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domingo, 18 de fevereiro de 2024

Os Padres da Igreja (II)

Os Padres da Igreja (ChurchPOP)

Os Padres da Igreja (II)

Por Susana Costa Coutinho

ENTRE GREGOS E LATINOS

            Vários foram os “pais” da Igreja que realizaram sua missão não só de pensar a fé, mas também de anuncia-la como missionários e de cuidar das comunidades cristãs, como pastores. São de lugares e épocas diferentes. Didaticamente, costumamos organizá-los em dois grupos: os gregos e os latinos. Antes, porém, é bom lembrar que a cultura grega predominou sobre a Europa, parte da África e Ásia por muito tempo. É o que se chama de helenismo. Assim, na Antiguidade clássica, a língua “oficial” era o grego, usado para o comércio, para os estudos, para a vida social e para a escrita. Quase todo o mundo falava grego nessas regiões, além dos idiomas locais.

PATRÍSTICA GREGA

            A patrística grega se aos “pais” da Igreja que atuaram no Oriente. Aqui também vale compreender a região oriental na Antiguidade como o norte da África e o Oriente Médio. Nesse grupo, temos João Crisóstomo, Gregório de Nissa, Gregório de Nazianzo, Basílio Magno e João Damasceno (sua morte marca o final da Patrística grega, em 750). Grande parte de seus escritos são comentários aos textos bíblicos, explicações pastorais e teológicas sobre os sacramentos, principalmente os da iniciação cristã, e orientações para a vida social ou moral cristã. Como estavam mergulhados na cultura grega, é possível verificar como buscam aproximar a teologia cristã da filosofia dos antigos, como Platão e Aristóteles. Produzem, assim, uma inculturação: veem na cultura grega as sementes do Verbo, a Presença das “iluminações” do pensamento humano pelo Espírito e dão-lhes novo sentido, a partir do Evangelho. O mais importante na relação entre fé e filosofia era a primeira, e a segunda precisava sempre ser vista com discernimento. Outra característica era a de considerar a realidade do povo para comentar um texto bíblico. A exposição da fé era vista como a transmissão de um tesouro aos cristãos, direito de todos de usufruir de sua beleza e profundidade.

PATRÍSTICA LATINA

            Do grupo dos latinos (os que viveram e exerceram seu ministério no Ocidente), destacam-se Agostinho de Hipona, Ambrósio de Milão, Gregório Magno e Isidro de Sevilha. É a morte deste último que marca o final da Patrística do Ocidente, em 636. Agostinho realizou um grande trabalho de buscar conciliar a razão e a fé. Seus escritos buscam orientar os cristãos sobre a teologia dogmática (os dogmas e as verdades fundamentais da fé), a eclesiologia (sobre a Igreja) e o ensinamento social (como a fé ilumina as relações sociais). Jerônimo ficou mais conhecido pela tradição das Sagradas Escrituras do hebraico para o latim.

            Ambrósio de Milão se tornou notório pela atuação pastoral em sua diocese, pelo método de leitura da Bíblia e pelas denúncias contra a exploração dos pobres e dos pequenos agricultores. É o grande influenciador na conversão de Santo Agostinho. Seus escritos mistagógicos, sobre os símbolos e ritos dos sacramentos de iniciação cristã, são grande fonte para a catequese de inspiração catecumenal até hoje. Gregório Magno se destacou na ação de governo da Igreja, como papa, e o grande volume de escritos que abordam comentários bíblicos, a partir de uma exegese (interpretação) histórica, alegórica e moral. Hilário, um homem casado, foi ordenado presbítero e bispo (isso era possível na época) e ficou conhecido por combater o arianismo, uma corrente dentro da Igreja que levantou várias heresias, e por ser um dos conhecedores da Bíblia. Leão Magno tem seus escritos mais voltados à prática da vida cristã do que propriamente à teologia. Isidro é conhecido por sua característica de mestre da teologia, mas também um grande influenciador cultural, por meio de obras literárias. Por essas qualidades, foi declarado patrono da Internet, por São João Paulo II.

A CATEQUESE DOS “PAIS” DA IGREJA

            Nesse período, foi organizado o catecumenato, tempo de preparação para receber os sacramentos da iniciação cristã (batismo, crisma e Eucaristia). A catequese dos “pais” da Igreja era uma das manifestações da ação pastoral desses líderes, e era centrada na busca de salvação, no afastamento definitivo das práticas pagãs, na edificação espiritual, no grande valor da liturgia, na importância da penitência e do jejum. No entanto, o ponto fundamental era a união a Cristo, o Filho de Deus, o Salvador, a Palavra definitiva de Deus.

            Como muitos dos “pais” da Igreja foram bispos, tinham como uma de suas tarefas, a instrução dos catecúmenos (os convertidos que ainda não receberam o batismo e estão em processo de preparação). Em cada momento de entrega, por exemplo, do Credo (símbolo) ou do Pai-nosso, o bispo fazia uma homilia, voltada ao catecúmeno, para prepara-lo para receber esse “conteúdo” da fé. Assim, nasceram diversos textos, que não só eram escritos, mas também proferidos pelos “pais” da Igreja à sua comunidade, em especial aos que se preparavam para receber os sacramentos da iniciação cristã.

            A Bíblia é o centro da pregação dos “pais” da Igreja. Ainda que o livro sagrado não estivesse formado como conhecemos hoje, são seus escritos que guiam a catequese patrística. Esses textos, tanto Antigo como no Novo Testamento, eram lidos e refletidos, e fundamentavam as homilias e a catequese.

            Um dos pontos fundamentais do catecumenato é a unidade entre liturgia e catequese. As próprias homilias aos catecúmenos comprovam a preocupação dos “pais” da Igreja com esse elo. A preparação para a recepção dos sacramentos da iniciação cristã se dava  de forma mistagógica e incorporava os dois momentos: o de conhecer e o de celebrar a fé, sem esquecer, é claro, os ensinamentos para a vida social (no campo da economia, da política, da cultura etc.) É a mistagogia um ponto alto dessa catequese.

            Santo Agostinho busca explicar, por exemplo, o sentido dos gestos do batismo ao catecúmeno , num dos mais bonitos textos (tanto do ponto de vista teológico como literário) que conhecemos. Para explicar o mistério que é revelado pelos sinais, um de seus textos ensina: “Entraste, viste a água, viste o sacerdote, viste o levita. Por acaso, alguém não diria: Isso é tudo? Certamente isso é tudo, verdadeiramente há tudo, onde há total inocência, onde há total piedade, total graça, total santificação”.

            Santo Agostinho ensina aos catequistas como proceder para realizar uma catequese mistagógica: “A respeito do sinal que recebe, seja-lhe [o catequizando] bem esclarecido que os sinais das realidades divinas são visíveis, mas nele honramos  as próprias realidades invisíveis”.

            Assim, os santos padres ou “pais” da Igreja nos apontaram preciosos caminhos para a catequese, muitos deles vamos retomando com a catequese de inspiração catecumenal.

Revista Ecoanda – Ano 18 – nº 70 – Julho/Agosto – 2020 – Págs. 18/19

A Misericórdia na Sagrada Escritura - Parte 1

A Sagrada Escritura (Opus Dei)

 A Misericórdia na Sagrada Escritura

Neste editorial da série sobre a misericórdia, analisam-se as Escrituras, Palavra de Deus, onde a misericórdia de Deus é revelada.

22/08/2016

Dentre os diálogos de Deus com Moisés, recolhidos no livro do Êxodo, há uma cena rodeada de mistério, em que ele pede ao Senhor que lhe mostre seu rosto. “Me verás por detrás”, responde, “quanto à minha face, ela não pode ser vista”[1]. Quando chega a plenitude dos tempos, Filipe faz esse mesmo pedido a Jesus, em uma dessas conversas cheias de confiança que os apóstolos mantinham com o Mestre: “Senhor, mostra-nos o Pai”[2]. E a resposta do Deus encarnado não se faz esperar: “Aquele que me viu, viu também o Pai”[3].

QUANDO MEDITAMOS OS EVANGELHOS É POSSÍVEL DESCOBRIR AS CARACTERÍSTICAS DE DEUS – ENTRE ELAS, E DE MODO EMINENTE, A SUA MISERICÓRDIA – PLASMADAS NA SIMPLICIDADE DAS PALAVRAS E DA VIDA DE JESUS.

Jesus Cristo nos revela o Pai: quando meditamos os evangelhos é possível descobrir as características de Deus – entre elas, e de modo eminente, a sua misericórdia – plasmadas na simplicidade das palavras e da vida de Jesus.

A misericórdia divina, que Deus foi mostrando ao longo da história do povo eleito, resplandece no Verbo encarnado. N’Ele, “rosto da misericórdia do Pai”,[4] realiza-se plenamente aquela oração terna que o Senhor tinha ensinado a Moisés, para que os sacerdotes abençoassem os filhos de Israel: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor te mostre a sua face e conceda-te sua graça! O Senhor volva o seu rosto para ti e te dê a paz!”[5]. Em Jesus, Deus faz brilhar definitivamente seu rosto sobre nós, concede-nos a paz que o mundo não pode dar[6].

Um Deus que procura e escuta

A misericórdia de Deus pode ser vislumbrada desde as primeiras páginas do Gênesis. Depois do seu pecado, Adão e Eva se escondem entre as árvores do jardim, porque sentem a sua nudez, e não se atrevem mais a olhar Deus nos olhos. Mas o Senhor sai imediatamente ao seu encontro “e naquele momento começa o exílio longe de Deus, com o pecado, também já existe a promessa do regresso, a possibilidade de regressar a Ele. Imediatamente Deus pergunta: ‘Adão, onde estás?’ Deus procura-o.”[7] O Senhor já lhes anuncia, então, o futuro triunfo sobre a linhagem da serpente, e, inclusive, lhes confecciona umas roupas de peles como manifestação de que, apesar do pecado, o seu amor por eles não se extinguiu[8]. Deus fecha a porta do paraíso às suas costas[9], mas abre no horizonte a porta da misericórdia: “Deus encerrou todos esses homens na desobediência para usar com todos de misericórdia”[10].

No livro do Êxodo, o Senhor atua com decisão para liberar os israelitas oprimidos. Suas palavras a Moisés no episódio da sarça ardente se projetam, como as do Gênesis, por todos os séculos: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos. E desci para livrá-lo da mão dos egípcios”[11].

Que exemplo para nós, que às vezes somos lentos para escutar e colocar em prática o que outros necessitam de nós! Deus é um Pai bom, que vê a tribulação de seus filhos e intervém para dar-lhes a liberdade. Uma vez passado o mar Vermelho, no marco solene do Sinai, o Senhor se manifesta a Moisés como “Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade”[12].

Um amor “visceral”

O Salmo 86 repete quase ao pé da letra essas palavras do Êxodo: “Deus miserator (rajum) et misericors (janún), patiens et multae misericordiae (jésed) et veritatis (émet) – Deus bondoso e compassivo; lento para a ira, cheio de clemência e fidelidade –”[13]. Na sua tradução da Bíblia para o latim, São Jerônimo optou por traduzir três conceitos hebreus com três termos que são quase sinônimos, derivados da palavra “misericórdia”.

Realmente, estes conceitos estão entrelaçados, mas cada um deles contribui com uns matizes que convém esmiuçar se queremos apreciar a realidade da misericórdia de Deus, que não se expressa completamente uma só palavra.

DEUS SE ENTERNECE POR NÓS COMO UMA MÃE QUANDO PEGA O SEU FILHO NO COLO, DESEJOSA SOMENTE DE AMAR, PROTEGER, AJUDAR, PRONTA PARA DOAR TUDO, INCLUSIVE A SI MESMA.

O adjetivo rajum (miserator), deriva de réjem, que significa “ventre, entranhas, seio materno” e se utiliza na Bíblia para falar de nascimento de uma criança[14]Rajum descreve os sentimentos de uma mãe pelo ser que é literalmente carne da sua carne. “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca.”[15] Deus “se enternece por nós como uma mãe quando pega o seu filho no colo, desejosa somente de amar, proteger, ajudar, pronta para doar tudo, inclusive a si mesma. Essa é a imagem que este termo sugere. Um amor, portanto, que se pode definir, no bom sentido, como ‘visceral’”[16]. Um amor que sofre especialmente os esquecimentos, desprezos ou abandonos de seus filhos – “Povo meu, responde-me, que te fiz eu, em que te contristei?”[17] – , mas que, ao mesmo tempo, está sempre disposto a perdoá-los e a passar por cima dessa frieza, “porque não guarda sua ira para sempre, e se compraz na misericórdia”[18]. É um amor que se compadece pela lamentável situação em que os filhos possam se encontrar com o passar dos anos – “Vou enfaixar tuas chagas e curar tuas feridas”[19] – , e que não cessa em seus desejos de recuperá-los se os vê afastados. É um amor solícito para proteger os seus filhos se estão sendo assediados ou perseguidos. “Tu, porém, Jacó, servo meu, não temas Israel, não te enchas de pavor! Vou trazer-te da terra longínqua, e livrarei tua raça da terra do exílio. Jacó tornará a viver em segurança, sem que ninguém mais o inquiete.”[20] Uma acolhida cordial e emocionada, receptiva ao mínimo detalhe de carinho: “Todos vós, que estais sedentos, vinde à nascente das águas; vinde comer, vós que não tendes alimento. Vinde comprar trigo sem dinheiro, vinho e leite sem pagar!”[21]. É um amor que nos ensina a preocupar-nos pelos outros, a sofrer com os seus sofrimentos e a alegrar-nos com suas alegrias. A estar realmente próximos de quem nos rodeia, com a nossa oração, interesse, presença... Em resumo, dando o nosso tempo.

Francisco Varo

Tradução: Mônica Diez

 ______________________________

[1] Ex 33,23.

[2] Jo 14, 8

[3] Jo 14, 9

[4] Francisco, BulaMisericordiae vultus (11-IV-2015), n. 1.

[5] Num 6, 24-26

[6] Cfr. Jo 14,27

[7] Francisco, Homilia, 7-IV-2013. Cfr. Gn 3, 9.

[8] Cfr. Gn 3, 14-21

[9] Cfr. Gn 3, 24

[10] Rom 11, 32

[11] Ex 3, 7-8.

[12] Ex 34, 6. Uma expressão quase idêntica se repete em vários lugares da Sagrada Escritura, especialmente nos Salmos 86(85), 15 e 103 (102), 8.

[13] Sal 86 (85), 15.

[14] Por exemplo em Ex 13,2: “Consagrar-me-ás todo primogênito (aquele que abre o ventre materno, réjem) entre os israelitas, tanto homem como animal: ele será meu.”

[15] Is 49,15.

[16] Francisco, Audiência, 13-I-2016.

[17] Mq 6, 3.

[18] Mq 7,18.

[19] Jr 30,17.

[20] Jr 46,27.

[21] Is 55, 1.

 Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Papa: Quaresma ajuda a entrar no deserto interior, em contato com a verdade

Audiência Geral de 18/02/2024 com o Papa Francisco (Vatican News)

Os "animais selvagens" que temos no coração, ou seja, as paixões desordenadas de vários tipos, podem levar ao risco de sermos dilacerados interiormente; enquanto os anjos recordam as boas inspirações divinas que "acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, o sabor do Céu".

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Ir ao deserto para perceber a presença dos "animais selvagens"  e anjos em nosso coração, e com o silêncio e a oração captar os pensamentos e sentimentos inspirados por Deus.

Em síntese, esse foi o convite do Papa aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro em um dia ensolarado e temperatura amena, para o Angelus neste I Domingo da Quaresma.

"Animais selvagens e anjos", companhias de Jesus no deserto e também nossas

O Evangelho de Marcos - que inspirou a reflexão de Francisco - narra que Jesus «ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás», e também nós - observou o Papa - "somos convidados na Quaresma a “entrar no deserto”, isto é, no silêncio, no mundo interior, na escuta do coração, em contato com a verdade"

A leitura narra que "animais selvagens e anjos" eram a companhia de Jesus no deserto. Mas, em um sentido simbólico - explicou o Papa - "são também a nossa companhia: quando entramos no deserto interior, de fato, podemos encontrar ali animais selvagens e anjos."

E explica então, o sentido desses "animais selvagens":

Na vida espiritual podemos pensar neles como as paixões desordenadas que dividem o nosso coração, tentando possuir o coração. Elas nos sugestionam, parecem sedutoras, mas, se não estivermos atentos, levam ao risco de nos dilacerar.

Os "animais" alojados em nossa alma

E  Francisco diz  ainda que podemos dar nomes a esses “animais” da alma:

Os vários vícios, a ganância de riqueza, que aprisiona no cálculo e na insatisfação, a vaidade do prazer, que condena à inquietação e à solidão, e ainda também a avidez pela fama, que gera insegurança e uma necessidade contínua de confirmação e protagonismo.  É interessante: não se esquecer dessas coisas que podemos encontrar dentro de nós: ganância, vaidade e avidez. São como animais “selvagens” e como tais devem ser domesticados e combatidos: caso contrário, devorarão a nossa liberdade. E a Quaresma nos ajuda a entrar no deserto interior para corrigir essas coisas.

O "serviço" em oposição à "posse"

Mas junto com Jesus no deserto, além dos "animais selvagens", estavam também os anjos, "mensageiros de Deus, que nos ajudam, nos fazem bem". E segundo o Evangelho, sua característica "é o serviço":

Exatamente o contrário da posse, típica das paixões. Serviço em oposição à posse. Os espíritos angélicos, em vez disso, recordam os pensamentos e bons sentimentos sugeridos pelo Espírito Santo. Enquanto as tentações nos dilaceram, as boas inspirações divinas unificam-nos e fazem-nos entrar em harmonia: acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, infundem “o sabor do Céu”. E para captar a inspiração de Deus e entender bem, é preciso entrar no silêncio e oração. E a Quaresma é tempo para fazer isso. Sigamos em frente.

Retirar-se ao deserto e ouvir Deus que fala no coração

Assim, ao darmos os primeiros passos no caminho quaresmal, o Papa propõe que façamo-nos duas perguntas:

Primeiro: quais são as paixões desordenadas, os “animais selvagens” que se agitam no meu coração? Segundo: para permitir que a voz de Deus fale ao meu coração e o guarde no bem, penso retirar-me um pouco para o “deserto”, ou procuro dedicar durante o dia algum espaço para repensar isso?

Ao concluir, o Papa pediu "que a Virgem Santa, que guardou a Palavra e não se deixou tocar pelas tentações do Maligno, nos ajude no tempo da Quaresma."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Simeão

São Simeão (A12)
18 de fevereiro
São Simeão

São Simeão foi bispo de Jerusalém. Filho de Cléofas, São Simeão era primo de Jesus. Ele foi um dos primeiros apóstolos, tendo inclusive recebido o Espírito Santo no dia de Pentecostes.

Depois do assassinato de São Tiago, o menor, pelos judeus, os apóstolos e discípulos se reuniram para escolher seu sucessor na sede de Jerusalém. O escolhido foi Simeão. No ano 66 começou na Palestina a guerra civil em consequência da oposição dos judeus aos romanos e parece que os cristãos de Jerusalém receberam do céu o aviso de que a cidade seria destruída e que deviam sair dela sem demora, refugiando-se com o santo na cidade de Péla.

Depois da tomada e destruição de Jerusalém, os cristãos voltaram e se estabeleceram nas ruínasSimeão voltou e recomeçou com os fiéis a reconstrução das casas. Houve muitas conversões, pois o acontecimento fez muita gente refletir sobre a mensagem evangélica. Numerosos judeus converteram-se ao cristianismo devido aos milagres feitos pelos santos. Os imperadores Vespasiano e Domiciano mandaram matar todos os membros descendentes de Davi, mas Simeão conseguiu escapar.

Contudo, durante a perseguição do Imperador Trajano, foi denunciado às autoridades, torturado, crucificado e morto. Simeão recebeu ordem de prisão e intimação de prestar homenagem aos deuses. O santo negou-se corajosamente a trair aquele que era seu único Mestre e Senhor. No meio da cruel flagelação, Simeão louvou e bendisse o nome de Deus e de Jesus Cristo. Do alto da cruz, ainda confessou o nome do divino Mestre, rezou pelos inimigos e entregou o espírito nas mãos de DeusMorreu com 120 anos, depois de ter governado durante 43 anos a Igreja. Sua simplicidade e a fidelidade uniu os cristãos em torno do Evangelho de Jesus.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R.

Reflexão:

Histórias de amor ao Cristo são comuns no início da Igreja. São Simeão, já na velhice, conservou sua fidelidade ao seu Mestre Jesus e entregou sua vida por amor a Igreja. Ele era membro da primeira geração de cristãos, conheceu Jesus e aprendeu dele a virtude da caridade e da fidelidade. Hoje somos convidados a reafirmar nossa profissão de fé em Jesus Cristo. Que nossa vida, na juventude e na velhice, seja sempre uma testemunha da Ressurreição.

Oração:

Querido Pai, Deus Uno e Trino, pela intercessão do bispo São Simeão, conserve em nós a fidelidade ao projeto de amor aos mais abandonados e sofredores e que o testemunho deste apóstolo seja alimento de nossa fidelidade ao evangelho. Por Cristo nosso Senhor. Amém!

Fonte: https://www.a12.com/

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Os Padres da Igreja (I)

Os Padres da Igreja (ChurchPOP)

Os Padres da Igreja (I)

Por Susana Costa Coutinho

O cristianismo nasceu no meio de um povo simples, que foi se abrindo à mensagem de vida e esperança trazida pelo jovem de Nazaré e espalhada por seus seguidores missionários. Quando a mensagem do evangelho chegou aos filósofos dos séculos I ao VIII, encontrou um terreno diferente: a reflexão elaborada pela metodologia filosófica que debruçou-se sobre a mensagem e a pessoa de Jesus e procurou dar, ao anúncio missionário, um corpo teórico. Nasceu a teologia cristã. Por causa desse “nascimento”, os filósofos que fizeram essa ligação são chamados “padres (pais) da Igreja” e seu período é conhecido como patrística. Alguns deles se tornaram pastores e bispos de comunidades cristãs e nos deixaram um rico testemunho da compreensão que fizeram da vida cristã dos sacramentos da iniciação cristã, da moral que deve guiar a conduta dos seguidores de Jesus e da beleza e profundidade da liturgia cristã, entre outros.

A PATRÍSTICA: O ENCONTRO DA FÉ COM A RAZÃO

A patrística é um período que vai do século I ao século VIII, podendo, para alguns estudiosos do tema, estender-se até o século XI, marcado por esse esforço de explicar a fé cristã por meio dos instrumentos da época, baseados nas filosofias romana e grega. Os padres da Igreja eram intelectuais, estudiosos, professores e escritores. Mas, também, seguidores de Jesus, proclamadores do evangelho, missionários, catequistas e pastores. São considerados os primeiros teólogos da Igreja cristã. Colocaram, a serviço do evangelho, seus dons e talentos.

Seus textos são parte fundamental do magistério da Igreja e procuram dar razão à fé cristã, ou seja, inculturar a mensagem evangélica na linguagem filosófica, científica. Explicaram, aprofundaram e defenderam a fé da Igreja, de forma que não houvesse deturpações, ou seja, heresias. Atuaram nos concílios, buscando explicar o sentido da fé, colaborando para a formulação do Credo. Como entender que Jesus é “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”? Qual o papel de Maria na história da salvação? Atuaram para a organização e vivência do catecumenato, a iniciação à vida cristã dos adultos. Questões assim foram objetos de estudo e profundas reflexões dos santos padres, que chegaram até nós por meio da tradição viva da Igreja, ou seja, da transmissão do evangelho, de pessoa a pessoa, de geração a geração, uma herança espiritual, como afirmou são João Paulo II, na Constituição Apostólica Fidei Depositum, para a publicação do Catecismo da Igreja Católica.

Por conta de seus lugares de atuação teológico-pastoral, são organizados em seus grandes grupos os do Ocidente, como agostinho, santo Ambrósio, são Jerônimo e são Gregório Magno, e os do Oriente, como santo Atanásio, são Basílio, são Gregório Nazianzeno e são João Crisóstomo. Viveram em lugares e épocas diferentes, exerceram ministérios diferentes, mas procuraram servir a missão da Igreja com o mesmo recurso: a inteligência filosófica.

Os padres da Igreja, assim, trabalharam para a formulação dos dogmas da fé cristã, corrigindo as interpretações deturpadas, ou heresias, e contribuíram imensamente para a vida pastoral da Igreja, bem como orientaram para a vivência dos valores evangélicos. Poderíamos dizer que realizaram aquilo que é a proposta para a nossa catequese: levar as pessoas ao encontro com Jesus, conhecendo, vivendo e celebrando a fé, de forma madura, junto com a comunidade cristã.

DO QUE FALAVAM OS PADRES DA IGREJA?

            Como vimos, a exposição do tema é objetivo principal do trabalho da patrística. Mas como aqueles cristãos convertidos, vindos da tradição filosófica grega e romana, buscaram entender a fé anunciada pelos seguidores de Jesus de Nazaré? Eles voltaram-se à principal fonte: a Palavra de Deus, a Bíblia. É de autoria desses cristãos vários comentários aos textos bíblicos, verdadeiras homilias, no sentido mais profundo da palavra, uma “conversa”, nos quais buscavam escutar a voz de Deus e as situações da vida do povo (o da Bíblia e do pastoreio) e também fundamentar as posições teológicas assumidas pela Igreja contra as heresias. Santo Agostinho, por exemplo, escreveu comentários aos textos iniciais do livro do Gênesis. Para contrapor-se às ideias que se apresentavam de um “Deus” destruidor e vingativo, santo Agostinho apresenta um Deus bondoso e providente.

            Os padres da Igreja eram, também, como vimos, membros das comunidades cristãs, muitos foram bispos e presbíteros. Portanto, como tema importantes em suas reflexões era a fé vivida por essas comunidades. Seus textos eram diálogos com essas experiências e com pessoas com as quais conviviam, por meio de sermões, catequeses, cartas, orientações para uma vida simples, regrada e disciplinada pela oração (ascética) e conduzida pelos valores do evangelho (moral). Tinham uma preocupação pastoral, de forma a não separar a reflexão teológica da vida concreta das comunidades cristãs. Preocupavam-se com a comunhão eclesial, com a unidade da Igreja, num contexto em que muitos se opunham aos ensinamentos de Cristo, mesmo dentro das comunidades, levando os cristãos aos cismas (separações), E, diante das perseguições externas, animavam os que sofriam a continuarem firmes na fé. É o caso de são João Crisóstomo, escrevendo a diaconisa Olímpia e suas companheiras da comunidade de Constantinopla, para que suportassem as perseguições sofridas, venda-as como passageiras, pois eterno é o amor de Deus.

            A liturgia foi outro tema importante nos escritos dos padres da Igreja, tendo destaque o batismo, tanto as explicações teológicas como as catequéticas. Estas últimas, muitas vezes, eram as cartas enviadas aos catecúmenos adultos que se preparavam para receber o sacramento de iniciação à vida cristã. Um conjunto de belíssimas cartas de santo Ambrósio, intitulado Sobre os sacramentos, revela toda a riqueza do batismo para a vida da Igreja e do cristão, explicando, por meio dos sinais litúrgicos, a força da salvação (mistagogia). Sobre a eucaristia, destacam-se as homilias de são João Crisóstomo, unindo a recepção do sacramento com o compromisso social do cristão. Questiona o santo: “De que serviria, afinal, adornar a mesa de Cristo com vasos de ouro, se ele morre de fome na pessoa dos pobres?”

UMA HERANÇA A SER COMPARTILHADA

            Por certo que a patrística está muito presente no magistério, na teologia e na pastoral da Igreja ainda hoje. O pensamento, a reflexão e os estudos daqueles homens nos revelam a riqueza do evangelho e nos ajudam a viver nossa fé. Foi assim que entenderam os padres, bispos e teólogos que trabalharam intensamente pela renovação da liturgia, as catequese, dos estudos bíblicos, da missão da Igreja no início do século XX e que contribuíram com as reflexões feitas no Concílio Vaticano II. Assim, a patrística se tornou uma fonte importante para as mudanças ocorridas na Igreja Católica, por meio dos documentos conciliares.

Revista Ecoanda – Ano 18 – nº 69 – Março/Maio – 2020 – Págs. 18/19

Uma sociedade adoecida?

A intolerância (Appai)

UMA SOCIEDADE ADOECIDA?

Dom Dirceu de Oliveira Medeiros
Bispo de Camaçari (BA)

Parto desta pergunta como premissa para falar da Campanha da Fraternidade 2024 que abordará o tema “Fraternidade e Amizade Social” e será iluminada pelo lema “vós todos sois irmãos”. Há uma ciência específica que estuda o fenômeno das patologias sociais e coletivas, mas não é preciso ser um pesquisador para perceber que há algo que não vai bem em nossa sociedade. O tema da CF 2024, claramente, percebe essa realidade e se inspira na Encíclica Fratelli Tutti (Vós todos sois irmãos) do Papa Francisco, que por sua vez, bebe da fonte franciscana, do pobrezinho de Assis para dar uma resposta adequada aos desafios contemporâneos. 

Há coisas que são óbvias e que vamos nos esquecendo ao longo do tempo. Por exemplo o fato de que somos irmãos. Algo tão elementar! Se nos esquecemos do óbvio é, exatamente, porque alguma coisa não vai muito bem. 

Talvez o advento das redes sociais tenha acentuado a agressividade e destruído essa verdade, uma vez que hoje é possível atacar e destruir a honra de alguém, sem se identificar e se escondendo por detrás de um perfil falso na internet.  

O certo é que cresce a intolerância e a alterofobia. Aqui vale a pena uma consideração. Abrir-se ao diferente não significa, em hipótese alguma, renunciar à própria identidade e ao ethos. Talvez aqui esteja o ponto nevrálgico e a grande fronteira. O primeiro passo é consolidar a própria identidade, a identidade cultural é uma espécie de proteção. Praticar a amizade social talvez seja imitar a atitude do Diácono Filipe que, em Atos dos Apóstolos, subiu na carruagem do Eunuco etíope para explicar as Escrituras (At 8, 26-40). Ele não tem nome, sendo assim, ele é um personagem emblemático e representa todos aqueles que carecem de um sentido para a vida. Praticar a amizade social é ter a capacidade de entrar na carruagem da vida do outro e em sua dinâmica vital, como um território sagrado. Porém, ao mesmo tempo compreender que a abertura ao outro exige fortalecimento da própria identidade e respeito e delicadeza para com o outro.  

Há também alguns impasses a serem apreciados: um dos três paradoxos do filósofo Karl Popper permanece atual “podemos tolerar a intolerância?” A questão permanece em aberto, em uma sociedade cada vez mais fragmentada e polarizada, quem define quem são os intolerantes? Penso que aqui o grande parâmetro seja a atitude do Filho de Deus, Jesus de Nazaré, particularmente para nós cristãos.  

Enfim, há algo que não vai bem! Lembro-me de algumas cenas plásticas do nosso interior, certamente recorrentes em tantos lugares. No interior em meio a eleições polarizadas, dois compadres, de partidos diferentes, se encontram, se cumprimentam e desejam boa sorte um ao outro na véspera do pleito e mantém a amizade. Havia aqui um vínculo anterior, mais forte que o político e que era quase indestrutível. Quando isso se perdeu? Por que se perdeu? Não se trata de saudosismo e nem mesmo dizer que não havia conflitos no passado, mas antes resgatar essas sementes de esperança, capazes de construir o novo.

É preciso dar um passo. Vamos espalhando migalhas de esperança, elas fazem a diferença, como os cinco pães e dois peixes no episódio da multiplicação dos pães. Oportuna essa reflexão do secretário executivo das Campanhas da CNBB: “Que tal começar indo visitar um vizinho ainda desconhecido? Que tal tomar a iniciativa da reconciliação com um familiar de quem nos afastamos? Que tal celebrar e viver a reconciliação em nossas comunidades? Que tal vencer a omissão e denunciar toda forma de racismo e tantos outros males presentes na nossa sociedade? Que tal conscientizar sobre a coleta nacional da solidariedade, que se realizará no próximo domingo de Ramos, e promovê-la, já que ela socorre centenas de projetos sociais por todo o Brasil.” Uma santa quaresma para todos e todas!


Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A Criação - Parte 4

A Criação (Opus Dei)

A Criação

A doutrina da Criação constitui a primeira resposta às indagações fundamentais sobre nossa origem e nosso fim.

06/01/2015

3. Algumas consequências práticas da verdade sobre a criação

A radicalidade da ação divina criadora e salvadora exige do homem uma resposta que tenha esse mesmo caráter de totalidade: “amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda tua alma, com todas as tuas forças” (Dt 6,5; cf. Mt 22,37; Mc 12,30; Lc 10,27). Nesta correspondência encontra-se a verdadeira felicidade, a única coisa que torna plena a liberdade.

Por sua vez, a universalidade da ação divina tem um sentido tanto intensivo como extensivo: Deus cria e salva a todo homem e a todos os homens. Corresponder à chamada de Deus para amá-lo com todo nosso ser está intrinsecamente unido a levar o seu amor a todo o mundo[15].

O conhecimento e a admiração do poder, sabedoria e amor divinos levam o homem a uma atitude de reverência, adoração e humildade, a viver na presença de Deus, sabendo-se seu filho. Ao mesmo tempo, a fé na providência leva o cristão a uma atitude de confiança filial em Deus, em todas as circunstâncias: com agradecimento pelos bens recebidos, e com abandono simples diante daquilo que pode parecer mal, pois Deus, dos males, tira bens maiores.

Consciente de que tudo foi criado para a glória de Deus, o cristão procura comportar-se em todas as ações de modo a buscar o fim verdadeiro que enche sua vida de felicidade: a glória de Deus, não a própria vanglória. Esforça-se para retificar a intenção em suas ações, de modo que se possa dizer que o único fim de sua vida é este: Deo omnis gloria![16].

Deus quis colocar o homem à frente de sua criação, outorgando-lhe o domínio sobre o mundo, de maneira que a aperfeiçoe com seu trabalho. A atividade humana pode ser, portanto, considerada como uma participação na obra divina da criação.

A grandeza e a beleza das criaturas suscitam nas pessoas admiração e desperta nelas a pergunta pela origem e destino do mundo e do homem, fazendo-as entrever a realidade de seu Criador. O cristão, em seu diálogo com os que não têm fé, pode suscitar estas perguntas para que as inteligências e os corações se abram à luz do Criador. Da mesma forma, em seu diálogo com pessoas de diversas religiões, o cristão encontra, na verdade da criação, um excelente ponto de partida, pois trata-se de uma verdade em parte compartilhada, e que constitui a base para a afirmação de alguns valores morais fundamentais da pessoa.

Santiago Sanz

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Bibliografia básica

Catecismo da Igreja Católica, 279-374.

Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 51-72.

DH, nn. 125, 150, 800, 806, 1333, 3000-3007, 3021-3026, 4319, 4336, 4341.

Concílio Vaticano II, Gaudium et spes, 10-18, 19-21, 36-39.

João Paulo II, Creo en Dios Padre. Catequesis sobre el Credo (I), Palabra, Madri 1996, 181-218.

Leituras recomendadas

Santo Agostinho, Confissões, livro XII.

São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, qq. 44-46.

São Josemaria, Homilia “Amar o mundo apaixonadamente”, em Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 113-123.

Joseph Ratzinger, Creación y pecado, Eunsa, Pamplona 1992.

João Paulo II, Memoria e identidade, Ed. Objetiva, 2005.

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[15] Que o apostolado é a superabundância da vida interior (cf. São Josemaria, Caminho, 961) se manifesta como o correlato da dinâmica ad intra-ad extra do agir divino, isto é, da intensidade do ser, da sabedoria e do amor trinitário que se extravasa para as criaturas.

[16] Cf. São Josemaria, Caminho, 780; Sulco, 647; Forja, 611, 639, 1051.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF