Translate

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Educar o coração (2/3)

Foto: Twistiti

Educar o coração

Os sentimentos formam-se especialmente durante a infância. Aprende-se a amar desde pequeno e os principais mestres são os pais, como se salienta neste artigo sobre a família.

21/08/2012

FACILITAR A PURIFICAÇÃO DO CORAÇÃO

Na constituição do homem, as paixões têm como finalidade facilitar a ação voluntária, mais do que desvanecê-la ou dificultá-la. «A perfeição moral consiste em que o homem não seja movido ao bem apenas pela sua vontade, mas também pelo seu apetite sensível de acordo com estas palavras do salmo: “O meu coração e a minha carne gritam de alegria para o Deus vivo” (Sl 84,3)»[5]. Por isso, não é conveniente querer suprimir ou “controlar” as paixões, como se fossem algo mau ou recusável. Embora o pecado original as tenha desordenado, não as desnaturalizou, nem as corrompeu de um modo absoluto e irreparável. É preciso orientar a emotividade de modo positivo, dirigindo-a para os bens verdadeiros: o amor a Deus e aos outros. Daí que os educadores, os pais em primeiro lugar, devam procurar que o educando, na medida do possível, desfrute fazendo o bem.

Formar a afetividade requer, em primeiro lugar, facilitar que os filhos se conheçam, e que sintam, de um modo proporcional à realidade que despertou a sua sensibilidade. Trata-se de ajudar a superar, a transcender, aquele afeto até ver na sua justa medida a causa que o provocou. Talvez o resultado dessa reflexão seja a tentativa de influenciar positivamente para modificar tal causa; noutras ocasiões – a morte de um ser querido, uma doença grave – a realidade não se poderá mudar e será o momento de ensinar a aceitar os acontecimentos como vindos da mão de Deus, que nos ama como um Pai ao seu filho. Outras vezes, a propósito de uma irritação, de uma reação de medo, ou de uma antipatia, o pai ou a mãe podem falar com os filhos, ajudando-os a entender – na medida do possível – o motivo dessa sensação, de modo a poderem superá-la; assim, conhecer-se-ão melhor a si próprios e serão mais capazes de pôr o mundo dos afetos no seu lugar.

Além disso, os educadores podem preparar a criança ou o jovem para que reconheça – neles próprios e nos outros – um determinado sentimento. É preciso criar situações, como as histórias da literatura ou do cinema, através das quais seja possível aprender a dar respostas afetivas proporcionadas, que colaborem para modelar o mundo emocional do homem. Um relato interpela quem o vê, lê ou escuta e move os seus sentimentos numa determinada direção e acostuma-o a um determinado modo de olhar a realidade. Dependendo da idade – neste sentido, a influência pode ser maior quanto menor for a criança – uma história de aventuras, ou de “suspense”, ou então um relato romântico, podem contribuir para reforçar os sentimentos adequados perante situações que objetivamente os merecem: indignação frente à injustiça, compaixão pelos desvalidos, admiração com respeito ao sacrifício, amor diante da beleza. Contribuirá, além disso, para estimular o desejo de possuir esses sentimentos, porque são belos, fontes de perfeição e de nobreza.

Bem orientado, o interesse pelas boas histórias também educa progressivamente o gosto estético e a capacidade de discriminar as que possuem qualidade. Isto fortalece o sentido crítico e é uma ajuda eficaz para prevenir a falta de tom humano, que por vezes degenera em vulgaridade e em descuido do pudor. Sobretudo nas sociedades do chamado primeiro mundo, generalizou-se um conceito de “espontaneidade” e “naturalidade” que com frequência é alheio ao decoro. Quem se habitua a esse tipo de ambientes – independente da idade – acaba por rebaixar a sua própria sensibilidade e animalizar (frivolamente) suas reações afetivas; os pais devem comunicar aos filhos uma atitude de recusa da vulgaridade, também quando não se fale de questões diretamente sensuais.

De resto, convém recordar que a educação da afetividade não se identifica com a educação da sexualidade: esta é apenas uma parte do campo emocional. Mas, certamente, quando se conseguiu criar um ambiente de confiança na família será mais fácil que os pais falem com os filhos sobre a grandeza e o sentido do amor humano e lhes dêem, pouco a pouco, desde pequenos, os recursos – através da educação dos sentimentos e das virtudes – para orientar adequadamente essa faceta da vida.

J.M. Martín, J. Verdiá

[5] Catecismo da Igreja Católica, n. 1770.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

A "Veritatis Guadium" e a renovação dos estudos eclesiásticos

Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (Vatican Media)
 A “VERITATIS GAUDIUM” E A RENOVAÇÃO DOS ESTUDOS ECLESIÁSTICOS NA IGREJA EM SAÍDA

Dom João Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

A Constituição Apostólica “Veritatis Gaudium”, promulgada pelo Papa Francisco em 2017, propõe uma revisão dos estudos eclesiásticos, atualizando a Constituição Apostólica “Sapientia Christiana” de São João Paulo II, reconhecendo a atualidade de sua visão profética e a necessidade de integrá-la com as normativas subsequentes. Com essa nova Constituição, o Papa Francisco busca imprimir uma renovação nos currículos eclesiásticos, alinhada à proposta da Igreja “em saída”, a fim de formar sujeitos eclesiais comprometidos com a transformação missionária da Igreja, capazes de dialogar com novas fronteiras culturais e ambientais, bem como de atuar com competência frente aos desafios contemporâneos. 

Diante da crise antropológica e socioambiental global, evidenciada por sinais de ruptura, catástrofes naturais, crises sociais e financeiras, torna-se imperativo mudar o modelo de desenvolvimento global e redefinir o progresso. No entanto, para uma tarefa tão ambiciosa, necessita-se de uma nova cultura que forme lideranças capazes de traçar caminhos. Nesse contexto, a renovação dos estudos eclesiásticos torna-se necessária para formar líderes eclesiais que sejam agentes de mudança e capazes de enfrentar os desafios complexos da atualidade. Assim, a renovação dos estudos eclesiásticos não é apenas uma necessidade acadêmica, mas uma resposta prática ao chamado do Papa Francisco para uma Igreja em saída, comprometida profeticamente em promover uma verdadeira revolução cultural. Vivemos uma mudança epocal com vários sinais de ruptura, e “o problema é que não dispomos ainda da cultura necessária para enfrentar esta crise e há necessidade de construir lideranças que tracem caminhos” (Veritatis Gaudium, n. 3; Laudato Sì, n. 53). 

Essa tarefa desafiadora e inadiável requer, no âmbito cultural da formação acadêmica e da pesquisa científica, um compromisso generoso e convergente em favor de uma mudança radical de paradigma e de uma autêntica revolução cultural. “A este compromisso, a rede mundial de Universidades e Faculdades eclesiásticas é chamada a prestar o decisivo contributo de fermento, sal e luz do Evangelho de Jesus Cristo e da Tradição viva da Igreja sempre aberta a novos cenários e propostas” (Veritatis Gaudium, n. 3). As universidades, incluindo os estudos eclesiásticos, são chamadas a dotar-se de centros especializados que aprofundem o diálogo com diversas disciplinas científicas. A pesquisa partilhada entre especialistas de diferentes áreas é vista como um serviço qualificado ao Povo de Deus e ao Magistério, contribuindo para a missão da Igreja de anunciar a boa nova de Cristo. Ao viver na fronteira e dialogar com as questões e aflições do povo, os estudos eclesiásticos podem oferecer uma contribuição inspiradora e orientadora, mantendo-se fiéis à sua missão na fronteira da teologia e cultura cristã (Veritatis Gaudium, n 5).

Ao considerar os critérios essenciais para a renovação dos estudos eclesiásticos em prol de uma Igreja em saída, é imperativo que o relançamento destes estudos impulsione vigorosamente a pesquisa científica nas universidades e faculdades eclesiásticas. Este processo deve transcender as fronteiras tradicionais, transformando-se não apenas em um meio de formação qualificada para clérigos, religiosos e leigos, mas também em um ambiente dinâmico de reflexão e prática. Pode-se concebê-lo como um “laboratório cultural”, onde a Igreja se empenha na interpretação ativa da realidade que emana do evento de Jesus Cristo, ao mesmo tempo em que se nutre dos dons da Sabedoria e da Ciência, enriquecendo de diversas maneiras o Povo de Deus sob a influência do Espírito Santo (Veritatis Gaudium, n. 3). Nessa perspectiva, os estudos eclesiásticos não devem apenas transferir conhecimentos, mas também elaborar instrumentos intelectuais que sejam paradigmas de ação e pensamento, adequados para o anúncio em um mundo caracterizado pelo pluralismo ético-religioso. Assim também a pesquisa científica deve elevar sua qualidade e avançar nos estudos teológicos e ciências correlacionadas, indo além do simples diagnóstico para aprofundar a comunicação eficaz da verdade do Evangelho em contextos específicos. A criação de novos centros de pesquisa, reunindo estudiosos de diferentes universos religiosos e competências científicas, torna-se crucial para promover o diálogo e enfrentar desafios globais, como o cuidado da natureza e a defesa dos pobres (Veritatis Gaudium, 5).


Fonte: https://www.cnbb.org.br/

RELIGIÃO: O desafio antropológico (2/2)

De onde nós viemos? Quem nós somos? Para onde vamos?, Paul Gauguin, óleo sobre tela, 1897, Museu de Belas Artes, Boston (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 07/08-2004

FÉ E CULTURA. Entrevista com o patriarca de Veneza

O desafio antropológico

«Trata-se de enfrentar a dramaticidade da pessoa, porque cada um de nós é um, mas somos “um de alma e de corpo”, “um de homem e de mulher”, “um de indivíduo e de comunidade”». Uma conversa entre o correspondente vaticano de la Repubblica e o cardeal Angelo Scola.

por Marco Politi

Então você apoia isso?
SCOLA: Que é necessário reiterar com força esta natureza “nupcial” do amor (si, o outro e o terceiro: pai, mãe e filho), isto é, esta unidade inseparável entre diferença sexual, doação e fecundidade. Afirmar claramente que se as tecnologias atuais nos permitem separar estes três fatores, não é conveniente separá-los. O Papa deu uma enorme contribuição neste sentido e ainda há muito trabalho a fazer.

Os jovens aceitarão esta abordagem?
SCOLA: É uma discussão que pode ajudá-los a compreender que se falamos de casamento indissolúvel, não é por uma fixação anacrónica, mas porque é a forma mais humana e completa de viver a relação entre homem e mulher. Tenho em mente os meus pais, depois de sessenta anos de casamento, e ainda me lembro do olhar cheio de estima, ternura e perdão com que se olhavam...

Você sabia que a grande maioria da Itália rejeita o casamento eterno?

SCOLA: No final da vida, percebemos que o casamento indissolúvel foi o grande alicerce sobre o qual o ego permaneceu protegido de qualquer fuga desestabilizadora e do risco de auto-aniquilação que, infelizmente, estão bastante enraizados no homem.

Você não tem medo de que isso possa ser percebido como uma visão muito tranquilizadora?
SCOLA: Um dia, no avião, deparei-me com uma revista com um artigo sobre Picasso e os seus nus eróticos pintados no final da sua vida, e pensei: este homem é sem dúvida um génio que, com mais de oitenta anos, frequenta muitos modelos, certamente soube captar alguns aspectos do feminino que meu pai e minha mãe – meu pai caminhoneiro, minha mãe uma mulher que cursou a segunda série – nem sonhariam... Mas, humanamente falando, meu pai e minha mãe tiveram mais sucesso na experiência do amor de Picasso, porque na fidelidade ao casamento aprenderam o dom permanente de si mesmos. Picasso, ao mudar muitas mulheres, pode ter capturado muitos aspectos profundos da psicologia do feminino, mas a experiência intensamente humana dos meus pais... Bem, tinha uma qualidade muito diferente.

Como podemos levar em conta o princípio do prazer, que é um elemento forte do mundo moderno?
SCOLA: Nas Cartas de Screwtape, do escritor Lewis, um demônio idoso instrui um jovem demônio sobre como levar os homens à perdição.

Como é?
SCOLA: Você afirma que um sistema infalível consiste em insistir - como também fazem alguns católicos - em apresentar o prazer como algo contra Deus.
SCOLA: O problema é situar o prazer na experiência do prazer. E a diferença talvez possa ser percebida precisamente olhando para o ato conjugal. O desejo busca o gozo que é para sempre, definitivo. O lugar do Gaudium para os grandes escolásticos é o céu. O prazer por si só não dura. Ele está sempre na hora certa. Isto abre a grande questão sobre o que é o desejo que, em última análise, pode ser descrito como o desejo de ser definitivamente amado e de amar definitivamente.

Uma meta alcançável?
SCOLA: Envolve objetar que a realização do desejo não está ao alcance do meu eu desejante. Essa é a questão. O fato de o horizonte do meu desejo ser o infinito não significa que eu seja capaz de realizá-lo.

Então?
SCOLA: Para conseguir isso tenho que passar pelo outro. E se passo para o outro, nesse ponto o meu desejo encontra o sacrifício, porque o outro é sempre diferente de mim. O segredo está em compreender que o sacrifício não começa onde termina o desejo, e o querer não termina onde começa o dever. O dever é interno ao querer. O sacrifício é interno ao desejo.

O sacrifício como componente estrutural do desejo?
SCOLA: Parece-me que Freud também diz essas coisas. Quando fala, de forma um tanto truculenta, do princípio da “castração”, quer dizer que até que a criança em sua relação com a mãe aprenda a “entregar” (sacrificar) algo ao pai, ela não consegue dizer “eu ". Ele vivencia a mãe como uma pura extensão de si mesmo. Neste ponto, a psicologia profunda e a visão cristã das coisas concordam.


Girassóis, Paul Gauguin, óleo sobre tela, 1901, Museu Hermitage, São Petersburgo (30Giorni)

O que a Igreja pode aprender do mundo moderno?
SCOLA: Duas coisas são extremamente importantes para mim: em primeiro lugar, dar todo o peso necessário à liberdade da pessoa e depois aceitar o princípio de que, uma vez que o mundo foi salvo por Cristo, a Igreja deve ser concebida como uma entidade transparente e sinal vital desta salvação. Portanto, ele deve compreender a “carne” da sua proposta a partir das circunstâncias da vida cotidiana. Por outras palavras, a evangelização não pode reduzir-se a conteúdos que já tenho no bolso e que devo transmitir, mas desenrola-se nas imprevisíveis circunstâncias pessoais, comunitárias e sociais com que sou confrontado.

Pode-se dizer que o mundo é o protagonista e não é mais visto como inimigo?
SCOLA: «O campo é o mundo» diz Mateus (Mt 13, 38). O mundo não está fora da Igreja, não é absolutamente outra coisa. Depois da provação dos anos que prepararam e seguiram o Concílio Vaticano II, penso que hoje somos capazes de oferecer uma teologia mais serena da relação Igreja-mundo. Por exemplo, hoje todos nós, no Ocidente, estamos a debater-nos face à tragédia do momento geopolítico: não é como se nós, cristãos, tivéssemos soluções pré-embaladas nos nossos bolsos! Mas somos chamados a pôr mãos à obra, com todos os homens, cada um fazendo a sua parte.

A aceitação das coisas positivas trazidas pelo Iluminismo também faz parte desta relação serena com o mundo?
SCOLA: Acho que sim, quando entendermos bem. Por outro lado, muito se poderia discutir se o triplo lema “liberdade, igualdade, fraternidade” já era de inspiração cristã ou não. Contudo, não há dúvida de que a conquista do respeito absoluto pela dignidade de cada indivíduo e dos consequentes direitos pessoais, sociais, políticos e económicos, como ponto sagrado e intransponível, garantido em última instância por Deus, é um princípio indispensável. Por outro lado, estou fortemente convencido de que uma reflexão equilibrada e fiel à sã doutrina cristã pode dar a sua contribuição aos desenvolvimentos mais interessantes da atualidade na fenomenologia, na hermenêutica ou mesmo na filosofia transcendental. Estas são as correntes de pensamento que tentam responder ao “ainda insatisfeito Iluminismo”.

(Cortesia de la Repubblica)

Fonte: https://www.30giorni.it/

Oriente Médio, Parolin: grande preocupação com um possível conflito generalizado

Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, durante a entrevista (Vatican Media)

O secretário de Estado, à margem de um evento no Senado italiano sobre o cardeal Achille Silvestrini, comenta os recentes ataques no Mar Vermelho e em Erbil: se não forem tomadas medidas, o conflito se espalhará. O cardeal relança o apelo do Papa para "uma economia inclusiva e social" em Davos e expressa a esperança de que os valores dos católicos, como o da vida, "possam encontrar um lugar na política atual e também ser traduzidos em realidade".

Salvatore Cernuzio - Cidade do Vaticano

O Secretário de Estado Pietro Parolin observa "com grande preocupação" os recentes ataques no Mar Vermelho pelos rebeldes Houthi, a escalada da violência em Gaza e também o ataque com mísseis iranianos a Erbil, no Curdistão iraquiano. O que é temido, "se não forem tomadas medidas contrárias", é "uma ampliação, uma escalada" do conflito: "Precisamente o que queríamos evitar". Exatamente o que o Papa também expressou na audiência geral de hoje. "Um dos pontos fundamentais é que este conflito não deve se ampliar...", disse o cardeal em diálogo com alguns jornalistas à margem de um evento no Palazzo Giustiniani, no Senado italiano, sobre a figura do memorável cardeal Achille Silvestrini. "O perigo existe, os ânimos estão exaltados e a situação é delicada... Devemos garantir que todos tentem controlar as reações para que não haja um conflito generalizado".

A solução: dois povos, dois Estados 

Ao entrar com firmeza nas especificidades do conflito entre Israel e o Hamas, o cardeal reitera o que para a Santa Sé é a "solução": dois povos, dois Estados. Hipótese histórica que o Hamas, através das palavras de seu líder no exterior Khaled Meshal, disse hoje rejeitar categoricamente. "Para nós, ao contrário, dois povos, dois Estados continua sendo a solução. O importante também é encontrar uma maneira de realizar o diálogo para que ele possa ser feito concretamente".

Comprometidos com a dimensão humanitária na Ucrânia

Com apreensão, Parolin então olha para o destino da Ucrânia e reitera o envolvimento da Santa Sé em uma solução de paz: "Mesmo que nos limitemos, pelo menos até agora, à dimensão humanitária", esclarece. "Um dos dez pontos da chamada plataforma de paz de Zelensky trata da questão humanitária e é aí que a Santa Sé está concentrando seus esforços", diz ele. Sobre a conferência de paz de alto nível solicitada pelo próprio Zelensky em Davos, onde discursou no Fórum Econômico Mundial, que teve início ontem (16/01), Parolin explica que, como nas três edições anteriores (a última na Arábia Saudita), a Santa Sé certamente participará dela. "Agora, o representante permanente em Genebra, Dom Ettore Balestrero, designado pela Secretaria de Estado, está participando desse encontro".

Uma economia inclusiva e social

Com o olhar ainda voltado para Davos, o Secretário de Estado relança o apelo contido na mensagem enviada pelo Papa Francisco aos participantes nesta manhã (17/01), ou seja, o compromisso com "uma economia inclusiva e social" que "embora se ajuste aos critérios econômicos, não exclui ninguém e é a favor do desenvolvimento e das pessoas mais vulneráveis. A serviço da humanidade".

Cristãos perseguidos: um direito de todas as religiões a ser respeitado

O cardeal também comentou o relatório apresentado novamente esta manhã na Câmara dos Deputados pela organização Portas Abertas sobre a perseguição dos cristãos no mundo: cerca de 365 milhões de pessoas sofrem violência e perseguição por causa de suas crenças. Isso também é uma "grande preocupação" para a Santa Sé, diz o cardeal: "Os cristãos em muitas partes do mundo não têm o mínimo de liberdade religiosa que é seu direito e que é o direito de todas as religiões de serem respeitadas em suas manifestações de fé. Por outro lado, o Evangelho já havia previsto isso... Não queremos com isso promover essas coisas, mas é um pouco a condição dos cristãos no mundo encontrar hostilidade, oposição, perseguição. Testemunhar o nome de Jesus implica isso".

Diálogo com a política

Por fim, perguntou-se ao Secretário de Estado, lembrando a figura de Silvestrini, um homem de diálogo com a política e as instituições, sobre o tipo de diálogo possível hoje entre a política e a Santa Sé. Um diálogo necessário, de acordo com o cardeal: "Deve haver, mas se você se lembra", diz Parolin, "o Papa no início de seu pontificado disse que as relações com a política italiana são de responsabilidade da CEI. No entanto, acredito que, na situação particular em que vivemos, não podemos nos isentar das relações com a Santa Sé. O importante é que haja coordenação, colaboração, entre a Santa Sé e a Conferência Episcopal Italiana, de modo que os mesmos pontos sejam observados".

Espaço para os valores cristãos na política

O cardeal também foi questionado sobre o 30º aniversário do fim do Partido Democrata Cristão, que é lembrado nestes dias na Itália: há falta de uma entidade política que represente as demandas dos católicos? "O passado não pode ser repetido", responde Parolin. "Foi uma época que teve suas grandezas e fraquezas e também suas limitações, mas acabou e sabemos como. Além da fórmula, o importante é que os valores dos católicos - que são valores humanistas - possam encontrar um lugar na política de hoje e também ser traduzidos em realidade". Valores como "solidariedade" e "subsidiariedade", que também são "princípios da nossa Constituição", especifica o cardeal. Valores também como o fim da vida, uma questão que se tornou central nos últimos dias com a lei que não foi aprovada no Vêneto: "É uma preocupação nossa. A vida em todas as suas fases, suas dimensões, suas expressões, desde o início natural até o fim natural", enfatizou Parolin.

Apoio à África

Para concluir, o desejo do Secretário de Estado é que possa ser dado apoio ao Plano Mattei para a África, sobre o qual será realizada uma conferência internacional no próprio Senado nos dias 28 e 29 de janeiro. "A África precisa de colaboração internacional. A África deve resolver seus problemas por si mesma", afirmou o cardeal. "E não poderá fazê-lo se não houver colaboração e ajuda desinteressada da comunidade internacional."

O cardeal também foi parabenizado pelos jornalistas por seu 69º aniversário, comemorado exatamente hoje, 17 de janeiro.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Educar o coração (1/3)

Foto: Twistiti

Educar o coração

Os sentimentos formam-se especialmente durante a infância. Aprende-se a amar desde pequeno e os principais mestres são os pais, como se salienta neste artigo sobre a família.

21/08/2012

A educação é um direito e um dever dos pais que prolonga, de algum modo, a geração; pode-se dizer que o filho, enquanto pessoa, é o fim primário para o qual tende o amor dos esposos em Deus. A educação aparece, assim, como a continuação do amor que trouxe a vida ao filho, onde os pais procuram dar-lhe os recursos para que possa ser feliz, capaz de assumir o seu lugar no mundo com elegância humana e sobrenatural.

Os pais cristãos vêem em cada filho uma mostra da confiança de Deus e educá-los bem é – como dizia S. Josemaria – o melhor negócio; um negócio que começa na concepção e dá os seus primeiros passos na educação dos sentimentos, da afetividade. Se os pais se amam e vêem no filho o cume da sua entrega, educá-lo-ão no amor e para amar; dito de outro modo: cabe aos pais, em primeiro lugar, educar a afetividade dos filhos, normalizar os seus afetos, conseguir que sejam crianças serenas.

Os sentimentos formam-se de um modo especial durante a infância. Depois, na adolescência, podem produzir-se as crises afetivas e os pais devem colaborar para que os filhos as solucionem. Se quando eram pequenos foram criados calmos, estáveis, superarão com mais facilidade esses momentos difíceis. Além disso, o equilíbrio emocional favorece o crescimento dos hábitos da inteligência e da vontade; sem harmonia afetiva, é mais difícil o desenvolvimento do espírito.

Logicamente, uma condição imprescindível para edificar uma boa base afetivo-sentimental é que os pais procurem aperfeiçoar a sua própria estabilidade emocional. Como? Melhorando o convívio familiar, cuidando da sua união, demonstrando – com prudência – o seu amor mútuo diante dos filhos. No entanto, por vezes tendemos a pensar que os afetos ou os sentimentos transbordam o âmbito educativo familiar; talvez porque parece que são algo que acontece, que escapa ao nosso controle e não podemos alterar. Chega-se, inclusive, a vê-los numa perspectiva negativa; pois o pecado desordenou as paixões e estas dificultam o agir racionalmente.

NA ORIGEM DA PERSONALIDADE

Esta atitude passiva ou mesmo negativa, presente em muitas religiões e tradições morais, contrasta fortemente com as palavras que Deus dirigiu ao profeta Ezequiel: dar-lhes-ei um coração de carne, para que sigam os meus preceitos, guardem as minhas leis e as cumpram [1]. Ter um coração de carne, um coração capaz de amar, apresenta-se como uma realidade criada para seguir a vontade divina: as paixões desordenadas não seriam tanto um fruto do excesso de coração como a consequência de possuir um mau coração, que deve ser curado. Cristo assim o confirmou: o homem bom, do bom tesouro do seu coração retira o bem; o homem mau, do mau tesouro tira o mal: porque a boca fala da abundância do coração[2]. Do coração do homem saem as coisas que o fazem impuro[3], mas também todas as coisas boas.

O homem necessita dos afetos, pois são um poderoso motor para a ação. Cada um tende para o que lhe agrada e a educação consiste em ajudar a que essas tendências coincidam com o bem da pessoa. Cabe comportar-se de modo nobre e com paixão; o que há de mais natural do que o amor de uma mãe pelo seu filho? E como esse carinho estimula a tantos atos de sacrifício, levados com alegria! E, diante de uma realidade que, por qualquer motivo, é desagradável, quão mais fácil é evitá-la! Num determinado momento, aperceber-se da “fealdade” de uma ação má, pode ser um motivo mais forte para não cometê-la do que milhares de raciocínios.

Evidentemente, isto não deve confundir-se com uma visão sentimentalista da moralidade. Não se trata de que a vida ética e o trato com Deus devam abandonar-se aos sentimentos. Como sempre, o modelo é Cristo: n’Ele, perfeito Homem, vemos como os afetos e as paixões cooperam no reto agir: Jesus comove-Se diante da realidade da morte e faz milagres; em Getsêmani, encontramos a força de uma oração que dá origem a sentimentos vivíssimos; invade-O inclusive a paixão da ira – boa neste caso – quando restitui ao Templo a sua dignidade [4]. Quando se deseja algo verdadeiramente, é normal que o homem se apaixone. Pelo contrário, é pouco agradável ver alguém fazer as coisas só por fazer, com descaso, sem pôr nelas o coração. Mas isto não significa deixar-se arrastar pelos afetos; se bem que o mais importante é pôr a cabeça no que se faz, o sentimento dá cordialidade à razão, faz com que o bom seja agradável; a razão – por seu lado – proporciona luz, harmonia e unidade aos sentimentos.

J.M. Martín, J. Verdiá

[1] Ez 11, 19-20.

[2] Lc 6, 45.

[3] Cfr. Mc 7, 20-23.

[4] Cfr. Mc 5, 40-43; 14, 32ss; 11, 15-17.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Francisco: a guerra destrói sempre, semeia ódio, uma verdadeira derrota humana

A bandeira ucraniana carregada pelos acrobatas do Circo Royal que se apresentaram na Sala Paulo VI na Audiência Geral (Vatican Meia)

Na Audiência Geral, o Papa expressou solidariedade às vítimas, todas civis, do ataque com mísseis em Erbil, no Curdistão iraquiano: "As boas relações entre vizinhos não são construídas com tais ações, mas com o diálogo e a colaboração". Ele convidou todos a "evitar qualquer medida que aumente a tensão no Oriente Médio e em outros cenários de guerra" e rezou para que "os cristãos cheguem à plena comunhão".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

No final da Audiência Geral desta quarta-feira (17/01), o Papa Francisco fez o seguinte apelo:

“Expresso minha proximidade e solidariedade às vítimas, todas civis, do ataque com mísseis que atingiu uma área urbana de Erbil, capital da região autônoma do Curdistão iraquiano. As boas relações entre vizinhos não são construídas com tais ações, mas com o diálogo e a colaboração. Peço a todos que evitem qualquer medida que aumente a tensão no Oriente Médio e em outros cenários de guerra.”

O pontífice não deixou de mencionar o que aconteceu na região autônoma do Curdistão iraquiano, onde os Guardas Revolucionários Iranianos alegaram ter "alvejado e destruído uma das principais sedes da espionagem do regime sionista (Mossad)" no ataque com "mísseis balísticos" a Erbil, no norte do Iraque. No ataque, pelo menos cinco civis foram mortos, incluindo uma menina de onze meses, e várias outras crianças ficaram feridas. O fato foi relatado pela ONG Hengaw Organization for Human Rights. 

Que os cristãos cheguem à plena comunhão

Na saudação aos fiéis, em italiano, o Santo Padre recordou que nesta quinta-feira, 18 de janeiro, tem início, no Hemisfério Norte, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. No Brasil, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos se realiza de 12, Ascensão do Senhor, a 19 de maio, Solenidade de Pentecostes.

Este ano, o tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é “Amarás o Senhor teu Deus... e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10, 27).

Convido-os a rezar, para que os cristãos cheguem à plena comunhão e deem um testemunho unânime de amor para com todos, especialmente para com os mais frágeis.

Depois de saudar os jovens, os doentes, os idosos e os recém-casados, Francisco lembrou que nesta quarta-feira a Igreja recorda Santo Antão Abade, um dos fundadores do monaquismo. "Que o seu exemplo os encoraje a acolher o Evangelho sem fazer concessões."

O Royal Circus com a bandeira ucraniana

Um grupo de acrobatas e malabaristas do Royal Circus se apresentou, na Sala Paulo VI. Os membros do grupo usavam a bandeira da Ucrânia, um sinal de solidariedade para com a população que sofre um conflito que já dura quase dois anos.

“E não esqueçamos os países que estão em guerra, não esqueçamos a Ucrânia, não esqueçamos a Palestina, Israel, não esqueçamos os habitantes da Faixa de Gaza que sofrem tanto. Rezemos pelas muitas vítimas da guerra, muitas vítimas. A guerra destrói sempre, a guerra não semeia amor, semeia ódio. A guerra é uma verdadeira derrota humana. Rezemos pelas pessoas que sofrem na guerra.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

RELIGIÃO: O desafio antropológico (1/2)

O Cristo Amarelo, Paul Gauguin, óleo sobre tela, 1889, Albright Knox Art Gallery, Buffalo, Nova York (30Giorni)

Arquivo 30Dias - 07/08-2004

FÉ E CULTURA. Entrevista com o patriarca de Veneza

O desafio antropológico

«Trata-se de enfrentar a dramaticidade da pessoa, porque cada um de nós é um, mas somos “um de alma e de corpo”, “um de homem e de mulher”, “um de indivíduo e de comunidade”». Uma conversa entre o correspondente vaticano de la Repubblica e o cardeal Angelo Scola

por Marco Politi

Igreja e sociedade pós-moderna. É o grande desafio de hoje. Numa conversa tensa, o patriarca de Veneza, Angelo Scola, não foge à comparação e, aliás, na longa conversa que tive com ele, o cardeal parte de uma confissão autocrítica. «A fraqueza da proposta cristã atual» afirmou «está na incapacidade de mostrar a implicação antropológica, social e cosmológica dos mistérios da nossa fé».

O dogma é útil? ANGELO SCOLA: Respondo pegando um belo subtítulo de uma grande obra de De Lubac, Catolicismo, que dizia: Os aspectos sociais do dogma. 

O que significa mostrar suas implicações sociais? SCOLA: Trata-se de abordar a dramaticidade da pessoa, porque cada um de nós é um, mas somos “um de alma e de corpo”, “um de homem e de mulher”, “um de indivíduo e de comunidade”. 

Por que fala de natureza dramática? SCOLA: A linguagem de hoje confunde drama com tragédia. A palavra drama, porém, indica simplesmente que estamos sempre tensos entre esses dois polos, de forma constitutiva: alma e corpo, homem e mulher, indivíduo e comunidade. Se meu estômago dói, penso pior. Se estou triste porque minha esposa me abandonou, meu estômago dói. Se eu estiver colocado na diferença sexual masculina, não poderei compreender-me senão referindo-me à outra forma, para mim inatingível, de estar na diferença sexual, a feminina. Da mesma forma, nunca posso separar o meu eu individual das relações sociais nas quais está imerso. E isso também se reflete no exercício da minha liberdade. Porque a estrutura da liberdade é tal que estou sempre polarmente tenso entre a minha autoafirmação e a necessária saída para o outro. 

Portanto, o divórcio atual entre fé e cultura...SCOLA: Em última análise, tem uma raiz antropológica. Ou seja: insistimos na identidade do “eu” como se ele já não estivesse imerso na ação. Separamos a pessoa de sua tarefa. Às vezes você pode ver isso em nós, sacerdotes. Tendo um desejo sincero de autenticidade, intensificamos com razão o ascetismo, os retiros espirituais, a meditação, a lectio divina e assim por diante. E ai se nem sempre partimos desses fundamentos! O problema é não perdê-los na hora de agir. Precisamos explicar as implicações antropológicas e sociais do dogma em que acreditamos. Caso contrário, as razões para agir serão emprestadas da mentalidade dominante e dividir-nos-emos em dois. Somos cristãos na intenção, mas na ação nos tornamos outra coisa. Um exemplo concreto? SCOLA: Precisamos ajudar o mínimo, precisamos apoiar a paz... coisas sacrossantas. O problema é por que e como a fé se abre aos últimos, por que e como chama a gastar-se pela paz.

Patriarca Ângelo Scola (30Giorni)

Eminência, o Papa teme a desintegração dos valores cristãos na sociedade. Onde a Igreja e a cultura contemporânea colidem? Onde está o maior ponto de atrito?
SCOLA: Paradoxalmente, a ênfase moderna no sujeito – que é sacrossanta – produziu a tese pós-moderna da morte do sujeito. O desafio da Igreja é, por um lado, reunir a demanda certa, tendo a coragem de dizer que ela não era vista nestes termos antes da modernidade, e por outro lado, afirmar com coragem que uma nova antropologia é possível. Não ingênuo, mas "crítico".

Para chegar onde?
SCOLA: A uma existência digna deste nome, na qual se reconheça o valor intangível e sagrado da pessoa - em si mesma e nas suas relações - e na qual se manifeste a possibilidade do homem construir uma sociedade de boa vida, na qual a dimensão pessoal e a dimensão social são simultaneamente perseguidas e não são descurados os dados constitutivos da experiência elementar do homem: os afetos, o trabalho, o descanso.

Rua?
SCOLA: Jesus Cristo não é outro senão o caminho para isso.

Nem mesmo um ateu pode construir esta boa sociedade?
SCOLA: Certamente. E estamos muito felizes com isso. Jesus, de fato, diz que ele é o caminho para a verdade. O cristianismo é a plenitude do humano, não é de forma alguma uma alternativa ao humano. Obviamente esta plenitude deve lidar com o pecado. Por isso há um elemento de ruptura, de descontinuidade, de gratuidade: o acontecimento Cristo irrompe na minha vida.

Mas todas as investigações, mesmo as realizadas por conta da CEI, denunciam o facto de que na realidade Cristo é citado como Deus ou como Papa?
SCOLA: A razão é tão singular quanto, se quisermos, simples. Porque, como demonstram os filmes recentes, é fácil seguir Jesus Cristo com palavras até à Sexta-Feira Santa... o problema é acreditar que Ele ressuscitou! Para acreditar que Ele ressuscitou, de facto, devo experimentar que a libertação do medo da morte - isto é, a minha ressurreição pessoal - é possível e, de alguma forma, já está antecipada nos meus afetos transfigurados e na minha obra regenerada. Essa é a questão. Não é tão difícil hoje falar de Deus! Paradoxalmente, nem sequer é difícil falar da Igreja, basta falar mal dela... Mas falar de Jesus Cristo sem ceder ao autoengano de que se trata de uma questão do passado exige que se tenha apostado a liberdade com o acontecimento que aconteceu no Gólgota, mas que vive no presente. Em outras palavras: significa ter aceitado o desafio de Lessing, mostrando na própria experiência humana que não é verdade que seja impossível atravessar a “maldita lacuna” de espaço e tempo que nos separa de Jesus

. sociedade diz respeito à sexualidade. A mensagem religiosa tradicional é atual?
SCOLA: Aqui nos deparamos com uma das maiores provocações para o cristianismo, e é uma pena que a novidade histórica do magistério de João Paulo II ainda não tenha sido bem assimilada, especialmente por nós, pastores.

Em que consiste esta inovação?
SCOLA: Consiste em traçar os fundamentos antropológicos da visão cristã do corpo e da sexualidade de tal forma que os critérios éticos sejam iluminados e, portanto, compreensíveis. A confusão reside justamente em não entender isso. Muitas vezes nos comportamos como aquele pai ou mãe que, amando verdadeiramente o filho, quando ele diz “vou sair hoje à noite”, simplesmente responde: “Não, você não vai sair”. E se o menino insiste: “Mas por quê?”, ele só sabe reiterar: “Porque é assim”. Não damos razões convincentes a nível antropológico.

E quais são essas razões?
SCOLA: As razões derivam da dupla unidade do homem e da mulher. Da unidade inseparável entre diferença sexual, doação e fecundidade. A diferença sexual não é uma simples diversidade... Aqui reside o mal-entendido. A diversidade, de fato, pode ser superada e muitas vezes, quando não é superada, pode se tornar um prenúncio de abusos e abusos, enquanto a diferença é interna ao ego. A do corpo e do eros é uma prova evidente. Não é um caráter acrescentado de alguma forma, externo ao ego. Se me encontro situado na diferença sexual masculina, estou estruturalmente orientado para a outra forma de ser homem, que é diferente da minha. O que isso diz? Diz inclinação para o outro, diz origem do amor.

(Cortesia de la Repubblica)

Fonte: https://www.30giorni.it/

Mistério de Cristo: partilha e evangelização

Cristo de Rubjov (Vatican News)

Quando nós nos colocamos nas mãos do Pai de Eterna Bondade e nos dispomos a partilhar o que temos, com Amor, no nosso dia a dia, os dons e talentos recebidos, Ele multiplica Suas Graças de provisão e nunca nos faltará nada.

Diácono Adelino Barcellos Filho - Diocese de Campos / RJ.

O grandioso Mistério de Deus, Uno e Trino, revelado em Cristo Jesus, "na plenitude dos tempos", marcou para sempre a história da humanidade e de todas as coisas criadas, visíveis e invisíveis. O conteúdo da nossa Salvação se mostra na Verdade Revelada, com duas naturezas distintas: a natureza humana e a natureza divina, na Pessoa de Jesus Cristo. Isto se deu no cotidiano da vida da Virgem Maria, onde o potencial de perfeição se mostra e se manifesta, para que Deus tornasse concreto o Seu Plano de Amor; o Senhor do tempo e do espaço se sujeita ao tempo e ao espaço, assumindo nossos sofrimentos, por Amor de nós, as dores de cada um. Para tanto, ocorrem três estupendas e silenciosas manifestações (epifanias), claras e distintas, de Sua Divindade: “Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo” (Mateus 2,2); “fazei o que Ele vos disser” (João 2,5) e, “Tu És o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição” (Lucas 3, 22)Uma perfeita partilha de Si mesmo, até às últimas consequências.

Quando nós nos colocamos nas mãos do Pai de Eterna Bondade e nos dispomos a partilhar o que temos, com Amor, no nosso dia a dia, os dons e talentos recebidos, Ele multiplica Suas Graças de provisão e nunca nos faltará nada. O Papa Francisco na Oração do Angelus de 25 de julho de 2021 nos exorta: “coragem, doa o pouco que tem, os seus talentos e seus bens, coloque-os à disposição de Jesus e dos irmãos. Não tenha medo, nada será perdido, porque se você compartilha, Deus multiplica. Expulse a falsa modéstia de se sentir inadequado, confie. Acredite no Amor, no poder do serviço, na força da gratuidade”.

A esta realidade, temos o respaldo e/ou ratificação, na Constituição Lumen gentium, parágrafo 2, onde é explicitado que, “O Eterno Pai, pelo libérrimo e insondável desígnio da Sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens à participação da Vida Divina e não os abandonou, uma vez caídos em Adão, antes, em atenção a Cristo Redentor «que é a imagem de Deus invisível, primogênito de toda a criação» (Colossenses. 1,15) sempre lhes concedeu os auxílios para se salvarem. Aos eleitos, o Pai, antes de todos os séculos os «discerniu e predestinou para reproduzirem a Imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogénito de uma multidão de irmãos» (Romanos 8,29).

Hoje, é o tempo que temos de exercitar a Fé de Jesus Cristo; assim sendo, Ele pode nos trazer grandes surpresas e novidades de Deus (Uno e Trino), ainda mais se olhamos para a vida de Jesus Cristo e aprendemos a valorizar o tempo presente, com sabor de eternidade. "Saboreai e vede como o Senhor é Bom feliz de quem Nele encontra o seu refúgio" (Salmo 33, 9). De maneira um tanto subentendida, a mesma Constituição Lumen gentium, em seu parágrafo 12; entrar nesses pormenores ao afirmar que, “o Povo santo de Deus participa também da função profética de Cristo, difundindo o seu testemunho vivo, sobretudo pela Vida de Fé e de Caridade oferecendo a Deus o sacrifício de louvor, fruto dos lábios que confessam o Seu nome (cf. Hebreus 13,15)”.

Não podemos nos enganar nas questões de Fé; esta propriedade peculiar, manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da Fé do Povo todo, quando este, «desde os Bispos até ao último dos leigos fiéis» (22), manifesta consenso universal em matéria de Fé e costumes. “Com este sentido da Fé, que se desperta e sustenta pela Ação do Espírito de Verdade, o Povo de Deus, sob a direção do Sagrado Magistério que fielmente acata, já não recebe simples palavras de homens, mas a verdadeira Palavra de Deus (cf. 1 Tessalonicenses 2,13)”, que é uma Pessoa.

A vivência na intimidade da Fé de Jesus Cristo, em meio aos afazeres do dia a dia, na contemplação silenciosa e dinâmica, da Vida Divina, até o dia que O Contemplaremos Face a Face é o que dá sentido pleno do bem Viver: "Senhor, mostrai-nos a Vossa Face e seremos Salvos!". Isso só é possível, no cultivo da Comunhão dos Santos retratada no parágrafo 49 da LG, sinalizando o modo da consumação dos séculos, “enquanto o Senhor não vier na Sua majestade e todos os Seus Anjos com Ele (cf. Mateus 25,31) e, vencida a morte, tudo Lhe for submetido (cf. 1 Coríntios 15, 26-27), dos Seus discípulos uns peregrinam sobre a terra, outros, passada esta vida, são purificados, outros, finalmente, são glorificados e contemplam «claramente Deus trino e uno, como Ele É»(146); todos, porém, comungamos, embora em modo e grau diversos, no mesmo Amor de Deus e do próximo, e todos entoamos ao nosso Deus o mesmo hino de louvor.”

As manifestações do Ser Divino que especificamos anteriormente, são para que não percamos de vista, apesar da nossa condição de miseráveis pecadores, é do beneplácito de Sua Divina Vontade que evitemos o pecado dando lugar ao renovo da Graça Santificante, de insistirmos e/ou persistimos no mau uso da inteligência e da liberdade. A minha e a sua condição de pecador não nos dá o direito de pecar contra Deus, contra si e contra o outro. Escutemos o Senhor. Já em 2016, o Papa Francisco nos adverte que "escutar é muito mais do que ouvir: escutar significa prestar atenção, ter vontade de compreender, valorizar, respeitar, proteger a palavra dos outros".

É maravilhoso saber que o Sangue derramado de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se deixou morrer por Amor, como "Prova de Amor maior não há, que doar a Vida pelo irmão”. O Divino à medida que cresce na consciência do humano, aniquila a Sua condição Divina para resgatar, salvar, reconduzir a criatura humana e a todo universo, adulterado pelo pecado, adulterado pelo mau uso da liberdade. É muito importante aproveitarmos o tempo que ainda nos resta, é estarmos atentos ao envio dado por Jesus Cristo.

Há 17 anos atrás, no Documento de Aparecida ressoavam, pelo pronunciamento de dom Jorge Mario Bergoglio, as expressões que hoje são familiares em todo o mundo: periferias existenciais, autorreferencialidade. Aparecida registrou também o termo “discípulo missionário”, o que torna todo o Povo de Deus corresponsável pela proclamação da Boa Nova. O Documento Final foi fruto da determinação de Dom Bergoglio agora popularizado: a sinodalidade (motivação para o espírito de unidade do povo cristão, caminhar juntos, com objetivos comuns, na construção do Reino de Deus). 

Anunciarmos o Reino de Deus para as pessoas, Ele próprio, a partir de nós mesmos. Conduzir ao Batismo (mergulho neste gigantesco Mistério Revelado) aqueles que ainda não foram batizados, e iluminar, com a presença de uma Vida honesta e digna, sem fingimento, sem corrupção, a vida daqueles que andam nas trevas dos erros, dos vícios, das paixões desordenadas, que fazem mau uso da liberdade, apontando que tem jeito e que podemos nos livrar da tentação de que não precisamos de Deus e insistirmos, na ausência de Deus (inferno).

Acerca do caráter Missionário da Única Igreja de Jesus Cristo (Cf. CIC. 811) e respectiva evangelização, o parágrafo 17 da LG aponta que, assim como o Filho foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos (cf. João 20, 21) dizendo: «Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinai-as a observar tudo aquilo que vos mandei. Eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos» (Mateus 28, 19-20) Sucessão Apostólica. A Igreja recebeu dos Apóstolos este mandato solene de Cristo, de anunciar a Verdade da Salvação e de a levar até aos confins da terra (cf. Atos 1,8). Faz, portanto, suas as palavras do Apóstolo: «ai de mim, se não prego o Evangelho» (1 Cor. 9,16), e por isso continua a mandar incessantemente os seus Arautos, até que as novas igrejas (Paróquias e Novas Comunidades) se formem plenamente e prossigam, por sua vez, a obra da evangelização.

Essa é a nossa missão como cristãos: ser construtores da paz e ser luz para aqueles que andam nas trevas. Temos que apontar "o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo". “A Fé da Igreja", é reforçada pela comunicação dos bens espirituais (147). Porque os bem aventurados, estando mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a Igreja na Santidade, enobrecem o Culto que ela presta a Deus na terra, e contribuem de muitas maneiras para a Sua mais ampla edificação em Cristo” (cf. 1 Coríntios 12, 12-27) (148). 

“O meu Amor foi crucificado e já não há em mim a chama que deseja as coisas materiais.    Os cristãos são propriedade de Deus e de Jesus Cristo e tem como tarefa na vida a contínua Conversão e Formação de modo a estar sempre unidos à Igreja e assim pertencerem de fato a Deus e viver segundo os ensinamentos de Jesus Cristo.” (Santo Inácio de Antioquia)

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!!!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF