (Presbíteros)
A formação do clero e a Música Sacra
Os postulados derivados da identidade sacerdotal
Para poder compreender a importância da formação relativa à música sacra
dos candidatos ao sacerdócio ministerial, deve-se antes de tudo ter presentes
alguns elementos da identidade do presbítero e da sua missão específica.
Na Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, sobre a
formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais, de 25 de Março de 1992, João
Paulo II, colocando as raízes da identidade sacerdotal no mistério da
Santíssima Trindade e da comunhão da Igreja, observa: «O presbítero, […] em
virtude da consagração que recebe pelo sacramento da Ordem, é enviado pelo Pai,
através de Jesus Cristo, ao qual como Cabeça e Pastor do seu povo é configurado
de modo especial para viver e atuar, na força do Espírito Santo, ao serviço da
Igreja e para a salvação do mundo». Por conseguinte, o presbítero «encontra a
verdade plena da sua identidade no facto de ser uma derivação, uma participação
específica e uma continuação do próprio Cristo, sumo e único Sacerdote da nova
e eterna Aliança: ele é uma imagem viva e transparente de Cristo Sacerdote».
Contudo, deve-se ter presente que Cristo realizou o seu sacerdócio
plenamente no mistério da sua morte e ressurreição, e este mistério da morte e
ressurreição «está de certo modo recolhido […] e ‘concentrado’ para sempre» na
Eucaristia, na qual «Cristo entregou à Igreja a atualização perene do mistério
pascal. Com ele, instituiu uma misteriosa ‘contemporaneidade’ entre [o Triduum
Paschale] e o transcurso de todos os séculos». Por outras palavras, a
Eucaristia «é o sacrifício da Cruz que se perpetua através dos séculos».
Portanto, «quando a Igreja celebra a Eucaristia, […] este acontecimento central
de salvação torna-se realmente presente e ‘realiza-se a obra da nossa
redenção’».
Ora, a Eucaristia está estreitamente ligada ao sacramento da Ordem,
aliás é «a principal e central razão de ser do sacramento do Sacerdócio, que
nasceu efetivamente no momento da instituição da Eucaristia e juntamente com
ela». Por conseguinte, os sacerdotes – como nos recorda o Concílio Vaticano II
–, na sua qualidade de ministros das coisas sagradas, «são sobretudo os
ministros do sacrifício da Missa» .
Há um vínculo estreito também entre toda a atividade e eficácia pastoral
dos presbíteros e a Eucaristia. De facto, o Decreto conciliar sobre o
ministério e a vida dos presbíteros, Presbyterorum ordinis, indica a caridade
pastoral como «o vínculo de perfeição sacerdotal que reduzirá à unidade a sua
vida e ação», acrescentando imediatamente que «a caridade pastoral brota
sobretudo do Sacrifício Eucarístico».
Partindo destes elementos da identidade do sacerdote e da sua missão,
não é difícil perceber a responsabilidade dos sacerdotes pela Eucaristia. Eles
não são apenas ministros da Eucaristia, mas dependerá deles principalmente a
forma como será também celebrada na realidade a Eucaristia, como será
compreendida e vivida pelos fiéis. Dependerá deles a orientação da música e do
canto sagrado nas nossas igrejas. Seria irrealista esperar a promoção da
genuína música sacra na liturgia, sem uma adequada preparação de quantos devem
desempenhar neste sector um papel predominante.
A Eucaristia e a Liturgia das Horas na formação sacerdotal
Das considerações feitas até agora resulta também que, quanto mais
profundamente o sacerdote compreende e na realidade vive a Eucaristia – que é o
centro de toda a liturgia –, tanto melhor poderá compreender e orientar a
música sacra. De facto, o canto e a música sacra são «parte necessária e
integral da liturgia solene», devem portanto estar intimamente harmonizados com
a liturgia, participar eficazmente na sua finalidade, ou seja, devem expressar
a fé, a oração, a admiração, o amor a Jesus presente na Eucaristia. Por isso, o
Catecismo da Igreja Católica repete mais uma vez que o canto e a música sacra
desempenham a sua função de sinais de maneira tanto mais significativa «quanto
mais estreitamente estão unidos à ação litúrgica», e quanto mais exprimem a
oração.
A Eucaristia
Por conseguinte, na nossa perspectiva, é também importante que os
seminaristas:
a) Sejam educados para compreenderem a Eucaristia na sua plena dimensão
e valor; se deem conta de que «na Santíssima Eucaristia está contido todo o bem
espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa»; que Ela é «o
vértice da oração cristã»; que é «fonte e ápice de toda a vida cristã» e «todos
os sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e as obras de
apostolado, estão estreitamente unidos à sagrada Eucaristia e para ela estão
ordenados» .
b) Se deem conta do seu papel em relação à Eucaristia, ou seja, que «na
sua qualidade de ministros das coisas sagradas, são sobretudo os ministros do
Sacrifício da Missa» e que, por conseguinte, «o seu papel é totalmente
insubstituível, porque sem sacerdote não pode haver oferta Eucarística»; que se
consciencializem também da sua tarefa no que se refere à compreensão e à
promoção da Eucaristia na vida dos fiéis.
c) Recebam uma adequada educação litúrgica juntamente com a devida
explicação do significado das normas litúrgicas.
d) Sejam introduzidos a viver intensamente e a amar a Eucaristia. A este
propósito, o Código de Direito Canónico prescreve: «A celebração eucarística
seja o centro de toda a vida do seminário, de forma que todos os dias os
alunos, participando da própria caridade de Cristo, possam haurir sobretudo
desta fonte abundantíssima as forças para o trabalho apostólico e para a sua
vida espiritual». De igual modo, a Ratio fundamentalis institutionis
sacerdotalis diz: «A celebração quotidiana da Eucaristia […] deve ser o centro
de toda a vida do seminário, e os alunos devem participar nela com devoção».
A Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, precisamente da relação
entre a Ordem sagrada e o Sacrifício da Missa, deduz «a importância fundamental
da Eucaristia na vida e no ministério sacerdotal e, por conseguinte, na
formação espiritual dos candidatos ao sacerdócio». Aliás, João Paulo II, não só
recomenda que a participação quotidiana dos seminaristas na Eucaristia se torne
depois ‘regra da sua vida sacerdotal’, mas também que sejam educados a
considerar a celebração eucarística como o momento essencial do seu dia a dia,
no qual participarão ativamente, nunca se contentando com uma assistência
meramente rotineira», que sejam «formados nas íntimas disposições que a
Eucaristia promove: o reconhecimento pelos benefícios recebidos do alto, pois a
Eucaristia é ação de graças; a atitude oblativa que os estimula a unir à oferta
eucarística de Cristo a própria oferta pessoal; a caridade alimentada por um
sacramento que é sinal de unidade e de partilha; o desejo de contemplação e de
adoração diante de Cristo realmente presente sob as espécies eucarísticas».
Estou profundamente convencido de que a compreensão e a atitude correta
e apaixonada para com a música sacra dependem do modo de compreender e de viver
a liturgia, e especialmente a Eucaristia.
Por Cardeal Zenon Grocholewski
Fonte:
https://presbiteros.org.br/