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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

A vocação de Maria narrada como se fosse um filme

A Anunciação (Opus Dei)

A vocação de Maria narrada como se fosse um filme

Há filmes que vimos tantas vezes que somos capazes de repetir alguns de seus diálogos de memória. Muitos são ambientados em lugares onde nunca estivemos, mas que nos parecem muito familiares. A anunciação é um desses filmes com os quais temos familiaridade.

20/07/2023

Há dois mil anos existia uma pequena casa de tijolo incrustada na rocha e que foi o cenário em que se realizou o maior acontecimento da história da humanidade. Ainda que não tenhamos ido lá, esse recanto – que nunca teria constado em livros e nem sequer em mapas – foi objeto da imaginação de gerações de cristãos e são incontáveis os artistas que, com mais ou menos verossimilhança, plasmaram-no em suas obras.

Com certeza teremos ouvido muitas vezes o diálogo (cfr. Lc 1, 26-38) que uma jovem de nome Maria e o arcanjo Gabriel, enviado por Deus, mantiveram entre aquelas paredes. Uma troca de palavras à qual podemos voltar sempre (fazemos isso todos os dias ao recitar o ângelus), pois se trata de um ponto alto na aliança entre Deus e os homens.

Um coração que ora

Podemos entrar nesta casa com a imaginação em um dia que está começando a raiar. É uma manhã cálida de primavera e o silêncio ainda reina nas ruelas de Nazaré, interrompido apenas esporadicamente por passos, pelo trote de um burrico ou por um diálogo em voz baixa. Maria, como sempre, acordou cedo. Antes de ir buscar água no poço, gosta de reservar uns minutos à oração. Pode assim elevar o coração a Javé e dar-lhe graças pelo dom de um novo dia. Sua meditação flui como um rio, “manso e largo”[1], sem ruído de palavras. Repete o Shemá Israel[2] e muitas vezes a sua oração é inspirada nos salmos do rei Davi.

Maria sabe que a memória é um componente essencial da fé do povo eleito. É constante na Bíblia a exortação dos escritores sagrados a Israel para que conserve a recordação da providência divina[3]. Ela havia refletido numerosas vezes sobre esses textos: “Nossa Mãe meditara longamente sobre as palavras das mulheres e dos homens santos do Antigo Testamento, que esperavam o Salvador, e sobre os acontecimentos de que tinham sido protagonistas. Admirara aquele cúmulo de prodígios, o esbanjamento da misericórdia de Deus sobre o seu povo”[4]. Habituada como estava desde a infância a conversar com Javé na intimidade do seu coração, considerava a sua proteção paternal e como seu desígnio de salvação ia se desenvolvendo desde o início dos tempos. Havia pedido em sua oração, com insistência, pela vinda do Messias prometido.

Apesar da sua juventude, Maria aprendeu a fazer silêncio para contemplar a presença divina em sua alma. Agrada-lhe ponderar em seu coração[5] os grandes e pequenos acontecimentos, para avaliá-los sob o prisma da Providência. Não surpreende, por isso, pensar que o anjo Gabriel, quando apareceu para fazer-lhe a maior proposta que pode ser feita a uma criatura, a encontrasse recolhida em oração[6]. “Não há melhor forma de rezar do que ficar como Maria em uma atitude de abertura, de coração aberto a Deus: ‘Senhor, o que você quiser, quando você quiser e como você quiser’. Quer dizer, o coração aberto à vontade de Deus”[7].

A humildade da cheia de graça

O mensageiro divino saúda a Maria com reverência e entusiasmo: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1, 28). O texto sagrado afirma que “ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação” (Lc 1, 29). Não é a visita de um ser angélico que surpreende a Virgem Maria, mas as palavras com as quais se dirige a ela: “O mensageiro, efetivamente, saúda Maria como "cheia de graça"; e chama-lhe assim, como se este fosse o seu verdadeiro nome. Não chama a sua interlocutora com o nome que lhe é próprio segundo o registo terreno: "Miryam" (= Maria); mas sim com este nome novo: "cheia de graça"”[8]. É revelado a ela o nome que Javé pensou para a sua Mãe desde toda eternidade, aquele que melhor a descreve. Por contraste, Ela tem consciência de ser tão pequena diante da grandeza do Criador! E é precisamente esta humildade de Maria que cativa a Deus e a converte em objeto da sua predileção: “O segredo de Maria é a humildade. Foi a humildade que atraiu o olhar de Deus sobre ela. O olhar humano procura sempre a grandeza e fica deslumbrado com o que é ostensivo. Deus, ao contrário, não olha para as aparências, Deus olha para o coração (cf. 1 Sm 16, 7) e a humildade o encanta: a humildade do coração encanta Deus”[9].

Gabriel continua sua embaixada: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1, 30-33). “Ne timeas, Maria! Não temas, Maria! Também podemos considerar essas palavras dirigidas a nós: não tenha medo. São João escreve algo surpreendente em sua primeira carta: "quem teme não é perfeito no amor" (1 Jo 4, 17), que São Josemaría traduzia assim: "quem tem medo, não sabe amar" (Forja, n. 260). Senhor, nós queremos saber amar, crescer no amor”[10].

A jovem, que desde a infância escutou a promessa messiânica, compreende bem as palavras do mensageiro celeste. E apesar de ter feito a promessa de entregar totalmente a Deus a sua alma e o seu corpo, descobre naquele momento que foi a escolhida, entre todas as mulheres de Israel, para converter-se na mãe do Messias. Como faz habitualmente, ela põe em jogo todos os seus talentos para discernir a vontade divina. Abre a inteligência à mensagem recebida e procura compreender como tornar compatível esse pedido de Deus com o desejo que sente no coração de ser toda dele: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” (Lc 1, 34). Não duvida que o plano divino vai se realizar. Desejou sempre seguir a vontade de Javé, mas quer entender como a providência encaminhará os acontecimentos e como ela pode responder com generosidade e com plena adesão do coração. “Maria não foi um instrumento puramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou para a salvação dos homens com fé e obediência livres”[11].

A espera de um sim

Gabriel prossegue: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus” (Lc 1, 35). E acrescenta um dado surpreendente: “Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível” (Lc 1, 36,37). O anjo resolve a dúvida: o fruto do ventre de Maria será obra do Espírito Santo. Nestas simples palavras está contida a primeira revelação da fé trinitária no Novo Testamento. E a Virgem Maria é a primeira criatura a prestar assentimento a esta verdade, que forma o conteúdo central do dogma cristão. Como pregou Santo Agostinho, antes de conceber em seu seio, Maria concebe Jesus em seu coração: “Ela acreditou em Cristo e o concebeu mediante a fé. Realiza-se primeiro a vinda da fé ao coração da Virgem, e a seguir vem a fecundidade ao seio da mãe”[12].

O anjo oferece um sinal à Senhora ao falar da sua prima Isabel, a esposa de Zacarias, sacerdote que mora em Ain-Karim. Isabel também recebeu uma grande graça divina e está a ponto de dar à luz um filho, apesar de ser estéril e de ter ultrapassado há tempo a idade de ser mãe. Maria compreende que Isabel, além de necessitar de sua ajuda no fim de sua gravidez, é a confidente ideal com quem compartilhar a maravilha que Javé está a ponto de realizar em suas entranhas e na sua vida.

A seguir, vem o silêncio. São apenas uns segundos, mas parece que, nesse pequeno quarto, o tempo e a eternidade se fundem, ultrapassando os limites do possível. Toda a história da salvação depende dos lábios de Maria, a redenção de milhões de almas, desde Adão até o último homem que pisar esta terra. O anjo aguarda com expectativa que ela preste o seu consentimento[13]. Maria fecha os olhos por um instante e se recolhe em oração. Compreende agora como os acontecimentos da sua breve existência se encaminharam para aquele momento e todas as peças da sua vida, cada talento e graça recebidos, e inclusive a dor, ganham um sentido novo ao ouvir essa proposta divina. Sabe que não será fácil, pensa em José e também intui que muitos não entenderão a sua situação, mas já comprovou que Deus é capaz de resolver cada prova ou cada obstáculo, como fez com o seu povo durante a travessia no deserto do Sinai, quando dividiu as águas do mar Vermelho. Não se sente digna de um dom tão imenso, alegra-se, porém, de comprovar mais uma vez como o Senhor tem predileção pelos anawin, pelos pequenos. “Ela sobressai entre os humildes e pobres do Senhor, que esperam confiadamente e recebem dele a salvação”[14].

Se não tivesses aberto...

Maria de Nazaré eleva o olhar e fixa os olhos em Gabriel, enquanto um sorriso se esboça em seus lábios. A surpresa, a ternura, e um sutil gesto de emoção aparecem no seu semblante, enquanto responde: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38) “Ao encanto destas palavras virginais, o Verbo se fez carne”[15]. Maria disse que sim e, embora na aparência nada tenha mudado, a partir desse instante o Filho do Altíssimo foi concebido em seu seio. “Nesse momento produz-se o grande milagre: Deus se faz homem”[16]. O céu explode numa festa. E é tanta a felicidade e a pressa de Gabriel, que parece ir embora sem se despedir: “E o anjo afastou-se dela” (Lc 1, 38).

Esta cena revela o imenso amor de Deus por suas criaturas, mas também mostra como conta com a correspondência humana para realizar o seu plano de salvação. Maria faz-nos ver até que ponto Deus ama e respeita a liberdade do homem e deseja a sua colaboração para que a redenção continue a realizar-se em todas as almas. “Ó Maria, nós vemos em vós, a força e a liberdade do homem; pois foi após a deliberação da augusta Trindade, que um anjo vos foi enviado para anunciar o mistério dos conselhos divinos e para solicitar o vosso consentimento. Antes de descer em vosso seio, o Filho de Deus se dirigiu à vossa liberdade; Ele aguardou na soleira de vossa vontade, Ele submeteu à vossa deliberação o desejo de habitar em vós e não teria jamais vivido em vosso seio se vós não tivésseis dito: "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc I, 38 Deus Todo-Poderoso batia à vossa porta, e se vós não lhe tivésseis aberto a vossa vontade, ele não teria tomado a natureza humana”[17].

Nosso agradecimento à santíssima Virgem por ter dito que sim à chamada de Deus nunca será suficiente. Em É Cristo que passa, refletindo sobre “a realidade do carinho de tantos cristãos à Mãe de Jesus”, São Josemaría comenta: “Sempre pensei que este carinho era uma correspondência de amor, uma prova de agradecimento filial. Porque Maria está muito unida à máxima manifestação do amor de Deus: a Encarnação do Verbo”[18].


[1] Caminho, n. 145.

[2] Dt 6, 4.

[3] Cfr. Sl 78 ou Dt 4, 9.

[4] Amigos de Deus, n. 241.

[5] Cfr. Lc 2, 19.51.

[6] Cfr.Santo Rosário, comentário ao primeiro mistério gozoso.

[7] Francisco, Audiência, 18/11/2020.

[8] São João Paulo II, Redemptoris Mater, n. 8.

[9] Francisco, Ângelus, 15/08/2021.

[10] Do Padre, Anotações de uma meditação, 25/03/2023.

[11] Const. Dogmática Lumen Gentium, n. 56.

[12] Santo Agostinho, Sermão 293, PL. 38, 1327.

[13] Um texto que descreve de um modo belíssimo este momento é de autoria de São Bernardo de Claraval, um grande devoto de Santa Maria: Das Homilias em louvor da Virgem Mãe, de São Bernardo, abade; (Hom. 4,8-9: Opera omnia, Edit. Cisterc. 4, [1966], 53-54). Inclui-se na liturgia das horas do dia 20 de dezembro.

[14] Const. Dogmática Lumen gentium, n. 55.

[15] Santo Rosário, comentário ao primeiro mistério gozoso

[16] Do Padre, Anotações de uma meditação, 25/03/2023.

[17] De las Oraciones de santa Catalina de Siena, virgen y doctora (OR, XI, Anunciación 1379).

[18] É Cristo que passa, n. 140.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Cadernos do Concílio – Volume 3

Cadernos do Concílio (CNBB)

CADERNOS DO CONCÍLIO – VOLUME 3

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Cadernos do Concílio – Volume 3 

A Tradição  

O terceiro volume do compêndio Cadernos do Concílio Vaticano II trata sobre a Tradição, ou seja, a tradição é tudo aquilo que a Igreja guarda como verdade de fé, perpassando pelos ensinamentos de Jesus e dos apóstolos e a Igreja guarda até aos dias de hoje. Toda a doutrina da Igreja é com base na tradição, seja o Catecismo da Igreja, o Código de Direito Canônico, a doutrina social e moral, e outros documentos da Igreja. A Tradição é considerada o “depósito da fé”. 

Esse depósito da fé também chamado de Revelação, ou seja, revelação de tudo aquilo que Deus falou por meio dos patriarcas e profetas, Jesus e os apóstolos. Tudo isso foi guardado com carinho pela Igreja e ensinados nos primeiros séculos quando deu início a Igreja primitiva. Dessa forma a Tradição tem muito mais de dois mil anos, vem desde o Antigo Testamento, a Igreja guardou tudo isso, e até hoje é passado para todos os fiéis.  

Como acompanhamos nos evangelhos Jesus ensinava como quem tem autoridade, ou seja, vivia aquilo que Ele pregava. Por isso, nos dias de hoje somos chamados a seguir os ensinamentos de Jesus que depois foi passado aos apóstolos e hoje fazem parte da Tradição da Igreja. Inclusive os textos bíblicos sobretudo os evangelhos e demais livros do Novo Testamento foram aprovados pela Tradição e Magistério da Igreja.  

Quando acontece o Sínodo dos Bispos ou até mesmo quando acontece concílios, é o Magistério da Igreja que aprova os documentos estudados ao longo do Concílio ou do Sínodo. Ao longo da história da Igreja aconteceram alguns concílios e alguns marcantes como por exemplo: Nicéia e Constantinopla. Desses dois Concílios, a Tradição e o Magistério da Igreja aprovaram o “Credo Niceno-Constantinopolitano”. Outros concílios com decisões importantes do Magistério da Igreja foram o de Jerusalém e o de Trento. Nesse último aconteceu, por meio da Tradição e Magistério da Igreja, a reforma litúrgica e ministerial. Por fim, outros dois concílios marcantes para a história da Igreja foram o Concílio Vaticano I e o Concílio Vaticano II. Esse último objeto de nosso estudo, completando ano que vem sessenta anos de seu término, tiveram vários documentos aprovados pela Tradição e Magistério da Igreja, além da grande reforma litúrgica e ministerial, também aprovadas pelo Magistério e Tradição da Igreja.  

Mesmo passados quase sessenta anos do Concílio Vaticano II ele ainda precisa ser estudado e colocado em prática. Por isso, a mesma Tradição e o Magistério da Igreja por meio do Papa e dos Bispos resolveram lançar esses livros denominados como Cadernos do Concílio, para que todos os fiéis possam entender um pouco melhor o Concílio e compreender os seus documentos. Por isso, o Papa Francisco declarou esse ano de 2024 como o ano da Oração, em preparação do Jubileu da Esperança no próximo ano.  

A nossa fé católica não deve se resumir somente na Palavra de Deus escrita, ou seja, temos que colocar a nossa fé em prática vivendo aquilo que ali está escrito. Já dizia São Tiago “A fé sem obras é morta” (Tg 2,17). Jesus, o verbo encarnado do Pai, ao longo de sua vida pública viveu aquilo que pregava e nos ensinou a fazer o mesmo. Não podemos pegar a Palavra de Deus como um livro qualquer, mas como a Palavra que se fez carne e habitou entre nós. Nós católicos temos que viver na prática aquilo que está escrito na Palavra. Tornando a nossa fé viva e colocando em prática o que está na Sagrada Escritura, por isso tornaremos presente o Magistério e a Tradição da Igreja. Esses dois têm a missão de incentivar os fiéis a manterem cada vez mais viva a fé.  

A própria Sagrada Escritura tem seu berço na Tradição, pois a Sagrada Escritura foi escrita com base naquilo que Jesus e posteriormente os apóstolos pregaram. Levando em conta que, enquanto Jesus ou os apóstolos pregavam, não havia ninguém com caneta e papel anotando, até porque naquela época ainda nem existiam papel e caneta. No início da Igreja primitiva a única via de fé era a pregação dos apóstolos. Inclusive Jesus deu essa recomendação aos apóstolos: “Ide e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Eles pregavam sem ter livros nas mãos. Depois, posteriormente, foi escrito pela Tradição e pelo Magistério da Igreja tudo aquilo que eles pregaram conforme conhecemos hoje. 

Os livros da Sagrada Escritura começaram a ser escritos a partir aproximadamente do ano 50 d.C. com o seu término por volta do ano 100, e chegou até aos fiéis somente no início do primeiro século. A própria Bíblia dá testemunho da Tradição quando diz: “Conservai-vos firmes na fé e guardai as tradições que aprendestes, quer pela nossa pregação, quer pela nossa carta” (2Ts 2, 14); “O que ouviste da minha boca e de muitas testemunhas, confia-o a outros homens fiéis, capazes de instruir os outros” (2Tm 2,2). A Sagrada Escritura é a nossa fonte de fé atualmente, mas não quer dizer que não havia uma fonte de fé quando começou a pregação dos apóstolos no primeiro século. A fonte de fé no início da Igreja primitiva era justamente a pregação dos apóstolos e crer na ressurreição de Jesus.

A Tradição da Igreja continua viva até aos dias de hoje por meio da Sagrada Escritura, e daquilo que anunciamos a partir dela e colocamos em prática. A Tradição também continua viva por meio da pregação e ensinamento do Santo Padre, o Papa Francisco e dos bispos. O Papa é o Vigário de Cristo aqui na terra e os bispos são sucessores dos apóstolos. Cada um de nós pode manter viva a Tradição da Igreja por meio do anúncio da Palavra de Deus e colocando aquilo que anunciamos em prática, e ainda, toda vez que estudamos como estamos fazendo os documentos do Concílio Vaticano II.


Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Ano Jubilar - O tempo litúrgico não é monotonia - Quaresma

Papa na Igreja Santa Sabina em Roma, Quarta-feira de Cinzas em 2023 (Foto: REUTERS/GUglielmo Mangiapane)

“O Ano Litúrgico não é reprodução de um filme sobre acontecimentos do passado, mas a participação na história de Jesus mediante a comunhão com o Ressuscitado ao longo do tempo. Aqueles eventos que a Igreja nos faz celebrar todos os anos não são acontecimentos arquivados no baú da história (...) aquilo que aconteceu uma vez na realidade histórica, a solenidade litúrgica o celebra de modo recorrente e assim o renova no coração dos fiéis".

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Em preparação à abertura do Ano Jubilar, e atendendo um pedido do Papa Francisco, o Dicastério para a Evangelização lançou no início de 2023 a coletânea sobre o Concílio Vaticano II intitulada “Jubileu 2025 – Cadernos do Concílio”, com o objetivo de promover uma redescoberta do evento conciliar e seu significado para a vida da Igreja em todos esses sessenta anos.

Abrindo um novo ciclo de programas, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão Ano Jubilar, o tempo litúrgico não é monotonia. Quaresma

"Na publicação dos Cadernos do ConcÍlio do Dicastério para a Evangelização – Seção para as questões Fundamentais da Evangelização no Mundo – o Papa Francisco faz uma introdução geral a esses subsídios ágeis e eficazes, que percorrem os temas fundamentais das quatro constituições conciliares: Lumen GentiumSacrosanctum ConciliumDei Verbum e Gaudium et Spes. São Quatro pilares fundamentais da nossa fé católica e a nossa missão no mundo atual: A Igreja – LG; A liturgia – SC; a Palavra – DV e a Evangelização - GS – A missão da Igreja no mundo atual. Nessa introdução a esses cadernos práticos e acessíveis, de linguagem usual e direta, de fácil compreensão ao povo simples e leigos também engajados, o Papa utiliza um pensamento do Papa Paulo VI na homilia na sétima Sessão Solene do Concilio Vaticano II, por ocasião da promulgação de cinco documentos. São Paulo VI pregava assim em pleno vigor e despontar das conclusões do Concílio, segurando firme a barca de Pedro em pleno mar revolto: “A Igreja vive! A prova está aqui, está aqui o alento, a sua voz, o seu canto. A Igreja vive(...) A Igreja pensa, a Igreja fala, a Igreja cresce, a Igreja continua a edificar-se(...). A Igreja vem de Cristo e vai para Cristo, e estes são os seus passos, isto é, os atos cm que se aperfeiçoa, se confirma, se desenvolve, se renova, se santifica. Todo este esforço perfectivo da Igreja não é outra coisa, se bem se entende, senão uma expressão de amor a Cristo Nosso Senhor”.

O Papa Francisco diz que essas palavras de São Paulo VI nos impelem hoje a considerar a importância do ensinamento conciliar e que retomar esses textos em mãos é sinal da vivacidade e da fecundidade da Igreja. Escreveu assim o Sumo Pontífice na introdução desses cadernos do Concílio: “A renovação das comunidades e o empenho de conversão pastoral passa necessariamente por tornar próprios os ensinamentos do Vaticano II”[1]. O Documento de Aparecida pois fala da conversão pastoral no número 370, traduzindo-a como uma volta decidida à missão, identidade da Igreja: "A CONVERSÃO PASTORAL de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária.  Assim será possível que o único programa do Evangelho continue introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial com novo ardor missionário, fazendo com que a Igreja se manifeste como mãe que vai ao encontro, uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária"(Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe – Aparecida, 370).

A Igreja vive, a partir da Quarta-feira de Cinzas, um novo tempo litúrgico, o Tempo da Quaresma, caminhada de conversão, oração, jejum, penitência e caridade, expressada concretamente pela esmola que fazemos, na partilha dos bens com alegria e compromisso com os pobres. No Brasil é tempo forte para uma grande Campanha de Caridade e busca de justiça chamada “Campanha da Fraternidade”, que faz aguçar a solidariedade num setor um tanto esquecido na sociedade.

Nos cadernos do Concílio, de número 13 das Edições da CNBB, aponta-se que “o Ano Litúrgico não é reprodução de um filme sobre acontecimentos do passado, mas a participação na história de Jesus mediante a comunhão com o Ressuscitado ao longo do tempo. Aqueles eventos que a Igreja nos faz celebrar todos os anos não são acontecimentos arquivados no baú da história, porque – como dizia São Leão Magno – “aquele dia não passou de tal maneira que também passasse a força interior na obra que então foi realizada pelo Senhor”. E santo Agostinho argumenta: “aquilo que aconteceu uma vez na realidade histórica, a solenidade litúrgica o celebra de modo recorrente e assim o renova no coração dos fiéis”. Essa Passagem e essa Páscoa Cristo quer realizar entre nós por meio dos diversos tempos litúrgicos em que vivemos, celebramos e neles ressuscitamos. A repetição dos ciclos litúrgicos não deve ser vista como “uma monotonia, como se fosse um eterno retorno dos mesmos eventos salvíficos, mas como uma abertura progressiva rumo ao eterno infinito de Deus”. São Leão Magno gostava de dizer que “no retorno cíclico de cada ano, o mistério da nossa salvação é reatualizado para nós: mistério que, prometido desde o início e finalmente levado a cumprimento, continuará sem nunca terminar”[2].

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
____________________________

[1] Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.1, O Vaticano II, História e Significado para a Igreja, Edições CNBB, p. 7-8.
[2] Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.13. Os tempos fortes do Ano Litúrgico, Edições CNBB, p. 11.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Em defesa da santidade dos sacramentos (2/2)

A Traição de Judas, Giotto, Capela Scrovegni, Pádua (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 02/2002

Em defesa da santidade dos sacramentos

Entrevista com Monsenhor Tarcisio Bertone, secretário do antigo Santo Ofício, sobre o forte aumento dos delita graviora especialmente nas últimas décadas: «Certamente houve um aumento. O que não diz respeito, como parecem sugerir os meios de comunicação social, apenas aos casos de pedofilia, mas também aos relacionados com crimes contra a penitência e a Eucaristia”.

por Gianni Cardinale

Foi escrito nos meios de comunicação dos EUA que estas Regras tenderão a substituir os procedimentos confidenciais que permitiram às dioceses dos EUA impor sanções muito graves aos padres acusados ​​de pedofilia, incluindo a redução ao estado laico, por simples meios administrativos, sem julgamento...

BERTONE: Este privilégio foi concedido às dioceses dos EUA no início da década de 1990 e foi recentemente reconfirmado. Porém, são procedimentos que podem ser utilizados diante de fatos gravíssimos, sensacionalistas, nos quais as responsabilidades do acusado ficam muito evidentes. No entanto, deve ficar claro que se trata de procedimentos extraordinários, excepcionais, que têm regras próprias. Caso contrário, como critério ordinário, será necessário seguir o Regulamento que prevê um julgamento real com direito à defesa.

Mas será que estes procedimentos “excepcionais” dizem respeito apenas às dioceses americanas ou também a outras dioceses ao redor do mundo?

BERTONE: Existem procedimentos específicos para os EUA e também existem procedimentos mais gerais que podem ser aplicados em todo o mundo, sob certas condições precisas.

Porque é que as novas regras sobre delita graviora foram divulgadas desta forma algo confidencial, sem conferência de imprensa e sem publicação no Osservatore Romano?

BERTONE: Entendo que os jornalistas prefiram um aumento nas conferências de imprensa. Mas o tema abordado é muito particular, muito delicado. Para evitar o sensacionalismo fácil, preferiu-se divulgá-los pelos canais oficiais sem muita ênfase.

Para dizer a verdade, mesmo através dos canais oficiais, as Normas propriamente ditas, as substantivas e as processuais, não foram publicadas...

BERTONE: É verdade. São enviados aos bispos e superiores religiosos que, tendo estes problemas, fazem um pedido expresso. A legislação substancial, porém, está praticamente condensada na Carta da Congregação aos bispos publicada na Acta Apostolicae Sedis . A legislação processual retoma então os procedimentos gerais estabelecidos pelo Código de Direito da Igreja.

Foi levantada uma objecção a estas novas normas, especialmente do lado secular. Por que um bispo que toma conhecimento do comportamento do seu próprio sacerdote, que é criminoso para a Igreja, mas também para a autoridade civil, não informa a magistratura civil?

BERTONE: As regras de que falamos encontram-se dentro do seu próprio sistema jurídico, que tem autonomia garantida, e não apenas nos países concordatários. Não excluo que em casos particulares possa haver uma forma de colaboração, alguma troca de informações, entre as autoridades eclesiásticas e o poder judicial.

Mas, na minha opinião, não há fundamento na afirmação de que um bispo, por exemplo, seja obrigado a recorrer à magistratura civil para denunciar o padre que lhe confidenciou ter cometido o crime de pedofilia. Naturalmente, a sociedade civil tem a obrigação de defender os seus cidadãos. Mas deve também respeitar o “sigilo profissional” dos sacerdotes, tal como se respeita o sigilo profissional de cada categoria, respeito que não pode ser reduzido ao sigilo confessional, que é inviolável.

No entanto, pode-se pensar que tudo o que é dito fora da confissão não se enquadra no “segredo profissional” de um padre...

BERTONE: É óbvio que estes são dois níveis diferentes. Mas a questão foi bem explicada pelo Cardeal Ersilio Tonini durante um programa de televisão: se um crente, homem ou mulher, já não tem sequer a possibilidade de confiar livremente, fora da confissão, a um padre para obter conselhos, porque tem medo de que este padre pode denunciá-lo; se um sacerdote não pode fazer o mesmo com o seu bispo porque também ele tem medo de ser denunciado... então significa que já não existe liberdade de consciência.

O que falámos até agora diz respeito ao aspecto de um julgamento público contra aqueles que cometem estes crimes. No entanto, há também o aspecto que diz respeito à consciência de quem os comete. Estes crimes mais graves são, antes de mais nada, pecados mortais graves. Como alguém pode ser absolvido desses pecados?

BERTONE: Além da perspectiva pública destes tristes acontecimentos, há também o aspecto que diz respeito ao foro interno das pessoas. Deste tipo de pecado, como de todos os pecados, pode-se ser absolvido com o sacramento da confissão. No entanto, como alguns destes delita graviora envolvem uma excomunhão reservada à Santa Sé, neste caso deve-se recorrer à Penitenciária Apostólica, que também pode absolver das referidas censuras com a adequada penitência e reparação dos danos causados. A Igreja é misericordiosa com todos, mesmo com aqueles que cometeram pecados muito graves, como a profanação dos sacramentos e a pedofilia. Atentos ao que Jesus disse nos Evangelhos: perdoar “Não digo até sete, mas até setenta vezes sete” ( Mt 18, 22).

Alguns destes pecados/crimes, particularmente aqueles contra a santidade dos sacramentos, só podem, portanto, ser absolvidos através da Penitenciária Apostólica. Com base numa “Lista de privilégios” emitida em 1999, esta faculdade (salvo a violação direta do selo sacramental) também é concedida aos cardeais e confessores que os cardeais podem escolher para si e para os colaboradores permanentemente designados ao seu serviço.

BERTONE: Quanto às faculdades concedidas diretamente aos cardeais neste sentido, são privilégios recentes. No entanto, a lista de que fala não foi compilada pela nossa Congregação, mas foi especificamente aprovada pelo Santo Padre.


Fonte: https://www.30giorni.it/

Santa Águeda (Ágata)

Santa Ágata (cruzterrasanta)
05 de fevereiro
Santa Águeda (Ágata)

Santa Águeda ou Ágata é a protetora dos seios, contra os vulcões, terremotos e as forças da natureza. Viveu por volta do ano 250 d. C. em Catânia, Itália. Um político da alta corte romana apaixonou-se por ela. Águeda, porém, recusou-se a ele, pois tinha entregue sua vida a Jesus Cristo para servir aos pobres. Indignado, ele mandou prendê0la e submeteu-a a terríveis torturas, exigindo que ela renegasse sua fé em Cristo. Como ela não renegou, ele mandou arrancar seus seios e prendeu-a num calabouço fétido. Ali, não suportando mais os sofrimentos, Santa Águeda pediu para que o senhor a levasse para junto de si. Então um grande terremoto sacudiu o local e ela faleceu nos escombros em 5 de fevereiro de 251, dia de sua festa. A imagem de Santa Águeda é rica em símbolos que contam sua história e seu martírio. Vamos conhece-los.

Os cabelos de Santa Águeda

Os cabelos soltos e divididos ao meio de Santa Águeda simbolizam sua virgindade, pureza de coração e entrega de sua vida ao Senhor Jesus Cristo. Simbolizam também sua beleza entregue a Deus, razão pela qual ela foi martirizada.

O manto vermelho de Santa Águeda

O manto vermelho de Santa Águeda simboliza o martírio, ou seja, o sangue que ela derramou por causa de sua fé em Jesus Cristo. A palavra 'mártir' vem do grego e significa 'testemunha'. Santa Ágata testemunhou sua fé com seu sangue. Ela não renegou a Jesus nem quando arrancaram-lhe os seios. Por isso o manto vermelho em sua imagem simboliza esse testemunho.

A túnica verde de Santa Águeda

A túnica verde de Santa Águeda, como na simbologia cristã, simboliza a vida que renasce e vence a morte. E, na vida de Santa Águeda, a vida renasce duas vezes. Primeiro, pela sua ressurreição para a glória dos céus. Depois, porque seu testemunho fez brotar um grande número de novos cristãos. Quando viram que aquela jovem linda e cheia de vida não renegou Jesus mesmo diante de torturas horrendas, muitos aderiram a esta fé. Até hoje o testemunho de Santa Águeda é visto com respeito e admiração. Por isso, a vida renasceu através de seu testemunho. Por isso sua túnica verde.

O cinto roxo de Santa Águeda

O cinto roxo de Santa Águeda simboliza a lamentação dos justos pela injustiça que ela sofreu e por sua morte.

A taça de ouro na mão direita de Santa Águeda

A taça de ouro na mão direita de Santa Águeda contém dois seios e simboliza o sofrimento que ela viveu. Estando em sua mão direita, a mão da decisão e da ação, simboliza também a oferta que ela fez entregando seus próprios seios para não renegar seu Senhor Jesus Cristo. Sendo de ouro, símbolo do pode de Deus, significa que a oferta de Santa Águeda provém do poder e da graça de Deus em sua vida. Este símbolo identifica Santa Águeda e a distingue de outras imagens de santas.

A palma não mão esquerda de Santa Águeda

A palma não mão esquerda de Santa Águeda simboliza a vitória dos mártires. Santa Águeda foi mártir, testemunhou sua fé em Jesus Cristo com a própria vida. Por isso, ela alcançou a vitória dos mártires, a vitória de Cristo.

Oração a Santa Águeda

"Concedei-nos, Senhor, o amor constante ao vosso santo nome e a graça da perseverança nas coisas do alto durante toda a nossa vida, mesmo diante das perseguições, calúnias, torturas e sofrimentos. E pela intercessão de Santa Águeda, dai-nos, Senhor onipotente, a graça que humildemente vos pedimos, (pedido), por Cristo Nosso Senhor, amém. Santa Águeda, rogai por nós."


Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Reflexão para o V Domingo do Tempo Comum (B)

Evangelho do domingo (Vatican News)

O Senhor não foge dos doentes, mas vai até eles, toma-os pela mão e os ajuda a se levantar. Ele não veio para derrubar, mas para dar ânimo.

 Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

Por que tantas pessoas sofrem? Por que o justo sofre, enquanto tantas pessoas injustas desfrutam boa saúde, possuem dinheiro, nada de mal lhes acontece?

A 1ª leitura da Missa de hoje, extraída do Livro de Jó, nos leva a refletir sobre o sofrimento, principalmente o do justo. Jó sofre e, no seu sofrimento reflete sobre os limites da vida e reza.

A resposta à nossa pergunta sobre o sofrimento, nos vem com o Evangelho de Marcos, no trecho da cura da sogra de Pedro e de outras pessoas. Ele nos apresenta Jesus diante da realidade da doença e do sofrimento. Jesus não culpa o Pai e nem os doentes por suas desditas, mas se mostra solidário.

O Senhor não foge dos doentes, mas vai até eles, toma-os pela mão e os ajuda a se levantar. Ele não veio para derrubar, mas para dar ânimo. A sogra de Pedro se levanta e começa a servi-los.

O Senhor é a vida que chega!

Com esta atitude, Jesus confirma que sua vinda é para transformar o mundo, eliminar a doença, a dor e a morte. Ele é a vida e, como tal, quer vida plena para todos nós!

O que fazemos quando sabemos que alguém está doente, sofrendo? Vamos até ele, procuramos dar-lhe novo ânimo?

Diante do sofrimento e da doença poderemos ter várias atitudes. Desde tratar do doente, se formos profissionais da medicina, até nos colocarmos à disposição para servi-lo, ajudá-lo de algum modo.

Contudo, existe um gesto que todos poderão e deverão fazer: o gesto da solidariedade, de ser presença, de estar ao lado confortando, animando.

Esse gesto nada custa, a não ser a esmola de nosso tempo, de abrir mão de tantos afazeres muitas vezes inúteis, para ir visitar o Cristo que está sofrendo. “Estive doente e me visitastes!”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Bispos anglicanos e católicos: depois de séculos de separação, em frente na reconciliação

Francisco com o arcebispo Justin Welby durante as Vésperas em São Paulo Fora dos Muros no encerramento da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (ANSA)

Comunicado conjunto dos participantes no evento ecumênico “Growing together” ("Crescer juntos”), organizado pelo Iarcuuum entre Roma e Cantuária por ocasião da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Na nota é reiterado o desejo de continuar o diálogo em nome da unidade e da missão e também o desejo de trabalhar juntos para enfrentar os desafios globais, como as guerras e a crise climática.

Francesca Merlo – Cidade do Vaticano

“Nosso comum testemunho, chamado e compromisso”, é o título do comunicado conjunto dos bispos anglicanos e católicos que participaram do evento ecumênico Growing together, realizado inicialmente em Roma e depois em Cantuária, de 22 a 29 de janeiro, no contexto da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Uma ocasião de diálogo, oração, peregrinações e debates sobre missão e testemunho que, organizada pela Comissão Internacional Anglicano-Católica Romana para a Unidade e Missão (IARCCUM), recebeu o apoio do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos em Roma e o Secretariado da Comunhão Anglicana.

Perseverar no diálogo

Os bispos participantes representaram 27 países ao redor do mundo e foram enviados pelo Papa Francisco e pelo arcebispo de Cantuária, Justin Welby, ao final da celebração das Vésperas na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma. No texto – divulgado no dia 1º de fevereiro – expressam um apelo decisivo à unidade e à missão compartilhada.

“Depois de quatro séculos de conflito e separação, a Igreja Católica e a Comunhão Anglicana estão no caminho da reconciliação há quase sessenta anos. Por vezes o caminho foi acidentado, mas o Espírito Santo agiu e as nossas igrejas têm perseverado num diálogo que se revelou extraordinariamente frutífero”, lê-se no documento.

Testemunho, amizade, missão, sinodalidade

Os bispos reconhecem a alegria e a vida que provêm da comunhão em Cristo e reafirmam o seu compromisso na construção de um diálogo fecundo, preenchendo a lacuna entre os elementos partilhados da fé e a sua expressão tangível na vida eclesial.

Destacando os quatro temas principais: Testemunho, Amizade, Missão e Sinodalidade, os bispos exortam a Igreja a priorizar as relações. Portanto, fazem eco ao apelo do Papa Francisco para colocar “irmãos e irmãs em primeiro lugar, depois as estruturas”. “A sinodalidade não diz respeito simplesmente do governo da Igreja; diz respeito a colocar as relações no centro da vida da Igreja”, diz o comunicado.

Juntos contra guerras e crises climáticas

A nota não deixa de focar na urgência de enfrentar a crise climática: a este respeito, os bispos sublinham a necessidade de cuidar da nossa casa comum, na esteira da Encíclica Laudato si' do Papa Francisco e do Lambeth Call on the Environment and Sustainable Development, publicado pelos bispos anglicanos durante a Conferência de Lambeth de 2022.

O comunicado conjunto se conclui com o convite a proclamar a Boa Nova da paz nos lugares atingidos pelas guerras em curso. Retornando às suas igrejas locais, os bispos comprometem-se a rezar para que o seu ministério, lado a lado como católicos e anglicanos, seja uma antecipação da reconciliação de todos os cristãos na unidade da única Igreja de Cristo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF