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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

A Criação - Parte 3

A Criação (Opus Dei)

A Criação

A doutrina da Criação constitui a primeira resposta às indagações fundamentais sobre nossa origem e nosso fim.

06/01/2015

2. A realidade criada

O efeito da ação criadora de Deus é a totalidade do mundo criado, “céus e terra” (Gn 1,1). Deus é “Criador de todas as coisas, das visíveis e das invisíveis, espirituais e corporais; que por sua virtude onipotente, desde o princípio dos tempos e simultaneamente, criou do nada a uma e outra criatura, a espiritual e a corporal, isto é, a angélica e a material, e depois a humana, como comum, composta de espírito e de corpo”[11].

O cristianismo supera tanto o monismo (que afirma que a matéria e o espírito se confundem, que a realidade de Deus e do mundo se identificam), como o dualismo (segundo o qual a matéria e o espírito são princípios originários opostos).

A ação criadora pertence à eternidade de Deus, mas o efeito de tal ação está marcado pela temporalidade. A Revelação afirma que o mundo foi criado como mundo com um início temporal[12], isto é, que o mundo foi criado com o tempo, o qual é indício muito coerente com a unidade do desígnio divino de revelar-se na história da salvação.

2.1. O mundo espiritual: os anjos

“A existência dos seres espirituais, não-corporais, que a Sagrada Escritura habitualmente chama anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura é tão claro quanto a unanimidade da Tradição” (Catecismo, 328). Os dois testemunhos mostram os anjos em sua dupla função de amar a Deus e ser mensageiros de seu desígnio salvador. O Novo Testamento apresenta os anjos em relação a Cristo: criados por Ele e para Ele (Col 1,16), rodeiam a vida de Jesus desde o seu nascimento até a Ascensão, sendo os anunciadores de sua segunda vinda, gloriosa (cf. Catecismo, 333).

Da mesma forma, também estão presentes desde o início da vida da Igreja, que se beneficia de sua ajuda poderosa, e em sua liturgia se une a eles na adoração a Deus. A vida de cada homem está acompanhada desde seu nascimento por um anjo que o protege e conduz à Vida (cf. Catecismo, 334-336).

A teologia (especialmente São Tomás de Aquino, o Doutor Angélico) e o Magistério da Igreja aprofundaram no estudo da natureza desses seres puramente espirituais, dotados de inteligência e vontade, afirmando que são criaturas pessoais e imortais, que superam em perfeição a todas as criaturas visíveis (cf. Catecismo, 330).

Os anjos foram criados em estado de prova. Alguns se rebelaram irrevogavelmente contra Deus. Caídos no pecado, Satanás e os outros demônios – que haviam sido criados bons, mas por si mesmos se fizeram maus – instigaram nossos primeiros pais para que pecassem (cf. Catecismo, 391-395).

2.2. O mundo material

Deus “criou o mundo visível em toda a sua riqueza, diversidade e ordem. A Sagrada Escritura apresenta a obra do Criador, simbolicamente, como uma sequência de seis dias "de trabalho" divino, que terminam com o "descanso" do sétimo dia (Gn 1,1-2,4)” (Catecismo, 337). “Repetidas vezes a Igreja teve de defender a bondade da criação, inclusive do mundo material (cf. DS 286; 455-463; 800; 1333; 3002)” (Catecismo, 299).

“Pela própria condição da criação, todas as coisas estão dotadas de firmeza, verdade e bondade próprias e de uma ordem” (GS 36,2). A verdade e bondade da criação procedem do único Deus Criador, que é, ao mesmo tempo, Trino. Assim, o mundo criado é um certo reflexo da atuação das Pessoas divinas: “em todas as criaturas encontra-se uma representação da Trindade, na forma de um vestígio”[13].

O cosmos tem uma beleza e uma dignidade enquanto obra de Deus. Há uma solidariedade e uma hierarquia entre os seres, o que deve levar a uma atitude contemplativa de respeito para com a criação e as leis naturais que a regem (cf. Catecismo, 339, 340, 342, 354). Certamente, o cosmos foi criado para o homem, que recebeu de Deus a ordem de dominar a terra (cf. Gn 1,28). Tal ordem não é um convite à exploração despótica da natureza, mas um convite para participar no poder criador de Deus: mediante seu trabalho, o homem colabora no aperfeiçoamento da criação.

O cristão participa das justas exigências que a sensibilidade ecológica tem manifestado nas últimas décadas, sem cair em uma vaga divinização do mundo, e afirmando a superioridade do homem em relação aos outros seres, como “ponto culminante da obra da criação” (Catecismo, 343).

2.3. O homem

As pessoas humanas gozam de uma peculiar posição na obra criadora de Deus, ao participar, simultaneamente, da realidade material e da espiritual. Somente do homem a Escritura nos diz que Deus o criou “à sua imagem e semelhança” (Gn 1,26). Ele foi colocado por Deus como cabeça da realidade visível, e goza de uma dignidade especial, pois, “De todas as criaturas visíveis, só o homem é "capaz de conhecer e amar seu Criador" (216); ele é a "única criatura na terra que Deus quis por si mesma" (217); só ele é chamado a compartilhar, pelo conhecimento e pelo amor, a vida de Deus. Foi para este fim que o homem foi criado, e aí reside a razão fundamental da sua dignidade” (Catecismo, 356; cf. ibidem, 1701-1703).

Homem e mulher, em sua diversidade e complementaridade, queridas por Deus, gozam da mesma dignidade como pessoas (cf. Catecismo, 357, 369, 372). Em ambos, ocorre a união substancial do corpo e da alma, sendo esta a forma do corpo. Sendo espiritual, a alma humana é criada imediatamente por Deus (não é “produzida” pelos pais, nem é pré-existente), e é imortal (cf. Catecismo, 366). As duas características (espiritualidade e imortalidade) podem ser mostradas filosoficamente. Portanto, é um reducionismo afirmar que o homem procede exclusivamente da evolução biológica (evolucionismo absoluto). Na verdade, há saltos ontológicos que não podem ser explicados só pela evolução. A consciência moral e a liberdade do homem, por exemplo, manifestam sua superioridade sobre o mundo material, e são sinais de sua especial dignidade.

A verdade da criação ajuda a superar tanto a negação da liberdade (determinismo) como o extremo contrário da exaltação indevida da mesma: a liberdade humana é criada, não absoluta, e existe em mútua dependência da verdade e do bem. O sonho de uma liberdade como puro poder e arbitrariedade corresponde a uma imagem deformada, não só do homem, mas também de Deus.

Mediante sua atividade e seu trabalho, o homem participa do poder criador de Deus[14]. Além disso, sua inteligência e sua vontade são uma participação, uma faísca da sabedoria e do amor divinos. Enquanto o resto do mundo visível é mero vestígio da Trindade, o ser humano constitui uma autêntica imago Trinitatis.

Santiago Sanz

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Bibliografia básica

Catecismo da Igreja Católica, 279-374.

Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 51-72.

DH, nn. 125, 150, 800, 806, 1333, 3000-3007, 3021-3026, 4319, 4336, 4341.

Concílio Vaticano II, Gaudium et spes, 10-18, 19-21, 36-39.

João Paulo II, Creo en Dios Padre. Catequesis sobre el Credo (I), Palabra, Madri 1996, 181-218.

Leituras recomendadas

Santo Agostinho, Confissões, livro XII.

São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, qq. 44-46.

São Josemaria, Homilia “Amar o mundo apaixonadamente”, em Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 113-123.

Joseph Ratzinger, Creación y pecado, Eunsa, Pamplona 1992.

João Paulo II, Memoria e identidade, Ed. Objetiva, 2005.

 

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[11] Concílio Lateranense IV (1215), DH 800.

[12] Assim o ensina o Concílio Lateranense IV e, referindo-se a ele, o Concílio Vaticano I (cf. respectivamente DH 800 e 3002). Trata-se de uma verdade revelada, que a razão não pode demonstrar, como ensinou São Tomás na famosa disputa medieval sobre a eternidade do mundo: cf. Contra Gentiles, lib. 2, cap. 31-38; e seu opúsculo filosófico De aeternitate mundi.

[13] São Tomás, Summa Theologiae, I, q. 45, a. 7, co.; cf. Catecismo, 237.

[14] Cf. São Josemaria, Amigos de Deus, 57.

 Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Santo Jovita e São Faustino

Santo Jovita e São Faustino (A12)
15 de fevereiro
Santo Jovita e São Faustino

Estes dois irmãos nasceram na Lombardia. Receberam o batismo quando eram ainda pequenos e tornaram-se defensores dos valores cristãos. Faustino foi ordenado presbítero e Jovita tornou-se diácono da Igreja.

A ordenação confere aos irmãos ainda mais amor ao nome de Cristo responsabilidade pelos outros irmãos da comunidade cristã.

A bondade de Faustino e Jovita começa a atrair muitas pessoas para ouvir as maravilhas do amor de Jesus. Muitos pagãos, atraídos pelos ensinamentos destes dois jovens, destroem seus ídolos religiosos e pedem o batismo cristão.

Entretanto, a perseguição do Império Romano chega até os irmãos Faustino e Jovita. São acusados de incitar o povo contra o Império e de não adorar o Imperador e seus deuses. Por causa deles os templos imperiais esvaziam-se e os deuses são abandonados.

Os relatos sobre estes santos nos dizem que foram convidados a adorar o deus-sol num templo romano. Conduzidos ao local da adoração com promessas de riquezas e cargos públicos, os dois irmãos puseram-se a rezar ao Deus Único e Verdadeiro.

estátua do deus-sol, cujo brilho dourado ofuscava os olhos daqueles que a contemplavam, tornou-se escura e fria com a oração de Faustino e Jovita. Os chefes religiosos, ao tocar no ídolo, perceberam que o ouro tinha se convertido em cinzas.

Revoltados com os irmãos, os levaram para uma jaula com quatro leões. As feras, porém, pareciam cordeiros mansos diante dos jovens cristãos. Diante destes fatos miraculosos, e com medo de que a fama de santidade dos irmãos se espalhasse, o governador romano da Lombardia mandou cortar-lhes a cabeça. Era o ano de 122.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

Ouvir o relato da vida dos santos Faustino e Jovita leva-nos a pensar sobre nossa própria vida. Estes santos foram homens de oração e de ação missionária. O ideal de vida era o amor a Jesus Cristo e por isso, eles não tiveram medo de entregar seu sangue para o fortalecimento da Igreja. Esta mesma fidelidade Deus pede de cada um de nós. Sejamos realmente missionários de Cristo, levando a mensagem do evangelho àqueles que estão mais afastados de Deus e da Igreja.

Oração:

Querido Deus, Pai de Misericórdia, dá-nos, sob a inspiração dos santos Jovita e Faustino, proclamar a fé em Jesus Cristo e colaborar na grande tarefa de transformação da humanidade. Por Cristo nosso Senhor. Amém!

Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Mama Antula: um modelo feminino para a mulher de hoje

Domínio Público via Wikimedia
Por Yohana Rodríguez publicado em 14/02/24
Recentemente canonizada, Mama Antula é uma santa argentina que nos ensina grandes virtudes que podemos imitar para viver uma feminilidade mais autêntica e mais próxima de Deus.

Mama Antula foi uma mulher que viveu com grande zelo apostólico e cheia de virtudes que permitiram que milhares de pessoas conhecessem a Deus.

Podemos aprender dela grandes exemplos de santidade, pois ela é um modelo para as mulheres. Padre Gustavo Serpa, da congregação Miles Christi, nos explica que ela é:

«Um exemplo de santidade para a mulher de hoje, num mundo em que a mulher é levada pelos extremos - como objeto ou pelo extremo vicioso do feminismo -, que destrói o que há de mais nobre que a mulher tem, que é a vocação natural para ser mãe e esposa, para ensinar os homens e a sociedade a terem sentimentos nobres, a serem o coração do mundo, por assim dizer, assim como é o coração da família. 

Mama Antula não era uma rebelde, era uma católica movida pelo Espírito Santo, que a guiou nas provações que o seu país atravessava. É por isso que, conhecendo a sua vida, podemos aprender estas virtudes: 

1
LIDERANÇA

Ele teve que lutar por seu lugar na sociedade. “Isso lhe trouxe muitas humilhações que ela soube suportar pelo amor de Cristo”. Já no início da sua evangelização “o bispo a considerava louca”.

Mas nada a impediu, ela continuou a perseverar e a demonstrar sua grande fé até ser considerada “de alguma forma, a voz de Deus para muitas pessoas”. Ela influenciou as decisões de formação da classe dominante argentina porque determinou se os seminaristas estavam prontos para se tornarem padres.

2
MAGNANIMIDADE

Ele sempre procurou fazer mais pelos outros. Ele não ficou sentado de braços cruzados diante de circunstâncias desanimadoras. O Padre Serpa comenta que “começou a remar contra a corrente desde o dia zero. (Ele tinha) uma grande alma, um grande coração que não tinha medo de nenhuma dificuldade.

Podemos ver isso refletido na maneira como ele serviu nos Exercícios Espirituais, organizou para que suas mulheres abençoadas vivessem em comunidade e peregrinou até onde pôde para ajudar aqueles que mais precisavam.

3
MODÉSTIA

Mama Antula veio de uma família respeitada e nobre. Em vez de se casar, ela decidiu consagrar a virgindade aos 15 anos. Com o passar do tempo ele começou a viver um estilo de vida mais simples como Santo Inácio de Loyola.

Tornou-se peregrina, como a santa que fundou a Companhia de Jesus, “deixa as vaidades, o seu nome elevado, o seu castelo e dedica-se a fazer as coisas. Ele se veste de mendigo e começa a pedir esmola”, conta o padre.

Mama Antula procurou imitar Cristo da maneira mais humilde possível, para “consagrar-se ao bem das almas”. 

4
CORAGEM

Nasceu no século XVIII, “numa sociedade onde – especialmente naquela época – os homens faziam tudo. O fato de ela ser mulher lhe dá uma vantagem. Porque naquela época não era comum ver uma senhora que peregrinava pelas ruas.

Contudo, sentiu a necessidade de partilhar os Exercícios Espirituais, ajudar os pobres e pregar o nome de Jesus. Ela alcançou essa aceitação geral porque “o aroma de suas virtudes falava por si”.

donboscoargentina

5
CARIDADE

Visitou as prisões para levar esperança aos presos, e até lhe é atribuída a intercessão de milagres como a multiplicação de alimentos; tudo isso para dar aos outros.

Muitas das esmolas que ela recolheu foram dadas aos pobres. Foi para o campo, numa espécie de missão de distribuir aos pobres.

6
MATERNIDADE

Ela foi um exemplo de maternidade, “chamavam-na de Mama Antula justamente porque era mãe espiritual” para os seus santos e para outras pessoas. Ela foi considerada uma educadora em virtudes. 

Através de sua feminilidade ela expressava liderança, bondade e nobreza. Acima de tudo, ela levou o conhecimento de Cristo às pessoas, com o ensino e a delicadeza de uma mãe.

Portanto, podemos aprender com Mama Antula muitas virtudes que podemos aplicar em nossas vidas para nos tornarmos mulheres santas como ela. Seu exemplo de vida nos inspira a chegar ao Céu porque “devemos caminhar aqui, se quisermos que a santidade floresça”.

Veja as imagens de sua recente canonização:

https://es.aleteia.org/slideshow/mama-antula-misa/

Fonte: https://es.aleteia.org/

Montini e Agostino - Parte 2

Maria Tilde Bettetini (30Giorni)

Revista 30Dias – 02/03 – 2010

Montini e Agostino

Santo Agostinho nas notas inéditas de Paulo VI.
Aula magna, Palazzo del Bo, Pádua Terça-feira, 25 de novembro de 2008

por Maria Tilde Bettetini

Estou quase comovido por ter sido convidado para esta celebração dedicada a um Papa e a Santo Agostinho. Estou aqui apenas como filósofo e estudioso de Santo Agostinho, um autor do qual venho tentando escapar há cerca de vinte anos com resultados limitados, porque uma vez que você começa a trabalhar em Agostinho é difícil encontrar uma rota de fuga. Também escrevi livros sobre outros temas, ensinei outras coisas, mas não há nada a fazer: agora voltei à Introdução a Agostinho.

Portanto, estou grato por estar aqui porque, além de ser milanês e de o Papa Montini ter sido arcebispo de Milão, não tenho muitas outras qualificações para falar, enquanto os outros oradores têm muitas. Também estou quase comovido, dizia, porque fui um tanto forçado a ler estas notas do Papa Montini e para mim, que conheço muito bem os textos agostinianos, elas revelaram-se de grande interesse.
Primeiro devo reconhecer o valor científico deste livro. O facto de ordenar estas notas, uma após a outra, sem pretender encontrar uma ordem cronológica, e de relatar de forma filológica perfeita o que escreveu o Papa Montini, com a tradução entre colchetes, ou com uma referência mais precisa quando possível , é uma obra de grande interesse tanto para o historiador da Igreja como para o historiador do agostinianismo: de facto, ao abordar Santo Agostinho acaba-se por estudar toda aquela massa de produção cultural, filosófica e teológica que, a partir dos textos de Agostinho , contra Agostinho, para Agostinho, "porque" de Agostinho, os últimos mil e seiscentos anos nos trouxeram.

Por que este volume é tão interessante? Porque relata as notas de um Papa que escreve para si mesmo e, portanto, com o coração aberto, livre, sem preocupações, sem adornos académicos ou eclesiásticos. No fólio 5, por exemplo, há uma citação que diz: «Timeo enim Iesum transeuntem et manentem...» 1 , «Na verdade temo Jesus que passa e que permanece...». É uma expressão que, fora do contexto, o Sermão 88 , é muito forte: “Tenho medo de Jesus tanto quando ele vai como quando fica”. E Paulo VI transcreveu-o!

Portanto, algumas destas expressões que se encontram aqui e ali talvez nos ajudem a compreender mais sobre o homem, a mente e o coração deste Papa do que talvez os discursos oficiais. Aqui, estas notas são como entrar sem bater na vida quotidiana, no coração, no pensamento de um Papa. Mas não sou especialista em Paulo VI e por isso limito-me - no tempo que não quero roubar de padre Giacomo - examinar duas citações agostinianas de Paulo VI e ver como essas duas citações, muito famosas entre outras coisas, interagem e como podem nos fazer compreender quem as escreveu com cuidado.

A primeira está na folha 4, inteiramente dedicada à relação com o sensível, portanto com o mundo corpóreo, com a corporeidade. Na primeira linha Paulo VI escreve: «O homem moderno não » – e “não” é um termo sublinhado – «examina passo a passo todas as coisas corpóreas». E então explica com razão que a referência é à visão de Óstia presente no livro IX das Confissões , à qual nos referiremos a seguir. Então, novamente, há uma citação da religião De vera intitulada “Excesso do Sensível”, onde fala sobre o fato de que apenas uma mente pura pode ver Deus, certamente não os sentidos. Aqui temos o Agostinho neoplatónico e toda a diatribe, que se estendeu por quinze séculos, para dizer que Agostinho e certos agostinismos eram inimigos do mundo e do corpo e, portanto, também do humano na sua vida quotidiana e da história no seu desenrolar. Este é um agostinianismo um tanto místico, um pouco platônico demais, comparado ao que veremos mais tarde.

Na verdade, parece-me, mesmo que Agostinho nunca seja suficientemente lido, que encontro neste autor duas tensões muito fortes que por vezes contrastam - mas em que mente brilhante não se podem encontrar contrastes? – e às vezes eles se arrastam; e surpreende-me que ambos estejam muito presentes nas citações do Papa Montini.

A primeira é esta desconfiança para com o sensível, cuja presença nestas notas é motivada também pelo facto de o Papa Montini escrever numa época de consumismo desenfreado, num momento de desencadeamento e também de vingança das forças da corporeidade, da sensibilidade (fenómeno que então seguiram caminhos mais para o marketing talvez menos para reivindicações ideológicas ou filosóficas). Esta suspeita, esta tensão anticorpo encontra-se em Agostinho tanto na visão de Ostia - aquela que teve com a sua mãe, Mónica, antes de ela morrer - como noutras páginas das Confissões (mas também noutros livros).

A que passagem se refere o Papa Montini quando diz que o homem moderno não passa passo a passo por todas as coisas corporais? 

É a passagem em que Agostinho nos conta como, «ao aproximar-se o dia em que [Mónica] iria deixar esta vida [...], aconteceu [...], segundo as tuas misteriosas ordenanças» - não esqueçamos que as Confissões são um diálogo com Deus, por isso há sempre um tu a quem recorremos -, que ali «no jardim da casa que nos acolheu [...], longe do barulho da multidão, empenhado em restaurar nos tirou do cansaço de uma longa viagem [...], conversamos [...] sozinhos com muita doçura" 

2 . Essa mãe é sempre tão doce. Foi uma mãe que também soube se afirmar, mas Agostino se lembra dela com doçura. «Esquecidos das coisas passadas e concentrados no que está por vir, procuramos entre nós, na presença da verdade, que és tu, o que seria a vida eterna dos santos» 

3 . Então eles conversam entre si sobre a vida eterna. Li a tradução de Carlo Carena, que revisamos parcialmente juntos 

4 : «Levei a discussão a esta conclusão: que diante da alegria daquela vida o prazer dos sentidos físicos, por maior que seja e na maior luz corporal » – lembramos que a luz é a maior realidade material para Agostinho -, «ele não apoia a comparação, nem mesmo a menção dela; elevando-se com um ímpeto de amor mais ardente precisamente para isso" - esse id ipsum que nunca é nomeado como Deus, como ser, como substância, mas que é um "algo" -, "viajamos acima de todas as coisas corpóreas" - e isso é a citação feita de memória por Paulo VI – «e o próprio céu [...]. E novamente ascendendo para dentro de nós mesmos" - portanto há um retorno para dentro de nós mesmos, e é tudo platonismo, claro - "com a consideração, a exaltação, a admiração de suas obras" - e portanto admirando o mundo -, "chegamos ao nosso almas e as superou também para recorrer à terra de abundância inesgotável, onde Israel se alimentará para sempre com o pasto da verdade" 

5 . Os prados da verdade são os prados do Fedro de Platão , que Agostinho não leu, mas a sua expressão faz eco: «onde a vida é Sabedoria» 6.

Notas 

1 Agostinho, Sermões 88, 14, 13. 

2 Agostinho, Confessiones IX, 10, 23. 

Ibid 

4 Agostinho, As confissões , editado por M. Bettetini, trad. por C. Carena, Einaudi, Turim 2000. 

5 Agostino, Confessiones IX, 10, 24. 

Ibid .

2.Revista 30Dias – 02/03 – 2010

Fonte: https://www.30giorni.it/

Cinco passagens da Bíblia para viver bem a Quaresma

Bíblia | Shutterstock

A Bíblia contém muitas passagens que podem ajudar os cristãos a viver melhor a Quaresma. Abaixo estão algumas referências da Sagrada Escritura relacionadas a este tempo de preparação para a Semana Santa e a Páscoa.

Jesus é tentado no deserto (Mt 4,1-11)

Na Quaresma, destaca-se a passagem bíblica em que Jesus é levado pelo Espírito ao deserto para jejuar 40 dias e 40 noites e é tentado pelo demônio.

Sobre esta passagem, são João Crisóstomo ensinou em uma de suas homilias que, como Jesus, "por grandes que sejam as tentações que possais sofrer depois do Batismo, não vos perturbeis por elas, mas permanecei firmes".

Santo Agostinho disse que o Senhor se ofereceu para ser tentado para “tornar-se um mediador que vença as tentações, não só com a sua ajuda, mas com o seu exemplo”.

Por isso, o Catecismo da Igreja Católica convida a se unir na Quaresma “ao mistério de Jesus no deserto”.

O Senhor dá instruções sobre o jejum (Mt 6,16-18)

O jejum é outro elemento fundamental durante a Quaresma, especialmente nas sextas-feiras, Quarta-Feira de Cinzas e Sexta-Feira Santa.

Para fazê-lo da forma certa, Jesus pede "que não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que je­juam".

Sobre esta passagem do Novo Testamento, são Leão Magno diz que “não é bom o jejum que não provém da convicção da consciência, mas da arte de enganar”.

Arrependei-vos e crede no Evangelho (Mc 1,15)

No início da Quaresma, a liturgia católica recorda de modo especial o chamado do Senhor ao arrependimento e à fé na boa nova do Evangelho.

Por isso, a Igreja pede aos fiéis que aproveitem este tempo para se aproximarem do “sacramento da conversão”, também chamado de sacramento da penitência ou da reconciliação.

O Catecismo da Igreja Católica diz que este sacramento “consagra um processo pessoal e eclesial de conversão, arrependimento e reparação por parte do cristão pecador”.

Pois tu és pó e ao pó hás de voltar (Gn 3,19)

Durante o rito da imposição das cinzas na Quarta-feira de Cinzas, o padre fala estas palavras retiradas do livro do Gênesis.

A frase "tu és pó e ao pó hás de voltar" lembra que fomos criados por Deus e que nossa vida terrena terá um fim para o qual devemos estar preparados.

Que tua mão esquerda não saiba o que fez a direi­ta (Mt 6,3)

Nesta passagem do Novo Testamento, o Senhor convida a fazer o bem em todos os momentos, evitando a tentação de buscar o reconhecimento dos outros.

Sobre este ponto, são João Crisóstomo refletia que “se quereis ter espectadores das coisas que fazeis, aqui estão eles: não só os anjos e arcanjos, mas também o próprio Deus do universo”.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Papa: diante do vício da preguiça, é preciso manter acesas as "brasas da fé"

Audiência Geral, dia 14/02/2024, com Papa Francisco

A acídia, mais popularmente conhecida como "preguiça", foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral deste 14 de fevereiro, dando continuidade ao ciclo sobre "os vícios e as virtudes".

https://youtu.be/y21bfrxBksE

Vatican News

Nesta Quarta-feira de Cinzas, o Papa realizou a Audiência Geral na Sala Paulo VI, dando continuidade ao ciclo sobre vícios e virtudes. O tema foi a acídia, mais conhecida como “preguiça”.

A preguiça, explicou Francisco, é mais um efeito do que uma causa. A pessoa fica ociosa, indolente, apática. Com efeito, na raiz grega do termo acídia está a “falta de cuidado”.

Trata-se de uma tentação muito perigosa, advertiu o Pontífice. Quem é vítima dela é como que esmagado pelo desejo de morte, se arrepende da passagem do tempo e até mesmo a relação com Deus torna-se enfadonha.

A acídia também é definida como o “demônio do meio-dia”, pois desponta quando o cansaço está no auge e as horas a seguir parecem monótonas, impossíveis de viver. São características que lembram a depressão, pois para quem é dominado pela acédia a vida perde o sentido, “é um pouco como morrer antes da hora”, afirmou o Papa, e seu efeito pode ser "contagioso".

Diante deste vício, os mestres espirituais oferecem vários remédios. Para Francisco, o mais importante é a paciência da féou seja, a coragem de ficar e acolher no meu "aqui e agora" a presença de Deus.

A acídia não poupou nem mesmo os santos, mas eles ensinam a atravessar a noite com paciência, aceitando “a pobreza da fé. Isso pode ser feito estabelecendo metas mais acessíveis, perseverar apoiando-se em Jesus, “que nunca nos abandona na tentação”. O Pontífice então concluiu:

“A fé, atormentada pela prova da acídia, não perde o seu valor. Com efeito, é a verdadeira fé, a fé humaníssima, que apesar de tudo, apesar das trevas que a cegam, ainda crê humildemente. É aquela fé que permanece no coração, como permanecem as brasas sob a cinzas. Ficam sempre ali. E se alguém cair neste vício ou numa tentação de acídia, procure olhar para dentro e proteger as brasas da fé. E assim caminhamos em frente. Que o Senhor os abençoe.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A Criação - Parte 2

A Criação (Opus Dei)

A Criação

A doutrina da Criação constitui a primeira resposta às indagações fundamentais sobre nossa origem e nosso fim.

06/01/2015

1.2. “O mundo foi criado para a glória de Deus” (Concílio Vaticano I)

Deus criou tudo “não para aumentar sua glória, mas para manifestá-la e comunicá-la” (São Boaventura, Sent., 2,1,2,2,1). O Concílio Vaticano I (1870) ensina que “por sua bondade e pela sua virtude onipotente, não para aumentar a sua felicidade nem para adquirir sua perfeição, mas para a manifestar essa perfeição por meio dos bens que prodigaliza às criaturas, Deus, com vontade plenamente livre, criou simultaneamente no início do tempo ambas as criaturas do nada: a espiritual e a corporal” (DS 3002; cf. Catecismo, 293).

“A glória de Deus consiste em que se realize esta manifesta e esta comunicação de sua bondade em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nós "filhos adotivos por Jesus Cristo: conforme o beneplácito de sua vontade para louvor à glória da sua graça" (Ef 1,5-6): "Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus" (Santo Irineu, Adversus haereses, 4,20,7)” (Catecismo, 294).

Longe de uma dialética de princípios contrapostos (como ocorre no dualismo de tipo maniqueísta, como também no idealismo monista hegeliano), afirmar a glória de Deus como fim da criação não comporta uma negação do homem, mas uma condição indispensável para a sua realização. O otimismo cristão tem as suas raízes na exaltação conjunta de Deus e do homem: “somente se Deus é grande, o homem também é grande”[8]. Trata-se de um otimismo e uma lógica que afirmam a absoluta prioridade do bem, mas que não são, por isso, cegos ante a presença do mal no mundo e na história.

1.3. Conservação e providência. O mal

A criação não se reduz aos começos; uma vez realizada a criação, “Com a criação, Deus não abandona sua criatura a ela mesma. Não somente lhe dá o ser e a existência, mas também a sustenta a todo instante no ser, dá-lhe o dom de agir e a conduz a seu termo” (Catecismo, 301). A Sagrada Escritura compara esta atuação de Deus na história com a ação criadora (cf. Is 44,24; 45,8;51,13). A literatura sapiencial explicita a ação de Deus que mantém suas criaturas na existência. “Como poderia subsistir qualquer coisa, se não o tivésseis querido, e conservar a existência, se por vós não tivesse sido chamada?” (Sab 11,25). São Paulo vai mais longe e atribui esta ação conservadora a Cristo: “Ele existe antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem nele” (Cl 1,17).

O Deus dos cristãos não é um relojoeiro ou arquiteto que, após ter realizado sua obra, se desentende dela. Estas imagens são próprias de uma concepção deísta, segundo a qual Deus não se imiscui nos assuntos deste mundo. Mas isto supõe uma distorção do autêntico Deus criador, pois separa drasticamente a criação da conservação e governo divino do mundo[9].

A noção de conservação “faz o papel de ponte” entre a ação criadora e o governo divino do mundo (providência). Deus não só cria o mundo e o mantém na existência, mas, além disso, “conduz as suas criaturas para a perfeição última, à qual Ele mesmo as chamou” (Compêndio, 55). A Sagrada Escritura apresenta a soberania absoluta de Deus e testemunha constantemente o seu cuidado paterno, tanto nas coisas pequenas como nos grandes acontecimentos da história (cf. Catecismo, 303). Neste contexto, Jesus se revela como a providência “encarnada” de Deus, que atende, como Bom Pastor, as necessidades materiais e espirituais dos homens (Jo 10,11.14-15; Mt 14, 13-14, etc.) e nos ensina a abandonar-nos aos seus cuidados (Mt 6,31-33).

Se Deus cria, sustenta e dirige tudo com bondade, de onde provem o mal? “Para esta pergunta tão premente quão inevitável, tão dolorosa quanto misteriosa, não há uma resposta rápida. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta pergunta (...). Não há nenhum elemento da mensagem cristã que não seja, por uma parte, uma resposta à questão do mal” (Catecismo, 309).

A criação não está terminada desde o princípio, mas Deus a fez in statu viae, isto é, em direção a uma meta última por alcançar. Para a realização dos seus desígnios, Deus se serve do concurso das criaturas, e concede aos homens uma participação da sua providência, respeitando sua liberdade, ainda quando atuem mal (cf. Catecismo, 302, 307, 311). Aquilo que realmente surpreende é que Deus “em sua onipotente providência pode tirar um bem das consequências de um mal” (Catecismo, 312). É uma misteriosa e grandíssima verdade que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28)[10].

A experiência do mal parece mostrar uma tensão entre a onipotência e a bondade divinas em sua atuação na história. Aquela recebe resposta, certamente misteriosa, no evento da Cruz de Cristo, que revela o “modo de ser” de Deus, e é, portanto, fonte de sabedoria para o homem (sapientia crucis).

1.4. Criação e salvação

A criação é “o primeiro passo para a Aliança do Deus único com seu povo” (Compêndio, 51). Na Bíblia, a criação está aberta à atuação salvífica de Deus na história, que tem a sua plenitude no mistério pascal de Cristo, e que alcançará sua perfeição final no fim dos tempos. A criação foi feita com vistas ao sábado, o sétimo dia, em que o Senhor descansou, dia em que culmina a primeira criação e que se abre ao oitavo dia em que começa uma obra ainda mais maravilhosa: a Redenção, a nova criação em Cristo (2 Cor 5,7; cfr Catecismo, 345-349).

Assim, fica patente a continuidade e unidade do desígnio divino de criação e redenção. Entre ambos, não há qualquer hiato, mas um vínculo, pois o pecado dos homens não corrompeu totalmente a obra divina. A relação entre ambas – criação e salvação – pode expressar-se dizendo que, de um lado, a criação é o primeiro evento salvífico; e por outro lado, que a salvação redentora possui as características de uma nova criação. Esta relação ilumina importantes aspectos da fé cristã, como a ordenação da natureza à graça, ou a existência de um único fim sobrenatural do homem.

Santiago Sanz

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Bibliografia básica

Catecismo da Igreja Católica, 279-374.

Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 51-72.

DH, nn. 125, 150, 800, 806, 1333, 3000-3007, 3021-3026, 4319, 4336, 4341.

Concílio Vaticano II, Gaudium et spes, 10-18, 19-21, 36-39.

João Paulo II, Creo en Dios Padre. Catequesis sobre el Credo (I), Palabra, Madri 1996, 181-218.

Leituras recomendadas

Santo Agostinho, Confissões, livro XII.

São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, qq. 44-46.

São Josemaria, Homilia “Amar o mundo apaixonadamente”, em Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 113-123.

Joseph Ratzinger, Creación y pecado, Eunsa, Pamplona 1992.

João Paulo II, Memoria e identidade, Ed. Objetiva, 2005.

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[8] Bento XVI, Homilia, 15-08-2005.

[9] O deísmo implica em um erro na noção metafísica de criação, pois esta, enquanto doação do ser, leva consigo dependência ontológica por parte da criatura, que não é separável de sua continuação no tempo. Ambas constituem um mesmo ato, ainda que possamos distingui-las conceitualmente: “a conservação das coisas por Deus não se dá por uma ação nova, mas pela continuação da ação que dá o ser, que é certamente uma ação sem movimento e sem tempo” (São Tomás, Summa Theologiae, I, q. 104, a. 1. ad 3).

[10] Em continuidade com a experiência de tantos santos da história da Igreja, esta expressão paulina se encontrava frequentemente nos lábios de São Josemaria, que vivia e animava assim a viver em uma gozosa aceitação da vontade divina (cf. São Josemaria, Sulco, 127; Via Sacra, IX, 4; Amigos de Deus, 119). Por outro lado, o último livro de João Paulo II, Memória e Identidade, constitui uma profunda reflexão sobre a atuação da providencia divina na história dos homens, segundo aquela outra asserção de São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal; antes, vence o mal com o bem” Rm 12, 21).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF