Francisco falou sobre a ira na
catequese da Audiência Geral desta quarta-feira. Segundo ele, a "é um
pecado terrível que está na origem das guerras e da violência". "Há
homens que reprimem a ira no local de trabalho, parecendo calmos e controlados,
mas, uma vez em casa, tornam-se insuportáveis para a esposa e os filhos",
sublinhou.
Mariangela
Jaguraba - Vatican News
O Papa
Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre "Vícios e
Virtudes" na Audiência Geral desta quarta-feira (31/01).
"A
ira" foi o tema deste encontro semanal do Pontífice com os fiéis. Segundo
o Papa, a ira "é um vício particularmente obscuro e talvez o mais simples
de identificar do ponto de vista físico". Segundo ele, "a pessoa
dominada pela ira tem dificuldade em esconder esse ímpeto: reconhece-se pelos
movimentos do seu corpo, pela agressão, pela respiração difícil, pelo olhar
sombrio e carrancudo".
A ira é um
pecado que destrói as relações humanas
De acordo
com o Papa, "na sua manifestação mais aguda, a ira é um pecado que não
deixa trégua. Se surge de uma injustiça sofrida ou que se acredita ser tal,
muitas vezes não é desencadeada contra o culpado, mas contra o primeiro infeliz
que se encontra".
“Há homens que reprimem a ira no
local de trabalho, parecendo calmos e controlados, porém, uma vez em casa,
tornam-se insuportáveis para a esposa e os filhos.”
A ira é um
pecado desenfreado: é capaz de tirar-nos o sono e nos fazer tramar
continuamente na nossa mente, sem conseguir encontrar uma barreira aos
raciocínios e aos pensamentos.
A seguir,
Francisco disse que a ira "é um pecado que destrói as relações
humanas. Expressa a incapacidade de aceitar a diversidade dos outros,
especialmente quando as suas escolhas de vida divergem das nossas. Não se detém
nos comportamentos errados de uma pessoa, mas joga tudo no caldeirão: é
o outro, o outro como ele é, o outro como tal que causa a raiva e o
ressentimento. Começa-se a odiar o tom da sua voz, os gestos banais do dia a
dia, os seus modos de raciocinar e de sentir".
Perda da
clareza
Segundo o
Papa, "quando a relação atinge esse nível de degeneração, já se perdeu
a clareza. Porque uma das características da ira, às vezes, é que ela
não pode ser mitigada com o tempo. É importante que tudo se dissolva
imediatamente, antes do pôr do sol. Se durante o dia surgir algum mal-entendido
e duas pessoas não conseguem mais se entender, sentindo-se subitamente
distantes, a noite não deve ser entregue ao diabo. O pecado nos mantém
acordados no escuro a remoer nossas razões e os erros indizíveis, que nunca são
nossos e sempre do outro". "É assim: quando uma pessoa está sob a
ira, ela sempre, sempre diz que o problema está no outro. Ela nunca é capaz de
reconhecer suas próprias falhas, seus próprios defeitos", acrescentou
o Papa.
"No
“Pai Nosso”, Jesus faz-nos rezar pelas nossas relações humanas que são um campo
minado: um plano que nunca está em perfeito equilíbrio. Todos
precisamos aprender a perdoar. Os homens não estão juntos se não praticarem
também a arte do perdão, tanto quanto isso for humanamente possível",
disse ainda Francisco.
“O que neutraliza a ira é a
benevolência, a generosidade, a mansidão, a paciência.”
Ira, origem
das guerras e da violência
O Pontífice
disse outra coisa a propósito da ira: que ela "é um pecado terrível que
está na origem das guerras e da violência. Porém, nem tudo que surge
da ira está errado. Os antigos sabiam muito bem que existe uma parte irascível
dentro de nós que não pode e não deve ser negada".
As paixões
são, até certo ponto, inconscientes: acontecem, são experiências da vida. Não
somos responsáveis pelo surgimento da ira, mas sempre pelo seu desenvolvimento.
E às vezes é bom que a ira seja desabafada da maneira certa.
“Se uma pessoa nunca se
irritasse, se não se indignasse diante de uma injustiça, se diante da opressão
de uma pessoa fraca não sentisse algo tremendo nas suas entranhas, então isso
significaria que não é humana, e muito menos, cristã.”
Santa indignação
"Existe uma santa indignação, que não é ira, mas é um movimento interior, uma santa indignação. Jesus a encontrou várias vezes na sua vida: nunca respondeu ao mal com o mal, mas na sua alma sentiu este sentimento e, no caso dos cambistas do Templo, realizou uma ação forte e profética, ditada não pela ira, mas pelo zelo pela casa do Senhor. É preciso distinguir bem, o zelo, a santa indignação, é uma coisa, a ira, que é ruim, é outra coisa. Cabe a nós, com a ajuda do Espírito Santo, encontrar a medida certa das paixões. Educá-las para que se tornem boas", concluiu o Papa.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt