Translate

sábado, 9 de março de 2024

Quem foi São Tomás de Aquino, intelectual da Idade Média que influenciou a filosofia ocidental (2)

Tomás de Aquino (retratado ao centro neste afresco de Andrea di Bonaiuto) foi um divisor de águas do pensamento humano, segundo especialistas

Quem foi São Tomás de Aquino, intelectual da Idade Média que influenciou a filosofia ocidental.

Autor, Edison Veiga

Role, De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

7 março 2024

Vida

Nascido em uma pequena cidade na província do Lácio — na época, Reino da Sicília, hoje Itália —, Tomás de Aquino era filho de um cavaleiro militar. Seus pais, o incentivaram a estudar e acabaram mandando-o para o equivalente a uma universidade da época, em Nápoles.

Foi lá que, ao que tudo indica, ele tomou contato pela primeira vez com a obra de Aristóteles. Durante esse período, acabou tendo contato com um pregador dominicano que o recrutou, aos 19 anos, para a chamada Ordem dos Pregadores — também conhecida como Ordem de São Domingos.

Seus pais foram contra o ingresso na confraria religiosa e tentaram impedi-lo. Quando os dominicanos determinaram que Tomás fosse para Roma e, de lá, para Paris, familiares dele armaram uma emboscada e o capturaram, levando-o de volta ao castelo de seus pais. Ele teria ficado detido por cerca de um ano e, conta-se, até mesmo uma prostituta chegou a ser contratada para demovê-lo da ideia da vida religiosa.

Percebendo que nada iria resolver a questão, sua mãe colaborou para que ele fugisse e retornasse aos dominicanos. Tomás de Aquino foi para Nápoles, depois para Roma e, em seguida, acabou enviado para estudar na Universidade de Paris.

Quando concluiu sua formação, em 1259, retornou a Nápoles e iniciou sua carreira como pregador dominicano. Circulou por várias regiões da península itálica e foi nesse período que escreveu sua obra principal, a ‘Suma Teológica’.

Nove anos depois, foi enviado novamente para Paris, agora como regente mestre dos religiosos que ali estudavam. Ele ficaria lá até 1272, quando obteve dos dominicanos a autorização para fundar um centro de estudos onde quisesse — escolheu Nápoles.

Professor na PUC-SP e na Faculdade São Bento, o teólogo, filósofo e jornalista Domingos Zamagna destaca à BBC News Brasil a erudição de Aquino, um onívoro cultural que buscava os saberes mais variados possíveis.

“A teologia é um esforço de conhecer Deus, e só podemos conhecê-lo, além do que ele próprio revelou, ou pela via negativa, ‘o que ele não é’, ou pela via analógica, ‘ele é semelhante a…’ Como o ser humano é ‘a imagem e semelhança de Deus’, só conheceremos Deus se soubermos profundamente o que é o ser humano”, reflete ele.

“Não deveria nos causar espanto que Tomás tenha se lançado no estudo da biologia, da política, da ética, da psicologia, da antropologia, da economia, da estética, etc., para mergulhar no que é a essência do ser humano”, acredita Zamagna.

“Para isso, estudou Aristóteles, que entendeu o ser humano dentro de uma relação unitária, contra o dualismo de Platão. Daí quis conhecer a causa última da realidade, a causa das causas, que é Deus. Daí desenvolveu o estudo propriamente teológico.”

“Ele viveu como grande intelectual, mas sempre foi visto com certa desconfiança por uma ortodoxia que não via com bons olhos a entrada do pensamento aristotélico para subsidiar os dogmas da Igreja Católica”, pontua o teólogo Moraes.

“A filosofia dele podia ser muito arriscada, porque de repente podia [ser interpretada como se viesse a] não concordar com a ideia de que Deus criou o mundo, com a ideia da imortalidade da alma... Tudo muito perigoso. Era preciso saber selecionar e, nesse sentido, o Tomás de Aquino foi mestre”.

Aquino buscou uma explicação racional para a fé. “Ele partiu da revelação, acreditava na revelação de Deus, mas dizia que o conhecimento era revelado através da fé. Como teólogo, ele usou de todo o conhecimento filosófico extraído da tradição aristotélica para fundamentar sua fé”, detalha Moraes. “Podemos dizer que, em Tomás de Aquino, a razão está à serviço da fé.”

Em 1274, foi convocado pelo papa Gregório 10º (1210-1276) para participar do Concílio de Lyon. A caminho de Roma, montado em um burro, bateu a cabeça em um galho de uma árvore tomada e ficou seriamente ferido. Tentou seguir viagem mas não conseguiu. Acabou sendo abrigado em uma abadia que havia nas proximidades.

Depois de alguns dias, não resistiu. Morreu em 7 de março de 1274, há exatos 750 anos.

Santo

Tomás de Aquino seria canonizado em 1323, pelo papa João 22 (1249-1334).

O filósofo Andrey Ivanov, professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp), comenta à BBC News Brasil que 2024 está no meio de três anos especiais para aqueles que admiram Tomás de Aquino. No ano passado, 2023, foram lembrados os 700 anos que ele passou a ser considerado santo. Neste, celebram-se os 750 anos de sua morte. Em 2025 serão recordados os 800 anos de seu nascimento.

“Em vida e logo após a sua morte, as doutrinas de Tomás não suscitaram um consenso unânime e foram duramente atacadas, sobretudo por teólogos e em particular pelos franciscanos”, comenta Ivanov.

A canonização de Tomás de Aquino também não foi uma unanimidade na cúpula católica da época. Havia um ingrediente político. João 22 tinha sido auxiliado por dominicanos no seu processo de escolha para o trono papal e, portanto, devia gratidão a esse grupo. “Uma forma de reconhecer isso era escolher um membro da ordem para ser canonizado”, conta Moraes. O nome de Aquino foi o segundo que lhe foi apresentado.

“E ele era um admirador, tinha obras suas na biblioteca e fazia uso das mesmas. Até hoje no Vaticano há textos [de Tomás de Aquino] com anotações desse papa, o que Mostar que ele tinha apreço enorme pela obra”, comenta o teólogo.

Boccato ressalta que, “apesar de ser reconhecido como grande filósofo e teólogo, e o foi”, Tomás de Aquino se notabilizou também “como um pregador, um verdadeiro contemplativo da Palavra de Deus de onde ele extraiu o sentido para sua vida”.

“Então, o fato de ele ter sido santo dá-se pelo seu esforço de, pela fé, esperança e caridade, viver de modo perfeito as virtudes teologais, mas também ser um irmão, frade, que colocou a caridade como centro de sua vida”, acrescenta ele.

Para Ivanov, “pode-se dizer que a sua santidade é a santidade da inteligência”. “Ele se santificou na sua obra de filósofo e teólogo. A sua busca da verdade natural e supranatural se identificou com sua busca de Deus”, analisa o professor.

“Ele se tornou santo, reconhecido pela Igreja, pelo fato de viver da e para a caridade e manifestá-la na relação com o próximo e traduzi-la em reflexão refinadíssima”, avalia Boccato. Para o professor, São Tomás “era um homem de profunda oração, vida comunitária, pregação e sensibilidade humana”.

“Não tenho dúvidas que a sua santidade se configura nesta articulada relação entre vida contemplativa, reflexão filosófico-teológica e apostolado, diálogo produtivo com muçulmanos e árabes”, salienta. “Tornou-se santo porque buscou viver e aplicar o evangelho no seu cotidiano e ao longo de sua vida na convivência com os confrades e no fértil apostolado.

Legado

Séculos depois, seu legado permanece. “O que acho muito bonito em São Tomás é aquilo que, a meu ver, fez o tomismo se enraizar na Igreja e se manter vivo até hoje: é essa ideia de uma cooperação entre a filosofia e a teologia, uma espécie de harmonia, a gente pode dizer, entre fé e ciência”, comenta Maerki.

“A justificativa para isso é que, para Tomás de Aquino, a razão, que é o princípio básico da filosofia, seria um estatuto criado por Deus. Então mesmo a razão que norteia o pensamento filosófico possui sua raiz com Deus. E a fé é uma espécie de revelação do próprio Deus”, explica o pesquisador. “Nesse sentido, a fé e a razão não podem se contradizer já que, segundo Tomás de Aquino, a fonte é a mesma, é o ser divino, o próprio Deus.”

Zamagna argumenta que “todos os que desejam uma prática religiosa baseada na fé mas sem abdicar das exigências racionais há de se beneficiar com o conhecimento da produção intelectual de São Tomás”.

“Não há filósofo que, mais cedo ou mais tarde, deixe de se questionar sobre a origem e o fim da vida. Só não o fará quem for preguiçoso ou pouco exigente”, diz.

“No meio de tantas buscas e respostas, o pensamento de São Tomás permanece válido e atualíssimo, corresponde a uma ajuda para responder a um dos maiores anseios do ser humano. Ser ateu é bastante fácil. Difícil é projetar-se na pesquisa para encontrar uma resposta racional às alegrias e esperanças da comunidade humana.”

Em 1879 o papa Leão 13 (1810-1903) publicou a encíclica ‘Pai Eterno’, na qual promoveu um renascimento do tomismo como sistema teológico e filosófico. “[O documento] propunha uma junção entre filosofia e teologia, entre razão e fé, como aquela que já havia sido realizada por mestres medievais, em particular por Tomás. De modo que Tomás merecia ser ensinado nos institutos e universidades da Igreja”, relata Ivanov.

“A encíclica surtiu efeitos positivos para impulsionar os estudos de filosofia medieval e novos projetos de edição das obras dos grandes mestres da escolástica, a partir naturalmente das obras de Tomás”, completa.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

O desafio da busca de sentido não obstante as controvérsias do Niilismo

O Niilismo (Almanaque SOS)

O DESAFIO DA BUSCA DE SENTIDO NÃO OBSTANTE AS CONTROVÉRSIAS DO NIILISMO

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

A questão do sentido da vida, na perspectiva da controvérsia niilista, torna-se extremamente problemática. Aparentemente, o niilista nega radicalmente o problema do sentido da vida. Entretanto, quando examinamos suas teses, apenas aparentemente ele elimina a questão do sentido. Na verdade, tudo que o niilista pretende é resolver a questão de forma inteiramente autônoma, sem nenhuma referência a valores transcendentes, ao absoluto, ou, em uma palavra, Deus. O niilista se insurge contra os valores da tradição, aposta na desagregação, contesta tudo para, em seguida, ele mesmo colocar-se naquela posição originária que não remete a nenhum fundamento, para criar novos valores, na transvalorização de todos os valores. 

Para compreender o impacto avassalador do niilismo, convém relembrar brevemente sua história. Originando-se nas controvérsias do idealismo alemão, o niilismo ganhou força na segunda metade do século XIX, tornando-se um tema central de discussão na filosofia e na literatura. Nietzsche (1844-1900), com sua afirmação da “morte de Deus”, ou seja, da derrocada das crenças tradicionais, é considerado um dos principais teóricos do niilismo. A palavra, entretanto, teria surgido pela primeira vez, em âmbito literário, com o escritor russo Ivan Turgenev (1818-1883), no romance Pais e Filhos (1862). O niilismo, etimologicamente enraizado na palavra “nihil” (nada), representa uma postura filosófica obcecada pela ausência de significado e propósito. Ao negar os valores tradicionais e transcendentais, o niilista confronta a própria essência da existência humana, lançando dúvidas sobre a validade de nossas crenças e convicções mais profundas. 

Além de sua repercussão no ambiente filosófico do século passado, o niilismo emerge em outras esferas da experiência humana. Em um mundo marcado pelo desmantelamento dos valores tradicionais e pela ascensão do vazio existencial, o niilismo emerge como um protagonista sombrio, questionando a própria razão de nossa existência neste universo aparentemente desprovido de significado. A crise de valores, a negação da humanidade do outro através das diversas formas de intolerância e violência, a alienação social são apenas algumas das consequências desse fenômeno complexo e multifacetado. À medida que a sociedade contemporânea se debate com o impacto corrosivo do niilismo, torna-se imperativo explorar suas ramificações em todos os aspectos da vida moderna. 

Em seu cerne, o niilismo desafia diretamente o problema do sentido da vida. Ao negar radicalmente qualquer fundamento transcendente, ele lança os seres humanos em um abismo de incerteza e desespero existencial. A busca por significado torna-se uma jornada solitária e desafiadora em mundo caótico e sem propósito. Não faltam exemplos desse mal-estar. Muitas pessoas vivem precariamente, enfrentando doenças, medo, desespero, negação de sua dignidade, relegadas à invisibilidade e ao anonimato, mesmo em países considerados ricos. Como encontrar significado em meio à desigualdade e à precariedade e a falta de empatia? Há uma acentuação do individualismo e uma crise de identidade que atinge também o homem religioso. Alguns experimentam a “desertificação” espiritual, não conseguindo ser testemunhas de esperança para aqueles que estão sedentos de sentido e busca por Deus. Instaura-se uma espécie de relativismo prático, em que se age como se Deus não existisse (Cf. Papa Francisco, Evangelii Gaudium [EG], n. 80).  A sensação de derrota sufoca o fervor e a ousadia de quem poderia suscitar a confiança no triunfo, mesmo em meio às adversidades e à cultura niilista da sociedade contemporânea. 

Apesar dos desafios impostos pelas novas formas de niilismo, é possível vislumbrar caminhos para além do abismo do vazio existencial. A busca por significado pessoal, a reconstrução de valores fundamentais e a exploração de formas individuais de transcendência emergem como possíveis soluções para lidar com o dilema do sentido da vida, ao invés de sucumbir ao desespero e ao vazio sem sentido. 

O niilismo permanece como um desafio urgente para a busca de sentido. Ao invés de aceitar passivamente o vazio, somos chamados a abraçar a plenitude da existência humana, encontrando significado na transcendência. Como enfatiza o Papa Francisco, na Evangelii Gaudium (n. 84), a alegria encontrada no Evangelho é tão profunda que nada nem ninguém pode roubá-la de nós (cf. Jo 16, 22). Os desafios enfrentados pelo mundo e pela própria Igreja não devem ser desculpas para diminuir nossa dedicação e fervor. Em vez disso, devemos encará-los como oportunidades de crescimento. “A nossa fé é desafiada a entrever o vinho em que a água pode ser transformada, e a descobrir o trigo que cresce no meio do joio” (EG, n. 84). Outrossim, podemos também encontrar sentido na imanência de nossas experiências ordinárias, sabendo apreciar “a alegria que se vive no meio das pequenas coisas da vida quotidiana, como resposta ao amoroso convite de Deus nosso Pai” (EG, n. 4). É possível buscar a luz no coração da escuridão, a esperança no cerne do desespero e o sentido no âmago da incerteza!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

NAZARENO: Antecipação do Paraíso no Tabor (Transfiguração e cura do endemoniado) - (33)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 33 - Antecipação do Paraíso no Tabor (Transfiguração e cura do endemoniado)

Jesus sobe ao Monte Tabor e leva consigo Pedro, João e Tiago. Enquanto reza, seu rosto muda de aparência e seu manto se torna branco e deslumbrante. E eis que dois homens conversam com ele: são Moisés e Elias e falam de seu êxodo, que está prestes a ocorrer em Jerusalém. Enquanto isso, os três apóstolos adormeceram, cansados. Quando acordam, veem sua glória e Pedro pergunta se ele pode ficar ali para sempre. Enquanto ele está falando isso, surge uma nuvem e os discípulos ouvem uma voz que diz: Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o!" No dia seguinte, quando eles descem da montanha, uma grande multidão vem ao seu encontro. Entre eles está um homem que pede ajuda para seu filho possuído por um demônio. Jesus o liberta.

Enquanto todos estão admirados com todas as coisas, ele diz aos discípulos: "O Filho do Homem está prestes a ser entregue nas mãos dos homens". Seus discípulos não entendem e começam a discutir sobre quem era o maior entre eles. Jesus entende o que está acontecendo, pega uma criança, coloca-a perto dele e diz a eles: “Aquele que receber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe a mim, e aquele que me receber recebe aquele que me enviou; com efeito, aquele que no vosso meio for o menor, esse será grande”. Em seguida, o Nazareno acrescenta: “Caso alguém escandalize um desses pequeninos que creem em mim, melhor será que lhe pendurem ao pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que haja escândalos, mas ai do homem pelo qual o escândalo vem!.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/03/08/11/137762004_F137762004.mp3


Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 8 de março de 2024

Quem foi São Tomás de Aquino, intelectual da Idade Média que influenciou a filosofia ocidental (1)

Tomás de Aquino entre Platão e Aristóteles, retratado em pintura de Benozzo Gozzoli, no século 15

Quem foi São Tomás de Aquino, intelectual da Idade Média que influenciou a filosofia ocidental.

Autor, Edison Veiga

Role, De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

7 março 2024

Para especialistas contemporâneos, Tomás de Aquino (1225-1274) foi um divisor de águas do pensamento humano. Não somente da teologia, mas também da filosofia. Em plena Idade Média, o religioso ousou beber em uma fonte pagã — os textos do sábio grego Aristóteles (384 a.C. - 323 a.C.) — para buscar explicar a existência do ser humano e a própria ideia das relações com o divino.

“Tomás de Aquino foi para sua época uma luz irradiosa e inteligente, repropondo um paradigma de mundo, na passagem do mundo antigo para a escolástica”, afirma à BBC News Brasil o teólogo e filósofo André Luiz Boccato, frade dominicano e professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

“Sua importância é tamanha que, depois dele, se convencionou chamar de ‘tomismo’ todo tipo de releitura em que se volta a Tomás para responder a problemas circunstanciais de outros momentos históricos.”

A escolástica — concilia a fé cristã com pensamento racional — foi o método crítico que vigorou nas universidade medievais europeias, sobretudo na última fase do período medieval. “Para a filosofia, o pensamento de Tomás de Aquino é fundamental e bem original”, pontua Boccato.

De acordo como professor, a principal contribuição de Aquino para o pensamento foi “a centralidade que ele deu à razão, enquanto perscrutadora do real, ao invés da crença e de uma concepção dualista de fé”.

“Ao colocar a razão, não a razão instrumental de hoje ou cientificista, mas a razão aberta à transcendência e a Deus, de um certo modo ele a encara como um infinito presente em toda criatura racional chamada à busca de sentido”, detalha.

“Uma segunda [contribuição] seria propriamente a acolhida e o desdobramento do pensamento de Aristóteles no ocidente cristão, com todas as suas consequências, nos vários campos do conhecimento filosófico”, ressalta o professor.

O pensamento aristotélico encontrava resistência no meio religioso — afinal, se tratava de um ilustre representante do helenismo clássico.

Também frade dominicano e conhecido por sua trajetória nos movimentos sociais progressistas, o jornalista e escritor Frei Betto compara a referência a Aristóteles nos tempos de Aquino como o mergulho na filosofia de Karl Marx (1818-1883) empenhado pelos religiosos da Teologia da Libertação, sobretudo nos anos de ditadura militar brasileira.

“O que me impressiona em São Tomás é como ousou basear sua filosofia e teologia em um filósofo pagão, Aristóteles”, comenta ele, à BBC News Brasil. “Assim como, séculos depois, a Teologia da Libertação encontraria seu instrumental de análise da realidade em Marx e [Friedrich] Engels [(1820-1895)]. Tomás teve a vantagem de beber na filosofia grega no momento em que árabes islâmicos a tornavam conhecida no Ocidente. Por isso levantou suspeitas de alguns prelados.”

Frei Betto acrescenta que “a densidade política do pensamento” de Aquino fez com que a Igreja Católica pudesse “adotar várias de suas teses revolucionárias, como o tiranicínio, a ignorância invencível, a prevalência da consciência sobre as leis”.

Para ele, foi impregnado desse pensamento que religiosos brasileiros lutaram contra o regime militar. “Foi graças ao pensamento de Tomás que, na década de 1960, um grupo de frades dominicanos do Brasil [inclusive o próprio Frei Betto] apoiou a luta armada contra a ditadura militar, o que nos valeu quatro anos de cárcere como ‘terroristas’”, justifica.

Teologia e filosofia

Boccato ressalta que Tomás de Aquino aprofundou e dialogou com “todo o pensamento aristotélico”. “A saber: metafísica, física, ética, política, estética, ciência medieval, etc.”, enumera.

Para o professor, uma terceira contribuição do pensador foi a maneira como ele aprendeu de seu mestre, Alberto Magno (1193-1280), “a positividade do conhecimento científico advindo da realidade e sua verdade própria”.

“Conseguiu distinguir a capacidade humana de conhecer a realidade em sua essência, sem desvincular da visão cristã sedimentada na criação e na fé”, afirma.

“Ele procurou construir sua teologia sobre princípios filosóficos muito sólidos, foi buscar um solo firme para a sua filosofia e buscou princípios racionais para tentar mostrar como a revelação poderia ser compreendida pelos homens”, contextualiza o filósofo, teólogo e historiador Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Segundo Moraes, “nesse sentido há uma relação muito intensa entre filosofia e teologia”, e isso faz com que a obra de Aquino “seja profundamente inovadora” quando se pensa na época em que ele viveu.

“Tanto do ponto de vista teológico como filosófico, Tomás de Aquino é um divisor de águas, um marco muito importante”, define o pesquisador de textos sagrados Thiago Maerki, associado da Hagiography Society, dos Estados Unidos.

“[Ele] pode ser considerado o maior sintetizador da relação entre fé e razão, fruto do longo caminho histórico cristão desde as origens”, afirma Boccato. “Ele distinguiu a ordem natural, a filosofia, da ordem sobrenatural, teologia, mas [o fez] unindo-as, não as separando. Hoje vivemos uma cultura das separações e divisões, de radicalizações e negação da diferença. Tomás imprime um espírito dialético à teologia na Idade Média, apresentando-se como grande mestre do diálogo e da inclusão do diferente.”

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

Papa Francisco: recomeçar a vida nova pelo perdão de Deus

Celebração Penitencial com o Papa Francisco na Paróquia Pio V, em Roma (Vatican Media)

Francisco presidiu a Celebração da Penitência na tarde desta sexta-feira (8), numa paróquia de Roma, dando início à iniciativa "24 Horas de Oração para o Senhor". Antes de confessar alguns paroquianos, o Papa exortou a não adiar o encontro com o sacramento da Reconciliação, que também é da cura e da alegria: "vamos colocar o perdão de Deus de volta no centro da Igreja!" para recomeçar a vida nova, iniciada no Batismo.

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Francisco se deslocou até a periferia de Roma para presidir a Celebração da Penitência, com o rito da reconciliação, que dá início à iniciativa "24 Horas de Oração para o Senhor", promovida pelo Dicastério para a Evangelização dirigida às dioceses do mundo inteiro. A cerimônia aconteceu no final da tarde desta sexta-feira (8) na paróquia de São Pio V, no bairro Aurélio. Antes de ouvir as confissões de alguns paroquianos, Francisco falou da importância de nos reconhecermos pecadores e de "nos lançarmos nos braços do amor de Jesus crucificado para sermos libertados" a partir do perdão.

Na homilia, o Pontífice refletiu sobre o que escreveu o apóstolo Paulo aos primeiros cristãos romanos, que também foi o lema escolhido para este ano das "24 Horas para o Senhor": "Caminhar numa vida nova" (Rm 6,4). Segundo o Papa, essa vida nova "nasce do Batismo, que nos imerge na morte e na ressurreição de Jesus e nos torna para sempre filhos de Deus", e é feita caminhando.

Mas, observou o Papa, "depois de tantos passos no caminho", "imersos em um ritmo repetitivo" diariamente, "envolvidos em mil coisas, atordoados com tantas mensagens", procurando "em toda parte satisfação e novidade, estímulos e sensações positivas", "talvez perdemos de vista a vida santa que corre dentro de nós". E a beleza da face de Deus acaba sendo ofuscada:

"Então, Deus, que na vida nova é nosso Pai, nos aparece como um patrão; em vez de nos confiarmos a Ele, fazemos contratos com Ele; em vez de amá-Lo, nós O tememos. E os outros, em vez de serem irmãos e irmãs, como filhos do mesmo Pai, parecem-nos obstáculos e adversários. E existe um mau hábito, o de transformar nossos companheiros de viagem em adversários. E muitas vezes fazemos isso. Os defeitos do próximo parecem exagerados e suas virtudes escondidas; quantas vezes somos inflexíveis com os outros e indulgentes conosco!"

O caminho do perdão de Deus

O importante é continuar no caminho, alertou Francisco, para redescobrir a beleza do Batismo e o sentido para seguir em frente. E esse caminho é o do perdão de Deus, que "nos torna novos novamente", garantiu o Pontífice, porque "nos devolve uma vida e uma visão nova". E não se cansa nunca de perdoar, insistiu Francisco, várias vezes durante a homilia: "Deus não se cansa nunca de perdoar", o problema "somos nós que nos cansamos de pedir perdão". Por isso, no Evangelho (Mt 5,1-12), Jesus proclamou que somente Deus conhece e cura o coração, "só Deus é capaz de conhecer e curar o coração", repetiu o Papa, mas devemos estar abertos para "a purificação" que vem dEle:

“Ele quer isso, porque nos quer renovados, livres e leves por dentro, felizes e em caminho, não estacionados nas estradas da vida. Ele sabe como é fácil tropeçarmos, cair e ficar no chão, e Ele quer nos levantar novamente. Não o entristeçamos, não adiemos o encontro com o seu perdão.”

A ressurreição do coração

E a quem ouve os pecados, acrescentou o Papa, procurar transformar as feridas "em canais de misericórdia", através da "carícia do Espírito Santo". Aos irmãos sacerdotes, Francisco orientou que ajudem quem tem medo de se aproximar "com confiança do sacramento da cura e da alegria. Vamos colocar o perdão de Deus de volta no centro da Igreja!", exortou ainda o Pontífice, "e não peçam demais, deixem que digam, e perdoem tudo", finalizando:

“Esse é o recomeço da vida nova: iniciada no Batismo, recomeça pelo perdão. Não renunciemos ao perdão de Deus, ao sacramento da Reconciliação: não é uma prática de devoção, mas o fundamento da existência cristã; não se trata de saber dizer bem os pecados, mas de nos reconhecermos pecadores e de nos lançarmos nos braços do amor de Jesus crucificado para sermos libertados; e isso não é um gesto moralista, não, mas a ressurreição do coração: o Senhor ressuscitado nos ressuscita, todos nós.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Grandes santas deixaram importantes conselhos para as mulheres

Santa Teresa de Jesus segurando seu livro "Caminho da Perfeição" | Zyonimir Atletic - Shutterstock

Hoje (8), Dia Internacional da Mulher, compartilhamos quatro conselhos para mulheres que foram escritos por quatro grandes santas chamadas Teresa e que dão as chaves para crescer em santidade.

1. Santa Teresa de Jesus, doutora da Igreja

Em seu livro Caminho da Perfeição, santa Teresa de Jesus incentiva as mulheres a imaginar que "dentro de nós há um palácio de enormíssima riqueza", onde o grande Rei está "em trono de grandíssimo preço, que é o vosso coração". "Não nos imaginemos ocas e vazias interiormente”, diz.

Ela ressalta que se tivessem o cuidado de se lembrar de que têm esse hóspede especial dentro de si, seria impossível se entregar tanto às coisas do mundo "porque veríamos como são baixas, em comparação das que dentro possuímos".

2. Santa Teresa de Lisieux, padroeira das missões

Santa Teresa de Lisieux, em seu livro História de uma alma, conta que "é costume os noivos oferecerem com frequência ramalhetes às suas noivas. Jesus não o esqueceu" quando ela entrou no Carmelo, aos 15 anos. .

Em seguida, conta que em Alençon, França, onde nasceu, havia uma flor conhecida como "nigelo dos trigos", que adorava colher no campo. Ela queria vê-la novamente e, quando chegou ao mosteiro, encontrou esse exemplar em abundância. "Foi no Carmelo que veio me sorrir e mostrar-me que, nas menores como nas maiores coisas, Deus dá o cêntuplo desde aqui na terra para as almas que deixaram tudo por seu amor”, disse..

3. Santa Edith Stein, mártir e padroeira da Europa

Santa Teresa Benedita da Cruz, ou Edith Stein, que se converteu do judaísmo para o catolicismo depois de ler uma obra biográfica de santa Teresa de Jesus, escreveu um livro intitulado Ser Finito e Ser Eterno. Interpretando a passagem da criação, a santa diz que "a mulher foi colocada ao lado do homem para que um ajude o ser do outro a se realizar".

“E se a força mais importante do dom corresponde à essência da mulher, é que na união de amor não somente ela dará mais, mas também receberá mais", enfatiza o santo filósofo.

4. Santa Teresa de Calcutá, ganhadora do Prêmio Nobel

Em 1979, santa Teresa de Calcutá recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Durante seu discurso de aceitação, ela disse que um homem lhe contou sobre uma família com oito filhos que não comia há algum tempo. Ela pegou um pouco de arroz e levou para ele. A mãe da família pegou a comida, dividiu-a e saiu com parte dela.

Quando voltou, a santa lhe perguntou o que ela havia feito. A senhora havia dado a comida a outra família, independentemente de ser muçulmana.

Madre Teresa continuou narrando que não levou mais arroz naquela noite "porque queria que eles desfrutassem da alegria de compartilhar. Mas lá estavam as crianças, irradiando alegria, compartilhando a alegria com sua mãe porque ela teve amor para dar. É aí que o amor começa, como vocês podem ver, em casa", disse.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Dom Roberto: Mulheres, poetas e artesãs da paz

Mulheres (VATICAN NEWS)

Ao comemorarmos o Dia Internacional da Mulher queremos agradecer a missão e papel da mulher nossa irmã como profeta e tecedora da amizade social.

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz - Bispo Diocesano de Campos

Ao comemorarmos o Dia Internacional da Mulher, queremos iluminados pela Campanha da Fraternidade deste ano, tão necessária para refazermos o tecido social, superarmos a divisão e a polarização que nos atinge no nosso país e no mundo que vivemos, agradecer a missão e papel da mulher nossa irmã como profeta e tecedora da amizade social.

O texto-base considera o exemplo de Rute e Noemi, que a partir da amizade parental de nora e sogra vivenciaram uma bela página de amizade que transcende fronteiras e preconceitos. Mais adiante nos deparamos com a menção de uma mulher especial na história de São Francisco, a beata Jacoba Desettesoli, viúva que se dedicou a caridade e a hospitalidade com os pobres como a família de seu marido Frangipane, famosa pelos doces (mustacciuolo de amêndoas) que dava ao Pai Francisco e a todas as pessoas.

Pressentiu a morte do santo e foi ao seu encontro, encarregando-se de detalhes do seu funeral e foi enterrada junto aos frades Rufino, Leone, Masseo e Ângelo, os primeiros seguidores de São Francisco na parte superior da Basílica de Assis. Poderíamos acrescentar as Santas Mulheres que acompanhavam a Jesus e os Apóstolos, Santa Maria Madalena e as companheiras de missão de São Paulo.

Mostram o rosto de uma Igreja servidora, acolhedora, terna e alegre, que abre as portas e alarga a tenda. No Brasil podemos citar também várias mulheres que protegeram direitos, ampliaram a consciência de dignidade e tornaram a nossa Igreja mais presente e a sociedade mais igualitária, justa e fraterna, mulheres como Margarida Genevois que trabalhou mais de 25 anos na Comissão Justiça e Paz, Maninha Xucuru, pertencente aos xucurus-kariris de Palmeira dos Índios,

Procópia dos Santos do quilombo Kalunga em Goiás, mãe e líder do seu povo, Zilda Arns Neumann, a grande defensora da vida das crianças e idosos, e Santa Dulce dos Alagados. Junto a estas mulheres mais conhecidas que nos estimulam e encorajam existe uma grande multidão de mulheres que desde os seus lares, estudos, trabalhos e lutas vão construindo todos os dias uma convivência mais saudável, inclusiva, partilhando seus dons e desempenhando ministérios de partilha, reconciliação e sanação.

Que Maria Nossa querida Mãe na sua ternura e misericórdia transbordante sempre as proteja, encoraje e ilumine no testemunho e missão de curar os relacionamentos e de gerar a paz social e planetária. Deus seja louvado!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São João de Deus

São João de Deus (A12)

08 de março

São João de Deus

João Cidade Duarte nasceu em 08 de março de 1495, em Montemor-o-Novo, próximo de Évora, Portugal. Seu pai era vendedor de frutas, e a família modesta. Aos oito anos, não se sabe ao certo se fugiu ou se foi levado de casa, e conta-se que por isso sua mãe morreu de tristeza e saudade pouco depois. O pai viúvo se fez monge franciscano em Xabregas, Lisboa, falecendo em 1520.

Sabe-se que João foi levado a pé para Madri, Espanha, caminhando com saltimbancos e mendigos. Perto da cidade de Toledo, um viajante o entregou a Francisco Majoral, administrador dos rebanhos do Conde de Oropesa, afamado por ser caridoso. Nessa época o menino recebeu o apelido de “João de Deus”, porque ninguém sabia quem ele era e de onde vinha. Ali João foi acolhido quase como filho, e trabalhou como pastor de ovelhas. Por volta dos seus 27 anos, Francisco quis casá-lo com sua própria filha, mas João não desejava isto. Sem saber o que fazer, fugiu e iniciou uma vida errante na Europa e na África.

Com 22 anos, soldado no exército de Carlos V, lutou na batalha de Paiva contra Francisco I, na reconquista de Feunterrabia aos Franceses, nos Pirineus. Desentendeu-se porém na tropa, sendo acusado de irregularidades e expulso. Volta assim a ser pastor em Oropesa, na casa de Francisco, até 1532, quando se alista novamente para combater os turcos em Viena. Mas em 1533 retorna a Montemor-o-Novo, onde não foi reconhecido. Afinal um tio lhe comunica a morte dos pais; segue então para Sevilha, Espanha, onde novamente trabalhou como pastor.

Muda-se para Ceuta, à época cidade lusitana no norte da África, servindo heroicamente a uma família portuguesa de seis pessoas, exilada e adoentada, sustentando-a com seu trabalho nas obras de fortificação das muralhas da cidade. Teve uma crise espiritual quando um amigo decidiu abraçar o islamismo, decidindo voltar para a Espanha. Assim, em 1538 vende livros como ambulante em Gibraltar, estabelecendo depois uma livraria em Granada. Apaixonou-se pelos livros, especialmente os com imagens sacras, entendendo-os como uma ajuda para a oração e a fé.

Em 1539, na festa de São Sebastião, 20 de janeiro, ouve a pregação de João d’Ávila, futuro santo e Doutor da Igreja. Ocorre então a sua verdadeira adesão à Fé, tão intensa que começou a gritar pedindo perdão e misericórdia a Deus pelos seus pecados. Vendeu ou distribuiu tudo o que possuía e deu aos pobres, queimou os livros imorais e passou a se penitenciar publicamente, percorrendo a cidade ferindo o peito com pedras e manchando o rosto com lama; pedia esmola para os necessitados, com o que se tornou um lema: “Fazei o bem, irmãos, a vós mesmos, ajudando os pobres”. Acharam que estava louco e o internaram no Hospital Real de Granada, um hospício, onde o tratamento aos pacientes era desumano, conforme (em parte) a ignorância da época sobre doenças mentais. Sofrendo cruelmente ele mesmo, percebeu então a vocação que Deus lhe dava, a de cuidar destes irmãos.

Acolhido, auxiliado e aconselhado por João d’Ávila, saiu do hospício em 1539 e visitou o mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe, para aprender o cuidado aos doentes. Voltou a Granada e alugou uma casa, onde atendia com amor e de forma adequada aos pobres e enfermos. A Casa Hospitalar de João de Deus começou a dar frutos, curando muitos doentes mentais, para espanto da sociedade de então. Nascia assim uma Ordem religiosa, que ele veio a chamar de Ordem dos Irmãos Hospitaleiros.

Ajudava também, voluntariamente, aos internados no hospício. Ganhou simpatia, e finalmente conseguiu fundar a “Casa de Deus”, à qual se dedicou totalmente, um hospital para doentes incuráveis e moléstias contagiosas. Foi o primeiro a separar os doentes de acordo com as enfermidades e oferecer uma cama para cada interno. Pedia constantemente esmolas para o sustento da obra, com o seu antigo lema, adotando outro para os tratamentos: “Pelos corpos, às almas”. Antes de 1547 ganha dois ajudantes, e passam todos a usar um manto com uma cruz vermelha. Neste ano chegam mais discípulos, e o hospital é transferido para o prédio maior de um antigo convento na Encosta de Los Gomeles. No ano seguinte vai a Valladolid pedir auxílio ao príncipe, Felipe II, que lhe concede grandes esmolas. Logo inicia ali também uma “rede de assistência”. De volta a Granada, paga dívidas do hospital e consegue dotes matrimoniais para dezenas de mulheres.

Nos anos seguintes, arriscando a vida, salva os doentes de um incêndio no Hospital Real, fica gravemente doente mas esconde o fato dos médicos para não ser impedido de trabalhar, salva um garoto de afogar-se num rio – o que lhe agrava a broncopneumonia. Por obediência muda-se então para a casa da família Pisa, onde fica mais confortável. O arcebispo o visita e promete manter o hospital.

A Ordem dos Irmãos Hospitaleiros foi confirmada, sob a regra de Santo Agostinho, em 1571, pelo papa Pio V. João tinha a convicção de que a cura espiritual auxiliava a cura física, e muitos dos seus pacientes foram testemunha disso. O sucesso da obra levou à fundação de mais de 80 casas-hospitalares na Europa, inicialmente para doentes mentais e terminais, depois para todos os doentes. Atualmente a Ordem Hospitaleira de São João de Deus é um instituto religioso internacional presente em 53 países (incluindo o Brasil), e são conhecidos popularmente como “Irmãos dos Enfermos” e “Fazei-o-bem-irmãos”.

São João de Deus faleceu em Granada, no dia 08 de março de 1550, ao completar 55 anos. É padroeiro dos doentes e hospitais junto com São Camilo, e dos enfermeiros e suas associações católicas.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

“Fazei bem, irmãos, a vós mesmos, ajudando os pobres”. Nada mais certo, porque é necessário ver a face de Cristo no rosto dos mais pobres, Seu corpo chagado no corpo dos enfermos. Esta é a verdade que vemos e ouvimos de um santo, como o mesmo João de Deus a ouviu de São João d’Ávila – e levou a sério. Sem dúvida curar os doentes e resgatar a dignidade dos mais necessitados é uma forma de louvor a Deus, em Cristo, que sofreu por nós; mas São João não esqueceu de que a cura da alma era fundamental para a cura do corpo, e a precedia. Por isso, nos Princípios Institucionais da sua Ordem, estão incluídos as diretrizes: o centro de interesse é a pessoa assistida, nunca o lucro; por isso, é obrigação atender às necessidades espirituais dos moribundos; assim é realizada a defesa (integral) e a promoção da vida humana, pois ela se continua para além da morte física, tendo sua plenitude em Cristo. Uma vida atribulada sem dúvida pode causar tribulação também na alma, mas nem por isso é desculpa para se esquecer a caridade, como nos mostra a vida de São João de Deus. Ele também nos exemplifica o valor dos bons livros, que conduzem a Deus, e a importância de eliminar os que ensinam coisas pecaminosas, uma parte muito concreta da sua verdadeira conversão. Facilitar e divulgar a boa literatura, que não contraria a Igreja nem ofende a Deus com comportamentos, filosofias, ideias e ideais errados é uma necessidade para a saúde espiritual da cultura atual. Muito depende disso a conformação das sociedades no futuro próximo, se curadas em Deus ou moribundas no pecado.

Oração:

Deus Pai de bondade, que desejas a cura espiritual para os que praticam a caridade e para os que a recebem, dai-nos a graça de, por intercessão de São João de Deus e como ele, sermos os Vossos braços no zelo pelo cuidado dos irmãos, no corpo e na alma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF