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sábado, 10 de fevereiro de 2024

Deus é o fundamento da esperança

Viver o amor na esperança e na fé (FASBAM)
Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir.

"O homem, na sucessão dos dias, tem muitas esperanças - menores ou maiores - distintas nos diversos períodos da sua vida. Às vezes pode parecer que destas esperanças o satisfaça totalmente, sem necessidade de outras. Na juventude, pode ser a esperança do grande e fagueiro amor; a esperança de uma certa posição na profissão, deste ou daquele sucesso determinante para o resto da vida. Mas quando estas esperanças se realizam, resulta com clareza que na realidade, isso não era a totalidade. Torna-se evidente que o homem necessita de uma esperança que vá mais além. Vê-se que só algo de infinito lhe pode bastar, algo que será sempre mais do que aquilo que ele alguma vez possa alcançar. 

Neste sentido, a época moderna desenvolveu a esperança da instauração de um mundo perfeito que, graças aos conhecimentos da ciência e a política cientificamente fundada, parecia tornar-se realizável. Assim, a esperança bíblica do reino de Deus foi substituída pela esperança do reino do homem, pela esperança de um mundo melhor que seria o verdadeiro <<reino de Deus>>. Esta parecia finalmente a esperança grande e realista de que o homem necessita. Estava em condições de mobilizar - por um certo tempo - todas as energias do homem; o grande objetivo parecia merecedor de todo o esforço. Mas, com o passar do tempo fica claro que esta esperança escapa sempre para mais longe. Primeiro deram-se conta de que esta era talvez uma esperança para os homens de amanhã, mas não uma esperança para mim. E, embora o elemento <<para todos>> faça parte da grande esperança - com efeito, não posso ser feliz contra e sem os demais - o certo é que uma esperança que não me diga respeito a mim pessoalmente não é sequer uma verdadeira esperança. E tornou-se evidente que esta era uma esperança contra a liberdade, porque a situação das realidades humanas depende em cada geração novamente da livre decisão dos homens que dela fazem parte. Se esta liberdade, por causa das condições e das estruturas, lhes fosse tirada, o mundo, em última análise, não seria bom, porque um mundo sem liberdade não é de forma alguma um mundo bom. Deste modo, apesar de ser necessário um contínuo esforço pelo melhoramento do mundo, o mundo melhor de amanhã não pode pode ser o conteúdo próprio e suficiente da nossa esperança. E, sempre a este respeito, pergunta-se: Quando é <<melhor>> o mundo? O que é que o torna bom? Com qual critério se pode avaliar o seu ser bom? E por quais caminhos se pode alcançar esta <<bondade>>?

Mais ainda: precisamos das esperanças - menores ou maiores - que, dia após dia, nos mantêm a caminho. Mas, sem a grande esperança que deve superar tudo o resto, aquelas não bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir. Precisamente o ser gratificado com o dom faz parte da esperança. Deus é o fundamento da esperança - não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até o fim; cada indivíduo e a humanidade no seu conjunto. O seu reino não é um além imaginário, colocado num futuro que nunca mais chega; o seu reino está presente onde Ele é amado e onde o seu amor nos alcança. Somente o seu amor nos dá a possibilidade de perseverar com toda a sobriedade dia após dia, sem perder o ardor da esperança, num mundo que, por sua natureza, é imperfeito. E, ao mesmo tempo, o seu amor é para nós a garantia de que existe aquilo que intuímos só vagamente e, contudo, no íntimo esperamos; a vida que é <<verdadeiramente>> vida."

Papa Bento XVI

Fonte: https://www.rmater.org.br/

«Vou passar o meu Céu fazendo o bem na terra» (2/2)

A caixa onde foram colocadas as quinhentas liras (30Giorni)

Revista 30Dias – 02/03 – 2010

O MILAGRE DE GALLIPOLI

«Vou passar o meu Céu fazendo o bem na terra»

Celebramos o centenário de um dos milagres mais singulares de Santa Teresinha de Lisieux: aquele com que, em 1910, ela resolveu os graves problemas económicos do Carmelo de Galípoli e confirmou à Igreja a bondade da sua “pequena via”. , abrindo caminho para sua beatificação.

por Giovanni Ricciardi

Solicitada a esclarecer o conteúdo destes ensinamentos, Irmã Maria da Trindade explicou: «O que Irmã Teresa chamava de “pequena via de infância espiritual” era o tema contínuo das nossas conversas. “Os privilégios de Jesus são para os pequenos”, repetiu-me ele. Ele era inesgotável na confiança, no abandono, na simplicidade, na retidão, na humildade da criança, e sempre o apresentou a mim como modelo. Um dia, quando lhe expressei meu desejo de ter mais força e energia para praticar a virtude, ela continuou: “E se o bom Deus quer que você seja fraco e indefeso como uma criança, você acha que tem menos mérito? Portanto, aceite vacilar a cada passo, até cair, carregue fracamente a sua cruz, ame a sua impotência; sua alma lucrará mais com isso do que se, transportado pela graça, você realizasse com entusiasmo ações heróicas, que encheriam sua alma de satisfação e orgulho pessoal”. Outra vez, quando eu ainda estava triste com meus fracassos, ele me disse: “Aqui está você de novo, fora do caminho! Um castigo que deprime e desanima vem do amor próprio; um castigo sobrenatural restaura a coragem, dá um novo impulso para o bem; ficamos felizes por nos sentirmos fracos e miseráveis, porque quanto mais o reconhecemos humildemente, esperando tudo gratuitamente do bom Deus, sem qualquer mérito da nossa parte, mais o bom Deus se rebaixa até nós, para nos cobrir generosamente com os seus dons”. No mês de maio, mãe Carmela voltou a ver a pequena Teresa em sonho que lhe garantiu que o milagre se renovaria e prometeu-lhe que encontraria na caixa uma nova nota de cinquenta liras. Em vez disso, até três foram encontrados. Finalmente, em agosto, apareceram outras cem liras. Nesse mesmo mês foi aberto o processo de beatificação em Lisieux. Para esclarecer muitos acontecimentos misteriosos, o vice-postulador da causa, Monsenhor de Teil, chegou a Gallipoli. A história de Madre Carmela está em conformidade com o relatório anterior enviado à prioresa de Lisieux. Enquanto isso, o bispo de Nardò, Nicola Giannattasio, soube da prodigiosa soma encontrada pela prioresa. Sabia também que as freiras carmelitas, ansiosas por embelezar a pobre igreja do mosteiro, começaram novamente a invocar a irmã mais nova de Lisieux para obter a quantia necessária, cerca de trezentas liras. Assim, para demonstrar a sua devoção a Teresa e comemorar o primeiro aniversário do milagre, com o início do novo ano decidiu dar uma oferenda ao Carmelo com uma quantia equivalente à que havia sido encontrada no mês de janeiro anterior. Ele pegou uma nota de quinhentas liras e colocou-a num envelope. Inseriu também um dos seus cartões de visita, onde escreveu: «In memoriam , MEU CAMINHO É SEGURO, NÃO ESTOU ERRADA, Irmã Teresa do Menino Jesus à Irmã Maria Carmela, Gallipoli, 16 de janeiro de 1910. Orate pro me quotidie ut Deus misereatur mei ». Neste envelope, deixado aberto, ele reescreveu “ In memoriam ”. O envelope foi então colocado dentro de outro maior, fechado com selo de cera, com sua insígnia episcopal. No lugar da morada, o bispo escreveu esta recomendação: «Para ser colocada na caixa habitual e aberta pela madre prioresa, Irmã Maria Carmela do Coração de Jesus, no dia 16 de janeiro de 1911». Mandou entregar o envelope no Carmelo e, poucos dias depois, por ocasião do aniversário, foi pessoalmente pregar os exercícios espirituais.

Assim que chegou, soube imediatamente que o envelope estava intacto e ainda na caixa onde havia sido depositado, conforme sua vontade. Madre Carmela, convidada pelo bispo, foi buscar o envelope, retirou o selo de cera, abriu-o e entregou-o a Monsenhor Giannattasio, que ficou surpreso ao encontrar dentro dele quatro notas novas: duas de cem liras e outras duas de cinquenta, num total de trezentos. O bispo pensou que a sua nota tinha sido trocada por outras de tamanho menor, mas ficou surpreso ao ver que a nota de quinhentas liras ainda estava no seu lugar, no envelope menor. Ele não conseguia entender. A prioresa concluiu então: «Este dinheiro é seu, conte-o. Se forem mais trezentas liras, não seria isso que a comunidade pedia com tanta confiança à Irmã Teresa?”.

Não é de admirar, se pensarmos bem, que Teresa se tenha emocionado precisamente com um pedido feito com aquela “tanta confiança”, que é típica de uma criança, e que representa o próprio coração do seu “pequeno jeitinho”. E então, Teresa também sabia o quão dolorosa era a condição daqueles que não conseguem pagar as suas dívidas. Na última fase da sua doença, soube com pesar que também tinha sido dispensada do Ofício dos Mortos que cada Carmelita deve recitar para as suas irmãs falecidas em todos os mosteiros do mundo. E disse à Madre Agnese: «Não posso confiar em nada, em nenhuma obra minha, para ter fé. Então, eu gostaria de poder dizer a mim mesmo: estou em dia com todos os meus Ofícios dos Mortos. Mas esta pobreza foi para mim uma verdadeira luz, uma verdadeira graça. Pensei que em toda a minha vida não tinha conseguido resgatar uma única dívida minha para com o Senhor, mas que isso seria uma verdadeira riqueza e força para mim se eu aceitasse. Então fiz esta oração: “Meu Deus, peço-te, satisfaz a dívida que tenho para com as almas do Purgatório, mas faze-o como Deus, ou seja, infinitamente melhor do que se eu tivesse dito os meus Ofícios dos mortos”. Recordei com grande doçura aquelas palavras do Cântico de São João da Cruz: “E toda dívida está paga!”. Sempre apliquei isso ao amor. Sinto que tal graça não pode ser concedida! Encontra-se uma paz tão grande em ser inteiramente pobre, em contar apenas com o Deus misericordioso”.

A este amor, a esta pobreza, a esta paz Teresa tinha acrescentado, do Céu, uma caridade superabundante e muito concreta.

Fonte: https://www.30giorni.it/

A mulher e a autoridade como representadas nos sarcófagos do séc. IV

Sarcófago do século IV (Foto do autor no Museu Pio Cristão no Vaticano. Todos os direitos reservados)

A vida religiosa — tanto contemplativa como ativa, tal como a conhecemos hoje — evoluiu ao longo de dois mil anos. Este segundo artigo relata uma investigação original sobre evidências arqueológicas das atividades das mulheres no cristianismo primitivo, encontradas em frisos de sarcófagos datados entre o final do século III e o início do século V.

Christine Shenk CSJ

Uma vez que a maior parte da história se baseia em documentos produzidos por homens, a procura de dados históricos fiáveis sobre as mulheres no cristianismo primitivo pode tornar-se um verdadeiro desafio. O cristianismo baseia—se fortemente na palavra escrita como principal meio de conhecer a sua história. Como afirma a Dra. Janet Tulloch num artigo publicado em 2004, as informações recolhidas a partir de artefatos visuais, como afrescos, pinturas e frisos em sarcófagos, têm sido até agora confiadas quase exclusivamente a historiadores de arte e arqueólogos. Embora houvesse muitas mulheres mecenas que apoiavam financeiramente os homens da Igreja primitiva (Maria de Magdala, Febe, Lídia, Paula, Olímpia), a sua presença é pouco mencionada nas fontes literárias. No entanto, desde há algum tempo, os estudiosos aperceberam-se de que a arqueologia é uma fonte importante no que respeita à presença das mulheres no cristianismo primitivo.

Documentação escrita versus documentação arqueológica

Durante os primeiros quatro séculos da história cristã (e até à atualidade), os eclesiásticos justificaram a limitação da autoridade das mulheres referindo-se à admoestação da primeira carta de Paulo a Timóteo, segundo a qual as mulheres deviam permanecer em silêncio nas assembleias e não deviam ensinar ou “impor a lei aos homens” (2, 12). No entanto, a arte funerária cristã do final do século III e início do século V retrata mulheres na atitude de ensinar e pregar. Aqui será possível apenas uma breve dissertação sobre este tema fascinante.

Tanto para os romanos cristãos como para os pagãos, o sarcófago não era apenas o contentor de um cadáver, mas um monumento carregado de significado. A arte funerária romana tinha como objetivo tornar visível a identidade da pessoa falecida e comemorar os seus valores e virtudes. Só as pessoas ricas podiam pagar um monumento funerário tão caro; o projeto da representação, ou seja, a forma como queriam ser recordados, era também um processo importante. Ser representado com um pergaminho, uma capsa (recipiente de pergaminho) ou um codex (livro) era um indicador imediato da educação, do status e da riqueza da pessoa falecida.

A defunta - (Foto do autor no Museu Pio Cristão no Vaticano. Todos os direitos reservados)

Tanto os homens como as mulheres cristãs eram recordados e idealizados como pessoas de um certo status, com uma certa autoridade, erudição e devoção religiosa. Se a pessoa falecida era representada com um pergaminho ou capsa e imersa em cenas bíblicas, isso indicava a sua erudição nas Escrituras hebraicas e cristãs.

Durante três anos, analisei 2.119 imagens e descritores de sarcófagos e fragmentos datados do século III até ao início do século V , incluindo todas as imagens disponíveis de sarcófagos cristãos. Uma investigação aprofundada dos motivos iconográficos selecionados revelou que muitas mulheres do cristianismo primitivo eram recordadas como pessoas de um certo status social, influentes e com autoridade nas suas comunidades. Uma descoberta verdadeiramente significativa é o facto de existirem, em comparação com os retratos funerários de homens cristãos, pelo menos três vezes mais retratos de mulheres cristãs, e a probabilidade de estas descobertas se deverem apenas ao acaso é inferior a 1 em 1.000.

Detalhe do sarcófago - (Foto do autor no Museu Pio Cristão no Vaticano. Todos os direitos reservados)

Muitos dos relevos dos sarcófagos representam mulheres no meio de cenas bíblicas, no gesto do orador ou segurando pergaminhos ou códices nas mãos. Este é um testemunho efetivo do facto de as mulheres do século IV não aderirem à disposição de permanecerem em silêncio. A sua difusão sugere a emergência de uma nova identidade feminina de erudição bíblica e de autoridade pedagógica. Outra verificação interessante é o facto de os retratos femininos terem o dobro da probabilidade de estarem ladeados por figuras de apóstolos (frequentemente Pedro e Paulo), provavelmente para validar a sua autoridade religiosa.

O que nos diz a arqueologia

A iconografia do cristianismo primitivo diz-nos que as mulheres cristãs eram cultas, piedosas e abastadas. A julgar pelo número de sarcófagos que representam apenas mulheres, isso indica que eram também mulheres solteiras ou viúvas, o que faz lembrar as primeiras comunidades de viúvas ou virgens de que falámos no primeiro artigo desta série [inserir link hipertextual]. Tendo em conta que muitas delas são representadas com rolos de pergaminho e em atitude de pregação numa cena bíblica, podemos deduzir que eram eruditas nas Escrituras e queriam ser representadas como mulheres que confiavam no poder salvador de Deus e eram especialistas na vida de Jesus e nos seus milagres de cura. As suas comunidades idealizaram-nas como figuras eruditas com autoridade, no mínimo, para proclamar e ensinar as Escrituras.

Mais um detalhe do sarcófago - (Foto do autor no Museu Pio Cristão no Vaticano. Todos os direitos reservados)

É plausível que as posteriores “madres da Igreja”, como Marcela, Paula, Melânia, a Anciã, e Proba, tenham admirado estes modelos femininos primitivos que as inspiraram a amar e a estudar as Escrituras. As fontes literárias sobre as “madres da Igreja” coincidem com os achados arqueológicos, confirmando o que os estudiosos contemporâneos — incluindo o Papa Bento XVI — já tinham teorizado, nomeadamente que as mulheres tiveram uma influência muito maior no cristianismo primitivo de quanto é geralmente reconhecido. Enquanto na documentação literária são as figuras masculinas que predominam, os retratos funerários no campo da arqueologia mostram, pelo contrário, que as mulheres cristãs são predominantemente recordadas por terem exercido substancialmente a autoridade eclesial nas suas comunidades. E, como veremos, as mulheres que se reuniam em torno das nossas “madres da igreja” evoluíram mais tarde para algumas das nossas primeiras comunidades — intencionais — de religiosas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Pode-se celebrar o matrimônio católico fora do espaço da Igreja?

Matrimônio (Presbíteros)

Pode-se celebrar o matrimônio católico fora do espaço da Igreja?

Uma das perguntas mais frequentes quando casais estão se preparando para o matrimônio diz respeito à possibilidade de se celebrar um matrimônio católico fora do espaço de uma igreja. Alguns noivos gostariam de casar-se perante um ministro religioso católico, mas na praia, na casa de festa, em sítios ou fazendas, há inclusive os que desejariam casar-se na Disneylândia (não é piada, a Disneylândia possui um espaço reservado para casamentos e, ao que parece, o local é bem concorrido).  

Qualquer visita a blogs de noivas, de casamento ou de cerimonialistas de casamento mostra que esta é uma pergunta recorrente. Há casas de festa que, inclusive, anunciam uma promoção: contrate a festa, e o “celebrante” é dado de brinde, para fazer o casamento dentro da própria casa de festa. E então, isso é possível?

RESPOSTA: Não, em regra isso não é possível. 

O cânone 1.118, § 1 do Código de Direito Canônico estabelece: 

Cân. 1118 — § 1. O matrimônio entre católicos ou entre uma parte católica e outra não católica mas batizada celebre-se na igreja paroquial; pode celebrar-se noutra igreja ou oratório com licença do Ordinário ou do pároco.

Portanto, a regra geral é de que não é possível aos católicos casar-se fora de lugares sagrados. Há uma importante razão espiritual para isso: o matrimônio é um vínculo natural que, entre os cristãos (sejam eles católicos ou não), foi elevado à dignidade de sacramento por Cristo Senhor (cân. 1.055). Portanto, a graça divina não anula a natureza, mas a eleva a uma ordem sobrenatural. Dada a natureza também sagrada deste vínculo, é prudente, conveniente e oportuno que sua constituição se dê dentro de um recinto sagrado, de maneira a expressar de forma mais plena o caráter sacro de tal instituição. Ou, caso se prefira colocar deste modo, é mais consentâneo com a teologia do sacramento que este seja celebrado no lugar sagrado, sobretudo pela existência aí do Ssmo. Sacramento, presença substancial de Nosso Senhor nos tabernáculos de nossas igrejas.

Dito isto, atente-se para o fato de que dissemos apenas que, em regra, isso não é possível. Mas a regra admite exceção, prevista no cân. 1.118, § 2:

Cân. 1118 — § 2. O Ordinário do lugar pode permitir que o matrimônio se celebre noutro lugar conveniente.  

Primeiramente, deve-se lembrar que esta exceção não configura um direito do fiel a casar-se fora do espaço da igreja. O Ordinário (em geral, o bispo diocesano) não pode ser compelido a permitir um matrimônio católico fora de uma igreja. É uma faculdade que o direito canônico confere ao Ordinário, que poderá exercê-la ou não.

Em segundo lugar, na prática, é bastante incomum e raro que o Ordinário conceda esta permissão, pelas razões teológicas acima expostas. Por isso, deve haver uma justificativa séria o suficiente, por parte dos nubentes, para que o Ordinário conceda a permissão para casar-se fora do espaço da igreja. Meras questões logísticas (“é mais prático casar-se na casa de festa”) ou de gosto pessoal dos nubentes (“amamos a praia ou o campo”; “queremos nos casar na Disneylândia pois foi lá que nos conhecemos”) em geral não são suficientes para que o bispo dê esta permissão. 

Tentemos esboçar um exemplo de questão séria: os nubentes moram em local distante e isolado, que conta com uma única igreja católica. Porém, a igreja do local recentemente sofreu um incêndio e não está podendo ser utilizada antes de uma reforma. Neste caso, há uma chance considerável de que o bispo permita o casamento fora da igreja. Mas, obviamente, este não é o caso da maioria dos noivos que deseja se casar fora do espaço da igreja. 

Há ainda outra exceção, prevista no cân. 1.118, § 3: 

Cân. 1118 — § 3. O matrimônio entre uma parte católica e outra não batizada pode celebrar-se na igreja ou noutro local conveniente.   

Se o católico irá casar-se com uma pessoa que nem sequer é cristã (seja católica ou cristã de outra igreja ou comunidade cristã), por exemplo, com um judeu, um muçulmano, um budista, então desaparece a razão teológica que indicamos de elevação do matrimônio, um vínculo natural, ao nível sobrenatural de sacramento. O casamento entre um católico e um não-cristão, embora possa ser válido como instituição natural, não é sacramento, e, por isso, não há uma razão teológica suficientemente forte que imponha a realização deste casamento dentro do espaço da igreja, podendo os noivos optar livremente por casar-se fora dela. Mas, neste caso, deverão obter permissão do bispo não quanto ao local do casamento, mas sim para a validade do próprio casamento, visto que se trata de um casamento com disparidade de culto, situação em que a Igreja exige uma série de condições para dispensar o fiel católico para casar-se com um não batizado, de modo a tutelar a fé da parte católica e dos filhos que nascerem deste casamento.

Eis aí a resposta para a pergunta.

Padre Vítor Pimentel Pereira

Paróquia de N. Sra. do Paraíso dos Católicos Greco-melquitas

Fonte: https://presbiteros.org.br/

A sede da alma

Todo homem deseja viver em Deus (Encontro com Cristo)

A SEDE DA ALMA

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

“Como a corça bramindo por águas correntes, assim minha alma brame por ti, ó meu Deus!” (Sl 42, 2) 

O Salmo 42 expressa poeticamente a angústia de um exilado devido ao seu afastamento do Templo de Jerusalém, onde Deus reside, e das festas que lá eram celebradas. No exílio, clama por Deus, desejando visitar o Santuário e contemplar a face do Senhor. Antropologicamente, o Salmo retrata uma realidade intrínseca à alma humana: a sede de absoluto, a sede de Deus. O ser humano é estruturalmente aberto e tem um desejo inato de eternidade. 

A metáfora do exílio permeia a fé cristã, sugerindo que vivemos exilados neste mundo. Nele estamos, mas não somos dele. No mundo, sentimos uma profunda inadequação, como se estivéssemos longe de casa, desejosos de retornar à pátria de origem.  “Não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura daquela que está para vir” (Hebreus 13,14). A angústia do exilado é expressa pelo Apóstolo Paulo na Segunda Carta aos Coríntios, destacando a tensão entre a fé e a visão, entre habitar neste corpo e ansiar pela morada junto ao Senhor: “Por conseguinte, estamos sempre confiantes, sabendo que, enquanto habitamos neste corpo, estamos fora da nossa mansão, longe do Senhor, pois caminhamos pela fé e não pela visão” (2 Cor 5, 6-7). 

O Salmo 63 retrata vividamente a sede da alma, apresentando-a como uma terra árida clamando por água: “Minha alma tem sede de ti, minha carne te deseja com ardor, como terra árida, sem água” (Sl 63, 2). Essa imagem é poderosa para retratar a condição humana, profundamente marcada por um desejo de eternidade, como se na alma houvesse um grande buraco que nada preenche, exceto o Absoluto. Santo Agostinho expressa essa condição quando exclama no início de suas Confissões, em sua invocação a Deus: “Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti”.  

A inquietude, a insatisfação, denunciam a inadequação do ser humano no mundo. O ser humano tem sede de absoluto e de Deus. Quando não compreendemos a natureza dessa sede, orientamos nossa busca para realidades efêmeras que jamais cumprirão suas promessas. Buscamos e nada nos sacia, e, quando conseguimos algo, somos remetidos para uma nova busca. Essa situação de busca incessante aponta para um termo último, indica para algo que possa definitivamente saciar nossa sede e dar um novo norte à nossa vida. Esse termo absoluto é Deus! 

A atual sociedade de consumo leva em conta essa condição existencial do ser humano, trabalhando com o desejo e sede do absoluto, remetendo-os para o consumo. A sociedade de consumo, conforme apresentada por Bauman, capitaliza essa busca, mantendo a insatisfação como pilar fundamental para sua sobrevivência. “A sociedade de consumo tem por premissa satisfazer os desejos humanos de uma forma que nenhuma sociedade do passado pôde realizar ou sonhar. A promessa de satisfação, no entanto, só permanecerá sedutora enquanto o desejo continuar irrealizado” (BAUMAN, Z. Vida Líquida, 2009, p. 105). O consumo tem como estratégia perpetuar a insatisfação, criando alvos inatingíveis e alimentando a compulsão. Assim, o consumismo torna-se uma economia do logro, do excesso e do desperdício, onde a promessa de satisfação é constantemente quebrada, mantendo viva a busca incessante.

A massificação das drogas em nossos dias não estaria apontando para o mal-estar de uma sociedade imersa na imanência em que se perderam os horizontes da transcendência? Quando nos falta uma experiência de transcendência, transferimos nossa angústia de exilados para o consumo e para as substâncias psicotrópicas. A conexão entre a falta de transcendência e o recurso ao consumo e substâncias psicotrópicas é como uma resposta à angústia do exílio na imanência. Contudo essa tentativa não responde à sede da alma e aprofunda ainda mais o seu abismo. Somente em Deus, nossa alma encontra repouso!


Fonte: https://www.cnbb.org.br/

«Vou passar o meu Céu fazendo o bem na terra» (1/2)

Gallipoli em uma foto do início do século XX (30Giorni)

Revista 30Dias – 02/03 – 2010

O MILAGRE DE GALLIPOLI

«Vou passar o meu Céu fazendo o bem na terra»

Celebramos o centenário de um dos milagres mais singulares de Santa Teresinha de Lisieux: aquele com que, em 1910, ela resolveu os graves problemas económicos do Carmelo de Galípoli e confirmou à Igreja a bondade da sua “pequena via”. , abrindo caminho para sua beatificação.

por Giovanni Ricciardi

No dia 12 de julho de 1897, debilitada pela tuberculose e à beira da morte, Irmã Teresa do Menino Jesus confidenciou à prioresa Madre Inês de Jesus, sua irmã física: «Não tenho mais nada nas mãos. Tudo o que tenho, tudo o que ganho, é para a Igreja e para as almas. O Salvador terá que fazer toda a minha vontade no Céu, porque eu nunca fiz a minha vontade na terra”. Sua irmã perguntou a ela: “Você vai nos desprezar, certo?” Teresa, surpreendentemente, respondeu: “Não, vou descer”.

Dez anos depois, o texto francês de História de uma alma , autobiografia de Teresa, já estava na mesa do Papa Pio Maria Ravizza, uma religiosa que chegou a Lecce em 1905 para dirigir um colégio feminino confiado à sua Congregação, as freiras Marcelinas.

Foi ela, em 1908, quem falou pela primeira vez com a prioresa do Carmelo de Gallipoli sobre esta freira carmelita de Lisieux, falecida alguns anos antes em odor de santidade. Madre Maria Carmela do Coração de Jesus tinha a mesma idade de Teresa e tinha muitos problemas a enfrentar para aquela comunidade que já começava a sentir uma crise económica generalizada em toda a Itália e que colocou o mosteiro, no ano seguinte, a um passo da ruína. . A prioresa pediu emprestada História de uma Alma , ficou fortemente impressionada e deu-a a conhecer às suas irmãs.

Trezentas liras eram uma grande soma em 1910. Era a dívida acumulada pelo mosteiro, que as freiras não conseguiam pagar com bordados e preparação de hóstias para a diocese. No início do ano, Madre Maria Carmela, certa de que a pequena Teresa a ouviria, decidiu celebrar um tríduo na Santíssima Trindade para pedir, com a intercessão da Irmã Teresa do Menino Jesus, uma solução para os graves problemas da subsistência do mosteiro. “A confiança faz milagres”, escreveu certa vez Teresa à irmã Celina, convidando-a a rezar sempre, sem se cansar. E assim, a resposta às orações de Madre Maria Carmela não demorou a chegar.

Na noite de 15 para 16 de janeiro, a prioresa sonhou com uma jovem carmelita que lhe sorria e a convidava a ir com ela à sala da roda, onde se encontrava a caixa com a folha de dívida: «Ouça», disse-lhe ela , «o Senhor usa tanto os Celestiais como os terrestres, são quinhentas liras com as quais pagarás a dívida comunitária». A prioresa protestou que a dívida era de trezentas liras, mas respondeu: “Significa que os outros ficarão a mais, entretanto não pode mantê-los na cela, venha comigo”.

Pensando estar sonhando com a Santíssima Virgem, Madre Maria Carmela chamou-a por esse nome, mas ouviu a resposta: “Não, minha filha, não sou a nossa Santa Mãe, sou a serva de Deus, Irmã Teresa de Lisieux. " Assim, Teresa antecipou, ao atribuir-se esse título, a abertura do processo de beatificação que estava a ser preparado e que foi inaugurado em 12 de agosto do mesmo ano. Na manhã seguinte, quinhentas liras novas foram encontradas na caixa, para espanto de toda a comunidade.

Madre Maria Carmela apressou-se em escrever uma carta a Lisieux (ver quadro) na qual descreveu detalhadamente o milagre e que encheu de emoção Madre Inês de Jesus, especialmente por um detalhe ao qual a prioresa de Gallipoli não havia dado toda a importância: em sonho, depois de entregar o dinheiro, Teresa se moveu para ir embora; a prioresa tinha-a impedido dizendo: «Espera, podes seguir pelo caminho errado!», mas Teresa respondeu: «Não, não, minha filha, o meu caminho é seguro, nem fiz o errado!».

«Nenhum milagre me atingiu como este último»

Irmã Teresa do Menino Jesus confirmou assim o seu “pequeno caminho”, que agora poderia ser seguido sem hesitação. E assim Madre Agnese respondeu à Prioresa de Gallipoli no dia 4 de março de 1910: «Minha reverenda e boa mãe, imagine com que alegria recebemos o seu relatório tão interessante. Teresa nos dissera quando esteve aqui: “Se meu modo de confiança e de amor for suspeito, prometo não deixá-los no erro. Voltarei para avisá-lo e, se este caminho for seguro, você também saberá disso." E aqui, precisamente a ti, querida mãe em Jesus, este anjo vem contar como são as coisas: “O meu caminho é seguro e não me enganei”. Talvez você tenha dado apenas um significado literal a esta frase, mas aqui as coisas são diferentes. O que admiro, novamente, é que Teresa veio nos dizer isso justamente no momento em que se trata da sua causa, onde se estuda o seu “caminho”. Oh, minha mãe, desde a sua morte minha pequena Teresa fez muitos milagres, mas nenhum me afetou como este.”

Também por esta razão foi reservada uma sessão especial do processo de beatificação para o milagre de Gallipoli. A santa, nos últimos anos de sua vida, especialmente no chamado “manuscrito B”, havia condensado a doutrina do seu “caminho”, que pela sua clara simplicidade lhe valeria, um século depois, o título de Doutor da Igreja. Ela também falou muitas vezes sobre este tema com uma jovem noviça que lhe era particularmente querida, Irmã Maria della Trinità, que também testemunhou no julgamento. Também ela recebeu a promessa de ser avisada pelo Céu sobre a bondade dos ensinamentos recebidos: «Certa vez, Irmã Teresa perguntou-me se eu abandonaria, depois da sua morte, o pequeno caminho da confiança e do amor. "Claro que não!" Eu disse a ela: “Acredito tão firmemente que me parece que se o Papa me dissesse que você foi enganada, eu não poderia acreditar”. “Oh”, acrescentou ela alegremente: “você deveria acreditar no Papa antes de tudo, mas não tenha medo de que ele venha e lhe diga para mudar de atitude; Não lhe daria tempo, porque se, ao chegar ao Céu, soubesse que o havia induzido ao erro, obteria permissão do bom Senhor para vir imediatamente alertá-lo.”

Fonte: https://www.30giorni.it/

A canonização de Mama Antula é um presente para todos os argentinos

Sala de Imprensa Vaticana (Vatican Media)

Silvia Correale, presente em uma coletiva na Sala de Imprensa do Vaticano poucos dias antes da cerimônia presidida pelo Papa, relembra a figura e o trabalho realizado pela "primeira santa argentina" e a expectativa de todos os fiéis: "Haverá vigílias noturnas, praças cheias e telões". Em seguida, ela também relata o incentivo que recebeu do então dom Bergoglio quando foi nomeada postuladora da causa.

Jean-Benoît Harel - Cidade do Vaticano

"Será uma linda celebração" na Argentina, quando María Antonia de San José (1730-1799), mais conhecida como 'Mama Antula', será elevada às honras dos altares no próximo domingo, 11 de fevereiro, em uma missa presidida pelo Papa Francisco. É o que explica Silvia Correale, argentina, postuladora da causa de canonização daquela que será a "primeira santa argentina". Uma causa longa e articulada, difícil em alguns aspectos, que, depois de anos, chegou a uma conclusão durante o pontificado de Bento XVI com a cerimônia de canonização celebrada, no entanto, por seu sucessor Francisco, o primeiro Papa argentino. Correale detalhou esses fatos durante uma coletiva na Sala de Imprensa do Vaticano, poucos dias antes do evento, onde foi convidado juntamente com o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Ignacio García Cuerva, dom Vicente Bokalic Iglic, bispo de Santiago del Estero, e dom Alberto Germán Bochatey, bispo auxiliar de La Plata e secretário da Conferência Episcopal Argentina.

Sra. Silvia Correale, com que disposição os argentinos estão se preparando para vivenciar esse evento? 

Certamente, todos estão muito felizes e há uma grande atmosfera de alegria em todo o país, porque é um marco muito importante. O Papa, em sua audiência com os familiares da nova santa, disse que é um grande presente, que essa canonização não foi fácil de ser realizada. Todos a sentem, todos a vivem, especialmente na arquidiocese de Buenos Aires e na província de Santiago del Estero, onde há uma devoção popular muito forte e muito sincera. Lá, eles prepararam celebrações muito especiais. Por causa da diferença de horário, a missa será transmitida na Argentina às 5h30 da manhã: como é verão, eles prepararam uma vigília contínua durante toda a noite nas praças de Buenos Aires e Santiago, e todas estarão cheias. Será uma bela celebração. Também sei que em outras cidades as pessoas instalaram telões para acompanhar a celebração.

Mama Antula é considerada por muitos como a mãe da Argentina. Por quê? O que essa santa representa para a população?

Mama Antula nasceu em 1730 e morreu em 1799. Ela viveu em uma época em que Buenos Aires era um pequeno vilarejo, um lugar muito pequeno... Nasceu a 1.000 km ao norte e chegou lá depois de percorrer a pé todo o país. Foi para Salta, Catamarca, La Rioca, morou quatro ou cinco anos na cidade de Córdoba e sempre andou uma distância imensa. Em todos os lugares em que morava, tentava organizar exercícios espirituais. Ela tinha um grande carisma e todos se sentiam chamados a fazer os exercícios de Santo Inácio. É importante lembrar que era uma época em que nosso país era dependente da coroa espanhola e o rei Carlos III havia praticamente expulsado os jesuítas. Foi exatamente nessa época que nasceu a vocação de Mamãe Antula, que era próxima da Companhia de Jesus e colaborava como leiga consagrada (naquela época, os jesuítas tinham um ramo leigo em que as mulheres ajudavam os padres no apostolado). Quando viu que os jesuítas haviam sido forçados a partir para Roma e outros países, ela começou sua peregrinação pelo país usando uma batina que um padre com quem trabalhava havia lhe dado. Ela teve a permissão do bispo e do governador e percorreu o país organizando os exercícios de Santo Inácio. Mais tarde, quando chegou a Buenos Aires, não foi fácil porque a situação era um pouco mais delicada. No entanto, mesmo assim, sua vida e seu testemunho de santidade acabaram levando-a a receber autorização para construir a casa de exercícios espirituais em Buenos Aires. Hoje, é a única casa da época colonial ainda existente na cidade, um Museu Histórico Nacional. A partir desse local, Mama Antula iniciou seu trabalho de evangelização por meio de exercícios espirituais. Naquela época, todos os nossos pais da pátria faziam exercícios espirituais naquela casa, que se tornou um centro não apenas religioso, mas também cultural. María Antonia de San José foi a mãe espiritual de todos que colaboraram para a instituição do nosso Estado. É por isso que ela é a "mãe".

O Papa celebrará a cerimônia de canonização. O que significa para o seu pontificado proclamar a primeira santa da Argentina?

Você teria que perguntar ao Papa (risos). Conheci o Santo Padre em 1998, quando ele ainda era dom Jorge Mario Bergoglio: estávamos na Praça de São Pedro e ele tinha vindo para receber o Pálio. Conversamos sobre a causa de Mama Antula porque eu havia sido nomeada postuladora em junho daquele ano. Tive que apresentar pedidos para assumir a causa, a primeira referente a uma beatificação que havia começado na Argentina no início do século XX, mas tive que seguir um caminho muito complicado e demorado porque não existiam os contatos que temos agora em todo o mundo. A própria Santa Sé tinha que ter certeza de muitas coisas... Portanto, uma causa muito complicada, retardada pelas guerras, pelo Concílio Vaticano II, mas que, no entanto, tinha todos os decretos necessários. Eles não conseguiam encontrar um postulador para dar uma "acelerada" e, no final, nomearam-me, que era muito jovem e argentina. Foi nesse exato momento que conheci o dom Bergoglio e lembro-me dele me dizendo: "Agora vamos começar um caminho, eu como bispo e você como postuladora". Esse percurso, graças a Deus, terminou em seu pontificado. Embora o milagre da beatificação tenha sido reconhecido sob o pontificado de Bento XVI. A cerimônia foi realizada em Santiago del Estero em 27 de agosto de 2016 e, pouco tempo depois, um ano e meio após a beatificação, tivemos a comunicação dessa graça do milagre para a canonização, aprovada há alguns meses. E agora a celebração será presidida por Francisco.

Qual é a ligação entre o Papa e Mama Antula?

Acredito que o Papa Francisco tem sua própria devoção por Mama Antula porque ele sabe tudo o que ela fez pela Companhia de Jesus... Naqueles tempos difíceis, quando chegavam as cartas de Mama Antula, nas quais ela contava os frutos dos exercícios espirituais aos jesuítas em Roma - alguns dos quais tiveram que deixar a Companhia e trabalhar como padres diocesanos -, isso revigorava seus espíritos e os mantinha animados. As cartas foram traduzidas e enviadas a outros religiosos de toda a Europa para mostrar como o Senhor continuava a fazer a vida cristã crescer por meio dos exercícios espirituais.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Josefina Bakhita

Santa Josefina Bakhita (A12)
08 de fevereiro
Santa Josefina Bakhita

Esta santa, cujo nome original africano é desconhecido, nasceu no Sudão, em 1869. Aos nove anos, foi raptada para ser vendida como escrava, e o trauma deste fato a fez esquecer seu nome e o dos seus pais. Os sequestradores, muçulmanos mercadores, a chamaram de Bakhita, que significa “afortunada”.

Foi vendida e comprada várias vezes nos mercados de El Obeid e Cartum, passando pelas humilhações e sofrimentos físicos e morais da escravidão; por exemplo, um general turco que a comprou marcou seu corpo com 114 cortes de faca, que foram cobertas com sal para permanecerem em evidência.

Afinal, ainda menina, foi comprada em Cartum pelo Cônsul italiano Calixto Legnani. Ele e a sua família a trataram muito bem, com carinho e consideração. Dois anos depois, a revolução mahdista obriga o cônsul a voltar para a Itália; “Ousei pedir-lhe que me levasse à Itália com ele”, registrou Bakhita, e foi atendida. Nesta viagem a família é acompanhada pela de um seu amigo, Augusto Michieli, cuja esposa gosta de Bakhita, levando o cônsul a deixá-la com esta outra família.

Desembarcam na Itália em 1884, e vão para Zeniago (Veneza) e, quando nasceu Alice, a filhinha do casal, Bakhita se tornou sua babá e amiga. Porém, em 1888, a compra e administração de um grande hotel em Suakin, no Mar Vermelho, obrigam o casal a se mudar para lá. Aconselhados pelo seu administrador, Iluminado Checchini, Alice e Bakhita foram confiadas, durante nove meses, às Irmãs Canossianas do Instituto dos Catecúmenos de Veneza.

No convento, a seu pedido, Bakhita conhece aquele Deus que desde pequena ela “sentia no coração, sem saber quem Ele era”. Aprende o catecismo e é batizada, aos 21 anos, recebendo o nome de Giuseppina Margherita Fortunata; na mesma ocasião é crismada e recebe a Primeira Comunhão. Quando do retornou dos Michieli da África para buscar a filha e Bakhita, esta, com firme decisão e coragem fora do comum, manifestou a vontade de permanecer com as Irmãs Canossianas. J

á então percebia que Deus a conduzira por misteriosos caminhos para um bem maior. Consagrou-se definitivamente em 1896 no Instituto de Santa Madalena de Canossa, em Schio. Por mais de 50 anos, até a morte, ali permaneceu, trabalhando como cozinheira, sacristã, bordadeira, responsável pelo guarda-roupa, e principalmente porteira, onde se destacou pelo carinho com que recebia as pessoas. Era estimada pela sua alegria, paz, generosidade, bondade, humildade e desejo de fazer conhecer a Cristo. As irmãs a chamavam de “irmã morena”, e as crianças de “irmã de chocolate” – não só pela cor, mas também pela doçura do seu trato.

Em certa ocasião, deflagrada uma peste que a muitos matou, Bakhita preferiu ficar na cidade ao invés de sair, auxiliando no cuidado dos enfermos.

 Já idosa e doente, sofreu longa e dolorosamente, mas sem perder a doçura e o bom humor. Na agonia, reviveu os terríveis anos de sua escravidão, gravados no seu inconsciente, e vária vezes suplicava à enfermeira que a assistia: «Solta-me as correntes ... pesam muito!». Segundo seu próprio testemunho, foi a Virgem Maria Quem a libertou destes sofrimentos. Suas últimas palavras foram "Nossa Senhora!". Bakhita faleceu no dia 8 de fevereiro de 1947, de pneumonia, e muitos milagres passaram a ser registrados através da sua intercessão. Ela é padroeira dos escravos e dos sequestrados. O milagre reconhecido pelo Vaticano para a sua canonização foi a cura milagrosa de uma brasileira, Eva Tobias da Costa, da cidade de Santos-SP, que a ela recorrera.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

“Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,28). A ironia do nome “afortunada” que lhe foi dado pelos mercadores de escravos, Cristo tranformou em profecia, na santidade de Bakhita. Ela mesma tem várias frases que sintetizam seu entendimento profundo de como o Senhor, em Sua infinita Sabedoria e Bondade, quer não apenas salvar cada alma, mas através dos santos tocar o coração dos demais para a conversão: “Muitas vezes as vias de Deus são incompreensíveis aos olhos humanos. Mas Ele sabe como conduzir as almas e os acontecimentos para realizar Seu plano de amor e salvação”; “Se encontrasse aqueles negreiros que me sequestraram e mesmo aqueles que me torturaram, eu me colocaria de joelhos para beijar as suas mãos, porque se tudo isso não tivesse acontecido, eu não seria agora cristã e religiosa”; “Eu sou definitivamente amada e aconteça o que acontecer, eu sou esperada por este Amor. Assim a minha vida é bela”; "Vou devagar, passo a passo, porque levo duas grandes malas: numa vão os meus pecados, e na outra, muito mais pesada, os méritos infinitos de Jesus. Quando chegar ao céu abrirei as malas e direi a Deus: Pai Eterno, agora podes julgar. E a São Pedro: fecha a porta, porque fico".

Oração:

Deus Pai de amor, concedei-nos pelas mãos de Santa Bakhita a verdadeira liberdade, natural e principalmente espiritual, para que como ela sejamos capazes de valorizar e agradecer o nosso Batismo, o conhecimento de Vós e da Vossa Vontade, o pertencer à Igreja, por tudo na nossa vida; e também como ela Vos chamar de “meu Patrão”, pois é só a escravidão a Vós que nos salva e liberta. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, em tudo obediente a Vós, e Nossa Senhora, Ancilla Domini – escrava do Senhor. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

O Papa: a liturgia não é apenas para especialistas, é preciso formar bem os leigos

Papa Francisco com os participantes da Assembleia Plenária dos Dicastérios do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos (Vatican Media)

Sem reforma litúrgica não há reforma da Igreja, disse o Papa em seu discurso à plenária do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos: uma Igreja que não tenta falar de uma forma que seja compreensível aos homens e mulheres de seu tempo "é uma Igreja doente", o papel da mulher é central, mas não deve ser reduzido apenas à "ministerialidade”.

Vatican News

Uma Igreja que não sente a paixão pelo crescimento espiritual, que não tenta falar de uma forma que seja compreensível para os homens e mulheres de seu tempo, que não se entristece com a divisão entre os cristãos, que não treme com o anseio de proclamar Cristo aos povos, é uma Igreja doente. Esses são os sintomas de uma Igreja doente.

Em seu discurso à Assembleia Plenária do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, cujos participantes foram recebidos pelo Papa na manhã desta quinta-feira, 8 de fevereiro, na Sala Clementina, no Vaticano, Francisco usou palavras contundentes para enfatizar que "sem reforma litúrgica não há reforma da Igreja". O Pontífice recordou o 60º aniversário da Sacrosanctum Concilium, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, elaborada durante o Concílio Vaticano II com o objetivo de "fazer com que a vida cristã dos fiéis cresça cada vez mais a cada dia", adaptando "as instituições sujeitas a mudanças" às necessidades dos tempos, favorecendo tudo o que pudesse "contribuir para a união de todos os crentes em Cristo" e revigorando tudo o que pudesse ajudar "a chamar todos para o seio da Igreja". Na prática, explicou o Papa, "um profundo trabalho de renovação espiritual, pastoral, ecumênica e missionária".

A fidelidade esponsal da Igreja

Quando se fala em "reformar a Igreja", sempre se está diante de uma "questão de fidelidade esponsal", esclareceu Francisco, acrescentando que "a Igreja Esposa será sempre mais bela quanto mais amar Cristo Esposo, a ponto de pertencer totalmente a Ele, a ponto de se conformar plenamente a Ele". A esse respeito, o Pontífice se deteve sobre as ministerialidades da mulher.

A Igreja é mulher e a Igreja é mãe, e a Igreja é a figura de Maria e a Igreja-mulher, figura de Maria, é mais do que Pedro, ou seja, é outra coisa. Não se pode reduzir tudo à ministerialidade. A mulher em si mesma tem um símbolo muito grande na Igreja como mulher, sem reduzi-la à ministerialidade. É por isso que eu disse que toda instância de reforma da Igreja é sempre uma questão de fidelidade esponsal, porque há uma mulher.

A importância da formação litúrgica

Como os Padres conciliares, que abordaram o tema da liturgia, "o lugar por excelência onde encontrar o Cristo vivo", exortando a formação dos fiéis e promovendo ações pastorais, o Papa também insistiu na necessidade da "formação litúrgica" e ressaltou a importância que ela tem para todos.

Não se trata de uma especialização para alguns especialistas, mas de uma disposição interior de todo o povo de Deus. Isso, é claro, não exclui que haja uma prioridade na formação daqueles que, em virtude do sacramento da Ordem, são chamados a ser mistagogos, ou seja, a tomar os fiéis pela mão e acompanhá-los no conhecimento dos santos mistérios.

A preparação dos ministros ordenados

Para Francisco, é essencial que "os pastores saibam conduzir o povo ao bom pasto da celebração litúrgica, onde o anúncio de Cristo morto e ressuscitado se torna uma experiência concreta de sua presença transformadora da vida", e por isso pede que, "no espírito de colaboração sinodal entre os Dicastérios esperada na Praedicate Evangelium", a formação litúrgica dos ministros ordenados seja "tratada também com o Dicastério para a Cultura e a Educação, com o Dicastério para o Clero e com o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica", de modo que cada um possa oferecer "a própria contribuição específica". Isto porque, sendo a liturgia "o ápice para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte da qual brota toda a sua energia", como se lê na Sacrosanctum Concilium, então é necessário "que a formação dos ministros ordenados tenha também, cada vez mais, um cunho litúrgico-sapiencial, tanto no currículo dos estudos teológicos quanto na experiência de vida dos seminários".

Caminhos formativos para o povo de Deus

Mas também é necessário pensar em "novos caminhos de formação" para o povo de Deus, exortou o Santo Padre, e isso a partir das assembleias que se reúnem aos domingos, "o dia do Senhor", "nas festas do ano litúrgico", que são "a primeira oportunidade concreta de formação litúrgica", e depois novamente nas "festas patronais ou nos Sacramentos da iniciação cristã", ocasiões "nas quais as pessoas participam mais das celebrações" e que, se "preparadas com cuidado pastoral", permitem que as pessoas "redescubram e aprofundem o significado de celebrar hoje o mistério da salvação".

Por fim, Francisco destacou a grande tarefa que cabe ao Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, "trabalhar para que o povo de Deus cresça na consciência e na alegria de encontrar o Senhor celebrando os santos mistérios e, encontrando-o, tenha vida em seu nome", e agradeceu o empenho dos que ali trabalham.

Francisco com os participantes da Assembleia Plenária do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (Vatican Media)
Fonte> https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF