O sacrifício que agrada ao
Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega total à Sua
Palavra e de confiança absoluta nele.
Padre Cesar
Augusto, SJ - Vatican News
Geralmente,
apesar de nossa fé no Deus de Amor revelado por Jesus, temos atitudes pagãs em
que julgamos o Todo Poderoso nos solicitar sacrifícios desumanos. Assim
pensamos que para Deus é agradável penitências dolorosas, difíceis e até para
falar com Ele são necessários procedimentos artificiais e fora de nossa
realidade.
Tudo isso
mostra que raízes pagãs ancestrais estão arraigadas em nossa cultura como
estava na de Abraão, marcada por forte politeísmo cujo culto se expressava com
inúmeros sacrifícios às divindades.
Abraão que
aos poucos conhece o Deus único e verdadeiro, que se lhe apresenta, tem sua fé
colocada à prova com o sacrifício de seu filho Isaque. Tendo Abraão provado sua
fé, Deus poupa-lhe o sacrifício revelando sua bondade e generosidade. O que
passa pela cabeça de Abraão, passa também pela nossa.
Julgamos
que Deus se satisfaz com aquilo que é mais doloroso e difícil. Que Deus é esse?
Certamente não é o que se revelou a Abraão e muito menos o revelado por Jesus
Cristo no Evangelho.
O que
Abraão desejava e agradou a Deus foi sua atitude de desacomodação em deixar sua
casa paterna, sua pátria e ir para o desconhecido, apenas confiando na Palavra
do Senhor. A atitude de matar seu filho, evidentemente não agradou ao Poderoso,
mas mostrou que também abria mão de seu futuro e só esperava em Deus.
O
sacrifício que agrada ao Senhor é uma atitude de despojamento e de
desacomodação, de entrega total à Sua Palavra e de confiança absoluta nele.
No
Evangelho temos o relato da Transfiguração do Senhor. Vamos observar a atitude
de Pedro. Ele priva, juntamente com João e seu irmão Tiago, de uma amizade
especial com o Senhor e lhe é revelado, de modo enfático, a paixão que Jesus
sofrerá. Enquanto Jesus busca prepará-los para o momento decisivo de sua luta
contra o mal, Pedro fica fascinado pelo momento que vive, diríamos hoje,
deslumbrado, e propõe a estabilidade, a acomodação através da construção de
tendas, no desejo de perenizar o passageiro.
O Pai lhe
chama a atenção dizendo para ouvir o que O Filho amado tem a dizer. Nesse
momento acaba a teofania e apenas Jesus permanece com eles. O único necessário
em nossa vida é ouvir Jesus, a Palavra do Pai. A renúncia que agrada a Deus, a
abnegação desejada, a penitência autêntica é colocar tudo em segundo plano e
apenas Jesus Cristo como o absoluto de nossa vida.
Tudo o que
a vida me oferece, seja no plano material, seja no espiritual, tudo deverá ser
relativizado: família, saúde, religião, carreira, honra, tudo. Todos esses
valores deverão ser vivenciados à medida que me aproximam de Deus.
A santidade
do relacionamento entre esposos, pais, filhos, irmãos e irmãs, não está nele
mesmo, mas enquanto são relacionamentos que me levam a Deus, me levam a amar.
Sendo assim eles se tornam sagrados.
Queridos
amigos ouvintes, as cruzes que encontramos na vida conjugal, familiar,
profissional, na comunidade eclesial, e em tantos outros lugares, foram
anunciadas na transfiguração de Jesus e fazem parte dessa vida de entrega, de
renúncia, de abnegação, de penitência, de amor.
E neste tempo de penitência não nos esqueçamos o jejum que sobremaneira é agradável a Deus: “soltar as algemas injustas, soltar as amarras de jugo, dar liberdade aos oprimidos e acabar com qualquer escravidão”.
Sigamos o Mestre e, como ele, sejamos generosos em amar.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt