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sexta-feira, 8 de março de 2024

São João de Deus

São João de Deus (A12)

08 de março

São João de Deus

João Cidade Duarte nasceu em 08 de março de 1495, em Montemor-o-Novo, próximo de Évora, Portugal. Seu pai era vendedor de frutas, e a família modesta. Aos oito anos, não se sabe ao certo se fugiu ou se foi levado de casa, e conta-se que por isso sua mãe morreu de tristeza e saudade pouco depois. O pai viúvo se fez monge franciscano em Xabregas, Lisboa, falecendo em 1520.

Sabe-se que João foi levado a pé para Madri, Espanha, caminhando com saltimbancos e mendigos. Perto da cidade de Toledo, um viajante o entregou a Francisco Majoral, administrador dos rebanhos do Conde de Oropesa, afamado por ser caridoso. Nessa época o menino recebeu o apelido de “João de Deus”, porque ninguém sabia quem ele era e de onde vinha. Ali João foi acolhido quase como filho, e trabalhou como pastor de ovelhas. Por volta dos seus 27 anos, Francisco quis casá-lo com sua própria filha, mas João não desejava isto. Sem saber o que fazer, fugiu e iniciou uma vida errante na Europa e na África.

Com 22 anos, soldado no exército de Carlos V, lutou na batalha de Paiva contra Francisco I, na reconquista de Feunterrabia aos Franceses, nos Pirineus. Desentendeu-se porém na tropa, sendo acusado de irregularidades e expulso. Volta assim a ser pastor em Oropesa, na casa de Francisco, até 1532, quando se alista novamente para combater os turcos em Viena. Mas em 1533 retorna a Montemor-o-Novo, onde não foi reconhecido. Afinal um tio lhe comunica a morte dos pais; segue então para Sevilha, Espanha, onde novamente trabalhou como pastor.

Muda-se para Ceuta, à época cidade lusitana no norte da África, servindo heroicamente a uma família portuguesa de seis pessoas, exilada e adoentada, sustentando-a com seu trabalho nas obras de fortificação das muralhas da cidade. Teve uma crise espiritual quando um amigo decidiu abraçar o islamismo, decidindo voltar para a Espanha. Assim, em 1538 vende livros como ambulante em Gibraltar, estabelecendo depois uma livraria em Granada. Apaixonou-se pelos livros, especialmente os com imagens sacras, entendendo-os como uma ajuda para a oração e a fé.

Em 1539, na festa de São Sebastião, 20 de janeiro, ouve a pregação de João d’Ávila, futuro santo e Doutor da Igreja. Ocorre então a sua verdadeira adesão à Fé, tão intensa que começou a gritar pedindo perdão e misericórdia a Deus pelos seus pecados. Vendeu ou distribuiu tudo o que possuía e deu aos pobres, queimou os livros imorais e passou a se penitenciar publicamente, percorrendo a cidade ferindo o peito com pedras e manchando o rosto com lama; pedia esmola para os necessitados, com o que se tornou um lema: “Fazei o bem, irmãos, a vós mesmos, ajudando os pobres”. Acharam que estava louco e o internaram no Hospital Real de Granada, um hospício, onde o tratamento aos pacientes era desumano, conforme (em parte) a ignorância da época sobre doenças mentais. Sofrendo cruelmente ele mesmo, percebeu então a vocação que Deus lhe dava, a de cuidar destes irmãos.

Acolhido, auxiliado e aconselhado por João d’Ávila, saiu do hospício em 1539 e visitou o mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe, para aprender o cuidado aos doentes. Voltou a Granada e alugou uma casa, onde atendia com amor e de forma adequada aos pobres e enfermos. A Casa Hospitalar de João de Deus começou a dar frutos, curando muitos doentes mentais, para espanto da sociedade de então. Nascia assim uma Ordem religiosa, que ele veio a chamar de Ordem dos Irmãos Hospitaleiros.

Ajudava também, voluntariamente, aos internados no hospício. Ganhou simpatia, e finalmente conseguiu fundar a “Casa de Deus”, à qual se dedicou totalmente, um hospital para doentes incuráveis e moléstias contagiosas. Foi o primeiro a separar os doentes de acordo com as enfermidades e oferecer uma cama para cada interno. Pedia constantemente esmolas para o sustento da obra, com o seu antigo lema, adotando outro para os tratamentos: “Pelos corpos, às almas”. Antes de 1547 ganha dois ajudantes, e passam todos a usar um manto com uma cruz vermelha. Neste ano chegam mais discípulos, e o hospital é transferido para o prédio maior de um antigo convento na Encosta de Los Gomeles. No ano seguinte vai a Valladolid pedir auxílio ao príncipe, Felipe II, que lhe concede grandes esmolas. Logo inicia ali também uma “rede de assistência”. De volta a Granada, paga dívidas do hospital e consegue dotes matrimoniais para dezenas de mulheres.

Nos anos seguintes, arriscando a vida, salva os doentes de um incêndio no Hospital Real, fica gravemente doente mas esconde o fato dos médicos para não ser impedido de trabalhar, salva um garoto de afogar-se num rio – o que lhe agrava a broncopneumonia. Por obediência muda-se então para a casa da família Pisa, onde fica mais confortável. O arcebispo o visita e promete manter o hospital.

A Ordem dos Irmãos Hospitaleiros foi confirmada, sob a regra de Santo Agostinho, em 1571, pelo papa Pio V. João tinha a convicção de que a cura espiritual auxiliava a cura física, e muitos dos seus pacientes foram testemunha disso. O sucesso da obra levou à fundação de mais de 80 casas-hospitalares na Europa, inicialmente para doentes mentais e terminais, depois para todos os doentes. Atualmente a Ordem Hospitaleira de São João de Deus é um instituto religioso internacional presente em 53 países (incluindo o Brasil), e são conhecidos popularmente como “Irmãos dos Enfermos” e “Fazei-o-bem-irmãos”.

São João de Deus faleceu em Granada, no dia 08 de março de 1550, ao completar 55 anos. É padroeiro dos doentes e hospitais junto com São Camilo, e dos enfermeiros e suas associações católicas.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

“Fazei bem, irmãos, a vós mesmos, ajudando os pobres”. Nada mais certo, porque é necessário ver a face de Cristo no rosto dos mais pobres, Seu corpo chagado no corpo dos enfermos. Esta é a verdade que vemos e ouvimos de um santo, como o mesmo João de Deus a ouviu de São João d’Ávila – e levou a sério. Sem dúvida curar os doentes e resgatar a dignidade dos mais necessitados é uma forma de louvor a Deus, em Cristo, que sofreu por nós; mas São João não esqueceu de que a cura da alma era fundamental para a cura do corpo, e a precedia. Por isso, nos Princípios Institucionais da sua Ordem, estão incluídos as diretrizes: o centro de interesse é a pessoa assistida, nunca o lucro; por isso, é obrigação atender às necessidades espirituais dos moribundos; assim é realizada a defesa (integral) e a promoção da vida humana, pois ela se continua para além da morte física, tendo sua plenitude em Cristo. Uma vida atribulada sem dúvida pode causar tribulação também na alma, mas nem por isso é desculpa para se esquecer a caridade, como nos mostra a vida de São João de Deus. Ele também nos exemplifica o valor dos bons livros, que conduzem a Deus, e a importância de eliminar os que ensinam coisas pecaminosas, uma parte muito concreta da sua verdadeira conversão. Facilitar e divulgar a boa literatura, que não contraria a Igreja nem ofende a Deus com comportamentos, filosofias, ideias e ideais errados é uma necessidade para a saúde espiritual da cultura atual. Muito depende disso a conformação das sociedades no futuro próximo, se curadas em Deus ou moribundas no pecado.

Oração:

Deus Pai de bondade, que desejas a cura espiritual para os que praticam a caridade e para os que a recebem, dai-nos a graça de, por intercessão de São João de Deus e como ele, sermos os Vossos braços no zelo pelo cuidado dos irmãos, no corpo e na alma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 7 de março de 2024

Tomás de Aquino segundo Chesterton: “um frade colossal”

Wikipédia | Domena publiczna
Por Claudia Elena Rodríguez publicada em 08/06/22
Esta biografia permite-nos desfrutar da pena do escritor inglês GK Chesterton ao serviço de um dos santos mais extraordinários da Igreja Católica: São Tomás de Aquino.

Tomás de Aquino (1225-1274) foi uma criança extremamente quieta. Ele ficou tão calado que só abriu a boca para perguntar aos professores: o que é Deus?

Chesterton deduz que certamente não ficou satisfeito com o que responderam, pois dedicou toda a sua vida para encontrar a resposta. E para registrá-lo em pergaminhos, muitos pergaminhos... toneladas de pergaminhos!, já que “ele escreveu livros em quantidade suficiente para afundar um navio”.

O leitor deve estimar que só a Summa Theologica (sua obra principal), em sua versão original, tem cerca de três mil páginas; Mas não se deixe intimidar, porque você pode obter ótimos resumos de quinhentas páginas.  

De uma família aristocrática

São Tomás veio ao mundo no meio da realeza. Nasceu no castelo de Rocasseca (Itália), seus pais eram condes de Aquino e era parente da nata da aristocracia europeia do século XIII.      

Seu pai , o conde Landolfo, logo percebeu que Tomás tinha vocação religiosa, então planejou para ele um futuro muito grande dentro da Igreja.

Os planos que tinha para o seu filho mais novo, muito inteligente e tranquilo, eram fabulosos, mas Tomás ia surpreendê-lo...

Mas que loucura é isso!

O conde Landolfo, e toda a ilustre família De Aquino, ficaram estupefatos quando este lhes comunicou que se tornara frade mendicante da Ordem dos Pregadores, ou seja, dos Dominicanos .  

Sim, aos dezenove anos tornou-se um frade humilde, daqueles que na Idade Média usavam sandálias e pedia esmola na rua.

Tal decisão não foi simplesmente recebida com um “Oh, que decepção!” Foi um grande escândalo que Chesterton compara assim: “ era como se o primogênito de uma família nobre chegasse em casa e informasse com indiferença que havia se casado com uma cigana ” (pág. 48). Todos tentaram dissuadi-lo, mas ele permaneceu muito firme na sua decisão.

Chesterton diz que Thomas deixou bem claro que não queria ser abade, prior, ou superior, nem jamais ocupar qualquer cargo de comando em sua comunidade, queria apenas ser frade, ocupar o lugar mais baixo.

Mas a sua família sofreu, porque para eles era “ como se Napoleão tivesse insistido em permanecer um soldado comum durante toda a sua vida ”.

Resgatando Tomás

A família fez todo o possível para salvá-lo do que considera um erro gravíssimo. Para isso, recorreram a situações extremas, como, por exemplo, tentar fazer com que uma cortesã o tentasse.

Noutra ocasião, quando viajava na companhia de frades dominicanos, apareceram alguns bandidos e raptaram Tomás.

Descobriu-se que dois dos bandidos eram seus próprios irmãos, que o levaram de volta ao castelo, tiraram o hábito " ...e o trancaram em uma torre como um lunático ." Ele ficou lá por vários meses, orando, lendo e escrevendo até conseguir escapar.

Ele foi o melhor cérebro de seu tempo

Finalmente, deixaram de persegui-lo, e ele entrou para estudar na Universidade de Paris, onde seus colegas o apelidaram de “ O Boi Mudo ”, devido à sua figura corpulenta e ao silêncio sepulcral.

No entanto, eles logo ficaram impressionados com sua enorme inteligência.

Tomás amou apaixonadamente a sua fé católica e dedicou-se a estudá-la, a ordená-la e a defendê-la em todos os cenários; sim, sempre respeitando os adversários.

Porque ele era “ …aquele tipo de homem que odeia odiar o próximo; e ele nem se acostumou a odiar as ideias odiosas dos outros ” (Página 126).

Seu legado, chamado “Tomismo”, é monumental. Esta biografia destaca que foi ele quem conciliou a religião com a razão , demonstrando que não há oposição entre elas, pois ambas são dádivas de Deus.

Grande filósofo e um dos teólogos mais importantes de todos os tempos, é um pilar fundamental do pensamento católico.

Os seus ensinamentos são essenciais na doutrina da Igreja, tanto que, se revisarmos o Catecismo , encontraremos muitos tópicos onde São Tomás é citado.

Para Tomás ninguém era idiota

Um homem tão sábio e famoso como Tomás de Aquino recebeu muita correspondência onde era consultado sobre o divino e o humano.  

Numa carta, alguém lhe perguntou: “Os nomes de todos os bem-aventurados estão escritos num pergaminho e exibidos no céu?” O santo respondeu: “Até onde posso ver, não é assim; mas não custa nada dizer” (Página 113).

Esta anedota revela muito sobre o ser humano dentro deste grande santo italiano. Em primeiro lugar, vemos um homem humilde e generoso, que não desperdiçou nenhuma oportunidade de servir o próximo .

Além disso, ao dizer “Não custa nada afirmar”; Mostra o bom senso que o caracterizava e um coração bondoso que tratava a todos com luvas de pelica.  

Chesterton, grande admirador de Thomas

GK Chesterton menciona diversas vezes quão complexo é tentar esboçar a figura de uma pessoa da estatura de São Tomás, doutor da Igreja e patrono de todas as universidades e escolas católicas.  

Este livro contém uma história profunda (com um certo nível de exigência), mas divertida, que dá conta tanto da grandeza intelectual do santo como da sua dimensão humana; temperado com a inteligência e erudição características de Chesterton.

Cérebro e coração a serviço da obra de Deus

Propor-se escrever tantas páginas (estima-se que sejam mais de sessenta mil), é um desafio impensável para qualquer um.

Agora, escrever tanto, sobre temas tão complexos e fazê-lo da maneira brilhante que fez, no espaço de cerca de 25 anos – desde que morreu aos 49 – é simplesmente colossal .

Tomás de Aquino era um homem de grande constituição física, grande inteligência, grande humildade, enorme paciência, amor infinito ao próximo e “obediente até nos sonhos”. Concluindo, quando Deus pensou em Tomé, ele pensou grande.

Esta biografia traça o perfil de um homem cuja inteligência excepcional intimida; mas também, a um belo ser humano, que deu tudo por amor à Verdade... e a Verdade preencheu completamente o seu ser . A seguinte anedota demonstra isso:  

Enquanto estava na igreja de São Domingos, em Nápoles, saiu uma voz da imagem de Cristo e disse ao frade que ele havia escrito muito bem; e perguntou-lhe o que ele queria como recompensa por seus esforços. Tomé respondeu: “Só você, Senhor”.

O futuro da Aleteia depende da generosidade dos seus leitores.

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Fonte: https://es.aleteia.org/

Os outros são nossos (2)

Os outros são nossos (Opus Dei)

Os outros são nossos (2)

A correção fraterna é um fruto da proximidade com a outra pessoa e pressupõe vê-la com a amplitude com que Deus a vê.

15/06/2021

“Chegou, pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da propriedade que Jacó tinha dado a seu filho José” (Jo 5,5). Esta viagem e este momento em particular tinham sido cuidadosamente planejados por Jesus. Queria que a sua sede e a sede da samaritana pudessem se encontrar junto do poço. É um ambiente propício ao dom, tudo ali tem sabor de oferenda: a natureza, o poço, a água... No entanto, Jesus procura um dom maior: quer a alegria e a paz de uma alma escolhida desde a eternidade, embora nos últimos tempos, um tanto fugidia ao coração de Deus.

A proximidade é o estilo de Deus

São Josemaria dizia que “mais do que em 'dar', a caridade está em 'compreender'”[1], em tomar consciência dos problemas e dificuldades dos outros. Quando procuramos ter esta atitude, as pessoas ou as suas dificuldades não são alheias a nós, mas sim parte de nós mesmos. Cristo não ficou fazendo cálculos de tempo ou oportunidade para ir ao encontro da samaritana. Quem cuida do outro reconhece o dom que cada um é, contempla a imagem de Deus que há nele, a infinidade do amor com que Jesus a ama. Cada um de nós é um dom para os que estão perto, e descobrir isto é o primeiro passo para podermos nos ajudar mutuamente. Jesus reconhece o dom que é a vida da samaritana e por isso lhe pede de beber. Tem sede do seu amor.

O Papa vê a origem desta atitude no fato de Jesus, anos antes, ter querido ser batizado como um de nós, embora não precisasse: Cristo vai ao encontro do outro para o compreender, para o acompanhar, e não o ajuda apenas exteriormente. “No primeiro dia do seu ministério, Jesus oferece-nos assim o Seu manifesto programático. Ele diz-nos que não nos salva de cima, com uma decisão soberana ou um ato de força, um decreto, não: salva-nos vindo a nós e assumindo os nossos pecados. É assim que Deus vence o mal do mundo: abaixando-se, e assumindo-o sobre si mesmo. É também o modo como podemos elevar os outros: não os julgando, não lhes dizendo o que fazer, mas estando perto deles, partilhando o amor de Deus. A proximidade é o estilo de Deus para conosco”[2].

O fundador do Opus Dei dizia que “a correção fraterna é parte do olhar de Deus, da Sua providência amorosa”[3]. Quem cuida do seu irmão não julga os outros: procura olhar para eles como Deus olha, e por isso, todos lhe parecem um tesouro, procura guardá-los como algo precioso. “A correção fraterna nasce do carinho. Manifesta que queremos que os outros sejam cada vez mais felizes”[4]. Esta certeza de procurar a sua felicidade envolve-nos na vida deles com o máximo respeito à sua liberdade, porque só assim o amor é verdadeiro. Ajudar um irmão nosso no caminho da santidade tem mais a ver com uma calorosa e paciente noite de vigília, em que se espera a ação de Deus, do que com uma fria supervisão. “Supervisar refere-se mais ao cuidado da doutrina e dos costumes, enquanto velar se refere mais ao cuidado de que haja sal e luz nos corações. Vigiar fala de estar alerta para o perigo iminente, enquanto velar fala de acompanhar, com paciência, os processos em que o Senhor vai gerindo a salvação do Seu povo”[5].

O coração das pessoas importa

“Quando vocês fizerem uma correção fraterna, devem amar os defeitos dos seus irmãos”[6], dizia também São Josemaria. Cuidar não é só curar uma pequena ferida, mas olhar para a pessoa toda, amá-la no tempo, projetada até ao céu. Neste sentido, é no coração do homem que se forjam as boas ou as más ações, em conjunto (cf. Mt 15,19): isso é o que nos interessa de forma especial, mais do que pequenos detalhes que muitas vezes podem ser parte de uma maneira de ser. Quem quer ajudar não fica preso no exterior, não avalia um aspecto isoladamente, mas olha para os acontecimentos à luz desse desejo de santidade do outro, tirando as sandálias, porque está no mais profundo da sua alma (cf. Ex 3, 5). Uma correção fraterna exprime, de certa forma, a atitude de quem quer ajudar a descobrir os dons que Deus quer nos dar nas mil e uma batalhas diárias: “Se conhecesses o dom de Deus” (Jo 4, 10). Toda a ajuda se deve apresentar assim, como uma lente para descobrir o dom que há em cada luta. Na correção fraterna, devemos ser como alguém que vela ternamente pela santidade do outro, não como alguém que vela pelo cumprimento de “certas atividades-padrão que nos tenhamos imposto como tarefa”[7].

Jesus, por exemplo, não se detém nas questões periféricas da vida da samaritana. Vai ao núcleo da dor dessa alma predileta. Através da conversa, Jesus vai conduzindo-a àquela verdade que já não a envergonha. É por isso que ela regressa à aldeia e conta a todos como se sentiu libertada: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?” (Jo 4, 29).

Jesus ensina-nos que o olhar de Deus é integrador. Sabe ascender do aparentemente insignificante até ao espiritual, grande e relevante. É paciente, vê tudo como parte do conjunto de toda uma vida. “Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade (…). É um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós”[8]. Este olhar não se detém apenas em detalhes de pouca importância, não os aumenta, pelo contrário, enche-se de esperança para grandes horizontes e, se for o caso, assim o transmite. Sabe que está cumprindo um desejo expresso de Jesus, por isso tenta fazê-lo como Ele o faria: “vai corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás ganho o teu irmão” (Mt 18, 15).

Através da correção fraterna, apoiamos um irmão nos seus desejos de santidade concretos e diários. Não é uma correção à totalidade da pessoa, pois Deus é que atua em cada um, mas precisamente o contrário: é uma confirmação de que a santidade é compatível com essa debilidade. Estas palavras de São João Crisóstomo podem ajudar-nos: “O Senhor não diz: Acusem, discutam, procurem vingança, mas sim, corrijam”[9]. Transmitimos aos outros o nosso apreço pela sua luta, reconhecemos os seus sentimentos, apoiamo-los nessa batalha. Com a nossa ajuda, recordamos-lhes que também contamos com a sua. Em cada correção fraterna, há uma admiração discreta pelo nosso irmão e pelo trabalho da graça na sua alma.

Fruto da amizade

Para criar um contexto em que este apoio seja possível, precisamos ter interesse sincero, proximidade, cuidado real pela vida do outro. Quem presta favores de irmão e conhece os outros em profundidade pode construir uma relação de mútua e verdadeira amizade. A correção fraterna é um fruto natural deste solo cultivado com paciência. Além disso, a empatia é necessária para poder entrar no coração dos outros. Este serviço não se pode realizar a partir de fora, nem de longe. Nos nossos dias, as operações cirúrgicas de grande precisão são realizadas com instrumentos capazes de atuar no interior do doente, sem necessidade de cirurgias invasivas. Poderia dizer-se que um irmão que cuida de outro procura ir delicadamente até ao lugar sagrado que é o coração, sem invadir essa intimidade.

É também indispensável conhecer bem a pessoa que se vai corrigir. Há disposições de temperamento que nos tornam muito diferentes uns dos outros, e que São Josemaria considerava parte central desse “numerador muito diverso”[10] de pessoas, no Opus Dei e na Igreja. Não é justo pensar que essa diversidade de reações só tem a ver com a humildade de quem recebe a correção fraterna, ou com a sua suscetibilidade. Para alguns, as palavras, mesmo as mais delicadas, soam facilmente a reprovação; a esses, Jesus coloca-os diante da sua verdade com suavidade e elogios. Fê-lo, por exemplo, com aquela mulher que Lhe ungiu os pés, em casa de Simão, o fariseu (cf. Lc 7, 36-50). Para outros, funciona ao contrário, se as palavras não são especialmente claras, sentem falta de interesse e de afeto verdadeiros. Marta precisou ouvir duas vezes o seu nome para descobrir que ela também podia escolher a melhor parte, no seu trabalho (cf. Lc 10, 38-42). Tomé precisou da proximidade física do Senhor para voltar a ser o Apóstolo fiel que daria a vida pelo seu Mestre (cf. Jo 20, 26-29). Para o bom ladrão, a emenda chegou sob a forma de um presente inesperado: naquela mesma tarde, ele estaria com Jesus no Paraíso (cf. Lc 23, 39-43). E a samaritana precisou de tempo, de uma conversa calma e tranquila, num lugar isolado: a sós com Jesus. Não há duas pessoas iguais no Evangelho, e também não há duas reações iguais naqueles que nos rodeiam.

“Quando temos alguma coisa que não está bem, ajudam-nos com essa bendita correção fraterna, que requer um carinho muito sobrenatural e muita força, porque às vezes custa-nos muito praticar a correção fraterna. Avisam-nos com lealdade sobre o que não está bem e dão os motivos. Por outro lado, nas tuas costas dizem que és um grande santo, melhor que um pão doce. Não é belo isto, meus filhos? Falamos de lealdade, e isto é lealdade humana. Não mentimos, não afirmamos de outra pessoa que tem excelentes qualidades que lhe faltam, mas jamais toleramos que seja criticada pelas costas. E as coisas desagradáveis dizemos assim, carinhosamente, para que as corrija”[11].

* * *

São Josemaria afirmava com grande convicção, como quem o experimentara na própria pele, tanto de forma passiva como ativa: “Convence-te: quando fazes a correção fraterna, estás ajudando com Jesus Cristo o teu irmão a levar a Cruz; uma ajuda inteiramente sobrenatural, pois a correção fraterna é precedida, acompanhada e seguida pela tua oração”[12].

Em Caná da Galileia, Maria descobre que o vinho acabou e que isso pode comprometer a alegria dos recém-casados. Como boa observadora que é, ela desencadeia uma correção materna. Procura a solução, fala com Jesus, fala aos que estavam servindo. Ajudar desta forma uma irmã ou um irmão significa obter de Cristo o melhor vinho para eles. E isto só se consegue pondo as almas junto d’Ele, falando com Jesus sobre elas, sabendo que quem mais as ama é Aquele que empreendeu a missão de as salvar.

Diego Zalbidea


[1] 1. São Josemaria, Caminho, n. 463.

[2] Papa Francisco, Ângelus, 10 de janeiro de 2021.

[3] D. Javier Echevarría, Recordações sobre Mons. Escrivá, Editora Quadrante, São Paulo, 2001.

[4] Mons. Fernando Ocáriz, Carta Pastoral, 1 de novembro de 2019, n. 16.

[5] Cardeal Bergoglio [agora: Papa Francisco], 10ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, 2 de outubro de 2001.

[6] São Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 18 de outubro de 1972.

[7] Mons. Fernando Ocáriz, Carta Pastoral, 28 de outubro de 1920, n. 6.

[8] Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2012, n. 1.

[9] São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, n. 60, 1.

[10] Há lugar para todos no Opus Dei, razão pela qual São Josemaria escreveu que embora o ‘denominador comum’ seja a busca da santidade, existem “numeradores muito diversos (autonomia), que correspondem às diferentes condições de cada caráter e temperamento, e até mesmo ao caminho diferente por onde Jesus conduzirá as suas almas”. Apontamentos Íntimos, n. 511.

[11] São Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 21-5-1970.

[12] D. Javier Echevarría, Recordações sobre Mons. Escrivá, Editora Quadrante, São Paulo, 2001.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

A Sagrada Escritura na Liturgia

Cristo continua a anunciar o Evangelho (CNBB)

A SAGRADA ESCRITURA NA LITURGIA

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Cadernos do Concílio – Volume 7 

Hoje nos debruçaremos no volume sete (7) da coleção Cadernos do Concílio, que tem como tema: “A Sagrada Escritura na liturgia” de autoria de Maurizio Compiani sob a responsabilidade do Dicastério para a EvangelizaçãoDurante a celebração da missa, a Sagrada Escritura tem um lugar importantíssimo, quando participamos de duas grandes mesas: Palavra e Eucaristia. É necessário interiorizar, entender a Palavra que foi proclamada para poder se aproximar da Eucaristia.  

Podemos ter como exemplo os discípulos de Emaús, que ouviram Jesus lhes explicar toda a Escritura, depois os olhos deles se abriram e reconheceram Jesus ao partir o pão. A liturgia da Palavra está presente em toda a ação litúrgica e não somente na celebração da Missa. A Palavra dá sentido ao mistério que está sendo celebrado.  

A Sagrada Escritura é um livro inspirador que sempre nos exorta, corrige e reanima a nossa vida de batizados. O apóstolo São Paulo diz que toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, repreender, corrigir e instruir na justiça. Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra. A Sagrada Escritura é o livro perfeito da lei, seremos felizes se a praticarmos. A Palavra, como dissemos, nos instrui e cabe a cada um seguir ou não, Deus nos fez livres e não nos quer escravos D’Ele.  

Sempre quando vamos a celebração Eucarística, a Palavra quer nos dizer algo, por isso, temos que estar atentos a Palavra proclamada e sobretudo a homilia do sacerdote que deve explicar de maneira catequética aos fiéis a Palavra que foi proclamada. Quando o sacerdote diz ao final da missa: “Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe”, começa a nossa missão e a oportunidade de colocar em prática ao longo da semana a Palavra que foi proclamada na missa.  

Na liturgia da Palavra temos os ritos iniciais e são lidos textos do Antigo e Novo Testamento, salmos e os evangelhos. Mas além da liturgia da Palavra, toda missa explica-se através da Bíblia, todos os ritos que realizamos tem sua explicação bíblica, ou seja, tudo o que acontece dentro da celebração da missa têm fundamentação bíblica. O rito da consagração e rito da comunhão foi instituído por Cristo, Ele instituiu a Eucaristia na última ceia e nos deixou como memorial seu Corpo e Sangue.  

Na liturgia católica, ao longo de três anos, lemos quase toda a Bíblia. Pois o ano litúrgico é dividido em A, B e C, onde aos Domingos tem leituras específicas para cada ano e o Evangelho é de algum evangelista sinótico (Mateus, Marcos e Lucas). Durante a semana é dividido em ano par e ímpar e as leituras, sobretudo Evangelho e salmo, variam de acordo com os anos.  

Por isso que, como dissemos acima, se formos à missa durante três anos todos os dias acompanharemos toda a Sagrada Escritura. Quando questionam se católico lê a Bíblia, devemos responder que lemos e meditamos a Palavra de Deus sim, e ainda quando dizem se não levamos a Palavra para a Igreja, devemos dizer que o que mais acontece ao longo da missa é meditar a Palavra da Salvação. Temos também textos bíblicos inseridos durante toda a Missa, desde a saudação inicial até a comunhão, e saudações finais. Em todos os sacramentos temos a leitura da Palavra, além das reuniões das pequenas comunidade e, em especial, nos círculos bíblicos. 

O motivo da divisão do ano litúrgico em A, B e C, ou par e ímpar é pastoral para que possamos ter mais contato com a Palavra de Deus. A introdução do Lecionário explica-nos: “O fato de que para os domingos e festas se proponha um ciclo de três anos é para que haja uma leitura mais variada e abundante da Sagrada Escritura, já que os mesmos textos não voltarão a ser lidos, a não ser depois de três anos”. 

A diferença entre o número de leituras no Domingo e nos dias da semana está na solenidade. O Domingo é o dia, por excelência, da Eucaristia e da reunião litúrgica. Vivemos esta solenidade, portanto, com um maior número de leituras. As missas semanais têm a característica de serem simples e breves, com poucos cantos e mais meditativas, por isso, normalmente têm uma leitura, salmo e evangelho.  

Diante dessa graça tão grande que temos de ter um contato maior com a Palavra de Deus, seja aos Domingos ou durante a semana, seja na Igreja ou até mesmo em casa, temos que estar sempre mais atentos e dóceis às Sagradas Escrituras que são lidas nas nossas liturgias. Que o Espírito Santo abra nosso coração e esta Palavra sempre produza frutos em nossas vidas. 

A Palavra de Deus é um grande “tesouro” para a Igreja, pois, por meio dela é alimentada a fé dos fiéis. A Sagrada Escritura como dissemos acima é um livro inspirado por Deus e todos os livros contidos nela foram inspirados pelo criador e aprovados pela Tradição e Magistério da Igreja. Todos os livros ali contidos servem para a edificação da fé de todos os fiéis. Certamente se algum dos livros não servissem para ajudar os fiéis a crescerem na fé não seriam aprovados pelo Magistério e tradição da Igreja.  

Dentro ainda da liturgia da Palavra temos a homilia, ela deve ser bem-preparada ao longo da semana pelo sacerdote e, sobretudo aos Domingos e solenidades e deve ter um foco especial nas leituras que foram proclamadas. O Papa Francisco demonstra uma preocupação muito grande nessa questão da homilia e nos diz na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium“é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um Pastor com o seu povo” (EG, n.135). A homilia, como nos diz o Papa, é o momento em que o sacerdote se aproxima como um “Pai” de seus fiéis, ou como o pastor que sente o cheiro de suas ovelhas.  

O Papa Francisco recomenda ainda que a homilia deve dar fervor e significado a celebração e não se sobrepor ou dominar. Diz ainda que “deve ser breve”, fazendo uma sábia gestão do tempo, a palavra do pregador, não é mais importante do que a celebração da fé, e não deve ocupar um espaço excessivo, mas respeitar a harmonia das partes e o ritmo de toda a celebração.  

A partir daquilo que nos fala esse volume sete da coleção cadernos do Concílio a Sagrada Escritura tem um papel fundamental na liturgia da Igreja. Além de ter um lugar fundamental na liturgia, ela deve ter um lugar de destaque na nossa vida, como por exemplo, meditando a Palavra diariamente e colocando a Palavra em prática no dia a dia.  

Só é possível entender a Palavra de Deus a partir do momento que criamos uma intimidade com a Palavra, ou seja, é necessário ler e meditar sempre a Palavra, pois ficará mais fácil a compreensão. O mesmo podemos dizer na preparação para as leituras que serão proclamadas na missa, a equipe litúrgica, ou até mesmo o padre, não pode ir para missa sem uma preparação prévia antes. Inclusive é prudente chegar mais cedo na Igreja, cerca de uns vinte minutos antes e rezar diante do Santíssimo Sacramento pedindo a iluminação do Espírito Santo para aquilo que vai acontecer ao longo da missa.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa: nos estudos de Tomás de Aquino, a raiz do bem social do homem

Mensagem de Francisco sobre Santo Tomás de Aquino VATICAN MEDIA)

750 anos após a morte do autor de 'Summa Theologiae', Francisco escreve aos participantes de um workshop patrocinado pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais, que explora alguns aspectos da doutrina do santo: é um autor moderno, cuja visão oferece "percepções novas e válidas para o nosso mundo globalizado, dominado pelo positivismo jurídico e pela casuística".

Alessandro De Carolis - Vatican News

O que o pensamento de um dos mais ilustres teólogos da história da Igreja tem a ver com o desenvolvimento das ciências sociais? Um investigador da relação entre fé e razão com as maneiras pelas quais as relações entre as pessoas são articuladas e crescem? Muito mais do que poderia parecer, e o Papa deixa isso claro escrevendo aos participantes de um workshop que a Pontifícia Academia de Ciências Sociais organizou nesta quinta (7) e sexta-feira (8) para discutir o tema "Ontologia Social e Direito Natural do Aquinate em Perspectiva. Aprofundamentos para e a partir das Ciências Sociais".

Não há contradição entre fé e razão

"Certamente Santo Tomás não cultivou as ciências sociais como as entendemos hoje", observa Francisco, mas, no entanto, com seus estudos, foi um precursor delas, e isso porque para ele era evidente, e afirma isso na Summa, que a pessoa, como criatura de Deus, representa "o que há de mais nobre em todo o universo". E como, em nível do pensamento, o Aquinate sustentava que Deus é "a verdade e a luz que ilumina todo o entendimento" e que, portanto, não possa haver "nenhuma contradição fundamental entre a verdade revelada e aquela descoberta pela razão", segue-se que "os bens espirituais precedem aqueles materiais e que o bem comum da sociedade precede aquele dos indivíduos".

No homem, "a inteligência de Deus"

Francisco destaca, por exemplo, a atenção que o Doctor Angelicus dedica às questões de justiça, especialmente nos Comentários, o que deixa clara a sua "influência na formação do pensamento moral e jurídico moderno". O Aquinate, recorda o Papa, afirma "a dignidade intrínseca e a unidade da pessoa humana" - tanto as virtudes do corpo como as "da alma racional" - que lhe permitem distinguir entre o verdadeiro e o falso e entre o bem e o mal". É aquela que Santo Tomás chama de "inteligência de Deus", ou seja, a "capacidade inata" de um homem "de discernir e de ordenar ou dispor os atos para seu fim último por meio do amor", também conhecida como "lei natural".

Uma visão sempre atual

E é aí que reside a modernidade do autor da e Summa, já que hoje - afirma Francisco - é essencial dar uma nova consideração a essa, como o Aquinate a chama, "inclinação natural para conhecer a verdade sobre Deus e para viver em sociedade", a fim de, acrescenta o Papa, "moldar o pensamento e as políticas sociais de forma a promover, em vez de impedir, o autêntico desenvolvimento humano dos indivíduos e dos povos". A confiança de Tomás em uma lei natural escrita no coração do homem pode oferecer, insiste Francisco, "percepções novas e válidas para o nosso mundo globalizado, dominado pelo positivismo jurídico e pela casuística", mesmo que - ele reconhece - "continue a buscar bases sólidas para uma ordem social justa e humana".

Onde nasce a Doutrina Social 

Como pensador cristão, Tomás de Aquino reconhece a ação da "graça redentora" trazida por Jesus na ação humana, que, além de seus benefícios espirituais, tem, observa Francisco, "ricas implicações" para a compreensão da dinâmica de "uma ordem social sólida fundada na reconciliação, na solidariedade, na justiça e no cuidado mútuo". Nesse ponto, o Papa cita Bento XVI em apoio, que na Caritas in Veritate afirmou que o homem e a mulher, como objetos do amor de Deus, tornam-se, por sua vez, sujeitos da caridade, chamados a refletir essa caridade e a tecer redes de caridade a serviço da justiça e do bem comum. Uma dinâmica de "caridade recebida e doada" que - ele observa - deu origem à Doutrina Social da Igreja", cujo objetivo é explorar como "os benefícios sociais da Redenção podem se tornar visíveis na vida de homens e mulheres".

Francisco conclui com um pensamento afinado com a Quaresma para reiterar que a reflexão deve sempre ser combinada com uma demonstração prática do amor cristão. "Durante estes anos de meu pontificado", escreve ele, "procurei privilegiar o gesto do lava-pés", que é "sem dúvida um símbolo eloquente das bem-aventuranças" de Jesus e "de sua expressão concreta nas obras de misericórdia". Porque "Jesus sabia que, quando se trata de inspirar o coração humano, os exemplos são mais importantes do que um fluxo de palavras".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF