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sábado, 9 de março de 2024

AS REALIDADES ESCATOLÓGICAS (PARTE I)

A Parusia (apologistasdafecatolica)
AS REALIDADES ESCATOLÓGICAS (PARTE I)
De I Constantinopla a II Lyon

II. A RETRIBUIÇÃO
Ressurreição não significa retribuição. Os documentos do Magistério, segundo o ensinamento da Bíblia (cf. Jo 5, 28-29), falam de ressurreição universal; todos os homens, todos os mortos, todos incluindo, portanto, os bem aventurados e os condenados. Quanto ao momento da ressurreição, refere-se o Magistério ao dia da vinda do Senhor, ao último dia, ao dia do Juízo, à consumação do mundo. Independentemente, porém, das questões particulares, os documentos oficiais ensinam que a retribuição é imediata, logo após a morte: que é a fronteira definitiva que separa os que se salvam dos que se condenam, encerrando a situação terrena de peregrinação. A primeira consequência, conceitualmente separável, mas relacionada com a anterior, é que esta justiça, seja a recompensa do prêmio da visão beatífica, seja o castigo no inferno, é eterna, e tanto os santos, quanto os réprobos, no mesmo instante da morte, vão para o lugar que merecem. Os que, porém, morrendo na graça de Deus, não estiverem de todo puros, deverão passar por uma estado de purificação, antes de chegarem à bem-aventurança eterna (o purgatório). A questão do limbo das crianças não batizadas não é diretamente tratada pelo Magistério da Igreja¹.

1. Sínodo de Constantinopla (543)

Entre as ideias origenistas condenadas no sínodo, sobressai-se aquela sobre a escatologia, que passou à história como “apocatástase” ou restauração. Esta teoria foi formulada por Orígenes com relação ao seu princípio de preexistência das almas, condenado nesta mesma assembleia. Segundo a teoria origenista, o inferno é uma pena medicinal² cuja duração é proporcional à culpa: arrependido e purificado, o condenado participará da restauração total de todas as coisas em Deus. Orígenes interpreta, neste sentido, algumas passagens da Sagrada Escritura que parecem se referir a uma restauração final (cf. Mt 19, 28; At 3, 21; Rm 8, 19-22; 1 Cor 15, 25-28. 54 55; 2 Pd 3, 13; Ap 21, 1.5); e quanto às passagens evangélicas que falam da eternidade do inferno, ele as considera medidas pedagógicas para afastar o homem do mal, razão porque não convém pregar esta natureza medicinal às pessoas simples, porque não serviria para afastá-las do pecado³. Este modo de pensar foi visto com simpatia por Dídimo de Alexandria, por São Gregório de Nissa e durante certo tempo também por São Jerônimo.

Mas Orígenes vai mais longe: depois da apocatástase, as almas continuariam a ser livres e também no céu poderiam esfriar no fervor e ser punidas com uma nova encarnação⁴. Esta concepção do inferno teve e tem ainda hoje seus adeptos entre os protestantes⁵.
Se alguém disser ou pensar que o castigo dos demônios ou dos homens ímpios é temporário e que um dia terá fim, ou que chegará a dar-se a “apocatástase” dos demônios e dos homens ímpios seja anátema nos dirá, por fim, a ata conciliar.

2) Carta Sub catholicae professione de Inocêncio IV (06/03/1254)

Já no símbolo de Santo Epifânio fala-se da “vida eterna”; no chamado Fides Damasi, diz-se que a vida eterna será prêmio pelas boas obras e suplício eterno pelos pecados. O símbolo Quicumque afirma como verdade de Fé católica que “os que agiram bem irão para a vida eterna; os que agiram mal, para o fogo eterno”. O XI Concílio de Toledo reafirma a eternidade da glória e o IV Concílio de Latrão define solenemente que tanto a bem aventurança, quanto a pena, jamais terão fim. Todavia no século XIII surgiu uma disputa entre os bispos gregos de Chipre e o bispo latino de Nicósia sobre a escatologia intermediária⁶, o que deu motivo à Santa Sé para uma explicitação.

Os gregos sempre celebraram os sufrágios pelos defuntos, mas o modo de se exprimir dos latinos lhes parecia contaminado de origenismo, como se o purgatório fosse um inferno temporário; por isso, negavam o fogo e o próprio nome de purgatório, porque evocaria uma ideia de espaço. Não contestavam, porém, a existência de um estado provisório para as almas que morressem com pecados leves, do qual Deus as liberta pela intercessão da Igreja: mas não se convenciam de uma purificação como efeito da pena.

Inocêncio IV, nesta carta ao seu legado junto aos gregos, Cardeal Eudes de Châteauroux, bispo de Frascati, dá maior precisão ao dogma católico. Trata-se, portanto, de uma intervenção particular para os cipriotas, mas aí há pontos que penetram a Fé católica, tanto assim que anos depois foram solenemente definidos no II Concílio de Lyon: a existência do purgatório, o castigo dos pecadores depois da morte, a recompensa imediata dos justos⁷.

Em suma, porque a Verdade afirma no Evangelho que se alguém blasfemou contra o Espírito Santo não lhe será perdoado nem neste mundo, nem no outro (cf. Mt 12, 32), isto nos dá a entender que certos pecados são perdoados neste mundo presente, outros, no mundo futuro; e o Apóstolo diz que “o fogo provará a qualidade da obra de cada um” (I Cor 3,13); e “aquele, cuja obra arder, sofrerá dano, mas será salvo, embora como quem passa pelo fogo” (I Cor 3, 15); e os próprios gregos, segundo se diz, creem e sustentam, com toda a verdade e certeza, que as almas dos que morrem depois de terem recebido a Penitência embora sem a terem cumprido -, ou a daqueles que morrem sem pecado mortal, mas com pecados veniais e imperfeições, são purificadas depois da morte e podem ser ajudadas pelos sufrágios da Igreja; e já que eles [os gregos] dizem que o lugar desta purificação [locum purgationis] não lhes fora indicado por seus mestres [doctoribus] com nome certo e próprio: Nós, que, em conformidade com as tradições e a autoridade dos Padres da Igreja [sanctorum patrum], o chamamos purgatório, queremos que daqui por diante seja chamado por eles com este nome. De fato, com aquele fogo passageiro são purgados os pecados, não os mortais ou capitais, que antes não tenham sido perdoados pela Penitência, mas os pequenos e veniais, que, ainda depois da morte, pesam sobre eles [gravant], se não foram perdoados durante a vida.

Se alguém, porém, morrer em pecado mortal, sem a Penitência, será sem nenhuma dúvida eternamente atormentado pelo fogo do inferno eterno [aeternae gehennae ardoribus perpetuo cruciatur].
Entretanto, as almas das criancinhas que morrem depois do Batismo e as dos adultos que morrem em estado de graça [in caritate] e não estão retidas, nem pelo pecado, nem por satisfação alguma que tenham de cumprir por ele, vão imediatamente para a Pátria eterna [ad patriam protinus transvolant sempiternam].

3) II Concílio de Lyon (XIV ecumênico) – Profissão de Fé de Miguel Paleólogo (sess. IV 6.7.1274)

As controvérsias entre os gregos e os latinos sobre a escatologia intermediária ocuparam todo o séc. XIII. O II Concílio de Lyon que, dentre outras preocupações, se empenhou na união com os gregos, não podia ignorar este pomo de discórdia, e na profissão de Fé que o Imperador Miguel Paleólogo enviou ao Concílio, e que foi lida na quarta sessão, todos reconheceram a verdade da Igreja Universal, que mais tarde seria sancionada no Concílio de Florença. Tanto em Lyon como em Florença evita-se mencionar a palavra “fogo” e muito menos é usado o termo “purgatório”: fala-se só genericamente de penas purificatórias.

Do purgatório

“Se aqueles que estão verdadeiramente arrependidos morrerem em estado de graça [in caritate] antes de terem feito atos de reparação [satisfecerint] com frutos dignos de Penitência (cf. Mt 3,8; Lc 3,8) pelo que fizeram ou deixaram de fazer, suas almas, depois da morte, são purificadas com penas do purgatório ou purificantes [poenis purgatoriis seu catharteriis], como no-lo explicou nosso irmão João⁸; e para alívio destas penas lhes aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos, isto é, o Sacrificio da Missa, as orações, as esmolas e as outras práticas de piedade que os fiéis costumam fazer por seus irmãos na Fé, segundo as instituições da Igreja”.

Da bem-aventurança

“Mas as almas daqueles que, depois de terem recebido o santo Batismo, não incorreram em nenhuma mancha de pecado, como também aqueles que, depois de terem contraído a mancha do pecado, se purificaram, seja enquanto viviam no corpo, seja depois de tê-lo deixado, como se disse antes, [estas almas] são recebidas imediatamente no céu.”

Da condenação

“As almas, porém, dos que morrem em pecado mortal ou só com o original descem imediatamente ao inferno para serem punidas, embora com penas desiguais.”

Do juízo final

“A mesma Santa Igreja Romana crê firmemente e firmemente assegura que, no entanto, no dia do Juízo, todos os homens comparecerão perante o tribunal de Cristo com seus corpos, para prestar contas de seus próprios atos (cf. Rm 14,10.12).”

1. É de Fé católica que só o pecado original já basta para criar uma separação escatológica de Deus e, neste sentido, trazer um estado de condenação. A questão de fato, ou seja, a existência de um estado após a morte em que se achem almas só com o pecado original, tradicionalmente denominado “limbo”, continua como uma doutrina teológica [cf. SANTO TOMÁS DE AQUINO, Summa theologiae. Suppl., q.69, a. 4-6; idem, De malo, q. L. BILLOT, diversos artigos em Etudes, 1920-1922; INOCÊNCIO III, Carta Maiores Ecclesiae.

2. ORÍGENES, De principiis 2,10,6: PG 11, 238.

3. Contra Celsum 5, 15: PG 11, 1204.

4. Schleiermacher muito contribuiu para a difusão desta idéia. Segundo A. HARNACK, Dogmengeschichte, Tubingen, 4ª ed., 1909,3,661, todos os reformadores aderiram de coração à apocatástase, e também em nossos dias muitos teólogos modernos bizantinos e greco-russos a veem com simpatia. Cf. M. JUGIE, Theologia dogmatica orientalium dissidentium IV, Paris, 1931, 137-151. Outra forma de negação da eternidade das penas do inferno, tanto na Antiguidade, como na Idade Média, era a de sustentar o aniquilamento dos condenados, teoria já defendida pelos gnósticos no séc. II: cf. SANTO IRINEU, Adversus haereses 1,7,1: PG 7, 514. Foram depois imitados pelos socinianos medievais. Paralelamente, houve quem evoluísse com a teoria, chegando a afirmar que a alma humana não é imortal por natureza, mas Deus a torna imortal só para os eleitos (ARNÓBIO, O VELHO, Adversus nationes 2.14.

5. Bibliografia: B. ALTANER, Patrologia, Edições Paulinas, São Paulo, 1972, 213; J. DANIELOU, Origène, Paris, 1948, 207-217.

6. M. RONCAGLIA, Georges Bardanes métropolite de Corfou et Barthélemy de l’Ordre Franciscain, Roma, 1953, com documentação dos colóquios entre gregos e latinos.

7. Trata-se de Frei João Parastron ou Barastron, O.F.M., nascido em Constantinopla e apóstolo da união, que acompanhou até Lyon os legados gregos e assistiu à sessão IV do concílio. O Papa reconhece que ele se empenhou diu et utiliter pela união. Morreu em Constantinopla em 1275.

8. SÃO BERNARDO DE CLARAVAL, Sermo in festo Omnium Sanctorum: PL 185, 472. Cf. SANTO AGOSTINHO, Enarratio in psalmum 43: PL 36, 485; Id., De Trinitate 1, 13: PL. 42, 843-844. Não seria difícil encontrar em outros textos patrísticos passagens no mesmo sentido.

Fonte: https://apologistasdafecatolica.wordpress.com/

Caridade não é um negócio

Fazer caridade não é só doar (Facebook)
Revista 30Dias - 06/1998

Caridade não é um negócio

Guerino Di Tora, sacerdote romano, chefe da Caritas na cidade do Papa, não gosta de estar sob os holofotes dos meios de comunicação de massa. Mas aqui ele concorda em falar sobre as suas preocupações e os seus planos para ajudar os mais pobres. E para o futuro esperamos uma Caritas o menos centralizada possível.

Entrevista com Guerino Di Tora por Davide Malacaria

«A minha nova paróquia serão os pobres de Roma». Monsenhor Guerino Di Tora assim o declarou quando foi chamado para dirigir a Caritas de Roma, em 21 de novembro de 1997, após 26 anos de sacerdócio, dos quais 23 passados ​​na paróquia de São Policarpo. Di Tora é romano, natural do popular bairro de Prenestino, e lembra como era uma vez “cada bairro era uma família e a solidariedade era o ar que respirávamos”. 


Pobreza em Roma. Qual iniciativa da Caritas você acha que é mais importante completar? 
GUERINO DI TORA: No novo ano, durante a missão municipal, faremos o monitoramento da pobreza, um trabalho essencial, visto que a pobreza é uma realidade em constante evolução. Quem poderia imaginar, até há poucos anos, que o fenómeno dos sem-abrigo se enraizaria no mundo jovem? E que a patologia do esgotamento nervoso passou de uma doença “intelectual” a uma praga generalizada mesmo entre as pessoas simples? E mais uma vez, que não foi o único desempregado que compareceu aos nossos centros de escuta, mas toda a família? Mas este trabalho de monitorização também é importante para melhor orientar as intervenções existentes. Por exemplo, vimos como as casas familiares para pacientes com SIDA são uma experiência lucrativa, porque os pacientes recuperam a confiança em si próprios. Mas agora são insuficientes, porque os doentes vivem mais e muitas pessoas em lista de espera, confiantes - infelizmente - numa rápida rotatividade, não conseguem aceder ao serviço. 

Com o que você mais se preocupa para o futuro da Caritas? 
DI TORA: Criar uma estrutura menos centralizada possível, conseguir estar presente em todas as paróquias e prefeituras de Roma. Além disso, procurem a máxima colaboração com todos os católicos que atuam socialmente. Uma colaboração que deve estender-se também às estruturas não católicas. Porque a atenção aos outros não tem cor. É uma sensibilidade humana que, ainda mais, um batizado sente em virtude do dom da graça de Deus. 

Lembro-me de um filme de Troisi, Os caminhos do Senhor estão consumados , no qual um paralítico é assistido por seu irmão. A certa altura o paciente se recupera e o irmão se desespera, dizendo “o que eu faço agora?”. Não existe o risco de que às vezes trabalhar arduamente pelo menos provável surja como cobertura para um vazio? 
DI TORA: É um perigo real. Nos nossos cursos de formação de operadores estamos particularmente atentos a este problema. Mas às vezes as situações podem favorecer o contrário, ou seja, reencontrar o sentido de equilíbrio: penso, por exemplo, em quem ajuda quem sofre de SIDA, tarefa que nos obriga a colocar-nos questões existenciais.

Roma acolhe o túmulo de São Lourenço, o diácono mártir tão querido pelo povo romano especialmente pelo seu amor aos pobres...
DI TORA: A atenção aos últimos é uma característica da Igreja de Roma, que continua ao longo da história. Quero recordar como Santo Inácio, já no século II, escreveu que Roma tem o primado da caridade. San Lorenzo foi uma grande testemunha disso, como San Filippo Neri e muitos outros. Mas é também a cidade do Papa. Por isso, além de cuidar dos pobres de Roma, a Caritas desta cidade deve ter um alcance universal. Temos também a tarefa de agir como uma consciência crítica quando a atenção aos pobres falha. E isso também acontece com as instituições civis, locais e nacionais, com as quais nos relacionamos e trabalhamos.

Nesta fase de transição política, o Estado-Providência está a ser reestruturado em Itália...
DI TORA: Nesta reestruturação devemos permanecer muito vigilantes, porque poderíamos facilmente perder o que ganhamos ao longo dos anos com as políticas sociais. Recordo-me do discurso do Cardeal Martini em Milão, no passado dia 8 de Dezembro, no qual denunciou que a atenção aos mais fracos já não tem referências de direita ou de esquerda. Nas escolhas políticas, tendemos agora a olhar mais para a economia do que para a solidariedade. À medida que o trabalho diminui, os pobres ficam mais pobres e os ricos mais ricos.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Quem foi São Tomás de Aquino, intelectual da Idade Média que influenciou a filosofia ocidental (2)

Tomás de Aquino (retratado ao centro neste afresco de Andrea di Bonaiuto) foi um divisor de águas do pensamento humano, segundo especialistas

Quem foi São Tomás de Aquino, intelectual da Idade Média que influenciou a filosofia ocidental.

Autor, Edison Veiga

Role, De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

7 março 2024

Vida

Nascido em uma pequena cidade na província do Lácio — na época, Reino da Sicília, hoje Itália —, Tomás de Aquino era filho de um cavaleiro militar. Seus pais, o incentivaram a estudar e acabaram mandando-o para o equivalente a uma universidade da época, em Nápoles.

Foi lá que, ao que tudo indica, ele tomou contato pela primeira vez com a obra de Aristóteles. Durante esse período, acabou tendo contato com um pregador dominicano que o recrutou, aos 19 anos, para a chamada Ordem dos Pregadores — também conhecida como Ordem de São Domingos.

Seus pais foram contra o ingresso na confraria religiosa e tentaram impedi-lo. Quando os dominicanos determinaram que Tomás fosse para Roma e, de lá, para Paris, familiares dele armaram uma emboscada e o capturaram, levando-o de volta ao castelo de seus pais. Ele teria ficado detido por cerca de um ano e, conta-se, até mesmo uma prostituta chegou a ser contratada para demovê-lo da ideia da vida religiosa.

Percebendo que nada iria resolver a questão, sua mãe colaborou para que ele fugisse e retornasse aos dominicanos. Tomás de Aquino foi para Nápoles, depois para Roma e, em seguida, acabou enviado para estudar na Universidade de Paris.

Quando concluiu sua formação, em 1259, retornou a Nápoles e iniciou sua carreira como pregador dominicano. Circulou por várias regiões da península itálica e foi nesse período que escreveu sua obra principal, a ‘Suma Teológica’.

Nove anos depois, foi enviado novamente para Paris, agora como regente mestre dos religiosos que ali estudavam. Ele ficaria lá até 1272, quando obteve dos dominicanos a autorização para fundar um centro de estudos onde quisesse — escolheu Nápoles.

Professor na PUC-SP e na Faculdade São Bento, o teólogo, filósofo e jornalista Domingos Zamagna destaca à BBC News Brasil a erudição de Aquino, um onívoro cultural que buscava os saberes mais variados possíveis.

“A teologia é um esforço de conhecer Deus, e só podemos conhecê-lo, além do que ele próprio revelou, ou pela via negativa, ‘o que ele não é’, ou pela via analógica, ‘ele é semelhante a…’ Como o ser humano é ‘a imagem e semelhança de Deus’, só conheceremos Deus se soubermos profundamente o que é o ser humano”, reflete ele.

“Não deveria nos causar espanto que Tomás tenha se lançado no estudo da biologia, da política, da ética, da psicologia, da antropologia, da economia, da estética, etc., para mergulhar no que é a essência do ser humano”, acredita Zamagna.

“Para isso, estudou Aristóteles, que entendeu o ser humano dentro de uma relação unitária, contra o dualismo de Platão. Daí quis conhecer a causa última da realidade, a causa das causas, que é Deus. Daí desenvolveu o estudo propriamente teológico.”

“Ele viveu como grande intelectual, mas sempre foi visto com certa desconfiança por uma ortodoxia que não via com bons olhos a entrada do pensamento aristotélico para subsidiar os dogmas da Igreja Católica”, pontua o teólogo Moraes.

“A filosofia dele podia ser muito arriscada, porque de repente podia [ser interpretada como se viesse a] não concordar com a ideia de que Deus criou o mundo, com a ideia da imortalidade da alma... Tudo muito perigoso. Era preciso saber selecionar e, nesse sentido, o Tomás de Aquino foi mestre”.

Aquino buscou uma explicação racional para a fé. “Ele partiu da revelação, acreditava na revelação de Deus, mas dizia que o conhecimento era revelado através da fé. Como teólogo, ele usou de todo o conhecimento filosófico extraído da tradição aristotélica para fundamentar sua fé”, detalha Moraes. “Podemos dizer que, em Tomás de Aquino, a razão está à serviço da fé.”

Em 1274, foi convocado pelo papa Gregório 10º (1210-1276) para participar do Concílio de Lyon. A caminho de Roma, montado em um burro, bateu a cabeça em um galho de uma árvore tomada e ficou seriamente ferido. Tentou seguir viagem mas não conseguiu. Acabou sendo abrigado em uma abadia que havia nas proximidades.

Depois de alguns dias, não resistiu. Morreu em 7 de março de 1274, há exatos 750 anos.

Santo

Tomás de Aquino seria canonizado em 1323, pelo papa João 22 (1249-1334).

O filósofo Andrey Ivanov, professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp), comenta à BBC News Brasil que 2024 está no meio de três anos especiais para aqueles que admiram Tomás de Aquino. No ano passado, 2023, foram lembrados os 700 anos que ele passou a ser considerado santo. Neste, celebram-se os 750 anos de sua morte. Em 2025 serão recordados os 800 anos de seu nascimento.

“Em vida e logo após a sua morte, as doutrinas de Tomás não suscitaram um consenso unânime e foram duramente atacadas, sobretudo por teólogos e em particular pelos franciscanos”, comenta Ivanov.

A canonização de Tomás de Aquino também não foi uma unanimidade na cúpula católica da época. Havia um ingrediente político. João 22 tinha sido auxiliado por dominicanos no seu processo de escolha para o trono papal e, portanto, devia gratidão a esse grupo. “Uma forma de reconhecer isso era escolher um membro da ordem para ser canonizado”, conta Moraes. O nome de Aquino foi o segundo que lhe foi apresentado.

“E ele era um admirador, tinha obras suas na biblioteca e fazia uso das mesmas. Até hoje no Vaticano há textos [de Tomás de Aquino] com anotações desse papa, o que Mostar que ele tinha apreço enorme pela obra”, comenta o teólogo.

Boccato ressalta que, “apesar de ser reconhecido como grande filósofo e teólogo, e o foi”, Tomás de Aquino se notabilizou também “como um pregador, um verdadeiro contemplativo da Palavra de Deus de onde ele extraiu o sentido para sua vida”.

“Então, o fato de ele ter sido santo dá-se pelo seu esforço de, pela fé, esperança e caridade, viver de modo perfeito as virtudes teologais, mas também ser um irmão, frade, que colocou a caridade como centro de sua vida”, acrescenta ele.

Para Ivanov, “pode-se dizer que a sua santidade é a santidade da inteligência”. “Ele se santificou na sua obra de filósofo e teólogo. A sua busca da verdade natural e supranatural se identificou com sua busca de Deus”, analisa o professor.

“Ele se tornou santo, reconhecido pela Igreja, pelo fato de viver da e para a caridade e manifestá-la na relação com o próximo e traduzi-la em reflexão refinadíssima”, avalia Boccato. Para o professor, São Tomás “era um homem de profunda oração, vida comunitária, pregação e sensibilidade humana”.

“Não tenho dúvidas que a sua santidade se configura nesta articulada relação entre vida contemplativa, reflexão filosófico-teológica e apostolado, diálogo produtivo com muçulmanos e árabes”, salienta. “Tornou-se santo porque buscou viver e aplicar o evangelho no seu cotidiano e ao longo de sua vida na convivência com os confrades e no fértil apostolado.

Legado

Séculos depois, seu legado permanece. “O que acho muito bonito em São Tomás é aquilo que, a meu ver, fez o tomismo se enraizar na Igreja e se manter vivo até hoje: é essa ideia de uma cooperação entre a filosofia e a teologia, uma espécie de harmonia, a gente pode dizer, entre fé e ciência”, comenta Maerki.

“A justificativa para isso é que, para Tomás de Aquino, a razão, que é o princípio básico da filosofia, seria um estatuto criado por Deus. Então mesmo a razão que norteia o pensamento filosófico possui sua raiz com Deus. E a fé é uma espécie de revelação do próprio Deus”, explica o pesquisador. “Nesse sentido, a fé e a razão não podem se contradizer já que, segundo Tomás de Aquino, a fonte é a mesma, é o ser divino, o próprio Deus.”

Zamagna argumenta que “todos os que desejam uma prática religiosa baseada na fé mas sem abdicar das exigências racionais há de se beneficiar com o conhecimento da produção intelectual de São Tomás”.

“Não há filósofo que, mais cedo ou mais tarde, deixe de se questionar sobre a origem e o fim da vida. Só não o fará quem for preguiçoso ou pouco exigente”, diz.

“No meio de tantas buscas e respostas, o pensamento de São Tomás permanece válido e atualíssimo, corresponde a uma ajuda para responder a um dos maiores anseios do ser humano. Ser ateu é bastante fácil. Difícil é projetar-se na pesquisa para encontrar uma resposta racional às alegrias e esperanças da comunidade humana.”

Em 1879 o papa Leão 13 (1810-1903) publicou a encíclica ‘Pai Eterno’, na qual promoveu um renascimento do tomismo como sistema teológico e filosófico. “[O documento] propunha uma junção entre filosofia e teologia, entre razão e fé, como aquela que já havia sido realizada por mestres medievais, em particular por Tomás. De modo que Tomás merecia ser ensinado nos institutos e universidades da Igreja”, relata Ivanov.

“A encíclica surtiu efeitos positivos para impulsionar os estudos de filosofia medieval e novos projetos de edição das obras dos grandes mestres da escolástica, a partir naturalmente das obras de Tomás”, completa.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

O desafio da busca de sentido não obstante as controvérsias do Niilismo

O Niilismo (Almanaque SOS)

O DESAFIO DA BUSCA DE SENTIDO NÃO OBSTANTE AS CONTROVÉRSIAS DO NIILISMO

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

A questão do sentido da vida, na perspectiva da controvérsia niilista, torna-se extremamente problemática. Aparentemente, o niilista nega radicalmente o problema do sentido da vida. Entretanto, quando examinamos suas teses, apenas aparentemente ele elimina a questão do sentido. Na verdade, tudo que o niilista pretende é resolver a questão de forma inteiramente autônoma, sem nenhuma referência a valores transcendentes, ao absoluto, ou, em uma palavra, Deus. O niilista se insurge contra os valores da tradição, aposta na desagregação, contesta tudo para, em seguida, ele mesmo colocar-se naquela posição originária que não remete a nenhum fundamento, para criar novos valores, na transvalorização de todos os valores. 

Para compreender o impacto avassalador do niilismo, convém relembrar brevemente sua história. Originando-se nas controvérsias do idealismo alemão, o niilismo ganhou força na segunda metade do século XIX, tornando-se um tema central de discussão na filosofia e na literatura. Nietzsche (1844-1900), com sua afirmação da “morte de Deus”, ou seja, da derrocada das crenças tradicionais, é considerado um dos principais teóricos do niilismo. A palavra, entretanto, teria surgido pela primeira vez, em âmbito literário, com o escritor russo Ivan Turgenev (1818-1883), no romance Pais e Filhos (1862). O niilismo, etimologicamente enraizado na palavra “nihil” (nada), representa uma postura filosófica obcecada pela ausência de significado e propósito. Ao negar os valores tradicionais e transcendentais, o niilista confronta a própria essência da existência humana, lançando dúvidas sobre a validade de nossas crenças e convicções mais profundas. 

Além de sua repercussão no ambiente filosófico do século passado, o niilismo emerge em outras esferas da experiência humana. Em um mundo marcado pelo desmantelamento dos valores tradicionais e pela ascensão do vazio existencial, o niilismo emerge como um protagonista sombrio, questionando a própria razão de nossa existência neste universo aparentemente desprovido de significado. A crise de valores, a negação da humanidade do outro através das diversas formas de intolerância e violência, a alienação social são apenas algumas das consequências desse fenômeno complexo e multifacetado. À medida que a sociedade contemporânea se debate com o impacto corrosivo do niilismo, torna-se imperativo explorar suas ramificações em todos os aspectos da vida moderna. 

Em seu cerne, o niilismo desafia diretamente o problema do sentido da vida. Ao negar radicalmente qualquer fundamento transcendente, ele lança os seres humanos em um abismo de incerteza e desespero existencial. A busca por significado torna-se uma jornada solitária e desafiadora em mundo caótico e sem propósito. Não faltam exemplos desse mal-estar. Muitas pessoas vivem precariamente, enfrentando doenças, medo, desespero, negação de sua dignidade, relegadas à invisibilidade e ao anonimato, mesmo em países considerados ricos. Como encontrar significado em meio à desigualdade e à precariedade e a falta de empatia? Há uma acentuação do individualismo e uma crise de identidade que atinge também o homem religioso. Alguns experimentam a “desertificação” espiritual, não conseguindo ser testemunhas de esperança para aqueles que estão sedentos de sentido e busca por Deus. Instaura-se uma espécie de relativismo prático, em que se age como se Deus não existisse (Cf. Papa Francisco, Evangelii Gaudium [EG], n. 80).  A sensação de derrota sufoca o fervor e a ousadia de quem poderia suscitar a confiança no triunfo, mesmo em meio às adversidades e à cultura niilista da sociedade contemporânea. 

Apesar dos desafios impostos pelas novas formas de niilismo, é possível vislumbrar caminhos para além do abismo do vazio existencial. A busca por significado pessoal, a reconstrução de valores fundamentais e a exploração de formas individuais de transcendência emergem como possíveis soluções para lidar com o dilema do sentido da vida, ao invés de sucumbir ao desespero e ao vazio sem sentido. 

O niilismo permanece como um desafio urgente para a busca de sentido. Ao invés de aceitar passivamente o vazio, somos chamados a abraçar a plenitude da existência humana, encontrando significado na transcendência. Como enfatiza o Papa Francisco, na Evangelii Gaudium (n. 84), a alegria encontrada no Evangelho é tão profunda que nada nem ninguém pode roubá-la de nós (cf. Jo 16, 22). Os desafios enfrentados pelo mundo e pela própria Igreja não devem ser desculpas para diminuir nossa dedicação e fervor. Em vez disso, devemos encará-los como oportunidades de crescimento. “A nossa fé é desafiada a entrever o vinho em que a água pode ser transformada, e a descobrir o trigo que cresce no meio do joio” (EG, n. 84). Outrossim, podemos também encontrar sentido na imanência de nossas experiências ordinárias, sabendo apreciar “a alegria que se vive no meio das pequenas coisas da vida quotidiana, como resposta ao amoroso convite de Deus nosso Pai” (EG, n. 4). É possível buscar a luz no coração da escuridão, a esperança no cerne do desespero e o sentido no âmago da incerteza!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

NAZARENO: Antecipação do Paraíso no Tabor (Transfiguração e cura do endemoniado) - (33)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 33 - Antecipação do Paraíso no Tabor (Transfiguração e cura do endemoniado)

Jesus sobe ao Monte Tabor e leva consigo Pedro, João e Tiago. Enquanto reza, seu rosto muda de aparência e seu manto se torna branco e deslumbrante. E eis que dois homens conversam com ele: são Moisés e Elias e falam de seu êxodo, que está prestes a ocorrer em Jerusalém. Enquanto isso, os três apóstolos adormeceram, cansados. Quando acordam, veem sua glória e Pedro pergunta se ele pode ficar ali para sempre. Enquanto ele está falando isso, surge uma nuvem e os discípulos ouvem uma voz que diz: Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o!" No dia seguinte, quando eles descem da montanha, uma grande multidão vem ao seu encontro. Entre eles está um homem que pede ajuda para seu filho possuído por um demônio. Jesus o liberta.

Enquanto todos estão admirados com todas as coisas, ele diz aos discípulos: "O Filho do Homem está prestes a ser entregue nas mãos dos homens". Seus discípulos não entendem e começam a discutir sobre quem era o maior entre eles. Jesus entende o que está acontecendo, pega uma criança, coloca-a perto dele e diz a eles: “Aquele que receber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe a mim, e aquele que me receber recebe aquele que me enviou; com efeito, aquele que no vosso meio for o menor, esse será grande”. Em seguida, o Nazareno acrescenta: “Caso alguém escandalize um desses pequeninos que creem em mim, melhor será que lhe pendurem ao pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que haja escândalos, mas ai do homem pelo qual o escândalo vem!.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/03/08/11/137762004_F137762004.mp3


Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 8 de março de 2024

Quem foi São Tomás de Aquino, intelectual da Idade Média que influenciou a filosofia ocidental (1)

Tomás de Aquino entre Platão e Aristóteles, retratado em pintura de Benozzo Gozzoli, no século 15

Quem foi São Tomás de Aquino, intelectual da Idade Média que influenciou a filosofia ocidental.

Autor, Edison Veiga

Role, De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

7 março 2024

Para especialistas contemporâneos, Tomás de Aquino (1225-1274) foi um divisor de águas do pensamento humano. Não somente da teologia, mas também da filosofia. Em plena Idade Média, o religioso ousou beber em uma fonte pagã — os textos do sábio grego Aristóteles (384 a.C. - 323 a.C.) — para buscar explicar a existência do ser humano e a própria ideia das relações com o divino.

“Tomás de Aquino foi para sua época uma luz irradiosa e inteligente, repropondo um paradigma de mundo, na passagem do mundo antigo para a escolástica”, afirma à BBC News Brasil o teólogo e filósofo André Luiz Boccato, frade dominicano e professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

“Sua importância é tamanha que, depois dele, se convencionou chamar de ‘tomismo’ todo tipo de releitura em que se volta a Tomás para responder a problemas circunstanciais de outros momentos históricos.”

A escolástica — concilia a fé cristã com pensamento racional — foi o método crítico que vigorou nas universidade medievais europeias, sobretudo na última fase do período medieval. “Para a filosofia, o pensamento de Tomás de Aquino é fundamental e bem original”, pontua Boccato.

De acordo como professor, a principal contribuição de Aquino para o pensamento foi “a centralidade que ele deu à razão, enquanto perscrutadora do real, ao invés da crença e de uma concepção dualista de fé”.

“Ao colocar a razão, não a razão instrumental de hoje ou cientificista, mas a razão aberta à transcendência e a Deus, de um certo modo ele a encara como um infinito presente em toda criatura racional chamada à busca de sentido”, detalha.

“Uma segunda [contribuição] seria propriamente a acolhida e o desdobramento do pensamento de Aristóteles no ocidente cristão, com todas as suas consequências, nos vários campos do conhecimento filosófico”, ressalta o professor.

O pensamento aristotélico encontrava resistência no meio religioso — afinal, se tratava de um ilustre representante do helenismo clássico.

Também frade dominicano e conhecido por sua trajetória nos movimentos sociais progressistas, o jornalista e escritor Frei Betto compara a referência a Aristóteles nos tempos de Aquino como o mergulho na filosofia de Karl Marx (1818-1883) empenhado pelos religiosos da Teologia da Libertação, sobretudo nos anos de ditadura militar brasileira.

“O que me impressiona em São Tomás é como ousou basear sua filosofia e teologia em um filósofo pagão, Aristóteles”, comenta ele, à BBC News Brasil. “Assim como, séculos depois, a Teologia da Libertação encontraria seu instrumental de análise da realidade em Marx e [Friedrich] Engels [(1820-1895)]. Tomás teve a vantagem de beber na filosofia grega no momento em que árabes islâmicos a tornavam conhecida no Ocidente. Por isso levantou suspeitas de alguns prelados.”

Frei Betto acrescenta que “a densidade política do pensamento” de Aquino fez com que a Igreja Católica pudesse “adotar várias de suas teses revolucionárias, como o tiranicínio, a ignorância invencível, a prevalência da consciência sobre as leis”.

Para ele, foi impregnado desse pensamento que religiosos brasileiros lutaram contra o regime militar. “Foi graças ao pensamento de Tomás que, na década de 1960, um grupo de frades dominicanos do Brasil [inclusive o próprio Frei Betto] apoiou a luta armada contra a ditadura militar, o que nos valeu quatro anos de cárcere como ‘terroristas’”, justifica.

Teologia e filosofia

Boccato ressalta que Tomás de Aquino aprofundou e dialogou com “todo o pensamento aristotélico”. “A saber: metafísica, física, ética, política, estética, ciência medieval, etc.”, enumera.

Para o professor, uma terceira contribuição do pensador foi a maneira como ele aprendeu de seu mestre, Alberto Magno (1193-1280), “a positividade do conhecimento científico advindo da realidade e sua verdade própria”.

“Conseguiu distinguir a capacidade humana de conhecer a realidade em sua essência, sem desvincular da visão cristã sedimentada na criação e na fé”, afirma.

“Ele procurou construir sua teologia sobre princípios filosóficos muito sólidos, foi buscar um solo firme para a sua filosofia e buscou princípios racionais para tentar mostrar como a revelação poderia ser compreendida pelos homens”, contextualiza o filósofo, teólogo e historiador Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Segundo Moraes, “nesse sentido há uma relação muito intensa entre filosofia e teologia”, e isso faz com que a obra de Aquino “seja profundamente inovadora” quando se pensa na época em que ele viveu.

“Tanto do ponto de vista teológico como filosófico, Tomás de Aquino é um divisor de águas, um marco muito importante”, define o pesquisador de textos sagrados Thiago Maerki, associado da Hagiography Society, dos Estados Unidos.

“[Ele] pode ser considerado o maior sintetizador da relação entre fé e razão, fruto do longo caminho histórico cristão desde as origens”, afirma Boccato. “Ele distinguiu a ordem natural, a filosofia, da ordem sobrenatural, teologia, mas [o fez] unindo-as, não as separando. Hoje vivemos uma cultura das separações e divisões, de radicalizações e negação da diferença. Tomás imprime um espírito dialético à teologia na Idade Média, apresentando-se como grande mestre do diálogo e da inclusão do diferente.”

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

Papa Francisco: recomeçar a vida nova pelo perdão de Deus

Celebração Penitencial com o Papa Francisco na Paróquia Pio V, em Roma (Vatican Media)

Francisco presidiu a Celebração da Penitência na tarde desta sexta-feira (8), numa paróquia de Roma, dando início à iniciativa "24 Horas de Oração para o Senhor". Antes de confessar alguns paroquianos, o Papa exortou a não adiar o encontro com o sacramento da Reconciliação, que também é da cura e da alegria: "vamos colocar o perdão de Deus de volta no centro da Igreja!" para recomeçar a vida nova, iniciada no Batismo.

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Francisco se deslocou até a periferia de Roma para presidir a Celebração da Penitência, com o rito da reconciliação, que dá início à iniciativa "24 Horas de Oração para o Senhor", promovida pelo Dicastério para a Evangelização dirigida às dioceses do mundo inteiro. A cerimônia aconteceu no final da tarde desta sexta-feira (8) na paróquia de São Pio V, no bairro Aurélio. Antes de ouvir as confissões de alguns paroquianos, Francisco falou da importância de nos reconhecermos pecadores e de "nos lançarmos nos braços do amor de Jesus crucificado para sermos libertados" a partir do perdão.

Na homilia, o Pontífice refletiu sobre o que escreveu o apóstolo Paulo aos primeiros cristãos romanos, que também foi o lema escolhido para este ano das "24 Horas para o Senhor": "Caminhar numa vida nova" (Rm 6,4). Segundo o Papa, essa vida nova "nasce do Batismo, que nos imerge na morte e na ressurreição de Jesus e nos torna para sempre filhos de Deus", e é feita caminhando.

Mas, observou o Papa, "depois de tantos passos no caminho", "imersos em um ritmo repetitivo" diariamente, "envolvidos em mil coisas, atordoados com tantas mensagens", procurando "em toda parte satisfação e novidade, estímulos e sensações positivas", "talvez perdemos de vista a vida santa que corre dentro de nós". E a beleza da face de Deus acaba sendo ofuscada:

"Então, Deus, que na vida nova é nosso Pai, nos aparece como um patrão; em vez de nos confiarmos a Ele, fazemos contratos com Ele; em vez de amá-Lo, nós O tememos. E os outros, em vez de serem irmãos e irmãs, como filhos do mesmo Pai, parecem-nos obstáculos e adversários. E existe um mau hábito, o de transformar nossos companheiros de viagem em adversários. E muitas vezes fazemos isso. Os defeitos do próximo parecem exagerados e suas virtudes escondidas; quantas vezes somos inflexíveis com os outros e indulgentes conosco!"

O caminho do perdão de Deus

O importante é continuar no caminho, alertou Francisco, para redescobrir a beleza do Batismo e o sentido para seguir em frente. E esse caminho é o do perdão de Deus, que "nos torna novos novamente", garantiu o Pontífice, porque "nos devolve uma vida e uma visão nova". E não se cansa nunca de perdoar, insistiu Francisco, várias vezes durante a homilia: "Deus não se cansa nunca de perdoar", o problema "somos nós que nos cansamos de pedir perdão". Por isso, no Evangelho (Mt 5,1-12), Jesus proclamou que somente Deus conhece e cura o coração, "só Deus é capaz de conhecer e curar o coração", repetiu o Papa, mas devemos estar abertos para "a purificação" que vem dEle:

“Ele quer isso, porque nos quer renovados, livres e leves por dentro, felizes e em caminho, não estacionados nas estradas da vida. Ele sabe como é fácil tropeçarmos, cair e ficar no chão, e Ele quer nos levantar novamente. Não o entristeçamos, não adiemos o encontro com o seu perdão.”

A ressurreição do coração

E a quem ouve os pecados, acrescentou o Papa, procurar transformar as feridas "em canais de misericórdia", através da "carícia do Espírito Santo". Aos irmãos sacerdotes, Francisco orientou que ajudem quem tem medo de se aproximar "com confiança do sacramento da cura e da alegria. Vamos colocar o perdão de Deus de volta no centro da Igreja!", exortou ainda o Pontífice, "e não peçam demais, deixem que digam, e perdoem tudo", finalizando:

“Esse é o recomeço da vida nova: iniciada no Batismo, recomeça pelo perdão. Não renunciemos ao perdão de Deus, ao sacramento da Reconciliação: não é uma prática de devoção, mas o fundamento da existência cristã; não se trata de saber dizer bem os pecados, mas de nos reconhecermos pecadores e de nos lançarmos nos braços do amor de Jesus crucificado para sermos libertados; e isso não é um gesto moralista, não, mas a ressurreição do coração: o Senhor ressuscitado nos ressuscita, todos nós.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Grandes santas deixaram importantes conselhos para as mulheres

Santa Teresa de Jesus segurando seu livro "Caminho da Perfeição" | Zyonimir Atletic - Shutterstock

Hoje (8), Dia Internacional da Mulher, compartilhamos quatro conselhos para mulheres que foram escritos por quatro grandes santas chamadas Teresa e que dão as chaves para crescer em santidade.

1. Santa Teresa de Jesus, doutora da Igreja

Em seu livro Caminho da Perfeição, santa Teresa de Jesus incentiva as mulheres a imaginar que "dentro de nós há um palácio de enormíssima riqueza", onde o grande Rei está "em trono de grandíssimo preço, que é o vosso coração". "Não nos imaginemos ocas e vazias interiormente”, diz.

Ela ressalta que se tivessem o cuidado de se lembrar de que têm esse hóspede especial dentro de si, seria impossível se entregar tanto às coisas do mundo "porque veríamos como são baixas, em comparação das que dentro possuímos".

2. Santa Teresa de Lisieux, padroeira das missões

Santa Teresa de Lisieux, em seu livro História de uma alma, conta que "é costume os noivos oferecerem com frequência ramalhetes às suas noivas. Jesus não o esqueceu" quando ela entrou no Carmelo, aos 15 anos. .

Em seguida, conta que em Alençon, França, onde nasceu, havia uma flor conhecida como "nigelo dos trigos", que adorava colher no campo. Ela queria vê-la novamente e, quando chegou ao mosteiro, encontrou esse exemplar em abundância. "Foi no Carmelo que veio me sorrir e mostrar-me que, nas menores como nas maiores coisas, Deus dá o cêntuplo desde aqui na terra para as almas que deixaram tudo por seu amor”, disse..

3. Santa Edith Stein, mártir e padroeira da Europa

Santa Teresa Benedita da Cruz, ou Edith Stein, que se converteu do judaísmo para o catolicismo depois de ler uma obra biográfica de santa Teresa de Jesus, escreveu um livro intitulado Ser Finito e Ser Eterno. Interpretando a passagem da criação, a santa diz que "a mulher foi colocada ao lado do homem para que um ajude o ser do outro a se realizar".

“E se a força mais importante do dom corresponde à essência da mulher, é que na união de amor não somente ela dará mais, mas também receberá mais", enfatiza o santo filósofo.

4. Santa Teresa de Calcutá, ganhadora do Prêmio Nobel

Em 1979, santa Teresa de Calcutá recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Durante seu discurso de aceitação, ela disse que um homem lhe contou sobre uma família com oito filhos que não comia há algum tempo. Ela pegou um pouco de arroz e levou para ele. A mãe da família pegou a comida, dividiu-a e saiu com parte dela.

Quando voltou, a santa lhe perguntou o que ela havia feito. A senhora havia dado a comida a outra família, independentemente de ser muçulmana.

Madre Teresa continuou narrando que não levou mais arroz naquela noite "porque queria que eles desfrutassem da alegria de compartilhar. Mas lá estavam as crianças, irradiando alegria, compartilhando a alegria com sua mãe porque ela teve amor para dar. É aí que o amor começa, como vocês podem ver, em casa", disse.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Dom Roberto: Mulheres, poetas e artesãs da paz

Mulheres (VATICAN NEWS)

Ao comemorarmos o Dia Internacional da Mulher queremos agradecer a missão e papel da mulher nossa irmã como profeta e tecedora da amizade social.

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz - Bispo Diocesano de Campos

Ao comemorarmos o Dia Internacional da Mulher, queremos iluminados pela Campanha da Fraternidade deste ano, tão necessária para refazermos o tecido social, superarmos a divisão e a polarização que nos atinge no nosso país e no mundo que vivemos, agradecer a missão e papel da mulher nossa irmã como profeta e tecedora da amizade social.

O texto-base considera o exemplo de Rute e Noemi, que a partir da amizade parental de nora e sogra vivenciaram uma bela página de amizade que transcende fronteiras e preconceitos. Mais adiante nos deparamos com a menção de uma mulher especial na história de São Francisco, a beata Jacoba Desettesoli, viúva que se dedicou a caridade e a hospitalidade com os pobres como a família de seu marido Frangipane, famosa pelos doces (mustacciuolo de amêndoas) que dava ao Pai Francisco e a todas as pessoas.

Pressentiu a morte do santo e foi ao seu encontro, encarregando-se de detalhes do seu funeral e foi enterrada junto aos frades Rufino, Leone, Masseo e Ângelo, os primeiros seguidores de São Francisco na parte superior da Basílica de Assis. Poderíamos acrescentar as Santas Mulheres que acompanhavam a Jesus e os Apóstolos, Santa Maria Madalena e as companheiras de missão de São Paulo.

Mostram o rosto de uma Igreja servidora, acolhedora, terna e alegre, que abre as portas e alarga a tenda. No Brasil podemos citar também várias mulheres que protegeram direitos, ampliaram a consciência de dignidade e tornaram a nossa Igreja mais presente e a sociedade mais igualitária, justa e fraterna, mulheres como Margarida Genevois que trabalhou mais de 25 anos na Comissão Justiça e Paz, Maninha Xucuru, pertencente aos xucurus-kariris de Palmeira dos Índios,

Procópia dos Santos do quilombo Kalunga em Goiás, mãe e líder do seu povo, Zilda Arns Neumann, a grande defensora da vida das crianças e idosos, e Santa Dulce dos Alagados. Junto a estas mulheres mais conhecidas que nos estimulam e encorajam existe uma grande multidão de mulheres que desde os seus lares, estudos, trabalhos e lutas vão construindo todos os dias uma convivência mais saudável, inclusiva, partilhando seus dons e desempenhando ministérios de partilha, reconciliação e sanação.

Que Maria Nossa querida Mãe na sua ternura e misericórdia transbordante sempre as proteja, encoraje e ilumine no testemunho e missão de curar os relacionamentos e de gerar a paz social e planetária. Deus seja louvado!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF