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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

São Cirilo e São Metódio

São Cirilo e São Metódio (A12)
14 de fevereiro
São Cirilo e São Metódio

Metódio e Cirilo nasceram na Macedônia e foram irmãos unidos pelo sangue, pela fé e pela vocação apostólica. Metódio nasceu em 815 e Cirilo em 826.

Metódio, ainda jovem, foi nomeado governador da província da Macedônia Inferior, onde estavam estabelecidos os eslavos. Cirilo, também ainda jovem, foi levado a estudar em Constantinopla, capital do então Império Bizantino, onde se formou. Mais tarde, lecionou filosofia e foi diplomata junto aos árabes.

Com 38 anos, Metódio abandonou a carreira política e se tornou monge no mosteiro de Bósforo. Poucos anos depois seu irmão Cirilo também entrou para o mesmo mosteiro. A atividade missionária dos dois irmãos começou em 861, quando foram enviados numa viagem para a conversão dos povos eslavos. Foram escolhidos porque haviam aprendido a língua daquela região com imigrantes, durante a juventude.

São Cirilo criou um novo alfabeto eslavo (conhecido atualmente como o alfabeto cirílico, utilizado na Rússia e outros países próximos) e nele traduziu a Bíblia, a Missa, os rituais e ensinamentos cristãos. Isto permitiu o acesso do povo local aos conteúdos evangélicos; também a adaptação de ritos à cultura eslava foi providenciada pelos irmãos.

Contudo, na época, a Igreja utilizava oficialmente apenas os textos sagrados em Grego ou Latim, na ideia de que havia risco da unidade eclesial ser rompida se outras línguas fossem usadas. Assim, muitos religiosos ficaram contra o trabalho de Metódio e Cirilo. Os dois foram então chamados a Roma, onde receberam o apoio do Papa Adriano II, que abençoou pessoalmente os livros litúrgicos escritos em língua eslava.

 Cirilo seria ordenado bispo, mas, doente, faleceu em Roma, aos 42 anos. Metódio foi ordenado sacerdote e voltou para a missão com os títulos de “missionário apostólico eslavo” e “legado pontifício”. Em 869 foi nomeado arcebispo de Sírmio, e dez anos depois voltou a Roma para novamente defender-se dos acusadores dos seus métodos; outra vez o Papa os aprovou. Faleceu em 885. Ambos foram proclamados patronos da Europa, ao lado de São Bento, pelo Papa João Paulo II em 1980.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R.

revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Não há dúvida de que a Igreja deve saber aproximar-se das pessoas para transmitir a Boa Nova, e neste empenho são muitas vezes necessárias adaptações para as diferentes realidades culturais que existem. Contudo, o essencial da Fé, também no diz respeito à Liturgia por exemplo, e a todos os demais conteúdos eclesiais, não pode em hipótese alguma, a título de “inculturação”, denegrir o verdadeiro conteúdo da religião católica: isto inclui, entre muitos outros aspectos, a devida reverência e respeito a Deus, na Liturgia, nos comportamentos e posturas de clérigos e fiéis, no decoro das vestimentas, etc. Se por um lado são boas e necessárias as traduções para os diferentes vernáculos, e algumas adaptações litúrgicas e rituais superficiais (de fato, há mais de 20 ritos para a Santa Missa reconhecidos pela Igreja), nem por isso pode-se desvirtuar as noções de exatidão, propriedade e reverência ao Altíssimo. Infelizmente, abusos e escândalos são atualmente frequentes no trato das coisas sacras, principalmente, talvez, na Santa Missa. Não se pode confundir o empenho de evangelizar com propostas de “a qualquer preço” tornar “popular” a Igreja: esta vive da Verdade, não de subserviência a respeitos humanos, particulares ou culturais. O Santo trabalho de Cirilo e Metódio não pode ser invocado equivocadamente como “exemplo” para tentativas iníquas de falsa inculturação pela Igreja de Cristo.

Oração:

Senhor, que dispusestes os membros da Vossa Igreja sob o comando e a vontade da sua Cabeça, que é Cristo, e que desejais esta mesma Igreja missionária, concedei-nos pelos méritos, exemplos e orações dos santos Metódio e Cirilo o correto obrar na evangelização, a começar pela pessoal, e a proteção contra os desvios nos métodos e ações da Santa Igreja, de modo que seja unificado o rebanho na Verdade, e não disperso por falsos profetas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que Convosco vive e reina, e Nossa Senhora, Mãe e Protetora do Corpo Místico que é a Igreja. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Terapia verde contra a doença de Alzheimer

Terapia verde contra a doença de Alzheimer (Vatican Media)

O projeto “Jardins Terapêuticos” do Centro Teresa de Calcutá, em Pádua, foi estudado, certificado e por fim premiado. Em contato com plantas como carvalhos, louros e alecrins, os pacientes com demência recuperam a memória, as funções cognitivas prejudicadas, como a linguagem, melhoram o humor e, acima de tudo, usam menos medicamentos. O diretor: "a natureza é um ventre capaz de acolher, gerar e curar.

https://youtu.be/dht59uLp17U

Cecilia Seppia – Cidade do Vaticano

Anticorpos monoclonais, moléculas inteligentes capazes de limpar o cérebro do acúmulo de Beta-amiloide, drogas experimentais desenvolvidas em laboratórios estrangeiros, ondas transcranianas para despertar memória, treinamento cognitivo apoiado por realidade virtual, a verdade é que, para o Alzheimer, apesar dos esforços incansáveis da pesquisa, ainda não há cura, a não ser o que os especialistas chamam de "contenção" e desaceleração da doença. E quando o declínio cognitivo patológico entra em uma casa, quando a demência atinge um avô, uma avó, um pai, uma pessoa amiga, a única coisa que se quer fazer, sem deixar de seguir a exaustiva triagem hospitalar, é parar o tempo e parar de lutar contra ele. Isso acontece aqui, em Rubano, na província de Pádua, nos Jardins Terapêuticos do Centro da Casa Madre Teresa de Calcutá, onde a vegetação regenera e cura, e a vida dos pacientes e cuidadores flui em um estado de normalidade redescoberta.  Giovanni, com as mãos nos vasos, cuida de suas sementes e sabe que, depois de plantadas, deve regá-las e lembrar-se de verificá-las todos os dias, como se faz com um irmão, um amigo, de cuja saúde se cuida. Anna caminha até a grande cerejeira. De repente, ela levanta a cabeça, respirando profundamente, com um brilho nos olhos. Logo acima dela, um esquilo pula entre os galhos. E um sorriso a ilumina. Piero passeia pelos arbustos floridos, alcança o alecrim, pega-o nas mãos, cheira-o, mergulha o rosto nos galhos, parece feliz, sereno. Rina, desde que pôs os pés no Jardim Terapêutico, recuperou todas as lembranças do jardim de sua casa, de quando era jovem, está convencida de que está ali, quer cuidar dele ela mesma. Por isso, os operadores lhe dão seu próprio espaço, sem a presença de outros pacientes. Cheiros, cores, contato com árvores, flores e plantas aromáticas é a terapia que se mostrou eficaz para quem sofre de Alzheimer, premiada pelo Innovation Lab e, em nível internacional, pelo Urban Innovation and Entrepreneurship de Sydney. Um projeto, conhecido como projeto Verbena (Green and Wellbeing Alzheimer's) em Pádua, que, após dois anos de experimentos, obteve benefícios certificados pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Pádua e pelo Tesaf, criado pela Giotto Cooperativa Sociale e pela Opsa (Opera Provvidenza Sant'Antonio), pelo Departamento de Psicologia Geral e pelo Departamento de Sistemas Agroflorestais da Universidade de Pádua. E também dois livros, "Curarsi del Verde" e "Salvarsi con il verde", publicados com as diretrizes e os resultados da experimentação.

Um ângulo dos Jardins Terapêuticos (Vatican Media)

Mais memória, menos ansiedade

“Após o Jubileu de 2000 - afirma Dom Roberto Ravazzolo, diretor da Opsa e do Centro Madre Teresa - a diocese se perguntou quais eram as necessidades emergentes e percebeu que não havia centros específicos e dedicados para essas pessoas com distúrbios cognitivos e suas famílias". A pedra fundamental da Casa Madre Teresa foi lançada no ano 2000 e depois, com o compromisso de todos e a visão profética do padre Roberto Bevilacqua da Opsa, que era médico, a instalação começou a funcionar em 2006 e atualmente acomoda 34 pessoas em dois centros residenciais e 50 em dois centros diurnos.

Há muitas atividades, todas apoiadas por médicos, psicólogos e operadores experientes, mas poderíamos dizer que os Jardins, inicialmente concebidos para oferecer apenas momentos de recreação e passeios, para ser um mero elemento de decoração da própria Casa, tornaram-se a verdadeira razão de ser desse lugar. Sim, porque quanto mais tempo passam entre os carvalhos e louros, oliveiras, bordos e magnólias, mais os pacientes recuperam suas memórias. Uma espécie de milagre diante do qual filhos e cônjuges não conseguem conter as lágrimas. Mas isso não é tudo. Os benefícios são muitos: os pacientes se mostram mais autônomos, menos ansiosos e inquietos, menos apáticos e deprimidos, mais inclinados à socialização e capazes de reativar funções cognitivas importantes, como a linguagem e o raciocínio, mas, acima de tudo, diz o psicólogo do Centro, Dr. Andrea Melendugno, há uma redução consistente no número de medicamentos, uma série deles, usados para essa patologia. Na verdade, parece que o verde "racional" desse lugar quase tenha o poder de reparar neurônios danificados, de criar novos neurônios, exatamente como os brotos da Primavera.

Os pacientes da Casa Madre Teresa também têm a oportunidade de praticar horticultura (Vatican Media)

A criação dos jardins

Muitos hectares, cerca de 22, dos quais os jardins (três no total) são apenas uma pequena parte, uma espécie de "hortus conclus", para usar uma expressão bíblica, mas os pacientes não podem se perder porque, embora amplos e variados, os caminhos são circulares, ou seja, sempre retornam ao ponto de partida. Tudo aqui é estudado nos mínimos detalhes, não para "apoiar" a doença, mas para curá-la: as plantas, a localização, a divisão do espaço, o tipo de jardim. As escolhas são feitas pelo designer internacional de jardins Andrea Mati, especializado em áreas verdes para pessoas com fragilidade. "O objetivo maior é o atendimento do paciente", explica Dom Ravazzolo. Esta não é uma Casa de Repouso onde as pessoas com a doença de Alzheimer ficam "estacionadas" ou são apenas cuidadas. Basta pensar que, antes de montar o Jardim, identificamos 480 pesquisas sobre o assunto, foi realizado um reconhecimento cuidadoso do local, uma seleção muito precisa das plantas, porque cada planta, cada árvore deve ter uma determinada forma, um desenvolvimento preciso, até mesmo a projeção da sombra das árvores foram estudadas detalhadamente. Para os pacientes de Alzheimer, de fato, a sombra é assustadora, ela só piora a sensação inexplicável de um "buraco negro" que eles sentem em suas mentes e que alimenta a ansiedade e a depressão".

Sustentabilidade, reconhecimento, biodiversidade

Atualmente, existem 138 espécies diferentes de plantas e todas elas locais. Na verdade, não se pode construir um jardim com plantas provenientes de outra região, é preciso levar em conta o clima, a exposição ao sol, a umidade e a composição do solo. Além disso, se o paciente tiver que lidar com um elemento vegetal específico da região, ele experimentará um estado de maior segurança, conhecerá e reconhecerá esse elemento e poderá até mesmo recuperar memórias da infância. Assim, árvores como ficus, olmo, medronheiro, bordo, cerejeira e romã, que fazem parte dos jardins e da zona rural do Vêneto, criam um ambiente reconhecível e familiar para aqueles que perderam a memória. O mesmo acontece com o tomilho, a sálvia, o louro e o alecrim que são importantes recordações cognitivas. A seleção de plantas é crucial para a memória. "Depois de uma fase inicial de reconhecimento", continua o diretor, "passamos para a fase experimental com dois estudos de campo, um para residentes e outro para hóspedes diurnos do centro. No total, 45 hóspedes participaram ativamente, incluindo praticamente todos os estágios da doença, do mais leve ao moderado e ao mais grave. Foram envolvidas equipes multidisciplinares e também um grupo de familiares para identificar conjuntamente os critérios de recordação e ação. Após esse passo foram feitas as publicações dos resultados em revistas científicas internacionais e uma monografia do projeto, que atualmente é um ‘manual’ para os que estão tentando fazer o que fizemos, e, em particular, os grandes avanços no tratamento”. Por trás da escolha das plantas, que são estritamente nativas, há dois outros motivos além da capacidade de identificação, ou reconhecimento por parte dos hóspedes. Ou seja, a sustentabilidade e a recuperação da biodiversidade que a ação destrutiva do homem está fazendo desaparecer. "O tema da sustentabilidade é muito importante, plantar um jardim também significa garantir a manutenção e isso tem custos. Para ser eficaz, o jardim deve ser bem mantido. Da biodiversidade também vêm os estímulos mais adequados para os doentes, além, é claro, de nutrir o meio ambiente", alerta o Dr. Melendugno.

Todas as plantas dos Jardins Terapêuticos, mesmo as floridas, têm uma forte conexão com o território (Vatican Media)

Aproveitamento livre e autônomo

Desde então, os experimentos nunca pararam, a vegetação cresceu, os Jardins Terapêuticos ficaram cheios de árvores, os pacientes começaram a viver em meio à natureza e a se sentir cada vez melhor. E os resultados vieram. "No início - enfatiza Nicola Boscoletto, presidente da Cooperativa Giotto, que acompanhou e ainda acompanha a realização dos Jardins - os estudos eram pioneiros, era um grande desafio. Porém, nos últimos anos, cada vez mais, também graças ao nosso projeto, tem havido a confirmação de que a interação de pessoas com Alzheimer e outros tipos de demência com parques e jardins criados adequadamente incentiva a regeneração dos recursos cognitivos". Nos Jardins, os pacientes podem passear a qualquer momento, sem horários, até mesmo à noite para aqueles que sofrem de insônia, sozinhos ou com cuidadores: um aproveitamento totalmente livre. Sob os calicantos e entre os medronheiros, eles encontram amigos e parentes, sentam-se ao ar livre, cultivam sua horta e flores. Há também programas organizados: musicoterapia, jardinagem, atividades sensoriais. Mesmo os cadeirantes podem cuidar do jardim e da horta, graças aos espaços elevados, na altura dos assentos.

Os jardins são criados por arquitetos especializados e seguem percursos circulares (Vatican Media)

A natureza é um ventre que acolhe e gera

"Pensando nesses Jardins – acrescenta padre Roberto - tenho a imagem da natureza como um ventre que acolhe e gera vida e não posso deixar de pensar no que o Papa Francisco nos diz na encíclica Laudato si'. O homem é por si mesmo parte da natureza. Às vezes pensamos na natureza como algo alheio ao homem, do qual o homem é um espectador, mas não nos esqueçamos de que cada um de nós faz parte desse amor criativo de Deus que dá vida a todas as coisas. Portanto, no texto do Pontífice, realmente encontramos a explicação teologal que nos permite compreender essa conexão e explicar, além das percepções psicológicas, botânicas e terapêuticas, a partir de uma perspectiva teológica, por que isso acontece. Por meio da natureza, podemos cuidar dos doentes que muitas vezes são esquecidos ou confiados apenas aos cuidados amorosos, mas exaustivos, dos membros da família. Aqui no Centro Madre Teresa, vemos essa união vitoriosa entre o homem e o meio ambiente, da qual fala o Santo Padre, se concretizar, a ponto de evidenciar uma cura". "Cuidado, fragilidade e comunidade", ressalta o Dr. Melendugno, são as três palavras-chave que emergem de nosso projeto e que se baseiam diretamente na encíclica do Papa Francisco. E quando falamos de comunidade, não estamos nos referindo apenas à comunidade de pessoas, mas também à comunidade de plantas. As plantas dos Jardins Terapêuticos devem ser capazes de coexistir umas com as outras e proporcionar aos nossos hóspedes um ambiente favorável, capaz de dialogar e interagir com eles, para curá-los e beneficiá-los".

Menos assistencialismo, mais sustentabilidade

Em suma, o Jardim Terapêutico é, na verdade, uma instalação de saúde por si só. Isso beneficia os hóspedes, mas também a equipe que trabalha na instalação e, não menos importante, suas famílias. O ponto de virada é uma política de escolhas menos assistencialistas, mas sustentáveis e generativas. O objetivo é o bem-estar da pessoa, fazendo com que tanto os pacientes quanto as famílias se sintam melhor. E são justamente as famílias que dão feedback positivo, repetindo que veem seus entes queridos tão serenos como há muito tempo não se via. O resultado final do projeto Verbena são as diretrizes certificadas para a criação e o uso de jardins terapêuticos nas estruturas para idosos: "Pádua - conclui o padre Roberto Ravazzolo - quer ser um precursor, um exemplo para uma mudança concreta na qualidade de vida nas Casas de Repouso".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A Criação - Parte 1

A Criação (Opus Dei)

A Criação

A doutrina da Criação constitui a primeira resposta às indagações fundamentais sobre nossa origem e nosso fim.

06/01/2015

Introdução

A importância da verdade da criação vem de que é “o fundamento de todos os projetos divinos de salvação; (...) o início da história da salvação, que culmina em Cristo” (Compêndio, 51). Tanto a Bíblia (Gn 1,1) como o Credo começam com a confissão de fé no Criador.

Diferentemente dos outros grandes mistérios da nossa fé (a Trindade e a Encarnação), a criação é “a primeira resposta às questões fundamentais do homem acerca sua própria origem e do seu fim” (Compêndio, 51), que o espírito humano se propõe e, em parte, pode também responder, como mostra a reflexão filosófica e os relatos das origens pertencentes às culturas religiosas de tantos povos (cf. Catecismo, 285); não obstante, a especificidade da noção de criação só foi de fato entendida com a revelação judaico-cristã.

A criação é, pois, um mistério de fé e, ao mesmo tempo, uma verdade acessível à razão natural (cf. Catecismo, 286). Esta peculiar posição entre fé e razão faz da criação um bom ponto de partida na tarefa de evangelização e de diálogo que os cristãos estão sempre – particularmente em nossos dias[1] – chamados a realizar, como já fizera São Paulo no Areópago de Atenas (At 17,16-34).

Costuma-se distinguir entre o ato criador de Deus (a criação active sumpta) e a realidade criada, que é efeito de tal ação divina (a criação passive sumpta)[2]. Seguindo este esquema, são expostos a seguir os principais aspectos dogmáticos da criação.

1. O ato criador

1.1. “A criação é obra comum da Santíssima Trindade” (Catecismo, 292)

A Revelação apresenta a ação criadora de Deus como fruto da sua onipotência, da sua sabedoria e do seu amor. Costuma-se atribuir a criação ao Pai (cf. Compêndio, 52), assim como a redenção ao Filho e a santificação ao Espírito Santo. Ao mesmo tempo, as obras ad extra da Trindade (a primeira delas é a criação) são comuns às três Pessoas, e por isso, faz sentido perguntar-se pelo papel específico de cada Pessoa na criação, pois “cada Pessoa divina cumpre a obra comum segundo a sua propriedade pessoal” (Catecismo, 258). Este é o sentido da igualmente tradicional apropriação dos atributos essenciais (onipotência, sabedoria, amor) respectivamente ao agir criador do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

No Símbolo Niceno-Constantinopolitano, confessamos a nossa fé “em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra”; “em um só Senhor Jesus Cristo (...) por ele todas as coisas foram feitas”; e no Espírito Santo, “Senhor que dá a vida” (DH 150). A fé cristã fala, portanto, não somente de uma criação ex nihilo, do nada, que indica a onipotência de Deus Pai; mas também de uma criação feita com inteligência, com a sabedoria de Deus – o Logos por meio do qual tudo foi feito (Jo 1, 3) -; e de uma criação ex amore (GS 19), fruto da liberdade e do amor que é o próprio Deus, o Espírito que procede do Pai e do Filho. Consequentemente, as processões eternas das Pessoas estão na base de seu agir criador[3].

Assim, como não há contradição entre a unicidade de Deus e o seu ser três Pessoas, de modo análogo não se contrapõe a unicidade do princípio criador com a diversidade dos modos de agir de cada uma das Pessoas.

“Criador do céu e da terra”

No princípio, Deus criou o céu e a terra. Três coisas são afirmadas nestas primeiras palavras da Escritura: o Deus eterno pôs um começo a tudo o que existe fora dele. Só ele é Criador (o verbo “criar” – em hebraico, “bara” – sempre tem como sujeito Deus). Tudo o que existe (expresso pela fórmula “o céu e a terra”) depende daquele que lhe dá o ser” (Catecismo, 290).

Somente Deus pode criar em sentido próprio[4], o que significa dar origem às coisas do nada (ex nihilo), e não a partir de algo pré-existente; para isso, requer-se uma potência ativa infinita que só Deus possui (cf. Catecismo, 296-298). É congruente (adequado), portanto, apropriar a potência criadora ao Pai, já que Ele é, na Trindade – segundo uma expressão clássica – fons et origo, quer dizer, a Pessoa de quem procedem as outras duas, princípio sem princípio.

A fé cristã afirma que a distinção fundamental, de fato, é a que se dá entre Deus e as criaturas. Isto supôs uma novidade nos primeiros séculos, nos quais a polaridade entre matéria e espírito dava motivo a visões inconciliáveis entre si (materialismo e espiritualismo, dualismo e monismo). O cristianismo rompeu estes esquemas, principalmente com sua afirmação de que também a matéria (do mesmo modo que o espírito) é criatura do único Deus transcendente. Mais tarde, São Tomás desenvolveu uma metafísica da criação que descreve a Deus como o próprio Ser subsistente (Ipsum Esse Subsistens). Como causa primeira, é absolutamente transcendente ao mundo; e ao mesmo tempo, em virtude da participação de seu ser nas criaturas, está presente intimamente nelas, as quais dependem, em tudo, de quem é fonte do ser. Deus é superior summo meo (maior do que o que há de maior em mim) e, ao mesmo tempo, intimior intimo meo (mais íntimo do que o que há de mais íntimo em mim) (Santo Agostinho, Confissões, 3,6,11; cf. Catecismo, 300).

“Por Ele todas as coisas foram feitas”

A literatura sapiencial do Antigo Testamento apresenta o mundo como fruto da sabedoria de Deus (cf. Sab 9,9). “O mundo não é o produto de uma necessidade qualquer, de um destino cego ou do acaso” (Catecismo, 295), mas tem uma inteligibilidade que a razão humana, participando na luz do entendimento divino, pode captar, não sem esforço e em espírito de humildade e de respeito ante o Criador e sua obra (cf. Jo 42,3; cf. Catecismo, 299). Este desenvolvimento chega à sua expressão plena no Novo Testamento: ao identificar o Filho, Jesus Cristo, com o Logos (cf. Jo 1, 1ss), afirma que a sabedoria de Deus é uma Pessoa, o Verbo encarnado, por quem tudo foi feito (Jo 1, 3). São Paulo formula esta relação do criado com Cristo, esclarecendo que todas as coisas foram criadas nele, por ele e para ele (Col 1, 16-17).

Há, pois, uma razão criadora na origem do cosmos (cf. Catecismo, 284)[5]. O Cristianismo tem, desde o começo, uma grande confiança na capacidade da razão humana de conhecer; e uma enorme segurança em que jamais a razão (científica, filosófica etc.) poderá chegar a conclusões contrárias à fé, pois ambas provêm da mesma origem.

Não é raro encontrar pessoas que apresentam falsos dilemas, como, por exemplo, entre criação e evolução. Em realidade, uma epistemologia adequada não só distingue os âmbitos próprios das ciências naturais e da fé, mas, ainda, reconhece, na filosofia, um elemento necessário de mediação, pois as ciências, com seu método e objeto próprios, não cobrem todo o âmbito da razão humana; e a fé, que se refere ao mesmo mundo do qual tratam as ciências, necessita, para formular-se e entrar em diálogo com a racionalidade humana, de categorias filosóficas[6].

É lógico, portanto, que a Igreja, desde o início, buscasse o diálogo com a razão: uma razão consciente de seu caráter criado, pois não se deu a si própria a existência, nem dispõe completamente de seu futuro; uma razão aberta àquilo que a transcende, em suma, a Razão originária. Paradoxalmente, uma razão fechada sobre si, que acredita poder achar dentro de si a resposta às suas interrogações mais profundas, acaba por afirmar a falta de sentido da existência, e por não reconhecer a inteligibilidade do real (niilismo, irracionalismo, etc.).

“Senhor que dá a vida”

“Cremos que o mundo procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participarem de seu ser, de sua sabedoria e de sua bondade: "Pois tu criaste todas as coisas; por tua vontade é que elas existiam e foram criadas". (Ap 4,11). (...). "O Senhor é bom para todos, compassivo com todas as suas obras"” (Catecismo, 295). Em consequência, “Originada da bondade divina, a criação participa desta bondade: "E Deus viu que isto era bom... muito bom": Gn 1, 4. 10. 12. 18. 21. 31). Pois a criação é querida por Deus como um dom...” (Catecismo, 299).

Este caráter de bondade e de dom livre permite descobrir na criação a atuação do Espírito – que “movia-se sobre as águas” (Gn 1,2) –, a Pessoa Dom na Trindade, Amor subsistente entre o Pai e o Filho. A Igreja confessa sua fé na obra criadora do Espírito Santo, que dá a vida e é fonte de todo bem[7].

A afirmação cristã da liberdade divina criadora permite superar a estreiteza de outras visões que, atribuindo uma necessidade a Deus, acabam por sustentar um certo fatalismo ou determinismo. Não há nada, nem “dentro”, nem “fora” de Deus, que o obrigue a criar. Qual é então o fim que o move? O que se propôs ao criar-nos?

Santiago Sanz

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Bibliografia básica

Catecismo da Igreja Católica, 279-374.

Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 51-72.

DH, nn. 125, 150, 800, 806, 1333, 3000-3007, 3021-3026, 4319, 4336, 4341.

Concílio Vaticano II, Gaudium et spes, 10-18, 19-21, 36-39.

João Paulo II, Creo en Dios Padre. Catequesis sobre el Credo (I), Palabra, Madri 1996, 181-218.

Leituras recomendadas

Santo Agostinho, Confissões, livro XII.

São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, qq. 44-46.

São Josemaria, Homilia “Amar o mundo apaixonadamente”, em Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 113-123.

Joseph Ratzinger, Creación y pecado, Eunsa, Pamplona 1992.

João Paulo II, Memoria e identidade, Ed. Objetiva, 2005.

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[1] Entre muitas outras intervenções, cf. Bento XVI, Discurso aos membros da Cúria Romana, 22-12-05; Fé, Razão e universidade (Discurso em Regensburg), 12-09-06; Ângelus, 28-01-07.

[2] Cf. São Tomás, De Potentia, q. 3, a. 3, co.; o Catecismo segue este mesmo esquema.

[3] Cf. São Tomás, Super Sent., lib. 1, d. 14, q. 1, a. 1, co.: “são a causa e a razão da processão (procedência) das criaturas”.

[4] Por isso se diz que Deus não tem necessidade de instrumentos para criar, já que nenhum instrumento possui a potência infinita necessária para criar. Decorre daí, também, que quando se fala, por exemplo, do homem como criador, ou, inclusive, como capaz de participar do poder criador de Deus, o emprego do adjetivo “criador” não é analógico, mas metafórico.

[5] Este ponto aparece com frequência nos ensinamentos de Bento XVI, por exemplo, na Homilia de Regensburg, 12-09-06; Discurso em Verona, 19-10-2006; Encontro com o clero da diocese de Roma, 22-02-2007 etc.

[6] Tanto o racionalismo cientificista como o fideísmo científico necessitam uma correção por parte da filosofia. Além disso, há que evitar, da mesma forma, a falsa apologética de quem vê forçadas concordâncias, buscando nos dados fornecidos pela ciência uma verificação empírica ou uma demonstração das verdades da fé, quando, na verdade, como dissemos, trata-se de dados que pertencem a métodos e disciplinas distintas.

[7] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Dominum et vivificantem, 18-05-1986, 10.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Quaresma nos Museus do Vaticano, visita especial às obras sobre a Paixão e a Ressurreição

"Deposiziane" de Caravaggio (Musei Vaticani)

A partir de 17 de fevereiro, os Museus do Papa oferecerão, durante seis sábados consecutivos, uma visita temática guiada que aproximará os visitantes das obras e dos artistas das coleções vaticanas que retrataram, ao longo dos séculos, os episódios da Paixão e da Ressurreição do Senhor.

Vatican News

A partir do dia 17 de fevereiro, por ocasião do tempo litúrgico da Quaresma, os Museus do Vaticano oferecerão, durante seis sábados consecutivos, uma visita guiada especial ao longo de um itinerário temático que aproximará os visitantes das obras e dos artistas das coleções vaticanas que mais retrataram, ao longo dos séculos, os episódios da Paixão e da Ressurreição do Senhor.

O itinerário do museu percorre as representações dos eventos centrais da vida de Jesus, desde os sarcófagos dos primeiros cristãos, historiados com imagens da Morte e da Ressurreição, até as obras-primas abrigadas na Pinacoteca Vaticana: em primeiro lugar, a Deposição de Caravaggio e sua admirável representação do corpo lívido do Cristo morto. Depois, será a vez das Galerias Superiores e, finalmente, como parada final dessa "viagem" única, ao mesmo tempo histórica, artística e espiritual, será, obviamente, a Capela Sistina, com o triunfo da esperança cristã brilhando no Juízo Final de Michelangelo.

Uma experiência de visita aberta a todos, incluindo famílias com crianças pequenas (idade recomendada acima de 6 anos). As visitas guiadas - conduzidas em italiano ou inglês - são totalmente acessíveis a pessoas com deficiências sensoriais, motoras e intelectuais.

Este é o link para o site dos Museus do Vaticano

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

O Papa: "lepra da alma", uma doença que nos torna insensíveis ao amor

Papa canoniza a primeira santa argentina (Vatican News)

Francisco presidiu a missa de canonização da primeira santa argentina, Mama Antula, com milhares de fiéis vindos de seu país e também o presidente Milei. Na homilia, convidou a redescobrir "a alegria de nos doar aos outros, sem medo nem preconceito, livres de formas de religiosidade anestesiante e desinteressada da carne do irmão".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco presidiu a missa de canonização de Maria Antónia de San José de Paz e Figueroa, mais conhecida como Mama Antula, na Basílica de São Pedro, na manhã deste domingo, 11 de fevereiro, Dia Mundial do Enfermo.

A primeira Leitura e o Evangelho deste domingo "falam da lepra, uma doença que causa a progressiva destruição física da pessoa e que muitas vezes, infelizmente, ainda está hoje associada em certos lugares com atitudes de marginalização". "Lepra e marginalização são dois males de que Jesus quer libertar o homem que encontra no Evangelho", disse Francisco em sua homilia.

"Aquele leproso é obrigado a viver fora da cidade. Fragilizado pela doença, em vez de receber ajuda dos seus concidadãos, é abandonado a si mesmo, acabando duplamente ferido pelo afastamento e a rejeição", sublinhou o Pontífice. As pessoas mantinham distância dele, pois tinham medo de serem contagiadas e ficarem como ele. Mantinham distância também por preconceito, pois pensavam que fosse "um castigo de Deus por alguma falta que ele cometeu, e também por uma falsa religiosidade, porque pensavam que tocar um morto tornava a pessoa impura, e os leprosos eram pessoas cuja carne lhe «morria no corpo». Trata-se de uma religiosidade distorcida, que levanta barreiras e mina a piedade", disse ainda o Papa.

«Lepras da alma»

"Medo, preconceito e falsa religiosidade: aqui estão três causas de uma grande injustiça, três «lepras da alma» que fazem sofrer uma pessoa frágil, descartando-a como qualquer desperdício", disse ainda o Papa, acrescentando que "não se trata de coisas só do passado".

“Quantas pessoas sofredoras encontramos nos passeios das nossas cidades! E quantos medos, preconceitos e incoerências, mesmo entre quem acredita e se professa cristão. Esses medos continuam ferindo essas pessoas ainda mais! Também no nosso tempo há tanta marginalização, há barreiras a serem derrubadas, «lepras» a serem curadas.”

"Mas como?", perguntou Francisco, indicando como resposta dois gestos que faz Jesus: tocar e curar.

Jesus sente compaixão daquele homem, para, estende a mão e o toca.

O Senhor poderia evitar de tocar naquela pessoa; bastava «curá-la à distância». "Mas Cristo não pensa assim; o seu caminho é o do amor, que o faz aproximar de quem sofre, entrar em contato, tocar as suas feridas. A proximidade de Deus. Jesus está próximo, Deus está próximo. O nosso Deus, queridos irmãos e irmãs, não se manteve distante no céu, mas em Jesus fez-se homem para tocar a nossa pobreza. E perante a «lepra» mais grave, que é o pecado, não hesitou em morrer na cruz, fora das muralhas da cidade, rejeitado como um pecador, como um leproso, para tocar a fundo a nossa realidade humana. Um santo escreveu: «Ele se tornou leproso por nós»", sublinhou Francisco.

https://youtu.be/oRusdfwzNpA

O Papa convidou a tomar cuidado com a «lepra da alma».

“Uma doença que nos torna insensíveis ao amor, à compaixão, que nos destrói com as «gangrenas» do egoísmo, preconceito, indiferença e intolerância.”

"Tenhamos cuidado", advertiu ele, "também porque, como acontece na fase inicial da doença com as primeiras manchas de lepra que aparecem na pele, se não se tomar medidas imediatas, a infeção cresce e torna-se devastadora".

Deixar-se tocar por Jesus na oração e na adoração

"Diante desse risco, da possibilidade dessa doença em nossa alma, qual é a cura?", perguntou o Pontífice. A resposta se encontra no segundo gesto de Jesus: curar. "De fato, aquele seu «tocar» não indica apenas proximidade, mas é o início da cura. A proximidade é o estilo de Deus: Deus é sempre próximo, compassivo e terno. Proximidade, compaixão e ternura. Este é o estilo de Deus. Estamos abertos a isso? Pois é deixando-nos tocar por Jesus que nos curamos intimamente, no coração. Se nos deixarmos tocar por Ele na oração, na adoração, se Lhe permitirmos agir em nós através da sua Palavra e dos Sacramentos, o seu contato muda-nos realmente, cura-nos do pecado, liberta-nos de fechamentos, transforma-nos para além daquilo que podemos fazer sozinhos, com os nossos esforços", disse ainda o Papa.

“As nossas partes feridas, as do coração e da alma, as doenças da alma devem ser levadas a Jesus. É isto que faz a oração; não uma oração abstrata, feita apenas de repetição de fórmulas, mas uma oração sincera e viva, que depõe aos pés de Cristo as misérias, as fragilidades, as falsidades, e os medos.”

"Eu deixo Jesus tocar as minhas «lepras», para que me cure?", perguntou o Papa. "Ao «toque» de Jesus", respondeu Francisco, "retorna a beleza que possuímos, a beleza que somos; a beleza de ser amados por Cristo, redescobrimos a alegria de nos doar aos outros, sem medos e sem preconceitos, livres de formas de religiosidade anestesiante e desinteressada da carne do irmão; retoma força em nós a capacidade de amar, para além de todo e qualquer cálculo e conveniência". Vive-se a cada dia a "caridade sem alarde: na família, no trabalho, na paróquia e na escola; na rua, no escritório e no mercado; a caridade que não busca publicidade nem precisa de aplausos, porque ao amor basta o amor".

"Proximidade e discrição", é o que Jesus nos pede, e "se nos deixarmos tocar por Ele, também nós, com a força do seu Espírito, poderemos tornar-nos testemunhas do amor que salva", como nos ensinou Santa Maria Antónia de San José, conhecida como «Mamã Antula».

“Ela foi uma viajante do Espírito. Percorreu milhares de quilômetros a pé, por desertos e estradas perigosas, para levar Deus. Hoje, ela é um modelo de fervor e audácia apostólica para nós. Quando os jesuítas foram expulsos, o Espírito acendeu nela uma chama missionária baseada na confiança na providência e na perseverança.”

Ela invocou a intercessão de São José e, para não cansá-lo muito, também a de São Caetano Thiène. Por essa razão, introduziu a devoção a este último, e sua primeira imagem chegou a Buenos Aires no século XVIII. Graças a Mama Antula, esse santo, intercessor da Divina Providência, entrou nas casas, nos bairros, nos meios de transporte, nas lojas, nas fábricas e nos corações, para oferecer uma vida digna por meio do trabalho, da justiça, do pão de cada dia, na mesa dos pobres. Peçamos hoje a Maria Antónia, Santa Maria Antónia de Paz de San José, para que ela nos ajude muito.

"Que o Senhor abençoe a todos nós", concluiu o Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Quaresma: uma travessia!

Quaresma (CNBB)

QUARESMA: UMA TRAVESSIA!

Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

O tempo da quaresma está relacionado a Jesus. Ele é o Filho de Deus que, para salvar a humanidade, deu a prova maior de amor, doando sua vida. Foi crucificado mas ressuscitou ao terceiro dia. O núcleo da fé cristã está aí, no “mistério pascal”, ou seja na paixão, morte e ressureição de Jesus. 

A cada ano a Igreja celebra este acontecimento cuja preparação se dá no tempo da quaresma. O próprio nome já indica quarenta dias, antes do tríduo pascal no fim da Semana Santa, o qual inicia-se na tarde da quinta-feira santa, Sexta-Feira Santa, sábado santo terminando na tarde do Domingo de Páscoa. 

Este costume da quaresma começou no século II do cristianismo. Algo bem pequeno, como alguns dias de jejum que precediam a Páscoa. Mas foi desenvolvendo e crescendo até chegar aos quarenta dias. Estes quarenta dias simbolizam os quarenta anos, nos quais o Povo de Deus, liberto da escravidão do Egito, percorreu atravessando o deserto, até chegar à terra prometida. Sinalizam ainda os quarenta dias que Jesus passou no deserto, jejuando e rezando antes de iniciar sua missão. A quaresma é uma travessia! 

A quaresma inicia-se com a Quarta-Feira de Cinzas. Um costume antigo que faz referência ao gesto bíblico de penitência que, no tempo de Jesus, consistia em colocar cinzas na cabeça, recordando que o ser humano é pó e voltará ao pó. Em consequência deve converter-se para Deus, abandonando o pecado e praticando o bem. Neste período todos os fiéis são convidados a intensificar a escuta da Palavra de Deus, fazer orações fervorosas, jejuar e dar esmolas como forma de partilhar com os mais necessitados.  

A quaresma alerta para a vigilância cristã, ou seja para estarmos vigilantes contra o mal que nos ronda. Mais que nunca há o convite a pedir como Jesus ensinou: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livra-nos do maligno”. O espírito do mal tenta o ser humano para desvia-lo do caminho correto para Deus. Em primeiro lugar levando a pessoa a procurar somente  bens materiais, consumismo e abundância. Em seguida  a vaidade, que empenha a vida na busca da fama e por fim, o desejo de poder para dominar os outros. 

A quaresma lembra sobretudo que o caminho de Jesus é outro, bem diferente deste caminho de loucura, proposto pelo egoísmo humano e pelo espírito do mal. O caminho de Jesus é o caminho do amor, amor que se faz serviço e cria comunhão e fraternidade. 

É neste sentido que a Igreja do Brasil propõe como tema de reflexão quaresmal a fraternidade e a fome. O lema desta 60ª Campanha da Fraternidade é “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt. 14,16). A campanha da fraternidade somente pode ser aceita por quem vê o apelo quaresmal como apelo à conversão pessoal e coletiva, dado que a fé tem uma dimensão social. Na nossa sociedade a fome é uma tragédia, um escândalo, uma ofensa a Deus porque contraria seu projeto de vida plena para todos. 

Na quaresma, preparando para celebrar a vitória de Cristo na Páscoa,  contemplemos seu sofrimento na cruz. Ao mesmo tempo, contemplemos o sofrimento do mundo. Nele Jesus Cristo entra com o seu, para redimir tudo e iluminar a vida, garantindo que vale a pena esperar. Quando na noite a escuridão não pode aumentar mais, começa a clarear e se faz dia.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF