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quarta-feira, 6 de março de 2024

Jejum e Ascese

Jejum e Ascese (Cléofas)

Jejum e Ascese

 POR PROF. FELIPE AQUINO

01 de março de 2024

Na Bíblia tem um significado profundo a prescrição do jejum, ou seja privação de alimento ou bebida com um fito religioso. Trata-se de uma homenagem a Deus, acompanhada de preces. É um ato, portanto, de fé e de notável humildade.

Jesus mesmo jejuou quarenta dias e quarenta noites (Mt 4,2), enquanto seus discípulos não se entregavam a esta prática e o questionaram a respeito. Sua resposta foi esta: “Podem porventura jejuar os companheiros do esposo, enquanto o esposo está com eles? Todo o tempo que têm consigo o esposo não podem jejuar. Mas virão os dias em que lhes será tirado o esposo; e então nesses dias jejuarão” (Mc 2,18-21). Segundo os melhores biblistas isto mostra que o verdadeiro jejum é o da fé, isto é, a privação da presença visível de Jesus e sua permanente busca por entre as incongruências da vida. Entretanto, enquanto o cristão espera a volta de seu Redentor há lugar para práticas físicas do jejum penitencial como uma maneira de mortificar o corpo e dispor o espírito para as ascensões espirituais. Há, de fato, valores espirituais de rara valia nesta maneira de agir. Hoje, na Igreja Católica, o jejum está restrito a dois dias:

Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa, mas o espírito penitencial deve abranger todos os dias do ano, sobretudo as sextas-feiras, o que necessariamente não se trata de uma mera abstenção de algum alimento. Qualquer ato penitencial se traduz numa disciplina de vida, num auto domínio na relação corpo-espírito. Toda austeridade redunda em benefício espiritual. A própria resistência ao sofrimento que é sublimado com uma aplicação em benefício próprio e alheio é de extrema valia. Não se trata nem da busca de um condenável angelismo, nem ainda de um funesto masoquismo que seriam desvios lamentáveis. Atitudes duras e incontroladas fogem inteiramente da mortificação evangélica. A verdadeira penitência começa no interior de cada um com a repulsa absoluta do pecado. Exteriormente ela é antes de tudo e sobretudo o cumprimento exato do dever de cada hora, sempre penoso, fatigoso. Seria um grave erro alguém se entregar a grandes sacrifícios, mas fugindo das obrigações cotidianas de seu estado de vida. Adite-se que o necessário exercício da caridade traz consigo louváveis abstenções como o suportar o próximo, o se privar de algo não necessário à saúde e drenar tal economia para a ajuda ao mais necessitado, o esforço muitas vezes penoso de se ir ao encontro de quem padece. Deixar a comodidade para socorrer quem precisa, eis aí o que, realmente, agrada muitíssimo a Deus. O desapego dos bens materiais é outra forma de penitência. Como ensina o Apóstolo Paulo a ambição lança o batizado na ruína e na perdição (1Tm 6,8-9). É que isto impede a busca de Deus que foi sempre a meta de todos os que procuraram a perfeição prescrita por Cristo.

A acesse, assim concebida, é transformadora e imprescindível para o progresso espiritual do epígono de Jesus. É a renúncia colocada a serviço dos valores maiores. Ao se purificar através da mortificação, o cristão saboreará grande paz e até seus sentidos servir-lhe-ão de instrumentos para a posse mais total de Deus. O verdadeiro cristão antecipa a vida gloriosa do céu onde todo o ser é espiritualmente transformado, uma vez que passa a não viver escravizado às exigências corporais, porque tem total domínio sobre si mesmo. No fundo de toda esta experiência está o desejo de união com Jesus paciente e padecente o que sobretudo os mártires realizaram em plenitude. Não se trata, pois, de uma fuga do mundo, mas de uma transfiguração no mundo e das coisas temporais em vista a um bem maior que é o reino de Deus. Eis por que o autêntico asceta tem muito mais facilidade de se entregar à oração, pois está muito mais apto para as realidades do espírito. A mortificação é deste modo a prova definitiva do compromisso de secundar os dons salvíficos que o Espírito Santo oferece para a construção de um mundo menos materializado, no qual se realize inteiramente o vasto e rico projeto divino da felicidade de todos.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Fonte: https://cleofas.com.br/

A amizade na Exortação Apostólica Christus Vivit

Exortação Apostólica Christus Vivit (Pastoral da Juventude)

A AMIZADE NA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA CHRISTUS VIVIT

Dom Antônio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

A pastoral juvenil abraça a totalidade das dimensões da pessoa do jovem, dentre elas, estão as dimensões socioafetiva, vocacional, lúdica, sexual. Uma pastoral juvenil que não dá a devida importância para essas dimensões, não considera seriamente a pessoa do jovem com seus múltiplos dinamismos, potenciais, anseios e necessidades.  

A experiência da amizade é um fenômeno que perpassa todas essas dimensões. Nesta Exortação Apostólica, o Papa Francisco evidencia a experiência da amizade como um dos ingredientes imprescindíveis de uma autêntica Pastoral Juvenil por se tratar de uma realidade profundamente humana, sinal de maturidade e de abertura aos outros, bem como de crescimento na fé.   

 Buscar a amizade de Jesus 

A Exortação Apostólica pós-sinodal sobre a juventude, Christus Vivit (2019), parece ser o documento com maior abundância de citações sobre a Amizade como experiência humana a ser necessariamente considerada pela evangelização. Jesus fez a experiência dela, cuidou da amizade com os seus discípulos e, até nos momentos de crise, permaneceu fiel a eles (cf. CV, 31).  

Os discípulos de Jesus Cristo são chamados a testemunhar muitas virtudes, dentre elas, a beleza da generosidade, do serviço, da pureza, da fortaleza, o perdão, a luta pela justiça e o bem comum, o amor aos pobres, a amizade social (cf. CV, 36). Portanto, a experiência de crescimento no seguimento de Jesus promove o ser humano estimulando-o a cultivar virtudes. Logo, evangelizar os jovens implica também a promoção da educação moral como consequência da prática da fé.   

Nos jovens de hoje encontramos muitas feridas na alma consequentes de desejos frustrados, das discriminações, de injustiças sofridas, do sentimento de culpa por ter errado; a todos eles Jesus quer oferecer-lhes a sua Amizade, o alívio da sua companhia sanadora (cf.CV, 83). A experiência da plenitude da juventude é encontrada através da amizade com Jesus (cf. CV, 150). Jesus Cristo é aquele eternamente jovem e amigo por excelência da humanidade (cf. CV, 13); “Jesus é o vivente eterno; agarrados a Ele, viveremos e atravessaremos, ilesos, todas as formas de morte e violência que se escondem no caminho” (CV, 127). 

 A amizade é dom de Deus 

Deus é amigo, próximo à humanidade; “Deus é amor!” por isso quem entra em intimidade com Ele torna-se também capaz de Amar (cf. CV, 111-117). A gratuidade do amor nos leva a aprofundar a natureza da amizade. “A amizade é um presente da vida e um dom de Deus” (CV, 151).  

Através dos amigos, o Senhor purifica-nos e faz-nos amadurecer; os amigos fiéis, permanecem ao nosso lado nos momentos difíceis e são um reflexo do carinho do Senhor com sua consolação e amorosa presença. Ter amigos ensina-nos a abrir-nos, a compreender, a cuidar dos outros, a sair da nossa comodidade e isolamento, a partilhar a vida (cf. CV, 151).  

 A natureza da Amizade 

A amizade, porque deriva do Amor, é consistente e dinâmica. Não é “uma relação fugaz e passageira, mas estável, firme, fiel, que amadurece com o passar do tempo. É uma relação de afeto que nos faz sentir unidos e, ao mesmo tempo, é um amor generoso que nos leva a procurar o bem do amigo” (CV, 152). A amizade é tão importante para Jesus que não quis chamar seus discípulo de servos, mas de amigos (cf. CV, 152). Estava a ressaltar a importância da relação de reciprocidade. Onde há amizade, há amor recíproco. 

Na experiência da Amizade os jovens crescem no sentido de fidelidade, cuidado, solidariedade, tolerância, paciência, atenção às necessidades uns dos outros. A amizade é um dos mais significativos produtos da maturidade humana.    

 Deus é amor 

Encontramos na Sagrada Escritura muitas declarações profundas sobre o amor de Deus para com a humanidade; são declarações de amizade eterna. Por exemplo, às vezes Deus se apresenta como aqueles pais carinhosos que brincam com seus filhos: «Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto» (Os 11,4); «Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebê, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria» (Is 49,15). 

Amizade marcada pela fidelidade indissolúvel: «Eis que Eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos» (Is 49,16); «Ainda que os montes sejam abalados e tremam as colinas, o meu amor por ti nunca mais será abalado, e a minha aliança de paz nunca mais vacilará» (Is 54 10); «Amei-te com um amor eterno. Por isso, dilatei a misericórdia para contigo» (Jr 31,3); «És precioso aos meus olhos, te estimo e te amo» (Is 43,4). 

Amizade poderosa que gera alegria: «O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa» (Sf 3,17). Amizade de Deus para com a humanidade é real, verdadeira, concreta, que nos proporciona a possibilidade do diálogo sincero e fecundo (cf. CV,117). Por isso, afirma o Papa Francisco: “quero recordar-te: Deus ama-te. Nunca duvides disto na tua vida, aconteça o que acontecer. Em toda e qualquer circunstância, és infinitamente amado” (CV,112).  

 Da oração à amizade social 

A pastoral juvenil é experiência de amizade com Deus e com os outros que promove a dilatação da dimensão socioafetiva. Por isso ela não deve ser reduzida à liturgia e muito menos à doutrinação. “A amizade com Jesus é indissolúvel. Nunca nos deixa, embora às vezes pareça calado” (CV, 153). “Com o amigo, conversamos, partilhamos as coisas mais secretas. Com Jesus, também conversamos. A oração é um desafio e uma aventura” (CV, 155). O Papa nos convida a pensar a oração como experiência de amizade com Deus. 

«O cristianismo não é um conjunto de verdades em que é preciso acreditar, de leis que se devem observar, de proibições. Apresentado assim, repugna. O cristianismo é uma Pessoa que me amou tanto que reclama o meu amor” (CV, 156). “Proponho aos jovens irem mais além dos grupos de amigos e construírem a amizade social: «buscar o bem comum chama-se amizade social. A inimizade social destrói. E uma família destrói-se pela inimizade. Um país destrói-se pela inimizade. O mundo destrói-se pela inimizade… Sede capazes de criar a amizade social” (CV, 157). 

 A importância de espaços de amizade 

O Papa Francisco nos estimula a pensar na importância de oferecer aos jovens espaços onde possam entrar e sair livremente, encontrar-se espontaneamente em clima de confiança com outros jovens e festejar as suas alegrias. Esse ambiente rico de afeto propício para a experiência da amizade são os oratórios e os centros juvenis (cf. CV 218, 226-228). São João Bosco costumava dizer que o Oratório “é casa que acolhe, paróquia que evangeliza, escola que encaminha para a vida, e pátio onde os jovens se encontram como amigos e vivem com alegria”. 

A experiência da amizade promove o intercâmbio de riquezas pessoais e possibilita reforçar competências sociais e relacionais. A vivência de grupo constitui um grande recurso para a partilha da fé, a ajuda mútua, o apostolado e a experiência de amizade (cf. CV, 219).

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Os outros são nossos (1)

Os outros são nossos (Opus Dei)

A amizade e a amabilidade são o terreno fértil para a correção fraterna; Deus atua em nossas relações para tirar o melhor de cada um.

07/06/2021

Jesus volta a Cafarnaum e, assim que entra na cidade, aproxima-se dele um centurião. A cena surpreende os circunstantes porque não era habitual que um membro do exército romano se dirigisse com tanto respeito e consideração a um judeu: “Senhor, meu servo está em casa, de cama, paralítico, e sofre muito” (Mt 8, 6). O soldado, embora fosse um homem habituado a ter controle sobre o seu ambiente, sabe que há muitas áreas da vida sobre os quais não pode exercer domínio. Embora o seu trabalho seja estabelecer alguma ordem, sabe que há muitas coisas importantes que estão fora da sua alçada. Não duvida, por isso, em pedir ajuda. Jesus, que conhece as suas disposições interiores, nem sequer espera que ele faça o pedido: “Eu irei e o curarei” (Mt 8, 7). Santo Agostinho, ao comentar esta passagem do Evangelho, diz que “a humildade foi a porta por onde Jesus entrou para tomar posse daquilo que já possuía”[1].

Uma família implicada na luta

O Senhor fica comovido com o fato de o chefe romano, apesar do seu poder e de suas insígnias, reconhecer que ajudar o criado a quem tanto considera, não está ao alcance das suas forças. O centurião manifesta publicamente que não é capaz de conseguir tudo. Esta atitude de considerar-se necessitado é, de alguma forma, parte de todo caminho de santidade: reconhecemo-nos fracos, sabendo que Deus é o protagonista principal e que, para realizar a sua obra, conta com a colaboração das pessoas que colocou em nosso caminho. Como acontece com aquele criado, as nossas feridas também esperam ser curadas e as nossas dores esperam os cuidados de outro. “Esta solidariedade fraterna não é uma figura retórica, um modo de dizer, mas parte integrante da comunhão entre os cristãos. Se as vivemos, somos no mundo sinal, ‘sacramento’ do amor de Deus (...). É uma comunhão que nos torna capazes de entrar na alegria e no sofrimento do próximo para os tornar sinceramente nossos”[2].

Na Santa Missa, por exemplo, reconhecemos esta realidade e pedimos a toda a Igreja que reze por nós: “Confesso a Deus todo poderoso e a vós irmãos e irmãs, que pequei (...) E peço (...) a vós, irmãos e irmãs, que rogueis por mim a Deus, Nosso Senhor”[3]. Não se trata, na verdade, de nada extraordinário, porque todos nascemos dependendo dos outros. Não viemos ao mundo por decisão própria, não podemos subsistir sozinhos, nem sequer poderíamos falar sem uma comunidade que nos acolhesse. A necessidade dos outros faz parte da nossa natureza. São João da Cruz diz, por isso, que quem se isola “é como o carvão aceso que está sozinho: irá esfriando mais do que queimando... E o cego que cai não se levantará sozinho; e se levantar, andará provavelmente por onde não convém”[4].

Quando recebemos a colaboração do próximo, colocamo-nos numa situação semelhante à do centurião que pede ajuda ou do servo que é curado. É o que acontece, por exemplo, com a correção fraterna. Este costume evangélico consiste em que outra pessoa, tendo-o considerado na oração com Deus, e também talvez pedido conselho a outro, oferece-nos uma sugestão para melhorar em algum aspecto concreto da nossa vida (cfr. Mt 18, 16-17). Este auxílio nos dá a segurança de nos sabermos parte de uma família, e que todos são parte da nossa luta. A correção fraterna é, por isso, o contrário da crítica, da murmuração ou da difamação. Enquanto naquelas há julgamento e condenação, na ajuda fraterna há um abraço que acolhe o próximo tal como ele é e o impulsiona rumo ao futuro.

A melhor versão de cada um

O objetivo da conversão permanente que a vida cristã implica não constitui, de certa forma, em nos transformar em pessoas diferentes do que somos, e sim chegar a ser, com a graça de Deus, a melhor versão de nós mesmos. Os santos não foram convidados a despersonalizar-se, mas a modelar as suas próprias características, pessoais e únicas, com o amor de Cristo. São Paulo, por exemplo, depois de converter-se, não foi convidado a diminuir o seu zelo pelas coisas divinas, mas a canalizá-lo para a verdadeira plenitude. Cada um de nós possui características particulares queridas por Deus, tem um passado, viveu num ambiente social concreto, possui um modo de ser singular... Deus não quer destruir tudo isto, e sim divinizá-lo, convertê-lo em instrumento da sua missão. E uma das formas mais importantes de que ele dispõe para transformar-nos pouco a pouco é através das nossas relações, através das pessoas que deixamos entrar em nossa vida e que também são estimuladas por Deus a procurar essa melhor versão de cada um de nós.

Limitaríamos a ação e os planos de Deus se pensássemos que só podemos receber a sua ajuda através da leitura da sua palavra ou dos sacramentos. Sem dúvida, são dois âmbitos privilegiados onde a sua graça nos é transmitida, mas Jesus afirma claramente a importância do que o próximo também pode fazer por nós; muito mais: Cristo é o próximo (cfr Mt 25, 40; Lc 10, 16). A própria encarnação, que permitiu que Jesus transformasse a vida dos seus mais próximos através da amizade, recorda-nos o valor de salvação das relações pessoais, corpo a corpo, com os outros. “Deus muitas vezes se serve de uma amizade autêntica para realizar a sua obra salvadora”[5]. Na história da salvação vemos que Deus sempre atua num povo, numa comunidade, numa família, num grupo de amigos; pensar que a santidade prescinde do que os outros podem fazer por nós pode constituir um sintoma de isolamento, que não será fecundo. Por isso é natural que, num ambiente de amizade, surja a correção fraterna: aí todos estão empenhados em despertar o melhor de cada pessoa, sem se deter em detalhes de pouca importância, mas preocupando-se com esse profundo desejo de santidade que, pouco a pouco, redunda em diferentes manifestações da vida diária.

O Papa nos recordava que “a santificação é um caminho comunitário, de dois em dois (...). Há muitos casais santos, em que cada um foi um instrumento de Cristo para a santificação do cônjuge. Viver ou trabalhar com outros é sem dúvida um caminho de desenvolvimento espiritual. São João da Cruz dizia a um discípulo: vives com outros ‘para que te cultivem e exercitem’ (...). A comunidade que preserva os pequenos detalhes do amor, onde os membros cuidam uns dos outros e constituem um espaço aberto e evangelizador, é lugar da presença do Ressuscitado que a vai santificando segundo o projeto do Pai”[6].

Cada ajuda é um presente

O centurião do evangelho tem consciência de que está pedindo a Jesus um favor. Sabe que se o Senhor decidir entrar em casa de um pagão deverá purificar-se depois, de modo que não exige nem a ida nem o milagre. E é esta atitude que obtém o prodígio de Jesus: o centurião se torna amável para Cristo. Dizemos que uma pessoa é amável precisamente quando, embora não exija o carinho, embora não seja uma obrigação entrar em sua casa, ainda assim queremos ter esse detalhe com ela. Ser pessoas amáveis nos insere em uma espécie de estrutura na qual uns colaboram com outros cheios de franqueza. “Ser amável não é um estilo que um cristão possa escolher ou rejeitar (...). O amor amável gera vínculos, cultiva laços, cria novas redes de integração, constrói uma trama social firme. Assim se protege a si mesmo, já que sem sentido de pertença não se pode sustentar uma entrega aos outros”[7].

Algumas formas de melhorar nesta atitude podem ser: não ter vergonha de pedir ajuda, ter disponibilidade para ouvir, dar a conhecer os nossos gostos sem os impor, compartilhar as preocupações e sonhos... O “ambiente de amizade, que cada um está chamado a levar consigo, é o fruto da soma de muitos esforços por tornar a vida agradável para os outros. Ganhar mais afabilidade, alegria, paciência, otimismo, delicadeza e todas as virtudes que tornam a convivência amável é importante para que as pessoas possam se sentir acolhidas e felizes”[8]. Tudo isso gera na pessoa um modo de ser que, embora não seja fácil de descrever com palavras, é fácil de perceber. Quando uma pessoa cultivou a amabilidade é fácil aproximar-se dela, dialogar, ter delicadezas e também dizer-lhe com sinceridade o que pensamos.

É mais fácil ter carinho à pessoa com quem se pode falar abertamente, ainda que as suas fraquezas sejam evidentes ou que tenhamos poucas coisas em comum. Todos temos experiência de que há pessoas para quem é mais fácil sugerir algo. Agradecem isso sempre, seu rosto reflete a paz com que recebem o que dissemos e talvez notemos o impacto que a nossa pequena contribuição teve em suas vidas. Não ficam na defensiva porque percebem que quem tenta ajudar não está atacando. Não acham que o seu valor esteja sendo questionado porque o lugar em que surge a correção fraterna é a comunidade cristã, o lar, a família, e aí nos amam pelo que somos, não pelo que fazemos bem ou mal. A dificuldade para nos deixarmos ajudar pode esconder, pelo contrário, uma pretensão de sermos amados como a pessoa que talvez não sejamos. Também é importante por isso alimentar permanentemente o terreno no qual pode surgir essa ajuda: compartilhar o desejo de santidade leva consigo compartilhar muitas outras coisas: aspirações, preocupações e alegrias.

Quem cultiva essa disposição de ser amável, de facilitar a ajuda dos outros, assombra-se também com mais frequência diante do seu carinho e costuma agradecer a obra de misericórdia que é a ajuda ou a correção fraterna. As crianças pequenas ficam surpreendidas porque não consideram garantidos os gestos de amor. Certa vez, São Josemaria confiava aos seus filhos: “Ultimamente estou pedindo mais do que nunca ao Senhor – e o estou pedindo à Virgem Maria – para ser pequeno, fazer-me criança. Na vida humana exterior, fortes e rijos, mas na vida espiritual, pequenos. Assim não teremos soberba quando nos fizerem uma correção. Agradeceremos a ajuda para ser melhores. De outra forma, ficaríamos chateados”[9]. Se vamos nos tornando crianças, eliminaremos as barreiras que nos isolam dos outros; criaremos um ambiente amável no qual é fácil perceber que uma correção é um presente, uma ajuda gratuita. Com ajuda de Deus ouviremos o que Jesus diz ao centurião e que realiza o milagre da cura do criado: “Vai, seja-te feito conforme a tua fé (Mt 7, 13).

***

Desejamos ajudar muitas pessoas e só o conseguiremos se soubermos contar com o apoio dos outros. São Josemaria dizia por isso que cada pessoa, “além de ser ovelha (...), de algum modo é também Bom Pastor”[10]. Para alcançar a cura do seu amigo, o centurião precisou reconhecer a sua necessidade; para ser bom pastor, teve que experimentar ser ovelha. Então será uma realidade o que a Escritura diz: “um irmão ajudado por seu irmão é como uma cidade amuralhada” (Pr 18, 9). Não podemos reduzir a caridade ao que nós fazemos pelos outros já que há também muito amor atrás da aceitação de uma mão amiga. Agradecer a realidade de viver rodeados por pessoas que querem que sejamos a melhor versão de nós mesmos abre-nos à conversão, que é fundamento de santidade. Dizia Santa Teresa de Jesus: “Dada a condição de nossa natureza, é impossível que tenha ânimo para grandes coisas quem não entende que é favorecido por Deus”[11]. E o favor de Deus nos chega também através das relações com as pessoas que nos rodeiam.

Diego Zalbidea e Andrés Cárdenas M.


[1] Santo Agostinho, Sermões, 6, 2.

[2] Francisco, Audiência geral, 6 de novembro de 2013.

[3] Missal Romano, Ato penitencial.

[4] São João da Cruz, Avisos y sentencias, 7; 11.

[5] Mons. Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 1 de novembro de 2019, n. 5.

[6] Francisco, Gaudete et exultate, nn. 141-144.

[7] Francisco, Amoris Laetitia, nn. 99-100.

[8] Mons. Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 1 de novembro de 2019, n. 9.

[9] São Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 2-X-1970.

[10] São Josemaria, Cartas 25, n. 30.

[11] Santa Teresa de Jesus, Vida, 10, 3.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Papa Francisco: quem cede à soberba está longe de Deus

Audiência Geral de 06/03/2024 - Papa Francisco (VATICAN MEDIA)

"Aproveitemos esta Quaresma para combater a nossa soberba". Esse é o convite que o Papa dirige aos fiéis presentes na Praça São Pedro para a Audiência Geral desta quarta-feira (06). Em sua catequese dedicada a este vício, Francisco sublinha que "por trás desse mal está o pecado original, a absurda pretensão de ser como Deus".

https://youtu.be/pQ9iQmkrVx8

Thulio Fonseca - Vatican News 

Com um significativo aumento das temperaturas, sinalizando o fim do inverno no hemisfério norte, a Praça São Pedro voltou a receber nesta quarta-feira, 06 de março, milhares de peregrinos para a Audiência Geral. Antes da catequese, o Papa saudou os presentes a bordo do papamóvel e recebeu calorosas demonstrações de afeto por parte dos fiéis.

Francisco, que ainda se recupera de um resfriado, antes de seu discurso, lido por mons. Pierluigi Giroli, proferiu algumas breves palavras:

"A catequese de hoje será lida por um dos meus ajudantes, porque ainda estou resfriado e não consigo ler bem. Muito obrigado!"

A décima reflexão do Santo Padre no ciclo de catequeses sobre os vícios e as virtudes foi dedicada ao pecado da soberba.

De todos os vícios, a soberba é a grande rainha

No texto, o Papa define o soberbo como “alguém que se acha muito mais do que realmente é; alguém que se agita para ser reconhecido como maior que os outros, quer sempre ver seus méritos reconhecidos e despreza os outros considerando-os inferiores.” Ao recordar o vício da vanglória, tema da última reflexão, Francisco enfatiza que "é uma doença infantil" quando comparada a destruição de que a soberba é capaz:

“Analisando as loucuras do homem, os monges da antiguidade reconheciam uma certa ordem na sequência dos males: dos pecados mais grosseiros, como a gula, para chegar aos monstros mais perturbadores. De todos os vícios, a soberba é a grande rainha. [...] Quem cede a este vício está longe de Deus, e a correção deste mal exige tempo e esforço, mais do que qualquer outra batalha para que o cristão é chamado.”

Absurda pretensão de ser como Deus

Na raiz da soberba, prossegue o Papa, “reside a absurda pretensão de ser como Deus”. Este vicio arruína as relações humanas, envenena o sentimento de fraternidade e revela uma série de sintomas:

“O soberbo é altivo, propenso a julgamentos, desdenhoso, em vão emite sentenças irrevogáveis ​​contra os outros, que lhe parecem irremediavelmente ineptos e incapazes. Na sua arrogância, esquece-se que Jesus nos deu poucos preceitos morais nos Evangelhos, mas em um deles mostrou-se intransigente: não julgueis.”

Sintomas de um soberbo

Segundo Francisco, quando lidamos com uma pessoa soberba, quando, fazendo-lhe uma pequena crítica construtiva, ou uma observação completamente inofensiva, ela reage de forma exagerada, fica furiosa, grita, interrompe relações com outros de uma forma ressentida:

“Há pouco que se possa fazer com uma pessoa cheia de soberba. É impossível falar com ela, muito menos corrigí-la, porque em última análise ela não está mais presente consigo mesma. Com ela basta apenas ter paciência, porque um dia o seu prédio desabará.”

Audiência Geral com o Papa Francisco (VATICAN MEDIA)

O Pontífice acrescenta o exemplo do apóstolo Pedro que, confiante, diz a Jesus: "Mesmo que todos te abandonassem, eu não o faria!", mas se descobre tão temeroso quanto os outros quando se depara com o perigo da morte:

“E assim o segundo Pedro, aquele que já não levanta o queixo, mas chora lágrimas salgadas, será curado por Jesus e estará finalmente apto a suportar o peso da Igreja. Antes, exibia uma presunção que era melhor não ostentar; agora, em vez disso, é um discípulo.”

A salvação passa pela humildade

Por fim, o Papa enfatiza que o verdadeiro remédio para todo ato de soberba é a humildade. “No Magnificat, Maria canta ao Deus que com o seu poder dispersa os soberbos nos pensamentos doentios dos seus corações”:

"É inútil roubar algo de Deus, como os soberbos esperam fazer, porque em última análise Ele quer dar-nos tudo."

"Portanto, queridos irmãos e irmãs, aproveitemos esta Quaresma para lutar contra a nossa soberba", concluiu o Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Rosa de Viterbo

Santa Rosa de Viterbo (A12)
06 de março
Santa Rosa de Viterbo

Viterbo, próximo a Roma, Itália, é uma cidade importante para a igreja, pois abrigou conclaves e serviu de refúgio para diversos Papas. Ali nasceu Rosa, em 1233, de família pobre e humilde. Seus pais a educaram desde cedo na Fé. Ela nasceu sem o esterno, osso maior e central na parte anterior do tórax, e em teoria estava condenada a morrer em três anos, pois nestes casos não há sustentação suficiente para o esqueleto.

Desde tenra infância possuía dons místicos. Aos três anos, rezou ao lado do caixão de uma tia e esta ressuscitou. Entende-se que esta foi também uma ressurreição para a fé de Viterbo, na época em que havia duro confronto entre o partido dos guelfos, que apoiavam o Papa Inocêncio IV, e o dos guibelinos, apoiando o imperador Frederico II, autoritário e abusando dos seus poderes.

Rosa vivia asceticamente, buscando a oração e penitências. Aos sete anos, vítima de uma febre, apareceu-lhe Nossa Senhora, que a curou e confiou uma missão: visitar as igrejas de São João Batista, Santa Maria do Oiteiro e São Francisco, e pedir admissão na Ordem Terceira de São Francisco. Aos 11 anos procurou o Convento de Santa Maria das Rosas, mas as freiras a recusaram, pela falta de estudo e constituição frágil, sem o esterno. A santa menina lhes disse: “A donzela que repelis hoje há de ser por vós aceita um dia, com alegria, e a guardareis preciosamente”. Rosa então transformou seu quarto numa cela de religiosa e assim viveu os seus últimos anos de vida.

No ano de 1247 Viterbo, fiel ao Papa, caiu nas mãos do imperador Frederico II, herege cátaro (ou albigense, professando o dualismo – um Deus bom e um deus mal –, a reencarnação e uma suposta “pureza superior” para os escolhidos, manifesta no celibato). Após uma visão de Cristo crucificado, Rosa, com 12 anos, foi impelida a sair às ruas, pregando contra os hereges com um crucifixo nas mãos. Atraía multidões tão grandes que por vezes não era possível vê-la; numa destas ocasiões, levitou até uma altura suficiente, o que foi confirmado por milhares de testemunhas e noticiado por toda a Itália. Em consequência das pregações, ocorreram conversões, retorno de hereges à Igreja, e a reconciliação com o Papa.

Denunciada ao imperador, a quem também questionava, Rosa foi levada a ele, que a proibiu de pregar. Sua resposta foi, “Quem me manda pregar é muito mais poderoso e, assim, prefiro morrer a desobedecê-Lo”. Frederico mandou prendê-la, mas temendo uma revolta na cidade, deportou-a com seus pais para Soriano nel Cimino, aonde chegaram depois de muitas privações na neve. Mas tanto ali quanto em outra cidade, Vitorchiano, Rosa já era conhecida, foi muito bem recebida e continuou sua missão. Na noite de quatro para cinco de dezembro, ela teve uma visão da morte do imperador, de fato ocorrida no dia 13.

Em 1250 Viterbo voltou ao domínio papal, e Rosa para lá retornou como heroína. Mas contraiu uma doença e faleceu com 18 anos, provavelmente em 6 de junho de 1251, sendo sepultada na terra nua, próximo à igreja de Santa Maria no Poggio.

A exumação do corpo, pedida pelo Papa Inocêncio IV, revelou-o intacto, incorrupto e flexível. Foi então transladada para o Mosteiro das Clarissas (renomeado depois para Mosteiro de Santa Rosa), hoje seu Santuário. Assim, Rosa acabou aceita, como dissera, neste convento. Apesar de um incêndio em 1357, seu corpo, até então incólume, continua incorrupto.

Excepcionalmente, Santa Rosa de Viterbo tem duas festas litúrgicas oficiais, 6 de março na sua morte, ou início da vida celeste, como para todos os demais santos, e 4 de setembro, data da sua transladação em 1258. Desta ocasião, ficou tradicional a procissão com a Máquina de Santa Rosa, uma estrutura de madeira e tecido sempre mais cuidada. A festa é atualmente reconhecida pela UNESCO como patrimônio mundial da humanidade.

 Santa Rosa é padroeira da Juventude Franciscana e da Juventude Feminina da Ação Católica Italiana, e também dos exilados.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O que sustenta a nossa vida não depende dos ossos e da carne, mas da comunhão com Deus; não do esterno do esqueleto nem do externo à Fé; buscar a intimidade com o Senhor e a ortodoxia dos Seus ensinamentos na Igreja é tarefa de todo cristão, desde a infância até o momento da morte física. Poucas obras são tão importantes, especialmente em ocasiões de crise espiritual na Igreja – como hoje acontece por exemplo por causa da herética “Teologia da Libertação” – do que o ensinamento correto da Doutrina e da Verdade, como fez Santa Rosa de Viterbo. O pão espiritual é muito mais importante do que o pão material, pois o corpo morre cedo ou tarde, em melhores ou piores condições, mas inevitavelmente; porém à alma é destinada a vida infinita, e para ela só há céu ou inferno, de modo definitivo. O corpo doente de Santa Rosa faleceu, e antes sofreu provações na pobreza e dificuldades, mas nele o reflexo incorrupto da sua alma em santidade dá ainda hoje o testemunho muito concreto de que fundamental é unicamente o destino do espírito.

Oração:

Senhor, que nunca nos deixais faltar o que realmente importa para a verdadeira Vida, seja ao corpo ou à alma, concedei-nos por intercessão de Santa Rosa de Viterbo a coragem e o ardor de viver e proclamar firmemente a Fé, sem temor dos poderes deste mundo, pois só assim estaremos de fato fazendo o Bem, ajudando os irmãos a chegarem a Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 5 de março de 2024

Cinco vezes em que a ciência confirmou que a vida começa na fecundação

Imagem referencial | Flickr Zappys Technology Solutions (CC BY 2.0)

Em que momento começa a vida humana? Há décadas, a ciência teve uma resposta clara: na fecundação, a união de um óvulo e um espermatozoide.

Abaixo, cinco ocasiões nas quais a ciência garantiu que a vida humana começa na fecundação.

1. "O desenvolvimento de um ser humano começa com a fecundação"

Em 1975, a terceira edição do famoso livro Medical Embryology (Embriologia Médica), de Jan Langman, explicou que “o desenvolvimento de um ser humano começa com a fecundação, um processo pelo qual duas células altamente especializadas, o espermatozoide masculino e o óvulo feminino, se unem para dar origem a um novo organismo: o zigoto”.

A edição mais recente desse livro, de 2015, ensina que “o desenvolvimento começa com a fecundação”.

2. O óvulo fertilizado é "o princípio" do ser humano

O livro Essentials of Human Embryology (Fundamentos da Embriologia Humana), de Keith Moore, publicado em 1988, concorda que “o desenvolvimento humano começa depois da união dos gametas masculino e feminino ou células germinais durante um processo conhecido como fecundação (concepção)”.

O óvulo fertilizado, conhecido como zigoto, diz o livro, “é uma grande célula diploide que é o principio, o primórdio do ser humano”.

3. Um estudo publicado por 'Nature'

“O ciclo de vida dos mamíferos começa quando um espermatozoide entra em um óvulo”, disse um estudo publicado em 2010 na revista 'Nature' por Yukinori Okada e outros cientistas, intitulado “A role for the elongator complex in zygotic paternal genome demethylation”.

4. Na fecundação produz-se "um indivíduo geneticamente distinto"

Uma pesquisa feita por Janetti Signorelli e outros cientistas em 2012 concluiu que “a fertilização é o processo pelo qual os gametas haploides masculinos e os gametas haploides femininos (espermatozoides e óvulos) se unem para gerar um indivíduo geneticamente diferente”.

5. "O embrião tem características humanas inequívocas"

Em 2015, na última edição de seu livro 'The Developing Human: Clinically Oriented Embryology' (O Desenvolvimento Humano: Embriologia Clinicamente Orientada), os cientistas Keith Moore, TVN Persaud e Mark Torchia disseram que “o desenvolvimento humano é um processo contínuo que começa quando um óvulo feminino é fertilizado por um espermatozoide masculino”.

“O desenvolvimento humano começa na fertilização, quando o espermatozoide penetra em um óvulo para formar uma célula única, o zigoto”, escreveram.

Segundo os cientistas, “todas as principais estruturas externas e internas são estabelecidas entre a quarta e oitava semana” e “o surgimento das extremidades superiores são reconhecíveis nos dias 26 ou 27 como pequenos inchaços nas paredes ventrolaterais do corpo”.

No final da oitava semana, disseram, “o embrião tem características humanas inconfundíveis; entretanto, a cabeça ainda é desproporcionalmente grande, constituindo cerca da metade do embrião”.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Tão livre, tão obediente - Parte 3

Gianna, no sétimo mês de sua última gravidez, segura dois de seus filhos nos braços (30Giorni)

Revista 30Dias – 03/2004

Tão livre, tão obediente

História de Gianna Beretta Molla, a primeira mãe da era moderna a ser proclamada santa.

por Stefania Falasca

Na manhã de 21 de abril de 1962, ela deu à luz Gianna Emanuela. «Quando ela acordou da anestesia trouxeram-lhe a menina», diz o marido: «Ela olhou para ela e acariciou-a durante muito tempo, em silêncio...». Naquela Sexta-Feira Santa começou sua paixão. O que se temia não demorou a se manifestar: peritonite séptica. Nada poderia ser feito para salvá-la. Naqueles últimos dias, no meio de dores atrozes, ela continuou a oferecer-se humildemente, rezando, invocou a sua mãe no céu e pediu que não lhe fossem dados medicamentos, para permanecer consciente. Virgínia, a irmã freira, recorda assim os últimos momentos: «Entrei no quarto e fiquei sozinha com ela. Antes mesmo de beijá-la ela me disse: "Ginia, você está aqui... se você soubesse o que significa morrer e deixar para trás quatro filhos pequenos... Não deixe que eles te mandem para longe... eles Preciso de você agora". Ela me pediu para trazer sua comunhão. Mas não consegui encontrar o padre, então entreguei-lhe o meu crucifixo. Ela o abraçou contra o peito e o beijou com uma ternura indescritível."

«Nós a levamos para casa, para seu leito nupcial. Como ela queria”, lembra. “Meu querido Jesus, eu te amo” foram suas últimas palavras. Aos primeiros raios do amanhecer, sua respiração tornou-se difícil. Ela ouviu as vozes das crianças que naquele momento estavam acordando na sala ao lado. Seus olhos se encheram de lágrimas... ela sorriu e depois morreu. Era a manhã do dia 28 de abril, domingo em albis . O corpo permaneceu exposto por três dias. Em silêncio, uma interminável procissão de trabalhadores, médicos, doentes, sacerdotes, membros da Ação Católica, toda a população de Magenta e de outros concelhos, apressou-se a saudá-la. “Nunca esperei tanto pelas confissões como naqueles três dias”, diz o pároco no seu depoimento. “Antes de se despedirem do médico pela última vez, muitos, principalmente os homens, que raramente se viam na igreja, sentiram necessidade de se confessar”. Em seu funeral, um rio de pessoas esperou de joelhos a passagem de seu caixão. 

O impossível tornou-se possível

Gianna continuou a fazer o bem lá de cima. Quinze anos após sua morte foi como missionária para o Brasil. Precisamente no hospital de Grajaú, no Maranhão, onde seu irmão frade capuchinho exercia a profissão de médico. No dia 22 de outubro de 1977, o Padre Alberto Beretta não estava no hospital. A notícia da cura milagrosa de uma mulher que deu à luz, por intercessão de sua irmã, chegou até ele quando estava na Itália. É o milagre que levou Gianna à sua beatificação em 24 de abril de 1994. O segundo milagre, novamente no Brasil, no Estado de São Paulo. Em 11 de janeiro de 2000, a senhora Elisabete Arcolino Comparini foi internada devido à perda total de líquido amniótico no quarto mês de gestação. Nestes casos o resultado é selado. Morte do feto resultando em aborto espontâneo ou terapêutico devido a perigo imediato para a vida da mãe. Mas depois de implorar pela ajuda de Gianna, a gravidez, sob o olhar atônito dos médicos, continuou e até chegou ao fim. «Na literatura científica mundial não existem casos registados de sobrevivência fetal após ruptura das membranas na décima sexta semana de gestação; tanto a evolução quanto o desfecho favorável com o nascimento de uma menina completamente saudável são absolutamente inexplicáveis", relata o especialista do Conselho Médico, professor Elio Cirese, chefe de obstetrícia e ginecologia do hospital Fatebenefratelli de Roma e professor da Universidade de Roma Tor Vergata. Em foto, anexada aos autos do julgamento, a brasileira segura sua pequena Gianna Maria nos braços. O depoimento da mulher termina com estas palavras: «Cada vez que ia ao hospital fazer visitas sentia o coração da menina bater e isso dava-me forças para continuar. Todo mundo ficava me dizendo: isso não é possível. Eles me disseram: é impossível. O médico italiano... queria segurar minha mão lá de cima. Deus me amou. E hoje ainda falo desse “impossível” que se tornou “possível”.

 Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF