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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

A Criação - Parte 2

A Criação (Opus Dei)

A Criação

A doutrina da Criação constitui a primeira resposta às indagações fundamentais sobre nossa origem e nosso fim.

06/01/2015

1.2. “O mundo foi criado para a glória de Deus” (Concílio Vaticano I)

Deus criou tudo “não para aumentar sua glória, mas para manifestá-la e comunicá-la” (São Boaventura, Sent., 2,1,2,2,1). O Concílio Vaticano I (1870) ensina que “por sua bondade e pela sua virtude onipotente, não para aumentar a sua felicidade nem para adquirir sua perfeição, mas para a manifestar essa perfeição por meio dos bens que prodigaliza às criaturas, Deus, com vontade plenamente livre, criou simultaneamente no início do tempo ambas as criaturas do nada: a espiritual e a corporal” (DS 3002; cf. Catecismo, 293).

“A glória de Deus consiste em que se realize esta manifesta e esta comunicação de sua bondade em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nós "filhos adotivos por Jesus Cristo: conforme o beneplácito de sua vontade para louvor à glória da sua graça" (Ef 1,5-6): "Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus" (Santo Irineu, Adversus haereses, 4,20,7)” (Catecismo, 294).

Longe de uma dialética de princípios contrapostos (como ocorre no dualismo de tipo maniqueísta, como também no idealismo monista hegeliano), afirmar a glória de Deus como fim da criação não comporta uma negação do homem, mas uma condição indispensável para a sua realização. O otimismo cristão tem as suas raízes na exaltação conjunta de Deus e do homem: “somente se Deus é grande, o homem também é grande”[8]. Trata-se de um otimismo e uma lógica que afirmam a absoluta prioridade do bem, mas que não são, por isso, cegos ante a presença do mal no mundo e na história.

1.3. Conservação e providência. O mal

A criação não se reduz aos começos; uma vez realizada a criação, “Com a criação, Deus não abandona sua criatura a ela mesma. Não somente lhe dá o ser e a existência, mas também a sustenta a todo instante no ser, dá-lhe o dom de agir e a conduz a seu termo” (Catecismo, 301). A Sagrada Escritura compara esta atuação de Deus na história com a ação criadora (cf. Is 44,24; 45,8;51,13). A literatura sapiencial explicita a ação de Deus que mantém suas criaturas na existência. “Como poderia subsistir qualquer coisa, se não o tivésseis querido, e conservar a existência, se por vós não tivesse sido chamada?” (Sab 11,25). São Paulo vai mais longe e atribui esta ação conservadora a Cristo: “Ele existe antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem nele” (Cl 1,17).

O Deus dos cristãos não é um relojoeiro ou arquiteto que, após ter realizado sua obra, se desentende dela. Estas imagens são próprias de uma concepção deísta, segundo a qual Deus não se imiscui nos assuntos deste mundo. Mas isto supõe uma distorção do autêntico Deus criador, pois separa drasticamente a criação da conservação e governo divino do mundo[9].

A noção de conservação “faz o papel de ponte” entre a ação criadora e o governo divino do mundo (providência). Deus não só cria o mundo e o mantém na existência, mas, além disso, “conduz as suas criaturas para a perfeição última, à qual Ele mesmo as chamou” (Compêndio, 55). A Sagrada Escritura apresenta a soberania absoluta de Deus e testemunha constantemente o seu cuidado paterno, tanto nas coisas pequenas como nos grandes acontecimentos da história (cf. Catecismo, 303). Neste contexto, Jesus se revela como a providência “encarnada” de Deus, que atende, como Bom Pastor, as necessidades materiais e espirituais dos homens (Jo 10,11.14-15; Mt 14, 13-14, etc.) e nos ensina a abandonar-nos aos seus cuidados (Mt 6,31-33).

Se Deus cria, sustenta e dirige tudo com bondade, de onde provem o mal? “Para esta pergunta tão premente quão inevitável, tão dolorosa quanto misteriosa, não há uma resposta rápida. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta pergunta (...). Não há nenhum elemento da mensagem cristã que não seja, por uma parte, uma resposta à questão do mal” (Catecismo, 309).

A criação não está terminada desde o princípio, mas Deus a fez in statu viae, isto é, em direção a uma meta última por alcançar. Para a realização dos seus desígnios, Deus se serve do concurso das criaturas, e concede aos homens uma participação da sua providência, respeitando sua liberdade, ainda quando atuem mal (cf. Catecismo, 302, 307, 311). Aquilo que realmente surpreende é que Deus “em sua onipotente providência pode tirar um bem das consequências de um mal” (Catecismo, 312). É uma misteriosa e grandíssima verdade que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28)[10].

A experiência do mal parece mostrar uma tensão entre a onipotência e a bondade divinas em sua atuação na história. Aquela recebe resposta, certamente misteriosa, no evento da Cruz de Cristo, que revela o “modo de ser” de Deus, e é, portanto, fonte de sabedoria para o homem (sapientia crucis).

1.4. Criação e salvação

A criação é “o primeiro passo para a Aliança do Deus único com seu povo” (Compêndio, 51). Na Bíblia, a criação está aberta à atuação salvífica de Deus na história, que tem a sua plenitude no mistério pascal de Cristo, e que alcançará sua perfeição final no fim dos tempos. A criação foi feita com vistas ao sábado, o sétimo dia, em que o Senhor descansou, dia em que culmina a primeira criação e que se abre ao oitavo dia em que começa uma obra ainda mais maravilhosa: a Redenção, a nova criação em Cristo (2 Cor 5,7; cfr Catecismo, 345-349).

Assim, fica patente a continuidade e unidade do desígnio divino de criação e redenção. Entre ambos, não há qualquer hiato, mas um vínculo, pois o pecado dos homens não corrompeu totalmente a obra divina. A relação entre ambas – criação e salvação – pode expressar-se dizendo que, de um lado, a criação é o primeiro evento salvífico; e por outro lado, que a salvação redentora possui as características de uma nova criação. Esta relação ilumina importantes aspectos da fé cristã, como a ordenação da natureza à graça, ou a existência de um único fim sobrenatural do homem.

Santiago Sanz

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Bibliografia básica

Catecismo da Igreja Católica, 279-374.

Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 51-72.

DH, nn. 125, 150, 800, 806, 1333, 3000-3007, 3021-3026, 4319, 4336, 4341.

Concílio Vaticano II, Gaudium et spes, 10-18, 19-21, 36-39.

João Paulo II, Creo en Dios Padre. Catequesis sobre el Credo (I), Palabra, Madri 1996, 181-218.

Leituras recomendadas

Santo Agostinho, Confissões, livro XII.

São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, qq. 44-46.

São Josemaria, Homilia “Amar o mundo apaixonadamente”, em Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 113-123.

Joseph Ratzinger, Creación y pecado, Eunsa, Pamplona 1992.

João Paulo II, Memoria e identidade, Ed. Objetiva, 2005.

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[8] Bento XVI, Homilia, 15-08-2005.

[9] O deísmo implica em um erro na noção metafísica de criação, pois esta, enquanto doação do ser, leva consigo dependência ontológica por parte da criatura, que não é separável de sua continuação no tempo. Ambas constituem um mesmo ato, ainda que possamos distingui-las conceitualmente: “a conservação das coisas por Deus não se dá por uma ação nova, mas pela continuação da ação que dá o ser, que é certamente uma ação sem movimento e sem tempo” (São Tomás, Summa Theologiae, I, q. 104, a. 1. ad 3).

[10] Em continuidade com a experiência de tantos santos da história da Igreja, esta expressão paulina se encontrava frequentemente nos lábios de São Josemaria, que vivia e animava assim a viver em uma gozosa aceitação da vontade divina (cf. São Josemaria, Sulco, 127; Via Sacra, IX, 4; Amigos de Deus, 119). Por outro lado, o último livro de João Paulo II, Memória e Identidade, constitui uma profunda reflexão sobre a atuação da providencia divina na história dos homens, segundo aquela outra asserção de São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal; antes, vence o mal com o bem” Rm 12, 21).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Mensagem do Papa Francisco para a Campanha da Fraternidade 2024

Poster "Campanha da Fraternidade 2024" - CNBB

Foi lançada nesta quarta-feira, 14 de fevereiro, a Campanha da Fraternidade 2024 com o tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). Papa Francisco enviou uma mensagem: “como irmãos e irmãs, somos convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum”...

Silvonei José – Vatican News

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou oficialmente nesta quarta-feira, 14 de fevereiro, a Campanha da Fraternidade 2024 com o tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). O lançamento foi na sede da entidade, em Brasília (DF).

O lançamento às 10h (hora de Brasília), foi procedido pela celebração da Santa Missa presidida pelo bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, na Capela Nossa Senhora Aparecida. A cerimônia de abertura foi no Auditório Dom Helder Câmara.

Em comunhão com a Carta Encíclica Fratelli tutti, do Papa Francisco, inspirada pela vida de São Francisco de Assis, a Campanha da Fraternidade 2024 busca fazer um caminho quaresmal em três perspectivas: primeiro, incentivar as pessoas a verem as situações de inimizade que geram divisões, violência e destroem a dignidade dos filhos de Deus; segundo, impulsionar as pessoas a iluminar-se pelo Evangelho que as une como família e, terceiro, a agir conforme a proposta quaresmal, de uma conversão constante, promovendo o esforço para uma mudança pessoal e comunitária.

A cerimônia de lançamento contou com a participação, além de dom Ricardo Hoepers e do secretário-executivo de Campanhas da CNBB, do padre Jean Poul Hansen, que falaram sobre a importante marca dos 60 anos da Campanha em âmbito nacional e também sobre a escolha e importância da temática de 2024. Na oportunidade, também foi apresentado o vídeo com a mensagem do Papa Francisco para a Campanha desse ano.

Eis a íntegra da mensagem do Papa Francisco:

Queridos irmãos e irmãs do Brasil,

Ao iniciarmos, com jejum, penitência e oração, a caminhada quaresmal, uno-me aos meus irmãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil num hino de ação de graças ao Altíssimo pelos 60 anos da Campanha da Fraternidade, um itinerário de conversão que une fé e vida, espiritualidade e compromisso fraterno, amor a Deus e amor ao próximo, especialmente àquele mais fragilizado e necessitado de atenção. Este percurso é proposto cada ano à Igreja no Brasil e a todas as pessoas de boa vontade desta querida nação.

Neste ano, com o tema "Fraternidade e Amizade Social" e o lema "Vós sois todos irmãos e irmãs" (cf. Mt 23, 8), os bispos do Brasil convidam todo o povo brasileiro a trilhar, durante a Quaresma, um caminho de conversão baseado na Carta Encíclica Fratelli tutti, que assinei em Assis, no dia 3 de outubro de 2020, véspera da memória litúrgica de São Francisco.

Como irmãos e irmãs, somos convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos como seus filhos e filhas.

Infelizmente, ainda vemos no mundo muitas sombras, sinais do fechamento em si mesmo. Por isso, lembro da necessidade de alargar os nossos círculos para chegarmos aqueles que, espontaneamente, não sentimos como parte do nosso mundo de interesses (cf. FT 97), de estender o nosso amor a "todo ser vivo" (FT 59), vencendo fronteiras e superando "as barreiras da geografia e do espaço" (FT 1).

Desejo que a Igreja no Brasil obtenha bons frutos nesse caminho quaresmal e faço votos que a Campanha da Fraternidade, uma vez mais, auxilie às pessoas e comunidades dessa querida nação no seu processo de conversão ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, superando toda divisão, indiferença, ódio e violência.

Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida, e como penhor de abundantes graças celestes, concedo de bom grado a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham pela fraternidade universal, a Bênção Apostólica, pedindo que continuem a rezar por mim.

Roma, São João de Latrão, 25 de janeiro de 2024, festa litúrgica da conversão de São Paulo Apóstolo.

Franciscus

60 anos da Campanha da Fraternidade  

A Campanha da Fraternidade é, desde as suas origens, há 60 anos, em nível nacional, uma ação evangelizadora da Igreja no Brasil. Desde o início, em 1962, na arquidiocese de Natal (RN) e, depois, a partir de 1964, em todo o Brasil, nunca faltou à CF a preocupação com o tema, para que, em ambiente quaresmal, se alcance o coração dos cristãos, fazendo-lhes retornar ao coração do Evangelho.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Cirilo e São Metódio

São Cirilo e São Metódio (A12)
14 de fevereiro
São Cirilo e São Metódio

Metódio e Cirilo nasceram na Macedônia e foram irmãos unidos pelo sangue, pela fé e pela vocação apostólica. Metódio nasceu em 815 e Cirilo em 826.

Metódio, ainda jovem, foi nomeado governador da província da Macedônia Inferior, onde estavam estabelecidos os eslavos. Cirilo, também ainda jovem, foi levado a estudar em Constantinopla, capital do então Império Bizantino, onde se formou. Mais tarde, lecionou filosofia e foi diplomata junto aos árabes.

Com 38 anos, Metódio abandonou a carreira política e se tornou monge no mosteiro de Bósforo. Poucos anos depois seu irmão Cirilo também entrou para o mesmo mosteiro. A atividade missionária dos dois irmãos começou em 861, quando foram enviados numa viagem para a conversão dos povos eslavos. Foram escolhidos porque haviam aprendido a língua daquela região com imigrantes, durante a juventude.

São Cirilo criou um novo alfabeto eslavo (conhecido atualmente como o alfabeto cirílico, utilizado na Rússia e outros países próximos) e nele traduziu a Bíblia, a Missa, os rituais e ensinamentos cristãos. Isto permitiu o acesso do povo local aos conteúdos evangélicos; também a adaptação de ritos à cultura eslava foi providenciada pelos irmãos.

Contudo, na época, a Igreja utilizava oficialmente apenas os textos sagrados em Grego ou Latim, na ideia de que havia risco da unidade eclesial ser rompida se outras línguas fossem usadas. Assim, muitos religiosos ficaram contra o trabalho de Metódio e Cirilo. Os dois foram então chamados a Roma, onde receberam o apoio do Papa Adriano II, que abençoou pessoalmente os livros litúrgicos escritos em língua eslava.

 Cirilo seria ordenado bispo, mas, doente, faleceu em Roma, aos 42 anos. Metódio foi ordenado sacerdote e voltou para a missão com os títulos de “missionário apostólico eslavo” e “legado pontifício”. Em 869 foi nomeado arcebispo de Sírmio, e dez anos depois voltou a Roma para novamente defender-se dos acusadores dos seus métodos; outra vez o Papa os aprovou. Faleceu em 885. Ambos foram proclamados patronos da Europa, ao lado de São Bento, pelo Papa João Paulo II em 1980.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R.

revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Não há dúvida de que a Igreja deve saber aproximar-se das pessoas para transmitir a Boa Nova, e neste empenho são muitas vezes necessárias adaptações para as diferentes realidades culturais que existem. Contudo, o essencial da Fé, também no diz respeito à Liturgia por exemplo, e a todos os demais conteúdos eclesiais, não pode em hipótese alguma, a título de “inculturação”, denegrir o verdadeiro conteúdo da religião católica: isto inclui, entre muitos outros aspectos, a devida reverência e respeito a Deus, na Liturgia, nos comportamentos e posturas de clérigos e fiéis, no decoro das vestimentas, etc. Se por um lado são boas e necessárias as traduções para os diferentes vernáculos, e algumas adaptações litúrgicas e rituais superficiais (de fato, há mais de 20 ritos para a Santa Missa reconhecidos pela Igreja), nem por isso pode-se desvirtuar as noções de exatidão, propriedade e reverência ao Altíssimo. Infelizmente, abusos e escândalos são atualmente frequentes no trato das coisas sacras, principalmente, talvez, na Santa Missa. Não se pode confundir o empenho de evangelizar com propostas de “a qualquer preço” tornar “popular” a Igreja: esta vive da Verdade, não de subserviência a respeitos humanos, particulares ou culturais. O Santo trabalho de Cirilo e Metódio não pode ser invocado equivocadamente como “exemplo” para tentativas iníquas de falsa inculturação pela Igreja de Cristo.

Oração:

Senhor, que dispusestes os membros da Vossa Igreja sob o comando e a vontade da sua Cabeça, que é Cristo, e que desejais esta mesma Igreja missionária, concedei-nos pelos méritos, exemplos e orações dos santos Metódio e Cirilo o correto obrar na evangelização, a começar pela pessoal, e a proteção contra os desvios nos métodos e ações da Santa Igreja, de modo que seja unificado o rebanho na Verdade, e não disperso por falsos profetas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que Convosco vive e reina, e Nossa Senhora, Mãe e Protetora do Corpo Místico que é a Igreja. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Terapia verde contra a doença de Alzheimer

Terapia verde contra a doença de Alzheimer (Vatican Media)

O projeto “Jardins Terapêuticos” do Centro Teresa de Calcutá, em Pádua, foi estudado, certificado e por fim premiado. Em contato com plantas como carvalhos, louros e alecrins, os pacientes com demência recuperam a memória, as funções cognitivas prejudicadas, como a linguagem, melhoram o humor e, acima de tudo, usam menos medicamentos. O diretor: "a natureza é um ventre capaz de acolher, gerar e curar.

https://youtu.be/dht59uLp17U

Cecilia Seppia – Cidade do Vaticano

Anticorpos monoclonais, moléculas inteligentes capazes de limpar o cérebro do acúmulo de Beta-amiloide, drogas experimentais desenvolvidas em laboratórios estrangeiros, ondas transcranianas para despertar memória, treinamento cognitivo apoiado por realidade virtual, a verdade é que, para o Alzheimer, apesar dos esforços incansáveis da pesquisa, ainda não há cura, a não ser o que os especialistas chamam de "contenção" e desaceleração da doença. E quando o declínio cognitivo patológico entra em uma casa, quando a demência atinge um avô, uma avó, um pai, uma pessoa amiga, a única coisa que se quer fazer, sem deixar de seguir a exaustiva triagem hospitalar, é parar o tempo e parar de lutar contra ele. Isso acontece aqui, em Rubano, na província de Pádua, nos Jardins Terapêuticos do Centro da Casa Madre Teresa de Calcutá, onde a vegetação regenera e cura, e a vida dos pacientes e cuidadores flui em um estado de normalidade redescoberta.  Giovanni, com as mãos nos vasos, cuida de suas sementes e sabe que, depois de plantadas, deve regá-las e lembrar-se de verificá-las todos os dias, como se faz com um irmão, um amigo, de cuja saúde se cuida. Anna caminha até a grande cerejeira. De repente, ela levanta a cabeça, respirando profundamente, com um brilho nos olhos. Logo acima dela, um esquilo pula entre os galhos. E um sorriso a ilumina. Piero passeia pelos arbustos floridos, alcança o alecrim, pega-o nas mãos, cheira-o, mergulha o rosto nos galhos, parece feliz, sereno. Rina, desde que pôs os pés no Jardim Terapêutico, recuperou todas as lembranças do jardim de sua casa, de quando era jovem, está convencida de que está ali, quer cuidar dele ela mesma. Por isso, os operadores lhe dão seu próprio espaço, sem a presença de outros pacientes. Cheiros, cores, contato com árvores, flores e plantas aromáticas é a terapia que se mostrou eficaz para quem sofre de Alzheimer, premiada pelo Innovation Lab e, em nível internacional, pelo Urban Innovation and Entrepreneurship de Sydney. Um projeto, conhecido como projeto Verbena (Green and Wellbeing Alzheimer's) em Pádua, que, após dois anos de experimentos, obteve benefícios certificados pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Pádua e pelo Tesaf, criado pela Giotto Cooperativa Sociale e pela Opsa (Opera Provvidenza Sant'Antonio), pelo Departamento de Psicologia Geral e pelo Departamento de Sistemas Agroflorestais da Universidade de Pádua. E também dois livros, "Curarsi del Verde" e "Salvarsi con il verde", publicados com as diretrizes e os resultados da experimentação.

Um ângulo dos Jardins Terapêuticos (Vatican Media)

Mais memória, menos ansiedade

“Após o Jubileu de 2000 - afirma Dom Roberto Ravazzolo, diretor da Opsa e do Centro Madre Teresa - a diocese se perguntou quais eram as necessidades emergentes e percebeu que não havia centros específicos e dedicados para essas pessoas com distúrbios cognitivos e suas famílias". A pedra fundamental da Casa Madre Teresa foi lançada no ano 2000 e depois, com o compromisso de todos e a visão profética do padre Roberto Bevilacqua da Opsa, que era médico, a instalação começou a funcionar em 2006 e atualmente acomoda 34 pessoas em dois centros residenciais e 50 em dois centros diurnos.

Há muitas atividades, todas apoiadas por médicos, psicólogos e operadores experientes, mas poderíamos dizer que os Jardins, inicialmente concebidos para oferecer apenas momentos de recreação e passeios, para ser um mero elemento de decoração da própria Casa, tornaram-se a verdadeira razão de ser desse lugar. Sim, porque quanto mais tempo passam entre os carvalhos e louros, oliveiras, bordos e magnólias, mais os pacientes recuperam suas memórias. Uma espécie de milagre diante do qual filhos e cônjuges não conseguem conter as lágrimas. Mas isso não é tudo. Os benefícios são muitos: os pacientes se mostram mais autônomos, menos ansiosos e inquietos, menos apáticos e deprimidos, mais inclinados à socialização e capazes de reativar funções cognitivas importantes, como a linguagem e o raciocínio, mas, acima de tudo, diz o psicólogo do Centro, Dr. Andrea Melendugno, há uma redução consistente no número de medicamentos, uma série deles, usados para essa patologia. Na verdade, parece que o verde "racional" desse lugar quase tenha o poder de reparar neurônios danificados, de criar novos neurônios, exatamente como os brotos da Primavera.

Os pacientes da Casa Madre Teresa também têm a oportunidade de praticar horticultura (Vatican Media)

A criação dos jardins

Muitos hectares, cerca de 22, dos quais os jardins (três no total) são apenas uma pequena parte, uma espécie de "hortus conclus", para usar uma expressão bíblica, mas os pacientes não podem se perder porque, embora amplos e variados, os caminhos são circulares, ou seja, sempre retornam ao ponto de partida. Tudo aqui é estudado nos mínimos detalhes, não para "apoiar" a doença, mas para curá-la: as plantas, a localização, a divisão do espaço, o tipo de jardim. As escolhas são feitas pelo designer internacional de jardins Andrea Mati, especializado em áreas verdes para pessoas com fragilidade. "O objetivo maior é o atendimento do paciente", explica Dom Ravazzolo. Esta não é uma Casa de Repouso onde as pessoas com a doença de Alzheimer ficam "estacionadas" ou são apenas cuidadas. Basta pensar que, antes de montar o Jardim, identificamos 480 pesquisas sobre o assunto, foi realizado um reconhecimento cuidadoso do local, uma seleção muito precisa das plantas, porque cada planta, cada árvore deve ter uma determinada forma, um desenvolvimento preciso, até mesmo a projeção da sombra das árvores foram estudadas detalhadamente. Para os pacientes de Alzheimer, de fato, a sombra é assustadora, ela só piora a sensação inexplicável de um "buraco negro" que eles sentem em suas mentes e que alimenta a ansiedade e a depressão".

Sustentabilidade, reconhecimento, biodiversidade

Atualmente, existem 138 espécies diferentes de plantas e todas elas locais. Na verdade, não se pode construir um jardim com plantas provenientes de outra região, é preciso levar em conta o clima, a exposição ao sol, a umidade e a composição do solo. Além disso, se o paciente tiver que lidar com um elemento vegetal específico da região, ele experimentará um estado de maior segurança, conhecerá e reconhecerá esse elemento e poderá até mesmo recuperar memórias da infância. Assim, árvores como ficus, olmo, medronheiro, bordo, cerejeira e romã, que fazem parte dos jardins e da zona rural do Vêneto, criam um ambiente reconhecível e familiar para aqueles que perderam a memória. O mesmo acontece com o tomilho, a sálvia, o louro e o alecrim que são importantes recordações cognitivas. A seleção de plantas é crucial para a memória. "Depois de uma fase inicial de reconhecimento", continua o diretor, "passamos para a fase experimental com dois estudos de campo, um para residentes e outro para hóspedes diurnos do centro. No total, 45 hóspedes participaram ativamente, incluindo praticamente todos os estágios da doença, do mais leve ao moderado e ao mais grave. Foram envolvidas equipes multidisciplinares e também um grupo de familiares para identificar conjuntamente os critérios de recordação e ação. Após esse passo foram feitas as publicações dos resultados em revistas científicas internacionais e uma monografia do projeto, que atualmente é um ‘manual’ para os que estão tentando fazer o que fizemos, e, em particular, os grandes avanços no tratamento”. Por trás da escolha das plantas, que são estritamente nativas, há dois outros motivos além da capacidade de identificação, ou reconhecimento por parte dos hóspedes. Ou seja, a sustentabilidade e a recuperação da biodiversidade que a ação destrutiva do homem está fazendo desaparecer. "O tema da sustentabilidade é muito importante, plantar um jardim também significa garantir a manutenção e isso tem custos. Para ser eficaz, o jardim deve ser bem mantido. Da biodiversidade também vêm os estímulos mais adequados para os doentes, além, é claro, de nutrir o meio ambiente", alerta o Dr. Melendugno.

Todas as plantas dos Jardins Terapêuticos, mesmo as floridas, têm uma forte conexão com o território (Vatican Media)

Aproveitamento livre e autônomo

Desde então, os experimentos nunca pararam, a vegetação cresceu, os Jardins Terapêuticos ficaram cheios de árvores, os pacientes começaram a viver em meio à natureza e a se sentir cada vez melhor. E os resultados vieram. "No início - enfatiza Nicola Boscoletto, presidente da Cooperativa Giotto, que acompanhou e ainda acompanha a realização dos Jardins - os estudos eram pioneiros, era um grande desafio. Porém, nos últimos anos, cada vez mais, também graças ao nosso projeto, tem havido a confirmação de que a interação de pessoas com Alzheimer e outros tipos de demência com parques e jardins criados adequadamente incentiva a regeneração dos recursos cognitivos". Nos Jardins, os pacientes podem passear a qualquer momento, sem horários, até mesmo à noite para aqueles que sofrem de insônia, sozinhos ou com cuidadores: um aproveitamento totalmente livre. Sob os calicantos e entre os medronheiros, eles encontram amigos e parentes, sentam-se ao ar livre, cultivam sua horta e flores. Há também programas organizados: musicoterapia, jardinagem, atividades sensoriais. Mesmo os cadeirantes podem cuidar do jardim e da horta, graças aos espaços elevados, na altura dos assentos.

Os jardins são criados por arquitetos especializados e seguem percursos circulares (Vatican Media)

A natureza é um ventre que acolhe e gera

"Pensando nesses Jardins – acrescenta padre Roberto - tenho a imagem da natureza como um ventre que acolhe e gera vida e não posso deixar de pensar no que o Papa Francisco nos diz na encíclica Laudato si'. O homem é por si mesmo parte da natureza. Às vezes pensamos na natureza como algo alheio ao homem, do qual o homem é um espectador, mas não nos esqueçamos de que cada um de nós faz parte desse amor criativo de Deus que dá vida a todas as coisas. Portanto, no texto do Pontífice, realmente encontramos a explicação teologal que nos permite compreender essa conexão e explicar, além das percepções psicológicas, botânicas e terapêuticas, a partir de uma perspectiva teológica, por que isso acontece. Por meio da natureza, podemos cuidar dos doentes que muitas vezes são esquecidos ou confiados apenas aos cuidados amorosos, mas exaustivos, dos membros da família. Aqui no Centro Madre Teresa, vemos essa união vitoriosa entre o homem e o meio ambiente, da qual fala o Santo Padre, se concretizar, a ponto de evidenciar uma cura". "Cuidado, fragilidade e comunidade", ressalta o Dr. Melendugno, são as três palavras-chave que emergem de nosso projeto e que se baseiam diretamente na encíclica do Papa Francisco. E quando falamos de comunidade, não estamos nos referindo apenas à comunidade de pessoas, mas também à comunidade de plantas. As plantas dos Jardins Terapêuticos devem ser capazes de coexistir umas com as outras e proporcionar aos nossos hóspedes um ambiente favorável, capaz de dialogar e interagir com eles, para curá-los e beneficiá-los".

Menos assistencialismo, mais sustentabilidade

Em suma, o Jardim Terapêutico é, na verdade, uma instalação de saúde por si só. Isso beneficia os hóspedes, mas também a equipe que trabalha na instalação e, não menos importante, suas famílias. O ponto de virada é uma política de escolhas menos assistencialistas, mas sustentáveis e generativas. O objetivo é o bem-estar da pessoa, fazendo com que tanto os pacientes quanto as famílias se sintam melhor. E são justamente as famílias que dão feedback positivo, repetindo que veem seus entes queridos tão serenos como há muito tempo não se via. O resultado final do projeto Verbena são as diretrizes certificadas para a criação e o uso de jardins terapêuticos nas estruturas para idosos: "Pádua - conclui o padre Roberto Ravazzolo - quer ser um precursor, um exemplo para uma mudança concreta na qualidade de vida nas Casas de Repouso".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A Criação - Parte 1

A Criação (Opus Dei)

A Criação

A doutrina da Criação constitui a primeira resposta às indagações fundamentais sobre nossa origem e nosso fim.

06/01/2015

Introdução

A importância da verdade da criação vem de que é “o fundamento de todos os projetos divinos de salvação; (...) o início da história da salvação, que culmina em Cristo” (Compêndio, 51). Tanto a Bíblia (Gn 1,1) como o Credo começam com a confissão de fé no Criador.

Diferentemente dos outros grandes mistérios da nossa fé (a Trindade e a Encarnação), a criação é “a primeira resposta às questões fundamentais do homem acerca sua própria origem e do seu fim” (Compêndio, 51), que o espírito humano se propõe e, em parte, pode também responder, como mostra a reflexão filosófica e os relatos das origens pertencentes às culturas religiosas de tantos povos (cf. Catecismo, 285); não obstante, a especificidade da noção de criação só foi de fato entendida com a revelação judaico-cristã.

A criação é, pois, um mistério de fé e, ao mesmo tempo, uma verdade acessível à razão natural (cf. Catecismo, 286). Esta peculiar posição entre fé e razão faz da criação um bom ponto de partida na tarefa de evangelização e de diálogo que os cristãos estão sempre – particularmente em nossos dias[1] – chamados a realizar, como já fizera São Paulo no Areópago de Atenas (At 17,16-34).

Costuma-se distinguir entre o ato criador de Deus (a criação active sumpta) e a realidade criada, que é efeito de tal ação divina (a criação passive sumpta)[2]. Seguindo este esquema, são expostos a seguir os principais aspectos dogmáticos da criação.

1. O ato criador

1.1. “A criação é obra comum da Santíssima Trindade” (Catecismo, 292)

A Revelação apresenta a ação criadora de Deus como fruto da sua onipotência, da sua sabedoria e do seu amor. Costuma-se atribuir a criação ao Pai (cf. Compêndio, 52), assim como a redenção ao Filho e a santificação ao Espírito Santo. Ao mesmo tempo, as obras ad extra da Trindade (a primeira delas é a criação) são comuns às três Pessoas, e por isso, faz sentido perguntar-se pelo papel específico de cada Pessoa na criação, pois “cada Pessoa divina cumpre a obra comum segundo a sua propriedade pessoal” (Catecismo, 258). Este é o sentido da igualmente tradicional apropriação dos atributos essenciais (onipotência, sabedoria, amor) respectivamente ao agir criador do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

No Símbolo Niceno-Constantinopolitano, confessamos a nossa fé “em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra”; “em um só Senhor Jesus Cristo (...) por ele todas as coisas foram feitas”; e no Espírito Santo, “Senhor que dá a vida” (DH 150). A fé cristã fala, portanto, não somente de uma criação ex nihilo, do nada, que indica a onipotência de Deus Pai; mas também de uma criação feita com inteligência, com a sabedoria de Deus – o Logos por meio do qual tudo foi feito (Jo 1, 3) -; e de uma criação ex amore (GS 19), fruto da liberdade e do amor que é o próprio Deus, o Espírito que procede do Pai e do Filho. Consequentemente, as processões eternas das Pessoas estão na base de seu agir criador[3].

Assim, como não há contradição entre a unicidade de Deus e o seu ser três Pessoas, de modo análogo não se contrapõe a unicidade do princípio criador com a diversidade dos modos de agir de cada uma das Pessoas.

“Criador do céu e da terra”

No princípio, Deus criou o céu e a terra. Três coisas são afirmadas nestas primeiras palavras da Escritura: o Deus eterno pôs um começo a tudo o que existe fora dele. Só ele é Criador (o verbo “criar” – em hebraico, “bara” – sempre tem como sujeito Deus). Tudo o que existe (expresso pela fórmula “o céu e a terra”) depende daquele que lhe dá o ser” (Catecismo, 290).

Somente Deus pode criar em sentido próprio[4], o que significa dar origem às coisas do nada (ex nihilo), e não a partir de algo pré-existente; para isso, requer-se uma potência ativa infinita que só Deus possui (cf. Catecismo, 296-298). É congruente (adequado), portanto, apropriar a potência criadora ao Pai, já que Ele é, na Trindade – segundo uma expressão clássica – fons et origo, quer dizer, a Pessoa de quem procedem as outras duas, princípio sem princípio.

A fé cristã afirma que a distinção fundamental, de fato, é a que se dá entre Deus e as criaturas. Isto supôs uma novidade nos primeiros séculos, nos quais a polaridade entre matéria e espírito dava motivo a visões inconciliáveis entre si (materialismo e espiritualismo, dualismo e monismo). O cristianismo rompeu estes esquemas, principalmente com sua afirmação de que também a matéria (do mesmo modo que o espírito) é criatura do único Deus transcendente. Mais tarde, São Tomás desenvolveu uma metafísica da criação que descreve a Deus como o próprio Ser subsistente (Ipsum Esse Subsistens). Como causa primeira, é absolutamente transcendente ao mundo; e ao mesmo tempo, em virtude da participação de seu ser nas criaturas, está presente intimamente nelas, as quais dependem, em tudo, de quem é fonte do ser. Deus é superior summo meo (maior do que o que há de maior em mim) e, ao mesmo tempo, intimior intimo meo (mais íntimo do que o que há de mais íntimo em mim) (Santo Agostinho, Confissões, 3,6,11; cf. Catecismo, 300).

“Por Ele todas as coisas foram feitas”

A literatura sapiencial do Antigo Testamento apresenta o mundo como fruto da sabedoria de Deus (cf. Sab 9,9). “O mundo não é o produto de uma necessidade qualquer, de um destino cego ou do acaso” (Catecismo, 295), mas tem uma inteligibilidade que a razão humana, participando na luz do entendimento divino, pode captar, não sem esforço e em espírito de humildade e de respeito ante o Criador e sua obra (cf. Jo 42,3; cf. Catecismo, 299). Este desenvolvimento chega à sua expressão plena no Novo Testamento: ao identificar o Filho, Jesus Cristo, com o Logos (cf. Jo 1, 1ss), afirma que a sabedoria de Deus é uma Pessoa, o Verbo encarnado, por quem tudo foi feito (Jo 1, 3). São Paulo formula esta relação do criado com Cristo, esclarecendo que todas as coisas foram criadas nele, por ele e para ele (Col 1, 16-17).

Há, pois, uma razão criadora na origem do cosmos (cf. Catecismo, 284)[5]. O Cristianismo tem, desde o começo, uma grande confiança na capacidade da razão humana de conhecer; e uma enorme segurança em que jamais a razão (científica, filosófica etc.) poderá chegar a conclusões contrárias à fé, pois ambas provêm da mesma origem.

Não é raro encontrar pessoas que apresentam falsos dilemas, como, por exemplo, entre criação e evolução. Em realidade, uma epistemologia adequada não só distingue os âmbitos próprios das ciências naturais e da fé, mas, ainda, reconhece, na filosofia, um elemento necessário de mediação, pois as ciências, com seu método e objeto próprios, não cobrem todo o âmbito da razão humana; e a fé, que se refere ao mesmo mundo do qual tratam as ciências, necessita, para formular-se e entrar em diálogo com a racionalidade humana, de categorias filosóficas[6].

É lógico, portanto, que a Igreja, desde o início, buscasse o diálogo com a razão: uma razão consciente de seu caráter criado, pois não se deu a si própria a existência, nem dispõe completamente de seu futuro; uma razão aberta àquilo que a transcende, em suma, a Razão originária. Paradoxalmente, uma razão fechada sobre si, que acredita poder achar dentro de si a resposta às suas interrogações mais profundas, acaba por afirmar a falta de sentido da existência, e por não reconhecer a inteligibilidade do real (niilismo, irracionalismo, etc.).

“Senhor que dá a vida”

“Cremos que o mundo procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participarem de seu ser, de sua sabedoria e de sua bondade: "Pois tu criaste todas as coisas; por tua vontade é que elas existiam e foram criadas". (Ap 4,11). (...). "O Senhor é bom para todos, compassivo com todas as suas obras"” (Catecismo, 295). Em consequência, “Originada da bondade divina, a criação participa desta bondade: "E Deus viu que isto era bom... muito bom": Gn 1, 4. 10. 12. 18. 21. 31). Pois a criação é querida por Deus como um dom...” (Catecismo, 299).

Este caráter de bondade e de dom livre permite descobrir na criação a atuação do Espírito – que “movia-se sobre as águas” (Gn 1,2) –, a Pessoa Dom na Trindade, Amor subsistente entre o Pai e o Filho. A Igreja confessa sua fé na obra criadora do Espírito Santo, que dá a vida e é fonte de todo bem[7].

A afirmação cristã da liberdade divina criadora permite superar a estreiteza de outras visões que, atribuindo uma necessidade a Deus, acabam por sustentar um certo fatalismo ou determinismo. Não há nada, nem “dentro”, nem “fora” de Deus, que o obrigue a criar. Qual é então o fim que o move? O que se propôs ao criar-nos?

Santiago Sanz

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Bibliografia básica

Catecismo da Igreja Católica, 279-374.

Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 51-72.

DH, nn. 125, 150, 800, 806, 1333, 3000-3007, 3021-3026, 4319, 4336, 4341.

Concílio Vaticano II, Gaudium et spes, 10-18, 19-21, 36-39.

João Paulo II, Creo en Dios Padre. Catequesis sobre el Credo (I), Palabra, Madri 1996, 181-218.

Leituras recomendadas

Santo Agostinho, Confissões, livro XII.

São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, qq. 44-46.

São Josemaria, Homilia “Amar o mundo apaixonadamente”, em Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 113-123.

Joseph Ratzinger, Creación y pecado, Eunsa, Pamplona 1992.

João Paulo II, Memoria e identidade, Ed. Objetiva, 2005.

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[1] Entre muitas outras intervenções, cf. Bento XVI, Discurso aos membros da Cúria Romana, 22-12-05; Fé, Razão e universidade (Discurso em Regensburg), 12-09-06; Ângelus, 28-01-07.

[2] Cf. São Tomás, De Potentia, q. 3, a. 3, co.; o Catecismo segue este mesmo esquema.

[3] Cf. São Tomás, Super Sent., lib. 1, d. 14, q. 1, a. 1, co.: “são a causa e a razão da processão (procedência) das criaturas”.

[4] Por isso se diz que Deus não tem necessidade de instrumentos para criar, já que nenhum instrumento possui a potência infinita necessária para criar. Decorre daí, também, que quando se fala, por exemplo, do homem como criador, ou, inclusive, como capaz de participar do poder criador de Deus, o emprego do adjetivo “criador” não é analógico, mas metafórico.

[5] Este ponto aparece com frequência nos ensinamentos de Bento XVI, por exemplo, na Homilia de Regensburg, 12-09-06; Discurso em Verona, 19-10-2006; Encontro com o clero da diocese de Roma, 22-02-2007 etc.

[6] Tanto o racionalismo cientificista como o fideísmo científico necessitam uma correção por parte da filosofia. Além disso, há que evitar, da mesma forma, a falsa apologética de quem vê forçadas concordâncias, buscando nos dados fornecidos pela ciência uma verificação empírica ou uma demonstração das verdades da fé, quando, na verdade, como dissemos, trata-se de dados que pertencem a métodos e disciplinas distintas.

[7] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Dominum et vivificantem, 18-05-1986, 10.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Quaresma nos Museus do Vaticano, visita especial às obras sobre a Paixão e a Ressurreição

"Deposiziane" de Caravaggio (Musei Vaticani)

A partir de 17 de fevereiro, os Museus do Papa oferecerão, durante seis sábados consecutivos, uma visita temática guiada que aproximará os visitantes das obras e dos artistas das coleções vaticanas que retrataram, ao longo dos séculos, os episódios da Paixão e da Ressurreição do Senhor.

Vatican News

A partir do dia 17 de fevereiro, por ocasião do tempo litúrgico da Quaresma, os Museus do Vaticano oferecerão, durante seis sábados consecutivos, uma visita guiada especial ao longo de um itinerário temático que aproximará os visitantes das obras e dos artistas das coleções vaticanas que mais retrataram, ao longo dos séculos, os episódios da Paixão e da Ressurreição do Senhor.

O itinerário do museu percorre as representações dos eventos centrais da vida de Jesus, desde os sarcófagos dos primeiros cristãos, historiados com imagens da Morte e da Ressurreição, até as obras-primas abrigadas na Pinacoteca Vaticana: em primeiro lugar, a Deposição de Caravaggio e sua admirável representação do corpo lívido do Cristo morto. Depois, será a vez das Galerias Superiores e, finalmente, como parada final dessa "viagem" única, ao mesmo tempo histórica, artística e espiritual, será, obviamente, a Capela Sistina, com o triunfo da esperança cristã brilhando no Juízo Final de Michelangelo.

Uma experiência de visita aberta a todos, incluindo famílias com crianças pequenas (idade recomendada acima de 6 anos). As visitas guiadas - conduzidas em italiano ou inglês - são totalmente acessíveis a pessoas com deficiências sensoriais, motoras e intelectuais.

Este é o link para o site dos Museus do Vaticano

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF