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domingo, 25 de fevereiro de 2024

Reflexão para o II Domingo da Quaresma (B)

Evangelho do domingo (@ BAV Vat lat 39. f. 67v)

O sacrifício que agrada ao Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega total à Sua Palavra e de confiança absoluta nele.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

Geralmente, apesar de nossa fé no Deus de Amor revelado por Jesus, temos atitudes pagãs em que julgamos o Todo Poderoso nos solicitar sacrifícios desumanos. Assim pensamos que para Deus é agradável penitências dolorosas, difíceis e até para falar com Ele são necessários procedimentos artificiais e fora de nossa realidade.

Tudo isso mostra que raízes pagãs ancestrais estão arraigadas em nossa cultura como estava na de Abraão, marcada por forte politeísmo cujo culto se expressava com inúmeros sacrifícios às divindades.

Abraão que aos poucos conhece o Deus único e verdadeiro, que se lhe apresenta, tem sua fé colocada à prova com o sacrifício de seu filho Isaque. Tendo Abraão provado sua fé, Deus poupa-lhe o sacrifício revelando sua bondade e generosidade. O que passa pela cabeça de Abraão, passa também pela nossa.

Julgamos que Deus se satisfaz com aquilo que é mais doloroso e difícil. Que Deus é esse? Certamente não é o que se revelou a Abraão e muito menos o revelado por Jesus Cristo no Evangelho.

O que Abraão desejava e agradou a Deus foi sua atitude de desacomodação em deixar sua casa paterna, sua pátria e ir para o desconhecido, apenas confiando na Palavra do Senhor. A atitude de matar seu filho, evidentemente não agradou ao Poderoso, mas mostrou que também abria mão de seu futuro e só esperava em Deus.

O sacrifício que agrada ao Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega total à Sua Palavra e de confiança absoluta nele.

No Evangelho temos o relato da Transfiguração do Senhor. Vamos observar a atitude de Pedro. Ele priva, juntamente com João e seu irmão Tiago, de uma amizade especial com o Senhor e lhe é revelado, de modo enfático, a paixão que Jesus sofrerá. Enquanto Jesus busca prepará-los para o momento decisivo de sua luta contra o mal, Pedro fica fascinado pelo momento que vive, diríamos hoje, deslumbrado, e propõe a estabilidade, a acomodação através da construção de tendas, no desejo de perenizar o passageiro.

O Pai lhe chama a atenção dizendo para ouvir o que O Filho amado tem a dizer. Nesse momento acaba a teofania e apenas Jesus permanece com eles. O único necessário em nossa vida é ouvir Jesus, a Palavra do Pai. A renúncia que agrada a Deus, a abnegação desejada, a penitência autêntica é colocar tudo em segundo plano e apenas Jesus Cristo como o absoluto de nossa vida.

Tudo o que a vida me oferece, seja no plano material, seja no espiritual, tudo deverá ser relativizado: família, saúde, religião, carreira, honra, tudo. Todos esses valores deverão ser vivenciados à medida que me aproximam de Deus.

A santidade do relacionamento entre esposos, pais, filhos, irmãos e irmãs, não está nele mesmo, mas enquanto são relacionamentos que me levam a Deus, me levam a amar. Sendo assim eles se tornam sagrados. 

Queridos amigos ouvintes, as cruzes que encontramos na vida conjugal, familiar, profissional, na comunidade eclesial, e em tantos outros lugares, foram anunciadas na transfiguração de Jesus e fazem parte dessa vida de entrega, de renúncia, de abnegação, de penitência, de amor.

E neste tempo de penitência não nos esqueçamos o jejum que sobremaneira é agradável a Deus: “soltar as algemas injustas, soltar as amarras de jugo, dar liberdade aos oprimidos e acabar com qualquer escravidão”.

Sigamos o Mestre e, como ele, sejamos generosos em amar.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Os desafios de lidar com o envelhecimento dos pais – e como evitar conflitos - Parte 1

Número de idosos no Brasil aumentou mais de 50% em pouco mais de uma década (GETTY IMAGES)

Os desafios de lidar com o envelhecimento dos pais – e como evitar conflitos

Por Vinícius Lemos

24 de fevereiro de 2024

Da BBC News Brasil em São Paulo

Uma dura fase marcada por conflitos e dificuldades. É assim que especialistas resumem a forma como o envelhecimento dos pais é encarado diversas vezes, porque muitos filhos não estão preparados para lidar com as exigências desse período.

À medida que a idade avança, uma pessoa tende a precisar de cada vez mais apoio, seja em atividades simples do dia a dia ou mesmo uma ajuda financeira - e isso pode cobrar um preço de quem fica responsável por esses cuidados, como apontam especialistas.

“Em alguns casos, esses filhos podem experimentar níveis significativos de estresse e sobrecarga ao lidar com as demandas do envelhecimento dos pais, especialmente quando há questões de saúde ou limitações funcionais”, diz a psicóloga Deusivania Falcão, professora de Psicogerontologia – área da psicologia que estuda o envelhecimento – da Universidade de São Paulo (USP).

Há, inclusive, um nome para definir esse senso de obrigação dos filhos em apoiar pais mais velhos: responsabilidade filial.

“É uma obrigação baseada em um padrão cultural, relacionado à percepção de que esse é um comportamento socialmente responsável em resposta ao envelhecimento e a dependência dos pais”, explica Falcão.

"Ou seja, de que é dever do filho adulto ajudar ou ser responsável pelos pais idosos."

Esse tipo de situação e a discussão sobre como encarar estes desafios são cada vez mais frequentes com aumento de idosos no Brasil.

O número de pessoas com mais de 60 anos passou de 20,5 milhões no Censo de 2010 para 32,1 milhões no mesmo levantamento em 2022 – um crescimento de 56% em pouco mais de uma década.

E as estimativas apontam que a população de idosos deve se tornar ainda maior ao longo das próximas décadas.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram a tendência de que o brasileiro deve viver cada vez mais: a expectativa de vida, que era de 69,8 anos no início dos anos 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje é de 75,5 anos.

Isso não só aumenta o período em que uma pessoa pode precisar de auxílio, mas também torna mais comum que os filhos acompanhem diferentes fases do envelhecimento dos pais.

Um ponto importante nesse período é a forma como filhos encaram o envelhecimento dos pais - e, como em tantas outras fases da vida, não há uma cartilha universal a seguir.

Essa experiência, dizem especialistas, costuma ser influenciada por padrões familiares do passado e pela forma como uma pessoa foi criada, além de aspectos culturais, históricos, sociais e religiosos de uma família.

"Há vários modelos de envelhecimento e de velhice. Cada indivíduo envelhece de maneira diferenciada, na singularidade de suas condições genéticas, ambientais, familiares, sociais, educacionais, econômicas, históricas e culturais", diz Falcão.

“Isso tudo depende do tipo de sistema desenvolvido (pela família) ao longo dos anos.”

Pais teimosos x filhos mandões

Um dos principais desafios e motivos de atrito está nos papéis que pais e filhos assumem nessa fase da vida, apontam especialistas.

De um lado, os filhos podem enxergar uma pessoa fragilizada, adoecida e que precisa de cuidados e limitações e tentam proteger seus pais e fazer com que não se exponham a riscos.

Do outro, há uma pessoa que não quer perder sua autonomia e que pode até perceber que precisa de cuidados, mas tem dificuldade de aceitar isso, afirma a geriatra Fernanda Andrade.

“Na imensa maioria das vezes, há uma grande diferença entre a visão dos filhos e dos pais. Os filhos não costumam lidar bem com as escolhas dos pais nesse período", afirma Andrade.

Um dos comentários mais recorrentes que a médica ouve dos filhos é que seus pais são “teimosos” por não seguirem à risca como os filhos acreditam que eles devem agir.

"É angustiante assistir ao envelhecimento – e, muitas vezes, ao adoecimento – de uma pessoa que se ama e não conseguir controlar nada disso."

Mas, por trás dessa “teimosia”, apontam especialistas, estão características que podem ser atribuídas à idade avançada.

Entre elas, o sentimento de solidão, a perda de sentido da vida, a saudade de amigos ou parentes que já faleceram e o medo da morte.

Além disso, o temor de depender dos outros, ainda que sejam os próprios filhos, causa preocupação em muitos idosos e faz com que sejam resistentes a cuidados.

“Imagina passar 50 anos da sua vida totalmente independente e começar a precisar de alguém para ir ao mercado para você, te ajudar a vestir uma roupa ou realizar sua higiene íntima?”, diz Andrade.

Para não perder a autonomia, diz Fernanda, muitos idosos não querem parar de dirigir, não aceitam ir ao médico ou não querem abandonar outras atividades que costumavam fazer sozinhos.

Aí é que podem surgir conflitos na relação com os filhos, caso não haja uma comunicação aberta na família sobre as expectativas, desejos e necessidades dos dois lados, pontuam os especialistas.

Muitas vezes, é preciso entender que se trata de uma fase de constante adaptação às demandas que surgem com o passar dos anos.

Por isso, é fundamental perceber que as necessidades dos pais podem mudar ao longo do tempo.

Uma das principais dificuldades na relação entre pais e filhos nessa fase é causada por falhas de comunicação em razão do conflito geracional, diz Renato Veras, que é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e diretor do projeto Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI).

“O ideal é que os pais conversem muito com os filhos e mostrem as diferenças geracionais", afirma o médico.

"Esse diálogo é importante, mas é difícil, porque muitos pais não conseguem puxar essa conversa e muitos filhos se consideram senhores da verdade, o que dificulta muito essa situação.”

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

NAZARENO: A insistência de uma mulher (a cananeia e a cura do surdo-mudo) - (31)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 31 - A insistência de uma mulher (a cananeia e a cura do surdo-mudo)

O Nazareno deixa seu vilarejo para se retirar com seus discípulos para a região de Tiro e Sidom, na terra que os judeus chamavam de cananeia e os romanos de fenícia. Seus habitantes são muito mal vistos pelos judeus, que os consideram pagãos dos quais devem se manter afastados. Mas até mesmo nessa região há rumores sobre ele. Então uma mulher, vendo-os passar, clamou: 'tem misericórdia de mim, Senhor, filho de Davi! Minha filha está muito atormentada por um demônio". Jesus parece não a ver ou ouvi-la, apesar de seus gritos insistentes. A mulher não para de se aproximar e continua a gritar sua súplica, ela se aproxima e se prostra diante dele, dizendo: "Senhor, ajuda-me!" E ele responde: "Não é bom pegar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos". "É verdade, Senhor", diz a mulher, "mas os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.... Não me trate como filha, mas pelo menos como um cachorrinho, não me expulse e me dê as migalhas...". Então Jesus lhe responde: "Mulher, grande é a sua fé! Que aconteça com você o que deseja". A filha, Palma, é salva. O grupo se dirige a Hipona, alguns homens lhe trazem um surdo-mudo e lhe pedem que ponha a mão sobre ele. Também dessa vez, Jesus se comove e não recua, leva-o para um lado, longe da multidão, coloca os dedos em seus ouvidos e com a saliva toca sua língua; depois, olhando para o céu, solta um suspiro e diz: "Effatà", ou seja, "Abra!". E imediatamente seus ouvidos se abrem, o nó em sua língua se solta e ele começa a falar corretamente.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/02/22/15/137723410_F137723410.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Toribio Romo: testemunhos chocantes de imigrantes

Santo Toribio Romo é o padroeiro dos imigrantes mexicanos
FranchiscoPersuaJal, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons
Por Larry Peterson publicado em 26/06/16 atualizado em 23/02/24
Santo Toribio Romo González, canonizado por São João Paulo II, é o padroeiro dos imigrantes. Muitos deles tiveram encontros surpreendentes com ele.

Não se pode falar de São Toribio Romo sem falar de seus protegidos, os imigrantes mexicanos :

Em algum momento do início do verão de 1973, Jesús Gaytán e dois amigos iniciaram sua jornada para o norte, em direção aos Estados Unidos. O plano deles era atravessar a fronteira e encontrar trabalho como trabalhadores agrícolas. Eles não se importavam onde, eles apenas queriam – precisavam – trabalhar.

Uma vez na fronteira, seus planos foram rapidamente frustrados. Uma patrulha de fronteira os localizou e, com medo, voltaram correndo para o México.

Jesus separou-se de seus amigos e começou a vagar pelo deserto. Ele não tinha ideia de onde estava. Após vários dias de caminhada – sem direção, comida ou água – ele teve certeza de que sua morte estava próxima.

Olhando para a paisagem inóspita, os olhos fixos nas ondas de calor que subiam do solo, ele vislumbrou uma caminhonete vindo em sua direção.

Como ele não sabia quem poderia estar se aproximando dele, ele imediatamente se sentiu aterrorizado e aliviado.

Um encontro surpreendente

O caminhão parou e um jovem de pele clara e olhos azuis desceu. Ele sorriu para Jesus e lhe ofereceu comida e água. Ele então o levou a uma fazenda próxima, onde eram necessários trabalhadores.

Ele também deu a Jesus alguns dólares para colocar no bolso. Jesus agradeceu-lhe profusamente e perguntou-lhe como poderia retribuir.

O homem lhe disse, em espanhol perfeito:

Quando você finalmente tiver emprego e dinheiro, procure-me em Santa Ana de Guadalupe, Jalisco. Peça por Toribio Romo.

E assim a história: anos depois, Jesús Gaytán finalmente conseguiu fazer aquela viagem a Santa Ana de Guadalupe. Ao chegar, perguntou onde poderia encontrar Toribio Romo. Ele foi direcionado para uma pequena igreja próxima.

Pendurado na parede externa da capela havia um grande retrato. Jesus olhou para ele com extraordinário espanto. Toribio Romo era aquele homem do deserto !

Jesus havia chegado ao santuário de Toribio, onde estavam guardados seus restos mortais. Ficou chocado ao descobrir que o homem que o ajudou no deserto 20 anos antes tinha sido beatificado pelo Papa João Paulo II em 1992.

Ele ficou duplamente chocado com a notícia de que seu salvador havia sido assassinado em 1928, durante a Guerra Cristero. Jesús Gaytán percebeu então que havia sido salvo por um homem enviado do céu.

Uma figura embaçada no deserto

Luciano López conta que, a caminho do Colorado em busca de trabalho, se perdeu no calor sufocante do deserto do Arizona. Luciano se lembra de ter visto uma figura “confusa” parada ao lado do que parecia ser um oceano. Ele conta que aquela pessoa o cumprimentou com a mão e começou a caminhar e, dessa forma, o guiou até um local de descanso com comida e água, salvando sua vida.

De volta ao México, quando ele contou à esposa o que aconteceu, ela respondeu:

«Quem te conduziu a um lugar seguro foi São Toribio, padroeiro dos migrantes. "Eu estava orando pelo seu bem-estar."

Curta biografia

Santo Toribio Aguascalientes

Toribio Romo nasceu em 16 de abril de 1900 em Santa Ana de Guadalupe, Jalisco, México. Com a permissão do bispo, foi ordenado sacerdote aos 22 anos.

Sua idade não importava para as autoridades. A Constituição anti-religiosa do México foi promulgada em 1917, pelo que Toribio - imediatamente - foi objeto de vigilância governamental. E então chegou o fatídico ano de 1927.

Naquele ano, o presidente do México, Plutarco Elías Calles, que detestava os católicos, ordenou aos seus soldados que impusessem estritamente a Constituição anti-religiosa de 1917.

Além de celebrar a missa secretamente, cuidar dos enfermos e ouvir confissões, o Padre Toribio também ensinava catecismo a crianças e adultos.

Foi-lhe ordenado que se confinasse à sua residência e não rezasse o Rosário em público nem celebrasse mais missas.

Seu martírio

O jovem sacerdote refugiou-se numa antiga fábrica perto de uma cidade chamada Agua Caliente. A partir daí, ele desafiou as autoridades seculares, celebrando missas e cumprindo o seu ministério da melhor maneira possível.

Em 22 de fevereiro de 1928, Padre Toribio começou a organizar o seu registro paroquial. Terminou em 24 de fevereiro.

Padre Toribio sabia do perigo que corria e ficou com medo. Ele orava diariamente pela graça e força de Deus, mas não permitia que seus medos o impedissem de fazer seu trabalho.

No dia 25 de fevereiro, às 4 horas da manhã, o jovem sacerdote foi dormir para dormir. Uma hora depois, as tropas do governo invadiram o local e entraram na sala do padre. Um soldado gritou: «Encontrei o padre. Mate ele!

Padre Toribio disse: “Estou aqui, mas você não precisa me matar”.

Os soldados o ignoraram. Um deles disparou e o padre, ferido, levantou-se novamente e começou a caminhar em direção aos soldados. Depois de alguns passos, abriram fogo e Padre Toribio caiu morto.

A história do martírio do jovem padre espalhou-se rapidamente e a sua popularidade disparou. Muitos mexicanos que tomaram o caminho para o norte do país contam histórias inspiradoras sobre como a intervenção do Padre Toribio salvou as suas vidas.

Sua canonização

Em 2000, o Papa João Paulo II canonizou o Padre Toribio e outros 24 mártires mortos pela sua fé durante a Guerra Cristero.

Hoje, São Toribio Romo é venerado como padroeiro dos migrantes mexicanos e dos imigrantes clandestinos.

https://es.aleteia.org/slideshow/santo-toribio-romo-gonzalez/

Fonte: https://es.aleteia.org/

Primeira Pregação da Quaresma 2024 do cardeal Cantalamessa - Parte 2

1ª Pregação da Quaresma com o cardeal Cantalamessa (Vatican Media)

Primeira Pregação da Quaresma do cardeal Cantalamessa

"Nós, porém, encontramo-nos aqui no contexto da Cúria, que não é uma comunidade religiosa ou matrimonial, mas de serviço e de trabalho eclesial. As ocasiões para não desperdiçar, se quisermos também nós sermos moídos para nos tornarmos trigo de Deus, são muitas, e cada um deve identificar e santificar aquela que lhe é oferecida em seu posto de serviço".

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap
“EU SOU O PÃO DA VIDA”
Primeira Pregação da Quaresma de 2024

Todo o discurso de Jesus tende, portanto, a esclarecer que a vida é aquela que ele dá: não vida da carne, mas vida do Espírito, a vida eterna. Não é, porém, nesta linha que eu gostaria de prosseguir a minha reflexão, nos poucos minutos que me restam. Em relação ao Evangelho, há sempre duas operações a se fazer respeitando rigorosamente a sua ordem: primeiro, a apropriação, depois, a imitação. Temos nos apropriado até agora do pão da vida mediante a fé e o fazemos cada vez que recebemos a Comunhão. Trata-se de ver agora como traduzi-los na prática em nossa vida.

Para fazer isso, colocamo-nos uma simples pergunta: Como ele, Jesus, se tornou pão de vida para nós? A resposta, deu-nos ele mesmo no Evangelho de João: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só; mas se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24). Sabemos bem a que aludem as imagens de cair na terra e apodrecer. Toda a história da Paixão está contida nelas. Devemos buscar ver o que essas imagens significam para nós. Jesus, de fato, com a imagem do grão de trigo não indica apenas o seu destino pessoal, mas o de cada seu verdadeiro discípulo.

Não se pode escutar a palavra dirigida à Igreja de Roma pelo bispo Inácio de Antioquia sem nos comover e sem permanecer atônitos, vendo o que a graça de Cristo é capaz de fazer de uma criatura humana:

Deixai que eu seja pasto das feras, por meio das quais me é concedido alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, e serei moído... Suplicai a Cristo por mim, para que eu, com esses meios, seja vítima oferecida a Deus. Não vos dou ordens como Pedro e Paulo; eles eram apóstolos, eu sou um condenado [4].

Antes dos dentes das feras, o bispo Inácio experimentou outros dentes que o moíam, não dentes de feras, mas de homens: “Desde a Síria até – escreve – luto contra as feras, por terra e por mar, de noite e de dia, acorrentado a dez leopardos, a um destacamento de soldados; quando se lhes faz bem, tornam-se piores ainda”[5]. Isto tem algo a dizer também para nós. Cada um de nós tem, em seu ambiente, destes dentes de feras que o moem. Santo Agostinho dizia que nós, seres humanos, somos “vasos de argila que se ferem uns com os outros”: lutea vasa quae faciunt invicem angustias[6]. Devemos aprender a fazer desta situação um meio de santificação e não de endurecimento do coração, de raiva e lamentação!

Uma sentença frequentemente repetida em nossas comunidades religiosas afirma Vita communis mortificatio maxima: “viver em comunidade é a maior de todas as mortificações”. Não só a maior, mas também a mais útil e mais merecedora de tantas outras mortificações de própria escolha. Esta sentença não se aplica apenas a quem vive em comunidades religiosas, mas em toda convivência humana. Onde ela se realiza no modo mais exigente é, na minha opinião, o matrimônio, e devemos ficar cheios de admiração diante de um matrimônio levado adiante com fidelidade até a morte. Passar a vida inteira, dia e noite, lidando com a vontade, o caráter a sensibilidade e as idiossincrasias de uma outra pessoa, especialmente em uma sociedade como a nossa, é algo de grande e, se feito com espírito de fé, já deveria ser qualificado como “virtude heroica”.

Nós, porém, encontramo-nos aqui no contexto da Cúria, que não é uma comunidade religiosa ou matrimonial, mas de serviço e de trabalho eclesial. As ocasiões para não desperdiçar, se quisermos também nós sermos moídos para nos tornarmos trigo de Deus, são muitas, e cada um deve identificar e santificar aquela que lhe é oferecida em seu posto de serviço. Menciono apenas uma ou duas que considero válidas para todos.

Uma ocasião é aceitar sermos contrariados, renunciar a nos justificar e querer ter sempre razão, quando não é pedido pela importância da coisa. Uma outra é suportar alguém, sujo caráter, modo de falar ou de fazer nos dá nos nervos, e fazê-lo nos irritar interiormente, pensando melhor que também nós talvez sejamos para alguém tal pessoa. O Apóstolo exortava os fiéis de Colossos com estas palavras: “Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro” (Cl 3,12-13). O que é mais difícil para “moer” em nós não é a carne, mas o espírito, isto é o amor próprio e o orgulho, e estes pequenos exercícios servem magnificamente ao objetivo.

Hoje infelizmente existe na sociedade uma espécie de dentes que moem sem piedade, mais cruelmente que os dentes de leopardo de que falava o mártir Santo Inácio. São os dentes dos meios de comunicação e das chamadas redes sociais. Não quando eles relevam as distorções da sociedade ou da Igreja (nisso merecem todo o respeito e a estima!), mas quando se enfurecem contra alguém por tomada de partido, simplesmente porque não pertence ao próprio lado. Com maldade, com intuito destrutivo, não construtivo. Coitado de quem acaba hoje neste moedor, seja ele um leigo ou um eclesiástico!

Neste caso, é lícito e um dever fazer valer as próprias razões nos lugares apropriados e, se isso não for possível, ou então se ver que não serve a nada, não resta a um fiel senão unir-se a Cristo flagelado, coroado de espinhos e no qual cuspiram. Na Carta aos Hebreus, lê-se esta exortação aos primeiros cristãos, que pode ajudar em ocasiões semelhantes: “Pensai pois naquele que enfrentou uma tal oposição por parte dos pecadores, para que não vos deixeis abater pelo desânimo” (Hb 12,3).

É algo difícil e doloroso ao máximo, sobretudo quando no meio disso está a própria família natural ou religiosa, mas a graça de Deus pode fazer – e frequentemente tem feito – de tudo isso ocasião de purificação e santificação. Trata-se de ter confiança de que, no fim, como aconteceu para Jesus, a verdade triunfará sobre a mentira. E triunfará melhor, talvez, com o silêncio, mais do que com as mais aguerridas autodefesas.

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Tradução de Frey Ricardo Luiz Farias

Notas

[4] Cf. Inácio de Antioquia, Carta aos Romanos, IV,1.
[5] Cf. Ib. V,1.
[6] Cf. Agostinho, Discursos, 69,1 (PL 38, 440).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A vida sob o olhar da misericórdia do Pai

O Pai Misericordioso (Canção Nona)

A VIDA SOB O OLHAR DA MISERICÓRDIA DO PAI

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! A Quaresma é um tempo especial de preparação espiritual para a celebração da Páscoa do Senhor Jesus. A Igreja, ciente da sua missão de zelar pela vida espiritual de seus filhos e filhas, nos oferece, através da palavra de Deus e do Sacramento da Reconciliação, um itinerário de formação espiritual, para que possamos participar intensamente deste tempo de graça e de conversão, em que o coração tocado pela misericórdia do Pai se abre para estender a mão em direção aos irmãos e irmãs necessitados, num gesto generoso de solidariedade, que expressa amor ao próximo.   

No caminho espiritual de “conversão” do cristão está presente o deserto, símbolo da aridez, das tentações, das provações, do despojamento e da purificação. Mas o deserto, visto como o lugar de provação física, na Bíblia, é também lembrado como o lugar da purificação, da escuta e do encontro com Deus. Portanto, a Quaresma deveria ser na vida do cristão o tempo do silêncio, da escuta, da reflexão e do discernimento. Não o silêncio visto como fuga da realidade da vida, buscando um mundo paralelo e mais fácil. Mas o silêncio que busca contemplar o rosto transfigurado de Jesus Cristo, sobre o qual resplandece a luz divina do Pai.  

No peregrinar da vida, e de modo especial neste tempo da Quaresma, não devemos esquecer que o rosto transfigurado de Cristo está presente hoje no rosto desfigurado do pobre, do enfermo, do prisioneiro, do imigrante, dos idosos, dos jovens que tinham sonhos em relação ao futuro, mas perderam a esperança e o encanto pela vida. E nós somos chamados a testemunhar, através da nossa fé, traduzida em obras de caridade, o rosto da bondade e da compaixão de Jesus, porque diante do amor e da misericórdia do Pai, somos filhos e filhas e deveríamos viver como irmãos e irmãs. 

Na realidade em que vivemos é fundamental fazermos e incentivarmos as pessoas a fazerem uma experiência de Deus. Mas de qual Deus? Eu diria do Deus de Jesus Cristo. Um Deus que é pai, próximo e humilde, que é capaz de compreender o homem na sua dimensão humana e divina, marcada pelo amor, a alegria e as provações, nos acontecimentos do dia-a-dia. Um Deus pai, que por amor vai ao encontro dos seus filhos e filhas, vê a dor e o sofrimento provocados pela falta de amor, que gera injustiças e desfigura o rosto de Deus, nos irmãos e irmãs. 

Pode acontecer que percorrendo um caminho de crescimento espiritual, que nos leva ao fortalecimento da nossa fé e ao encontro do Pai, podemos até desanimar, e, ser tentados a dizer como Filipe: “Senhor mostra-nos o Pai e isso nos basta” (Jo 14,8). Para Filipe, conhecer o Pai era o suficiente, não percebia que ao ver e contemplar o filho Jesus, estava vendo e contemplando o rosto da misericórdia do Pai.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Exercícios Espirituais com o cardeal Cantalamessa (IV)

Exercícios Espirituais - Cardeal Cantalamessa (Vatican News)

De 19 a 24 de fevereiro, é proposto um minuto com o pregador da Casa Pontifícia para rezar com o Papa e a Cúria Romana através das redes sociais do Vatican News.

Vatican News

Nesta semana em que o Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria Romana estão fazendo os Exercícios Espirituais da Quaresma, o Vatican News propõe em suas redes sociais X, Facebook, Instagram e WhatsApp uma reflexão por dia, de 19 a 24 de fevereiro, do pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa.

"Pediram-me para compartilhar com vocês, durante seis dias, uma reflexão de cerca de um minuto. Existem, no mundo, poucas palavras capazes de dizer em um minuto o suficiente para preencher um dia e, de fato, uma vida: aquelas que saem da boca de Jesus. Oferecerei a vocês uma de cada vez, pedindo-lhes que a 'mastiguem' durante todo o dia, como se fosse uma goma de mascar da alma", disse o cardeal Cantalamessa.

A reflexão do cardeal

A palavra de hoje a acolher é aquela que Jesus dirigiu à adúltera, depois que os seus acusadores foram embora: "Mulher, ninguém te condenou?" "Ninguém, Senhor." "Eu também não te condeno. E a partir de agora, não peques mais!". Cada um de nós, se examinar bem, perceberá que, ao lado dos muitos pecados que comete, há um diferente dos outros. Trata-se daquele pecado ao qual se é secretamente um pouco apegado, que se confessa, mas sem uma real vontade de dizer "chega!".

Santo Agostinho, nas Confissões, nos descreve a sua luta para se libertar do pecado da sensualidade. Houve um momento em que rezava a Deus, dizendo: "Concede-me castidade e continência". Porém, uma voz acrescentava: "Não imediatamente, Senhor!". Chegou o momento em que ele gritou para si mesmo: "Por que amanhã", amanhã? que em latim se diz "cras". Por que este corvo que diz "cras"? Por que não agora? Foi suficiente que dissesse este "chega!" para se sentir livre. Que se deve fazer concretamente? Colocar-se por um instante na presença de Deus e dizer-Lhe: "Senhor, tu conheces bem a minha fragilidade. Confiando por isso unicamente na tua graça, eu te digo que, a partir de agora, quero dizer "chega" daquela satisfação, daquela liberdade, daquela amizade, daquele rancor, daquele subterfúgio financeiro, enfim, chega daquele pecado que eu e Tu conhecemos bem". Venho para receber o teu perdão sacramental. Você poderá talvez recair. Poderemos talvez recair mais tarde, mas para Deus algo mudou: a sua liberdade se aliou a Ele. Vocês estão juntos agora a lutar contra o mesmo inimigo. Você verá quanto é mais belo viver livre da escravidão do pecado, em paz com Deus e consigo mesmo!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Sérgio

São Sérgio (arquisp)
24 de fevereiro
São Sérgio

Sérgio, mártir da Cesarea, na Capadócia, por muito pouco não se manteve totalmente ignorado na história do cristianismo. Nada foi escrito sobre ele nos registros gregos e bizantinos da Igreja dos primeiros tempos. Entretanto, ele passou a ter popularidade no Ocidente, graças a uma página latina, datada da época do imperador romano Diocleciano, onde se descreve todo seu martírio e o lugar onde foi sepultado.

O texto diz que no ano 304, vigorava a mais violenta perseguição já decretada contra os cristãos, ordenada pelo imperador Diocleciano. Todos os governadores dos domínios romanos, sob pena do confisco dos bens da família e de morte, tinham de executá-la. Entretanto alguns, já simpatizantes dos cristãos, tentavam em algum momento amenizar as investidas. Não era assim que agia Sapricio, um homem bajulador, oportunista e cruel que administrava a Armênia e a Capadócia, atual Turquia.

A narrativa seguiu dizendo que durante as celebrações anuais em honra do deus Júpiter, Sapricio, estava na cidade de Cesarea da Capadócia, junto com um importante senador romano. Num gesto de extrema lealdade, ordenou que todos os cristãos da cidade fossem levados para diante do templo pagão, onde seriam prestadas as homenagens àquele deus, considerado o mais poderoso de todos, pelos pagãos. Caso não comparecessem e fossem denunciados seriam presos e condenados à morte.

Poucos conseguiram fugir, a maioria foi ao local indicado, que ficou tomado pela multidão de cristãos, à qual se juntou Sérgio. Ele era um velho magistrado, que há muito tempo havia abandonado a lucrativa profissão para se retirar à vida monástica, no deserto. Foi para Cesarea, seguindo um forte impulso interior, pois ninguém o havia denunciado, o povo da cidade não se lembrava mais dele, podia continuar na sua vida de reclusão consagrada, rezando pelos irmãos expostos aos martírios. A sua chegada causou grande surpresa e euforia, os cristãos desviaram toda a atenção para o respeitado monge, gerando confusão. O sacerdote pagão que preparava o culto ficou irado. Precisava fazer com que todos participassem do culto à Júpiter, o qual, segundo ele, estava insatisfeito e não atendia as necessidades do povo. Desta forma, o imperador seria informado pelo seu senador e o cargo de governador continuaria com Sapricio. Mas, a presença do monge produziu o efeito surpreendente de apagar os fogos preparados para os sacrifícios. Os pagãos atribuíram imediatamente a causa do estranho fenômeno aos cristãos, que com suas recusas haviam irritado ainda mais o seu deus.

Sérgio, então se colocou à frente e explicou que a razão da impotência dos deuses pagãos era que estavam ocupando um lugar indevido e que só existia um único e verdadeiro Deus onipotente, o venerado pelos cristãos. Imediatamente foi preso, conduzido diante do governador, que o obrigou a prestar o culto à Júpiter. Sérgio não renegou a Fé, por isto morreu decapitado naquele mesmo instante. Era o dia 24 de fevereiro. O corpo do mártir, recolhido pelos cristãos, foi sepultado na casa de uma senhora muito religiosa. De lá as relíquias foram transportadas para a cidade andaluza de Ubeda, na Espanha.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF