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domingo, 28 de janeiro de 2024

Papa: nas tentações, é preciso invocar Jesus. Jamais dialogar com o diabo!

Angelus do dia 28/01/2024 (Vatican News)

Ao comentar o Evangelho deste IV Domingo do Tempo Comum, Francisco alertou para as insídias de hoje do maligno, como as dependências, o consumismo e a idolatria do poder.

https://youtu.be/FTxJyanXjMQ

Vatican News

Para os milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, o Papa comentou o Evangelho deste IV Domingo do Tempo Comum, que  narra Jesus enquanto liberta uma pessoa possuída por um “espírito mau”. 

Assim faz o diabo, explicou Francisco: quer possuir para “nos aprisionar a alma”. E nós devemos estar atentos às “amarras” que nos sufocam a liberdade, porque o diabo sempre nos tira a capacidade de escolher livremente. O Pontífice então nomeia algumas correntes que podem prender o coração, como as dependências, os modismos e a idolatria do poder, "corrente muito ruim". Todas essas insídias nos tornam escravos, sempre insatisfeitos, levam ao consumismo e ao hedonismo, que mercantilizam as pessoas e comprometem as relações, gerando inclusive conflitos armados.

Jesus veio para nos libertar de todas essas amarras, com um detalhe: jamais dialoga com o diabo!

“Jesus liberta do poder do mal, mas - estejamos atentos -, expulsa o diabo, mas não dialoga com ele. Jamais Jesus dialogou com o diabo. E quando foi tentado no deserto, as respostas de Jesus eram palavras da Bíblia, nunca o diálogo. Irmãos e irmãs, com o diabo não se dialoga! Cuidado: com o diabo não se dialoga, porque se você começar a dialogar, ele vence. Sempre. Cuidado.”

Invocar Jesus!

E quando nos sentirmos tentados e oprimidos, indicou o Papa, é preciso invocar Jesus, invocá-Lo ali, onde sentimos que as correntes do mal e do medo apertam mais forte.

Também hoje, afirmou, o Senhor deseja repetir ao maligno: “Saia, deixe em paz aquele coração, não dividir o mundo, as famílias, as nossas comunidades; deixe-as viver serenas, para que ali floresçam os frutos do meu Espírito, não os seus, assim diz Jesus. Para que entre eles reinem o amor, a alegria, a mansidão, e no lugar de violências e gritos de ódio, haja liberdade e paz, respeito e cuidado para todos".

Francisco então propôs algumas perguntas aos fiéis: eu quero realmente me libertar daquelas amarras que me apertam o coração? E depois, sei dizer “não” às tentações do mal, antes que se insinuem na alma? Por fim, invoco Jesus, Lhe permito agir em mim, para curar-me por dentro?

"Que a Virgem Santa nos proteja do mal", foi a invocação final.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Tomás D'Aquino

São Tomás de Aquino (A12)

28 de janeiro

São Tomás de Aquino

A vida e obra de Tomás de Aquino são tão grandiosas que mesmo um resumo apenas razoável é difícil. Viajou muito, conseguindo ainda assim escrever extraordinariamente em quantidade e principalmente qualidade. Professor, pregador, filósofo, teólogo, consultor e conselheiro brilhante, recebeu ainda a graça de visões, e da levitação. São Tomás de Aquino deixou para a Igreja, praticamente, a síntese do pensamento católico.

Tomás nasceu em Roccasecca, no condado de Aquino, região do Lácio, Itália, em 1225 ou 1227. Sua nobre família desejava para ele algum alto cargo civil ou eclesiástico, e tudo fizeram para impedi-lo de seguir a vocação na ordem mendicante dos Dominicanos – até mesmo prendendo-o e levando uma prostituta para tentá-lo. Mas nada disso adiantou e ele foi ordenado sacerdote em 1244, em Nápoles.

No ano seguinte estudou com São Alberto Magno em Paris, que o levou para lecionar em Colônia, Alemanha. Em 1252 voltou a Paris, onde se formou mestre em teologia e lecionou durante três anos. Seguiram-se Nápoles, Orvieto (onde completou a "Suma contra os Gentios"), Roma, e novamente Paris. Em 1272, Tomás pediu licença da Universidade de Paris quando os dominicanos de sua província natal o convocaram para fundar um studium general, espécie de universidade, na cidade de Nápoles.

Em 1273 terminou a “Suma Teológica”, que só foi completada até a questão 90 da terceira parte, pois em 6 de dezembro Tomás comunicou ao padre Reginaldo de Piperno, seu amigo e secretário, que não escreveria mais, porque na igreja, após uma revelação sobrenatural, havia entendido (por comparação) que tudo o que escrevera não passava de “palha”.

Em 1274, convocado pelo Papa Gregório X, viaja para participar do Concílio de Lyon. No caminho, montado num burro, bateu a cabeça num galho de uma árvore tombada, ficou seriamente ferido e foi levado às pressas para Monte Cassino. Depois de descansar por algum tempo, tentou seguir viagem, mas teve que parar, doente, na abadia cisterciense de Fossanuova. Faleceu sem completar 49 anos, em 7 de março de 1274. Sua festa em 28 de janeiro comemora o traslado do seu corpo para Tolosa.

Foi proclamado Doutor da Igreja (Doutor Angélico), e é patrono de todas as universidades, academias e escolas católicas do mundo. Para a sua canonização houve a contestação de que não havia milagres que a comprovassem, ao que o Papa João XXII respondeu: “Quantas proposições teológicas ele escreveu, tantos são os milagres que fez”. Contudo, são verídicos os testemunhos de sua levitação em êxtase, em Nápoles, Orvieto e Paris.

A importância do legado teológico de São Tomás aparece em destaque na síntese coerente da racionalidade presente na filosofia de Aristóteles com os princípios e tradição católicos. Defendia também que a política deveria estar subordinada à Igreja, pois possui um conteúdo ético (busca pelo bem comum, respeito aos direitos dos seres humanos e busca pela moral). Esta linha de pensamento, a filosofia Tomista, une harmoniosamente a Fé e a Razão (perspectiva abandonada, ignorada ou combatida por outras propostas). Das suas talvez 50 eminentes obras, podem ser consideradas principais “Verdade e Conhecimento (1256-1259)”, “Summa contra Gentiles” (“Suma contra os Gentios”, 1261-1263) e “Summa Theologiae” (“Suma Teológica”, 1265-1273); e também os maravilhosos textos litúrgicos para a festa de Corpus Christi (1261-1265), compostos a pedido do Papa Urbano IV, usados até hoje.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A teologia do Aquinate (como também é conhecido São Tomás pela sua origem em Aquino; por Aquinate entende-se igualmente o conjunto da sua obra) é obrigatória e fundamental para o Catolicismo, e de tal forma que nas palavras do Papa Bento XV “a Igreja declarou os ensinamentos de Tomás como seus próprios”. Não pode haver maior elogio, considerando que a Igreja é instruída pelo Espírito Santo. A grandeza de São Tomás, proporcional à sua obra, pode igualmente ser aquilatada por outro enunciado, dele próprio: "O primeiro degrau para a sabedoria é a humildade" (lembremos de Maria, a mais humilde das criaturas, que exatamente por isso mereceu ser Mãe do Verbo divino). Decorrente desta sua postura de vida, segue-se a simplicidade do que pode ser avaliado como o seu entendimento sobre o Saber: "Para aqueles que têm fé, nenhuma explicação é necessária. Para aqueles sem fé, nenhuma explicação é possível".

Oração:

“Ó Deus, que ilustrais a vossa Igreja com a admirável erudição de S. Tomás, vosso Confessor, e a fecundais pela santidade das suas obras, concedei-nos a graça, Vos pedimos, de penetrar com inteligência no que ele ensinou, e, imitando-o, fazer o que ele fez. Por Nosso Senhor Jesus Cristo”. (Missale Romanum de 1943, festa de São Tomás de Aquino, 7 de março).

Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

ARTE: Um laboratório de arte no coração do Vaticano (4/4)

Acima, João Paulo II, por ocasião da sua visita a Cuba em janeiro de 1998, entrega a Fidel Castro a reprodução do mosaico de Cristo no Nicho dos Palli das Cavernas do Vaticano. Abaixo, Bento XVI, por ocasião da sua visita ao Quirinale, apresenta ao Presidente Carlo Azeglio Ciampi a reprodução em mosaico da Salus populi romani, imagem venerada na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 03/2006

Uma viagem ao Estúdio de Mosaicos do Vaticano

Um laboratório de arte no coração do Vaticano

O Estúdio de Mosaicos do Vaticano nasceu no século XVI. Confira e restaure os dez mil metros quadrados de mosaico presentes na Basílica de São Pedro. Do seu laboratório emergem continuamente mosaicos preciosos para clientes privados ou para o Papa, que muitas vezes os doa durante visitas oficiais.

por Pina Baglion

Inicia-se assim uma nova temporada de mosaicos miniaturizados, que servem para decorar pequenos objetos do cotidiano, como caixas, caixas de rapé, joias, vasos, quadros, até tampos de mesa, armários e molduras de parede. Para os assuntos escolhidos, o antigo é o preferido. E depois as paisagens, as vistas com as ruínas da Roma Antiga, mas sobretudo as reproduções da Praça de São Pedro.

Entretanto, a aristocracia secular e religiosa, os viajantes estrangeiros, os diplomatas e os governantes em visita oficial ficaram literalmente deslumbrados com esta nova performance do mosaico romano e declararam-na um sucesso, inclusive económico, de enormes proporções. Tanto é assim que, em 1795, a Fabbrica di San Pietro decidiu introduzir o seu processamento no Atelier para poder entrar no mercado ativo em concorrência com as oficinas privadas romanas que, entretanto, floresceram em grande número nas regiões mais movimentadas. ruas por turistas. E foi assim que o Estudo Mosaico do Vaticano recuperou novo vigor. Até os mosaicistas do Vaticano foram chamados à França, à Inglaterra e, no que diz respeito à Itália, a Milão e Nápoles, para ensinar a nobre e lucrativa arte. 

As rodelas dos pontífices em San Paolo Fuori le Mura. 

Finalmente, há mais um capítulo na longa história dos acontecimentos do Estúdio de Mosaicos do Vaticano que vale a pena contar: na noite de 15 de julho de 1823, a Basílica de San Paolo Fuori le Walls em Roma foram devastadas por um violento incêndio. Aparentemente devido a algumas brasas que caíram das panelas dos funileiros que trabalhavam no telhado. Entre as muitas obras-primas destruídas, perderam-se quase todas as pinturas da Série Cronológica dos Sumos Pontífices , série concluída por Salvatore Monosilio no Ano Santo de 1750 por ordem de Bento XIV. As quarenta e uma pinturas sobreviventes estão hoje conservadas no Museu do mosteiro beneditino, ao qual a Basílica está confiada.

Um ano depois do incêndio, Leão XII mandou começar as obras de reconstrução da Basílica e apenas dezesseis anos depois Gregório XVI consagrou o transepto, enquanto toda a nova Basílica foi concluída sob o pontificado de Pio IX que a consagrou em 1854. Alguns anos primeiro , com decreto de 20 de maio de 1847, o próprio Pio IX quis que a série cronológica dos pontífices fosse repintada e depois reproduzida em mosaico. Foi assim que Monsenhor Lorenzo dei Conti Lucidi, então presidente do Estúdio Vaticano e secretário-tesoureiro da Reverenda Fabbrica de San Pietro, envolveu toda a "classe pictórica" ​​da Pontifícia Academia de San Luca e nomeou uma comissão para a tarefa das atribuições e a formulação do julgamento das obras. Foram escolhidos vários pintores e, para criar os “tondos” num prazo razoável, alguns deles foram incentivados fornecendo valores superiores ao acordado. Entre 1848 e 1849 foram executadas a maior parte dos tondi a óleo, cuja tradução em mosaico durou até 1876. As
diretivas sobre a realização dos retratos dos pontífices foram extremamente detalhadas e numerosas, sugeridas, nos mínimos detalhes, por Pio IX ele mesmo. No acordo entre a comissão especial responsável pela reconstrução de San Paolo e o Reverendo Fabbrica di San Pietro ficou estabelecido, entre outras coisas, que «as referidas imagens seriam executadas em mosaico no Estúdio do Reverendo Fabbrica di San Pietro» . E que comecem «da imagem venerada do Príncipe dos Apóstolos, São Pedro, até à do Sumo Pontífice reinante Pio IX».

A partir de então, as pinturas e mosaicos foram todos executados seguindo e respeitando as regras do acordo estipulado para a reconstituição da Cronologia . Como aconteceu novamente com o retrato do Papa Ratzinger, apresentado oficialmente no dia 23 de novembro do ano passado e colocado na nave direita da Basílica de São Paulo, ao lado da efígie de João Paulo II. Três artistas mosaicos trabalharam no mosaico ao mesmo tempo. Os mosaicos estão satisfeitos, disseram-nos, com o seu trabalho porque tiveram a impressão de que o Papa gostou.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Conversão de São Paulo

São Paulo (A12)

25 de janeiro

Conversão de São Paulo

O dia próprio de São Paulo é 29 de junho, junto com São Pedro, e assim, de certa forma, a gigantesca figura de Paulo fica em segundo plano diante da primazia do Príncipe dos Apóstolos. Mas a pessoa de Paulo é tão importante para a Igreja que o dia da sua conversão é também celebrado. (Para nós brasileiros, esta data também marca a fundação da maior cidade do país, São Paulo, em 1554).

Saulo, seu nome antes da conversão, nasceu na cidade de Tarso, região da Cilícia, na Turquia. Seu pai era fariseu e judeu descendente da tribo de Benjamim. Por causa da fidelidade ao imperador, a família de Saulo tinha recebido a cidadania romana. Logo, Saulo era um cidadão romano, fariseu de linhagem nobre, bem situado financeiramente, religioso, inteligente e culto. Estudou na conhecida Escola de Gamaliel, mestre judeu distinguido pelo saber e integridade de vida.

O sincero zelo religioso de Saulo o levou a perseguir furiosamente os cristãos, que considerava traidores da pátria e do judaísmo. É citado na Bíblia pela primeira vez no martírio de Santo Estêvão, quando guardava as roupas dos apedrejadores. As orações deste mártir em favor dos seus algozes certamente favoreceram a sua conversão.

Em missão para prender os cristãos de Damasco e levá-los a julgamento em Jerusalém, Saulo foi surpreendido por uma luz vinda do céu que o envolveu, e uma voz que dizia: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” Desta intervenção direta de Deus (cf. At 9,4-18) seguiu-se a conversão e batismo de Saulo em Damasco, por intermédio de Santo Ananias (cuja festa também é hoje). Tomando o nome de Paulo, o agora apóstolo iniciou sua imensa obra de viagens de evangelização, particularmente junto aos gentios. Perseguido incansavelmente, foi preso várias vezes e sofreu muito, sendo martirizado no ano 67, em Roma. Por ser cidadão romano, teve o privilégio de ser decapitado e não crucificado, a pena usual para os cristãos.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CssR; revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Espetacular foi a conversão de São Paulo, bem como a sua ação missionária, que inclui 14 cartas integrantes do cânon da Bíblia – a escrita é uma pregação continuada ao longo do tempo. Apesar de suas atitudes um tanto fanáticas pelo judaísmo, que levaram à morte de cristãos, é importante lembrar que sua radicalidade, ainda que mal orientada no início, é uma grande virtude na vivência da Fé, e Deus quis aproveitá-la para salvar não apenas o próprio Saulo, mas inúmeras outras almas, naquela época, hoje e certamente no futuro. E para nós importante é o questionamento de termos claro até onde somos radicais no seguimento de Cristo: porque disto depende toda a nossa vida. Ou chegaremos a dizer como Paulo, “não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (cf. Gl 2,20), ou seremos cortados da Cabeça do Corpo Místico, que é Jesus, num martírio infinito.

Oração:

Deus Todo-Poderoso, cuja misericórdia é capaz de quaisquer prodígios em nosso favor, concedei-nos pela intercessão de São Paulo a irrefreável coragem de tudo enfrentar na Vossa busca e na realização das Vossas boas obras, para permanecermos sempre em comunhão Convosco, já na Terra e infinitamente no Céu. Por Jesus Cristo Vosso Filho, que nunca deixa de nos chamar para o Vosso amor, e Nossa Senhora, cujas súplicas por nós não podeis deixar de atender. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Um Deus que deixa acontecer? O mal e a dor

Um Deus que deixa acontecer? O mal e a dor (Opus Dei)

Um Deus que deixa acontecer? O mal e a dor.

Por que existe o mal? Qual é o sentido da dor? Por que Deus permite o mal? Estas são as perguntas que toda pessoa se faz em algum momento da vida. Elas fazem referência a um dos grandes mistérios do ser humano.

16/02/2022

A existência do mal no mundo, especialmente em suas formas mais agudas e difíceis de entender, é uma das causas mais frequentes do abandono da fé. Diante dos acontecimentos que parecem claramente injustos e sem sentido, em presença dos quais nos sentimos impotentes, surge de modo natural a pergunta de como Deus pode permitir isso. Por que o Senhor, que é bom e onipotente, permite que ocorram males semelhantes? Por que pessoas simples, que já carregam muito peso na vida, devem carregar o drama de uma tragédia imprevista, como, por exemplo, um desastre natural? Por que Deus não intervém? Estas são perguntas que não dirigimos ao mundo, nem a nossos semelhantes, mas a Deus, porque confessamos que Ele é o Criador e o Senhor do mundo[1].

Essas questões, de certa maneira, transpassam os limites da Revelação e penetram no mistério do próprio Deus. Afinal, não há nada na criação que escape à sabedoria e vontade de Deus. Assim como não podemos abarcar a infinita bondade de Deus, também não podemos sondar completamente os seus projetos. Por essa razão, muitas vezes, a melhor atitude em relação ao mal e à dor é o abandono confiado em Deus, que sempre “sabe mais” e “pode mais”.

Mas também é natural que tentemos iluminar o obscuro mistério do mal, a fim de que a fé não seja apagada pela experiência da vida, mas, precisamente nesses momentos, permaneça sendo clara luz em nosso caminho, “lâmpada para meus passos” (Sal 119,105).

O mal procede da liberdade criada

Deus não criou um mundo fechado, ao qual só Ele tem acesso, nem fez o mundo perfeito. Ele o criou aberto a muitas possibilidades e aperfeiçoamentos, e criou homens e mulheres para habitá-lo e completá-lo com a sua inteligência. Ele nos tornou inteligentes e livres e nos deu espaço para desenvolver esses talentos. Neste sentido, Deus, chamando-nos à existência, nos coloca à prova: confia-nos a tarefa de fazer o bem de acordo com as nossas possibilidades. E isso é, com frequência, uma tarefa cansativa. “Negociai com isto até que eu volte” (Lc 19,13): como na conhecida parábola de Jesus, os talentos não podem ser enterrados ou escondidos: cada um é chamado a fazer a sua vida frutificar, a desenvolver o que recebemos. Mas muitas vezes não fazemos isso, ou inclusive chegamos a fazer o contrário, voluntariamente decidimos fazer coisas más e as realizamos: somos, muitas vezes, culpados.

ESTE É O VERDADEIRO MAL, O QUE MAIS DEVEMOS TEMER: O PECADO. DELE PROVEM OS OUTROS MALES, DE UM MODO OU DE OUTRO.

A humanidade foi culpada desde o princípio, desde aquele ato que foi a fonte de outros males. Tudo o que há de errado no mundo gira em torno disso: o uso indevido da liberdade, a capacidade que temos de destruir as obras de Deus: em nós mesmos, nos outros, na natureza. Quando fazemos isso, nos privamos de Deus, nossos corações ficam mais escuros, e podemos até converter nossas vidas ou as dos outros em um inferno. Este é o verdadeiro mal, o que mais devemos temer: o pecado. Dele provem os outros males, de um modo ou de outro.

O sofrimento como prova ou purificação

Mas então, o mal é sempre resultado direto da culpa? Primeiro devemos esclarecer o que é o mal. Em si mesmo, é apenas a outra face do bem, a face que a realidade mostra quando falta o bem, quando o que deveria ser não é e o que deveria estar presente não está. O mal é privação, não tem entidade positiva, é negatividade e precisa apoiar-se num bem para existir[2]. Sofremos quando experimentamos essa ausência do que é bom. Naturalmente, a culpa, nossa ou dos outros, sempre produz um dano. No entanto, nem sempre que sofremos um dano, isso acontece por termos sido culpados.

Na Sagrada Escritura, o livro de Jó aborda este problema em profundidade. Os amigos de Jó querem persuadi-lo de que as desgraças que o Senhor lhe enviou são consequência dos seus pecados, da sua injustiça. Embora não poucas vezes seja assim, porque os delitos merecem punição – algo lógico de acordo com o ponto de vista humano e também no plano sobrenatural –, o caso de Jó nos mostra que os justos e os inocentes também sofrem. Referindo-se a este livro são João Paulo II escreveu: “Se é verdade que o sofrimento tem um sentido como castigo, quando ligado à culpa, já não é verdade que todo sofrimento seja consequência de culpa e tenha caráter de castigo[3].

De fato, para Jó, o sofrimento foi uma prova para a sua fé, da qual saiu fortalecido. Às vezes, Deus nos testa, mas sempre dá sua graça para superar e procura o modo de crescermos no amor, que é o significado último do bem.

Outras vezes, o sofrimento tem um sentido de purificação. Isso aconteceu com Israel no tempo de Moisés, quando o povo era volúvel e caprichoso. Deus o purificou com uma longa jornada através do deserto, e assim o foi formando até que fosse capaz de entrar na terra prometida e reconhecer a fidelidade de Deus à sua palavra.

Frequentemente, o sofrimento adquire – na Divina Providência – um valor purificador semelhante. Há pessoas que, imersas no bulício da vida, não se colocam as questões decisivas até que uma doença, ou um baque econômico ou familiar, os leve a interrogar-se mais profundamente. E é frequente que aconteça uma mudança, uma conversão, uma melhora ou uma abertura para a necessidade do próximo. Então, o sofrimento é também pedagogia de Deus, que deseja que o homem não se perca, que não se dissipe nas delícias do caminho ou entre os desejos mundanos. Portanto, embora a Divina Providência conte com uma medida de mal na vida de cada um, esse mal, em último termo, se revela um serviço para o bem do homem.

O sofrimento na natureza

Nessa luz, o sofrimento natural aquele que está presente e inscrito em nosso ambiente criado, também adquire certo significado: a fadiga do crescimento para saber mais e progredir, a caducidade dos seres, que envelhecem e morrem, a falta de harmonia nos fenômenos naturais (que podem destruir a ordem da criação). Sofrimentos que não podemos evitar, que não dominamos ou controlamos, mas que estão aí, inscritos na natureza.

QUANDO CONTEMPLAMOS UMA NATUREZA DESCONTROLADA DEVEMOS PENSAR QUE O SENHOR NOS APRESENTA ALI A FIGURA DE UM MUNDO EM QUE ELE NÃO PODE REINAR.

Às vezes, esses são males necessários para que outros bens possam sobreviver. São Tomás dá o exemplo de um leão que não poderia manter sua vida se não caçasse o asno ou algum outro animal[4]. Mas, muitas vezes, os bens que podem estar relacionados aos eventos trágicos da natureza são ocultos para nós. Não é fácil entender por que Deus os permite, nem por que Ele criou um universo onde pode haver destruição e que, às vezes, não parece ser governado pela Bondade e pelo Amor. Uma luz possível vem do fato de que, em geral, a destruição causada por fenômenos naturais tem a ver, de acordo com o desígnio criador, com a nossa liberdade e com a capacidade que temos de rejeitar a Deus.

O habitat em que vivemos e que tantas vezes nos maravilha com a sua beleza – o mundo físico – também pode se tornar um lugar horrível, da mesma forma como o nosso coração, feito para amar a Deus e possuir o Céu em seu interior, também pode chegar a ser um lugar triste e escuro. Isso acontece quando abandonamos o coração, deixando-nos levar pelas sementes que o diabo planta. Então, quando contemplamos uma natureza descontrolada, que causa destruição sem consideração ou justiça, devemos pensar que o Senhor nos apresenta ali a figura de um mundo em que Ele não pode reinar e de um coração que rejeita o amor e a justiça. A profunda relação entre a Criação e o homem, que foi colocado como cabeça para protegê-la (cf. Gênesis 2,15), também é mostrada nessa desordem.

Os seres humanos e também “toda a criação, até o presente, está gemendo como que em dores de parto,” (Rom 8,22), porque participa do projeto criador e redentor de Deus. Ela também “espera ser libertada da escravidão da corrupção” e “participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rom 8,21).

O sofrimento redentor

Mas, sem dúvida, o que ilumina de maneira mais importante o sentido do mal é a Cruz de Jesus. E junto à Cruz, a Ressurreição. Sua Cruz nos indica que o sofrimento pode ser o sinal e a prova do amor. E ainda mais, pode ser o caminho da destruição do pecado. Porque na Cruz de Jesus o amor de Deus lavou os pecados do mundo. O pecado não resiste, não pode resistir, ao amor que se rebaixa e se humilha pelo bem do pecador. Como expressa um famoso personagem criado por Dostoievski, “a humildade do amor é uma força terrível, a mais forte de todas, que a nenhuma outra se pode comparar”[5].

Na Cruz, o sofrimento de Jesus é redentor porque seu amor pelo Pai e pelos homens não retrocede diante da rejeição e injustiça humanas. Ele deu a sua vida pelos pecadores, serviu-os com toda a sua dedicação e, assim, a sua Cruz tornou-se uma fonte de vida para eles.

Nossos sofrimentos também podem ser redentores, quando são fruto do amor ou são transformados pelo amor. Então eles participam da Cruz de Cristo. Como ensinava são Josemaria, o sofrimento é uma fonte de vida: de vida interior e de graça para si e para os outros[6]. Na realidade, não é o sofrimento como tal que redime, mas a caridade presente nele.

Já no aspecto humano, o amor tem a capacidade de modelar a vida: a mãe que não poupa esforços para a felicidade de seus filhos, o irmão que se sacrifica pelo irmão necessitado, o soldado que joga a sua vida pelo pelotão. São exemplos que sobrevivem na memória e honram os seus protagonistas. Quando esse amor é motivado e fundamentado na fé, além de ser algo belo, também é divino: participa da Cruz e é um canal de graça que vem de Cristo. Ali o mal se transforma em bem, por meio da ação do Espírito Santo, dom que procede da cruz de Jesus.

A última carta

Mas a tudo o que foi dito até agora para tentar explicar o significado do mal pode ser adicionada uma consideração conclusiva. E é que, embora o mal esteja presente na vida do ser humano na terra, Deus sempre tem na mão uma carta final, é sempre o último jogador em termos da vida de cada um. Deus nos ama, nos aprecia, e é por isso que reserva para si a última carta, que é a esperança do mundo: o seu amor criador onipotente. O amor que também se manifesta na ressurreição de Jesus Cristo.

Por maiores e incompreensíveis que cheguem a ser os dramas da vida, muito maior é o poder criador e re-criador de Deus. A vida é um tempo de provação e, quando termina, o definitivo começa. Este mundo é passageiro. Acontece com ele como no ensaio de um concerto: talvez alguém tenha esquecido o instrumento e outro não tenha aprendido bem a partitura e um terceiro esteja desafinando. Para isso que existem os ensaios. É a hora de ajustar, harmonizar instrumentos, adaptar-se ao maestro. Então, finalmente, o grande dia chega, quando tudo está pronto, e o concerto acontece em uma sala luxuosa, em meio à alegria e emoção geral.

A vida de Cristo não mostra apenas o amor de Deus, mas também o seu poder, o poder de devolver com acréscimo tudo aquilo que não correspondeu à justiça, tudo aquilo em que parecia que Deus não estava presente, ou onde Ele deixou que o mal e a dor acontecessem e que nós, então, não chegamos a compreender. Jesus também experimentou seu momento de abandono (cf. Mc 15,34), sofreu-o com amor e à Cruz seguiu-se uma glória eterna. O último livro da Escritura, o Apocalipse, nos fala de um Deus que “enxugará toda lágrima” (Ap. 21, 4) porque Ele faz novas todas as coisas (cf. Ap 21,5) e será uma fonte de abundante felicidade.

Como ajudar os que sofrem?

Em muitas ocasiões, perante a dor alheia, nos sentimos impotentes e só podemos fazer o mesmo que o bom samaritano (cf. Lc 10,25-37): oferecer carinho, ouvir, acompanhar, estar ao lado, isto é, não nos afastarmos. Algumas obras de arte retratam o bom samaritano e o homem assaltado com o mesmo rosto. E isso pode ser interpretado como: Cristo cura e, ao mesmo tempo, é curado. Cada um de nós é ou pode ser o bom samaritano que cura as feridas de outro e, nesse momento, somos Cristo. Mas às vezes também precisamos ser curados porque algo nos feriu – uma cara feia, uma resposta atravessada, um amigo que nos deixou – e somos curados por um bom samaritano, que pode ser o próprio Cristo quando nos aproximamos na oração, ou uma pessoa próxima que se torna Cristo quando nos ouve. E nós somos Cristo para os outros, porque cada um de nós é imagem e semelhança de Deus.

O sofrimento permanece sempre como um mistério, mas um mistério que pela ação salvadora de Nosso Senhor pode nos abrir para os outros: “Por toda parte há crianças abandonadas ou porque as abandonaram quando nasceram ou porque a vida as abandonou, a família, os pais e não sentem o carinho da família. Como sair dessa experiência negativa de abandono, de distância de amor? Existe apenas um remédio para sair dessas experiências: fazer o que eu não recebi. Se você não recebeu compreensão, seja compreensivo com os outros. Se você não recebeu amor, ame os outros. Se você sentiu a dor da solidão, aproxime-se daqueles que estão sozinhos. A carne é curada com a carne e Deus se fez carne para nos curar. Façamos o mesmo com os outros”[7].

Muitas pessoas sentiram o carinho de Deus precisamente nos momentos mais difíceis: os leprosos acariciados por Santa Teresa de Calcutá, os tuberculosos que São Josemaria consolava espiritualmente e materialmente, ou os moribundos tratados com respeito e amor por São Camilo de Lelis. Isso também nos diz algo sobre o mistério da dor na existência humana: são momentos em que a dimensão espiritual da pessoa pode se desdobrar com força se ela se deixa abraçar pela graça do Senhor, dignificando até mesmo as situações mais extremas.

Antonio Ducay


[1] Cfr. João Paulo II, Carta Apostólica Salvifici Doloris, n. 9.

[2] Cfr. J. Ratzinger, Deus e o mundo. Crer e viver em nossa época. 2005.

[3] João Paulo II, Carta Apostólica Salvifici Doloris, n. 11.

[4] Cfr. São Tomás de Aquino, Summa Teológica, I, q.48, a 2 ad 3.

[5] Os irmãos Karamazov, 2006.

[6] Cfr. S. Josemaria, Via Sacra, Estação XII.

[7] Papa Francisco, Discurso no estádio Kerasani de Nairobi, 27-XI-2015

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Papa: a avareza é uma doença do coração. Sejamos generosos

O Papa durante seu discurso (Vatican Media)

Durante a Audiência Geral desta quarta-feira, o tema da catequese do Papa foi dedicado ao vício da avareza. “Por mais que uma pessoa acumule bens neste mundo, temos absoluta certeza de uma coisa: eles não caberão no caixão, nós não poderemos levar os bens conosco”, destacou Francisco.

Thulio Fonseca – Vatican News

Ao dar continuidade no ciclo de catequeses sobre os vícios e as virtudes, o Papa, refletiu, na manhã desta quarta-feira (24/01), sobre a avareza, ou seja, “aquela forma de apego ao dinheiro que impede o homem de ser generoso”.

Francisco enfatizou, logo no início da Audiência Geral, que este não é um pecado que diz respeito apenas às pessoas que possuem grandes patrimônios, “mas sim um vício transversal, que muitas vezes nada tem a ver com o saldo da conta corrente”, e completou:

“A avareza é uma doença do coração, não da carteira.”

Apego às pequenas coisas

O Pontífice ilustrou a sua meditação com algumas análises que os padres do deserto fizeram sobre este mal: “Eles evidenciaram como a avareza poderia também se apoderar dos monges que, depois de terem renunciado a enormes heranças, na solidão da sua cela se apegaram a objetos de pouco valor: não os emprestavam, não os partilhavam, e muito menos estavam dispostos a distribuí-los, era um apego a pequenas coisas”.

Uma espécie de regressão à imagem da criança que segura o brinquedo e repete: “É meu! É meu!”, continuou o Papa, “esse tipo de apego nos tira a liberdade, e aí reside uma relação doentia com a realidade, que pode levar a formas de acumulação compulsiva ou patológica”.

Refletir sobre a morte, a cura para este vício

“Para curar esta doença”, recordou o Santo Padre, “os monges propuseram um método drástico, mas muito eficaz: a meditação da morte”. Por mais que uma pessoa acumule bens neste mundo, temos absoluta certeza de uma coisa: "eles não caberão no caixão, nós não poderemos levar os bens conosco".

Segundo Francisco, é sobre este aspecto que se revela a insensatez desse vício:

“O vínculo de posse que construímos com as coisas é apenas aparente, porque não somos os donos do mundo: esta terra que amamos não é na verdade nossa, e nela caminhamos como estrangeiros e peregrinos”.

 A riqueza não é um pecado, mas uma responsabilidade

O Papa então destacou que estas simples considerações fazem-nos compreender a loucura da avareza, mas também a sua razão mais oculta: “é uma tentativa de exorcizar o medo da morte: procura certezas que na realidade desmoronam no momento em que as apreendemos”.

Ao recordar a pregação de Jesus no Sermão da Montanha, quando o Senhor pede para não ajuntarmos tesouros na terra, mas sim tesouros no céu, (cf Mt 6,19-20), o Pontífice ressaltou:

“Podemos ser senhores dos bens que possuímos, mas muitas vezes acontece o contrário: em última análise, são eles os nossos donos.”

“Alguns homens ricos já não são livres, já nem têm tempo para descansar, têm de olhar por cima dos ombros porque a acumulação de bens também exige os seus cuidados. Sentem-se sempre ansiosos porque um legado se constrói com muito suor, mas pode desaparecer num instante. Esquecem-se da pregação evangélica, que não afirma que a riqueza em si é um pecado, mas é certamente uma responsabilidade”.

“Deus não é pobre, é o Senhor de tudo”, continuou o Pontífice, mas, como escreveu São Paulo: “Sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer por sua pobreza” (2 Cor 8,9), e completou: "Isto é o que o avarento não entende. Podia ter sido uma fonte de bênção para muitos, mas em vez disso acabou no beco sem saída da infelicidade".

Sejamos generosos

Por fim, o Papa, ao evidenciar que uma pessoa imersa no vício da avareza tem uma vida triste, contou uma história:

“Lembro-me do caso de um senhor que conheci em outra diocese, era um homem muito rico, casado, e tinha uma mãe doente. Os irmãos se revezavam para cuidar da mãe, e ela costumava tomar um pote iogurte pela manhã. Aquele senhor lhe dava metade pela manhã, e para economizar, guardava metade do iogurte para lhe dar à tarde. Isso é avareza, isso é apego às posses. Então, esse senhor morreu, e os comentários das pessoas que foram ao velório eram: 'Olhem, esse homem não tem nada com ele, deixou tudo para trás'. E então, de forma um pouco irônica, diziam: 'Não puderam nem fechar o caixão porque ele queria levar tudo com ele', e isso fazia os outros rirem. Esse é um exemplo claro da avareza”.

Francisco, na conclusão de sua reflexão, exortou os fiéis:

“No fim da vida teremos que entregar nosso corpo e nossa alma ao Senhor, e teremos que deixar tudo. Sejamos cuidadosos e generosos: generosos com todos e generosos com aqueles que mais precisam de nós.”


Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

ARTE: Um laboratório de arte no coração do Vaticano (3/4)

Acima, a cúpula da Capela do Santíssimo Sacramento, Basílica Vaticano. A cúpula foi feita em mosaico a partir de desenhos de Pietro da Cortona e representa o tema da Eucaristia (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 03/2006

Uma viagem ao Estúdio de Mosaicos do Vaticano

Um laboratório de arte no coração do Vaticano

O Estúdio de Mosaicos do Vaticano nasceu no século XVI. Confira e restaure os dez mil metros quadrados de mosaico presentes na Basílica de São Pedro. Do seu laboratório emergem continuamente mosaicos preciosos para clientes privados ou para o Papa, que muitas vezes os doa durante visitas oficiais.

por Pina Baglion

1727: O Papa Bento XIII estabelece oficialmente o Estúdio de Mosaicos do Vaticano.

No início do século XVIII, dois novos protagonistas aparecem na vanguarda da arte do mosaico em Roma: Pietro Paolo Cristofari, nomeado pelo Reverendo Fabbrica em 19 de julho de 1727, superintendente e chefe de todos os pintores atuantes em San Pietro; e o engenhoso forno romano Alessio Mattioli que, mais ou menos nessa mesma época, encontrou uma forma de produzir esmaltes opacos numa extensa gradação de cores, um novo tipo de pasta à base de limas metálicas a que chamou "scorzetta" e roxo, cor muito apreciada pela vivacidade da tonalidade e produzida em sessenta e oito tonalidades diferentes.

Mas que 1727 foi verdadeiramente um ano decisivo também por outro motivo: por vontade do Papa Bento XIII o “laboratório” coordenado pelas duas figuras foi organizado como uma instituição permanente com o nome de “Estudo do Mosaico Vaticano” dirigido e protegido pelo Reverendo Fabbrica de San Pietro, órgão superior responsável pela conservação e cuidado de qualquer tipo de intervenção em favor da Basílica Petrina. Até porque a Cristofari já havia transformado aquele lugar numa verdadeira indústria, conduzida com espírito empreendedor. Enquanto os sucessos de Mattioli marcaram a superação de todas as barreiras para a concretização da equação: mosaico é igual a pintura. Além disso, a opacidade dos novos vidrados era uma garantia contra alterações cromáticas ligadas às condições de luz e, juntamente com a variedade de gradações de cores recém-adquiridas, garantiam excelentes resultados na criação de pinturas em mosaico concebidas como pinturas a óleo para serem observadas de perto. faixa. Em 1731, o reverendo Fabbrica concedeu a Mattioli o direito de fornecimento de púrpura e esmaltes chamados "carnagioni", necessários para definir a tez das figuras. Também naquele ano foi construída uma fornalha diretamente no Vaticano.

Chegou, portanto, a hora de realizar um sonho antigo: o de fazer cópias em mosaico de todas as obras-primas pictóricas existentes em São Pedro, para transferi-las para locais mais secos e seguros e ao mesmo tempo deixar inalterada e preciosa a aparência do mosaico. .o aparato ornamental dos altares. Basta dizer que em 1711 havia apenas seis pinturas em mosaico na Basílica de São Pedro. Hoje, todos os retábulos de mosaico que vemos na Basílica de São Pedro, que substituíram as pinturas mais antigas, foram executados durante o século XVIII, exceto a Deposição de Cristo da cruz do original de Caravaggio e a Incredulidade de São Tomás.do original de Camuccini, realizado nas duas primeiras décadas do século seguinte.

Os artistas, definidos como pintores de mosaicos , admitidos para trabalhar no Ateliê, tiveram que passar por um aprendizado que poderia durar até quatro anos, sob orientação de artistas especialistas. E assim, gradualmente ao longo dos anos, estes extraordinários artistas traduziram em mosaico o Enterro de Santa Petronila de Guercino, a Comunhão de São Domingos e o Êxtase de São Francisco de Domenichino, o Martírio de Santo Erasmo de Poussin, a Crucificação de São Pedro de Guido Reni, só para citar algumas obras. Paralelamente a este empreendimento titânico, o Estúdio do Vaticano começou a produzir obras destinadas a clientes privados: foram criadas inúmeras pinturas, incluindo duas destinadas a Maria Amália da Saxónia por ocasião do seu casamento com Carlos de Bourbon, rei de Nápoles, representando o Salvador de Reni e a Virgem de Maratta. Muitos outros seguiram o caminho das cortes de Portugal, Inglaterra e Espanha. 

O minúsculo mosaico.

Mas a grande aventura do mosaico romano ainda não tinha terminado: por volta de 1770, precisamente numa altura em que o Estúdio do Vaticano atravessava uma difícil crise de emprego, um novo tipo de mosaico deu os primeiros passos em Roma, que utilizou para o seu trabalho. composições o “smalti filati”. Os inventores foram Giacomo Raffaelli e Cesare Aguatti, alguns dos mais estimados e talentosos pintores de mosaicos ativos entre os séculos XVIII e XIX. O que eles descobriram? Que ao submeter novamente os vidrados ao calor da chama, transformavam-se numa substância maleável, própria para fiar. Esta operação permitiu obter varetas longas e finas, excelente matriz para ladrilhos muito pequenos, até menos de um milímetro, ao contrário dos esmaltes tradicionais cortados ao som de um “martelo”. Uma verdadeira revolução! A partir desse momento teria sido possível criar obras com uma gentileza e elegância que o mosaico nunca conheceu. Outro mestre do mosaico, Antonio Aguatti, fez mais uma descoberta: a fabricação de varetas nas quais se misturavam múltiplos tons de cores e sombreados de diversas maneiras. Esses esmaltes foram chamados de malmixados e provaram ser extraordinários na representação das passagens de luz mais sutis.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF