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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

A Terra Santa entre medos e esperanças (3/3)

Dois padres ortodoxos gregos na Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 01/02 – 2006

A POLÍTICA DO ORIENTE MÉDIO DA SANTA SÉ

A Terra Santa entre medos e esperanças

O Médio Oriente, na encruzilhada de três continentes, é o berço das três religiões monoteístas. É a fonte mais importante de abastecimento de hidrocarbonetos, mas é também vítima da situação criada pelo conflito não resolvido israelo-palestiniano. É a zona do mundo onde mais se gasta em armas, apesar dos gigantescos bolsões de pobreza. As reflexões do cardeal francês que trabalhou na diplomacia vaticana durante trinta anos.

do Cardeal Jean-Louis Tauran

As religiões não devem ser divisivas ou assustadoras. Pelo contrário, deveriam constituir um poderoso fator de humanização e de unidade da sociedade humana. Louis Massignon, eminente estudioso do Oriente, ousou um dia dizer que, na sua opinião, cada uma das três religiões monoteístas ilustrava uma das virtudes teologais: Israel, esperança; Islã, fé; Cristianismo, caridade!

5. Quem conhece os textos dos Papas e da Santa Sé sobre o Médio Oriente observará que utilizam muito pouco a expressão Médio Oriente, preferindo falar da “Terra Santa”. A razão é óbvia: é uma região que tem uma relação especial com a fé. É “santa”: para os judeus, pois é a terra dos seus antepassados, a terra do Livro; para os cristãos, porque é a terra onde Jesus viveu, onde aconteceram os grandes acontecimentos da Redenção e onde têm origem as comunidades cristãs; para os muçulmanos, porque é a terra onde nasceu a sua religião e onde estão presentes há mais de mil anos.

Além disso, no centro, como fonte e síntese da sacralidade desta terra, está Jerusalém, a pátria ideal de todos os descendentes espirituais de Abraão. Jerusalém, hoje dividida, mas cuja vocação é ser símbolo de união e de paz para toda a família humana. Isto explica a perseverança e a intensidade com que os papas, desde 1947, defenderam o caráter único e sagrado daquela cidade. Já em 29 de Novembro de 1947, a Resolução 181 da ONU propunha um regime especial, sob a égide da comunidade internacional: um "corpus separatum". Após a anexação forçada por Israel da zona “oriental” da cidade, a mesma comunidade internacional defendeu a adoção de “um estatuto garantido internacionalmente” para as partes mais sagradas da cidade, caras às três religiões monoteístas. A Santa Sé sempre apoiou esta opinião, tendo, no entanto, o cuidado de distinguir o aspecto territorial de Jerusalém (capital de dois Estados?) - que deverá ser objeto de negociações bilaterais entre israelitas e palestinianos - do aspecto multilateral, uma consequência da dimensão religiosa e universal dos Lugares Santos das três religiões, cujos fiéis estão espalhados pelo mundo. Em suma, caberia à comunidade internacional garantir o carácter único e sagrado da parte "intra muros" de Jerusalém, que acolhe os Lugares Santos rodeados de comunidades humanas com as suas línguas, tradições culturais, escolas, hospitais, lojas ...

 A Santa Sé é de opinião que um estatuto especial, garantido pela comunidade internacional, é o único meio eficaz para evitar, no futuro, sob a pressão de acontecimentos ou mudanças políticas, que uma das duas partes reivindique o controle dos santuários e das realidades humanas que os rodeiam.

Estas minhas reflexões inspiraram-se essencialmente no ensinamento e na ação do Papa João Paulo II, tendo também em consideração o facto de que dos meus vinte e oito anos de serviço na diplomacia papal, vinte e cinco anos pertencem ao pontificado daquele grande Pontífice.

Mas gostaria de observar que o seu sucessor também retomou o seu legado no plano internacional e, em particular, no Médio Oriente.

Basta ler a primeira mensagem para o Dia de Oração pela Paz de 1º de janeiro de 2006 ou o discurso de Bento XVI por ocasião da apresentação das saudações do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé para se convencer disso. Tal como João Paulo II, Bento XVI baseia a atividade internacional na justiça, no perdão e na reconciliação. Confie na força da lei. A este respeito, a mensagem de 1º de janeiro contém uma bela homenagem ao direito humanitário. Perante os diplomatas, o atual Papa também insistiu no diálogo entre religiões e culturas, elogiando a fecundidade dos intercâmbios entre “o judaísmo e o helenismo, entre o mundo romano, o mundo germânico e o mundo eslavo... o mundo árabe e o mundo mundo europeu". Um dos primeiros gestos do novo Papa foi uma visita a uma sinagoga em Colônia, em agosto passado. Com o mesmo vigor do seu antecessor, condenou o terrorismo, descrevendo-o como «atividade criminosa, que cobre de infâmia aqueles que a perpetram, tornando-o tanto mais culpável quanto mais se esconde atrás do escudo de uma religião, rebaixando-se assim ao nível de sua própria cegueira e de sua perversão moral, a pura verdade de Deus”. E pensando no Médio Oriente, Bento XVI reafirmou o direito do Estado de Israel a existir na Terra Santa, «de acordo com as normas do direito internacional», bem como o direito «do povo palestiniano de poder desenvolver pacificamente a sua próprias instituições democráticas para um futuro livre e próspero."

Para concluir, permitam-me evocar o que a paz significaria para o Médio Oriente:
– libertaria energia humana e recursos económicos para o desenvolvimento económico, social e cultural de povos inteiros;
– consolidaria a sociedade civil e a democratização;
– eliminaria qualquer motivo para ações violentas por parte dos extremistas, que se alimentam da frustração dos desfavorecidos;
– favoreceria um diálogo construtivo entre religiões e culturas, evitando assim o extremismo religioso e a emigração de cristãos.

Precisamente nestes dias, em que novas situações ameaçam mais uma vez os equilíbrios precários alcançados numa parte do mundo onde, entre outras coisas, se investe mais financeiramente na compra de armamento, é dever de todo homem de boa vontade lembrar todos que a guerra será sempre o pior meio de garantir a paz. Os cristãos pelo menos acreditam na possibilidade de outra lógica que pode ser resumida em poucas palavras: todo homem é meu irmão. Sim, nós, cristãos, pensamos que se todos estivéssemos convencidos de que somos chamados a viver juntos, que é bonito conhecer-nos, respeitar-nos e ajudar-nos, o mundo seria totalmente diferente.

Ninguém, exceto alguns fanáticos, tem qualquer interesse em ver o Médio Oriente sangrar novamente. É por isso que a Santa Sé continuará, com convicção e perseverança, a ajudar todos os povos desta região, forçados pela geografia, pela história - diria mesmo pela religião - a viverem juntos e a praticarem o respeito pelos direitos humanos fundamentais e pelas leis internacionais. lei. E isso só acontecerá se a força da lei conseguir finalmente prevalecer sobre a lei da força!


Fonte: https://www.30giorni.it/

Maria Domenica Mantovani

Maria Domenica Mantovani (Vatican News)
02 de fevereiro
Maria Domenica Mantovani

A Serva de Deus Maria Domenica Mantovani, primogênita de quatro irmãos, nasceu em Castelletto de Brenzone, província de Verona, no dia 12 de novembro de 1862, sendo seus pais João Batista Mantovani e Prudência Zamperini. Foi batizada no dia seguinte, 13 de novembro.

Recebeu a Crisma no dia 12 de outubro de 1870 e a Primeira Comunhão no dia 4 de novembro de 1874.

Freqüentou com grande proveito a escola primária, mas não pôde prosseguir os estudos por causa da pobreza da família. Supriram nela a falta de cultura os belos dotes de inteligência, vontade e grande bom senso prático. Desde criança mostrou-se muito propensa à oração e a tudo o que se referia a Deus. À base dessa profunda sensibilidade religiosa e cristã e de tanta riqueza de graça, que se desenvolveria sempre mais e irradiaria forte luz, estava o testemunho dos pais e dos familiares, gente simples, trabalhadora, honesta e rica de fé.

Fonte privilegiada, da qual a Serva de Deus bebeu em grande quantidade a sua formação cristã, foi o Catecismo que, unido aos ensinamentos da família, ajudou-a a pôr sólidas bases para, ao longo do tempo, poder construir sua personalidade humana e cristã. Casa, escola e igreja foram os campos em que foi plasmado seu caráter desde menina e deram um precioso rumo a toda a sua vida.

Transcorreu toda a juventude, até os 30 anos, na família. Cresceu sã no espírito e no corpo, distinguindo-se sempre pela bondade, docilidade, transparência de vida e singular piedade. Já nos tempos de moça, tornara-se apóstola de suas coetâneas, que formava, oferecendo-lhes boas leituras e, sobretudo, o testemunho de sua vida.

A Serva de Deus tinha 15 anos, quando o Beato José Nascimbene chegou a Castelletto, primeiro como professor e coadjutor (1877-1885), depois como pároco (1885-1922). Desde sua chegada, Nascimbene tornou-se seu diretor espiritual, seguro e lúcido, e ela sua primeira e generosa colaboradora nas muitas atividades paroquiais. Era a alma da juventude de toda a paróquia e era por todos amada e ouvida.

Dedicava-se com muito zelo ao ensino do catecismo às crianças. Visitava e assistia, com caridade evangélica, os doentes e os pobres.

Inscrita na Pia União das Filhas de Maria, foi sempre fiel na observância do Regulamento, tornando-se espelho e modelo para suas companheiras, às quais, gozando de forte ascendência, transmitia boas lições de vida.

Sendo devotíssima da Virgem Imaculada, no dia 8 de dezembro de 1886, nas mãos de seu diretor e pároco Padre José Nascimbeni, fez o voto de perpétua virgindade. A devoção para com a Virgem Imaculada foi o respiro de sua alma. A intimidade com Jesus Cristo e a contemplação da Sagrada Família tornaram-se a força de sua vida.

Desejando consagrar-se ao Senhor, chegou ao conhecimento da vontade de Deus, através do bem-aventurado Nascimbene, que a quis como colaboradora na fundação da Congregação das Pequenas Irmãs da Sagrada Família (6 de novembro de 1892). Tornou-se, assim, a co-fundadora e primeira Superiora geral.

Nas atividades paroquiais e no governo do Instituto, a Serva de Deus foi sempre de grande ajuda ao Fundador, a quem queria muito bem e de quem foi sempre fiel intérprete de seus projetos e desejos.

Contribuiu muito na elaboração das Constituições, inspiradas na Regra da Ordem Terceira Regular de São Francisco, e na formação das Irmãs. Sua colaboração e o testemunho de sua vida contribuíram de modo determinante para o desenvolvimento e expansão do Instituto. Sua obra completou à do Fundador, imprimindo na espiritualidade da nova congregação religiosa as notas características que distinguiam sua vida e seu modo de agir na Igreja e no mundo. A obra do Fundador se confundia com a da co-fundadora no inculcar nas primeiras Irmãs o carisma recebido do Espírito Santo. A ação do Beato Nascimbene era intensa, forte, enérgica; a de Maria era delicada e escondida, embora também firme e longe de qualquer fraqueza. Ambas se apoiavam em eloquentes exemplos e pacientes esperas.

Nos escritos da Serva de Deus aparecem claras suas qualidades de mãe amorosa e boa, de mestra sábia e lúcida, zelosa e, às vezes, exigente.

Depois da morte do Fundador, ela, rica em virtude, sabedoria e prudência, continuou a guiar o Instituto, com fortaleza de ânimo, grande abandono a Deus e profundo senso de responsabilidade, desejosa de transmitir às filhas os ensinamentos do Fundador, para que o genuíno espírito das origens se conservasse e fosse vivido integralmente.

Antes de morrer, teve a consolação de ver aprovadas de forma definitiva as Constituições e o próprio Instituto, de ver a obra continuada por cerca de 1200 Irmãs espalhadas por 150 casas filiais na Itália e do exterior, dedicadas às mais variadas atividades apostólicas e caritativas.

A Serva de Deus, até o fim de seus dias, cresceu no caminho da santidade, dando provas de todas as virtudes, especialmente da humildade.

No dia 2 de fevereiro de 1934, depois de alguns dias de enfermidade, terminou sua gloriosa caminhada terrena.

No dia 24 de abril de 2001, o Santo Padre João Paulo II, acolhendo e ratificando os votos da Congregação para a Causa dos Santos, a declarou venerável.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

A Terra Santa entre medos e esperanças (2/3)

Duas meninas palestinas que abandonam a escola retornam ao campo de refugiados de Ain Al Hilhew, no Líbano (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 01/02 – 2006

A POLÍTICA DO ORIENTE MÉDIO DA SANTA SÉ

A Terra Santa entre medos e esperanças

O Médio Oriente, na encruzilhada de três continentes, é o berço das três religiões monoteístas. É a fonte mais importante de abastecimento de hidrocarbonetos, mas é também vítima da situação criada pelo conflito não resolvido israelo-palestiniano. É a zona do mundo onde mais se gasta em armas, apesar dos gigantescos bolsões de pobreza. As reflexões do cardeal francês que trabalhou na diplomacia vaticana durante trinta anos.

do Cardeal Jean-Louis Tauran

Diante desta situação, qual foi a linha seguida pela Santa Sé? 

Eu diria que se desenvolveu em torno de cinco crenças: 1. os papas estavam preocupados em permanecer “super partes”, como último recurso para todos os partidos; 2. a Santa Sé, como sujeito de direito internacional de natureza religiosa, não propôs soluções técnicas, mas tentou facilitá-las, recordando antes de tudo o que está estipulado pelo direito internacional; 3. nunca esqueceu a presença das comunidades cristãs e defendeu os seus direitos específicos, em particular o direito à liberdade de consciência e de religião; 4. encorajou o diálogo inter-religioso Judaísmo-Cristianismo-Islão; 5. defendeu um estatuto especial, garantido internacionalmente, para os Lugares Santos das três religiões. Gostaria agora de ilustrar estas cinco crenças que fundamentam a acção da diplomacia pontifícia no Médio Oriente.

1. Para a Santa Sé, a liberdade, a segurança e a justiça são os principais factores sobre os quais assenta uma paz justa. Uma paz que não fosse percebida pelas partes interessadas como equitativa não seria duradoura; na verdade, daria origem a sentimentos de frustração sempre susceptíveis de degenerar. Para a Igreja Católica, cada pessoa tem a mesma dignidade e os mesmos direitos fundamentais.
Consequentemente, todo povo tem direito à sua terra com soberania e liberdade. Os papas sempre disseram isso e o disseram a todos e para todos. Você não pode defender os seus direitos legítimos pisoteando os dos outros. É por isso que os papas se pronunciaram a favor da existência de dois Estados – Israelita e Palestiniano – que gozem da mesma liberdade, soberania, dignidade e segurança, de acordo com os ditames do direito internacional.

2. A Santa Sé recordou a todos os princípios do direito internacional que devem ser aplicados de forma inequívoca para evitar a lógica dos "duplos pesos e duas medidas". O diálogo, a negociação, a mediação da comunidade internacional, se necessário, são os únicos meios dignos do homem para alcançar a solução pacífica das inevitáveis ​​disputas entre os Estados.

A paz é também o resultado do respeito pelas ferramentas técnicas da colaboração internacional. O direito internacional garante a liberdade dos indivíduos e dos povos. O respeito pelos compromissos assumidos, segundo o antigo ditado "pacta sunt servanda", a fidelidade aos textos elaborados, muitas vezes à custa de grandes sacrifícios, a prioridade dada ao diálogo, são meios capazes de evitar que os mais fracos sejam vítimas da força dos mais fortes e lembrar aos mais poderosos que terão de prestar contas dos seus atos perante a comunidade das nações. É por isso que, por exemplo, no caso da crise do Iraque, a Santa Sé recordou que tudo devia ser empreendido e decidido no contexto da ONU, em particular do capítulo VII da Carta, que prevê que só o Conselho de Segurança pode, devido a circunstâncias particulares, decidir se um país membro representa uma ameaça à paz. Mas isto não significa que o uso da força seja, para o próprio Conselho de Segurança, a única resposta adequada. O direito internacional proibiu a guerra, em particular graças à Carta das Nações Unidas: refiro-me ao art. 2 § 4, que afirma que os Estados membros renunciarão à guerra para resolver os seus conflitos.

3. A sua dimensão extraordinariamente religiosa levou a Santa Sé a tentar proteger a liberdade de consciência e de religião numa região de maioria muçulmana. Durante os últimos dois séculos, o destino dos cristãos esteve ligado aos interesses das potências europeias. Durante o processo de descolonização do século XX, os cristãos do Médio Oriente sentiram-se muitas vezes abandonados face a uma maioria islâmica, a um novo Estado criado para acolher os judeus e os palestinianos em busca de terras. Eles se sentiram uma minoria três vezes!

Dito isto, não gostaria que ninguém pensasse que a Santa Sé tem em mente proteger os cristãos do Médio Oriente, reunindo-os num gueto ou em pequenos "enclaves" religiosamente puros! Para os cristãos – especialmente para os católicos – as pontes devem ser preferidas aos muros. A Igreja é católica, universal em essência. A sobrevivência dos cristãos naquela parte do mundo não pode ser concebida senão em simbiose com o Judaísmo e o Islão. É por isso que a Santa Sé assinou um Acordo fundamental com o Estado de Israel (30 de Dezembro de 1993) e um Acordo básico com a Autoridade Palestiniana (15 de Fevereiro de 2000): para proteger os direitos dos católicos, protegendo-os das crises e das mudanças da situação política. vida das duas sociedades.

4. Além disso, as comunidades cristãs que se sentem respeitadas estarão mais dispostas a colaborar na vida da sociedade em que vivem e, portanto, na construção da paz. E um dos meios mais eficazes para ter êxito nesta tarefa é o diálogo inter-religioso. Todos nos lembramos da visita de João Paulo II à Sinagoga de Roma, da sua paragem diante do Muro das Lamentações e do seu encontro com os rabinos em Jerusalém, da sua visita a Belém, do encontro com o reitor da Universidade Al-Azhar do Cairo , a sua visita ao Líbano ou mesmo a paragem na histórica mesquita de Damasco. Para a Santa Sé, o diálogo entre os crentes é o melhor antídoto para derrotar o terrorismo islâmico, que é uma perversão do Islão. Na sua mensagem por ocasião do Dia de Oração pela Paz, em 1 de Janeiro de 2002, João Paulo II afirmou que matar em nome de Deus nada mais é do que uma perversão da religião: «A violência terrorista é contrária à fé em Deus, o Criador da 'homem, em Deus, que cuida do homem e o ama."

Isto explica a preocupação da Santa Sé pelo Líbano, onde as religiões e as culturas se fertilizaram mutuamente e moldaram o país mais tolerante e democrático do Médio Oriente. Um país onde todas as comunidades vivam em igualdade de condições. Um país que constitui uma mensagem para toda a região.

Não gostaria que ninguém pensasse que a Santa Sé tem em mente proteger os cristãos do Médio Oriente, reunindo-os num gueto ou em pequenos "enclaves" religiosamente puros! Para os cristãos – especialmente para os católicos – as pontes devem ser preferidas aos muros. A sobrevivência dos cristãos naquela parte do mundo só pode ser concebida em simbiose com o Judaísmo e o Islã.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Palavra admirável

Os ensinamentos de Jesus (Catequese)

PALAVRA ADMIRÁVEL

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

Palavras, palavras e mais palavras fazem parte do cotidiano. São proferidas por cada um nós, pelas pessoas que nos rodeiam e divulgadas pelos inúmeros meios de comunicação. Há palavras ditas com sinceridade e são verdadeiras, outras duvidosas e maldosas. Há palavras vãs e sem efeito, outras com forte dinamismo de transformação. Se faz necessário um exercício permanente de discernimento para acolher as palavras que fazem sentido, que constroem solidariedade, fraternidade e o bem comum, daquelas que são destrutivas e induzem à falsidade, ao erro, à vingança.  

A Palavra de Deus, deste domingo, conta que Jesus profere palavras dignas de admiração, que curam e libertam. (Deuteronômio 18,15-20, Salmo 94, 1 Coríntios 7,32-35 e Marcos 1,21-28). Jesus está no começo da vida pública de pregador. Inicia na sinagoga de Cafarnaum e sua fama se espalha rapidamente. “Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei. […] O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem”.  

Os evangelistas registram que Jesus ocupava a maior parte do seu tempo ensinando. Ensinar é próprio de quem é mestre. Diversas vezes se faz o registro que ensinava, mas não é dito o conteúdo do ensino. Diante disso, é melhor estar próximo ao Mestre e percorrer com ele a estrada por ele escolhida: somente assim será possível assimilar a sua mensagem. Podemos dizer que o conteúdo é sua própria pessoa de Jesus a ser acolhida e seguida, como fizeram os primeiros discípulos. 

Se algumas vezes falta o conteúdo do ensinamento de Jesus, mas não falta o efeito que as palavras dele produzem. Os ouvintes são atingidos com as palavras que escutam e têm diversas reações. Ficam admirados com as palavras porque são ditas com autoridade. Sua palavra se impõe por libertar a inteligência trazendo-a à luz, aquecer o coração, revigorar a vida. É uma palavra potente porque cria, cura e renova. 

O resultado final que os ensinamentos de Jesus querem atingir é a libertação do mal. Na sinagoga onde Jesus anunciava havia um homem “possuído por espírito mau. Ele gritou: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”. Jesus o intimou: “Cala-te e sai dele!”. A palavra poderosa de Jesus contra o “espírito mau” será uma ação constante na luta para passar da escravidão para a liberdade. 

“O mal no homem são as suas várias alienações, nas quais ele não é aquele que deveria ser; e é dependente. O homem é alienado quando não realiza a si mesmo, porque não está em harmonia com os outros ou consigo mesmo ou com as coisas, tornando-se escravo. O mal, então, é uma potência, que domina e subjuga o homem. [.. ] O espírito do mal expressa-se e encarna-se nas várias estruturas ou círculos da sociedade e a nível pessoal. […] No campo econômico, temos a exploração dos pobres; no social, verificamos o privilégio de uma classe sobre outra; no “político” encontramos o poder que domina as pessoas reduzindo-as a objetos […]; no cultural, encontramos as várias “ideologias” […] Chega-se, assim, a um sistema de males que contagia e condiciona todos os homens e que, por sua vez, é alimentado por eles: esse é o “pecado do mundo” do qual provém o mal do homem. Jesus se engaja na luta contra o mal, antes de tudo, com o poder de sua palavra”. ( T.BECK e outros: Uma comunidade lê o Evangelho de Marcos, p. 73-74). Diante disso, será importante conservar a admiração pela palavra admirável de Jesus e sobretudo pela sua pessoa.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

NAZARENO: "Dai-lhes de comer" (Multiplicação dos pães e peixes) - (28)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 28 - "Dai-lhes de comer" (Multiplicação dos pães e peixes)

Ao retornarem, os apóstolos contaram a Jesus tudo o que haviam feito durante as semanas que passaram em missão sem Ele. Tanta hostilidade, mas Pedro, por exemplo, confiava que a palavra de Jesus havia reacendido a esperança no coração de uma pobre mulher provada pela vida. O Mestre os reúne para seguir em direção a Betsaida, mas a multidão os segue por toda parte. É tarde, Jesus passa horas e horas entre as pessoas espalhadas em um campo, a noite está se aproximando e os apóstolos dispensam a multidão para que eles possam ir buscar comida e abrigo nos arredores. Jesus lhes diz: "Vocês mesmos lhes deem de comer". Eles responderam: "Temos apenas cinco pães e dois peixes".  "Sentem-nos em grupos de cinquenta ou mais." Então Jesus pega a pouca comida que havia, pega os cinco pães e dois peixes, levanta os olhos para o céu, recita a bênção sobre eles, parte-os e os dá aos discípulos para que os distribuam à multidão. Os pães são partidos e partidos novamente, e a partilha parece não ter fim. Todos comeram à vontade e os pedaços que sobraram foram levados embora: doze cestos.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/01/29/16/137660034_F137660034.mp3


Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Papa: educação católica não significa fechamento, é preciso expandir o coração

O Papa recebe uma delegação da Universidade de Notre Dame (Vatican Media)

Na manhã desta quinta-feira (01/02), Francisco recebeu em audiência uma delegação da Universidade de Notre Dame. Em seu discurso, o Pontífice incentivou os esforços para promover entre os estudantes "um compromisso com as necessidades das comunidades desfavorecidas" e pediu aos educadores que ajudem os jovens a "sonhar" e "cultivar uma abertura para tudo o que é verdadeiro, bom e belo".

Thulio Fonseca - Vatican News 

Na manhã desta quinta-feira, 1º de fevereiro, o Papa Francisco recebeu em audiência no Vaticano, uma delegação da Universidade de Notre Dame, localizada em South Bend, Indiana, nos Estados Unidos. Durante o encontro, o Pontífice proferiu um discurso e enalteceu a missão da instituição católica em promover a educação integral da juventude.

“Desde sua fundação, a Universidade de Notre Dame tem se dedicado a promover a missão da Igreja de proclamar o Evangelho por meio da formação de cada pessoa em todas as suas dimensões.", afirmou o Pontífice, ao recordar uma frase do fundador da Congregação de Santa Cruz, que mantém a universidade:

“De fato, como disse o Beato Basil Moreau, "a educação cristã é a arte de conduzir os jovens à plenitude". E não apenas com a cabeça, mas com as três linguagens: cabeça, coração e mãos. Este é o segredo da educação: que pense no que sente e no que faz, que sinta o que pensa e o que faz, e que faça o que sente e o que pensa. Esse é o núcleo, não se esqueça. E sobre esse assunto de conduzir à maturidade, gostaria de refletir com vocês por um momento sobre três linguagens: a da cabeça, a do coração e a das mãos. Juntas, elas formam um horizonte dentro do qual as comunidades acadêmicas católicas podem se esforçar para formar personalidades sólidas e bem integradas, cuja visão da vida é animada pelos ensinamentos de Cristo.”

Harmonia entre fé e razão

Ao falar sobre a educação da “cabeça”, Francisco destacou a necessidade de buscar o conhecimento por meio do estudo e da pesquisa acadêmica, e destacou a importância da harmonia entre fé e razão: 

“Os esforços educacionais empreendidos pelas instituições católicas, de fato, baseiam-se na firme convicção da harmonia intrínseca entre fé e razão da qual decorre a relevância da mensagem cristã para todas as esferas da vida, pessoal e social. Consequentemente, tanto os educadores quanto os alunos são chamados a apreciar cada vez mais, além do valor do aprendizado em geral, a riqueza da tradição intelectual católica em particular. A tradição intelectual existe, o que não significa fechamento, não, é abertura; existe uma tradição intelectual que devemos preservar e sempre cultivar”.

O papel essencial da religião

Sobre a educação do “coração”, o Santo Padre instou a comunidade universitária a acompanhar os jovens com sabedoria e respeito, ajudando-os a cultivar uma abertura para a verdade, o bem e o belo. Ao enfatizar a importância de promover o diálogo e a cultura do encontro para construir relacionamentos genuínos e fraternos, Francisco questionou os educadores:

“Vocês ajudam os jovens a sonhar? Isso também significa promover o diálogo e a cultura do encontro, para que todos possam aprender a reconhecer, apreciar e amar a todos como irmãos e irmãs e, acima de tudo, como filhos amados de Deus. Nesse sentido, não podemos ignorar o papel essencial da religião na educação do coração das pessoas.”

Construir um mundo melhor

O último ponto que o Papa sublinhou foi a educação que acontece também através das “mãos”, e encorajou a universidade a ir além dos muros acadêmicos, incentivando seus alunos a se comprometerem com a construção de um mundo melhor:

“Não podemos permanecer fechados dentro dos muros ou limites de nossas instituições, mas devemos nos esforçar para ir às periferias, para encontrar e servir a Cristo em nosso próximo. Nesse sentido, incentivo os esforços contínuos da Universidade para promover em seus alunos o compromisso de solidariedade com as necessidades das comunidades mais desfavorecidas.”

Ao concluir, Francisco pediu aos presentes na audiência a permanecer consistentemente fiel ao caráter e identidade como uma instituição católica de ensino superior: “espero que vossas contribuições continuem a aprimorar o legado da sólida educação católica e permitam que ela seja na sociedade, como desejava seu fundador, padre Edward Sorin, ‘um poderoso meio para o bem’.”

Universidade de Notre Dame

A Universidade de Notre Dame, fundada em 1842 pelo padre francês Edward Sorin, religioso da  Congregação de Santa Cruz, é uma das instituições mais respeitadas dos Estados Unidos e do mundo, conhecida por sua excelência acadêmica e seu compromisso com os valores cristãos. Com aproximadamente 8 mil alunos, a universidade continua a inspirar gerações com sua busca pela verdade, bondade e beleza, mantendo vivo o legado de uma educação integral.

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Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Franz Kafka, o profeta da desumanização burocrática

Kafka e o horror à burocracia (Terra)

RANZ KAFKA, O PROFETA DA DESUMANIZAÇÃO BUROCRÁTICA

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ) 

Comemoramos neste ano o centenário da morte do escritor Franz Kafka, falecido em Praga afetado gravemente por tuberculose no dia 03 de junho de 1924. Foi um dos maiores literatos de língua alemã do século XX, e quem melhor retratou o perigo da burocratização do Estado para as pessoas e a própria cidadania.  

Em suas obras o Processo e o Castelo, seus protagonistas foram denominados com a letra “K” para denotar a despersonalização e a alienação de processos administrativos que se tornavam verdadeiros labirintos sem saída, passando de instâncias e protocolos numa sucessão ad infinitum, que no caso do processo termina laconicamente na morte “como um cão”.  

Foi formado em advocacia em 1906, trabalhando primeiramente numa companhia privada de seguros, mais tarde será contratado por uma semi estatal o Instituto de Seguros contra Acidentes de Trabalho, sendo durante o dia um burocrata e de noite um escritor. Já seja nas observações feitas pela forma que o seu Pai tratava na sua empresa têxtil os empregados e pelos acidentes de trabalho que ele confrontava cotidianamente, vão torná-lo profundamente compassivo e sensível a exploração dos trabalhadores, realidade que ele dará visibilidade no seu livro América.  

Seus textos considerados por muitos duros e cruéis e até distópicos acenam já para a obra de George Orwell, que tanto em 1984 como na revolta dos animais, escancaram o risco de uma sociedade de controle total, sem possibilidades de saída ou liberdade.  

Mas a diferença de Orwell vê-se em Kafka uma fresta de autonomia e determinação de ir até o fim. Também antecipa o Holocausto dos seus irmãos judeus, no livro a Colônia Penal, que possui grandes semelhanças com os  futuros campos de extermínio nazistas inclusive nas máximas “educativas” : Ilumina-se o mais embrutecido, frase da Colônia, próxima da famosa frase de Auschwitz :  

O trabalho liberta. Fica para nós um olhar e um legado de tratar de democratizar o Estado, pois como se diziam os críticos deste fenômeno:  mais burocracia menos democracia. Percebemos que aquilo que o Papa Francisco apontou na mensagem do Dia Mundial da Paz 2024, sobre Paz e Inteligência Artificial, trás desafios muito sérios a respeito dos direitos da cidadania, da autonomia do povo, no controle e humanização dos serviços públicos e estatais. Cabe finalmente aplicar este alerta kafkiano aos relacionamentos eclesiais, muitas vezes pouco sinodais, limitando-se a cumprir regras frias sem tomar em conta a realidade das pessoas.

Por uma política melhor, um serviço público autenticamente servidor e focalizado sempre na atenção as pessoas e na sua dignidade e comunidades sinodais e participativas. Deus seja louvado!


Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Diocese de Santiago de Cabo Verde completa 491 anos desde a sua criação

Ruínas da Antiga Catedral - Cidade Velha - Cabo Verde (Vatican Media)

No próximo dia 31 de janeiro de 2024 a Diocese de Santiago de Cabo Verde completa 491 anos da sua criação. Tudo aconteceu em 1533, e tem como patrono São Tiago Menor Apóstolo.

Rádio Nova de Maria, para o Vatican News

A Diocese de Santiago de Cabo Verde caminha para os 500 anos, evento que vai acontecer em 2033. Para o Bispo da Diocese, o Cardeal Dom Arlindo Gomes Furtado, é uma bênção.

Em 29 de maio de 1532, o rei Dom João III de Portugal formulou o pedido ao Papa no sentido da criação de um Bispado em Cabo Verde cuja sede seria na Vila da Ribeira Grande, ilha de Santiago, e que para o efeito teria que ser criada cidade.

O território abrangeria não só o arquipélago de Cabo Verde como também uma parte do continente contíguo numa extensão de 350 léguas de terra firme na costa ocidental africana, desde o rio Senegal até ao rio Santo André, perto do Cabo das Palmas. O rei apresentou logo para bispo, Dom Brás Neto, (1533 – 1534), na altura embaixador em Roma.

Em 31 de janeiro de 1533, através da Bula “Pro Excelenti”, o Papa Clemente VII criava a Diocese de Santiago de Cabo Verde com sede na Igreja Paroquial da Ribeira Grande. Ficaria sufragânea da Diocese do Funchal, ereta na mesma data e pelo mesmo documento, ereta em metrópole Eclesiástica. Sede atual na Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Graça, cidade da Praia.

33 Bispos constam na lista dos nomeados para a Diocese. O último e segundo caboverdiano a ser nomeado, Dom Arlindo Gomes Furtado, recebeu a Ordenação Episcopal em 22 de fevereiro de 2004, na Cidade da Praia, pelas mãos do seu antecessor o bispo Dom Paulino Livramento Évora. E foi criado Cardeal em 2015.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Papa Francisco acusa "pequenos grupos ideológicos" de oposição a Fiducia supplicans

Papa Francisco durante uma Audiência Geral em 2023 (Vatican News)

O papa Francisco acusa “pequenos grupos ideológicos” pelo que considera protestos contra a declaração Fiducia supplicans, do Dicastério para a Doutrina da Fé, que “coloca a possibilidade de casais em situações irregulares e de uniões do mesmo sexo”. Em entrevista publicada ontem (29), pelo jornal italiano La Stampa, o papa disse não temer um cisma na Igreja.

O papa alegou que o documento responde o sentido do Evangelho, "que é para santificar a todos".

"É claro, sempre que haja boa vontade. E é necessário dar instruções precisas sobre a vida cristã (enfatizo que não se abençoa a união, mas as pessoas)", explicou Francisco.

Ele ainda ressaltou que " todos somos pecadores: então por que fazer uma lista de pecadores que podem entrar na igreja e uma lista de pecadores que não podem estar na igreja? Isto não é o Evangelho", afirmou.

Quanto à divisão entre bispos e padres em todo o mundo depois da publicação do documento em 18 de dezembro de 2023, o papa Francisco destacou que "os que protestam com veemência pertencem a pequenos grupos ideológicos".

Perguntado se teme um cisma, ele respondeu que "não, na igreja sempre houve pequenos grupos que manifestaram reflexões cismáticas... devemos deixá-los ficar e seguir ... e olhar para frente".

Fiducia supplicans: "África é um caso à parte", diz papa Francisco

Desde a sua publicação em 18 de dezembro de 2023, esse documento provocou uma série de reações de bispos e numerosas conferências episcopais, especialmente na África, onde se mostraram contra a aplicação das bênçãos propostas pelo Dicastério para a Doutrina da Fé.

O papa Francisco se referiu a isto como um caso especial: "Os africanos são um caso à parte, para eles a homossexualidade é algo 'feio' do ponto de vista cultural, não a toleram”.

"Mas, em geral, confio que pouco a pouco todo o mundo vai compreender o espírito da declaração Fiducia supplicans do Dicastério para a Doutrina da Fé: ele quer incluir, não dividir. Convida a acolher, e depois a confiar nas pessoas, e a confiá-las a Deus", destacou o papa.

A esta oposição liderada pela África se juntaram outros bispos, padres e várias dioceses. Na Europa, incluem-se a Conferência Episcopal Polonesa e também os bispos da Holanda. Outras vozes de bispos se levantaram contra esta declaração em países como a Espanha e a França.

Os bispos do Cazaquistão afirmam que a Fiducia supplicans terá "consequências destrutivas e de longo alcance" e o cardeal Joseph Zen ze-kiun, bispo emérito de Hong Kong, chegou a questionar se o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé deveria renunciar.

Líderes da igreja em países da América Latina, como Brasil, México, Peru e Uruguai, incluindo o arcebispo de Montevidéu, cardeal Daniel Sturla, também se manifestaram em desacordo com este tipo de bênçãos.

Fonte: https://www.acidigital.com/

A Terra Santa entre medos e esperanças (1/3)

Um palestino observa o muro construído pelos israelenses dentro da Cisjordânia (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 01/02 – 2006

A POLÍTICA DO ORIENTE MÉDIO DA SANTA SÉ

A Terra Santa entre medos e esperanças

O Médio Oriente, na encruzilhada de três continentes, é o berço das três religiões monoteístas. É a fonte mais importante de abastecimento de hidrocarbonetos, mas é também vítima da situação criada pelo conflito não resolvido israelo-palestiniano. É a zona do mundo onde mais se gasta em armas, apesar dos gigantescos bolsões de pobreza. As reflexões do cardeal francês que trabalhou na diplomacia vaticana durante trinta anos.

do Cardeal Jean-Louis Tauran

Ao preparar-me para o encontro desta tarde, pensei que ficaria feliz se, uma vez terminado, os meus ouvintes pudessem perceber a liberdade com que os papas e os seus colaboradores enfrentam, numa perspectiva primorosamente ética, situações tão complexas como a do Médio Oriente. Leste. Afinal, as palavras dos papas ou a ação discreta dos diplomatas pontifícios são a voz da consciência, que, diante de uma região onde toda situação pode mudar da noite para o dia, diz: não podemos aceitar a banalização das pequenas e grandes guerras que perpetuam injustiça e afligem populações inteiras, que não sabem se terão futuro. A Santa Sé nunca deixa de encorajar o regresso à legalidade internacional: isto é, a recusa de reconhecer a aquisição de territórios pela força, o direito dos povos à autodeterminação, o respeito pela Carta e pelas Resoluções da ONU, para ser muito breve. Liberdade, verdade e diálogo: assim se poderia resumir a diplomacia pontifícia!

Mas antes de entrar no mérito do tema que me foi atribuído, gostaria de fazer alguns breves esclarecimentos: o que se entende por “Oriente Médio”, o que indica a expressão “Santa Sé”? 

O Médio Oriente 

A noção moderna de Médio Oriente é atestada pela primeira vez em 1902, num artigo de Alfred Mahan, publicado na National Review de Londres . É uma área que se estende desde o Mediterrâneo oriental até ao Paquistão e inclui povos árabes e não árabes. Desde 1948 inclui também o Estado de Israel. As crises políticas que o abalam e as guerras que o destroem, bem como os seus próprios recursos energéticos conferem-lhe uma centralidade económica e estratégica sempre renovada, como terei oportunidade de ilustrar em breve.

Cada povo tem direito à sua própria terra com soberania e liberdade. Os papas sempre disseram isso e o disseram a todos e para todos. Você não pode defender os seus direitos legítimos pisoteando os dos outros. É por isso que os papas se pronunciaram a favor da existência de dois Estados – Israelita e Palestiniano – que gozem da mesma liberdade, soberania, dignidade e segurança.

A Santa Sé não é equivalente à Igreja Católica. Não é o mesmo que o Estado da Cidade do Vaticano. É este centro único de comunhão universal representado pelo Papa e pela sua Cúria ao serviço da Igreja Católica, que é por natureza uma realidade universal. Pelo menos desde o início da Idade Média, os Estados reconheceram neste centro uma subjetividade e independência que lhe permitem ser um verdadeiro “parceiro” dos atores da comunidade internacional, como pessoa jurídica de direito internacional público que prossegue fins religiosos e morais. , do qual todos os povos podem beneficiar. Numa palavra, a Santa Sé nada mais é do que o papado. Um poder moral. O tema escolhido para o nosso encontro é particularmente adequado para evidenciar como a Santa Sé, uma potência moral, preocupada em permanecer imparcial , contribui para uma certa "moralização" da vida internacional, fazendo ouvir a sua voz em defesa dos direitos da pessoa humana e nações, pelo respeito do direito internacional e pela promoção da cooperação e da paz. Como é o Médio Oriente hoje? Obviamente partilharei convosco as minhas opiniões pessoais, fruto da minha certa familiaridade com aquela parte do mundo. E deixe-me explicar. Fui secretário da Nunciatura Apostólica em Beirute de 1979 a 1983, em plena guerra civil. Depois, desde 1990, quando o Papa João Paulo II me nomeou secretário para as relações com os Estados, tenho estado envolvido na normalização das relações entre a Santa Sé e o Estado de Israel (as relações diplomáticas foram estabelecidas em 1994). Além disso, desde a primeira Guerra do Golfo até à crise do Iraque, o tema do Médio Oriente foi um dos que mais mobilizou as minhas energias, até Outubro de 2003, quando fui adicionado ao Colégio Cardinalício. Numerosas missões no Médio Oriente também me deram algum conhecimento dos homens e dos problemas da região. Tudo isto para dizer que o meu relatório será também, num certo sentido, um testemunho. O Oriente Médio é assustador hoje. E com razão. Está localizado na encruzilhada de três continentes. É o berço das três religiões monoteístas. Tornou-se a fonte mais importante de abastecimento de hidrocarbonetos. Mas ele também é vítima da situação criada pelo conflito não resolvido israelo-palestiniano. As consequências da operação americana no Iraque ainda não estão totalmente identificadas. A isto devemos acrescentar a ameaça nuclear e o terrorismo que encontram todos os ingredientes para o seu desenvolvimento num tal contexto.

O Médio Oriente é a região do mundo que mais investe dinheiro em armamentos. As correntes islâmicas extremistas estão presentes em todo o lado. A ausência de alternância política, a pobreza das classes sociais mais humildes, a urbanização descontrolada, o desemprego e a pressão demográfica favorecem uma minoria de privilegiados e a prática da corrupção.

A cúpula da Mesquita Omar em Jerusalém (30Giorni)

É verdade que há alguns lampejos de esperança: foi possível organizar eleições nos territórios palestinianos; a retirada (pelo menos visível) das tropas sírias do Líbano; eleições municipais foram organizadas na Arábia Saudita; O Iraque tem uma Constituição; em muitos países existe uma exigência de participação real na vida política.

Mas também se poderia perguntar: a democracia não poderia mergulhar a região na anarquia? Não poderia levar os movimentos ou partidos islâmicos ao poder? A prolongada presença americana no Iraque não exacerba a xenofobia ou o ódio das populações locais contra o Ocidente? Podemos compreender a complexidade da situação naquela parte do mundo presa entre medos e esperanças. Surge um sentimento de insegurança, que o sucesso do Hamas nos Territórios Palestinianos, bem como as condições de saúde de Ariel Sharon contribuem para agravar. É portanto provável que, durante muitos anos, o Médio Oriente seja uma zona de turbulência: a influência dos movimentos islâmicos persistirá, o sentimento antiamericano e antiocidental permanecerá elevado; o risco terrorista dentro e fora da região pesará na segurança; a evolução do mercado petrolífero dependerá muito dessa instabilidade. «A experiência vivida pela Moyen Orient é que o inesperado é previsível e os incêndios nunca são sûr!».

 Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF