Revista 30Dias – 03/2004
Tão livre, tão obediente
História de Gianna Beretta Molla, a primeira mãe da era moderna a ser proclamada santa.
por Stefania Falasca
Numa nota, estas linhas: «Uma coisa é certa: temos sido objeto de predileção desde toda a eternidade. Tudo se desenvolve para um fim pré-estabelecido. Para cada um de nós Deus traçou o caminho, a vocação: além da vida física, a vida da graça... A nossa felicidade terrena e eterna depende de seguirmos bem a nossa vocação. É um dom de Deus, portanto vem de Deus, devemos entrar nesse caminho: primeiro, se Deus quiser, segundo, quando Deus quiser, terceiro, como Deus quiser. As dificuldades são muitas, mas com a Sua ajuda devemos caminhar sempre sem medo. Que se morrêssemos na luta pela nossa vocação, esse seria o melhor dia das nossas vidas”.
Gianna escreveu essas poucas linhas em um caderno escolar quando tinha dezoito anos. Ela morreu antes dos quarenta anos. Oferecendo sua vida pela de sua quarta filha. Ela será canonizada no dia 16 de maio. Ela é a primeira mãe da era moderna a subir às honras dos altares.
Uma “kamikaze da vida”, alguns não hesitaram em defini-la, argumentando sobre a adequação da sua causa. Outros, porém, devido ao seu gesto heróico como mãe, fizeram dela uma defensora dos antiaborto. Mas quantas mães admiráveis fizeram o mesmo sacrifício... Não. Este último ato por si só não pode ser a chave de tudo. Quando Paulo VI, recolhendo informações sobre a sua vida, expressou a esperança de vê-la nos altares, não tinha outro propósito senão mostrar-nos um caminho muito simples. Nenhum outro desejo senão deixar-nos sequestrar, mergulhando plenamente no próprio coração da santidade cristã. Através da experiência diária desta mulher.
A extraordinária história de Gianna Beretta Molla começa aqui.
Não poderemos fazer o bem se não tivermos a graça dentro de nós
“Uma mulher muito normal”, descreve o marido, o engenheiro Pietro Molla. «Equilibrada, inteligente, moderna. Ela respeitava sua profissão, amava as montanhas, gostava de roupas bonitas, flores e música. Em sua vida Gianna nunca buscou a renúncia pela renúncia, ela não fez, na minha opinião, nem pretendia fazer nada fora do comum, excepcional. Não sabia que tinha uma santa ao meu lado...". Estas foram as suas primeiras palavras depostas no interrogatório do julgamento. Afinal, como podemos culpá-lo «se por santidade entendemos fazer grandes coisas, penitências extraordinárias». “Na vida da minha esposa”, acrescenta ele, “não houve nenhum”. Até as fases da sua vida são as de muitos. Depois de terminar o ensino médio, matriculou-se na Universidade Estadual de Milão, em 1949 formou-se em medicina e cirurgia, em 1950 abriu uma clínica em Magenta, em 1952 especializou-se em pediatria, em 1955 casou-se. Família e trabalho. Estas foram suas ocupações diárias até sua morte.
Gianna cresceu em uma família numerosa. Com um pai e uma mãe de quem deixa um legado de fé simples e bela. Três de seus irmãos abraçarão a vida religiosa. Dois se tornarão médicos e um deles partirá como missionário para o Brasil, fundando um hospital. E foi para seguir os seus passos que se matriculou na medicina. Tanto que, ao terminar os estudos, chega a pensar em se juntar ao irmão como médico voluntário. Antes de decidir, pede conselho ao pároco. “Mas por que você quer ir tão longe?” ele lhe pergunta: «Tem muitos malucos que se casam e você, sendo uma boa filha, quer ir embora?». Escreveu ao irmão: «Não virei ao Brasil por enquanto, Deus providenciou de outra forma». Em 54, num concerto de fim de ano, conheceu Pietro. No ano seguinte eles se casam. Eles vão morar em Ponte Nuovo, perto de Magenta. Ele trabalha como gerente em uma fábrica. Numa das suas primeiras cartas, escreveu-lhe: «Querido Pedro, o Senhor ama-me muito. Eu estou realmente feliz. Tudo o que somos e temos é apenas uma dádiva da Sua bondade divina. Aqui está o segredo da felicidade: viver momento a momento, momento a momento, abandonando-nos sem reservas à ação da Sua graça."
As
crianças chegaram uma após a outra. “Estávamos envelhecendo”, diz o
marido, “e Gianna não queria ser uma mãe muito velha para eles”. A cada
nascimento, como agradecimento, enviava ofertas, fruto de suas economias, ao
irmão missionário no Brasil. «Desde o início da nossa união» diz o marido
«havíamos decidido que cada um de nós não poderia mudar de emprego, eu como
gerente industrial e ela como médica, e isso foi conseguido sem confrontos,
exceto pelos sacrifícios necessários em ambos lados ». Gianna continua
assim a praticar incansavelmente o seu trabalho como médica até ao
fim. «Ela era muito respeitada e querida pelos seus pacientes» recorda a
enfermeira que a atendeu. «Sempre disponível para todos, mesmo quando era
chamada com urgência à noite, mesmo na última gravidez sempre esperou
prontamente. Lembro-me de uma vez que ela recebeu três ligações na mesma
noite. Muitas vezes traziam os doentes para esperá-la ao pé da escada, por
gentileza para com ela e sua condição. Se o paciente fosse pobre, Gianna,
além da visita gratuita, dava-lhe remédios ou dinheiro. Continuou a cuidar
dos doentes com naturalidade e dedicação até ao dia anterior à sua última
entrada na clínica.” Numa nota Gianna escreve: «Quão precioso é o nosso
trabalho. Temos oportunidades que o padre não tem... temos corpos para
cuidar, mas quando os remédios não servem mais, há a alma para levar a Deus”.
Fonte: https://www.30giorni.it/